IMAGENS VALEM POR MILHARES DE PALAVRAS – VEJAMOS COMO ERAM NOS ANOS 80 OS ÔNIBUS DE 3 CAPITAIS (INCLUINDO A FEDERAL) E A MAIOR CIDADE DO INTERIOR DO BRASIL:
INTEGRA A “ENCICLOPÉDIA DO TRANSPORTE URBANO BRASILEIRO“
Por Maurílio Mendes, O Mensageiro
Publicado em 25 de janeiro de 2024
Maioria das imagens baixadas da internet, créditos mantidos sempre que impressos nas mesmas. As que forem de minha autoria identifico com um ‘(*)’ asterisco.
Como o sub-título acima já entregou, hoje vamos falar dos anos 80, quando Brasília-DF, Porto Alegre-RS (‘PoA’) e Florianópolis-SC (‘Fpolis.) ‘tiveram a mesma pintura em seus ônibus.
Foi a chamada padronização ‘EBTU’: o veículo branco com uma faixa horizontal colorida, indicando que parte da cidade que a linha serve (nas duas capitais do Sul havia ainda uma pequena faixa preta abaixo dessa colorida).
P. Alegre foi a primeira, ainda no final dos anos 70. Na virada pra década de 80 chegou a vez de Florianópolis da Capital Nacional. Em 1985 Campinas-SP adota uma pintura parecida, apenas a faixa superior e mais larga e chega até as janelas.
Além disso várias viações, em muitas partes do Brasil, como homenagem também pintam seus ônibus da mesma forma.
Entretanto nesse caso de maneira voluntária, sem que haja uma padronização oficial obrigando a isso.
Essas pinturas-espelho ocorreram de algumas linhas metropolitanas de Porto Alegre e Florianópolis onde ainda vigorava pintura livre.
Bem, até aí é comum viações que vão pros subúrbios usarem a mesma decoração das linhas municipais do núcleo da metrópole, apenas variando alguns detalhes.
No mesmo embalo várias cidades do interior do RS e SC pintaram suas frotas dessa mesma forma, branco com uma faixa colorida:
Pelotas e Caxias do Sul no RS, Itajaí e Urubici em SC (nesse caso apenas uma cor em cada cidade, sem distinguir pra onde a linha vai).
Além disso algumas viações de Maceió-AL também passaram a usar nessa mesma pintura ‘EBTU‘.
Essa é a sigla de ‘Empresa Brasileira de Transportes Urbanos.
Estatal federal criada em 1975 e extinta em 1991 – enquanto esteve ativa foi parte fundamental dessa primeira leva de modernização do setor.
A partir do meio dos anos 70 o Brasil começou a investir mais no transporte coletivo.
Em 1974 veio o metrô de SP, o primeiro em nosso país (61 anos depois do de Buenos Aires/Argentina!, não era sem tempo).
Nesse mesmo ano Curitiba inaugurou seu sistema de ônibus ‘Expressos‘, o primeiro corredor de ‘BRT’ do planeta – ao lado do de Lima/Peru, que ficou pronto na mesma época.
Em 1976 foi criada a EBTU (Empresa Brasileira de Transportes Urbanos), estatal federal que deu grande impulso ao setor.
Por isso na época havia seu logotipo em ônibus e trens de diversas capitais e cidades maiores do interior: uma bola azul ladeada por duas flechas vermelhas.
É exatamente aquele na foto acima da manchete, – nesse caso em Brasília.
A EBTU investiu bastante em tróleibus, criando inclusive uma pintura própria nacional pra esse modal.
(Amarela com duas listras bege e marrom na parte inferior do veículo, que foi usada em SP Capital, Santos e Ribeirão Preto no litoral e interior paulista e também no Recife-PE.)
Em 1978 o Brasil começou a produzir articulados, que se tornaram mais comuns em nas ruas de algumas cidades a partir de 1980.
A introdução dos ‘sanfonados’ se deu em meio ao ‘projeto padron’, que deu um salto de qualidade nos ônibus brasileiros:
Os veículos com a denominação ‘padron’ têm motor traseiro ou central, portas mais largas (de preferência três), piso mais baixo e teto mais alto, corredores mais largos.
Enfim, oferecerem mais conforto ao usuário, artigo escasso na maioria dos busões produzidos até os anos 70.
A 1ª etapa da implantação os 5 corredores de BRT curitibanos foi concluída em 1980, 6 anos após ter sido iniciada em 74 como acabo de dizer e é notório.
Com o sucesso do projeto, o mesmo modelo de pistas exclusivas e linhas integradas em terminais foi expandido pra outras cidades:
Por exemplo, São Paulo recebeu seu primeiro corredor, o da Avenida Paes de Barros na Zona Leste, em 1980.
Seguindo na mesma esteira, na virada da década de 70 pra de 80 várias capitais do Sudeste, Centro-Oeste e Sul receberam padronização nas suas frotas de ônibus.
Deram esse passo na ocasião São Paulo, Belo Horizonte-MG, Brasília, Curitiba, Porto Alegre, Goiânia-GO e Florianópolis-SC.
(Sendo que nas capitais de MG, GO e SC a padronização incluiu a região metropolitana, como já falamos com detalhes.)
O Rio de Janeiro, Espírito Santo, Mato Grosso, o Nordeste e o Norte deixaram pra fazer isso mais tarde, nos anos 90 ou mesmo no século 21 (no Rio infelizmente só durou 8 anos e foi desfeito).
Há três formas de padronizar a frota de uma cidade.
1) A mais simples é simplesmente pintar todas as linhas de uma única cor.
Na suas atuais (2023) padronizações Belo Horizonte, Fortaleza, Florianópolis, Joinville e Blumenau adotaram esse modelo.
Que também já foi usado em São Paulo, Teresina-PI e Brasília (essa nós iremos mostrar no decorrer da matéria).
Evidente, há muitos outros casos Brasil e mundo afora.
Especialmente nas cidades onde opera uma única viação.
2) Ou então se padroniza conforme a categoria da linha.
Expressos/Troncais/Radiais de uma cor, Alimentadores de outra, Circulares/Transversais/Inter-Bairros/Inter-Terminais ainda de outra, e por aí vai.
Além de Curitiba que o criou, fizeram da mesma forma entre outras (em algumas delas já descontinuado):
Belo Horizonte-MG, sistema SEI do Recife, Fortaleza-CE, Vitória-ES, Londrina e Ponta Grossa-PR, Sorocaba e Piracicaba-SP, Joinville, Blumenau e Criciúma-SC, no Brasil.
E já chegou a outros países da América: Los Angeles-EUA, Bogotá-Colômia e Guaiaquil-Equador.
3) E pode-se também diferenciar conforme a região da cidade que a linha serve.
Assim o fizeram as duas maiores metrópoles brasileiras, São Paulo e Rio – nesse caso enquanto durou.
Como é o tema de nossa matéria, também em Brasília, Porto Alegre e Campinas.
(Todas elas já mudaram várias vezes a padronização depois disso.)
(Ainda assim, seus ônibus atualmente [2023] permanecem pintados conforme a parte da cidade que servem.)
Em Florianópolis idem – a 1ª padronização de 1980, não a atual de 2014.
Bem como Salvador-BA, Belém-PA, Manaus-AM, São Luís-MA, Teresina, Recife (padronização dos Consórcios), Santiago do Chile, pra falar apenas algumas.
………….
Feita toda essa introdução vamos propriamente ao tema da matéria, o tempo que o D.F., PoA e Fpolis tiveram a mesma pintura em seus ônibus – Campinas também, com pequenas variações.
BRASÍLIA:
1ª PADRONIZAÇÃO EBTU (1980-1988)
Repetindo ainda mais uma vez, a faixa principal indicava pra onde a linha ia. No Distrito Federal da seguinte forma:
– Azul: Linhas circulares do Plano Piloto(inclui Paranoá) – não vão pras cidades-satélites;
– Verde: Linhas circulares de Taguatinga e Ceilândia – não vão pro Plano Piloto (‘P.P.’) – a direita;
– Amarelo: de Taguatinga, Ceilândia e Brazlândia pro PP;
– Laranja: do Guará, Núcleo Bandeirante e Cruzeiro pro PP;
– Marrom: do Gama pro PP (também foi utilizada uma faixa bi-color marrom/laranja);
– Roxo: de Sobradinho e Planaltina pro PP(da mesma forma também foi utilizada faixa bi-color, nesse caso laranja/roxo);
Vale lembrar que essa classificação é de 1980, quando o D.F. tinha muito menos cidades-satélites.
Conforme foram surgindo novas nos fim dos anos 80 e começo dos 90 elas chegaram a ter esses ônibus coloridos fazendo suas linhas por um tempo.
(Essa padronização acabou em 1988, mas até renovar/pintar toda frota demorou alguns anos, evidente.)
Vemos pela matéria busões com faixa amarela indo pra Samambaia e Estrutural, por exemplo.
Brasília tinha na época o modal Executivo(ônibus de viagem com 1 porta, sem catraca e com bancos reclináveis estofados).
Quando houve a padronização das linhas convencionais em 1980 a princípio o Executivo seguiu na pintura livre.
Só que a seguir aderiu a mesma pintura, buso branco com faixa colorida indicando a região.
Digo, mais ou menos. Os Executivos da TCB não foram padronizados; os das empresas privadas foram quase todos, mas houveram alguns ‘carros’ da Viplan inteiro brancos.
