Por Maurílio Mendes, “O Mensageiro”
Publicado em 20 de junho de 2015.
Quase todas as fotos foram tiradas pessoalmente por mim.
As que forem baixadas da internet eu identifico com um (r), de ‘rede’.
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Vamos falar mais um pouco do Chile.
Essa mensagem é sobre o transporte.
Ainda assim antes, pra começar, vamos ampliar alguns temas já tratados com novas fotos e informações.
Nesse país se come muita pimenta, alias o próprio nome pátrio já denomina esse condimento.
Além disso, o Chile é bastante industrializado, como o Brasil.
Note que o fabricante faz questão de dizer que é ‘pimenta chilena’, ou seja, da boa, e não outras que há por aí
O povo chileno é hiper-nacionalista, e isso aparece até na hora de temperar os pratos.
Pra ilustrar, uma pimenta fabricada no subúrbio de Quilicura, Zona Oeste de Santiago, próximo ao aeroporto internacional.
Os países pequenos e pobres da América Latina (Paraguai, Bolívia e a maioria dos Centro-Americanos – tanto insulares quanto continentais) importam a maior parte do que consomem, alimentos inclusos.
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Ainda na culinária, no Chile eles gostam muito de churros, como no Brasil.
Bem, essa é uma receita espanhola, então natural que exista nos vizinhos americanos. Mesmo assim é a primeira vez que eu vejo fora do Brasil.
Na praia de Vinha do Mar (Grande Valparaíso) aconteceu: achamos uma lanchonete que tinha esse doce.
Aproveitamos e comemos vários, há mais variações que no Brasil, várias opções de tamanho e combinações de recheios e coberturas.
Logo depois rolou uma ‘refilmagem’ do filme ‘Os Pássaros’, como eu já contei na mensagem que se ativa na ligação em vermelho acima.
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No Chile se fuma muito. Incomparavelmente mais que em nosso país.
O Chile, pelo menos na capital Santiago, tem padrão de vida mais alto que o nosso.
Significando que está a frente do Brasil, eles já viveram ciclos que nós ainda iniciamos, como a redução da taxa de miseráveis.
Mas no quesito do cigarro a polaridade se inverteu. O Chile está num ponto que o Brasil já superou faz tempo.
Eles somente começam a se conscientizar que não se pode esfumaçar os lugares públicos.
E bota ‘começar’ nisso. Apenas agora, em 2015, foi proibido fumar em restaurantes e lanchonetes.
Almoçávamos num restaurante do Centro de Santiago, no fim de março de 2015. Era ainda o primeiro mês da nova regra.
Não queríamos acreditar, afinal no Brasil há décadas não se pode acender cigarros onde se vende comida.
Mas o cartaz na parede era claro: “É proibido fumar nesse local. A partir de 1º de março de 2015”.
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Fui ao estádio da Praia Grande, Valparaíso.
Ver Santiago Wanderers (que apesar do nome é o time dali de Valparaíso) x Palestino de Santiago.
Bem a minha frente um cara acendeu um cigarro, despreocupadamente.
E não fez nada de errado, pois ainda é permitido fumar nas arquibancadas chilenas.
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Tem mais. No Chile ainda hoje acontece o que ocorria no Brasil em gerações passadas:
Após as aulas os estudantes vão pra praça e fazem uma rodinha de fumo.
Não de maconha, mas de cigarro normal, de nicotina.
Grupos de adolescentes, ambos os sexos mas a maioria meninas, puxando um cigarrinho.
Riam, como se esse fosse o prazer supremo que a mente pode alcançar.
O governo resolveu reagir.
Pois isso gera custos altíssimos ao sistema público de saúde.
Assim agora os cigarros trazem nas embalagens fotos hiper-realistas de pessoas com câncer.
São imagens fortíssimas.
Tão chocantes que eu havia fotografado pra lhes mostrar mas apaguei.
É brutal demais. Basta esse relato.
