Rio 40º: capital do melhor e do pior do Brasil

“Cidade-Maravilhosa, cheia de encantos mil“: Lagoa Rodrigo de Freitas, Praias de Ipanema e Leblon e hipódromo da Gávea; acima da manchete Pão de Açúcar e enseada de Botafogo (ambas as fotos do alto do Cristo Redentor).

Por Maurílio Mendes, O Mensageiro

Publicado em 7 de Setembro de 2022, Bi-Centenário da Independência da Pátria Amada

Esse texto fecha a série sobre o Rio de Janeiro, a verdadeira Cidade-Maravilhosa.

Seus encantos são mundialmente conhecidos, tão cantada em verso e prosa.

Até por isso escolhi algumas músicas pra nomear os textos da série: abertura, sequência e encerramento dela.

Sua beleza natural, e também seus problemas – sendo a violência urbana apenas um deles -, são bastante conhecidos.

Multidão de sem-tetos nas ruas de Copacabana: realmente, a “capital do melhor e do pior do Brasil” – Rio de Janeiro, lado ‘A’ e lado ‘B’.

BARRA DA TIJUCA, UM “SUBÚRBIO ESTADUNIDENSE”:

PERTO E LONGE AO MESMO TEMPO –

Até algumas décadas atrás a vida política e econômica do Rio se concentrava ainda no Centro, Zona Sul e nos bairros mais centrais da Zona Norte, ao redor do Maracanã.

Na Zona Oeste já haviam bairros diversos bairros operários e populares as margens do trem de subúrbio que sai da Central do Brasil e da Avenida Brasil.

Próximas 3: Barra da Tijuca, Zona Oeste, feriado de 7 de Setembro de 2020.

(Alias a famosa Av. Brasil chegou a ser chamada de BR-01 antes da base de numeração das rodovias federais ser transferida pra Brasília-DF, nos anos 70.)

A orla da Zona Oeste, entretanto, ainda era pouco urbanizada, e certamente bem menos aburguesada.

Em 1970 ainda haviam chácaras mesmo perto do mar, e poucas casas, quase nenhum prédio alto no bairro.

Praia da Barra, mais democrática no séc. 21.

Quando o fim do século passado foi se aproximando a situação mudou.

A região era pouco urbanizada e não tinha grandes favelas por perto.

Portanto podia ser remoldada mais livremente, o que era impossível na Zona Sul.

Segurança particular nos prédios (a frente ciclo-ponto que um banco disponibiliza).

Em Copacabana, Ipanema e entorno a densa urbanização, inclusive com ocupações irregulares nas encostas, tornavam impossível “recomeçar do zero”.

Enquanto que na Barra da Tijuca havia mais espaço disponível.

Então a alta burguesia começou a fazer do bairro uma espécie de “subúrbio estadunidense”.

Apenas na Barra as moradias de luxo eram muitas vezes em prédios, e não em casas como nos EUA.

Ressalvada essa diferença, as semelhanças são evidentes. Como já escrevi antes:

O pessoal da elite e alta burguesia escolheu a Barra da Tijuca pra estar distante e próximo do Rio ao mesmo tempo.

De volta a Copacabana: banca na praia com bandeiras dos 4 times do Rio; vemos o Posto 5 e o calçadão ondulado que é o símbolo da orla dessa praia e de Ipanema e São Conrado.

Poder aproveitar ao máximo a extensa vida cultural da cidade, ir a jogos no Maraca.

E ainda assim ficar afastado dos problemas cariocas, não o menor deles a violência.

No começo saiu como o planejado. Mas com a melhoria dos transportes o Rio ‘alcançou’ a Barra, se quiser ver assim.

Hoje, a Praia da Barra da Tijuca é do povão, igual as da Zona Sul.

Posto 8 na Barra: a numeração recomeça, e o desenho da calçada é outro; a Zona Oeste optou por se diferenciar da Zona Sul.

Não deu certo a estratégia de se isolar. Deixo pra vocês avaliarem se isso é bom ou ruim. ”

Até os anos 90 o acesso a Barra era bem mais complicado.

Em 1997, no entanto, é inaugurada a Linha Amarela, via expressa unindo as Zonas Norte e Oeste.

A partir daí os trabalhadores do subúrbio começam a passar os domingos também na Praia da Barra, não se restringindo mais a Zona Sul.

Centro fotografado da Ponte Rio-Niterói; ao fundo o morro do Pão-de-Açúcar.

Li na época num jornal de grande circulação nacional que os moradores da Barra apelidaram os suburbanos que vinham compartilhar a praia com eles de “Os Amarelos”.

Fazendo referência claro do caminho que eles utilizavam pra chegar ali.

Com ou sem a pecha, o fato é que a orla da Zona Oeste se tornou mais parecida com a da Zona Sul.

Praia de São Conrado; as casas em destaque na encosta são um condomínio fechado e não – ao menos nesse caso – uma favela.

E na década de 10 desse século 21 esse processo veio a se acentuar ainda mais.

De 2012 a 16 foram inaugurados os 3 ramais do BRT dos sistema TransCarioca e suas extensões.

Hoje se usa essa sigla, oriunda do idioma inglês (aqui em Curitiba, que criou esse modelo, chamamos de ‘Expresso’).

Jd. de Alá, que divide Ipanema do Leblon.

Nomenclatura a parte, o BRT só foi implantado nas Zona Norte e Oeste, no Centro e na Zona Sul não.

Ainda assim, ele liga de forma rápida e barata as periferias da Z/N e Z/O a orla da Z/O.

Antes pra ir dos distantes subúrbios da Zona Norte era preciso baldear de ônibus várias vezes, e eles iam parando em todos os pontos.

Arcos da Lapa, no Centro.

A cada baldeação tinha-se que esperar nova condução e pagar nova passagem, tornando inviável uma família numerosa do subúrbio ir a orla da Zona Oeste dessa forma.

Com o BRT tudo mudou. Articulados vão por pistas exclusivas, quase sem paradas e cruzando as montanhas por túneis.

Bairro do Joá, foto sobre a Ponte da Joatinga.

Assim e o trajeto é feito em uma hora e pouco, contra quase o dobro disso anteriormente.

Terminais fazem a integração gratuita com alimentadores, agora paga-se somente uma passagem.

Resultado: a Zona Norte e as vilas afastadas da Zona Oeste passaram a ter a Barra como opção de lazer acessível.

Próxs. 2 em Copacabana: “Herbie” está vivo.

Até porque da Z/O (Santa Cruz, Campo Grande, Sepetiba, etc) é bem mais perto ir a B. da Tijuca que a Zona Sul.

Passei o feriadão de 7 de Setembro (de 2020, exatamente dois anos antes desse texto ser publicado) na Barra da Tijuca.

Nas areias da praia que um dia foi um retiro pros que têm conta bancária mais alta hoje se ouve muito ‘funk’, exatamente como em Copacabana e Ipanema.

Árvores ‘deitadas’ da Av. Atlântica.

O Brasil é um só: ‘funk’ e favelas no Nordeste, bem como ‘funk’ e favelas no Sul. O Rio também é um só.

……….

Já seguimos com o texto. Antes algumas fotos do Pão-de-Açucar. Primeiro o museu que mostra os modelos anteriores do bondinho.

Panorâmicas do alto do Pão-de-Açucar:

Aqui e a seguir: o teleférico atual do Pão-de-Açucar, primeiro saindo do ponto inicial na Urca (destacado o nome na estação).

A TRILHA SONORA É A MESMA;

MAS AS CALÇADAS E Nº DOS POSTOS É DIFERENTE –

Como todos sabem, o desenho ondulado das calçadas da orla carioca é mundialmente famoso, um símbolo mesmo da cidade.

Pera lá. Da ‘orla carioca’ não. Da orla da Zona Sul carioca, melhor dizendo.

Esse ícone está presente em Copacabana, Ipanema e São Conrado.

Chegando na estação intermediária (detalhe).

No entanto, a Zona Oeste preferiu dispensar as faixas imitando as ondas.

Nas Praias da Barra da Tijuca e do Recreio dos Bandeirantes há nas calçadas o desenho de peixes.

Outra coisa: a numeração dos postos de salva-vidas também muda.

O Posto 1 é no Leme, dele até o Posto 6 em Copacabana.

Máfia do Trocen”??? Que seria isso? Simples, ‘Trocen’ quer dizer ‘Centro’ em ‘Tetecá’. E o que é ‘Tetecá’? É a ‘língua’ usada por jovens e grupos alternativos, que consiste exatamente em inverter a ordem das sílabas das palavras, daí o Centro ser chamado ‘troCen‘. O nome ‘teteCá’ é porque teria sido inventada no bairro do Catete. Essa mania não é exclusiva do Rio, certamente. Quando eu era adolescente, na nossa turma no Cristo Rei (entre as Zonas Central e Leste de Ctba.) todos os ‘piás’ tinham seu apelido em ‘teteCá’: o rapaz que se chamava Fábio era conhecido por ‘bioFa’, Maurício era ‘cioriMa’, Ramon virou ‘monRá’, Ricardo ‘doRicar’ e assim sucessivamente. Isso foi nos anos 90. Agora, 3 décadas depois (publico em 22), constato nas pichações dos muros que o costume continua ativo entre os jovens curitibanos. No entanto, aqui cada um tinha seu apelido em ‘teteCá’, mas fora isso não usávamos muitas outras palavras no ‘idioma’. Além isso, fora do Rio só adolescentes trocam as sílabas. Adultos não adultos conversam dessa forma. No RJ é bem mais difundida a prática, tanto em profundidade – muito além de criar apelidos, alguns de fato se comunicam usando em todas as frases mais palavras com sílabas em ordem invertida que correta – quanto em duração, mesmo adultos seguem falando assim, certamente a ‘Máfia do troCen’ não é um grupo de adolescentes, e sim de barbados. Em última análise se for utilizado entre pessoas versadas na prática cria um código inacessível a quem não é do grupo. Os pichadores cariocas, por exemplo, usam o ‘teteCá’ extensivamente, a própria palavra ‘pichação’ lá é muito mais conhecida pelo termo ‘xarPi‘, a ‘tradução’ pro ‘teteCá’.

No começo de Ipanema está o Posto 7, ou seja, a mesma numeração.

E o Posto 12 fica no final da Praia do Leblon. Em São Conrado está o Posto 13.

Portanto toda a Zona Sul usa a contagem iniciada em Copacabana/Leme.

Assim que adentramos na Praia da Barra, no entanto, nos deparamos novamente com o Posto 1.

A numeração zera. Mais uma vez a Zona Oeste se recusa a aproveitar o que veio da Zona Sul e cria seu próprio sistema.

Na contagem ocidental os Postos 1 a 8 estão na Barra, do 9 ao 12 no Recreio dos Bandeirantes.

Vejam vocês, visitei Pernambuco 2 meses depois do Rio.

Na orla da Zona Sul da capital a numeração dos postos se mantém mesmo em municípios diferentes (Recife e depois Jaboatão).

No RJ muda até dentro do município, pois a Z/O quis firmar que era diferente das outras praias cariocas.

Exatamente pelo que já falamos, a Barra e imediações não se via fazendo parte da mesma cidade.

No auge dessa tentativa, no começo dos anos 90 antes da Linha Amarela e do BRT, vinha surtindo algum resultado.

Uma reportagem dizia que boa parte das crianças dos condomínios da Barra sequer sabiam que moravam no Rio de Janeiro!

Quando iam ao Centro ou a Zona Sul elas falavam que ‘foram ao Rio’, como se a Barra fosse uma cidade a parte.

Ou melhor dizendo, seria o ‘Novo Rio. Aproveitando o melhor da metrópole, sem ter que compartilhar o pior.

Por um tempo funcionou como esperado, depois não mais.

Amanhece em Copacabana; a seguir o mesmo local, com dia claro e parcialmente nublado.

Eu mesmo comprovei, estive duas vezes na Praia da Barra da Tijuca, no final de 1997 e depois em 2020.

Nesses 23 anos que se passaram, o mar é o mesmo, mas o resto… quanta diferença!!!

Ainda assim, quando falamos que “o Rio alcançou a Barra” é de forma relativa.

De fato o bairro não é mais como era nos anos 90, quando se parecia mais com um subúrbio estadunidense do que com as praias da Zona Sul.

Ainda assim, o problema das balas perdidas não atinge a Barra, pois não há morros por perto.

Enquanto que essa situação é crônica em outros bairros cariocas, tanto no Centro, quanto burguesia e periferia.

As imobiliárias até colocam nos classificados o termo “sem morro“.

Os cariocas adoram orquídeas: reparei que diversas árvores na Zona Sul são assim, enxertadas com essas flores.

Pra indicar que o apartamento é longe das favelas, ou se for perto é na face oposta, onde os respingos dos tiroteios não chegam.

Se não tiver a indicação “sem morro” significa que da janela dá ver a favela.

Portanto o imóvel vale metade dos outros no mesmo prédio mas que não têm essa visão “privilegiada”.

Então. A Barra da Tijuca surgiu pra ser o “Novo Rio”, perto e longe ao mesmo tempo.

Diria que o resultado almejado foi parcialmente atingido.

Ali, todos os prédios são “sem morro”, o aviso é desnecessário. Por outro lado, nas areias da praia o público – e a música tocada – hoje é parecido com Copacabana e Ipanema.

Vejamos mais um pouco da B. da Tijuca, o bairro e sua praia:

Ancorada no Quartel da Marinha no Centro réplica de caravela feita pra celebração dos 500 anos do Brasil. Um leitor apontou os detalhes, vide a seção de ‘comentários’ abaixo.

Afinal, por que a Barra quis “se separar” do resto da cidade?

Se pararmos pra pensar, o Rio de Janeiro é uma das cidades mais belas do mundo, “senão a mais bela”, conforme já escrevi.

Por que alguém desejaria tendo o privilégio de estar dentro da Cidade-Maravilhosa ter uma certa distância dela?

Próxs. 3: Lagoa Rodrigo de Freitas; nessa clube bastante sofisticado que há numa ilha – Cristo Redentor abençoando ao fundo.

Certamente a proliferação descontrolada das favelas é parte fundamental dessa questão.

Já fiz muitas vezes esse esclarecimento, mas terei que fazê-lo de novo:

Não falo em “favelas” com desprezo burguês. Gosto de periferias.

Morei 15 anos numa das favelas de Curitiba, o Canal Belém, no Boqueirão, Zona Sul.

O morro separa os bairros da Lagoa e Copacabana (destaquei uma ave que ali vive);

Sei muito bem, inclusive na prática, que a imensa maioria de seus moradores são trabalhadores honestos, ao contrário do que propagam alguns de extrema-direita.

Agora, não podemos tapar o sol com peneira pois não resolve coisa alguma.

A expansão descontrolada das favelas já é um problema gravíssimo em si mesmo.

Além de gerar diversos outros, “não o menor deles a violência urbana” fora de controle, como abri o texto dizendo.

Quase não saí do lugar, só girei a câmera: a grade é do parque que tem campo de beisebol.

E, bolas, pode haver exemplo melhor disso que o próprio Rio de Janeiro?

As coisas são como são, e o ‘pensamento positivo’ tão em voga entre a extrema-esquerda em nada ajuda a entender o problema, muito menos solucioná-lo.

Chamar a favela de ‘comunidade’ e atribuir tudo ao ‘racismo’ não altera a realidade, apenas a mascara.

O Atlântico, Copacabana, a seguir a mesma montanha rochosa a separá-la da Lagoa: invertemos, pouco acima vimos o Cristo a partir da Rodrigo de Freitas, agora vemos a ela a partir do Cristo; na última estação do trem do Corcovado placa informa que ela fica 670 m acima do nível do mar.

Isto posto, sigamos. Como o Rio chegou a essa situação? Que aliás já se tornou crônica:

O Morro da Providência no Centro é a primeira favela do Brasil, de 1897 (abaixo falo mais disso).

Como todos sabem, o Rio de Janeiro foi capital do Brasil por praticamente 2 séculos.

Salvador foi a 1ª sede da administração portuguesa, ainda na época que éramos colônia obviamente.

Em 1763 essa primazia foi transferida pro Rio de Janeiro.

A estação antes do ponto final dá acesso ao centro de visitantes, que funciona no prédio que já abrigou hotel de luxo; a seguir o arborizado caminho da estrada de ferro.

Onde permaneceu até 1960, quando o presidente Juscelino Kubitschek inaugurou Brasília.

Ambas as decisões, tanto o fato do Rio passar a ser sede da administração federal quanto a de deixar de sê-lo, foram motivadas pela cidade ser no litoral e possuir porto.

A primeira mudança, da chegada da Corte, era porque por ali saíam os minérios preciosos.

E a segunda, de saída do Palácio Presidencial, foi justamente porque JK julgou ser necessário focar no interior dessa nação-continente, pois a parte próxima ao mar já estava mais desenvolvida.

No começo da exploração portuguesa no Brasil o Nordeste era o centro econômico da colônia. O Sudeste era secundário.

E a maior parte do Sul, Norte e todo Centro-Oeste nem eram parte do que viria a ser o Brasil.

Pois ficavam a oeste da linha delimitada pelo célebre Tratado de Tordesilhas (1494).

2 tomadas de São Conrado, Zona Sul.

As fundações de Belém-PA (1616) e Manaus-AM (1669) no Norte e a seguir Curitiba no Sul (1693) já fizeram parte do esforço luso de prescrever e re-escrever Tordesilhas.

Deus certo. Batida com os ‘fatos no solo’, a Espanha capitulou e em 1750 assinou com Portugal o ‘Tratado de Madri’.

Que concedia a Coroa Portuguesa um território já praticamente com a forma do atual Brasil.

Voltemos pra não perder o foco. Antes o Nordeste era mais importante que o Sudeste, e muito mais que o Sul, Norte e Centro-Oeste, nesses 3 últimos a colonização mal iniciara, se tanto.

No século 18, no entanto, dizendo novamente o porto do Rio de Janeiro aumenta o volume das exportações pra Portugal dos minérios extraídos basicamente em Minas Gerais, alias daí vem o nome do estado.

Com isso, a capital colonial é tirada de Salvador e mudada pro Rio em 1763, pra que a Coroa pudesse fiscalizar melhor esse fluxo, que era sua maior riqueza.

O Rio de Janeiro enriqueceu, teve sua ascensão portanto, por conta de sediar o governo e um importante porto.

Prédio em ruínas no Centro de Niterói, porém parcialmente habitado – a maioria dos apês estão vazios mas há alguns ocupados (já fotografei o mesmo em SP e em Joanesburgo/ África do Sul): quando estive lá, em 2020, o abandono do edifício era recente, podia-se perceber isso pelos letreiros do comércio que há pouco ocupava o térreo (detalhe). Também destaquei as pichações, algumas em andares bem altos – a “janelada” no jargão local. O Rio é inteiro pichado, e as letras são pequenas, redondas e unidas; exatamente ao contrário de SP, que igualmente é riscada de ponta-a-ponta mas onde as letras são grandes, pontiagudas e separadas.

Só que aí que a coisa começa a engrossar. A escravidão era legal no Brasil até 1888, fomos um dos últimos países no mundo a extinguir essa bárbara prática.

Sendo a escravidão prática corrente até fins do século 19, ninguém se surpreenderá muito que o Rio também tenha enriquecido com comércio escravagista.

Afinal, se o porto servia como porta de saída dos diamantes e metais preciosos, servia também como porta de entrada dos seres humanos que chegavam acorrentados.

O Rio enriqueceu, repito, sendo o governo e pelo comércio, de forma geral mas também o comércio de escravos.

Algumas favelas que há em morros hoje na cidade começaram como quilombos, pois os escravos fugidos se encastelavam nas matas nas partes altas da encosta.

Uma vez que estar mais ao alto que seu inimigo e ainda por cima em meio a mata facilita e muito a estratégias de defesa militar contra grupos invasores.

………

Mais um adendo fotográfico pra mostrar o ‘xarpi’, a pichação no Rio de Janeiro:

Copacabana, mas o autor mora em Manaus. – por isso a letra é bem diferente da carioca.

MORRO DA PROVIDÊNCIA, CENTRO RIO:

PRIMEIRA FAVELA DO BRASIL –

Junte-se a isso a supressão da Revolta de Canudos, ocorrida na Bahia em 1896/97.

O Exército Brasileiro teve que tentar 4 vezes mas ao final, com grande banho de sangue, conseguiu enfim debelar a revolta iniciada por Antônio Conselheiro.

Nas próxs. 5 o Centro, no detalhe o relógio.

E o que isso tem a ver com o Rio de Janeiro? Tudo. A sede do Ministério da Guerra era defronte a estação-tronco da Estrada de Ferro Central do Brasil.

(Vocês sabem que essa ferrovia liga o Rio, então capital, a São Paulo [passando pela cidade de Aparecida ‘do Norte’, “capital religiosa do Brasil” pra quem é católico] e Minas.

Hoje, quando praticamente não há mais viagens de longa distância pelo modal de trilhos, ela ainda tem uma função importante:

Em frente a Candelária.

É a Estação Central da extensa rede de trens de subúrbio.

Por isso extremamente presente na cultura popular, Inspirou um famoso filme homônimo.

E é cantada em várias músicas, a ‘Cara do Brasil’ (que nomeia a série de textos sobre a capital carioca) e uma do Rappa, entre muitas outras.

Do transporte falei com muitos detalhes e muitas fotos em outra oportunidade.

Aqui, nos importa que a região do Centro do Rio conhecida como ‘Central’ abrigava a sede do Comando-Maior das Forças Armadas, dizendo de novo.

Essa e a próxima da Ponte Rio-Niterói, o Cristo sempre presente, realidade de vários bairros do Rio.

As tropas que extinguiram Canudos começaram a regressar a capital federal, então o Rio evidente.

