Zona Centro-Norte: Ahú, Bom Retiro e Centro Cívico em imagens

Museu do Olho - C. Cívico

Museu do Olho – C. Cívico.

Por Maurílio Mendes, “O Mensageiro”

Publicado em 1º de fevereiro de 2015

Um passeio pelos bairros Ahú, Bom Retiro e Centro Cívico, que são vizinhos e ficam entre as Zonas Norte e Central de Curitiba.

Sendo mais específico, o Ahú já é mais distante do Centro, é marcadamente residencial, por isso já está na Zona Norte.

O Centro Cívico, inversamente, é um prolongamento do Centro da cidade, e com essa ligação siamesa é parte da Zona Central.

Antiga casa de madeira – Ahú.

O Bom Retiro está entre ambos, e por isso está entre as Zonas Central e Norte, você poderia colocá-lo em qualquer uma das duas colunas que ficaria correto.

Fiz uma matéria sobre o Juvevê, onde contamos também parte da história do Ahú.

Pois esses bairros estão umbilicalmente ligados. E nela sobrou uma palhinha também pro Centro Cívico.

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Bonita flor rosa nessa esquina do Bom Retiro, quando a Nilo Peçanha ainda não era binário (hoje você não vira mais a direita na esquina como faz o carro vermelho).

Eu já disse nos textos sobre Belo Horizonte-MG e Manaus-AM que só divido as cidades em Zonas Central, Leste, Norte, Oeste e Sul. De fato assim é. Não existe ‘Zona Centro-Norte’.

Usei esse termo na manchete pra dizer que percorri a região na divisa entre a Zona Central e a Zona Norte, como dito acima.

Faço o esclarecimento antes que alguém pense que é uma incoerência.

Abaixo, algumas cenas do Bom Retiro (clique nas fotos que elas se ampliam, o mesmo vale pra todas):

O Ahú e o Bom Retiro são bairros orgânicos, que surgiram naturalmente portanto.

Verticalização intensa no Ahú. Já no vizinho Bom Retiro não há prédios altos.

São por conta disso residenciais, de ocupação antiga pois centrais, e têm um perfil parecido entre si.

Com a diferença que o Ahú é bastante verticalizado, tem inúmeros espigões de edifícios altos, e muitos mais de estatura mediana, entre 4 a 12 andares.

Enquanto que o Bom Retiro praticamente é formado inteiramente por casas, quase não há prédios ali mesmo mais baixos, e altos então zerado.

Comecemos pelo Ahú:

Centro Cívico

Corte de Justiça – Centro Cívico.

Já o Centro Cívico tem origem bem distinta. É um bairro artificial, planejado, que surgiu na prancheta nos anos 50.

Pra abrigar as sedes dos 3 Poderes da esfera estadual, e também o poder executivo na esfera municipal.

Portanto quase contemporâneo de Brasília-DF, um pouquinho anterior a Capital Federal mas que já surfa na mesma onda.

Já captava a tendência depois implantada em nível de nação de ordenar os centros de poder material.

Bosque do Papa - C. Cívico

Museu Polonês no Bosque do Papa.

É um dos menores bairros de Curitiba em área, e como está quase todo tomado por prédios públicos tem população pequena, pouco menos de 5 mil pessoas.

Em suas poucas áreas residenciais, também é bastante verticalizado.

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Assim é o Centro Cívico:

terreno antigo enorme - B. Retiro

Próximas 2: B. Retiro.

O Ahú e Bom Retiro são uma parte velha da cidade, que cresceu no começo do século passado quando o Centro se expandiu.

Por isso como veem nas fotos abundam a moradia típica do Sul do Brasil que já falamos tantas vezes:

Terrenos enormes – em que você pode ter uma matilha de cães bem grandes e ainda sobra muito espaço! -, casas de madeira, muros baixos, tudo gramado.alto padrão - Bom Retiro

Na segunda metade do século 20, moradias de alto padrão começaram a se instalar ali. Ao lado um exemplo, no B. Retiro.

Movimento influenciado também pela construção do Centro Cívico ao lado.

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Porém, o tempo passa, e tudo é cíclico. A partir dos anos 70, o Centro – e consequentemente toda a Zona Central e bairros próximos – entram em decadência, por uma soma de fatores:

Casa antiga a venda – Ahú.

A construção de modernos centros comerciais que tirou a classe média e alta das lojas da Rua das Flores.

Os centros comerciais contam também com complexos de cinemas, o que a partir da virada dos anos 80 pra 90 fez com que todos os cinemas que haviam no Centro fechassem.

A universalização do automóvel fez surgir subúrbios a moda estadunidense, de classe alta afastados do núcleo original da cidade. Santa Felicidade e boa parte da Zona Oeste se enriqueceram.

casa antiga - B. Retiro1

Casa antiga – B. Retiro.