Essa mensagem existe pra falarmos do transporte no Chile, então vamos nessa.
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Começando pela capital Santiago.
Dispõe dos seguintes modais:
– Moderníssimo metrô com 5 linhas operando.
E mais 2 em construção;
– Igualmente moderníssima rede de transporte por ônibus;
– Táxis normais, como em qualquer cidade;
– e Táxis-lotação, um misto de táxi e ônibus, que eu só vi no Chile e República Dominicana.
Já na Grande Valparaíso (que também é capital do país pois o congresso está ali) há:
– Moderníssimo metrô, porém apenas 1 linha;
– 1 linha de tróleibus central – alguns dos ‘carros’ tem 70 anos, já foi tema de mensagem a parte;
– Rede de micro-ônibus que servem toda região metropolitana;
– Táxis normais, obviamente;
– Táxi-lotação.
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Em Santiago há o cartão que permite integração nos ônibus e metrô.
Você paga só uma vez e tem direito a 3 embarques.
Que podem ser 3 viagens de ônibus ou 2 de buso mais metrô.
Sendo que o metrô é ilimitado pois você baldeia entre as linhas gratuitamente nas estações.
Alguns trens do metrô de Santiago tem pneus de borracha, como os dos carros, e não rodas de metal.
Já vi e fotografei o mesmo no México, e me informaram que na França e Japão igualmente essa solução foi adotada.
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A rede de ônibus de Santiago é um paradoxo, como o Chile é um paradoxo: muito moderna, com corredores onde passam articulados.
Pintura padronizada, integração no cartão. Linhas troncais Centro/subúrbio, e linhas alimentadoras locais pra levar do troncal pras vilas.
Tinha tudo pra ser um exemplo. Mas tem também graves problemas:
Os ônibus são novos. Porém pessimamente conservados. São imundos, batidos, e todo pichados, dá impressão de serem muito velhos, mesmo não sendo.
Os ônibus de Santiago não têm catracas. Há uma máquina na porta de entrada, onde você encosta o cartão e paga a passagem.
Ou deveria ser assim. Porque um percentual enorme de pessoas simplesmente não paga, já que não há catraca, é só ir entrando.
Entre os jovens, a imensa maioria simplesmente não paga passagem, anda de graça.
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Já estive em centenas de cidades pelos 4 recantos do Brasil e América, e sempre ando de transporte coletivo, pois é meu objeto de estudo.
Nunca vi uma taxa de evasão tão alta quanto a de Santiago.
Sem medo de exagerar eu te digo que perto de um quinto dos usuários de ônibus evadiram o pagamento da tarifa na capital chilena.
Olhe, aqui em Curitiba tem a galera que ‘fura o tubo’, ou seja invade o ônibus quando ele encosta sem passar pela roleta – em Bogotá-Colômbia vi exatamente a mesma cena.
Em São Paulo muita gente passa por debaixo da catraca, em Belo Horizonte-MG numa favela da Zona Oeste dois jovens entraram pela porta de trás sem pagar.
Então, amigos, evasão de tarifa tem em toda parte. Mas nunca mais que 5%.
Ou seja o sistema pode absorver esse ônus sem se desequilibrar em excesso.
Agora, em Santiago o problema atinge proporções de praga bíblica.
O que está dando colapso financeiro na rede, e logo tudo vem a pique.
Não tem catraca e tem bilhetagem eletrônica, eis a soma que gera o problema.
Pois em outros países da América igualmente não há roleta.
Mas o motorista é responsável pelo recebimento da passagem.
No Chile mesmo, em Valparaíso não há roleta, mas como você precisa pagar ao motorista, quase não há evasão.
No Paraguai, México, Colômbia e todos os outros é igual.
O motorista não permite que se entre sem pagar pois é descontado de seu salário.
E a maioria das pessoas nem mesmo pensa em dar o golpe.
Pois sabe que estaria prejudicando um pai de família, que depende daquele suado dinheirinho pra pôr comida na mesa.
