Tróleibus do Chile: 70 anos na pista

Valparaíso, Chile, 2015. O veículo foi fabricado em 1945 e ainda circula em 2015, 70 anos depois

INTEGRA A “ENCICLOPÉDIA DO TRANSPORTE URBANO BRASILEIRO

Por Maurílio Mendes, “O Mensageiro”

Publicado em 3 de abril de 2015

Olá galera.

Escrevi sobre a história dos tróleibus no Brasil.

eu contei que boa parte dos ônibus elétricos que rodaram em nosso país foram fabricados no EUA, nos anos 50 ou comecinho dos 60. E operaram nas ruas brasileiras até fim dos anos 90, 4 décadas de uso contínuo portanto (ou pouquinho menos, mas quase).

interior do troleibus

Salão do veículo fabricado em 1945.

Agora segura essa bomba: estive no Chile. E em Valparaíso (principal porto do país) vi, fotografei e andei em tróleibus produzidos em 1945 e que ainda circulam em 2015.

70 anos na ativa. 70 anos, irmão. Um museu ambulante, e que cuja entrada custa apenas R$ 1,25; melhor colocando a tarifa é 250 pesos chilenos na moeda local.

(Nota: Todas as fotos foram clicadas por mim ‘in loco’, exceto a do tróleibus-articulado. Essa eu não consegui, aí puxei da internet. Clique sobre que elas se ampliam.)

Os tróleibus operam uma única linha, que fica no Centro de Valparaíso, sua parte plana.

painel

Agora repare no painel. O motorista é também cobrador, veja a caixa onde fica o dinheiro. Nos micros é igual.

Pra quem ainda não teve oportunidade de ir até lá, a cidade é completamente o oposto de Santiago. A capital é inteira plana, e tem pouquíssimas favelas.

Já Valparaíso foi construída sobre dezenas de morros, e ao redor de uma baía.

É muito parecida com Acapulco-México, que compartilha exatamente dessas mesmas duas características. Voltando ao Chile, apenas no município de Valparaíso são 41 morros.

E dezenas de outros na cidade-gêmea  de Vinha do Mar, são 2 municípios tão umbilicalmente unidos que formam uma única cidade, que é a Grande Valparaíso.

Pra subir os morros ou ir a outros municípios as pessoas pegam os micros ou o táxi-lotação.

Os morros mais centrais são de classe média, estilo São Francisco-EUA, uma coisa chique, morada de artistas e de gente ‘descolada’, saca?

Na periferia a história é bem diferente: as encostas são tomadas por favelas.

São como as favelas que você conhece no Brasil. A única diferença é que no Chile é comum entre as classe humildes casas de zinco.

O que é péssimo pois sendo esse um condutor térmico a moradia fica muito fria no inverno e muito quente no verão, coisa típica de 3º mundo (na África do Sul esse fenômeno das ‘cidades de lata’ é ainda mais acentuado).

Voltamos a ver os tróleis de Valpo.

Nessa postagem eu falo bem melhor sobre o urbanismo de ‘Valpo’, incluso com muitas fotos. Aqui vamos nos focar nos ônibus elétrico.

Só contei da topografia pra vocês visualizarem que há uma pequena porção plana, que é o Centro, cercado por enorme encosta.

Então: o tróleibus não sobe o morro, fica apenas na planície central. Uma espécie de Circular Centro, útil pros deslocamentos no meio do dia.

Pra descer os morros de manhã e subi-los de volta após o expediente o povão recorre a outros tipos de transporte, que serão melhor detalhados em outros momentos.letreiro

Veja a direita o letreiro no painel que indica o curto itinerário. Note também que no Chile os estudantes pagam pouco mais que um terço da tarifa, isso vale pra outros modais também.

Em Valparaíso, só se pode pagar a passagem em dinheiro, diretamente ao motorista.

Não há cobrador nem catraca, o motorista recebe, dá o troco e aciona a impressora que emite o recibo.

articuladoNão se aceita cartão. E isso não vale apenas pro tróleibus, mas pros micros a dísel também.