Só que o Exército não tinha mais necessidade imediata de um contingente tão grande na ativa.

Os soldados perderam seu soldo, e aí não tinham mais meios de sustentarem a si e suas famílias.

Aqui e a seguir vemos o porto.

E haviam ouvido a promessa que na volta dos combates ganhariam casa própria.

Porém o Estado renegou sua palavra, e a soldadesca ao regressar ficaram “a ver navios” (literalmente, pois o Porto do Rio é nas imediações).

Então alguns deles acamparam no morro em frente a Central, pra ficarem bem a vista do Comando-Maior Militar.

Em terra firme, o busão que me trouxe de Niterói já saiu da ponte, vista ao fundo.

Organizavam protestos, onde se liam nos cartazes: “Exigimos Providências”.

Pronto. Na boca do povo aquele passou a ser o “Morro da Providência”.

Como estamos no Brasil e muitas vezes assim acontece, nenhuma providência foi tomada.

“Azul da cor do mar” na Barra da Tijuca.

Exceto que o ‘provisório virou permanente‘, como sói ocorrer com frequência também.

Assim, em 1897 surge oficialmente a primeira favela do Brasil

O que era pra ser um acampamento de poucas semanas ou meses está lá até hoje, 125 anos depois (escrevo em 2022).

Posto 7 em Ipanema.

Até mesmo o nome ‘favela’ remete a Guerra de Canudos. Me diga uma coisa, você sabe o que é a palavra ‘favela’, na origem?

Hoje, pensamos nesse termo como um local de moradia mambebe, geralmente invadido.

Entretanto, antes de adquirir essa acepção, qual o sentido original da palavra?

Bairro do Flamengo, Zona Sul.

Simples. Muita gente não sabe, mas ‘favela’ é um tipo de cactus que prolifera no Sertão semi-árido Nordestino. O nome científico é ‘Cnidoscolus quercifolius‘.

Em Canudos havia o “Morro da Favela”, onde a planta ‘favela’ crescia em abundância.

As tropas trouxeram mudas do interior da Bahia. E as replantaram no local onde acamparam, no Centro do Rio.

Rua Uruguaiana no Centro, com seu camelódromo – passa uma viatura, o Rio estava praticamente sob ocupação militar.

Trouxeram também o termo. Assim, o local, além de conhecido como “Morro da Providência”, também passou a ser chamado na boca do povo como “Morro da Favela”.

Bingo. A partir daí o termo “favela” metamorfoseou-se em seu sentido corrente, uma aglomeração de casas precariamente construídas.

PROLIFERAÇÃO DE FAVELAS NOS MORROS:

A PRINCÍPIO A SOCIEDADE APOIOU –

Hoje pode parecer bastante incrível, mas é a pura verdade:

Nas próxs. 9 o Centro de Niterói e algumas tomadas feitas nas imediações.

Quando o movimento de surgimento de diversas favelas nos morros tomou escopo logo após a virada do séculos 19 pro 20 a alta burguesia apoiou e e facilitou o processo.

Não é difícil entender o porque, quando você consegue captar a dinâmica da sociedade da época.

Em fins do século 19, a parte ‘nobre’ do Rio ainda era a região central.

A classe média-alta e elite residiam nos bairros nas proximidades do núcleo original da cidade.

A orla da Zona Sul, que no século 20 assumiu essa primazia, antes dos túneis e da popularização do automóvel era uma parte distante e difícil acesso.

Claro que bairros como Copacabana e Ipanema já eram urbanizados.

Nesse prédio funciona uma delegacia, daí as viaturas estacionadas; era sábado, e várias mulheres esperavam a hora da visita na porta: de meia-idade e com roupa humilde, faziam fila na praça pra verem os filhos.

Acontece que na ocasião  poucas pessoas moravam perto da praia.

Pois era demorado e caro se deslocar todos os dias pra trabalhar no Centro, que era então o núcleo da cidade, em todas as dimensões.

Muito comum era as pessoas de melhores condições financeiras morarem no Centro e bairros logo nas imediações, e terem casas de veraneio na orla, onde elas passavam os fins-de-semana.

O começo da Zona Norte, de onde é possível ir ao Centro sem necessitar túneis, era bem povoado.

Alguns dos chamados ‘subúrbios’ já existiam mas eram na época relativamente bem distantes.

Chegando a ‘Niquíti’, ainda dentro da barca.

A Zona Oeste era esparsamente habitada, pra dizer o mínimo. Na verdade vários bairros ainda eram área rural.

Ou seja, a vida cultural, política e econômica da cidade pulsava mesmo no e ao redor do Centro.

Como eram os guetos de então? As favelas mal haviam se iniciado, não tinham importância na consciência da maioria das pessoas.

Nessa e a seguir tranquilas ruas residenciais.

O grande problema social então eram os enormes cortiços, chamados de ‘cabeça-de-porco’, que se espalhavam pela região central. Antigos casarões transformados em pensões.

Muita gente, as vezes perto de uma dezena, se amontoavam em um único quarto, dormindo precariamente uns sobre os outros.

Os banheiros, quando existentes, eram coletivos: um banheiro apenas pra pensão inteira muitas vezes, ou seja, que tinha que ser compartilhado por dezenas de pessoas.

Os cortiços eram fontes de diversos problemas sociais, de saúde pública principalmente, mas também focos de criminalidade.

Nem tudo é calmo; evidente, Niterói tem a mesma realidade de todo Brasil: aqui e a esq. a favela do Morro do Estado no Centro, a mais famosa “comunidade” niteroiense.

Quando aboliram a escravidão, em 1888, muitos ex-escravos estavam enfim livres.   

Porém sem emprego, moradia e qualificação pra conseguir casa e trabalho dignos.

Assim muitos foram se amontoar nas pensões ‘cabeças-de-porco’, aumentando a tensão numa situação que já era volátil por si só.

Por isso, quando muita gente começou a deixar os cortiços e ocupar as encostas do morro, a elite e alta-burguesia, que então se concentravam no Centro e proximidades, sentiu um alívio.

Incentivou e mesmo engendrou o movimento. Afinal, na visão da época, a área ‘nobre’ da cidade estava sendo ‘limpa’.

Diversas encostas de bairros começaram a ser ocupadas por favelas.

Como a região da Tijuca, Grajaú e Vila Isabel, bem como muitos outros bairros da Zona Norte. O mesmo se deu na Zona Sul.

As pessoas de mais dinheiro, repito, não apenas não se importaram como acharam muito bom.

Pois na visão deles na ocasião isso estava melhorando onde realmente importava.

Mesmo a Zona Sul não tinha nem de perto a importância que viria a ter depois, e certamente não seria a degradação da Zona Norte que esquentaria suas cabeças.

As próximas 3 fotos de dentro do ônibus, no trajeto de volta pra capital do estado.

Veio a massificação do automóvel, vieram os túneis, e a situação mudou radicalmente.

O Centro, mesmo com o esvaziamento de vários cortiços, acabou perdendo importância como local ‘seleto’ pra se viver.

A classe média-alta agora tinha condições de morar perto do mar e ir diariamente ao Centro trabalhar.

Já na Ponte, contornando Porto de Niterói; ao fundo o Centro da ‘Cidade Maravilhosa’.

E logo até boa parte dos empregos foram migrando também pra Zona Sul.

A região mais central da Zona Norte, pouco após o estádio do Maracanã, também se consolidou como uma parte importante de classe-média.

Só que agora as favelas já estavam em diversas encostas, em todas as faces do Maciço da Tijuca e outras montanhas, nas Zonas Central, Sul e Norte. O que fazer?

De volta ao Rio – mudei de município mas a situação permanece: morro na Zona Central.

Na primeira metade do século 20, praticamente nada foi feito.

O resultado está aí. Veja a cena a direita. E isso ao lado do Centro da cidade.

Mais uma galeria de imagens, a seguir prosseguimos a linha do tempo:

ANOS 60/70: BRASÍLIA É INAUGURADA; O RIO DEIXA A SEGUIR DE SER ESTADO; O REGIME MILITAR TENTA EXTINGUIR AS FAVELAS DA ZONA SUL MAS NÃO CONSEGUE –

Próxs. 7 imagens: bairro do Leblon, Zona Sul – as 2 primeiras na praia, evidente.

Veio a virada pros anos 60, e com ela grandes mudanças.

Em 21 de abril de 1960, Brasília é inaugurada, e com isso o Rio deixa de ser a capital nacional, posto que ocupou por praticamente 200 anos.

Até então o atual município do Rio de Janeiro era o Distrito Federal.

Aqui onde o canal do Jardim de Alá desemboca no mar (portanto é a divisa com Ipanema). Que céu azul, hein? Fala você!

Ou seja, não pertencia ao estado do Rio de Janeiro, mesmo estando dentro dele e tendo o mesmo nome (situação que ainda ocorre no México e Argentina).

A capital do Estado do Rio de Janeiro era Niterói, do outro lado da Baía de Guanabara.

Em 1960, como todos sabem, veio a nova sede máxima do poder.

Sequência de 5 nas ruas internas do bairro.

No começo, pras pessoas se acostumarem que o Distrito Federal não era mais no Rio, se falava ‘Distrito Federal de Brasília’.

Um pleonasmo evidente mas necessário por um tempo, até a ideia se consolidar.

O município do Rio passou a se constituir no Estado da Guanabara.

Foi uma espécie de ‘transição’. Pro Rio não ser rebaixado imediatamente de Distrito Federal a mero município, foi um estado, por mais 15 anos.

Então de 1960 a 1975 quando você saía do Rio e ia pra Baixada Fluminense ou pra Niterói mudava de estado.

O núcleo da cidade era numa unidade da federação, a região metropolitana em outra.

A capital do estado do Rio de Janeiro permanecia em Niterói.

Centro de compras, o Cristo observando tudo do alto – no detalhe também a placa que indica a 14ª D.P. (eu destaco o nome dos estabelecimentos como uma referência geográfica apenas: pra você saber onde a foto foi tirada, e não pra fazer propaganda).

Em 1975 não teve jeito. Consideraram que o período de transição findara, e os estados do Rio de Janeiro e Guanabara foram fundidos.

Isso significa que o município do Rio deixou de ser o estado da Guanabara e passou a ser a capital do estado do Rio de Janeiro.

Niterói então passou a ser somente um município, cessando de ser capital evidente.

A Assembleia Legislativa do Estado do Rio (cuja sigla é ‘Alerj’) está atualmente no Palácio Tiradentes, no Centro do Rio, que sediava o Congresso Nacional até 1960.

Ciclo-ponto que um banco oferece em muitas cidades brasileiraslatino-americanas; há vários nos bairros mais aburguesados, no Rio quem tem o privilégio de morar e trabalhar na orla pode ir de bici, pega num ponto perto de casa e devolve noutro ao lado do trampo, na volta vice-versa; a ideia é essa, não sei se muitos aderiram como era esperado.

Por sua vez, a Câmara de Vereadores de Niterói funciona no prédio que anteriormente abrigava a Alerj.

Ambos os prédios foram ‘rebaixados’ em uma esfera, de federal pra estadual num caso e estadual pra municipal em outro.

……..

JK inaugurou Brasília. Mas seus sucessores, Jânio Quadros e João Goulart (‘Jango’), não gostavam da nova capital, por vários fatores:

Era muito seca, sem mar e muito longe de tudo. Além disso, em alguns aspectos a cidade ainda estava em formação.

De um lado da rua há um ‘shopping’ com várias lojas juntas; do outro lado há várias delegacias juntas, 3 sendo mais exato: a distrital que é o 14º D.P. que a placa mostrou, DEAT (Delegacia do Turismo) e DAS (Anti-Sequestro – essa teve bastante trabalho nos anos 90, destaquei o desenho da águia).

Então os prédios públicos já tinham toda a infra-estrutura necessária pra alguém governar, sim.

Só que obviamente em sua primeira década a vida cultural da nova capital era ainda iniciante, se comparado com o Rio então bem escassa.

Retardavam a transferência completa do governo. Caso esse curso tivesse se mantido, provavelmente Brasília teria sido abandonada.

Hoje seria uma cidade-fantasma no meio do Cerrado Goiano. Teria sido só uma brincadeira.

Uma brincadeira bem cara, alias, ao custo de bilhões sobre bilhões.

Na Lagoa; dia, repito, totalmente sem nuvens.

Porém veio o regime militar, e os generais ‘vestiram a camisa’ de Brasília, e concluem o processo de transição pra nova capital.

Por exemplo, JK construiu Brasília e a Rodovia Belém/Brasília.

Acontece que ele não teve tempo de mudar a numeração das estradas federais, que continuou centrada no Rio.

“Rio a Pé”: placas que indicam a distância de caminhada pra vários pontos de interesse, estão em diversos pontos da cidade; a foto é na divisa Ipanema x Copacabana.

Como dito acima, a Avenida Brasil era a BR-01, enquanto que a Via Dutra, principal estrada desse país ligando o Rio a São Paulo, era a BR-02.

Os militares fizeram essa parte. Agora o número de cada estrada federal (BR-116, BR-050, BR-381) indica a posição da mesma em relação a Brasília, e não mais a antiga capital.

Por exemplo, a própria Via Dutra agora é parte da BR-116, como todos sabem.

Aqui e a esquerda: Copacabana.

Voltando a nosso foco de hoje, os militares retiraram qualquer possibilidade do governo nacional voltar pra sede anterior, mas não esqueceram de investir no Rio de Janeiro.

Em Botafogo, na Zona Sul carioca, há o Morro do Pasmado.

Então. Até 1964 ele estava ocupado por uma pequena favela.

Assim que assumiu, em 64 mesmo, o regime militar demoliu a favela do Pasmado.

Transferindo os moradores pra conjuntos habitacionais nos subúrbios das Zonas Norte e Oeste, que a época eram muito distantes.

Era só o ‘início dos trabalhos’. Ao redor da Lagoa Rodrigo de Freitas haviam 2 grandes favelas:

A do Morro da Catacumba (que obviamente é na encosta da montanha) e a da Praia do Pinto, que era plana.

Base da P.M. no bairro do Flamengo.

Em 1969 ambas são desmanteladas, novamente seus moradores foram removidos pra longínquos conjuntos habitacionais no subúrbio.

Que são criados especificamente pra isso. O mais famoso deles é a Cidade de Deus, na Zona Oeste, que já foi tema de livros e filmes.

Centro: trilho do VLT e onipresentes viaturas.

Também se destacam as Vilas Kennedy e Aliança. Foram financiados em parte pelo governo estadunidense, através da chamada ‘Aliança pro Progresso’.

Daí alias os nomes, um chamado Vila Aliança e outro homenageando o ex-presidente ianque, morto em circunstâncias suspeitas em Dallas/Texas, nos EUA, no ano de 1973.

Nas próxs. 6 fotos seguimos no Centrão; bem, o nome do prédio já entregou, não?

O governo pretendia extinguir todas as favelas da Zona Sul do Rio.

Na virada pros anos 70, prédios de luxo lançados em São Conrado, perto da Rocinha, chegavam a trazer nos panfletos imagens do morro com a mata reflorestada, sem a favela.

Já em 64 tiraram uma pequena favela, a do Pasmado. E em 69 duas favelas grandes, a Catacumba e Praia do Pinto.

Na sequência viriam também a Rocinha, Vidigal, Cantagalo-Pavão/Pavãozinho, Babilônia/Chapéu Mangueira, Cabritos/Tabajaras e em última análise todas as favelas perto da orla.

Cinelândia’, que ganhou esse nome porque num passado já distante ali se concentravam os cinemas, quando o Centro do Rio vivia dias muito melhores. Hoje a região está bastante degradada, o moderníssimo VLT sendo uma tentativa de renascimento.

No começo da década de 70, embalados pelo tri-campeonato na Copa do Mundo do México em 1970, a burguesia carioca sonhou com isso, com uma orla sem favelas nas encostas.

E assim se daria, se o vento não tivesse mudado. Mas ele mudou.

Em 1968 vem o Ato Institucional nº 5 (‘A.I.5‘), que endureceu de vez a conjuntura política brasileira.

A partir de 1969 – justo o ano de remoção da Catacumba e Praia do Pinto – a guerrilha intensifica seus ataques contra as forças de segurança.

Não vou entrar no mérito aqui se as ações da guerrilha são justificadas ou não, senão descambaria pra uma discussão altamente polarizada e infindável.

“Liga da Justiça”; mas faltou o Super-Homem.

O que importa é: praticamente todas as embaixadas ainda se localizavam no Rio de Janeiro.

Os embaixadores dos EUA e da Suíça são sequestrados, como se sabe.

E esses atos foram facilitados pela geografia peculiar do Rio.

Com suas ruas estreitas em vários pontos e muitos morros ocupados por favelas, inclusive com muita mata em alguns casos.

Avenida Presidente Vargas na esquina com a Uruguaiana, o busão chegando a Central.

Nada disso existe em Brasília. É uma cidade plana e com largas avenidas.

Por conta disso, quase todos os países, com uma década de atraso, enfim mudam as embaixadas pra nova capital, por motivos de segurança.

Isso consolida Brasília, eliminando mais um traço de capital que permanecia no Rio.

Por outro lado, o governo federal precisa agora centrar forças em combater as ações da guerrilha.

Com isso, o projeto de eliminar as favelas da Zona Sul do Rio é temporariamente suspenso.

Não restam dúvidas, é a “Cidade-Maravilhosa”. Mas…

A Rocinha e outras ‘comunidades’ seriam removidas depois, quando a coisa acalmasse.

Porém quando a violência política enfim amainou, do meio pro fim dos anos 70, o regime militar sentia que se encaminhava pro fim.

E iniciou a transição pra democracia, promovendo gradualmente a anistia, fim da censura, volta dos direitos políticos e eleições diretas pra governador e prefeito das capitais, etc.

…cheia de contradições: camelôs no Centro…

Não havia mais clima pra remoções forçadas de favelas.

Compreensível que boa parte dos ‘beneficiados’ com uma casa nos distantes subúrbios rejeitasse esse ‘presente’.

Os moradores dos morros da Zona Sul trabalham ali perto, afinal esse é o principal polo de empregos da cidade.

… e lixo e sem-tetos em Copacabana.

E ninguém quer ir residir onde é preciso ficar de 2 a 3 horas sacolejando em trens e ônibus todos os dias na ida e o mesmo tempo na volta, pra poder chegar ao trabalho.

Preferem morar nos morros da orla, mesmo que esses não tenham infra-estrutura, a ter uma casa regularizada com água, luz, saneamento e escritura mas no que aparentava ser o fim da cidade.

Esquina, também em Copa; mesma Souza Lima da foto da favela acima; em Curitiba ‘Raul Pompéia’ é uma rua na CIC, que é o bairro mais populoso da cidade na Zona Oeste.

No fim dos anos 60 o projeto militar ainda estava no início.

Então ele tinha todo gás pra simplesmente pôr os moradores do Pasmado, Catacumba e Praia do Pinto num ônibus.

E determinar relocação compulsória pra Cidade de Deus, Vila Aliança, Vila Kennedy, etc.

No entanto, durante os combates mais encarniçados contra os rebeldes essa deixa de ser a prioridade.

Pão-de-Açúcar visto da Praia de Copacabana; atrás dos prédios do Leme o morro das favelas Babilônia e Chapéu/Mangueira. Antes de conhecer a origem, sempre desconfiei que esse nome tinha a ver com a Favela da Mangueira da Zona Norte. E tem mesmo: na Mangueira original, perto do Maracanã, havia a “Fábrica de Chapéus Mangueira“, que tinha até time de futebol. Os flamenguistas sabem que o primeiro jogo da história do Rubro-Negro foi uma sonora goleada de 15 x 2 contra esse clube de operários em 1912. Pois bem. Não sou torcedor do C. R. Flamengo, não inicie uma discussão clubística pois não é o espaço pra tanto. Contei pra voltarmos a favela da Zona Sul, cujo nome se originou da favela da Zona Norte.  Foi assim: a empresa pôs no final do Leme placa anunciando a “Fábrica de Chapéus Mangueira”. Quando o morro foi invadido, acabou sendo conhecido por “Chapéu /Mangueira” por causa desse anúncio.

E uma década depois de 1964 o clima já está bem distinto.

No final dos anos 70, as pessoas começam a ter maior liberdade política.

Até pra remediar os piores excessos que ocorreram nos anos de ‘guerra suja’.

Portanto não dá mais pra usar força policial pra arrancar as pessoas de suas casas nos morros e obrigá-las a se mudarem pra um subúrbio que elas não querem ir.

A Rocinha e todas as outras favelas da Zona Sul estão ali até hoje.

Fora que cresceram muito de tamanho nas últimas décadas.

Também houve grande aumento das favelas nas outras partes da cidade, evidente:

Zonas Central, Norte e Oeste (nesse caso muitas vezes as favelas são planas) e Grande Rio (Baixada e a ‘Grande Niterói’ do outro lado da Baía).

Agência dos Correios no Centro – a seguir uma carteira, já que tocamos no tema insiro esse desenho (de outubro de 2017).

O resultado é que parece que os cariocas se acostumaram a conviver com a violência de forma crônica.

Pior, de tempos em tempos explodem ondas de ações criminosas.

Que por sua vez exigem ações do estado que lembram ocupações militares ou conflitos bélicos.

Quando estive no Rio, em 2020, o que presenciei foi algo bastante preocupante:

Uma cidade ocupada militarmente, qual se fosse Bagdá/Iraque ou Cabul/Afeganistão.

É o que tem pra hoje, meu irmão. Como a música bem definiu:

Rio 40 graus;
Cidade maravilha,
purgatório da beleza e
do caos;

O Rio é uma cidade de cidades misturadas;
O Rio é uma cidade de cidades camufladas;
Com governos misturados,
camuflados, paralelos;
Sorrateiros …
ocultando comandos;

Capital do sangue quente;
Do melhor e do pior
d
o Brasil

Qual a solução? Não sei.