Em Santiago, como há bilhetagem eletrônica, o motorista não tem qualquer responsabilidade de conferir se os passageiros pagaram ou não.
Sendo assim muita gente sente que não está prejudicando ninguém e simplesmente anda de graça.
O problema é seríssimo, atinge ao menos um terço dos passageiros e quem sabe mais.
E por isso estão se fazendo campanhas de ‘conscientização’ com cartazes dentro e fora dos ônibus, e também nas paradas.
Pouco resultado tem dado, a situação permanece a mesma.
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A solução seria simplérrima, se quer saber:
Bastava re-introduzir a catraca, ou introduzir pela 1ª vez caso nunca tenha havido.
Alias eles sabem disso. Nos bairros mais problemáticos da Extremidade da Zona Sul de Santiago os micro-ônibus têm catraca.
Adivinhe? A evasão é significativamente menor.
Andei num deles. Ainda assim, há alguns jovens que pulam a catraca.
Entretanto, com essa barreira física, são bem poucos.
Tudo somado:
Imensa maioria dos ônibus de Santiago, sem catraca: evasão de 15 a 20%.
Os poucos micros da periferia que têm catracas: evasão entre 3 a 5%, no máximo.
Vamos dar uma pausa no texto pra imagens do transporte em Santiago:
A esquerda:
Em corredor exclusivo, articulado Caio brasileiro vai pra Alameda.
A principal avenida de Santiago, falo melhor dela na legenda da foto do táxi-lotação.
Veja que céu espetacular !!!
Na sequência abaixo:
O metrô e suas estações, por dentro e por fora;
Incluso uma que ainda está em obras, é outra linha diferente da que é mostrada mais pra frente:
Essa estação Bío-Bío pertence a futura linha 6. Na outra foto, a Av. Matta será da linha 5;
E por fim, metrô com pneus de borracha. A imagem não ficou nítida.
Desculpe a imprecisão. Mantenho porque não há outra.
Agora mais um pouco dos ônibus dessa cidade:
Na primeira tomada o terminal metropolitano no Centro.
Esses micros de pintura diferente não aceitam cartão, não são integrados portanto.
Ainda são na pintura livre.
Ou seja, cada dono os decora como queira, não há a obrigação de padronizar como os da Transantiago.
Na 2ª foto, na Av. dos Passarinhos (Z/O), um buso com o letreiro escrito ‘ok’ ao invés da linha;
Corredores exclusivos nas Zonas Oeste e Sul;
Ônibus pichados e com a campanha contra evasão (o adesivo escrito ‘alto’);
Vejam que no Chile ainda são permitidos ônibus adesivados com propaganda, desde as discretas até as que cobrem todo o veículo incluso parte dos vidros.
Vemos vários Caio Mondego (pra quem não é busólogo, é aquele modelo do ônibus turquesa, da linha Mapocho, e também dos dois verdinhos, o logo acima dele que está na linha 303 e aquele contra o Sol.)
São comuns no Chile, como se nota. Porém em Curitiba inexistiam até esses dias (texto de 2015), quando chegaram 2 usados de Belo Horizonte. E ‘chegaram chegando’, os ‘Mineirinhos Come-Quietos’. Quebraram 6 tabus de uma vez só.
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Vamos em frente. De volta ao Chile.
Não por acaso há muitos Mondego. Os ônibus urbanos de Santiago são todos brasileiros. Todos, sem exceção.
Caio, Marcopolo, Comil, Mascarello, Neobus, e mesmo alguns da finada Busscar, só tem isso rodando.
Parecia que eu não havia deixado a Pátria Amada, ao menos nessa dimensão.
Agora há alguns não-brasileiros, mas as fábricas verde-amarelas ainda dominam amplamente.
De volta a falar do Chile. As marcas brasileiras sempre foram fortes lá, mesmo antes da modernização que ocorreu dos anos 90 em diante. Mas desde então tomaram conta de 100% do mercado.