Em Santiago é o exato oposto, só se aceita cartão. Você não pode pagar em dinheiro vivo, porque não há caixa dentro do busão, só a máquina que lê cartão.

Falo melhor sobre a capital, e também sobre os micros de Valpo, em outra postagem. Ambas as cidades têm metrô. Fotografei tudo, e ali me estendo nos detalhes.

…………….sala de controle dos troleibus

Aqui o foco são os que puxam sua força do fio. Há também tróleibus-articulados (esq.).

Como eu já disse acima, essa a esquerda é a única foto que não é de minha autoria.

Nas próximas 2 tomadas vejamos a torre de controle do sistema:

estacao central de troleibusFica dentro de um tróleibus desativado, agora soldado ao solo.

Alguém poderia pensar que é um espaço pequeno pra uma sala de controle do sistema.

Oras, é que a rede de tróleibus em Valparaíso – e por consequência de todo Chile, pois só há trólei ali – é mesmo diminuta, apenas uma linha de poucos quilômetros no Centrão.

Por isso o salão de apenas um veículo é suficiente pra acomodar os equipamentos e equipe responsável pelo funcionamento dos veículos.

moderno

Valparaíso é verde. No futebol também.

……….

Não circulam somente tróleibus-dinossauros de 70 anos.

Há também alguns modernos. Na verdade 3 gerações convivem:

Esses pioneiros dos anos 40 e 50, uma leva intermediária produzida nas décadas de 70 e 80.

E por fim esses que têm 3 portas e película negra ao redor dos vidros ainda cheira a novo, é dos anos 90.

Portanto os dessa última safra têm “apenas” 20 anos de uso. A direita vemos um dos mais recentes. 

Velhos pros padrões brasileiros, ainda são bebês quando comparados com os vovôs que já circulam ininterruptamente há 4 ou mesmo 7 décadas.antigo e moderno

…….

Acima e ao lado duas cenas em que os opostos convivem, na frente o mais velhos de todos, seguido pelo mais novo.

São apenas os tróleibus de Valparaíso que não têm prazo de validade em sua vida últil.

fabricado nos anos 80Os micro-ônibus da mesma cidade são aposentados cedo, e por vezes têm destino inusitado, cumprindo uma função muito distinta da qual foram produzidos. Não deixe de conferir.

…………

Voltemos aos busões elétricos. fabricado nos anos 70 ou 80A esquerda e abaixo um exemplar da série intermediária, da virada da década de 70 pra 80.

Esse veículo parece ter sido fabricado no Leste Europeu. Não posso dar certeza porque a marca não estava identificada, mas o desenho da carroceria é típica.

………….

troleibus velhoNas próximas 2 cenas voltam os mais antigos, os que já tem 70 anos ou perto disso.

A direita o trólei 709 numa escala maior, rasgando as ruas de Val.

E depois uma miniatura amarela que eu tenho aqui em casa. É de um ônibus estadunidense dos anos 50.

Nessa época, todos os modelos de ônibus, tanto elétrico quanto a dísel, tinham esse desenho: redondos, janelas e portas partidas, um só farol redondo de cada lado.valparaíso - chile1

Foi o rasgo de um período, agora tornado hiper-clássico, cristalizado pela onda retrô. E por isso o brinquedo rende essa homenagem.

……….

miniaturaPorém, nem precisava disso pra Energia não morrer.

Afinal, os tróleibus ianques de década de 40 ainda estão na ativa em Valparaíso.

Um verdadeiro fóssil vivo.

Mas que não é somente objeto de estudo. Ainda transporta milhares de valparaísenses.

Dia após dia após dia. É o que esse bichão tem feito, por longos 70 anos. E não pensa em parar.

Santos, SP, novembro de 15: Mafersa com 30 anos na ativa. Ser longevo é característica dos tróleis. Mas os do Chile exageraram!!!

Florianópolis teve a “alma forte”, e em Lima-Peru (também no Pacífico) ainda roda a “alma fortíssima”.

Bem, amigos, por esse critério, a Alma de Valparaíso é . . . Imortal.

……..

Assim É.

“Deus proverá”

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