Sabe rezar? Reze. Não sabe? Aprenda.

O Cristo é o símbolo máximo da cidade, visível de várias partes dela.

Então encerramos a série como a abrimos, com essa imagem.

Que Deus Pai Abençoe o Rio de Janeiro.

Deus proverá

“Febre Amarela” – o transporte em Santa Catarina

 mais: a busscar, o “ônibus-trem” (que também é busscar), a influência curitibana, o ‘bondinho’ (‘papa-filas’), os aviões-restaurantes, a conquista campo-larguense (que também é curitibana e também é amarela)

Joinville, Santa Catarina, virada pros anos 90: ônibus produzido na cidade ficou rodando por ali mesmo; pintura padronizada em unicolor amarelo e escrito ‘Cidade de Joinville’ após a porta dianteira. Natural, pois Jvlle. é muito perto de Curitiba e muito influenciada por ela.

Por Maurílio Mendes, O Mensageiro

Publicado em 27 de junho de 2022

Maioria das imagens baixadas da internet, créditos mantidos sempre que impressos nas mesmas.

As que forem de minha autoria identifico com um asterisco ‘(*)’.

A direita uma cena-ícone do transporte de Santa Catarina.

Um Busscar no Portal de Joinville, município mais populoso de Santa Catarina e centro industrial do estado.

Porto União da Vitória‘, a ‘cidade-gêmea’ na divisa PR/SC, teve um ônibus-trem – e também era Busscar (acima da manchete vemos também ele cruzando uma ponte, mas a foto tirada de dentro do veículo).

A fábrica da Busscar é em Joinville, como todos sabem, e de 1987 a 2012 ela produziu ônibus urbanos.

Nesse período de 25 anos que a encarraçadora esteve ativa as 2 viações da cidade só compravam Busscar.

(Com raríssimas exceções, tão esparsas que são contadas nos dedos de uma mão.)

A tomada acima mostra o cartão-postal mais famoso da maior cidade do interior do estado.

Como pano de fundo de um veículo 0km da montadora de ônibus catarinense que em seu auge foi uma potência nacional e mesmo internacional. E vai além.

Restaurante dentro de avião em Itapema, SC. Perto dele, na mesma BR-101, há outro igual. Não se relaciona ao transporte, mas como é uma imagem curiosa segue de brinde.

É icônica de Santa Catarina porque vemos no busão outra característica que se repete em diversas cidades do estado (ambas por influência de Curitiba, que fica bem perto de SC):

Pintura unicolor em amarelo;

Escrito logo após a porta dianteira o nome da cidade.

Aliás em muitos caso o xerox do que Curitiba criou é mais exato e vem escrito ‘Cidade de ___________ ‘ (o nome do município no espaço em branco, conforme o caso).

Por mais de 3 décadas Balneário Camboriú teve ‘Bondinho‘ (deixaram de operam em 2020). Trata-se da versão local do Papa-Filas‘, que fez sucesso no Rio, São Paulo e Brasília nos anos 50 e 60. Em Cuba, que consagrou esse modelo, ele se chama ‘Camelo‘.

Mato a cobra e mostro o pau. A direita um pouco abaixo um convencional curitibano assim que a padronização começou aqui, no começo dos anos 80.

Primeiro a fonte, a seguir o resultado. Todas essas cidades de Santa Catarina também têm – ou tiveram até recentemente – sua frota em unicolor amarelo (seja no modal municipal, metropolitano ou no caso de Florianópolis executivo):

A capital Floripa, Joinville (maior cidade do interior), Blumenau, Criciúma, Itajaí/Balneário Camboriú, Chapecó (onde circulou o 1° articulado do estado, que também era amarelo), portando as 6 maiores do estado.

1° “tribus” do Brasil, uma Rural adaptada. Ligava Xanxerê a Chapecó.

Se for ampliar o leque incluímos na conta também praticamente toda a Grande Blumenau (Gaspar, Indaial e Timbó). E mais:

Jaraguá do Sul, São Bento do Sul, Caçador, Concórdia, Canoinhas, Laguna, isso só as que têm mais de 50 mil habitantes.

Igualmente as duas ‘cidades-gêmeas’ na divisa com o PR que são ‘Rio-Mafra‘ e ‘Porto União da Vitória‘, ambas com perto de 80 mil moradores (somando os dois lados da divisa, ou seja Mafra/SC + Rio Negro/PR e União da Vitória/PR + Porto União/SC).

Em Chapecó também circulou o 1° articulado de SC (comprado usado de Porto Alegre-RS). Por que tantos ônibus catarinenses são unicolores amarelos? Veja a próxima foto.

Se contabilizarmos as cidades menores ainda posso citar várias:

Xanxerê, Rio Negrinho, Curitibanos, Garopaba, Garuva, Corupá, Fraiburgo, Schroeder, Santa Cecília.

E talvez outras que não consegui achar fotos. Vocês entenderam, a lista é longa.

Em alguns casos é o amarelo clássico, aquele bem clarinho.

Em outros um pouco mais escuro, cópia exata do adotado em Curitiba. Mas sempre amarelo.

A FONTE“: Curitiba, começo dos anos 80. Inicia-se a padronização dos ônibus de forma unicolor. Os convencionais (até 1988 os alimentadores também) são pintados de amarelo. A inscrição ‘Cidade de Curitiba’ é colocada logo após a porta dianteira.

A maioria delas traz o nome da cidade logo após a porta, as vezes com as mesmas palavras de Ctba., ‘Cidade de __________’, pra homenagem ficar completa.

A população das cidades é do Censo de 2010, por enquanto o último realizado no Brasil, e inclui a região metropolitana, e não apenas o município-núcleo. Por isso Fpolis. é maior que Jvlle. .

Nesse galeria horizontal de minha autoria são as fotos em Florianópolis, Mafra e a do municipal de  Joinville (datada de 2017). As demais baixadas da internet.

A direita “a Fonte da Inspiração”, a seguir “o Resultado” em terras catarinenses. Fogo na bomba.

Moderno articulado Busscar do sistema Trans-Milênio em Bogotá, capital colombiana. A Busscar era o orgulho dos joinvillenses e catarinenses, e não sem motivo. Chegou a ser uma potência no Brasil e mesmo em vários outros países. Na Colômbia mesmo a marca era um ícone, tinha fábrica lá. Infelizmente a partir de 2010 a produção começou a fraquejar, e em 2012 fechou as portas, tendo a falência decretada pela justiça no ano seguinte. Após 2 tentativas frustradas em 2018 a Caio (de SP) comprou a Busscar e retomou a produção; porém apenas de ônibus rodoviários, nos urbanos temos que nos contentar com fotos antigas como essa.

Amarelo é uma escolha popular pra ônibus. Tanto que a primeira padronização de pintura de toda América Hispânica ocorreu em Santiago do Chile, em 1991. E escolheu essa mesma cor.

É a “Febre Amarela”, amigos. No Chile, e em Santa Catarina também. No caso catarinense é, digo ainda mais uma vez, nítida a influência de Curitiba.

Vamos dar outra prova. Veja na galeria abaixo quantos ônibus catarinenses têm – ou tiveram – escrito “Cidade de __________” atrás da porta dianteira.

De novo xerocando exatamente o que a capital do PR criou. Inclusive em vários deles se escreve em 3 camadas, com o ‘Cidade’ na 1, ‘de’ na 2 e o nome do município na 3, exatamente como foi feito em Ctba. .

Quando é em amarelo (ou laranja) unicolor a homenagem é completa. Entretanto mesmo quando a lataria está em outras cores a inspiração no modelo curitibano é evidente.

Imagens valem por milhares de palavras, confira com seus próprios olhos como isso é comum em SC:

Aqui e a esq.: Campo Largo, Zona Oeste da Gde. Curitiba. Pintura própria dos ônibus municipais campo-larguenses, o mesmo amarelo dos municipais da capital (e na época também os metropolitanos) decorada com 2 faixas onduladas, uma maior cinza e outra – a princípio – branca.

“TENDE PIEDADE” – A ‘RECONQUISTA’ CURITIBANA: PRIMEIRO NAS CIDADES-GÊMEAS DA DIVISA; A SEGUIR AVANÇANDO PELO NORTE CATARINENSE

Então vimos que a influência de Curitiba nos ônibus catarinenses é antiga, remonta desde os anos 80. Nada mais natural, dada a proximidade física e cultural.

No entanto, nesse novo milênio houve novo acontecimento que aumentou ainda mais isso.

Me refiro a expansão do conglomerado Melissatur, dono da viação Piedade e também das viações Campo Largo, Tamandaré e Antonina na Gde. Curitiba, por isso irei grafar como ‘grupo Campo Largo’.

Depois a faixinha menor branca virou verde, todo resto se manteve. Esse faz parte de um grande lote que chegou de 2ª mão de Brasília-DF, daí a placa iniciada por ‘J’.

A Viação Piedade, usando seu próprio nome ou outros, assumiu o controle do transporte coletivo de várias cidades de SC.

Com isso levando a pintura curitibana a várias partes do estado vizinho:

Primeiro as duas ‘cidades-gêmeas’ Rio-Mafra (Rio Negro/PR + Mafra/SC) e Porto União da Vitória (União da Vitória/PR + Porto União/SC).

A seguir de Itajaí, no litoral, e agora o mesmo grupo passou a operar em várias partes da Região Metropolitana de Blumenau.

Próx. 2 fotos: Itajaí. Em 2017, após décadas de atuação, a Coletivo Itajaí encerra os serviços. No lugar entra “provisoriamente” a Piedade de Campo Largo, com a mesma pintura usada na Gde. Curitiba. No começo o veículo tinha a faixinha menor branca.

Vamos pôr no contexto. O sistema de ônibus da Grande Curitiba é dominado por 2 grandes conglomerados.

O maior é o dos Gulin, detentor de cerca de 60 a 70% da frota municipal (fora algumas viações metropolitanas que também são deles).

Era 50% até 2010, mas a “licitação” daquele ano acabou por eliminar algumas viações independentes, que foram assumidas por empresas maiores.

Sendo os Gulin o maior grupo, natural que fosse o maior beneficiado pelo processo.

Adivinhe? O ‘caráter emergencial’ se tornou uma situação definitiva. A Piedade assumiu de vez o transporte em Itajaí. Como ocorreu na matriz no PR, os busos novos passaram a ter a linha ondulada secundária em verde (o grupo Campo Largo/Tamandaré ficou mais de 2 décadas sem comprar Caio, mas em 2017 voltou a adquirir da montadora paulista).

Afora esse, o maior conglomerado de viações é o formado por Campo Largo/Tamandaré.

Opera transporte municipal da capital, metropolitano tanto pra Campo Largo (Zona Oeste) quanto Almirante Tamandaré (Zona Norte).

Além do sistema municipal de Campo Largo (‘C.L.’), nesse caso utilizando a subsidiária que se chama Piedade.

Ou seja, a Campo Largo é responsável por todas as linhas desse município, sejam as internas dele mesmo ou metropolitanas pra capital.

(Anteriormente havia uma exceção, a linha pra Balsa Nova via Bugre, que era de outra viação; agora a C. Largo englobou essa também.)

Rio-Mafra, 2015 (*). Viale da “Santa Clara” apenas no nome, na prática mais um ramo da Piedade. Flagrante: esse veículo ainda tinha nas chapas “PR-Campo Largo” .

Até o começo desse milênio os municipais de CL eram operadas por busos inteiro azul-claros com uma faixa horizontal branca no meio (Paranaguá, no Litoral, chegou a ter a mesma pintura uma época).

os busos metropolitanos seguiam a pintura criada em Curitiba:

Cinza os ligeirinhos, já os paradores que vão até o Centro da capital sem integração amarelos como os convencionais, e laranjas os alimentadores do Terminal Campo Comprido.

Porto União da Vitória” (clicado em U. da Vitória/PR, mas circula também em P. União/SC). Nessa cidade-Gêmea a Piedade assinava seu próprio nome, mais recentemente mudou pra ‘Viação Iguaçu‘.

No entanto, por volta de 2007 a Viação Campo Largo adotou nova decoração pros municipais:

O amarelo é igual ao de Curitiba, mas há uma faixa ondulada maior em cinza com detalhe em branco nas bordas.

E a partir de 2015 o governo do estado padronizou os busos metropolitanos no bege padrão Comec, abandonando o xerox do municipal da capital.

Alguns poderiam pensar que estou saindo do tema, afinal estou falando da Grande Curitiba. Oras, já veremos como isso tem tudo a ver com Santa Catarina.

Próx. 4, Gde. Blumenau. O municipal de BNU. em 2016 passou a ser da Piracicabana (grupo da cia. aérea Gol). Então a Piedade comprou viações dos municípios próximos, mantendo o nome delas mas, como sempre, colocando pra rodar busos com a pintura de C. Largo; esse é municipal de Indaial – nominalmente quem o opera ainda é a viação Presidente.

Explico. Como já falei acima e todos sabem, o Paraná e Santa Catarina compartilham duas ‘Cidades-Gêmeas’:

Rio-Mafra e ‘Porto União da Vitória’. Elas são cidades bi-estaduais, cada uma formada por dois municípios em lados distintos da divisa.

Mais adiante na mesma matéria falarei melhor do transporte em cada uma delas. Por hora basta um apanhado geral.

Em Rio Negro/Mafra quem fazia o transporte urbano era a viação Santa Clara, com seus ônibus brancos e cinzas.

Também Presidente: ‘Mulde’ é um bairro de Indaial na divisa com Timbó; então a linha pode ser interna de Indaial ou metropolitana – há fotos do mesmo ‘carro’ operando em Timbó; esse Caio não foi usado daqui, pois na Gde. Curitiba há muito não existem veículos com 2 portas (exceto micros e micrões).

Enquanto que a viação União cuidava de Porto União/União da Vitória. Sua frota foi amarela igual a Curitiba nos anos 80, depois vermelha, a seguir azul. Pois bem.

O grupo Campo Largo, daqui da Gde. Curitiba evidente, resolveu se expandir. E assim assumiu o transporte nas duas ‘cidades-gêmeas’.

Em ‘Porto União da Vitória’ um pouco antes de 2010, em Rio-Mafra logo a seguir.

No primeiro caso eles usam o nome de sua subsidiária, a Viação Piedade.

Enquanto que em Rio-Mafra adotaram estratégia oposta, o nome da empresa continua sendo Santa Clara.

Aqui e a dir. viação Safira de Gaspar. Torino ‘5’ com a bandeira municipal , tradição em SC . Fazendo portanto linha interna gasparense. A Piedade no início manteve não apenas o nome da antiga viação, também sua marca registrada, o ‘Safira’ na frente naquela fonte (estilo de letra) peculiar – depois adotou o termo ‘Presidente’ também em Gaspar.

Independente da denominação, tanto em P. U. da Vitória quanto em Rio-Mafra a frota agora tem a pintura igual a usada daqui da Grande Curitiba, alguns veículos inclusive são levados usados da capital.

Em 2015 comprovei que muitos não eram sequer re-emplacados (lembrei de Manaus-AM, onde vi o mesmo, ônibus usados trazidos de fora rodando ainda com o nome das cidades originais na placa).

Voltando ao Sul do Brasil, os ‘latões’ circulavam em Rio-Mafra com a chapa ainda ostentando “PR-Campo Largo“.

(Agora com o novo emplacamento ‘Merco-Sul’ não há mais o estado e município, mas por todo século 20 e nas 2 primeiras décadas do 21 havia.)

Outro Safira, também com o estandarte de Gaspar. Mas laranja como os alimentadores da Grande Curitiba eram caracterizados até 2015, ainda há vários nessa pintura por aqui (escrevo em 2021). E agora também por SC. Destaquei que estavam antes escritos o nome do município de Almirante Tamandaré e a letra ‘M’ que é a assinatura das linhas metropolitanas da capital do PR.

Em 2017, em Itajaí, parou de circular a viação Coletivo Itajaí, que cuidava das linhas municipais itajaienses a décadas.

A Piedade assumiu seu lugar. “Emergencialmente” claro. O Brasil se esmera na arte do ‘provisório-permanente’, como não é segredo a ninguém.

De forma que a Piedade opera o transporte municipal de Itajaí desde então (escrevo em 2021).

Na Grande Blumenau a Piedade adquiriu linhas das viações Safira (Gaspar) e Presidente (Indaial e Timbó).

Em todas essas cidades de SC com as pinturas da Grande Curitiba, repito. Na maioria dos casos a municipal de Campo Largo (amarelo com faixa ondulada cinza).

Foto no Terminal Central de Campo Largo. Articulado (ex-Recife-PE, placa que se inicia por ‘K’) no bege unicolor da Comec das linhas metropolitanas de Ctba. . No entanto faz linha municipal campo-larguense, por isso pertencente a Viação Piedade.

Ocasionalmente o bege unicolor da Comec (utilizado aqui em algumas linhas metropolitanas até 2015, todas elas desde então).

E as vezes cores do municipal da capital, que até 2015 era usado também em linhas metropolitanas:

Amarelo (por quase 4 décadas, até 2018, linhas convencionas) ou laranja (por 3 décadas, de 1988 a 2018, somente alimentadores, a partir de 18 convencionais, alimentadores e mesmo inter-bairros).

O nome varia: em Rio-Mafra e na Grande Blumenau manteve-se a denominação original das viações, Santa Clara no 1° caso e Safira e Presidente no 2°.

De volta pra Itajaí nessa foto e na a seguir. Aqui em agosto de 2017, 1° dia de operação em SC. Como no buso curto amarelo acima, o autor colocou que a operação da Piedade em Itajaí seria “emergencial“. Dois detalhes: 1) no letreiro está escrito ‘Especial’, e a linha vem num papel colado no vidro. No tempo da lona era normal (especialmente nesse caso, em que a frota mudou de cidade as pressas), mas agora com letreiro eletrônico é bem inusitado. E 2), o bichão já pertenceu a 4 viações e operou em 5 estados (PE, SE, PR, SC e AC) do Nordeste, Sul e Norte. “Do Recife a Itajaí, via BR-101“.

Em Itajaí e ‘Porto União da Vitória’ utiliza-se diretamente o nome ‘Piedade’, por outro lado.

A decoração da frota também não é homogênea. Usa-se majoritariamente o xerox campo-larguense, mas os unicolores bege, amarelo e laranja também são vistos.

Bem, todas essas pinturas são da Grande Curitiba. E independente de ter sido mantido o nome original ou este ter sido mudado, é sempre a Viação Piedade do Grupo Campo Largo quem está no controle.

Ou seja: desde os anos 80 o transporte de SC se inspirou no modelo criado na capital do Paraná. Curitiba amealhou admiração no estado vizinho, uma bela conquista.

Daí tantas cidades com ônibus uniclores amarelos (ou laranjas), e o ‘Cidade de ______’ após a porta.

Bem, a “Febre Amarela” pode ter alguns variantes em bege, mas de forma indiscutível o grupo Campo Largo fincou raízes em Santa Catarina. “Tende Piedade!”

Tem mais:  muitas vezes esse escrito em 3 camadas e com letras minúsculas, copiando quase que exatamente o original.

Porém note que no século 20 era uma influência “espiritual’, se quiser ver assim. Uma inspiração. No século 21, entretanto, foi diferente.

Uma viação da Grande Curitiba passou a operar em pelo menos 6 municípios catarinenses (Mafra e P. União nas ‘Cidades-Gêmeas’; Itajaí; e Gaspar, Timbó e Indaial na Grande Blumenau).

E sempre utilizando as pinturas da capital paranaense. Em alguns casos levando daqui os veículos usados.

“SINAL VERDE” – a ‘conquista paranaense’ em SC agora tem mais uma cor: em 2022 a Piedade passou a operar também em Foz do Iguaçu-PR, quebrando a padronização que lá vigorou de 2010 a 22; em compensação trouxe busos ex-Foz – na pintura original, verde – pra várias cidades catarinenses; abordo melhor o assunto, com muitas fotos, na matéria específica sobre Foz do Iguaçu (essa foto é no terminal de Gaspar: a frente micro com pintura de Foz, atrás busão com pintura de Campo Largo; precisa dizer mais?).

É uma ‘Re-Conquista’. E dessa vez não apenas uma inspiração sutil, restrita ao plano das ideias. Atualmente o avanço curitibano (campo-larguense) em S. Catarina é calcada na dimensão física mesmo.

“Febre Amarela”, parte 2. Eis o nome do filme. Agora com uma faixa cinza na lateral. Em cartaz em muitos lugares, e quem sabe breve numa cidade catarinense perto de você.

2022:

A “FEBRE AMARELA” CHEGA AO OESTE DO PR

A expansão do grupo Campo Largo abarcou Foz do Iguaçu (na Tríplice Fronteira) e Campo Mourão (no Centro-Oeste do estado). Com o nome-fantasia de ‘Piedade’, ou outros, o fato é que agora vemos a mesma pintura na Gde. Ctba. e diferentes partes do interior do PR e SC. Não perca a conta:

Década de 70: não apenas a Ponte Hercílio Luz estava aberta ao trânsito como até 1975 era a única ligação continente-ilha. Um Nielson Diplomata da viação Imperatriz em pintura livre acaba de cruzar a ponte, que em 1982 foi fechada, reabriu em 2020. Na hora do pico apenas pra ônibus, táxis e veículos de emergência (viaturas e ambulâncias). Em outros horários e nos fins-de-semana até os carros particulares podem utilizá-la.

Registramos acima o que considero um traço marcante do transporte por ônibus em Santa Catarina.