Isso eu me refiro aos ônibus de tamanho normal e aos articulados. Entre os micros ainda há forte participação das fábricas chilenas.
É meio-a-meio, metade dos micros são brazucas, e metade de produção local.
Alias, amigos, não é apenas na origem dos veículos que a busologia chilena espelha a brasileira. E não é de hoje, há raízes históricas.
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Fiz uma mensagem muito bem ilustrada onde abordei melhor a modernização da rede de ônibus de Santiago.
Mas aqui vamos dar uma breve pincelada:
A cidade teve tróleibus até 1978, e depois de novo nos anos 90. Foram desativados.
Veja radiografia completa dos ônibus elétricos americanos, de Valparaíso a Vancuver.
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De volta a Santiago, afora ter tido tróleis, até o fim dos anos 80 o transporte coletivo de lá era como em qualquer cidade hispano-americana:
Cada um pintava seu veículo como queria. Não haviam terminais, corredores, articulados, nem integração de qualquer tipo.
E haviam muitas jardineiras.
Aqueles ônibus encarroçados sobre chassi de caminhão, inclusive é bicudo, o motor fica saltado pra frente.
Do México a Argentina e Chile, era universal.
Dos anos 90 pra cá começou uma onda de modernização, espelhando o Brasil:
Vieram os articulados, corredores (canaletas), integração, terminais, padronização na pintura.
Com isso a as jardineiras estão acabando. E novo tempo do transporte hispano-americano brotou primeiro no Chile.
Toda a frota, todas as linhas, ficou com o corpo do veículo em amarelo e o janelas e teto brancos (em alguns casos ao lado das janelas de preto, mas abaixo sempre amarelo).
Inclusive as jardineiras foram pintadas dessa forma (na época, hoje elas estão extintas a muito no Chile).
Eram “Os Amarelinhos”, um período que deixou saudades. Clique na ligação em vermelho e confira como foi essa inovação.
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Só que ainda sem integração. Com a virada do milênio, nova onda modernizante.
Surge o sistema ‘Transantiago’, em que a metrópole é dividida por faixas.
Os veículos são pintados conforme a região da metrópole que servem, como é em São Paulo e muitas outras cidades.
São construídas canaletas exclusivas, terminais, integração no cartão, e as linhas são re-ordenadas seguindo um grau de hierarquia:
As troncais levam em articulados e ônibus padrão, mais longos, o grosso de gente do Centro pros pontos de distribuição no começo do subúrbio.
A partir dali entram em ação as linhas alimentadoras locais que cortam as vilas, várias delas servidas por micros.
Não se paga novamente na baldeação, seja integração física no terminal ou eletrônica no cartão.
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Vamos descer a serra e ir pra Valparaíso.
O metrô é igualmente moderno, mas só há uma linha: começa no Centrão de Valparaíso, ao lado do porto.
Corta a orla, entra em Vinha do Mar.
Vinha e Val são conurbadas, dois municípios diferentes mas uma só cidade.
Vinha é a ‘Guarujá Chilena’, a orla elegante que os ricos passam as férias. A seguir o metrô faz uma curva e embica pra leste.
Corta o morro por um túnel, e na outra face da montanha serve os subúrbios planos e distantes.
O principal deles chama-se Vila Alemã. Esse município e arredores são uma região-dormitório.
Portanto formam uma parte da cidade que está conectada econômica e culturalmente a Valparaíso e Vinha do Mar.
Mas fisicamente não. Por haver o morro no meio não há conurbação. Assim, Vila Alemã fica bem longe do Centro, uns 30 km.
O que faz com que pouca gente das classes alta e média-alta more ali, pois é muito pesado o trânsito na rodovia pra você ir e voltar todo dia.
Em compensação, a periferia de Vila Alemã também tem pouca pobreza, com exceção de uma favela bem grande que há na borda da cidade.
Tirando esse bolsão de miséria no geral predomina a classe média e média-baixa.