Assim o Ahú e Bom Retiro começaram a diminuir sua população, como toda Z/C e Entorno.

No Centrão mesmo o processo se reverteu na última década e após 2 censos perdendo população em 2010 o Centro voltou a aumentar seu número de habitantes.

Ainda assim os bairros a seu redor ainda estão passando por esse processo. Prado Velho, Rebouças, Mercês, Parolin e Bom Retiro são os que mais perdem moradores.

em ruínas - Bom Retiro

Em ruínas – Bom Retiro.

Bem, Prado Velho é Centro-Leste, Mercês Centro-Oeste, Parolin e Rebouças Centro-Sul, assim falaremos deles outros dias.

Como o tema de hoje é a região Centro-Norte, vamos nos ocupar especificamente do Bom Retiro.

O bairro está com redução populacional aguda, em 2000 ele já não tinha tanta gente assim:

5,6 mil Homens e Mulheres chamavam o Bom Retiro de seu lar.

alto padrão - Ahú

Classe média-alta no Ahú.

E 10% foi embora na última década, agora são apenas 5,1 mil habitantes.

Se seguiu assim atualmente já virou negativamente a marca dos 5 mil.

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Muitos sobrados de padrão alto estão a surgir nas ruas da região.

Vejamos essa sequência horizontal que ilustra bem tudo isso:

antigo hospital Bom Retiro

Terreno do antigo hospital Bom Retiro.

Postada acima a direita dessa sequência está uma casa bem antiga que ocupava um terreno enorme, agora só restam ruínas cobertas de mato.

Alias fica bem em frente ao antigo Hospital Psiquiátrico Bom Retiro da Federação Espírita do Paraná.

Foi esse hospital que ‘batizou’ o bairro, pois fica em seu coração, no seu planalto, sua parte mais alta e vistosa.

O hospital já não existe mais, ou pelo menos não existe mais ali no bairro que nomeou.

Bom Retiro, ao fundo o Centro1

Bom Retiro; prédios ao fundo no Centro.

O terreno foi vendido, o hospital demolido e transferido pra outro ponto da Zona Central, no bairro Jardim Botânico.

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O vizinho Ahú, por ter verticalizado, conseguiu manter sua população estável.

Tinha 11 mil moradores em 2000, número repetido na contagem seguinte, 10 anos depois.

2022: ‘Herbie’ no Centro Cívico (de frente no detalhe), ao fundo o ‘Palácio das Araucárias‘, prédio cuja construção parou, ficou no esqueleto por anos, depois foi concluído (com 2 andares a menos que o projeto original) e funciona como anexo do Palácio Iguaçu, abriga órgãos e secretarias estaduais.

De uns anos pra cá, ambos voltaram a se adensar na forma dos sobradinhos geminados a moda inglesa, vários deles em condomínios fechados. 

Nas fotos veem tudo isso. Todos esses ciclos co-existem ao mesmo tempo.

Ainda há casas velhas, várias delas de madeira, com terrenos enormes, boa parte delas de classe baixa e média-baixa.

Ao lado, outras moradias também antigas, de padrão mais alto, com terrenos grandes igualmente. No Ahú há prédios, no Bom Retiro não.

B. Retiro. Quando a casa foi construída  bairro tinha padrão econômico mais alto.

Ruas calmas, arborizadas, floridas, e majoritariamente residenciais.

E cada vez mais presentes os sobrados geminados, com grande área útil pois nesses bairros são geralmente triplex. Mas o quintal é minúsculo.

Assim, é infinitamente comum vermos as casas antigas (de todas as classes sociais) com seus lotes que parecem mini-chácaras urbanas postas a venda pra virarem condomínios, horizontais ou verticais.

Aqui e a seguir calmas ruas do Ahú: a Zona Norte é bastante arborizada.

Uma imagem vale por muitas palavras? Então fixemos a atenção nas tomadas, que resumem com maestria a situação.

Veja a imagem em que falo do ‘velho e novo’, na sequência horizontal de fotos um pouco pra cima na página.

Os terrenos da direita e da esquerda são do mesmo tamanho.

Notam que o da direita abriga uma única casa, simples e de madeira, quintal gigantesco, dá pra fazer um campo de futebol.

Z-Norte arborizada - AhúO da esquerda um dia foi assim, mas agora tem uma fileira de sobrados triplex. Alto padrão, mas sem quintal.

Certamente reparou que a direita da casa de madeira há mais um conjunto geminado.

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Falemos um pouco sobre as imagens que ilustram a matéria.

Várias delas não estão exatamente ao lado das descrições abaixo, essas postagens anteriormente foram emeios, que têm formato bem diferente. Quando for esse o caso, identifique pela legenda. Vimos:  

casa velha de madeira - Bom Retiro

Casa de madeira, terreno enorme – B. Retiro.