Vamos agora contar de forma breve a evolução desse modal nas suas principais cidades.

Alguns dos fatos narrados abaixo presenciei pessoalmente.

Entretanto a maioria deles tomei conhecimento estudando pela internet (fonte que está longe de ser 100% fidedigna, como sabem).

Em 3 casos já fiz matérias específicas sobre o transporte, a capital Florianópolis, Joinville e mesmo Chapecó, nas 2 primeiras também sobre as cidades em geral.

Próxs. 3 imagens: padronização EBTU em Florianópolis, que valia também pros metropolitanos, a faixa de cima indicava a região da cidade – no continente eram 2 cores, verde pro sul e azul pro norte; o tom indicava se era municipal (claro) ou inter-municipal (escuro). Vendo é mais fácil entender: a viação Estrela opera os 2 modais, então esse Monobloco pro Abraão, no município da capital, era verde-claro.

Então nessas citadas acima o resumo aqui será mais curto.

Não será preciso repetir tudo das outras matérias, que afinal são ricamente ilustradas.

– FLORIANÓPOLIS:

PIONEIRA NA PADRONIZAÇÃO METROPOLITANA, DESPADRONIZAÇÃO, TERMINAIS EM 2003, REPADRONIZAÇÃO (municipal) EM 2014 –

Isto posto, vamos lá. Começando pela capital e maior cidade do estado quando contabilizamos as regiões metropolitanas, e não apenas o município-núcleo.

Até os anos 70 todas as cidades brasileiras tinham pintura livre em seus ônibus.

Da mesma Estrela São Remo na linha pra Potecas, em São José: assim verde-escuro.

Perto da virada pra década de 80 Florianópolis padronizou a pintura não apenas das linhas municipais, mas também das metropolitanas.

Ao lado de Belo Horizonte-MG e Goiânia-GO, foi a 1ª capital do Brasil a uniformizar a frota inter-municipal urbana.

Foi adotado o padrão EBTU Os ônibus ficaram brancos com duas faixas horizontais coloridas. A menor inferior trazia o nome da viação. A maior acima indicava pra qual parte da cidade a linha ia.

São Remo da Canasvieiras pra praia de mesmo nome – laranja era o Norte da Ilha: a padronização EBTU de Fpolis. inspirou outras cidades de Santa Catarina.

(Foi implantado também em Brasília-DF e Porto Alegre-RS; com uma pequena variação igualmente em Campinas-SP.)

(Além dessas cidades onde foi obrigatória, algumas viações de Maceió-AL e diversas cidades do interior do Sul do país adotaram voluntariamente a mesma pintura.)

Pro nosso foco de hoje, importa que a Grande Florianópolis foi dividida em 6 faixas:

Norte [laranja] e Sul [marrom] da Ilha, Norte [azul-claro] e Sul [verde-claro] da porção municipal do Continente, Norte [azul-escuro] e Sul [verde-escuro] metropolitano.

Portanto note que as linhas continentais tinham somente 2 cores, verde e azul, representando o Sul e Norte respec. .

O primeiro xerox foi bem próximo a capital: a Imperatriz não precisava adotar pintura EBTU (pois S. Amaro e Caldas ainda não eram região metropolitana). Mas ela decidiu ficar igual, porém sua faixa inferior era azul, não preta.

O tom claro ou escuro era quem informava se a linha ficava somente dentro do município de Florianópolis ou se entrava em São José e dali se fosse o caso seguia pra Palhoça ou Biguaçu.

E assim funcionou por quase toda década de 80. Mas eis que em 1989 a viação Trindadense, que operava na faixa laranja, entra em falência.

Pra substituí-la vem a viação Transul de Lages, no Sul do estado. Na capital a Transul adota o nome de Transol.

E a Transol não adere a padronização de pintura, circula em Floripa com pintura livre, no início igual a que ela usava e ainda usa em Lages:

A Coletivo Itajaí adotou a mesma decoração.

‘Saia’ (parte inferior do veículo) azul-clara e ‘blusa’ (metade de cima) branca. Pouco depois a Transol passou a ter sues busos inteiros em azul-claro.

Estava quebrada a padronização. Seguindo o exemplo da Transol, todas as viações, municipais e metropolitanas, re-adotaram a pintura livre.

Algumas já no meio da década de 90. A Estrela demorou um pouco mais, usou a pintura padronizada até perto de 1998.

O mesmo fez a cidade Urubici, na Serra.

A Biguaçu foi ainda mais longeva. Depois que todas as outras já haviam aberto mão da padronização da EBTU ela a manteve por mais uma década e meia, mais ou menos.

Só que aí a Biguaçu manteve porque quis. Não havia mais necessidade de uniformização.

Ela permaneceu com seus ônibus em branco com uma faixa azul horizontal porque essa agora era sua pintura livre, que a diferenciava das demais.

Já que falamos do Planalto Catarinense, essa era (e ainda é) a pintura da Transul de Lages.

Até que em algum momento na primeira década do novo século a Biguaçu também abandonou esse modelo de decoração, sua frota ficou unicolor em azul-escuro.

Curiosamente, todas as viações municipais exceto uma escolheram uma decoração unicolor na sua frota.

A exceção foi a Canasvieras, do Norte da Ilha. Ela testou uma pintura unicolor verde-claro, mas acabou ficando com ‘saia’ verde-claro e ‘blusa’ branca.

Agora foi o interior que influenciou a capital: a Transul entrou em Floripa como ‘Transol’, muda uma letra mas a mesma pintura, estava quebrada a padronização.

As demais escolheram pintar o buso inteiro numa única cor:

Transol (centro-leste da Ilha) azul-claro, Insular (Sul da Ilha) turquesa, Estrela (porção continental sul, municipal e metropolitana) verde-escuro, a Emflotur (Continente Norte municipal) optou pelo azul-médio.

Enquanto que a Biguaçu (Continente Norte metropolitano) foi pro azul-escuro (Biguaçu e Emflotur são do mesmo grupo).

A Santa Terezinha, metropolitana pro Sul do Continente, é unicolor em cinza, enquanto que a Jotur, que também vai pro Sul metropolitano, da mesma forma adotou um esquema ‘Saia-&-Blusa’.

Depois a Transol virou inteira azul-claro. Com exceção de uma, todas as viações municipais se tornaram unicolores (várias metropolitanas também).

Em 2003 o transporte municipal ‘manezinho’ (gentílico carinhoso de Floripa, se alguém não sabe) foi re-organizado.

Inaugurou-se a primeira fase do que hoje é chamado ‘SIM’: Sistema Integrado de Mobilidade.

Foram construídos 9 terminais, sendo que 6 deles ainda operam.

Deles saem linhas alimentadoras (que têm o outro ponto final na rua) e as troncais que que vão pra outros terminais.

Aqui e a esq: ainda nos anos 90, o ‘Corredor Sudoeste’ foi a 1ª tentativa de implantar linhas integradas. O ‘Corredor’ era uma linha troncal que iria substituir várias convencionais que se sobrepunham, no vidro a placa ‘Costeira/ Carianos’, as convencionais que foram fundidas; era a 2ª padronização da cidade, claramente inspirada em Ctba., o veículo unicolor, a posição do número e a frase ‘Florianópolis de Todos’ exatamente onde aqui há o ‘Cidade de Curitiba’; porém o ‘Corredor Sudoeste’ não pegou, ficou só nessa linha-piloto, e logo a pintura foi descartada.

São conhecidos por suas siglas. O ‘T’ significa ‘terminal’, e o ‘I’ é Integrado. Permanecem ativos:

O TiCen é o Term. Integrado Central, na Ilha evidente.

Atende o Continente e os bairros da Ilha mais centrais, além das linhas metropolitanas de maior demanda.

No Norte da Ilha se localizam o TiCan (Canasvieras) e TiSan (Santo Antônio de Lisboa).

No Centro-Leste há o TiTri (Trindade) e TiLag (Lagoa da Conceição), enquanto que o TiRio (Rio Tavares) cuida do Sul da Ilha.

Dessas troncais há linhas diretas (embarque e desembarque somente nos pontos inicial e final), semi-diretas (param em somente alguns poucos pontos) e paradoras (encostam em todos os pontos).

Parece Curitiba, não? Até a placa começa com ‘A‘, porque foi emplacado no PR.

3 terminais foram considerados redundantes, e desativados em pouco tempo: o TiSac (Saco dos Limões) na Ilha e TiCap (Capoeiras) e TiJar (Jd. Atlântico) no Continente.

Até 1988 os ônibus tinham seu ponto inicial central em vários mini-terminais (não-integrados) espalhados pelo Centro, nas imediações da Rodoviária Rita Maria e o Mercado Municipal.

Nesse ano de 88 foi inaugurado o Terminal Central, ainda sem integração tarifária. Ao menos centralizou o local de início das linhas.

Esse Monobloco é da Grande Curitiba, veja que Fpolis. xerocou inclusive a posição do nº.

Facilitando quem precisava baldear (ainda que fosse preciso pagar novamente) e dando mais segurança aos usuários, especialmente a noite.

Em 2003 com a implantação do TiCen as linhas municipais e a maioria das metropolitanas foi transferida prali.

Desde então o antigo Terminal Urbano foi rebatizado ‘Cidade de Florianópolis‘ (‘TCF’) e nele param algumas linhas metropolitanas pra municípios mais distantes.

Canasvieiras foi a única viação municipal que não tinha sua frota em cor única, usava verde e branco (*). Atrás na pintura padronizada, em 2015 a transição no TiCen.

Voltando aos anos 90, quando o TCF era o único terminal. Em 1994 a Transul re-introduz a pintura livre, repito.

Florianópolis se tornou então a primeira capital a des-padronizar a pintura dos ônibus, ou seja, a regredir a pintura livre após já ter padronizado.

Primeira, mas não a única. O Rio de Janeiro teve a padronização de ônibus mais curta da história. Durou menos de uma década do começo dos anos 10 a 2018.

Foto também de 2015, articulado padronizado (*). Ao fundo uma das favelas do Morro da Cruz contrastando com os prédios.

Estive no Rio em 2020, e boa parte da frota ainda ostentava a pintura padronizada, pois foi comprada no curto período de tempo que ela vigorou.

No entanto os ‘carros’ novos já vem de novo em pintura livre, e até o meio da década de 20 ônibus padronizado no Rio só serão visto em fotos.

Bem, hoje nosso tema é Santa Catarina. Em 2014 Florianópolis reparou o que havia feito 2 décadas antes e repadronizou sua frota.

Dessa vez todos os ônibus têm pintura única, azul e branco. A partir de então a rede foi batizada ‘SIM – Sistema Integrado de Mobilidade’. Os mapas resumem essa evolução:

Viação Canasvieras no decorrer da história:

Amélia 0km na pintura livre da Gidion.

– JOINVILLE:

PINTURA LIVRE E DIVERSAS CARROCERIAS ATÉ 1987, DE 87 A 2012 ERA 100% BUSSCAR, 1ª PADRONIZAÇÃO IDÊNTICA PRA TODAS AS LINHAS, DIFERENCIAÇÃO POR CATEGORIA, REPADRONIZAÇÃO IGUAL EM TODA FROTA –

Agora a maior cidade do interior, município mais populoso e maior PIB de Santa Catarina.

Veneza da Transtusa.

Joinville é a sede da Busscar repetindo ainda mais uma vez o que todos sabem.

Porém até 1987 essa montadora então chamada Nielson – só produzia veículos rodoviários.

De forma que, evidente, a frota joinvillense era formada por outras marcas, produzidas longe dali.

Além disso vigorava a pintura livre, como de resto ocorreu em todo o Brasil.

Outro Veneza, já na 1ª pintura padronizada: uma única cor pra todas as linhas.

Em 87 duas coisas acontecem: 1) A Nielson, futura Busscar, lança o modelo ‘Urbanus, que como o nome indica é de transporte urbano.

E 2), Joinville também padroniza a pintura; num estilo claramente inspirado em Curitiba, como acontece com frequência em SC.

Abaixo um Nielson 0km inteiro amarelo, marcando o nascimento da nova era.Inicia

1987: inicia a Era Busscaras próxs. 7 fotos mostram a Jvlle.  que era 100% dessa marca.

Inicia-se a chamada ‘Era Busscar’, que durou de 1987 a 2012.

Foi o período que a Busscar (até o fim de 1989 ainda denominada ‘Nielson’) fabricou veículos urbanos.

As duas viações de Joinville (Gidion e Transtusa – ‘Transporte e Turismo Santo Antônio’) padronizaram suas frotas com a montadora sediada na cidade.

2ª padronização: faixa indica a categoria da linha; mantida a cor e o ‘Cidade de Joinville’.

Claro, temos que descontar o tempo de renovação da frota.

Durante o começo pro meio dos anos 90 ainda haviam ‘carros’ de diversas encarroçadoras adquiridos até 87.

Acontece que houve a renovação e esses exemplares de outras marcas foram substituídos.

Aí, por mais por mais de uma década e meia Joinville foi praticamente 100% Busscar.

3ª padronização: o buso fica amarelo, a faixa horizontal se torna 3 faixinhas diagonais, ainda mostrando a categoria; o “Cidade de Joinville” é simplificado pra “Joinville”.

Nos anos 90 Joiville constrói sua rede de terminais. Nessa cidade, como em Blumenau, 100% das linhas são inetgradas com baldeação física nos terminais.

Isso porque mesmo o Terminal Central tem catracas, possibilitando integração física. Assim não há linhas ‘convencionais’, não-integradas.

Todas as linhas são ou troncais ou ao menos alimentadoras de algum terminal, mesmo as que servem os bairros ao redor do Centro.

(Londrina e Ponta Grossa no Paraná também tem o mesmo modelo, pra citar apenas alguns exemplos).

Nessa época chegam os articulados.

Em Florianópolis é diferente. Os terminais dos bairros têm catracas, têm integração física.

No entanto o TiCen é aberto, portanto antes da implantação do cartão era não-integrado – agora é possível a integração digital.

Todos os busões eram amarelos – exceto os ‘Linhas Diretas’, que ostentavam o celeste.

De volta a Jvlle., como já dissemos e ademais é notório, 1987 foi também o momento de padronização de pintura.

Já houveram quatro padrões (até quando escrevo, 2022):

– 1) Todas as linhas com o ônibus inbteiro num bege quase amarelo.

(Parecido com os Convencionais da capital paranaense, e com o ‘Cidade de Joinville’ logo após a porta dianteira pra inspiração curitibana ficar mais nítida);

Acabou o azul, até L. Direta virou amarela.

– 2) Mantém-se a cor e o ‘Cidade de Jonville’, mas acrescentam uma faixa conforme a categoria da linha.

(O vermelho eram as linhas troncais, que ligavam o Terminal Central aos terminais de bairro.

Havia também ônibus com faixas verdes e azuis,m que faziam os alimentadores e inter-terminais).

– 3) Os busos se tornam amarelos, com 3 faixas diagonais indicando a categoria (nos mesmos toins, vermelho, verde e azul).

Agora todas as linhas são assim (*). Foto de 2017, os últimos Busscar ainda circulavam.

Surgem as ‘Linhas Diretas’, que são inteiros em azul – a única categoria que dispensou o amarelo.

Foi nesse tempo, do começo pro meio dos anos 90, que Joinville passa a contar com articulados.

Eles também recebem a pintura das 3 faixas (creio que apenas na categoria vermelha, troncal).

Porém na mesma viagem de 2017 constatei que boa parte da frota joinvillense já era de outras marcas, esse um Comil (*).

A inscrição “Cidade de Joinville” se torna somente “Joinville“.

– 4) Todas as linhas em unicolor amarelo sem diferenciação por categoria da linha, vigente no momento que a postagem sobe pro ar.

Joinville segue com pintura padronizada; mas agora, como no início, num único padrão pra toda frota.

"Caio M*ndego: Quebrando 6 Tabus"

Em 2018 até os Caios voltaram, depois de mais de 3 décadas de ausência: aqui no municipal, a seguir metropolitanos.

Acaba inclusive o azul da Linha Direta (como curiosamente ocorreu também em Curitiba e Los Angeles-EUA);

Pras pessoas se acostumarem com a transição nesse caso havia um adesivo informando que mesmo amarelo era ‘Linha Direta’.

A partir de 2010 a produção da Busscar começa a fraquejar, e em 2012 ela abre falência.

Obviamente então as viações da cidade precisam passar a comprar de outras marcas.

Em 2018 a Caio compra a Busscar, e reabre a fábrica.

Tabela Trocada“: SEI do Recife em Jvlle. .

Porém apenas no segmento rodoviário, como aliás era na origem da empresa até 1987.

A Caio investiu em Joinville, Joinville retribui e investe na Caio.

As 2 viações da cidade voltam a comorar da montadora paulista, o que não acontecia desde os anos 80.

– BLUMENAU:

Próxs. 14 Blumenau: Monobloco da Glória, pintura livre, ‘saia’ azul e ‘blusa’ branca

1ª PADRONIZAÇÃO IDÊNTICA PRA TODAS AS LINHAS, DIFERENCIAÇÃO POR CATEGORIA, REPADRONIZAÇÃO IGUAL EM TODA FROTA, OS ARTICULADOS VIERAM MAS FORAM EMBORA –

Blumenau (abreviada ‘BNU’), cuja região metropolitana é o 3ª mais populosa do estado, é certamente a cidade mais alemã do Brasil, ao menos entre as que têm mais de 300 mil habitantes.

Em fins dos anos 80 iniciam-se os estudos pra implantação de um sistema integrado e com pintura padronizada.

Incasel da Rodovel, também na pintura livre. Repare na logomarca da viação, ao lado da porta traseira, com sua letra característica.

Até então vigorava a pintura livre, a operação ficava a cargo das viações Glória (acima) e Rodovel (ao lado).

No virada pra década de 90 (ou logo no início dela) esse trabalho rende os primeiros frutos:

É implantada a 1ª pintura padronizada, todos os ônibus da cidade ficaram em unicolor azul, ainda sem diferenciação por categoria de linha.

Escrito ‘Cidade de Blumenau’ atrás da porta dianteira, pra onde o embarque foi inmvertido.

Outro Incasel da Rodovel (Volvo alongado) na pintura padronizada, ‘Cidade de Blumenau’ a frente. No fundo a logomarca da Rodovel, no mesmo local que era na pintura livre.

Como uma transição, as viações puderam manter suas próprias logomarcas perto da porta traseira, como era na pintura livre.

Além das das citadas acima, entra no sistema a viação Verde Vale, que até então só fazia linhas metropolitanas.

Nesse momento ainda não há integração. Em 1991 começa a construção dos terminais.

Em 1995 são entregues os terminais da Fonte, Garcia e Aterro, dando início a integração, que no início abrangia poucas linhas.

Próxs. 3 fotos: em 1995, com a inauguração dos terminais, vem a 2ª padronização, com diferenciação por categoria; ‘Troncal’ em vermelho – “Cidade de Blumenau” se mantém; a seguir, pela ordem, Alimentadores em azul e Interbairros em verde.

O Terminal da Fonte é o Terminal Central, diferenciado dos terminais dos bairros.

Com os terminais operando vem a segunda padronização de pintura, com diferenciação por categoria, como em Curitiba, Joinville e tantas outras cidades:

Como eu acabei de dizer, o Terminal da Fonte é o Central.

Assim, a cor de cada linha se refere a se o ônibus passa pela Fonte ou não.

Os ônibus se tornam brancos, com uma faixa horizontal indicando o tipo de linha:

Troncal em vermelho, as linhas que ligam o Terminal da Fonte a outros terminais, acima (mais uma vez inspirado em Curitiba, pois aqui os Expressos são vermelhos);

Alimentadores em azul, saem dos terminais e vão pros bairros próximos (nessa primeira etapa inclusive os alimentadores da Fonte, a foto a direita deixa claro);

Interbairros em verde, ligam os terminais sem passar pelo Centro (aqui xerocaram a cor e o nome de seus equivalentes curitibanos).

Ao lado um Comil Interbairros da padronização com fundo branco, imagem raríssima.

No século não haviam celulares ‘inteligentes’, com câmeras embutidas.

Era bem mais caro e difícil tirar fotos com as máquinas fotográficas analógicas.

Como essa padronização de fundo branco foi brevíssima, não deu tempo de muita gente fotografá-la.

Aqui e nas quatro imagens a seguir: 3ª padronização, unicolor com diferenciação por categoria – os troncais viraram amarelos.

Sendo os Interbairros a categoria menos comum só consegui achar esse registro acima.

Pra compensar insiro a foto da miniatura desse mesmo veículo, a esquerda.

1997 é um ano que traz muitas mudanças no transporte da cidade.

Alimentadores e Interbairros permanecem nas mesmas cores do padrão anterior: respectivamente azuis (esse) e verdes (a esq.).

Dizendo mais uma vez, somente dois anos depois da 2ª padronização vem a 3ª pra substituí-la.

Foi quando a frota se tornou novamente unicolor, porém dessa vez ainda dividida conforme a categoria da linha.

Os Troncais passam a ser amarelos (acima). Alimentadores e interbairros seguem azuis e verdes, respectivamente.

É criada a categoria Radial, em bege. Trata-se dos alimentadores do Termina da Fonte.

Os Radiais são integrados. Mas como eles ligam bairros centrais ao terminal central seriam os equivalentes dos Convencionais de Curitiba, por isso ganham sua própria cor.

E como ocorrera em Joinville o ‘Cidade de Blumenau’ se torna apenas ‘Blumenau‘.

É inserida a bandeira municipal, tradição catarinense que também ocorreu em Londrina-PR.

Foi criada a categoria ‘Radial’, em bege.

Em 97 chegam também os primeiros articulados de Blumenau.

A maioria deles recebe a cor amarela, pra linhas troncais.