É uma região pacata e homogênea, parece uma cidade do interior e em verdade o é, com pequeno grau de violência urbana.
Mas é conectada por metrô, ônibus e moderna rodovia duplicada a Valparaíso, sendo portanto também um subúrbio dela.
Vive entre os dois mundos, ligada a metrópole portenha, mas já no interior chileno.
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Mais uma pausa pra fotos. Agora veremos o metrô (logo abaixo) e os micros da Grande Valparaíso (no “carrossel” a seguir).
O metrô e As duas primeiras tomadas foram feitas naquele
Que passei no distante subúrbio metropolitano de Vila Alemã, que é plano e do ‘outro lado do morro’.
As demais nos municípios Valparaíso e Vinha do Mar, que compõem juntos o núcleo central de metrópole, e são litorâneos e cheios de ladeiras.
Alguns micros são de fabricação chilena, outros brasileira.
Note a pintura padronizada, as cores variam mas o desenho é sempre o mesmo.
Na primeira imagem abaixo dá pra ler bem o emblema que está escrito “Transporte Metropolitano – Valparaíso“.
Um pouco mais pra baixo na página há um micro em Vinha do Mar. No letreiro está escrito ‘Caio’, então você já sabe que é brasileiro.
A linha está adesivada no vidro, como em todos. Mesmo onde o letreiro (eletrônico ou de lona) funciona o itinerário é complementado por placas e adesivos na frente do ‘carro’.
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“MINHA VIDA É CANTAR”: O AMOR PELA MÚSICA VENCE QUALQUER PROIBIÇÃO –
Voltemos a falar do metrô. Você tem que ter cartão pra usar, e há diferentes graus de tarifa, conforme o trecho percorrido:
Há roleta na entrada e na saída, e você encosta o cartão em ambas.
A máquina desconta automaticamente o valor conforme o número de estações que você ficou dentro do trem. Isso em Valparaíso.
Em Santiago o metrô tem tarifa única, dispensando essa conferência na saída.
Por isso você pode pagar em dinheiro, não precisa ter cartão.
Outra diferença: em Santiago todas as portas abrem automaticamente, em todas as estações.
Mesmo que ninguém suba ou desça, como é na maior parte dos metrôs no mundo inteiro.
Em Valparaíso, entretanto, a porta tem um botão, e só abre se esse mecanismo for acionado por algum usuário. Senão a porta não abre.
Vi o mesmo sistema em Santo Domingo-Rep. Dominicana, e nunca fui a Europa mas me disseram que em Berlim-Alemanha é assim também.
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Voltando a Valpo, há diversos avisos pelo vidro que é terminantemente proibido cantar ou tocar instrumentos musicais dentro dos vagões.
Os infratores terão os instrumentos apreendidos e pagarão pesada multa.
Acontece que assim que o metrô saiu da orla de Vinha e entrou no túnel um cara tirou um violão.
E começou a entoar canções sertanejas.
Foi arrepiante de ver.
É proibido, e é perigoso.
Ele não se importava, e apenas cantava e cantava, pois a música é sua razão de existir.
Seus olhos brilhavam enquanto ele dedilhava as cordas do violão. Deixar de cantar é deixar de viver.
Quando a Alma tem uma missão, nada pode impedi-la de cumprir.
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O México e a Argentina também são países musicais, uma nação de cantores, alias ainda mais que no Chile.
Nas capitais México D.F. e Buenos Aires as viagens de ônibus urbanos e metrôs sempre têm trilha sonora ao vivo, pessoas entram e se expressam dessa maneira.
Está na veia do povo, está na raça, é isso que eles são. Ver essa mesma característica na América do Sul foi bastante curioso.
Fisicamente Sul-Americano, em Espírito muitas vezes o Chile está mais pra Centro-Americano, e esse episódio mais uma vez o mostra.