A primeira foto da matéria mostra o Museu Oscar Niemeyer. Pros íntimos, ‘Museu do Olho’, Centro Cívico.

Já falei antes e é notório, uma obra em 2 etapas desse grande arquiteto que também projetou Brasília.

O prédio ao fundo é da época da construção do Centro Cívico nos anos 50-60, e daí até os anos 90 abrigou secretarias de estado.

O aparato estatal de administração foi transferido pra outra parte, Niemeyer voltou e desenhou o ‘olho’, pro qual há uma estrada subterrânea – exatamente como a Catedral de Brasília, do mesmo autor – e inaugurou-se o museu.

Z-Norte arborizada - B. Retiro

Zona Norte arborizada: B. Retiro.

Retratei várias casas bem antigas – fachada de alvenaria na rua, madeira no fundo – ruas calmas e arborizadas, típicas da região.

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Igualmente bem ilustrada foi minha passagem pelo “Bosque João Paulo 2º”, ou simplesmente Bosque do Papa. Memorial da Imigração Polonesa, também no Centro Cívico.

Z-Norte arborizada - Ahú1

Ahú, divisa com Juvevêoutro dia contei a história dessa rua, a Emílio Cornelsen.

No centro do parque há uma vila com essas casas de madeira com grossas toras horizontais. Não mora ninguém ali, evidente.

É um museu, a recordação fiel de como os poloneses organizaram seus bairros quando chegaram aqui na América, reproduzindo o que havia na Europa. 

Mais um pouco do Centro Cívico, a parte mais moderna da região hoje retratada.

O Palácio Iguaçu que é a sede do executivo estadual; e o Palácio 29 de Março, sede do executivo municipal.

cohab - Bom Retiro

Conjunto de prédios baixos na parte mais proletária no Bom Retiro.

Fotografei a placa da “Travessa Bom Retiro”. Sem saída e numa baixada escondida do bairro. Em São Paulo e outras cidades, é comum a avenida principal do bairro nomeá-lo.

Aqui em Curitiba não há esse costume, creio que a Avenida Água Verde, no bairro de mesmo nome, é o único caso.

No Bom Retiro, como já dito, há a travessa, mas é exatamente isso:

Uma travessa secundária ou na verdade terciária na importância vial do bairro, uma quadra e sem saída. Bom Retiro, ao fundo o Centro

Espalhadas pela página estão várias ruas típicas do Bom Retiro, apenas casas, muitas árvores.

Note que os prédios altos ao fundo já ficam em outros bairros.

Num caso as Mercês, identificado mais pro alto da matéria, e em outros o Centro, como aqui ao lado.

Repare no conjunto de prédios baixos amarelo a direita. Volto a falar dela.

carro antigo - Bom Retiro

Ford T: com 15 milhões de unidades, foi o carro mais vendido da história da humanidade até 1972, quando foi desbancado pelo Fusca.

Um Ford T do ano de 1929 desfilava pelas ruas, e foi retratado.

Vimos muitas casas antigas a venda no Ahú. Breve serão um prédio ou conjunto de sobrados.

Abaixo a esquerda está Rio Belém, entre o Centro Cívico e Bom Retiro.

O mesmo rio que, bem alargado pelos afluentes, passa ao lado de minha casa. Confira um ensaio sobre a região.

Pequena favela que há as margens de um riacho no Bom Retiro, a direita. pequena favela no Bom Retiro

Vimos mais pro alto alguns prédios de 2 andares, também no Bom Retiro.

Outro exemplo de moradia popular.  Um pedaço de periferia bem ao lado do Centro.

Bem, no Bom Retiro de São Paulo acontece exatamente o mesmo, e numa escala maior.

Rio Belém – Centro Cívico. A nascente é no bairro da Cachoeira.

O mais incrível, vejam vocês, é que lá o Bom Retiro também fica colado ao Centro, entre ele e a Zona Norte.

Bem no alto da página, muito verde nas alamedas do Bosque do Papa, o “Jardim da Zona Central, posição que divide com o Passeio Público.

Por ambos esses parques passa o Rio Belém, a esquerda retratado poucos metros a montante desse parque.

ATUALIZAÇÃO DE JULHO DE 16:

Até a foto do Belém a esquerda é de minha autoria, do começo de 2015.

A direita mais uma cena do mesmo Bosque do Papa, com o Rio Belém canalizado.

Já essa não fui em quem registrei, e sim uma colega que mora próximo e me enviou.

Árvores amareladas, clima de outono embora tenha sido clicadas no auge do inverno.

É isso aí, galera. Espero que tenham curtido mais essa incursão urbana pelos meandros de Curitiba.

Deus proverá

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