Entretanto existem também articulados azuis, pras linhas alimentadoras de maior demanda.

Blumenau contou com articulados.

Nesse mesmo ano é criado o modal ‘Alpino’, de micro-ônibus pra atender as vilas no alto dos morros, de difícil acesso pros ônibus grandes.

Em 1999 é inaugurado o Terminal Fortaleza, e em 2003 o Terminal Proeb.

Há planos de fazerem também os terminais Itoupava e Água Verde, mas até o momento que publico a matéria, em 22, ainda são apenas projetos.

Em 2016  a Piracicabana assumiu o transporte blumenauense: no início com ônibus brancos, com a bandeira da cidade.

E assim segue até 2016. Quando a viação Piracicabana, do grupo Constantino (dono da viação aérea Gol) assume o monopólio do transporte municipal blumenauense.

Exclui as 3 viações que operavam a décadas na cidade, a Verde Vale desde 1989, a Glória a mais de 50 anos.

A Verde Vale volta a operar somente linhas metropolitanas, como alias fazia antes de entrar no sistema municipal de Blumenau.

Nos primeiros dias a Piracicabana põe nas ruas ônibus brancos, trazidos de São Paulo. A bandeira de Blumenau é mantida, mesmo nessa fase de improviso.

4ª padronização, toda frota em cinza. Não há mais articulados em Blumenau.

A seguir Piracicabana – agora chamada ‘BluMob’ – implanta a 4ª padronização de pintura: toda a frota se torna cinza, sem distinção por categoria de linha – como era na 1ª padronização.

Os busos são mantidos unicolores, com a bandeira e a inscrição ‘Blumenau’.

Infelizmente Blumenau deixa de contar com articulados. As linhas troncais mais carregadas são feitas por veículo ‘padrão’ alongados, mas sanfonados não mais.

Outro Torino ‘6’ tribus (mesmo modelo da foto anterior), esse clicado no bairro Alameda no último dia de 2021 (*).

Estive em BNU na virada de 2021 pra 22. Ainda havia cobrador em todas as linhas, sendo portanto possível pagar em dinheiro.

Entretanto sendo planejada pra breve a extinção dessa profissão ali também, como vem acontecendo em Curitiba e já é a realidade em tantos lugares.

……….

A 2ª e a 3ª padronizações de Blumenau foram feitas seguindo o modelo de Curitiba.

O ‘interbairros’ inclusive tem o mesmo nome e cor usados na capital do PR. No entanto a 2ª padronização também foi inspirada em Florianópolis.

As imagens valem por muitas palavras. Veja ao lado: Gabriela na padronização EBTU que vigorou dos anos 80 até o meio dos 90.

Agora a direita a padronização adotada em Blumenau em 1995. A semelhança é tão evidente que dispensa explicações.

Um Amélia. Blumenau sempre teve muitos Caios até 2016. De lá pra cá não mais.

Apenas na capital catarinense a faixa colorida indicava a região que a linha servia, enquanto em BNU mostrava a categoria da linha.

IMAGENS DO TRANSPORTE BLUMENAUENSE: encerramos a cidade com diversas tomadas, pra relembrarmos o tempo que já se foi

Começando por Torino 1 Scania da Glória em 3 fases, eixo dianteiro sob o motorista como era costume na época:

Viação Verde Vale:

Diversos modais da região metropolitana de Blumenau:

De volta ao municipal de BNU, pintura livre da Rodovel:

Glória:

Alguns detalhes curiosos da transição entre as padronizações:

A 3ª padronização foi a mais longa de Blumenau: durou 19 anos, de 1997 a 2016.

A atual, cinza, tem 6 anos quando jogo a matéria no ar (em 2022).

Ao lado Torino 3 no Termina do Aterro, que tem esse nome porque foi feito onde antes era um aterro sanitário. Mais imagens da época:

A era Constantino, a partir de 2016.

Próxs. 7 imagens: municipal de Itajaí; esse Veneza na pintura dos anos 70; ao fundo buso já na pintura que veio a seguir.

– ITAJAÍ/BALN. CAMBORIÚ:

‘BONDINHO”, CÓPIA DA PADRONIZAÇÃO DE FLORIANÓPOLIS, E FIM DA OPERAÇÃO DAS VIAÇÕES TRADICIONAIS –

A união de Balneário Camboriú, Itajaí, Navegantes a Camboriú – a “Cidade de Camboriú”, do outro lado da BR-101 é a 4ª maior cidade catarinense.

(Sempre lembrando que o critério é a soma da população das regiões metropolitanas, e não dos municípios isolados.)

Mesmo modelo xerocando a EBTU de Fpolis. .

Há a eterna polêmica se o núcleo dessa R. M. é Itajaí ou Balneário. Não irei aqui entrar nessa disputa.

Me abstenho de opinar sobre qual desses dois municípios é mais importante econômica e culturalmente.

Começo pelo municipal de Itajaí porque esse é indiscutivelmente o município mais populoso da região.

Por décadas operou na cidade a Coletivo Itajaí. Acima a esquerda sua decoração da década de 70.

Como já dito e é notório, no início dos anos 80 quando Florianópolis adotou a padronização EBTU, Itajaí adotou a exata mesma pintura.

Apenas na capital a cor da faixa indicava a região da cidade que a linha servia, enquanto que a Coletivo Itajaí pintou toda frota com faixa laranja.

No letreiro menor está o nº do ‘carro‘, ao invés do nº da linha – tradição catarinense.

De resto ficou idêntico a Fpolis., até a posição onde era escrito o nome da viação e seu logo foi feita ‘ipsis litteris’, inclusive a traseira como mostrado a esq. .

Nos anos 90 a Coletivo Itajaí optou pelo unicolor vermelho (direita).

Detalhe: essa imagem é de 1998, a entrada ainda era pela traseira.

Lemos claramente a palavra ‘saída’ sobre a porta dianteira. Por que então os passageiros sobem por ali?

Não sei. Talvez o veículo não estivesse operando, apenas posando.

Quem sabe fazendo uma viagem promocional, já que a imagem foi extraída da revista da própria viação.

2017: Piedade chega a Itajaí.

Seja como for, o embarque em Itajaí só foi invertido pra frente a partir de 2002, no micro ao lado já nessa configuração.

Vemos claramente a inspiração curitibana. Buso numa cor só, vermelhos como os Expressos daqui. Tem mais:

Com o ‘Cidade de Itajaí’ exatamente onde fica o ‘Cidade de Curitiba’.

A linha vem num papel colado no vidro. Esse improviso na época da lona era comum, mas… com letreiro eletrônico??

Inclusive em 3 camadas e letras minúsculas (exceto as iniciais).

O transporte itajaiense ficaria ainda mais parecido com o da capital do Paraná a partir de 2017.

Em agosto de 17 a TransPiedade de Campo Largo assume no lugar da Coletivo Itajaí.

O fim de uma era. A Coletivo havia cuidado do transporte da cidade por 53 anos.

Em 17 encerrou as atividades, vindo a Piedade substituí-la.

Sequência de 5 tomadas de Baln. Camboriú; começo pelo saudoso ‘bondinho’ cruzando a beira-mar florida (operou até 2020).

Nos primeiros dias com ‘articulados beges (acima a direita), no padrão Comec dos ônibus metropolitanos de Curitiba.

Depois a Piedade passou a usar em Itajaí a pintura do municipal de Campo Largo, amarelo com faixa ondulada cinza (imagem a seguir).

Como alias também acontece nas duas ‘cidades-gêmeas’ da divisa PR/SC – ‘Rio-Mafra’ e ‘Porto União da Vitória’ – e na Grande Blumenau.

Aqui e a dir. : Expressul, antiga viação concessionária de Baln. Camoriú. Havia essa pintura com faixa horizontal e a variante ais ondulada, obviamente remetendo ao mar.

………..

No sistema municipal de Balneário Camboriú igualmente uma empresa do Paraná chegou pra ocupar o lugar da viação local que operava a décadas na cidade.

Alias, pra quem não sabe os moradores da região chamam Baln. Camboriú de “Balneário”, pra diferenciar da “Cidade de Camboriú”.

Até 1964 havia um único município, chamado ‘Camboriú’. Nesse ano houve a cisão.

Os moradores da orla conseguiram a autonomia de seu distrito, batizado “Balneário Camboriú”.

Os turistas se referem a ele simplesmente como “Camboriú”, evidente. Como há outro município com esse nome, é preciso esclarecer:

Quem é da região chama o município a beira-mar de “Balneário” e o atual subúrbio, antiga sede do município original, de “Cidade de Camboriú“, não custa repetir mais uma vez.

Aqui e a seguir: BC Coletivo, atua desde 2021.

De qualquer forma, o transporte municipal do Balneário ficava a cargo da empresa Expressul.

Já as linhas metropolitanas na região são de responsabilidade das viações Praiana e CTT – Camboriú Transporte & Turismo – ambas unicolores em amarelo e azul, respectivamente.

Enquanto que a Expressul decorava sua frota com ‘saia’ azul-clara e ‘blusa’ branca. Curiosamente igual a viações de Lages, Laguna e (no passado) Florianópolis.

Havia inclusive o ‘Bondinho’ na linha que percorria as praias urbanas, carreta que puxava carroceria de ônibus.

Na verdade uma versão moderna do ‘Papa-Filas’ que marcou época nas cidades brasileiras dos anos 50 e 60.

Esse e a dir. 2 Busscar metropolitanos, que ligam a Cid. de Camboriú a Itajaí via Balneário. Em amarelo a Praiana, que opera metropolitano e suburbano. Pra quem não sabe a diferença, ‘metropolitano’ é uma linha urbana, cruza divisas municipais dentro da mesma cidade. Já o modal ‘suburbano’ liga cidades um pouco próximas, mas que não são da mesma região metropolitana. Os veículos têm 2 (ou 3) portas, catracas e bancos duros, mas pegam rodovias e os pontos finais são geralmente nas rodoviárias. A Praiana tem linhas suburbanas conectando diversas cidades do Litoral Norte catarinense.

O ‘bondinho’ de Baln. Camboriú era como se fosse a ‘Linha Turismo’ da cidade.

Tinha tarifa mais cara, pois era considerado de categoria seletiva ou opcional, e não transporte diário da classe trabalhadora.

Bem, o público-alvo eram mesmo os turistas, que não se importam de pagar um pouco a mais pra ter uma experiência diferente.

Era exatamente isso que esse modal proporcionava, uma viagem lúdica margeando o mar.

Porém a Expressul encerrou as atividades em 2020 (por conta da epidemia de corona-vírus, assunto polêmico que não iremos debater aqui).

E quando ela baixou as portas o ‘bondinho’ foi extinto, infelizmente.

Em azul a Camboriú Transporte & Turismo.

Por alguns meses Baln. Camboriú ficou sem transporte municipal.

As linhas metropolitanas pros vizinhos municípios de Camboriú e Itajaí foram ampliadas pra atenderem todos os bairros do Balneário.

Em 2021 a viação PGTur, de Palotina-PR assume as linhas municipais do Balneário, sob o nome de ‘BC Coletivo’.

……..

A Caio, digo de novo, sempre teve forte presença no Norte de SC:

Mais imagens dos ônibus da Grande Itajaí/Baln. Camboriú, diversos modais:

O Tigre, destaquei o escudo em amarelo.

CRICIÚMA:

PADRONIZAÇÃO POR CATEGORIA AINDA VIGENTE –

Abrimos a seção sobre a maior cidade do Sul do estado com uma foto de futebol. Destaquei o escudo do Criciúma E.C. .

Não sou torcedor do Tigre, portanto não inicie aqui uma discussão clubística, pois não é o espaço pra tanto. Nosso foco é o transporte coletivo criciumense, e não o time.

Inseri essa imagem apenas pra mostrar que esse símbolo, muito mais que ser o escudo do clube, é (com outras cores) o logotipo da cidade de Criciúma.

Posando no Centro um belo Torino ‘1’ da Viação Forquilhinha na pintura livre (prov.) nos anos 80, já presente o logotipo da cidade – que o clube adaptou como sua insígnia.

Por isso presente em seus ônibus por um bom tempo, desde a pintura livre até pouco tempo atrás, já na atual padronização. Veja ao lado, inclusive destaquei na parte inferior esquerda da imagem.

A diferença é que no time as figuras geométricas são amarelas, e no símbolo municipal verdes, vermelha e negra.

Isto posto, vamos centrar fogo nos ônibus, afinal é pra isso que estamos aqui.

Além desse a direita, mais exemplos da pintura livre nas viações Forquilhinha e Rio Maina, que eram do mesmo grupo.

Viação Critur:

Nas próxs. três fotos a 1ª padronização de Criciúma, com o nome da cidade na lateral: em vermelho a viação Rio Maina, esse um Torino ‘2’; na imagem a seguir, em verde, a Critur.

Em setembro de 1996 Criciúma inaugura 3 terminais de ônibus.

O Central e dois nos bairros Pinheirinho e Próspera.

Dando nessa ocasião início ao seu sistema integrado.

Outros 2 terminais, no Rio Maina e Primeira Linha, foram planejados mas não saíram do papel.

Pra marcar a ocasião a pintura dos ônibus é padronizada (como ocorreu em Blumenau um ano antes).

No começo em alguns casos o letreiro indicava ‘Linha Integrada(ao lado).

O itinerário mesmo vinha numa placa no vidro, destaquei no detalhe.

Na primeira padronização, os busos ficaram com uma ‘saia’ colorida e ‘blusa’ branca.

Forquilhinha permaneceu azul: outro Torino ‘2’ alongado, esse mais novo que o mostrado um pouco acima de lado; repare nas faixas verticais na frente do busão.

A pintura é similar aquela que as viações Forquilhinha e Rio Maina já usavam, sendo apenas retiradas as faixas verticais.

A Forquilhinha já usava ‘saia’ azul, e a Rio Maina Vermelha.

A Critur adotou então o verde pra parte de baixo da lataria.

O nome das empresas, que era escrito em destaque, deu lugar a inscrição ‘Criciúma’ no meio do veículo.

A viação passou então a vir grafada bem menor, sob o número do ‘carro’.

Mesmo modelo, linha e viação da tomada anterior, ainda na pintura livre e com o logotipo da cidade na traseira.

Criciúma também teve um modelo intermediário de transição entre a pintura livre a e as padronizada, como aconteceu no Rio Grande sio Sul e no Piauí.

Vendo é mais fácil entender que explicando. Ao lado Torino ‘2’ Scania alongado da Forquilhinha ainda na pintura livre.

Com faixas verticais na lateral e na parte frontal do veículo. Acima já na padronização: as faixas verticais laterais se foram, mas a frontais ainda estão ali.

Não deveriam estar. É um detalhe herdado da decoração própria da empresa, indicando a recente mudança.

Thamco metropolitano, por isso com o nome da viação ao invés da cidade. Usa a mesma pintura padronizada municipal pra facilitar o intercâmbio entre os modais.

Alias as imagens deixam claro que a pintura padronizada foi inspirada naquela que a Forquilhinha e Rio Maina já utilizavam.

Outro detalhe: desde a pintura livre e até hoje as viações de Criciúma pintam as rodas combinando com o resto do ônibus.

Um capricho, que como já veremos se repete também em Lages, cidade que fica a apenas 200 km de Criciúma.

Um exemplo de cada viação na época da primeira padronização:

Troncal, amarelo. Até as rodas nessa cor.

Posteriormente Criciúma optou por fazer uma padronização similar a de Curitiba.

Ainda em vigor (escrito em 2022). Ônibus unicolores conforme a categoria da linha:

Os troncais em amarelo (direita), e demais linhas em branco (abaixo).

O troncal é o equivalente ao ‘Expresso’ curitibano. Feito por veículos pesados, inclusive articulados.

Os demais ônibus em branco. Aqui um Alimentador Comil no terminal.

O veículos amarelos têm portas elevadas dos dois lados, pra embarque nas plataformas próprias nos terminais e estações, enquanto que nos brancos são portas normais, ao nível do solo.

Como nota nas imagens ao lado e acima, no começo da 2ª padronização mais uma vez adicionaram na lataria o logotipo da cidade.

Esse detalhe atualmente foi abandonado. A inscrição ‘Criciúma’ se mantém desde 1996 até hoje.

Mais cenas do transporte na Grande Criciúma:

Chapecó é a maior cidade do Oeste catarinense, e a 6ª do estado inteiro.

Já fiz matéria específica sobre ela, onde damos uma palhinha até na vizinha Xanxerê.

Então aqui aqui vai apenas um breve apanhado. Em Chapecó circulou o primeiro articulado do estado, em 1988.

A atual Auto Viação Chapecó anteriormente se chamava “Lotação Chapecó“.

Um Volvo Marcopolo Torino ‘1’, que veio usado de Porto Alegre (dir.), não custa repetir.

Sim, eu sei. A Marcopolo diz que esse modelo não é Torino, mas São Remo (“San Remo”, eu traduzo tudo pro português.

No entanto ele é muito mais parecido com o Torino que com o São Remo, então eu digo dessa forma.

Seja como for, antes de adotar o amarelo na década de 80 a pintura da Auto Viação Chapecó era como vemos a direita nesse Veneza:

Vermelho embaixo e bege em cima, com uma pequena faixa azul pra contrastar.

Depois que ela aderiu a “Febre Amarela” que tomou conta de Stª Catarina.

Atualmente o tom escureceu um pouco (ao lado), ficando parecido com os  Convencionais de Curitiba.

Aqui e a dir. : Transul em Lages, as rodas estão sempre na mesma cor do veículo.

Lages, no entroncamento das BR’s 116 e 282, é uma das cidades mais frias do Brasil.

O transporte coletivo lageano fica a cargo da viação Transul.

Anteriormente, entre os anos 70 e 80 essa era sua pintura, laranja e branco.

A direita um Urbanus já na decoração que a empresa usa até hoje, azul-claro no lugar do laranja.

Nevando forte em Lages, encobriu o letreiro.

Nos anos 90 a Transul começou a operar na capital, com o nome de Transol, nessa exata mesma pintura.

Quebrando assim a padronização EBTU de Florianópolis, como falamos acima.

Mais tomadas da Transul, desde a época que a viação tinha Caios até o momento atual, quando sua frota é 100% Marcopolo.

Próxs. 3: ônibus bi-modal em Porto União da Vitória. Na rua veículo normal, com pneus.

O TRANSPORTE NAS “CIDADES-GÊMEAS”:

DO ‘BIS-BUS’ RODO-FERROVIÁRIO AO TEMPO DE PIEDADE –

Em 1995, surgiu na cidade-gêmea ‘Porto União da Vitória (P.U.V. – Porto União-SC/União da Vitória/PR) o Bis-Bus.

Um veículo rodo-ferroviário. Ônibus normal, que anda nas ruas, com pneus (esq.).

Só que com algo mais. Ao se posicionar sobre um trilho de trem, o motorista aciona uma alavanca e’, ‘voilá’:

O negócio se transforma numa litorina (um mini-trem, em que o único vagão é também a locomotiva, dir.).

Assim ele podia utilizar a ferrovia da (então) RFFSA, que corta a cidade-gêmea, e que só é usado por trens uma vez ao dia.

Com muita tristeza temos que relatar que em breve o Bis-Bus foi abandonado.

Veja ao lado o que sobrou dele. Pois infelizmente o trabalho desses pioneiros não foi compreendido. Alias como frequentemente acontece na humanidade.

Assim só foi feito mesmo esse único exemplar experimental.

Não houve continuidade no projeto. Nem nessa e muito menos em outras cidades.

Aproveitando o embalo, vamos relembrar os tempos da Viação União. Ela quem operava o curioso ônibus-trem que acabamos de falar.

Acima um velho Veneza ‘1’, nos anos 80/90, usando a pintura de Curitiba, o que é bastante frequente em Stª Catarina.

Com propaganda na lateral, muito comum no Brasil a época. Hoje isso foi extinto em todo país praticamente, exceto em SC mesmo.

Depois a mesma União usou essa pintura inteira vermelha.

Agora os ônibus atuais de ‘Porto União da Vitória‘. Esse ao lado em Porto União/SC, (prov.) no Term. Urbano.

A pintura é a mesma do municipal de Campo Largo. Pois são da Viação Piedade (ali sediada, pertence ao grupo das viações C. Largo/Tamandaré), não custa enfatizar mais uma vez.

Alias o mesmo se repete em Rio-Mafra. Ali (como em P.U.V.) há ônibus urbano inter-estadual.

Antigamente o transporte era operado pela Viação Santa Clara, que era dali mesmo.

Os busões eram unicolores em 2 tons, cinza (ao lado) ou branco (abaixo). Porém a Piedade assumiu o transporte rio-mafrense.

Por isso agora os ônibus da cidade têm a mesma pintura de Curitiba e R.M.:

Inteira amarela como mostrei no começo da matéria ou no mesmo tom mas com uma faixa ondulada cinza, logo a seguir.

A viação que circula agora em Rio-Mafra continua se chamando ‘Santa Clara’.

Entretanto agora é só um nome-fantasia, o dono é a Piedade de Campo Largo.

A esquerda um Comil dessa forma, foto (prov.) em frente ao Portal de Rio Negro..

Mais um exemplo dos “Busões Curitibanos Brasil Afora”.

E como vão com a pintura original, mais uma vez de “Tabela Trocada”.

Nesse caso específico de Rio-Mafra alguns nem sequer foram re-emplacados:

Operam na Divisa PR/SC ainda ostentando o nome “PR-Campo Largo” no licenciamento.

Como também acontece na Grande Blumenau, já registramos mais pro alto na página.

………

Fechamos com algumas cenas do interior de Santa Catarina.

A direita, agora de costas, o São Remo da Coletivo Urubici, viação que imitou a pintura da Coletivo Itajaí, que já havia xerocado a Grande Florianópolis.