No modal mais caro a Viplan teve duas pinturas:
Faixa azul as linhas internas do Plano Piloto (incluindo nesse caso o Cruzeiro) e faixa roxa (ou então bi-color roxa e laranja) pra Sobradinho/ Planaltina.
‘ViPlan’, obviamente, é da sigla de ‘Viação Planalto’.
Foi um ícone do transporte brasiliense por mais de quatro décadas. Fundada em 1970, operou até 2013. No seu auge possuía a maior frota do DF.
Com 30% do total de veículos em operação (744 ônibus), guardados em cinco garagens.
Porém nos seus últimos tempos a empresa não investia na renovação da frota.
Chegando inclusive a manter alguns veículos nas ruas por mais de vinte anos.
Isso somado ao acúmulo das dívidas trabalhistas fizeram com que a empresa sofresse intervenção estatal, e posteriormente tido sua falência decretada pela justiça.
Já a T.C.B. é a sigla de ‘Transportes Coletivos de Brasília’.
Viação estatal criada em 1961 – quando a cidade tinha apenas 1 ano de existência.
Até os anos 90 o Brasil tinha diversas empresas públicas de transporte urbano.
Entre outras citemos a CMTC-SP, CTC-RJ, CSTC (Santos-SP), CTU-Recife, CTC (Fortaleza-CE) e Setusa (João Pessoa-PB).
Todas foram privatizadas no fim do século 20 ou no começo do novo milênio.
Restaram a TCB, a MetroBus de Goiânia (antigamente chamada Transurb) e a Carris de Porto Alegre (dessa falaremos bastante nesse texto).
Digo, quando comecei a produzir essa matéria a Carris ainda era estatal.
Porém em outubro de 2023 a Carris foi afinal vendida pra iniciativa privada. Agora só as duas do Centro-Oeste.
A questão é que a TCB não foi privatizada, mas foi sucateada nos anos 90.
A viação ajudou a formar Brasília. No século 20 ela fazia linha por todo o Distrito Federal.
Incluindo principalmente a periferia, as cidades-satélites que surgiam/iam se expandindo.
Por exemplo em 1988 a TCB inaugurou as linhas de Samambaia ao P.P. .
Em 1989 a TCB chegou a ter 184 ônibus nas linhas urbanas (a frota era de mais de 500 veículos, os demais operavam em fretamento)
Porém na última década desse século findo a TCB ficou 8 anos sem receber um ônibus novo sequer.
E a manutenção da frota igualmente deixava bastante a desejar.
Resultando que chegou um momento que a viação estatal teve apenas perto de 20 veículos aptos a rodar.
Enquanto dezenas de outros estavam parados na garagem, sem peças.
Com todos esses problemas em 1998 a TCB perdeu as linhas pras cidades-satélites.
Vou inserir algumas informações do blogue “Transporte Público – Ônibus de Brasília”:
“ Em outubro de 2003, doze linhas da TCB foram desativadas, restando em operação apenas 5 carros em duas linhas circulares: ”
“ 108-Rodoviária do Plano Piloto – Praça dos Três Poderes, com 3 ‘carros’, e 108.3-Rodoviária do Plano Piloto – Superior Tribunal de Justiça com retorno no Pier 21 e 2 ‘carros’. ”
Por um triz que a TCB não foi privatizada. Depois disso ela conseguiu uma pequena recuperação.
“No dia 1º de fevereiro de 2009 as duas linhas da TCB da Esplanada dos Ministérios passam a operar integradas ao metrô, sem que seja preciso pagar novamente. ”
Na capital do país a integração gratuita vale só pras linhas da TCB.
No Nordeste é diferente, em Salvador e no Recife todas as linhas são integradas sem custos ao metrô. Mas voltemos ao Centro-Oeste, que é nosso foco hoje.
“ Em 19 de dezembro de 2008 chegam os primeiros 5 ônibus de piso baixo com ar-condicionado da TCB, uma novidade no Distrito Federal. ”
“ Entram em operação na linha seletiva Setor Hoteleiro – Aeroporto de Brasília, logo desativada em função de protestos dos taxistas. ”
“ Os ônibus passaram a operar numa linha circular na Esplanada dos Ministérios. ”
“ Em 17 de agosto de 2010, a TB adquire 5 ônibus novos de piso baixo, cada um no valor de R$ 446 mil. ”
“ Para o restabelecimento da linha de ônibus entre o Setor Hoteleiro e o Aeroporto de Brasília, inaugurada em 29 abril 2011. ”
Porém em 2020 a Executivo Aeroporto foi descontinuada (como também ocorreu em Curitiba).
Restaram pra TCB algumas linhas linhas convencionais.
Todas usam o prefixo 108 pois basicamente têm no Eixo Monumental sua espinha dorsal.
(A 108 tem vários ramais, de segunda a sexta são 5 sendo mais exato.
A 0.108 faz somente o trecho mais movimentado, percorre a Esplanada entre a Rodoviária P.P. e a Praça dos 3 Poderes.)
(Enquanto que a 108.5 cumpre a outra metade do Eixo, da Rodoviária P.P. a antiga Rodo-Ferroviária.)
(A 108.3 chega até a orla do Lago Paranoá, há ainda outros dois ramais que percorrem a Asa Sul até a nova Rodoviária, e um que só opera nos sábados.)
Sendo mais preciso, novamente de acordo com o sítio “Transporte Público – Ônibus de Brasília”:
“ Em 25 de julho de 2010, com o início da operação da nova Rodoviária Interestadual, a TCB inaugura a linha 108.8. ”
“ Que vai da Rodoviária do Plano Piloto até a Rodoviária Interestadual, via W3 Sul e Terminal da Asa Sul. ”
Além dessa a 108.7 também passa pela nova rodoviária.
Ou seja, desde seu virtual desmantelamento entre 1998 e 2003 são as primeiras linhas convencionais da TCB que vão além do Eixo Monumental.
A viação faz ainda uma linha noturna e uma rural. Pra uma empresa que quase acabou é melhor que nada.
Na 3ª padronização adotada em 1997 (a ‘das Asas’) a TCB ostentava a cor roxa.
Foi no tempo que essa pintura era usada que ela praticamente deixou de existir.
Já nas duas padronizações usadas no novo milênio (‘Brasília Integrada’ e a atual [23], que traz nas viações particulares o nº da Área que elas atuam) a viação estatal atou o cinza como sua identidade visual.
Em 1979 a Capital Federal passou a contar com articulados, assim que esse tipo de ônibus ‘sanfonado’ começou a ser fabricado no Brasil.
Em Brasília ônibus, de qualquer tamanho, é chamado de ‘baú’ – e quando articulado ‘minhocão’.
Os primeiros ‘minhocões’ locais eram Marcopolo Veneza Scania. Receberam a pintura chamada ‘Normalista’:
Fundo branco com detalhes em vários tons de azul, tanto o logotipo da TCB bi-color quanto 3 faixas horizontais na lateral.
E assim eles ficaram por toda a década de 80: os ‘minhocões’ não aderiram a primeira padronização.
Seguiram na decoração ‘Normalista’ por toda a década de 80.
Na verdade a TCB participou sim da padronização EBTU, que vigorou de 1980 a 88. Mas não de forma plena.
Seus articulados não foram repintados, como acabo de dizer.
Os ‘Executivos‘ (os do século 20, não o ‘Executivo Aeroporto do século 21) também não.
Entre os ‘baús’ ‘pitocos‘ (de tamanho normal) das linhas convencionais, a maior parte da frota da TCB recebeu a pintura padronizada.
Entretanto alguns Monoblocos continuaram na pintura livre.
Nesse caso com busão inteiro branco com o o logo da viação estatal em azul, dessa vez em um único tom escuro (a decoração que sucedeu a ‘Normalista’).
Nas empresas particulares foi diferente. Todos os seus busões – articulados ou pitocos, executivos ou convencionais – foram padronizados (com a exceção de uns poucos Executivos da Viplan).
Quando a pintura foi padronizada em 1980 as empresas puderam continuar numerando sua frota da forma que quisessem. Algumas usavam 3 dígitos, outras 4.
O Monobloco acima da manchete, por exemplo, é o 628 da Viplan. Há imagens do 131 e 478 da mesma empresa, além do 8.241 da Pioneira. Da T.C.B. há diversos registros de busões com 3 dígitos.
Em 1984 foi feita a padronização com 5 dígitos. O 1º dígito identificava a viação.
O da TCB era sempre zero, por isso Monobloco roxo que faz a linha 509 é o 07.072; o primeiro dígito da Viplan era o 3; Alvorada/Satélite 4; a Pioneira ficou com o 8 e a Planeta com o 9.
Depois chegaram novas viações. O número 5 ficou pra Arco/EMTC/Condor; 2 pra Lotaxi; 6 era a viação Sol e 7 São José.
Aí foi preciso adicionar mais um dígito. A Viplan passou a numerar sua frota com também o 13 na frente; Alvorada/Satélite 14; Planeta 19; enquanto que a Pioneira ficou com o 40.
As viações Santo Antônio/Viva Brasília (10), Rápido Brasília (15), Veneza (21) e Cidade Brasília (30) já iniciaram as operações com a nova numeração.
‘E.M.T.C.’ é a sigla de Empresa Manauara de Transporte Coletivo, como o nome indica uma viação de Manaus-AM que na década de 90 operou no D.F. Depois se tornou a ‘Arco’.
Por sua vez, a Arco anteriormente fazia apenas fretamento, entrou no ramo das linhas regulares ao assumir o espólio da EMTC. .