Só que, como disse acima, na Argentina eles também amam a música, e tocam dentro do metrô. A Argentina não é centro-americana em espírito, como o Chile. Mas isso ela compartilha com o México.
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Há também muitos camelôs nos ônibus e metrôs de Valparaíso e Santiago, vendendo de tudo. Como há em toda América Latina, Brasil incluído.
Valparaíso tem várias favelas na periferia, então está evidente a todos que a cidade segue o padrão latino-americano.
Agora, Santiago foi intensamente remodelada desde a era Pinochet, e seu subúrbio é formado por conjuntinhos de casas geminadas, parece que estamos na Inglaterra.
Por isso muitos pensam que o padrão social da cidade é próximo do norte-europeu igualmente. Nada poderia ser mais distante da realidade.
Santiago tem muito mais exclusão social do que aparenta a primeira vista. E esse exército de camelôs nos ônibus comprova que se a cidade tem poucas favelas esse é apenas o primeiro passo pra que a sociedade se torne mais justa de fato.
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Pra gente caminhar pro encerramento, falemos da rede de transporte de Valparaíso.
Há uma pequena linha tróleibus, que só fica no Centrão, a parte velha e plana da cidade. Um ‘Circular Centro’.
Pra subir os morros ou pra ir pra outros municípios é preciso usar os micro-ônibus.
A pintura deles é padronizada como veem nas fotos. Você entra e paga ao motorista. Não há catraca mas não há evasão, pois as pessoas respeitam o motorista.
A tarifa depende do trecho utilizado, veja a tabela de preços na imagem que está mais pra cima na matéria.
A passagem ‘Local’, como está escrito no cartaz colado no para-brisas, é se você está na parte plana do Centro e vai andar poucos pontos e descer ali mesmo.
Ou então se está na periferia, no alto do morro, e vai descer logo, ainda na parte alta. Você paga em torno de R$ 1,50.
Se você for do Centro a periferia ou vice-versa, subindo ou descendo a ladeira portanto, é mais caro, há um segundo patamar de preço.
É o serviço ‘Planície/Morro’ no jargão deles, custa R$ 2, mais ou menos.
E nas linhas que vão pra Vila Alemã e imediações há ainda um terceiro patamar de tarifa.
Se você utilizar o túnel, ou seja, cruzar toda a região metropolitana, paga mais. É o serviço chamado ‘Direto’, desembolsa perto de R$ 3 a 3,30.
Escrevo em junho de 2015, a tarifa de Curitiba é R$ 3,30.
Em todos os modais, em todo o Chile, os estudantes pagam muito mais barato pra usar qualquer tipo de transporte público.
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E por fim há o ‘táxi-lotação’. São táxis, carros de passeio mas que cumprem uma linha fixa, como se fossem ônibus. Existem tanto em Santiago quanto no interior.
Saem mais caros que os micro-ônibus, mas são mais confortáveis, porque obviamente só se viaja sentado.
‘Táxi-lotação’ foi um nome dado por mim, copiando uma denominação que existe em Porto Alegre-RS, pra algo parecido porém diferente:
No caso brasileiro não são automóveis e sim microônibus – na gênese eram Kombis.
Sendo mais preciso, no Chile na verdade isso se chama ‘táxi-coletivo’.
Na República Dominicana existe exatamente igual, não sei o nome desse modal no Caribe.
Alias exatamente por isso emprestei o termo gaúcho.
A linha do táxi-lotação é fixa, mas não há 100% de rigidez, ao contrário dos ônibus. Segue um roteiro pré-determinado, e não pode se afastar muito dele.
No entanto ele pode fazer um pequeno desvio de uma ou duas quadras pra deixar alguém na porta de casa.
São amplamente usados, em Santiago nem tanto, mas em Valparaíso é o meio de transporte mais popular.
Por serem muito mais barato que usar seu próprio automóvel, e muito mais confortável que os ônibus.
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Que Deus Ilumine a todos.
Paz a toda Humanidade.
‘Deus proverá”