A esquerda Nimbus-TR-3 fabricado em 1976 permanece na ativa em 2016, em Urussanga.

40 anos de pista! E contando, quando foi feita essa foto ainda rodava.

Agora um Reunidas, tradicional viação de SC que opera inclusive metropolitano/suburbano na Gde. Curitiba.

Casa de madeira ao fundo, só pode ser no Sul do Brasil (antigo registro do Ministério dos Transportes, antes da ANTT: ‘ETC‘ quer dizer ‘Empresa da Transporte de Cargas’).

Enquanto era permitido nessa pintura branca com faixa vermelha, agora no padrão unicolor bege da Comec.

Da mesma Reunidas e contemporâneo, daí igual logotipo (atualmente modificado) e faixa vermelha, caminhão 11-13 Mercedes da Reunidas. Vencendo a neve (prov.) na Serra Catarinense.

A nevasca não é tão intensa quanto aquela que enfrentou seu colega na Argentina, nem os Volvos na Escandinávia, ou o Jacaré Scania na China. Ainda assim, está bem frio…

“Deus proverá”

2 linhas de metrô, sistema de ônibus renovado, elevadores, e breve corredores, articulados e VLT: o transporte em Salvador

Salvador, atual: transporte que se moderniza.

INTEGRA A “ENCICLOPÉDIA DO TRANSPORTE URBANO BRASILEIRO

Por Maurílio Mendes, O Mensageiro.

Publicado em 22/04/22.

Maioria das fotos baixadas da internet. Créditos mantidos sempre que impressos nas mesmas.

As que forem de minha autoria identifico com um asterisco ‘(*)’, como visto abaixo a esquerda.

Salvador no século 20: uma dura realidade!

Salvador passa por um renascimento, como alias já comentei nas matérias anteriores da série.

No transporte coletivo o mesmo se dá, é o exemplo da retomada da cidade ao destaque que merece.

Na primeira parte do texto falaremos desse re-erguimento digno de uma fênix.

Padronização ‘Integra Salvador’, de 2015, a 1ª da cidade (*): Melhorou bastante o sistema de transportes (implantada junto com o metrô).

A seguir contaremos um pouco da história do transporte soteropolitano no século, relembrando detalhes pouco conhecidos.

PARTE 1: SALVADOR, CIDADE-MODELO DO TRANSPORTE BRASILEIRO –

Óbvio que muita coisa há ainda por ser feita. Evidente que sim.

Ainda assim, comparando como era a pouquíssimos anos atrás (escrevo em 22) não há como negar que houve avanços significativos.

Mapa do ‘Integra’: a cidade foi dividida em 3 zonas: Orla, Miolo e Subúrbio; os busões têm a cor da respectiva região.

Pela maior parte do século 20 e início do 21 a mobilidade urbana soteropolitana era bastante precária.

Isso pra dizer o mínimo. A foto em preto-&-branco acima resume bem a situação.

Quando estive lá em 2020 o quadro já era bem diferente, após a inauguração de 2 linhas de metrô e a revolução no sistema de ônibus do ‘Integra Salvador’.

Ambos os movimentos são parte de um único processo, já que com uma passagem você pode usar 1 vez o metrô e 2 o ônibus.

Próxs. 2: a partir do fim dos anos 90 houve a “padronização branca“: era pintura livre, mas voluntariamente quase todas as viações optaram por deixar a frota assim, toda alva.

E isso inclui a Grande Salvador. Podem ser 2 viagens municipais da capital, ou um municipal e um inter-municipal.

Ou seja, não importa onde você mora, se no município de Salvador ou num subúrbio metropolitano.

Com uma só passagem você chega da sua casa a estação de metrô, faz o grosso do deslocamento no modal sobre trilhos, e aí pega mais um busão pra chegar ao trabalho.

Tudo isso pagando somente uma vez, e a mesma tarifa que já pagaria num único deslocamento de ônibus.

Perdurou até 2015, quando a pintura ‘Integra SSA’ injetou de novo cor nos busões baianos.

Além disso, diversos terminais foram construídos nas estações de metrô.

As linhas de ônibus seccionadas ali pra que a população migre pro modal sobre trilhos.

O que faz todo sentido em termos de trânsito e poluição.

Vai ficar melhor ainda. A linha 1 do metrô ainda ganhará mais 2 estações, até Cajazeiras.

2016: amarelo, verde e azul, regiões do ‘Integra Salvador‘. No começo todos os ônibus traziam faixas menores no teto com as outras 2 cores, detalhe que está sendo abandonado; e vemos um ex-BTU vermelho ainda na pintura livre.

Uma medida que assim que concluída melhorará bastante a mobilidade do subúrbio, tanto municipal quanto metropolitano.

As linhas serão seccionadas ali, se tornando alimentadoras do metrô.

Só que além disso a Rodoviária sairá da Zona Central e também será transferida pra um novo prédio ao lado da estação de metrô.

Num processo idêntico ao que ocorreu em Brasília-DF e outros lugares.

Várias viações metropolitanas continuam pintando a frota inteira de branco, pois ali ainda é pintura livre (*). Nos destaques a tarifa (valor de 2020, foto datada) e a placa que mostra todo o itinerário logo no para-brisas, tradição que Belém/PA também mantém (no passado o Rio idem).

Com isso mais algumas centenas de ônibus por dia (nesse caso os rodoviários) não mais adentrarão os bairros centrais.

Gerando menos congestionamento e queima de dísel na cidade.

Se tudo fosse pouco, o antigo trem suburbano foi desativado pra dar lugar ao VLT.

E transversalmente as linhas de metrô e (futuro) VLT virão os corredores de BRT, que serão operados por articulados.

Formando uma malha de dar inveja, ao menos pras cidades de mesmo porte fora da Europa e Ásia.

Anos 60: tróleibus em frente ao Elevador Lacerda, cartão postal mais famosos de Salvador. A seguir nos anos 90 Thamco da Joevanza no mesmo local, ainda pintura livre.

………

Salvador é uma península. Uma geografia bem peculiar.

O que faz com que os subúrbios da Grande Salvador sejam muito distantes do polo de empregos, que evidentemente é a parte turística mais central.

A massa de terra que a cidade ocupa é comprida no sentido norte-sul e curta no sentido leste-oeste.

Comprida e estreita, resumindo. Muito mais gente viaja do norte pro sul de manhã (vice-versa a tarde) que entre o leste e o oeste.

Então. Já existem 2 linhas de metrô, e breve virá a de VLT.

3 ramais sobre trilhos, correndo paralelamente entre si, da periferia pra área central, que concentra maior demanda.

Atendendo todas as ‘zonas’ de Salvador: Subúrbio Ferroviário, Miolo e Orla.

E inter-ligando as orlas, do Atlântico e da Baía, em breve o BRT – cumprindo o sentido leste-oeste.

Perfeito. Sobre trilhos a demanda principal, sobre pneus como alimentador do sistema de trilhos.

Antes do metrô ir de Lauro de Freitas ou Simões Filho até a Orla diariamente numa migração pendular laboral era bem complicado.

De Camaçari ainda mais, e daí pra frente o sacrifício se torna cada vez maior.

Menos conhecidos dos turistas são os ‘planos inclinados’ – elevadores que correm na diagonal. Há propaganda dos corredores de ‘BRT‘ que estão sendo construídos.

Bem caro esse deslocamento, se o meio escolhido for automóvel próprio – que muitos trabalhadores braçais nem sequer possuem.

De ônibus sai mais em conta, mas é preciso enfrentar uma viagem desconfortável e demorada.

Agora, desde 2014, Salvador conta com metrô, o que facilitou e muito a vida de quem utiliza transporte coletivo.

Próximas 5: o metrô em ação.

Sua mobilidade urbana melhorou bastante na última década (texto de 2022).

Em junho de 2014, sendo mais específico, Salvador se tornou a 3ª cidade do Nordeste a contar com metrô, após o Recife-PE (1985) e Fortaleza-CE (2012).

Voltando a Bahia, a inauguração foi bem a tempo pra Copa do Mundo de 2014 – a qual Salvador foi uma das sedes.

As obras atrasaram bastante, mudaram de esfera . . . mas após 17 anos de espera enfim saiu! Eis o bichão chegando a estação (*).

Logo antes dos jogos começou a operar a 1ª linha do metrô de Salvador, com 4 estações.

Pelo próximo ano e meio, até o fim de 2015, a Linha 1 foi aumentada até atingir seu atual trajeto, que conta com 8 paradas.

Ainda será ampliada em mais alguns quilômetros em direção ao subúrbio.

Em dezembro de 2016 veio a linha 2, próxima a Orla, cujo ponto final por enquanto é no Aeroporto 2 de Julho (o chamo por seu nome antigo).

Mapa da rede (*): em vermelho a Linha 1, azul a 2, em cinza futuras expansões.

E em breve a linha de trem suburbano que corria na margem da Baía de Todos os Santos será modernizada pra VLT – Veículo Leve sobre Trilhos, o ‘metrô leve’.

Esse trem foi desativado em fevereiro de 2021, pra dar lugar as obras dos trilhos e estações do VLT. 

Não era sem tempo, o trem funcionava de forma bastante precária.

Tanto que a tarifa no seu encerramento de atividades era apenas R$ 0,50 (sim, cinquenta centavos), senão ninguém utilizava.

No destaque o cartão-transporte (*).

Quando o VLT estiver pronto, aí sim a cidade contará com 3 linhas ferroviárias paralelas de qualidade:

Uma na Baía, outra no Miolo e mais uma na Orla. Vai ficar bom.

A rede de ônibus também foi e continua sendo bastante modernizada. Então nos basta ter isso em mente: 

Panorâmica mostra a composição chegando a estação. Nos destaques: os contrastes da cidade, periferia no morro ao lado de prédios de classe média ao fundo; além disso vemos que os ônibus estavam em transição, o azul e branco já padronizado, o azul e vermelho ainda na pintura livre, e um branco atrás (prov.) metropolitano.

Do meio da década de 10 pra cá a situação da mobilidade urbana em Salvador se modernizou bastante, processo que ainda prossegue.

No entanto, por todo século 20 e também na primeira década do novo milênio o transporte coletivo da capital baiana deixava a desejar, pra dizer o mínimo.

Então some tudo: a cidade é estreita e é uma das maiores metrópoles do Brasil a décadas.

Tem pouco terreno disponível pra novo loteamentos, especialmente de padrão popular.

A região metropolitana é distante, e até pouco tempo atrás o deslocamento entre as cidades-dormitório e os polos mais abastados era bastante difícil.

Micrões do STEC – Sub-sistema de Transp. Especial Complementar (*).  Peguei um desses pra ir de Itapoã a Lagoa de Abaeté.

Resultando que as pessoas preferem morar no município de Salvador mesmo.

A periferia municipal já é distante da Orla e do Centro, onde estão os empregos.

A periferia metropolitana, então, é ainda mais distante. A preferência é morar na capital.

nos seus primeiros séculos a Costa Atlântica era um local distante, pouco povoada.

Salvador se desenvolvia em volta da Baía da Todos os Santos.

Ainda há vans na ativa (*). Na traseira de uma, além da linha “B. Vista – S. Caetano”, a curiosa inscrição: “Papito 100%“.

Até fins do século 19 e começo do 20, a Praia da Ribeira, ali localizada, era o reduto da elite e alta burguesia da capital baiana.

Até hoje vemos imponentes casarões na beira-mar da Ribeira que atestam esse passado de luxo.

Porém o século 20 trouxe grande progresso material ao planeta, como todos sabem.

A chegada do automóvel e a construção e melhoria das vias públicas possibilitou que a cidade se expandisse cada vez mais rumo a costa de mar aberto.

Próxs. 10: trem suburbano, operou até 2021.

Além disso, a pirataria deixou de ser um problema como fora em tempos anteriores.

Assim, os moradores mais abastados foram deixando a orla ocidental soteropolitana, a da Baía, e se instalando na orla oriental, a Atlântica.

Com isso, as duas costas de Salvador passaram a expressar uma dicotomia cada vez mais aguda.

Fachada da Estação Calçada – a Central da linha (*). Destaquei a estátua a Lauro de Freitas, que nomeia município da Gde. SSA.

A parte aburguesada no oceano, a porção da baía foi se tornando cada vez mais a periferia da cidade.

Por quase 5 anos, de 2016 a 2021, esse contraste podia ser visto até no transporte:

Na Costa Atlântica existe um moderno metrô, construído sobre a Avenida Paralela.

Enquanto que a outra costa, a da Baía, contava até pouco tempo atrás com um trem de subúrbio que funcionava em estado, digamos, longe do ideal.

Plataforma de embarque (*).

Por isso os bairros as margens dessas praias são conhecidos em Salvador como “Subúrbio Ferroviário”.

Em fevereiro de 2021 esse trem foi aposentado pra dar lugar a um moderno VLT. Aí sim!

Quando o VLT estiver pronto os bairros do ‘Subúrbio’ terão acesso a um transporte de qualidade, já disponível no Miolo e Orla com as 2 linhas de metrô.

Cartaz na estação contando a história e os planos pro futuro (*).

Os primeiros vagões, fabricados na China, tem previsão de chegada ao Brasil em abril de 21.

Veremos quando serão concluídas as obras dos trilhos e estações do VLT – as do metrô atrasaram bastante.

Seja como for, em algum momento dessa década de 20 que se inicia (publicado em 2022, lembrando) o VLT estará em funcionamento. Que assim seja!

Porque olhe, o pessoal do ‘Subúrbio Ferroviário’ merece um transporte de qualidade.

O trem suburbano que o nomeia era totalmente precário, deixava a desejar em muito.

Tive a oportunidade de andar nele num de seus últimos meses de funcionamento.

Basta dizer que a tarifa era irrisória, somente R$ 0,50. Sim, cinquenta centavos.

De 1957 a 1988 os trens de Salvador ficaram por conta da RFFSA – no destaque o logotipo dela e da EBTU (essa foto é de 1991, quem operava já era a CBTU mas ainda não havia repintado todos os equipamentos).

E mesmo assim ainda tinha o benefício de meia-passagem pra estudantes!

Era cobrado algum valor apenas pra não dizerem que era de graça.

E mesmo com todo o subsídio pra cobrar esse preço simbólico, que obviamente não cobre os custos, o movimento era baixíssimo.

O trem era sub-utilizado, exatamente porque a qualidade dos serviços era precária

Em 1992 redecorados pra CBTU – que cuidou do trens soteropolitanos de 1988 a 2005 – grades na janela pra evitar apedrejamentos, igual ocorre na África do Sul e Argentina.

Pra você ter uma ideia, o intervalo entre as viagens era de 40 a 45 minutos.]

Só pegavam trem os que quase não têm recurso e não podiam arcar com o ônibus.

(Em 2021, quando escrevi esse texto, a tarifa em Salvador custava R$ 4,20 – como comparação em Curitiba é 4,50, e em SP 4,40;

Em 2022 o ônibus em Curitiba foi pra 5,50, e em Salvador agora é 4,40.

Tomada de 2020: a CBTU já encerrara as operações em Salvador há 15 anos; mas uma composição abandonada na Estação Calçada ainda ostentava suas cores (*).

Mesmo valor de SP, onde não houve aumento até o momento que publico a mensagem.)

Então, como dito, na 2ª metade dos anos 10 o contraste entre as costas da cidade era expresso até nos modais sobre trilhos, que não poderiam ser mais distintos:

Na Orla (e também no Miolo) metrô com ar-condicionado, de domingo a domingo.

Intervalo entre as viagens de cerca de 6 minutos no meio do dia (3 no pico).

De 2005 a 2013 a cargo da prefeitura, que pra isso criou a CTS – Cia. de Trens de Salvador.

Com a imensa vantagem que as estações e trens são seguros, bem policiados.

Sim, a tarifa custa 4,40. Mas pagando com cartão dá direito a uma viagem de metrô e duas de ônibus, municipais ou metropolitanos.

Se fosse somente de ônibus, o usuário já pagaria os mesmos 4,40.

Ou seja, pega um ônibus perto de casa até a estação do metrô.

De 13 até o encerramento das atividades em 21 a responsável era a CTB – Cia. de Trens da Bahia, do governo estadual (*).

Dali percorre de forma rápida, segura e relativamente confortável o trecho mais longo.

E ao descer na estação pega outro buso que o deixa no trabalho. 

No Subúrbio Ferroviário a situação era diametralmente oposta:

A única vantagem do antigo meio de transporte era o preço, praticamente gratuito.

Grafite na lataria (*).

Sabe aquele ditado ‘não paga, mas também não leva’? Com o trem suburbano de Salvador era o mesmo.

Pagava-se muito pouco pela tarifa, verdade. Com uma moeda de R$ 1 você ia e voltava.

Em compensação, não tinha integração com ônibus nem metrô.

Passado: velha maria-fumaça mantida como recordação (*). No destaque o horário de partida do trem e a tarifa, somente R$ 0,50.

Se precisasse mais uma condução pagava de novoe a maioria precisava.

Difícil quem more e também trabalhe ao lado da estação, aí o trem já saía mais caro que o metrô/ônibus.

Mesmo quem usava só o trem, o custo era baixo mais a qualidade do serviço idem.

40 minutos de espera entre as viagens, ou mais. Veja ao lado:

Futuro: 1º trem do VLT, pronto em 2021 (foto ainda na China, onde foi fabricado).

Há até cartazes na estação indicando quando sai o próximo trem.

Assim as pessoas podem dar uma volta, tomar um sorvete, e voltar dentro de meia-hora em muitos casos.

(Passei pessoalmente por isso em João Pessoa-PB em 2013.

Iria retornar a capital do subúrbio de Santa Rita na Zona Oeste.

Próximas. 4 fotos: padronização Integra Salvador, que foi implantada em 2015: azul nas linhas da orla – esse Marcopolo foi clicado no Terminal da Lapa (*).

Li então no aviso que ainda faltava praticamente uma hora.

Andei um pouco pela cidade, tirei mais fotos, pra só depois voltar a bilheteria.)

Voltando a Salvador. Longa espera. Pra embarcar num vagão sem ar-condicionado – é sabido que a capital baiana é bem quente.

Pra não falar que da insegurança, assaltos e apedrejamentos eram frequentes.

Micro Agrale/Neobus em verde, nos bairros do Miolo; atrás clássico 11-13 Mercedão.

No começo dos anos 90 o trem já havia deixado de operar aos domingos justamente porque a população que voltava das praias depredava as composições e estações.

O movimento era muito baixo. Apenas os que não podiam arcar com o ônibus, iam de trem. Quem podia preferia viajar de busão.

Se o modal sobre trilhos, mesmo sendo quase gratuito e mais rápido que o sobre pneus, não consegue competir com este último algo está errado.

Em amarelo no ‘Subúrbio Ferroviário‘ (*). Tem ar-condicionado, mas de janelas abertas não adianta nada, o aparelho não refrigera o ambiente; fotografei o mesmo no Rio.

É porque o serviço deixa a desejar. No trem suburbano de Salvador era de fato assim.

Presenciei exatamente igual na África do Sul – as grandes cidades desse país têm uma extensa rede de trens urbanos, chamada ‘MetroRail’.

Só que quase ninguém usa, exceto aqueles pra quem até uma moeda faz falta, todos os demais vão de van (preferencialmente) ou de ônibus pro trabalho.

Voltando ao próprio Nordeste, já disse acima que andei nos trens suburbanos de João Pessoa (2013); e também no de Fortaleza (2011).

Nessa praça em Ondina consegui enquadrar as 3 cores na numa só tomada (*).

Idem: barato, mas operando de hora em hora praticamente, bastante sub-utilizado.

A capital do Ceará tinha duas linhas nessas situação. A Linha Oeste, que vai pro Conjunto Ceará e a seguir Caucaia, continua dessa forma.

No entanto a Linha Sul, que passa por Maracanaú e tem o ponto final em Pacatuba, foi transformada em metrô.

Os metropolitanos seguem em pintura livre; mas a BTM (antiga BTU) adotou um ‘xerox’ do municipal, na cor vermelha (*).

Isso uma década antes de Salvador fazer o mesmo movimento. Como dito e todos saem, o metrô fortalezense é de 2012.

Estive no Ceará em agosto de 2011, um pouco antes. O metrô estava em fase final de obras, não pude utilizá-lo.

Fui de trem até Caucaia, entretanto. Cheguei sábado de manhã a Estação Central.

Se na bilheteria havia algum cartaz avisando o horário da viagem eu não reparei, paguei a passagem e entrei.

Beira-mar na orla do Atlântico (*). Ônibus municipal azul, metropolitano vermelho e 2 ‘Jipes’ – ‘Jeep’, no original. Uma cidade de contrastes: um utilitário dessa marca custa perto de R$ 100 mil, até 150 mil se 0km a dísel (isso quando US$ 1 = R$ 5,50).

A composição acabara de partir. Tive que esperar uma hora pela próxima viagem.

Sendo que a maior parte do tempo fiquei praticamente sozinho na estação, acompanhado apenas pelo segurança.

Espero que essa linha pra Caucaia também seja melhorada pra metrô, em breve.

PARTE 2, SÉCULO 20:

TREM DE SUBÚRBIO, TRÓLEIBUS, VIAÇÃO ESTATAL, Nº DA LINHA EM VERMELHO, “PADRONIZAÇÃO BRANCA”;

É costume antigo em Salvador escrever parte do itinerário com giz na para-brisas. Essa foto deve ser dos anos 80 (ou mesmo 70).

E AS 1ªs TENTATIVAS DE PADRONIZAÇÃO E HIERARQUIZAÇÃO DAS LINHAS –

O trem suburbano de Salvador foi inaugurado em 1860. Foi a 5ª ferrovia do Brasil. Operou por 160 anos, até o começo de 2021.