2ª PADRONIZAÇÃO (1988-1996):
INSPIRADA NA ANTERIOR –
De setembro de 1988 a abril de 1996 vigorou a segunda padronização brasiliense: buso inteiro branco com faixa cinza, todas as linhas.
Ou seja o mesmo desenho da primeira padronização, apenas agora a faixa é a mesma pra todas as viações, sem diferenciar por região da cidade que a linha serve.
Como dito no começo do texto e é óbvio, há 3 formas de se padronizar o transporte coletivo:
A mais simples é todos os veículos terem a mesma decoração. Ou então pode-se diferenciar conforme a categoria da linha ou a parte da cidade que aquele ônibus vai.
A primeira padronização candanga adotou, conforme determinado pela EBTU, a diferenciação por região.
A segunda simplesmente deixou toda frota pintada igual. Malgrado essa diferença, a 2ª padronização é claramente inspirada na 1ª.
Sendo portanto uma continuação dela. Em Porto Alegre ocorreu o mesmo, como já veremos.
Voltando ao DF, portanto de 1980 a 1996 seus busões foram brancos com uma faixa horizontal.
Mudando o esquema mas mantendo a ideia original implantada pelo Ministério dos Transportes em na virada pros anos 80.
De 96 até hoje (2023) a Capital Nacional já teve outras 3 padronizações.
Em todas a cor do buso mostra a região que ele serve – alias igualmente essas 3 têm semelhanças entre si:
A cor na frente, traseira e teto do veículo indicam a viação, e por consequência que parte de Brasília aquela linha vai; apenas no corpo do veículo, na lateral, há mudanças.
‘GRANDE CIRCULAR’:
A LINHA MAIS FAMOSA – E LUCRATIVA – DE BRASÍLIA ATRAVÉS DOS TEMPOS
Quase todas os ônibus que servem ao Centro de capital nacional têm o ponto final na Rodoviária P. P., ou ao menos param nela no trajeto.
Uma das poucas exceções é alinha ‘Grande Circular’, que dá a volta completa no Plano Piloto pelas Avenidas W3 e L2.
Trata-se de um ícone de Brasília, símbolo da cidade, ao menos pros moradores de classe-média das Asas Sul e Norte (da mesma forma que o ônibus Penha/Lapa era um símbolo de SP no século 20).
Além de ser a mais conhecida, é também a linha de ônibus mais lucrativa do Distrito Federal. Por décadas a cargo da T.C.B., agora repassada a iniciativa privada. Acompanhemos a evolução do ‘Grande Circular’ através dos tempos.
“ALMA IMORTAL” : OS PRIMEIROS ‘MINHOCÕES’ CANDANGOS FORAM LONGEVOS
Como já dito, a Capital Federal começou a contar com esse tipo de veículo mais longo em 1978, através da TCB, então uma potência no transporte brasiliense.
Eles circularam por cerca de 15 anos: do fim dos anos 70 até o meio dos anos 90.
A TCB-DF encomendou cerca de 20, do modelo Marcopolo Veneza/Scania. Chegaram na pintura livre, ignoraram a primeira padronização mas participaram da segunda. Veja:
Enquanto que as viações particulares Pioneira e Planeta (que são do mesmo grupo) optaram pela carroceria Ciferal, com motorização/chassi também Scania.
Ao lado um desses bichões na pista. Repetindo, em Brasília o letreiro mudava na ida e na volta, e nessa época era branco com as letras em negro.
Nos anos 80 o nº da linha vinha numa placa abaixo do vidro. Na década de 90 a placa passou pra dentro do para-brisas, como visto aqui.
Os ‘sanfonados’ da Planeta/Pioneira chegaram um pouco depois dos da TCB, no começo da década de 80.
Em compensação saíram de circulação depois também, já na segunda metade dos anos 90. Ostentaram nesse período nada menos que três padrões de pintura.
ESCOLAR ???
NÃO, ERAM OS BUSOS DE LINHAS NORMAIS DE BRASÍLIA E PORTO ALEGRE NOS ANOS 80 –
Atualmente, e desde os anos 90, ônibus com uma faixa amarela horizontal é obviamente ‘Escolar’.
Porém na virada da década de 70 pra de 80 essa regulamentação não existia.
Assim os técnicos do Geipot/EBTU, quando escolheram o esquema dessa padronização reservaram a cor amarela pra uma das faixas tanto na Capital Nacional quanto na capital gaúcha.
(Florianópolis também chegou a ter busões com essa faixa, mas lá ‘não pegou’ por motivos que falaremos melhor na sequência.)
As coisas mudam, não? Na ocasião o amarelo era só mais uma cor, como qualquer outra. Pro nosso olhar contemporâneo é estranho, realmente.
Fica difícil ver esses ônibus e saber que eles faziam linhas regulares, disponíveis a todos os passageiros. Imaginamos logo a que somente a criançada com uniforme do colégio pode utilizá-los. Mas é assim que aconteceu…
Com isso podemos partir pra “mais leal e valorosa cidade brasileira”, que é a capital do Rio Grande do Sul, evidente.
PORTO ALEGRE:
1ª PADRONIZAÇÃO EBTU (1979-1990) – JÁ COM A IMPLANTAÇÃO DO MODAL EXPRESSO/’BRT’ –
A capital mais austral do Brasil foi escolhida pra ser a primeira a receber a padronização EBTU, ainda no final dos anos 70 – Florianópolis e Brasília a seguiram a partir de 1980.
Em todas, dizendo ainda mais uma vez, o ônibus inteiro branco com uma faixa horizontal colorida indicando a parte da cidade que aquela linha serve.
No Distrito Federal apenas essa faixa. Nas duas capitais do Sul havia também uma faixinha preta menor abaixo dessa principal.
Além dessa pequena diferença estética, há outra, mais importante. Em Florianópolis foi implantada apenas a padronização de pintura.
Não vieram articulados, terminais com integração nem pistas exclusivas – na ocasião, quero dizer. Posteriormente novas modernizações os ‘sanfonados’ e terminais.
Em Brasília vieram os articulados e a integração: foram inaugurados alguns terminais, entre outros o ‘TaguaCenter’ em Taguatinga, que permitia a baldeação gratuita entre as linhas.
Na Capital Federal, entretanto, tampouco houve na época a implantação dos corredores exclusivos que caracterizam o modal que então chamado de ‘Expresso‘, hoje usamos a sigla em inglês ‘BRT’.
Em Porto Alegre, por outro lado, a padronização de pintura trouxe articulados, terminais e corredores exclusivos pro transporte coletivo.
Em outras palavras, apenas alguns anos após Curitiba o sistema de ônibus ‘Expressos‘ também foi implantado em PoA.
A Avenida Bento Gonçalves, na Zona Leste, foi a escolhida pra receber o primeiro corredor e terminal.
A operação ficou por conta da viação Sudeste (esquerda).
Curitiba foi a primeira cidade do mundo a contar com corredores exclusivos pra ônibus, em 1974 – ao lado de Lima.
As capitais do Paraná e do Peru inauguraram seus sistemas com poucos meses de diferença, sendo que em Lima o corredor contou com articulados desde o início das operações.
Da América Latina trataremos em outras oportunidades. Aqui focamos especificamente no Brasil.
Goiânia implantou seus primeiros eixos de Expresso logo depois de Curitiba, ainda na segunda metade dos anos 70.
São Paulo e Porto Alegre vieram na sequência, na virada pra década de 80 (na capital paulista o primeiro corredor foi inaugurado em 1980, na Avenida Paes de Barros na Zona Leste).
Hoje nosso foco é a capital gaúcha. Em 1981 chegaram os primeiros articulados porto-alegrenses, otimizando a operação do corredor ali implantado.
Quando aconteceu a padronização EBTU dividiram P. Alegre em diversas R.U.’s, as ‘Radiais Urbanas’. Cada R.U. trazia seu número e eixo principal estampado na lataria do ônibus.
Digo, algumas viações padronizaram a frota mas não colocaram a codificação da R.U., como já veremos melhor.
E o mais curioso é que houve uma viação, a Cambará, que se recusou a padronizar sua frota, simplesmente seguiu na pintura livre (em Fortaleza aconteceu a mesma coisa).
Essas eram as cores da faixa em PoA:
– Amarelo: Zona Norte, da região costeira onde está o porto até o aeroporto;
– Vermelho: a divisa entre as Zonas Norte e Leste, dos bairros Sarandi e Rubem Berta até o Alto Petrópolis;
– Bege-escuro: Zona Leste – onde foi implantado o primeiro sistema com integração, hierarquizando as linhas entre Troncais e Alimentadoras. Haviam várias viações, que se uniram pra formar a Sudeste;
– Azul: pegava uma boa parte dos bairros ao redor do Centro, nas Zonas Norte, Leste e Sul (por ex. Floresta, Jardim Lindóia, Jardim Botânico, Glória e Azenha). No subúrbio se estendia até a Restinga e o Belém.
Não posso explicar o porque desse paradoxo. O que sei é que a Sopal tinha tanto busos com faixa vermelha quanto azul. A faixa azul era operada por diversas viações.
Curiosamente a VTC – Viação Teresópolis/Cavalhada, cuja área de atuação era igualmente a R.U. 20, pintava sua frota de verde;
– Laranja (pendendo pro marrom): região Zona Sulpróxima ao Rio Guaíba;
A Carris participou da padronização, no entanto tinha uma cor só pra ela.
Sua frota ostentava o bege visto na foto ao lado (mais claro que o usado pela Sudeste), independente de qual parte da cidade a linha ia.