O projeto é de 1853, a obra começou em 1856 e o trecho urbano, que já passou a servir o subúrbio, foi inaugurado em 1860, como dito.

Mesmo bem recentemente – até a padronização em 2015 – a tradição se manteve (viação União inteira alva, uma das muitas que “embranqueceu” a frota).

Em 1896 chegou a Juazeiro, no interior da Bahia e divisa com Petrolina/Pernambuco.

Entre 1937 e 53 foi duplicada, permitindo dessa forma viagens com maior frequência, pois as composições poderiam então se cruzar vindo em sentidos opostos.

A linha de trem foi eletrificada em 1948, melhoramento que ajudou os bairros do entorno, que até então não contavam com luz elétrica.

O mais curioso é que o trem de subúrbio soteropolitano já pertenceu a todas esferas administrativas: federal, estadual e municipal.

Na região metropolitana ainda é assim –  está escrito todo o itinerário, não apenas o nome da linha (esse é de Camaçari).

Em 1957 passou a ser parte da malha da RFFSA (Rede Ferroviária Federal S.A).

Em 1988 foi transferida pra CBTU (permaneceu na mesma esfera, pois essa é outra estatal da União).

Em 2005 foi municipalizada, mudando pra CTS – Cia. de Trens de Salvador, da prefeitura.

Enquanto que em 2013 se tornou responsabilidade da CTB – Cia. de Trens da Bahia, do governo do estado.

A partir dos anos 80 o nº da linha vinha em vermelho, em todas as viações.

Uma gloriosa história. Que terá continuidade com a inauguração do VLT.

(Nota: não confunda a CBTU com a EBTU. A 1ª é a Cia. Brasileira de Trens Urbanos.

Ainda existe, e como o nome indica opera somente o modal ferroviário.

É responsável pelos trens de subúrbio [as vezes chamados de ‘metrô] em Belo Horizonte-MG, Recife, João Pessoa [esses 3 já tive a oportunidade de andar], Natal-RN e Maceió-AL.

Nos Thamcos em manutenção na garagem as 2 características: código numérico em rubro e parte do itinerário feito a mão no vidro.

Enquanto que a EBTU era outra estatal da união, a Empresa Brasileira de Transportes Urbanos.

Existiu de 1975 a 1991, já extinta a muito portanto. Nos anos 80 a EBTU investiu muito em sistemas de trens, tróleibus e ônibus a dísel no Brasil.

Por isso seu logo aparecia ao lado do da RFFSA não apenas em Salvador mas também no Rio.

E nos ônibus de Salvador, Brasília, Porto Alegre-RS, Recife, Santos e Ribeirão Preto (SP), entre muitas outras cidades.)

1981: informações já eram complementadas com giz; um Aratu, fabricado na Bahia mesmo. ‘Buzu’ 4068-B, pois em 1972 seis viações adotaram uma letra após o nº.

…………..

Vamos falar agora de outros modais, contando algumas peculiaridades do sistema de ônibus.

ELEVADORES –

Como todos sabem, o Centro é composto pela Cidade Baixa e Cidade Alta, unidas pelo famoso ‘Elevador Lacerda’, cartão-postal mais famoso de Salvador.

Bem, além dele há cumprindo a mesma função outro elevador tradicional e 3 ‘funiculares’ ou ‘planos elevados’ – nesse caso trata-se de um elevador que opera na diagonal.

Salvador teve articulados de 1988 a 2012esse da BTU (aqui clicado em seus últimos meses na Bahia) foi o último a sair de cena.

No total são 5 elevadores, sejam na posição clássica vertical ou na diagonal.

Alguns são gratuitos, e outros cobram a tarifa simbólica de R$ 0,15 sim, quinze centavos, em 2020.

O Elevador Lacerda é usado tanto pela população local quanto os turistas.

Tanto que ele leva quase um milhão de passageiros por mês, uma média de 28 mil/dia.

Com giz ou adesivado em definitivo, nos metropolitanos a linha vem inteira no vidro.

Já os ‘funiculares’ são pouco conhecidos dos turistas e eu diria mesmo da burguesia baiana, servem mais a classe trabalhadora.

O Elevador do Taboão foi reinaugurado em 2021, após décadas fechado.

Os 3 ‘funiculares’ se chamam Gonçalves, Pilar e Liberdade/Calçada.

No municipal ocorria o mesmo, nesse caso escrito numa placa (a esquerda da letra “A”).

Transportam cada um deles de algumas centenas a poucos milhares de passageiros por dia.

Andei no Elevador Lacerda, óbvio, quem vai a Salvador e não faz isso? Além dele utilizei também o plano inclinado Gonçalves.

STEC, OS “AMARELINHOS” –

Na periferia de Salvador circulam os micrões do STEC, o Sub-sistema de Transporte Especial Complementar.

Trata-se do antigo transporte clandestino, que em 1997 foi integrado ao sistema regular de transporte (no mesmo ano a viação estatal Transur foi extinta; falo dela abaixo)

Micrão do STEC em 1º plano, ao fundo busão de viação regular (*). Foto na Praia de Itapuã.

São padronizados nessa pintura que vê a esquerda, brancos com a frente e faixa vertical amarela, daí serem conhecidos popularmente como ‘amarelinhos’.

Em 2020 eles passaram a ser plenamente integrados ao metrô.

Com uma passagem você pode usar o metrô e 2 ônibus – e a partir dessa data uma dessas viagens pode ser nos micrões ‘complementares’.

Repetindo, nos anos 70 a frota de algumas empresas recebeu sufixo “A” ou “B“, se tornando alfa-numérica. A ITT ficou com o “B”.

Não era sem tempo. O metrô é de 2014, e desde 2015 tem uma malha razoável de linhas.

Ainda assim, por mais de 4 anos as linhas do STEC não eram integradas, nem com o metrô nem com os ônibus das viações oficias.

Agora finalmente o são. Ainda bem, já que o transporte alternativo foi regularizado e regulamentado, também precisa ter integração tarifária aos demais modais.

Alias, esses ‘amarelinhos’ só fazem linhas nos bairros periféricos, pra não concorrer com os ônibus oficiais.

Expresso Metropolitano na Praia de Piatã, a bandeira da Bahia tremula no céu azul (*).

Num aparente paradoxo, a partir de certo ponto eles podem andar até pela beira-mar, alias na tomada a esquerda é exatamente esse caso.

É que a orla de Salvador é muito grande, são nada menos que 80 km de litoral.

Assim, as praias mais distantes do Centro são frequentadas basicamente pela classe trabalhadora, com pouca presença de turistas ou da burguesia local.

Por isso a prefeitura liberou a presença dos micrões “complementares” nessas regiões.

Aratu 0km da Ondina: até o começo dos anos 90 cada empresa de ônibus tinha sua pintura, multi-colorida. Aí quase todas as viações adotaram o unicolor branco, sabe-se lá o porque. Como dito, “exemplo do processo de ‘embranquecimento’ da frota de Salavador”. Nas próximas 14 imagens a padronização informal na prática, o “antes/depois” . Aqui e a esquerda viação Ondina, repetindo.

CACHORROS DENTRO DO ÔNIBUS: ESSA EU NUNCA HAVIA VISTO – Aceitei o convite musical, e fui “passar a tarde em Itapoã” no meu último dia na cidade.

Foi bem interessante, até pra fazer o contraste com as Praias de Ondina e da Barra, perto das quais fiquei hospedado.

Já contei como foi em outra oportunidade, com muitas fotos. Aqui nosso tema é o transporte.

Quando a tarde começou a caminhar pro final, pra fechar a visita ao Nordeste com chave-de-ouro fui conhecer a famosa Lagoa de Abaeté (no mesmo bairro) e o parque que há em volta dela.

Fiz o trajeto Itapuã/Abaeté usando o STEC. O mais curioso é que um usuário levou junto seu cão de estimação.

Essa realmente me uma experiência inédita. Sou “O Caminhante”, e há um motivo pra essa alcunha.

Além do mais sou busólogo, estudo os sistemas de transporte ao redor do mundo.

Tudo somado, já fui a milhares de favelas e periferias, nas 5 regiões do Brasil.

Antes: “foi-se o tempo que o nome Verdemar fazia sentido“. Será que é preciso dizer mais?

Em 7 países da América (EUA, Colômbia, México, Paraguai, República Dominicana, Chile e Argentina). E dei até um pega na África (do Sul).

Sempre de transporte coletivo, misturado ao povo dos subúrbios. Usei praticamente todos os modais que as cidades que visitei oferecem.

De Kombis e vans clandestinas ou legalizadas aquelas jardineiras coloridas da América Latina.

Fora muitos trens de subúrbio, alguns deles considerados bastante perigosos.

Depois: “Brancomar”???

Agora, gente transportando animais eu jamais presenciara antes. Tudo tem uma primeira vez.

VANS –

Na Cidade Baixa pude constatar que Salvador ainda tem vans.

Em São Paulo após a regularização do transporte clandestino as vans desapareceram, sendo substituídas por micro-ônibus das cooperativas.

Igual: Aratu 0km, da Rio Vermelho (o nº da linha na mesma cor), pra “Rio Branco” a dir.?

Bem, cada lugar tem sua realidade. Na capital da Bahia esse modal permanece ativo.

Infelizmente eu não pude usar as vans, por falta de tempo.

O detalhe curioso cliquei atrás de uma delas (a foto está mais pro alto na página, busque pela legenda).

Além da linha – escrita a mão com giz, tradição soteropolitana que falo melhor a seguir – vinha a inscrição ‘Papito 100%‘.

TRÓLEIBUS EM SALVADOR

A capital baiana contou com ônibus elétricos por 9 anos, de 1959 a 1968.

A operação era por conta da SMTC – Serviço Municipal de Transporte Coletivo, viação estatal da prefeitura.

2 da Vitral – nessa época o nº da linha vinha sempre em vermelho, como está óbvio.

Eram 50 veículos, importados da Itália, e 23 km de rede elétrica, fabricada na Suíça.

Foi a 1ª cidade do Nordeste a ter tróleibus, antes do Recife e Fortaleza.

Entretanto no metrô as capitais de Pernambuco e Ceará deram o troco, e contaram antes com esse modal, mas essa já é outra história.

De volta aos tróleis que é nosso tema de hoje, Salvador foi a 6ª cidade brasileira a implantá-los, antes do Rio de Janeiro e Porto Alegre.

Entretanto no início o regime militar não quis investir em ônibus elétricos.

Entre 1967 e 1972 acabaram nada menos que 7 redes de tróleibus foram desativadas. Salvador foi uma delas.

Joevanza, colorida e descolorida.

Passados os “anos de chumbo”, pouco tempo depois o regime militar reverteu o curso.

Em 1975 foi criada a EBTU, como já dito acima e é notório.

Em sua última década, de 1975 a 1985, o governo federal investiu bastante em transporte.

Em diversos modais: tróleibus, corredores, terminais, trens, metrôs, articulados e também ônibus a dísel ‘pitocos’.

Tanto que duas cidades do interior de São Paulo, Ribeirão Preto e Rio Claro, implantaram seus tóleibus já nos anos 80, em 1980 e 86 respectivamente.

‘Saia’ vermelha, detalhes em verde sobre fundo branco: a pintura da União quando a frota era personalizada (vemos que o Apache 1 da Caio fez muito sucesso em Salvador).

Esse ‘renascimento’ pra Salvador veio tarde, ao menos pro modal de ônibus elétricos.

A rede foi desativada em 1968, pra nunca mais ser retomada.

Ainda assim, a EBTU investiu nos ônibus a dísel na capital baiana.

Por isso vemos eles ostentando o logotipo desse órgão federal em algumas fotos feitas em 1981.

SMTC/TRANSUR: A “FROTA PÚBLICA” SOTEROPOLITANA –

A seguir a União ficou assim, inteira alva e só os para-choques em verde.

Como muitas capitais brasileiras, Salvador também teve uma viação estatal.

Era chamada SMTC, foi criada em 1955 e durou até 1980. Nesse ano mudou de nome pra Transur, que rodou até 1997, quando foi privatizada.

Repetindo, os tróleibus de Salvador foram importados da Itália e eram operados pela SMTC.

Curiosamente em Santos (SP) foi exatamente da mesma maneira, seus busos elétricos vieram igualmente da Itália.

Todos notam que o esquema é exatamente igual ao que a viação metropolitana Costa Verde usa até hoje, inclusive o nome em letras minúsculas (exceto a inicial) e inclinadas.

E a cidade do Litoral Paulista também tinha uma viação estatal chamada SMTC.

Ali os tróleibus ainda rodam. Santos e a Grande São Paulo são os únicos lugares do Brasil onde há tróleibus atualmente (2022).

No entanto, a SMTC santista deixou de existir em 1976, sendo substituída pela CSTC (Cia. Santista de Transportes Coletivos), outra viação estatal, que também acabou privatizada nos anos 90.

Falei dos paralelos com Santos pra voltar a Salvador. Na capital da BA os tróleibus duraram pouco, somente até 1968.

Tudo somado: por quase 2 décadas houve um mar de busões brancos em Salvador.

A SMTC baiana então passou a operar ônibus a dísel.

Até 1980, quando assim como sua xará paulista ela também foi renomeada, nesse caso como Transur.

Em 1997 foi privatizada, dando assim por encerrado 42 anos de história de ‘Frota Pública‘ na cidade.

Bem, na década de 90 quase todas as viações estatais foram vendidas a iniciativa privada.

Contrastando com o tempo em que as viações punham cor nos seus ônibus.

Entre as capitais só restaram a Carris de Porto Alegre e a TCB de Brasília, sendo que a TCB só opera uma única linha.

………

Já seguimos com o texto. Antes uma galeria de fotos.

Relembrando o tempo da “padronização branca” informal que atingiu Salvador da virada do milênio a 2015.

A BTU foi uma das poucas empresas que não aderiu a “padronização informal“. Sua frota permaneceu dessa forma até a implantação da padronização oficial, em 2015.

“DEU BRANCO”:

A PADRONIZAÇÂO INFORMAL DOS ÔNIBUS –

Como todos sabem, Salvador  padronizou pela 1ª vez os ônibus em 2015, quando a cidade já tinha até metrô.

(Obviamente a partir daí todas as viações terão mesmo que pintar sua frota de maneira igual, como determinado pela prefeitura, dentro do estilo ‘Integra Salvador’.)

Só que não é da padronização oficial  que quero falar. Em sim do que ocorreu antes dela.

Aqui e a esq.: os tróleibus, na época da SMTC.

Desde uma década e meia antes, de perto da virada do milênio até 2015, houve na capital da Bahia uma padronização de fato, embora não de direito:

Quase todas as empresas pintavam os ‘carros’ de branco. O povo apelidou esse movimento de “brancão”.

Em algumas era inteiro alvo mesmo. Outras colocavam pequenos detalhes coloridos nos para-choque e rodas.

‘Roma’ no letreiro, bairro da Cidade Baixa.

Ou faziam bem visíveis seus emblemas, pra personalizar. E haviam as viações que adicionavam uma faixinha colorida, bem discreta.

Só que o corpo do veículo era sempre majoritariamente alvo. E as viações não eram obrigadas então a fazê-lo.

Vamos enfatizar de novo, pros que não conhecem a capital baiana:

De 1968 a 1980 a SMTC operou busos a dísel. O detalhe é a chapa branca com as letras ‘BC‘. Nos emplacamentos com 2 letras/4 nºs (1970-1991) e 3 letras/4 nºs (1991/2018) o fundo branco indicava propriedade estatal, no Brasil todo evidente. Especificamente no caso de Salvador, as letras ‘BC’ identificavam a frota da prefeitura; ‘BA’ era do governo estadual; e tinham a sigla ‘BB’ os veículos do governo federal emplacados na Bahia.

Agora sim houve padronização da pintura, compulsória, a “Integra”. Não confunda, da virada do milênio a Copa do Mundo de 2014 não havia.

Mesmo assim quase todas as empresas, por vontade própria, pintaram os ônibus num mesmo padrão, nesse caso sem cor no veículo.

Não todas, mas quase todas [a B.T.U. foi uma das principais exceções].

Se dizia por lá “em terra de gente negra, os busões são brancos”. Uma “padronização branca”.

E a palavra ‘branca’ nesse caso tem duplo sentido, tanto significando ‘informal’ quanto descrevendo fisicamente como ficaram os ‘carros’.

(Na década de 90, antes de embranquecer de vez muitas viações já estavam ‘ensaiando’:

Transur nos seus últimos tempos, já nos anos 90. Fazendo a linha CAB/Cirular, que não tinha pintura específica pra ela na ocasião .

Era comum uma ‘saia’ [metade inferior da lataria] colorida e a ‘blusa’ [parte superior, sob as janelas] colorida.)

Depois até essa ‘sutileza’ se foi. Ficou tudo descolorido mesmo.

Bom, nada é por acaso. Salvador é também a “África na América”.

Deus permitiu, e em 2017 pude conhecer um pouco da África.

CAB é o Centro Adm. da Bahia, inaugurado em 1972 pra ser o ‘Centro Cívico‘/ ‘Cidade Administrativa‘ do governo estadual. A linha Circular/CAB (conecta as diversas autarquias a rede de transporte urbano) agora tem sua própria decoração, os busos ficam fixos nela.

Onde constatei que nesse continente, ao menos na parte austral dele, as vans de transporte coletivo são (quase sempre) alvas.

No país inteiro. Estive em Joanesburgo, Cidade do Cabo, Pretória e Durbã.

Não há qualquer padronização de pintura no caso das vans. Até porque elas são operadas pelo próprio dono.

Cada um pode comprar da cor que quiser. No entanto, 99% dessas vans são bancas, ou pelo menos 95%.

Do outro lado do oceano o mesmo espírito se manifestou na Boa Terra, acho que podemos resumir assim.

Em 2017 com a inauguração do metrô a linha foi re-estruturada, permitindo fazer baldeação gratuita na estação; por uns dias esse ‘Escolar’ operou improvisado na linha Integração Metrô/CAB – note mais uma vez o itinerário escrito com giz no vidro.

………

Curiosamente há um paralelo da capital da Bahia na virada do milênio com a capital do Paraná nos anos 70.

Explico: Curitiba também teve uma ‘padronização informal’ mesmo quando vigorava pintura livre. Na década de 70 cada viação daqui (Ctba.) ainda podia pintar sua frota como queria.

Acontece que quase todas adotaram decorações parecidas, sempre usando as cores verde e amarelo – em várias delas com detalhes em cinza.

Curioso, não? Curitiba e Salvador são cidades completamente opostas, em muitos sentidos.

A integração metrô/CAB segue com pintura específica, e agora com ar-condicionado.

Pra conversa começar uma é a capital mais branca do Brasil, e a outra exatamente ao contrário a mais negra.

(Nota: não estou fazendo um julgamento, nem pra lado da direita que cultua os euro-descendentes nem pra esquerda que cultua os afro-descendentes.

Não é um juízo de valor, repito. Não estou dizendo que uma é melhor e a outra é pior. Apenas que são diferentes.

Nos anos 80 a estatal Transur já tinha pintura específica pra integração trem/ônibus. Na época o Rio e BH faziam o mesmo; em Minas e na Bahia isso não existe mais, no RJ continua.

E diferentes uma da outra é o que CWB e SSA são, isso você pode ter certeza.)

Cidades tão distintas, mas com algo em comum: suas viações voluntariamente caracterizaram sua frota de forma similar entre si, primeiro aqui, depois no Nordeste.

Registrado esse paralelo, voltemos com toda carga a nosso foco de hoje.

“INTEGRA SALVADOR”:

Grande Circular”: linha que também tinha a própria pinturamais um dos 35 Amélias/ Volvo da Transur. Quando ‘Volvo era Volvo‘. Saudades! Bons tempos na Boa Terra

EM 2015, AÍ SIM, VEIO A PADRONIZAÇÃO OFICIAL –

A “padronização informal” durou até 2015, quando veio a padronização formal, obviamente me refiro a “Integra Salvador“.

Como é domínio público, a cidade foi dividida em 3 faixas: Orla, Miolo e Subúrbio.

O fundo do veículo é branco, com detalhes na cor de cada região, respectivamente em azul, verde e amarelo.

Além da Transur, as particulares Vibemsa e Vitral também operavam o ‘Gde. Circular, então a única linha de pintura padronizada; Aqui um Aratu da Vibemsa. Pensou que era mais um Amélia? Está desculpado (um leitor apontou que “faltou os veículos 1181, 1182 e 1186”. Os 8 citados na foto eram da categoria ‘Grande Circular’; esses 3 [nºs 1181, 1182 e 1186] eram Aratu mas com a pintura normal da Vibemsa, usadas nas demais linhas).

A entrada também foi invertida pela frente, uma das últimas capitais do Brasil a fazê-lo.

Até os anos 70 todas as cidades brasileiras tinham pintura livre e entrada por trás.

Curitiba foi a primeira cidade a padronizar e mudar o embarque pra dianteira.

Em 1974, quando surgiu o modal que foi chamado “Expresso” [hoje preferem usar a sigla em inglês ‘BRT’].

Nas demais linhas – Convencionais, Inter-Bairros, Alimentadores, etc – a princípio permaneceram a pintura livre [digo, mais ou menos, como detalhei acima] e entrando por trás.

Até que na virada pros anos 80 toda a frota municipal ficou unicolor, e sempre subindo pela frente.

Como dito, esse e mais 2 Aratu’s da Vibemsa eram unicolores bege com para-choques verdes – a decoração de escolha da viação.

As demais cidades do Brasil a partir dos anos 80 foram seguindo esse exemplo.

Hoje é quase universal a entrada dianteira e pintura padronizada.