Ao contrário da TCB, portanto. A estatal brasiliense manteve os articulados e mesmo alguns ‘pitocos’ na pintura livre nos anos 80.
No entanto, a maior parte de sua frota foi padronizada, e assim como as empresas particulares com a cor da região da cidade que a linha servia.
Na estatal gaúcha foi diferente. A Carris aderiu a padronização, mas tinha sua própria tonalidade.
Podendo então deslocar cada um de seus ônibus pra todas as suas linhas, sem se preocupar com a cor. Esse era um privilégio da Carris.
A viação particular Sopal (Sociedade de Ônibus Porto-Alegrense) operava em duas faixas diferentes, a vermelha (esq.) e a azul (abaixo).
Tinha que pintar então seus ônibus de duas cores diferentes, conforme a linha que era cumprida (o mesmo ocorria na época com a viação Santa Madalena e atualmente com a Gato Preto, ambas na Zona Oeste de SP).
“GRE-NAL DA BUSOLOGIA”:
A RIVALIDADE DO ESPORTE TRANSBORDOU PRO TRANSPORTE –
Como acabo de dizer, apesar da faixa 50 da Sopal ser na Zona Norte, os ônibus azuis na padronização R.U. circulavam basicamente na Zona Sul. Já a faixa vermelha era na Zona Norte.
Na pintura seguinte, conhecida popularmente como ‘Eletro-Cardiograma’ (1993-2013, até o momento que publico em 2023 ainda a padronização mais longeva da cidade) isso ficou ainda mais pronunciado:
Vermelho era Zona Norte, azul Zona Sul, verde Zona Leste, a Carris seguiu de bege.
Na ocasião o estádio dos dois grandes do futebol gaúcho eram ambos na Zona Sul, próximos ao Centro e também próximos um do outro, dava pra ir a pé.
Trata-se, evidente, do Olímpico do Grêmio na Azenha e do Beira-Rio do Internacional.
Sediados ambos os arqui-rivais ao sul do Centro os técnicos da prefeitura podiam manejar a vontade as cores azul e vermelho na hora de escolher a pintura dos ônibus, sem repercussões futebolísticas
E por isso assim foi feito. Nas duas padronizações do século 20 (‘R.U.’ e ‘Eletro’) os busões celestes rodavam na Zona Sul, rubros na Zona Norte.
Em 2013, entretanto, foi anunciada nova padronização nos ônibus, consolidada na segunda metade da segunda década do novo milênio.
A ideia original era seguir a tradição, e manter o azul na Z/S e vermelho na Z/N.
Só que havia um porém, a situação havia se alterado. A nova Arena do Grêmio já estava ativa, inaugurada em 2012.
E ela fica na Zona Norte. O Beira-Rio foi remodelado mas segue no mesmo local. Assim, agora a Zona Sul abriga o time vermelho, a Zona Norte o azul.
Decidiram que os ônibus também seriam nessas cores, refletindo a localização dos estádios.
Entre a tradição da busologia e a rivalidade centenária entre esses times, optaram por homenagear o futebol.
A Zona Leste segue ainda mais uma vez de verde e a estatal Carris bege, como no ‘Eletro-Cardiograma’ (no caso da Carris desde 1979, quando veio a padronização EBTU).
Feito esse adendo no presente, voltemos a padronização dos anos 80 que é nosso foco.
AS MUITAS “REBELIÕES” CONTRA A PADRONIZAÇÃO –
Houve diversas formas de resistência a uniformização da pintura.
A da viação Cambará foi a mais aberta. Simplesmente ela se recusou a padronizar sua frota e seguiu usando a pintura livre.
Acima e ao lado um Torino ‘2’ e ao lado um Monobloco ‘3’.
Ambos fabricados da segunda metade dos anos 80 pra frente.
Quando Porto Alegre já tinha pintura padronizada a tempos. Mas pra Cambará não.
Em algumas viações a ‘rebelião’ foi mais sutil. Adotaram a pintura R.U. como determinado. Até aí tudo bem.
Só que não colocaram o número da R.U. nem seu eixo principal na lataria, tampouco o prefixo antes da numeração do ‘carro’.
Foi o caso das viações Sudeste (acima), Gazômetro (ao lado) e Trevo (duas tomadas abaixo).
Digo, a Sudeste realmente não usou o prefixo 30 antes da numeração do veículo.
A ressalva e que somente nesse caso o prefixo 30 foi usado antes do código d linha, como já veremos.
Já a Trevo chegou a pintar a R.U. em pelo menos alguns busões no início.
Depois mudou de ideia e a seguir optou por eliminar essa característica de sua frota.
Nesse Ciferal Paulista mostrado a direita a Trevo havia escrito o ‘R.U. 10’ na lateral.
Pena que o ângulo não é o melhor pra visualizarmos com exatidão, mas olhando com cuidado percebemos que o retângulo branco contém essa informação.
Na maior parte de sua frota, no entanto a Trevo mantinha os os espaços onde deveria estar a R.U. sem nada escrito.
Tampouco punha o prefixo ’10’ antes da numeração de cada busão, como se percebe a esquerda.
PADRONIZADO, MAS AINDA ASSIM PERSONALIZADO:
PORTO ALEGRE É AMÉRICA –
Mesmo quando a pintura EBTU foi cumprida a risca, não quer dizer que toda frota foi plenamente padronizada.
Os próprios motoristas ainda arrumaram um jeito de manter o busão que trabalhavam com a sua decoração individualizada.
Um dos apetrechos clássicos era pôr 3 estrelas da Mercedes-Benz (e muitas vezes coloridas), ao invés de só uma que era o padrão de fábrica. Bem, esse costume permanece até hoje, alias.
Também era comum inserir cortinas, bandeiras do RS e do Brasil, calotas, faróis amarelos de neblina, dar um nome os veículo, e por aí vai – essas características, entretanto, foram extintas após a virada do milênio.
América é um continente, não me refiro aos EUA e sim a América Hispânica. Porto Alegre manteve acesa essa chama dentro do Brasil, mesmo falando português.
Alias falando nos ‘hermanos’, uma década depois de PoA, o mesmo ocorreu em Santiago do Chile: Apesar da pintura padronizada os ‘motoras’ davam um jeito de tornar seu busão único, diferenciado dos demais.
1982: PORTO ALEGRE ENTRA NA ERA DO ÔNIBUS EXPRESSO –
Quando foi implantada a padronização EBTU, na R.U. 30 havia várias viações, a Murialdo, Robilo, Partenon e Pinheiro.
Elas adotaram normalmente a indumentária determinada pelo poder público: identificação da R.U. na lataria, repetida antes do nº do veículo, e seu eixo principal.
Ao lado Amélia da A.V. Pinheiro. Sim, a imagem está borrada. Mas olhando com cuidado vemos a identificação da R.U. atrás do logotipo do EBTU. Confira mais exemplos nessas raras imagens:
Entre 1980 e 81 foram inaugurados na Zona Norte os primeiros corredores exclusivos pra ônibus de Porto Alegre.
Porém nesse caso os busões tinham prioridade sobre os automóveis, o que é muito bom, mas não havia integração.
Em 1982, por outro lado, começa a operar o corredor da Avenida Bento Gonçalves, na Zona Leste.
As viações que operavam ali se fundiram pra formar a viação Sudeste.
A Sudeste segue a padronização R.U. (ao contrário da Cambará), todos os seus busões são brancos com a faixa colorida.
Entretanto ela não coloca a identificação da R.U. na lataria nem adota o prefixo antes do nº do ‘carro‘ (a viação Carmo da Zona Sul de Curitiba igualmente ignorou o prefixo que deveria ostentar.)
Seja como for, o que importa é que no corredor da B. Gonçalves foi copiado o modelo do ‘Expresso’, implantado em Curitiba pouco antes.
(Só pra gente pôr no contexto, aqui na capital do Paraná em 1974 veio o primeiro corredor de Expresso, com os corredores e integração provisória em terminais improvisados.)
(A partir de 1980 a cidade já contava com 5 corredores, com articulados em 3 deles. Os terminais de integração definitivos foram inaugurados entre 1980 e 1982.)
De volta a Porto Alegre que é nosso foco. Em 1982 é inaugurado o ‘Expresso’ no corredor da Bento Gonçalves. Trata-se da R.U. 30.
São construídos 4 terminais, 2 municipais e 2 metropolitanos, pois o corredor é multi-modal.
Os terminais intermunicipais ficavam um na Azenha, no início da B.Gonçalves, e outro na Parada 32 em Viamão (esse último nem chegou a funcionar, infelizmente).
Enquanto os que atendiam as linhas internas da capital eram o Alameda no bairro Partenon e o Antônio de Carvalho na Agronomia, já perto da divisa de município.
Com a integração as linhas podem ser hierarquizadas, pois não precisam mais todas ir até o Centro. Suas linhas troncais ligam o Centro aos terminais:
A 30.1-Bento Goncalves percorre todo o corredor até o Terminal A. Carvalho, e a 30.2-Partenon que ia até o Terminal Alameda.
São feitas por articulados ou pelo menos por veículos ‘padron’ alongados.
Não há cobrador, é preciso comprar antes um bilhete de papel e inserir na catraca, que libera eletronicamente a passagem (quiosques espalhados pela avenida funcionam como pontos-de-venda).
No Centro havia um espaço cercado com alambrado, pra que o embarque pudesse ser feito por todas as portas simultaneamente.
As linhas que vão pros bairros se tornam alimentadoras, têm seu ponto final seccionado no terminal e seguem sendo feitas pelos ônibus de tamanho normal, com cobrador.
Na R.U. 30 as linhas receberam prefixo com esse mesmo nº. Apenas nessa R.U. (em Campinas, inversamente, todas as linhas receberam o prefixo da região da cidade na padronização de 1985).
Já chegaremos no interior de SP. Por hora de volta ao RS. As linhas troncais, repetindo tinham o código 30.1 e 30.2 .
Portanto com o sufixo, que indica a linha propriamente dita, com 1 dígito. Vejamos algumas fotos dos ônibus pitocos:
Nas demais linhas o sufixo tinha 2 dígitos. Por ex. 30.44-Santa Maria, 30.45-Santa Catarina (esq.), 30.46-São José, 30.94-Mapa e 30.98-Pinheiro.
Como é domínio público, essa primeira tentativa de implantar o sistema ‘expresso’/’BRT’ em Porto Alegre naufragou. Durou apenas 4 anos, de 1982 a 1986.
Oficialmente a justificativa é que a população não se adaptou ao sistema de integração. Só que essa não é a causa real.
O sistema de integração com terminais foi implantado em centenas de cidades, do Brasil e do mundo.
Em todas os usuários se adaptaram perfeitamente a ideia de trocar de ônibus no terminal, se isso lhes der novas opções de deslocamento com apenas uma passagem.
Atualmente mesmo Porto Alegre conta com terminais de integração, e não houve problemas.
Por que nos anos 80 o corredor da Bento então não funcionou?
Um dos motivos é que vieram poucos articulados, em número insuficiente pra atender a demanda de um modal ‘expresso’/’BRT’.
O principal problema, entretanto, era o fato que não havia cobrador, e o passageiro dependia da bilhetagem eletrônica pra liberar a catraca.
No início dos anos 80 a tecnologia não era tão avançada quanto hoje, evidente. Quando o bilhete amassava ou molhava o sistema não conseguia ler.
Assim acontecia que com frequência o leitor eletrônico não reconhecia o objeto.
Portanto não liberava a passagem de forma automática, como deveria ser.
O motorista então liberava a roleta manualmente, pro usuário poder seguir viagem – ou mesmo permitia que ele passasse por debaixo dela.
A repetição desse ato tornou-o um hábito. E o hábito levou a fraude, gerando perda muito alta de receita.
Não generalizando, claro. Evidente que a maioria dos trabalhadores são honestos, seja em PoA ou qualquer parte, seja no transporte coletivo ou outro ramo.
Evidente. Ainda assim, a desonestidade de alguns acabou por comprometer o projeto. Reproduzo a explicação dada pelo blogue “Modais Viários de Porto Alegre”:
“ Reza a lenda que motivo real foi outro. Dizem que durante dois anos houve uma evasão acentuada de passageiros sem nenhum motivo e os empresários bateram a cabeça atrás de explicações.
Vieram técnicos de São Paulo, fiscalização, tanto da empresa como da SMT, tentaram achar o motivo. Nada.
Foi um funcionário da própria Sudeste que acabou entregando o jogo.
O sistema de cobrança era feito por um pedacinho de papel com uma tarjeta magnética que era introduzida num orifício da catraca eletrônica.
Só que em dias de chuva a passagem ficava inutilizada (nota minha, O.M. : se estivesse dobrada, ainda que levemente, também).
O motorista simplesmente destravava manualmente a catraca ficando com o bilhete. Esperava secar e revendia a passagem.
Dizem, inclusive, que para destravar a roleta, bastava encostar nos terminais e desligar a chave geral do carro. ”
Essa sim é uma explicação consistente. Copiaram o sistema criado por Curitiba – e na época já adotado também em Goiânia e São Paulo – mas tentaram inovar num ponto que não deu certo.
A capital do Paraná introduziu o sistema Expresso, com corredores exclusivos e terminais e integração, desde de 1980 operados por articulados.
Só que os Expressos curitibanos tinham cobrador. O passageiro usava dinheiro vivo, não precisava se preocupar em adquirir bilhetes, muito menos no que fazer se a catraca travasse.
(Alias até hoje os Expressos contam com cobrador, esses e os Ligeirinhos são atualmente as únicas categorias de ônibus da cidade onde ainda é possível pagar em espécie.)
(A partir de 2020 e concluindo em 2023 a prefeitura de Curitiba retirou o cobrador de todos os ônibus. Assim nos Convencionais, Alimentadores e Inter-Bairros só é possível pagar com cartão.)
Porém os Expressos e Ligeirinhos usam as estações-tubo, que têm embarque pré-pago e elevado. E nessas, e também nos terminais, ainda há cobrador.)
2ª PADRONIZAÇÃO (1990-1993):
INSPIRADA NA ANTERIOR –
Nos anos 80 a região da Restinga (como todos sabem um bairro de periferia na extremidade da Zona Sul) era atendida pela viação Belém Novo.
Em março de 1990 surge a pra fazer essas linhas a viação Tinga.
Seus primeiros busões eram totalmente brancos, como mostrado acima.
Passado esse período experimental inicial a Tinga escolheu a faixa vermelha.
O fundo dos veículos permaneceu alvo, com uma faixa horizontal colorida.
Só que não havia mais o esquema das ‘Radiais Urbanas’ – R.U.’s:
A cor não indica mais que parte da cidade a linha serve.
Tampouco há o prefixo, nem mesmo a sigla R.U. com seu eixo principal na lataria. Cada viação podia escolher agora sua cor.
Algumas mudaram, outras mantiveram mas assim seguindo o exemplo da Tinga excluindo os detalhes compulsórios da padronização, como prefixo, eixo e a própria sigla ‘R.U.’ .
E surgiram ainda novas viações que não existiam: além da Tinga estamos falando na Z/S também a Fênix (esq.) e a Via Norte na Z/N.
A Via Norte é uma cisão da Sopal, herdou parte de sua frota e linhas.
Exemplificamos abaixo pelo primeiro articulado articulado adquirido pela Sopal (chapa AR-4675).
Circulou por boa parte das décadas de 80 e 90, recebendo nesse períodos nada menos que 3 padrões de pintura.
Também é um Caio Amélia, o que mostra mais uma vez o quanto esse modelo foi popular em PoA.
Em Brasília, falamos acima e é notório, quando acabou a padronização EBTU veio outra padronização Inspirada na primeira, o desenho é o mesmo.
Só que ainda mais rígida: em que todas as empresas tiveram que pintar seus ônibus na mesma cor, a faixa cinza.
Em Florianópolis, mostraremos logo abaixo, inversamente quando acabou a padronização EBTU houve regressão a pintura livre (apenas em 2014 veio a 2ª padronização, que não guarda relação com a 1ª).
Porto Alegre, por sua vez, adotou um modelo intermediário.
Quando a padronização EBTU encerrou seu ciclo veio uma segunda padronização, também inspirada na primeira.
Pois o esquema básico seguiu o mesmo, o ‘latão’ inteiro branco com uma faixa colorida. Só que houve um abrandamento das regras.
Como cada viação podia escolher sua cor(a Sopal adotou inclusive faixa bi-color)essa não informava mais ao usuário pra onde a linha ia.
E essa era a ideia básica que inspirou a padronização EBTU.
Os detalhes secundários de prefixo e nome do eixo também sumiram.
Bem, a Gazômetro, Sudeste e Trevo agiram assim desde o início.
A partir de 1990 todas as outras optaram pelo mesmo procedimento.
O nome das empresas também passou a ser escrito numa fonte (tipo de letra) diferente, maior e muitas vezes inclinado.
E a Belém Novo encurtou até o nome, se tornou apenas ‘Belém’.
Das viações que surgiram, a Tinga escolheu a faixa vermelha como dito, a Fênix ficou com o verde.
Enquanto que a Via Norte usou o vermelho (cor usada pela Sopal, da qual a Via Norte se originou e posteriormente se fundiu novamente).
Mantiveram a mesma cor que já usavam no R.U.: Nortran, VAP, Estoril e Sentinela (todas elas de vermelho), Presidente Vargas e Belém (ambas em azul), Navegantes (amarelo) e VTC (verde).
A Sopal usava, separadamente, as cores azul e vermelho.
Passou pra uma faixa bi-color, como dito, em vermelho e laranja, e a Sudeste de bege passou pra verde.
Portanto, ressaltando ainda mais uma vez, a cor não indica mais pra onde o ônibus vai:
A pintura das viações Fênix, Sudeste e VTC passou a ser idêntica, em verde. E a área de atuação delas era respectivamente as Zonas Norte, Leste e Sul.
Na fotos acima e ao lado exemplificamos pela A.V. Navegantes: primeiro o Veneza com “R.U. 62 – FARRAPOS” na lataria, o mesmo prefixo 62 antes da numeração.
A seguir, como a legenda já informou, tudo isso se foi – apenas ao lado do letreiro ainda há a inscrição ‘R.U. 62’, esqueceram de tirar essa identificação.
O que não muda é que os busos são sempre personalizados: calotas e muitas estrelas da Mercedes.
Vejamos essa transição em diversas viações. Começando pela V.T.C. :
Sentinela:
Ao lado um busão na fase de transição: ainda há o “R.U.40 – P. Alves” .
Só que já retiraram o prefixo 40, e o próprio nº ‘124’ subiu pra faixa vermelha.
Porto Alegre também teve Monoblocos, desde o 0-362 (e mesmo antes até) o 0-371. Menos do que em outras capitais como SP e Brasília, mas estiveram presentes.
Estoril: abrimos com dois ainda no tempo da R.U.,e fechamos com um na 2ª padronização.
Trevo:
Belém Novo:
Presidente Vargas:
MACEIÓ: ALGUMAS VIAÇÕES USARAM ESSA MESMA PINTURA DE FORMA VOLUNTÁRIA –
FLORIANÓPOLIS:
PADRONIZAÇÃO EBTU (1980-1989)
Alguns meses depois da capital gaúcha Fpolis. adotou exatamente a mesma pintura, na virada pra 1980 –ao lado a chegada da nova frota.
Inclusive com a faixa negra menor sob a colorida e uma lacuna em branco, que no RS continha a R.U., em SC o logotipo de cada empresa (detalhes ausentes em Brasília).
De qualquer forma, o esquema geral era o mesmo nas 3 capitais, busão alvo e a cor da faixa principal indicando a região da cidade, repetindo ainda mais uma vez.
Porém a padronização catarinense teve 3 características únicas:
– Valeu tanto pras linhas municipais quanto metropolitanas;
– Havia uma categoria especial pras linhas ‘Circulares’, que ficassem apenas nos bairros sem ir ao Centro. Nesse caso a faixa do busão era amarela, independente da parte da cidade que operasse.;
– São José, o maior subúrbio da Grande Florianópolis, adotou a mesma padronização em suas linhas municipais (lá chamadas ‘Inter-Bairros’);
Só essa ideia das linhas ‘Circulares’ serem diferenciadas não pegou, e logo foi desativada.
Independente da linha ser local (ficar apenas no bairro) ou radial (seguindo até o Centro) logo todas as viações pintaram 100% de sua frota com a cor da sua respectiva região.
Fui várias vezes a Floripa nos anos 80, quando a padronização estava em vigor, e nunca vi um ônibus com faixa amarela.
Mesmo buscando pela internet essas imagens são raríssimas, o que prova que foi uma tentativa que não deu certo, logo sendo abandonada.
Em Fpolis. não durou muito, mas tentaram de novo em outras cidades: em Campinas em 1985 eSantiago do Chile em 2007. Do Interior Paulista falaremos com detalhes e imagens logo abaixo.
No caso da capital chilena, se alguém não sabe ela foi a primeira cidade da América Hispânica a padronizar a pintura dos ônibus, em 1991. Em 2007 veio a segunda padronização.
Chamada ‘TranSantiago’, ainda vigente (escrevo em 2024). E lá os busos são pintados conforme a região da cidade que operam.
Então. E no início da ‘TranSantiago’ as linhas ‘Troncais’ tinham identificação específica, no mesmo padrão de pintura mas com cores próprias. Como em Florianópolis.
E da mesma forma que no Brasil no Chile também não vingou, em pouco tempo as linhas ‘Troncais’ de Santiago deixaram de ter sua própria cor, e adotaram a cor da região onde a viação está sediada.
Do Chile já escrevi bastante em outras oportunidades, só fiz esse paralelo porque aconteceu exatamente a mesma coisa que em SC.
Então ‘bora de volta pra Florianópolis. As cores eram (já vimos o mapa na abertura da matéria):
– Laranja: Norte da Ilha, Municipal;
–Marrom: Sul da Ilha, Municipal;
– Azul-claro: parte continental norte do município de Florianópolis;
– Verde-claro: parte continental sul do município de Florianópolis;
– Azul-escuro: parte continental norte dos subúrbios metropolitanos, ligando eles ao Centro de Florianópolis (Biguaçu e um pedaço de São José);
– Verde-escuro: parte continental sul dos subúrbios metropolitanos, ligando eles ao Centro de Florianópolis (Palhoça e o outro pedaço de São José);
– Vermelho: municipais de São José (“Interbairros”). Não entram no município de Florianópolis e nem qualquer outro, óbvio;
– Amarelo: linhas ‘Circulares‘, cor logo abandonada.
No Continente a cor azul ou verde indicava norte ou sul, respectivamente, tanto pras linhas municipais quanto metropolitanas.
O que indicava se a linha cruzava ou não a divisa Fpolis./São José era o tom: o mais claro era interno da capital, mais escuro inter-municipal.
Como pode ver, São José tinha 3 cores. O vermelho municipal convivia com as duas cores metropolitanas, pois foi foi ‘partido’ ao meio na hora de decidirem as faixas.
Note que muitas vezes a mesma empresa operava em várias regiões: a Estrela tinha linhas municipais de Florianópolis, municipais de São José e metropolitanas entre os dois municípios.
Logo tinha busos tanto verde-claros quanto verde-escuros. Não sei se a ela pintava os ‘Inter-Bairros’ de vermelho (os únicos registros que há nessa configuração são da viação Biguaçu).
A Ribeironense e a Emflotur atuavam somente no município de Florianópolis, porém dos dois lados da ponte.
Ou seja, serviam a Ilha e o Continente. Só que em ambos os casos com a pintura do Continente.
A Ribeironense, como até o nome indica, atendia a região do Ribeirão da Ilha, no extremo sul da mesma. Ainda assim essas linhas eram feitas por busos em verde-claro.
Em 1991 a Ribeironense repassa as linhas da Barra da Lagoa a Emflotur, que cuidou delas até 1997, quando foram pra Transol.
E nesses 6 anos, de 91 a 97 já no apagar das luzes da padronização (dou os detalhes logo abaixo), essas linhas da Ilha tiveram ônibus padronizados brancos com faixa azul-clara.
1989-2014:
VOLTA DA PINTURA LIVRE –
Em 1989 a Trindadense faliu. Pra substituí-la veio a Transul, de Lages, no interior catarinense.
E ela usou na filial da capital a mesma decoração pra sua frota que utilizava na matriz. Apenas modificou a denominação pro nome-fantasia de ‘Transol’.
A esquerda um Urbanus da Transul. Estando coberto de neve nem preciso esclarecer que a foto foi feita em Lages mesmo, pois nunca nevou em Florianópolis (pelo menos até 2013 quando publico isso).
A direita reportagem de jornal registra a transição: a Trindadense enfrentando problemas pra manter seus ônibus rodando.
Pra população não ficar desassistida chega a Transul. Por pouco tempo há uma ‘luta’, uma ‘competição’.
Só que a Trindadense está mal das pernas e acaba vindo a pique.
A Transul, logo re-batizada ‘Transol’, assume seu lugar em definitivo. Ao lado a situação já consolidada.
A Transol é nova dona das linhas da Trindadense, que acaba saindo de cena (os 4 veículos da Transul/Transol aqui retratados são Nielson/Busscar Urbanus ‘1’, modelo então bem comum na empresa).
A prefeitura da capital poderia ter exigido que a nova participante do sistema usasse a pintura padronizada. Como é o praxe em todas as cidades.
Pra dar apenas um exemplo, nessa mesma época aqui em Curitiba surgiu uma nova viação, a Cidade Sorriso na Zona Sul.
A entrada desse novo integrante na rede não significou o fim da pintura padronizada.
A Sorriso teve que se adequar exatamente igual as suas 9 co-irmãs que por aqui já estavam.
Nas duas capitais mais austrais do Brasil, por outro lado, optaram por outra abordagem.
Como aconteceria em Porto Alegre uns meses depois, veio uma nova viação que não seguiu a padronização de Fpolis. .
Num efeito dominó, todas as demais viações igualmente abandonaram o esquema proposto pela EBTU/Geipot e regressaram a pintura livre.
A diferença é que no Rio Grande do Sul o processo foi mais rápido, porém não tão intenso. Em Fpolis. foi mais lento, entretanto mais agudo.
Na capital gaúcha assim que a Tinga entrou ignorando a pintura das R.U.’s praticamente todas as viações logo a seguir fizeram o mesmo.
Ainda assim, os busos foram mantidos brancos com uma faixa colorida. Ou seja, ainda era uma padronização, e inspirada na anterior, apenas mais flexível.
Em Floripa, inversamente, a despadronização levou mais de uma década, mas quando concluída foi total, havia voltado a pintura livre.
Dependeu do gosto de cada empresa.Logo após a Transol, já em 1991 por exemplo a Canasvieiras também tinha pintura livre.
A Limoense adquiriu seu último busão com pintura padronizada, no caso com faixa marrom, em 1993.
Entre 93 e 94 a Ribeironense da mesma forma já tinha pintura livre. Logo a seguir ela incorpora a Limoense.
Imagens mostram que em 1996 a Emflotur estava na transição, aparecem lado-a-lado veículos seus já na pintura livre e ainda na padronizada..
A Estrela resistiu um pouco mais. Pelo menos até 1997 seus ônibus 0km seguiam chegando na padronização EBTU. Porém pouco antes da virada do milênio ela também passa pra pintura livre.
Em 2003 a Riberionense também sai de cena. A Insular assume as linhas pro Sul da Ilha que anteriormente eram da Riberonense/Limoense. A Transol se encarrega das mais centrais.
Na última empresa da Grande Florianópolis a abandonar a decoração EBTU foi a Biguaçu:
Até 2005 ela ainda utilizava o desenho determinado pelo governo federal em 1980:
Buso branco, faixa maior azul-escura e menor negra. Só que desde 1989 por sua própria escolha.
Em 2005, repetindo, a Biguaçu também opta por uma nova identidade visual.
Claro, a transição é gradual. Até toda a frota ser repintada/renovada leva um tempo. Até 2008 boa parte dos busões da Biguaçu ainda ostentavam o esquema antigo.
Somente em 2013 foram repintados os últimos ‘heróis da resistência’ que ainda tinha usavam a pintura EBTU.
Resumindo: a padronização, pra todas as viações, durou de 1980 até 1989.
A Biguaçu seguiu como estava por mais 16 anos. E ainda levaram mais 8 pra mudança se concluir.
24 anos depois do fim da obrigatoriedade, enfim iam-se embora os últimos busões pintados como a EBTU determinou.
Acabava uma era. Ou melhor, acabava o último resquício de uma era.
Em 2014 vem o SIM – Sistema Integrado de Mobilidade, quando Floripa re-padroniza seus ônibus.
Agora somente nos municipais. Os metropolitanos permanecem em pintura livre (escrevo em 2024).
CAMPINAS (1985-1995):
TEVE 3 FASES, MAS EM TODAS A PADRONIZAÇÃO FOI MANTIDA NESSE PERÍODO
Em 1985 a maior cidade do Interior Paulista padroniza a pintura de seus ônibus.
O projeto é chamado de “Campinas – Sistema de Transportes“.
Essa frase e o logotipo do projeto, um ‘T’ estilizado, foram pintados no meio de todos os busões (o desenho a esquerda mostra bem).
Digo, quase todos. Como aconteceu em Porto Alegre, uma viação também se recusou a participar da padronização, no caso específico a CCTC.
Trata-se, óbvio, da ‘Companhia Campineira de Transportes Coletivos’.
Que pertencia a viação Cometa (falaremos melhor dela na sequência). Seja como for, as demais viações padronizaram a pintura.
Em SP Capital desde 1978 vigorava a primeira padronização da cidade, chamada ‘Saia-&-Blusa’.
Onde a cor de baixo do veículo indica a região da cidade, a cor de cima era de escolha da viação.
Em Campinas (abreviada ‘CPS’) o desenho básico era o mesmo, e de idêntica forma a parte próxima ao rodado era compulsório enquanto que porção perto das janelas era livre.
Porém as cores têm significado distinto: a ‘saia‘ (parte inferior da lataria) era sempre branca, enquanto a ‘blusa‘ (metade superior) indicava a viação, e consequentemente qual parte da cidade a linha serve.
A primeira fase, com a frase ‘Campinas – Sistema de Transportes’ e a letra ‘T’, durou até 1989 (imagem ao lado e a anterior).
Nesse início os busões que foram adquiridos pela própria viação tinham apenas a faixa principal, unicolor, indicando a empresa (acima).
Enquanto que os ônibus com uma faixa vermelha menor dentro da faixa principal indicavam que foram comprados em parte com recursos públicos (esquerda).
Em 1990 houve algumas alterações, que duraram até 1993:
A identificação “Campinas-Sistema de Transportes” foi substituída pelo emblema do grupo político que estava no poder.
Além disso, agora todos os ônibus passaram a ganhar a faixinha vermelha dentro da outra, independente da origem do financiamento (observe tudo isso a direita e abaixo).
Nesses 3 anos Campinas teve uma viação estatal, a Emdec, que adota a faixa vermelha – me refiro a faixa principal, não a faixinha secundária.
A Emdec (Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas) antes apenas gerenciava o sistema.
Só que a prefeitura estatiza parte das linhas na tentativa de re-erguer a rede de transportes após os tumultos de 1989 (falo melhor disso na sequência).
A maioria das viações mantém a mesma configuração ‘Saia-&-Blusa‘, ou seja com a faixa superior larga.
A Emdec e a Visca, entretanto, preferem uma faixa mais estreita, que não chega até a janela.
Pelo menos nesses casos então Campinas ficou com a pintura idêntica a padronização EBTU ainda em uso em P. Alegre, Florianópolis e Brasília (visto logo na abertura da matéria, no topo da página).
Quando muda o partido que comanda a prefeitura a pintura dos busões é alterada de acordo:
Em 1993 retiram-se as faixas vermelhas de todos os carros e o logo da antiga administração, ficando apenas o nome da empresa – exemplificado ao lado.
As cores da faixa principal que identifica a viação foram mais uma vez mantidas sem alteração, como havia sido definido em 1985.
Por isso podemos dizer que essa padronização durou uma década (1985/1995) e teve 3 fases: a 1ª de 85 a 89, a 2ª de 90 a 93, e a derradeira de 93 a 95.
Das cidades retratadas na matéria, em Campinas meu conhecimento ‘in loco’ é mais esparso.
Visitei a cidade algumas vezes, numa delas até usando o sistema de ônibus, justamente pra conhecer a rede integrada.
Porém é uma amostragem muito pequena pra compreender plenamente o conjunto da obra. Por isso vou reproduzir diversas informações extraídas do sítio Ônibus de Campinas/Portal InterBuss.
A ideia original era fazer em Campinas uma padronização por categoria de linha, como a que foi adotada em Curitiba primeiro e a seguir em várias cidades.
Dessa forma as linhas Expressas/Troncais/Radiais teriam uma cor, as Alimentadoras outra, as Circulares/Inter-Bairros/Transversais ainda mais uma, e assim por diante, na cidade inteira.
Só que não se deu dessa forma. As cores acabaram ficando uma por viação – me refiro a cor da faixa superior, a inferior era sempre branca, o sabem.
Como no geral cada uma delas atuava em bairros próximos entre si, na prática ficou uma padronização por região (vou falar apenas das empresas que estavam ativas no período entre 1985 e 1995):
– VCE (‘Viação Campos Elíseos’) – azul-escuro.
Operou de 1974 a 1988. Pelo menos deveria ser azul, pois até 1986 chegou a ter três pinturas diferentes.
Já que sequer pintava os ‘carros’ quando comprava, em geral usados.
O estado de conservação dos seus veículos muitas vezes deixava a desejar;
– Em 1988 a VCE mudou de nome: se tornou a Urca(‘Urbanos de Campinas’), que usava o cinza – a direita.
Logo após surgir em 1989 a Urca investiu pesado, iniciou um processo massivo de renovação de frota.
Em seu auge possuiu a maior frota de ônibus articulados da cidade.
Vários veículos ‘sanfonados’ foram comprados para dar vazão a demanda ao recém-inaugurado Terminal Ouro Verde.
Assim como várias outras viações, deixou o sistema quando começou a padronização InterCamp em 2005;
– EBVL – marrom-escuro (‘Empresa Bortolotto Viação Ltda.’):
Uma das viações que atuou em Campinas por mais tempo, de 1950 até 2005.
Usou também os nomes-fantasia de Bortolotur e Bortolotto
– Visca – verde-escuro (‘Viação Santa Catarina’), vista a esquerda. Circulou de 1976 a 2000.
Sua época de ouro foi o início da década de 90, era referência e tida como modelo na cidade, tanto de gestão como de frota.
Em 1995 compra de vários veículos articulados para a região do Campo Grande.
Em 1997, a empresa iniciou um processo de declínio por conta da entrada de perueiros na cidade.
Em 2000 encerrou as atividades com vários carros sucateados e parados por falta de peças;
– RLC – também usou o azul-escuro (‘Rápido Luxo Campinas’). Ativa na cidade entre 1977 e 2005.
No sistema municipal de Campinas fazia as linhas dos bairros próximos a divisa com Valinhos.
No locaute de 1989 foi a única a não levar veículos embora da cidade.
Na pintura livre usava a ‘saia’ azul e ‘blusa’ branca. No tempo dessa padronização apenas trocaram posição das duas cores;
– Tuca – verde-claro (‘Transportes Urbanos Campinas’). A empresa existiu entre 1988 e 2005.
Foi criada pela Rápido Luxo Campinas para operar algumas linhas quando a CCTC anunciou a saída do sistema.
Herdou também os busões CMA da CCTC –chegou a operar eles por algumas semanas no fim de 88 ainda todo rubros.
Em 1989 eles ainda receberam o logotipo e a frase “Campinas – Sistema de Transportes” no último ano dessa 1ª fase da padronização;
– VBTU – laranja (‘Viação Bonavita de Transportes Urbanos). O mesmo nome-fantasia foi usado por duas viações distintas:
De 1978 a 1990 pertencia de fato ao grupo Bonavita. Após a venda em 90 a sigla VBTU foi mantida pelos novos donos.
A conservação dos veículos igualmente passava longe do ideal. Também encerrou as atividades em 2005, com a implantação do InterCamp;
– VCG – vermelho (‘Viação Campos Gerais’). Ao menos deveria ser, mas teve várias cores no curto tempo que atuou no sistema campineiro, entre 1988 e 89.
A VCG detém o monopólio do transporte urbano de Ponta Grossa (‘P.G.’), no interior do Paraná – aliás o nome vem daí, pois essa cidade é conhecida como “Capital dos Campos Gerais”.
A empresa foi chamada para operar parte das linhas da CCTC que estavam sendo rateadas.
Porém a VCG não renovou nem os carros que herdou da CCTC, que já estavam com sua vida útil esgotada.
A questão é que a VCG é do mesmo grupo que detém a maior parte da frota de Curitiba.
Por isso a viação levava pra Campinas ônibus que já haviam sido usados no PR, na capital e em PG.
Logo abaixo a direita a foto da garagem da Viação Campos Gerais que ilustra bem que a operação na filial paulista deixava a a desejar.
Vamos 6 veículos, mas eles têm 4 decorações distintas.
Oras, se a pintura da cidade é padronizada e no caso por viação toda a frota de uma empresa deveria ser igual, é um princípio muito básico.
Bem, dois são ex-CCTC, viação que enquanto existiu ignorou por completo a padronização, exceto nos CMA Scania (como mostraremos na sequência).
Mesmo os 3 busões que estão na padronização campineira são de duas cores diferentes, e nenhuma delas é a apropriada pra VCG, que seria o vermelho:
Dois em marrom (que deveria ser da Bortolotto) e um em amarelo (pertencente a Itacolomy).
Ao lado deles na mesma imagem, como dito, dois Condor oriundos da CCTC, que já deveriam ter sido aposentados.
E, pasmém, um Haragano ex-viação Marechal ainda usando a pintura unicolor amarela dos Convencionais curitbanos . . .Vai vendo . . .
Após o locaute de 1989 a VCG deixou Campinas, a pedido da prefeitura;
– Tugran – marrom-claro (‘Transportes Urbanos Campina Grande’). Assim como a VCG, só circulou entre 88 e 89.
Não deixou saudades, todos os seus ônibus (cerca de 50) operavam com a vida útil vencida.
Assumiu as linhas da região do Campo Grande depois que a Viação Campos Elíseos acabou.
Herdou também parte da frota da VCE, que já deixavam a desejar no antigo dono, e a situação só piorou.
Pra “renovação” da frota a Tugran trouxe vários busos usados de São Paulo Capital, já de idade muito avançada.
Não se dava sequer ao trabalho de acertar o letreiro nesses busões que vinham de outras cidades.
Resultando que a linha muitas vezes vinha escrita num papel colado no vidro.
A Tugran não cuidava corretamente da manutenção e limpeza.
Não teria como, uma vez que nem possuía garagem.
Guardava a frota num terreno baldio perto da fabrica da Pirelli.
Com frequência a viagem tinha que ser interrompida pois o veículo quebrava ou ficava sem combustível.
Com tantos problemas, teve sua licença revogada apenas um ano depois de iniciar os trabalhos;
– Emdec – vermelho (Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas).
De 1990 a 1993 Campinas também teve uma viação estatal. Adota a faixa vermelha, cor disponível com o fim da VCG.
Com a saída de duas viações em 1989, a prefeitura resolve re-organizar o sistema de ônibus e cria a frota pública.
Logo que chega em 1990 a Emdec traz os primeiros articulados de Campinas, 3 no total.
Em 1993 a empresa deixa de ser operadora e volta a apenas gerenciar a rede de transportes;
–Vita – amarelo (Viação Itacolomy).Circulou entre 1990 e 1995. Com a saída da VCG a Itacolomy entra no seu lugar.
Começa muito bem, trazendo diversos ônibus novos. Mas não consegue manter o ritmo:
No meio dos anos 90 era a viação com a frota mais velha da cidade. Assim acaba encerrando as operações;
Vê que era costume local nomear as viações por siglas, todas tinham um acrônimo usado na lataria na época dessa padronização, ao invés do nome escrito por extenso.
Vamos falar então da sigla mais famosa entre as viações da cidade, a C.C.T.C., Companhia Campineira de Transportes Coletivos.
CCTC, A SUBSIDIÁRIA DA COMETA QUE JÁ FOI A “DONA” DE CAMPINAS:
SE RECUSOU A PARTICIPAR DA PADRONIZAÇÃO
A Viação Lira foi a primeira empresa de ônibus campineira, criada em 1920. Existgiu até 1951.
Então vendeu as suas linhas para a Viação Cometa, que criou a CCTC para operá-las.
A CCTC foi um ícone da cidade, lembrada com saudade por muitos até hoje.
Sua frota tinha a ‘saia’ rubra e a ‘blusa ‘ cinza, e foi mantida assim até os últimos dias em que circulou.
Chegou inclusive a operar os bondes de 1954, quando comprou a concessão, até 1968, ocasião em que esse modal foi desativado na cidade.
Os anos 70 foram seu auge, detinha um virtual monopólio.
Explorava as linhas mais rentáveis, de grande demanda e nos bairros já consolidados, asfaltados.
Por outro lado, as linhas que tinham pouco movimento e/ou que serviam aos subúrbios mais distantes, onde as ruas eram de terra, a CCTC recusava.
Repassava elas então a outras viações, por meio de aluguel.
Era o único meio de monopólio ser quebrado, e ainda assim segundo os termos que a CCTC ditava.
Justificando assim a alcunha de ‘dona de Campinas’.
Em 1979, após muitas tentativas de quebra do monopólio, a prefeitura licitou as linhas da cidade e a CCTC perdeu a hegemonia.
Em 1985 houve a padronização de pintura, que seria por categoria de linha a princípio.
Dizendo maius uma vez, as linhas troncais seriam unicolores em vermelho.
A CCTC, mesmo tendo perdido o monopólio em 1979, ainda era a maior viação de CPS, matendo boa parte das linhas mais movimentadas.
Por isso trouxe uma leva de CMA Scania ‘padron’ nessa pintura, para operar as linhas-tronco pro Terminal Barão Geraldo.
Esses busões, pelo porte imponente e pela cor, foram apelidados de ‘Boi Vermelho’.
Porém, como sabem, os planos mudaram e a padronização ao invés de ser por tipo de linha acabou ficando por viação, o que na prática dava quase que uma padronização por rregião da cidade.
As demais empresas acabaram usando sua prórpia cor na faixa paronizada, mesmo nos veículos ‘padron’ utilizados nas linhas troncais que ligam os terminais ao Centro .
E os ‘Bois Vermelhos’ CMA foram os únicos busões em que a CCTC respeitou a padronização de pintura.
No resto de sua frota, em todos os veículos ‘pitocos‘ (de tamanho normal), a Cia. Campineira de Transp. Coletivos manteve sua pintura livre, ‘saia’ vermelha e ‘blusa’ cinza – acima.
Simplesmente ignorando a padronização que todas as outras empresas tiveram que adotar. Que deveria ser “compulsória”. Deveria. Mas pra CCTC não foi.
Mesmo tendo perdido o monopólio absoluto na licitação de 1979, nos anos 80 a CCTC ainda se lembrava de quando era a ‘dona de Campinas’.
“Quem foi rei nunca perde a majestade”, é o que dizem, não?
Bem, se serve de consolo a Cambará tampouco aderiu a 1ª padronização de Porto Alegre, como vimos acima.
Voltando ao Interior Paulista, em 1987 o poder público resolve dar mais um passo na quebra do domínio da CCTC.
É criada a Câmara de Compensação Tarifária, onde as empresas iam fazer um depósito único dos valores recebidos de tarifa.
Depois o dinheiro seria rateado proporcionalmente, a fim de cobrir linhas deficitárias.
A CCTC não aceitou porque não lhe era vantajoso. Anunciou sua saída da saída do sistema campineiro.
No fim de 1988 seus CMA ‘Boi Vermelho’ já haviam sido repassados a Tuca (foto ao lado).
No ano seguinte, em 1989, o processo é concluído e a CCTC deixa Campinas em definitivo. Suas linhas são rateadas entre a VCG, Tuca e VBTU.
A VCG alias já entrara no sistema pra substituir a CCTC.
Porém, repetindo, a passagem da VCG por Campinas foi breve, durou somente um ano.
Em 1989 saem do sistema de uma vez a CCTC, VCG e Tugran.
Levando a mais um período turbulento na história do transporte campineiro. Mais um. Como já escrevi anteriormente:
“ E ainda não é tudo. Em 1989, a CMTC operou por uns dias em Campinas, você sabia?
(Trata-se, obviamente da Cia. Municipal de Transp. Coletivos, viação estatal municipal da Cidade de SP que existia na época, privatizada em 1994.)
Foi uma ajuda. A história do transporte campineiro passou por várias situações conturbadas.
Foram constantes os conflitos de perueiros contra viações oficiais, e de ambos contra o poder público.
Em diversas oportunidades a prefeitura precisou tomar medidas drásticas pra garantir que os ônibus circulassem em segurança.
Muitas vezes viaturas da PM precisaram escoltar os busões pelas ruas.
Em 1986 a prefeitura teve que encampar algumas viações.
3 anos depois, em 1989, nova confusão. Com exceção de uma, as demais viações oficiais de Campinas decretam locaute.
Se recusam a fazer frota circular. A cidade pede socorro.
A prefeitura da capital então envia 100 busões da CMTC.
O governo do estado faz o mesmo e manda mais uma centena da frota da EMTU.
(Essa sigla, por sua vez, significa a Empresa Metropolitana de Transporansportes Urbanos, estatal estadual que nos fim dos anos 80 tinha frota própria.)
Por isso vemos os ‘Monos’ vermelhinhos da CMTC rasgando a Anhangüera rumo a Campinas (foto em preto-&branco a direita).
Hoje tanto a CMTC quanto a EMTU foram privatizadas.
Sejamos mais específicos: a CMTC acabou, sua sucessora SPTrans apenas gerencia o sistema;
Enquanto que a EMTU ainda existe mas é a ‘SPTrans metropolitana’.
Ou seja, a EMTU gerencia o transporte metropolitano mas não mais operando nele.
Assim, a EMTU não tem mais frota própria. Então esse mega-Paese não será mais possível.
(Já que estamos explicando o léxico da busologia paulista, ‘Paese’ significa ‘Plano de Apoio entre Empresas em Situação de Emergência’.)
(Colocado em ação quando um modal falha, seja ônibus ou sbre trilhos, outras viações cedem parte da frota emprestada pra cumprirem as linhas que estão prejudicadas.)
Esperamos pro bem de todos que a era dos locautes tenha se encerrado. ”
em obras: ainda vou adicionar bastante texto e fotos, volte em alguns dias pra conferir o trabalho pronto