Sei que tem gente que não gosta. Paciência. Como já escrevi na matéria sobre o transporte carioca:

“    Das 27 capitais do Brasil em apenas em 4 cada viação faz o que quer na sua frota.

Em 1988 começou o projeto TMS (Transp. de Massa de Salvador), que trouxe os 1ºs articulados da cidade; as linhas do TMS também tinham pintura padronizada.

Em 23 os ônibus têm pintura uniforme, sendo que em 21 há padronização oficial:

Todas as do Sul (Porto Alegre, Florianópolis-SC e Curitiba);

Todas as do sudeste exceto o Rio (São Paulo, Belo Horizonte e Vitória-ES)

Também todas as do Centro-Oeste (Brasília, Goiânia-GO, Cuiabá-MT e Campo Grande-MS);

O TMS tinha esse logotipo na lateral; mas o projeto foi abandonado e logo se tornou a pintura livre da viação Ogunjá.

7 das 9 capitais do Nordeste (Salvador, Aracajú-SE, Maceió, Recife, Fortaleza, Teresina-PI, e São Luís-MA);

No Norte, Belém, Manaus-AM, Rio Branco-AC e Palmas-TO igualmente.

Em Porto Velho-RO e Boa Vista-RR há uma ‘padronização informal’: só há uma viação em cada, então na prática toda a frota tem a mesma pintura.

(Em Boa Vista com exceção dos articulados e o bi-articulado.)

Já sem o logo, um dos articulados da Ogunjá, pioneiros em SSA.

P. Alegre, Curitiba, SP, BH, Vitória, Goiânia, Belém e São Luís têm padronização incluso nas linhas metropolitanas.

Somente no Rio, João Pessoa, Natal e Macapá-AP nem mesmo os municipais contam com esse avanço. Veja bem, não quero dizer que a maioria está sempre certa.

As próximas 4 fotos são de 1981. Aqui e a direita: ônibus de Salvador com o logotipo da EBTU, numa época que o governo federal investiu bastante no transporte urbano; esse Sul-América, depois viação Beira-Rio.

Ao contrário, muitas vezes a massa age como rebanho e não reflete, repete o que está na moda.

Ainda assim é um fato que quase todas as capitais entendem que padronizar a pintura é melhor.

23 x 4 é um placar que dispensa quaisquer outras argumentações.   

Isto posto, sigamos. Há 3 formas de padronizar a frota de uma cidade.

1) A mais simples é simplesmente pintar todas as linhas de uma única cor.

Na sua 2ª padronização, de 2014, Florianópolis adotou esse modelo. Há muitos outros casos Brasil e mundo afora.

“O Mais Querido”: em auri-negro (óbvio!) viação Ypiranga; a seguir Campo Grande.

2) Ou então se padroniza por categoria de linha (Expressos/Troncais/Radiais de uma cor, Alimentadores de outra, Circulares/Transversais/Inter-Bairros/Inter-Terminais ainda de outra, etc).

Além de Curitiba que o criou, fizeram da mesma forma entre outras:

Belo Horizonte, Recife (SEI), Fortaleza, Londrina e Ponta Grossa-PR, Sorocaba e Piracicaba-SP, Joinville e Blumenau-SC, Guaiaquil-Equador, Los Angeles-EUA (em algumas delas já descontinuado).

3) E pode-se também diferenciar conforme a região da cidade que a linha serve.

Assim o fizeram as duas maiores metrópoles brasileiras, São Paulo e Rio (nesse caso enquanto durou), e capital Brasília. 

Voltam as fotos atuais: em Ondina mapa e itinerário das linhas que passam no local (*). A tomada é na beira-mar. Provavelmente na periferia os pontos não têm essa comodidade. É assim em todas as cidades.

Bem como Porto Alegre, Brasília, Florianópolis (1ª padronização, não a atual), Campinas-SP, Belém, Recife (padronização dos Consórcios), Santiago do Chile, pra falar apenas algumas.

Salvador adotou esse esquema também, o de identificar o busão conforme a parte da cidade que ele vai.

……….

TABELA TROCADA– Uma breve pausa pra vermos outro improviso: na galeria abaixo ônibus de outras capitais operando em Salvador com a pintura original. Segura essa agora.

Fila de Caios verdes no Farol da Barra (*).

 ARATU, A “CIFERAL DA BAHIA” –

Quem conhece um pouco da história do transporte no Rio de Janeiro sabe a importância que as encarroçadoras Metropolitana e Ciferal tiveram pra cidade.

Na Cidade Baixa Neobus amarelo (*).

A primeira nos anos 60 e 70, e a outra já mais pro fim do século 20. Ambas eram ‘carioquíssimas da gema’, se podemos dizer assim.

Tanto que a Metropolitana batizou dois de seus modelos com o nome das praias cariocas mais famosas, ‘Copacabana’ e ‘Ipanema‘ (na ocasião que ela adquiriu a Cermava).

Pois bem. Menos conhecida – ao menos fora da Bahia – é a encarroçadora de ônibus Aratu.

TARDE EM ITAPUÓ: Marcopolo azul, as 3 cores do ‘Integra Salvador’ (*).

A Aratu era o orgulho da Bahia, e tinha muito orgulho da Bahia.

Seus ônibus eram chamados ‘Amaralina’, ‘Piatã’, ‘Itapuã’, ‘Ondina’, ‘Itaparicae ‘Abaeté’.

Obviamente as 5 primeiras são praias de Salvador e região, sendo 4 no município da capital e Itaparica na região metropolitana. E Abaeté é uma lagoa e parque, próximo a Praia de Itapuã.

Alguns busos têm faixas menores com outras cores do ‘Integra‘: o amarelo é majoritário, acima há verde e azul (detalhe trazido do Rio, enquanto o Rio teve padronização).

Como detalhe, o Aratu ‘Amaralina’ era muito parecido com o Caio Amélia, na opinião quase que unânime dos busólogos.

Se você confundiu o Amaralina da Vibemsa visto um pouco mais pro alto na página com um Amélia, não tem problema. Eu também confundi.

“DE VOLTA PRO FUTURO”:

30 ANOS DEPOIS ANDEI NUM ÔNIBUS COM “CHIQUERINHO” –

Próxs. 3 imagens, dia chuvoso em Salvador. De novo a mesma característica (2 pequenos retângulos no teto com as outras cores do sistema) em outro Apache ‘4’ em Ondina (*).

Com exceção de Curitiba que já havia mudado o embarque pra frente, creio que nos anos 80 em todas as demais capitais o embarque ainda era por trás.

Muita gente simplesmente descia pela porta traseira, sem passar pela roleta e portanto sem pagar.

Além do problema de evasão de tarifa, havia outro: os caloteiros ainda atrapalhavam quem tentava subir no ônibus.

Então, deixa eu contar pra quem não é dessa época. Em diversas capitais do Sudeste e Nordeste havia na ocasião o chamado “chiqueirinho”:

Conheci o Centro de L. de Freitas debaixo desse toró (*). Várias viações metropolitanas permanecem brancas, por inteiro.

Quando você entrava pela porta traseira, um corredor formado por grades obrigava a passar direto na catraca, imediatamente.

Somente após a passagem estar paga é que você podia ocupar outros lugares no salão interno do busão.

‘Chiqueirinho’ é o termo paulista, não sei como esse apetrecho era conhecido nas demais capitais.

De novo em Ondina: em 1º plano um táxi, atrás vemos a pintura padronizada do ‘Integra Salvador’ dos ônibus seletivos (*). Nesse caso só existe azul de fundo com faixas brancas, não é dividido por regiões.

Na Cidade de São Paulo, na década de 80 funcionava assim: as linhas mais centrais, e portanto mais usadas pela classe-média, não tinham o “chiqueirinho‘.

Havia então gente que descia sem pagar, mas creio que as empresas preferiam perder um pouco de dinheiro a dar esse desconforto aos usuários.

No entanto, nas linhas que serviam os morros e distantes loteamentos do subúrbio havia essa espécie de ‘curral metálico‘.

Dando um exemplo na Zona Sul, nos alimentadores que saíam do Terminal Santo Amaro rumo ao Jardim Ângela.

Agora sol na praça em Ondina (*). No buso os mesmos detalhes que já observamos antes, as faixinhas no teto com as outras cores do sistema e o ar-condicionado não resolve nada com janelas abertas. A dir. as bicicletas que um banco disponibiliza pra alugar.

Cheguei a pegar ônibus com ‘chiqueirinho’ em SP, quando eu era criança.

O tempo passou, nos anos 90 a capital paulista também adotou a entrada pela frente, e esse curioso equipamento. Pensei que nem existisse mais.

Ledo engano. Em Salvador em algumas linha metropolitanas ainda se entra por trás.

Peguei em Ondina um ônibus da viação Costa Verde – que apesar do nome é unicolor branco, normal se falamos da ‘Boa Terra’.

Morro do Cristo, na mesma Av. Oceânica (*). Fila de busões, Caio azul abrindo, atrás 2 verdes, o da frente parece ser Comil.

Nomenclatura a parte, o embarque era pela traseira. E… tinha o chiqueirinho! 30 anos depois, lá estava eu de novo, passando pela mesma experiência. Foi “uma volta no tempo“, como no filme “De Volta pro Futuro”.

Vivi de novo uma experiência que eu julgava já ter se extinguido da face da Terra. Extinguiu nada. Definitivamente, tudo vai e depois retorna. Tudo que tem que acontecer de fato acontece.

(Como um último detalhe nesse tópico, me informaram que algumas linhas metropolitanas de Belo Horizonte também reintroduziram o ‘chiqueirinho’.)

NOS ANOS 80 O ‘GRANDE CIRCULAR’ E ‘TMS’: PRIMEIRAS TENTATIVAS DE PADRONIZAÇÃO E HIERARQUIZAÇÃO DAS LINHAS –

Transur a gás natural. A estatal teve cerca de 300 Monoblocos ‘2‘ (0-364), adquiridos entre 1979 e 1986. 6 eram movidos a gás – essa pintura era exclusiva pra eles; os a dísel tinham a decoração do que vem logo atrás, brancos com faixas pequenas em vermelho e azul, vista na foto a seguir (a também estatal CTC-RJ tinha a mesma pintura na ocasião).

No século 20 os ônibus de Salvador tinham pintura livre e não havia qualquer forma de integração.

Ou seja, se você precisasse usar duas conduções tinha que pagar de novo a tarifa cheia.

Uma vez que não havia hierarquização das linhas. O que isso significa?

É simples: Simplesmente todas as linhas eram o que aqui em Ctba. se chamam ‘Convencionais’: ligam um bairro a outro, sem se conectarem entre si.

Nos anos 70 a capital do Paraná criou o conceito da ‘Rede Integrada de Transportes‘, hoje copiado em milhares de cidades do mundo.

Pena que a foto é em P-&-B. As faixas eram vermelha e azul, repetindo. Nessa imagem e na anterior vemos que a Transur nos anos 80 emplacava sua frota com chapa amarela (por ser empresa pública de direito privado); enquanto que nas viações particulares tinha que ser com chapa vermelha mesmo.

Pra isso é necessário ‘hierarquizar’ as linhas, ou seja, dividi-las em troncais e alimentadoras.

As avenidas principais se tornam ‘corredores‘, de preferência com pista exclusiva pro transporte coletivo.

Pelos corredores as linhas-tronco ligam os principais polos de empregos (o Centro ou onde é o caso a orla) a terminais começo da periferia.

Dali as linhas alimentadoras levam as pessoas pros bairros mais distantes.

Pra complementar, linhas circulares/transversais/inter-bairros conectam os terminais, pra quem precisa ir de uma parte da cidade a outra sem passar pela Zona Central.

Aqui e a esq.: Grande Circular com sua pintura padronizada, ambos Volvo. Esse um Torino da Transur; mesmo ficando junto do nome da linha, o número vinha em vermelho.

Tudo isso pagando apenas uma passagem. Por isso uma “rede integrada“. E essa passagem geralmente é marcada pela padronização da pintura.

Veja que mesmo o Rio de Janeiro, tão avesso a essa medida, tem pintura padronizada no seu sistema de BRT.

Então. Essa é a questão. Na Salvador dos anos 80 nada disso existia. Foi quando começou o movimento no sentido de hierarquizar e organizar melhor a rede de ônibus.

O sistema ‘Grande Circular’ foi o pioneiro com pintura padronizada.

Agora de costas, o mesmo Aratu da Vibemsa já visto de frente mais pro alto na matéria.

Os busões dessas linhas tinham a parte de baixo em vermelho, o meio branco com o rosa ao redor das janelas (ao lado).

Além disso os veículos eram do tipo ‘padrão’, alongado (‘padron’ no original. Eu traduzo tudo pro português).

Geralmente Volvo, quando a Volvo só fazia ônibus ”padrão’. Era “Padrão Volvo” de qualidade.

A decoração do ‘Gde. Circular‘ (no centro da imagem) era rapidamente reconhecida entre um mar de outros ‘carros’ com pintura livre.

O Grande Circular era operado por 3 empresas: a estatal municipal Transur e as particulares Vibemsa (Viação Beira-Mar S.A.) e Vitral (Violeta Transportes Limitada).

Foi assim nas décadas de 80 e 90. Após a virada do milênio o Gde. Circular primeiro perdeu a pintura própria, e depois foi extinto.

Curiosamente Brasília na mesma época também tinha uma linha chamada ‘Grande Circular’, que da mesma forma não existe mais.

O ‘S’ estilizado em vermelho é o logo do TMS.

Em 1988 surgiu o projeto ‘TMS’ – Transporte de Massa de Salvador.

Tem esse nome porque as linhas mais carregadas seriam feitas por ônibus pesados (articulados e ‘padrão’ alongados) com pintura padronizada.

Que é essa vista ao lado: ‘saia’ vermelha e ‘blusa’ cinza. Esse buso ainda está na fábrica da Ciferal no RJ, foto de 1989.

Bela tomada a beira-mar de um BTU azul e vermelho em 2015. Como todos sabem, essa viação manteve sua frota multi-colorida enquanto foi permitido.

Foi nessa oportunidade, no ano de 1988, que chegaram os primeiros articulados de Salvador. Eram Ciferal Alvorada Volvo.

O pioneiro mesmo, o primeiro “sanfonado” que rodou na cidade, foi comprado usado do Rio de Janeiro pela Vibemsa. Recebeu a decoração padronizada do TMS.

Os busos do TMS eram identificados, além de pintura óbvio, pelo logo, que era a letra “S” estilizada, formando duas flechas em sentido opostos.

“Ovelha Branca”: um raro BTU descolorido.

No começo esse articulado não tinha nem sequer a linha escrita no letreiro.

Ali estava pintado ‘TMS – Transporte de Massa de Salvador’. A linha, ‘Itapoan-Lapa’, vinha numa placa no vidro.

Esse buso foi repassado pra viação Ogunjá. Em 1989, apenas um ano depois de iniciado, o TMS foi abandonado.

Em 2015/16 a transição: ainda na pintura da BTU mas já operando pelo consórcios.

A antiga pintura padronizada deveria ser de todas as empresas que fizessem linhas do TMS (a exemplo do que ocorria com o Gde. Circular).

Não foi assim que aconteceu. As outras viações rapidamente a descartaram.

Essa decoração acabou virando a pintura livre da Ogunjá – em todas as suas linhas, independente de fazerem parte do TMS original ou não. Isso ainda nos anos 80.

Mais 2 tomadas do período de mudança pro ‘Integra Salvador‘ – dessa fila de 5 temos 3 na nova pintura e 2 na antiga: 1 ainda na decoração da BTU e outro da Praia Grande.

Na década seguinte, a de 90, isso de um padrão compulsório de pintura se tornar a escolha voluntaria de uma empresa após não ser mais obrigatório também ocorreu em Florianópolis e no Rio.

A capital de SC, por volta da metade dos anos 90, abandonou a padronização EBTU, que lá valia pros municipais e metropolitanos.

Todas as viações a descartaram, imediatamente. Exceto uma, que é a viação Biguaçu.

Garagem da P. Grande: a frente ainda no estilo próprio da empresa, atrás desse 2 já padronizados; ao fundo um morro, o cotidiano difícil de parte do povo de Salvador.

A Biguaçu manteve sua frota no antigo padrão EBTU (buso branco, faixa menor negra e acima dela uma faixa maior colorida, nesse caso azul-escura).

No Rio de Janeiro na mesma época foi implantado o “Projeto Canarinho“, primeira tentativa de padronizar os ônibus na cidade, que como a segunda de 2010 também fracassou.

No ‘Canarinho’ eram apenas algumas algumas linhas a terem decoração idêntica, as ‘Expressas’ (com menos paradas) pras Zonas Oeste e Sul.

Outra viação, a mesma cena atrás da garagem: periferia soteropolitana na encosta.

O desenho escolhido foi o mesmo de Santiago do Chile (que em 1991 implantou a 1ª padronização de pintura de toda América Hispânica):

Corpo do busão amarelo, e branco ao redor das janelas – por sua vez a pintura chilena, que inspirou a carioca, da mesma maneira já havia sido copiada da viação estatal peruana Enatru, que atuava na capital Lima.

Seja como for, a padronização ‘Canarinho’, ainda que restrita, ‘não pegou’ no Rio de Janeiro.

Flagrei, já no final de 2020, um buso inteiro branco (*). Só o para-choques é azul.

Todas as viações voltaram a pintura livre. A Real, entretanto, gostou tanto que manteve sua frota amarelada.

Alias em 2018, quando caiu a segunda padronização carioca, todas as viações voltaram mais uma vez a pintura livre.

Ainda assim, a uma pintura livre sempre diferente da que era usada até 2010.

A Real, entretanto, mais uma vez destoou. Foi a única que re-adotou sua pintura livre usada até 2010.

Que é exatamente a ‘Canarinho‘, compulsória nos anos 90 mas sua escolha desde então.

Letreiro típico do Rio de Janeiro, que também foi comum em Salvador. Esse é municipal.

Feito esse adendo, de volta a Bahia. O TMS não vingou, e assim virou apenas a pintura livre da Ogunjá.

Ainda assim, serviu pra introduzir os articulados na ‘Boa Terra’.

Diversas viações passaram então a contar com esse modal, e assim foi nos anos 90.

Após a virada do milênio entretanto todas elas foram deixando de usar ônibus ‘sanfonados’ em SSA.

Busos municipais agora todos têm letreiro eletrônico; mas achei o mesmo estilo na lona de um metropolitano (*). Na linha inferior: ”Terminal Aeroporto”; o adesivo no vidro prefere grafar “Estação Aeroporto”. O giz a mão complementa o itinerário.

A que resistiu mais tempo foi a BTU – que, o sabem, foi uma das poucas que também resistiu a pintura “brancão”.

O último articulado da capital da BA foi um Busscar da BTU, que rodou até 2012.

Deixaram saudades. Já se completou uma longa década de ausência (no momento que a matéria sobe pro ar, em 2022).

Se serve de consolo, o mesmo ocorreu em várias partes.

Outro municipal com o mesmo letreiro em 2 camadas (foto antiga, ainda pintura livre).

Capitais importantes como o Rio, Belo Horizonte, Fortaleza e Belém também haviam tido articulados no século 20.

No entanto em algum momento no novo milênio deixaram de tê-los.

Desde então as capitais do RJ, MG, CE e PA já voltaram a contar com esses veículos maiores, de 2 vagões.

Falta Salvador. Mas assim que ocorrer a inauguração do BRT eles retornarão. Enquanto isso relembremos o tempo que esses bichões rasgavam as ruas da capital da Bahia.

INTEGRAÇÃO LAPA/BARRA, 2014:

ENSAIO PRO ‘INTEGRA SALVADOR’, QUASE 2 ANOS DEPOIS –

Ao lado um belo Vitória Scania da ITT, fazendo a linha Lapa/Barra. Está na pintura livre, evidente.

Pois então. No começo de 2014 a prefeitura instituiu uma pintura padronizada pras linhas do roteiro Lapa/Barra.

Somente pra elas. Todas as demais, nesse momento, seguiram na decoração preferida de cada empresa (muitas delas unicolor branco).

Trata-se exatamente das duas próximas fotos: buso branco com faixa laranja.

Além disso vinham identificados com a sigla ‘LB’, justamente as iniciais de ‘Lapa’ e ‘Barra’, evidente.

Lembra um pouco a decoração dos micrões ‘Amarelinhos’ do SETC.

Não confunda, entretanto. São coisas diferentes. Ao lado e logo acima são veículos de tamanho normal.

E de propriedade das viações oficias, note o logo da BTU na traseira nesse a esquerda, e da Verdemar no da direita.

Hoje: toda frota padronizada.

Alias a imagem do BTU está datada, foi feita em janeiro de 2015.

O sistema ‘Integra Salvador’ só entrou em vigor alguns meses depois, no fim de 2015.

A padronização do corredor Lapa/Barra serviu de ensaio pra padronização geral, que veio logo a seguir.

Os ‘Executivos’, mais confortáveis e mais caros, são assim. O cartaz ao fundo anuncia precisamente o início do ‘Integra Salvador’.

Pra ‘aquecer as máquinas’ digamos assim. Visando ver como a população reagia, depois de tantas décadas na pintura livre.

Foi um caso de pintura exclusiva pra somente uma linha (ou um corredor de linhas no caso). No século 20 tinha sido assim com o ‘Grande Circular‘, e décadas depois a mesma ideia retornou.

……………

Pra seguirmos relembrando a Salvador de antigamente, outra sessão de municipais na pintura livre:

Antes: SSA sempre preferiu o termo ‘Estação’ – outro Monobloco da Transur, e o Barramar na galeria acima também vai pra ‘Est. Pirajá’.

DA “ESTAÇÃO” PRO “TERMINAL”

UMA VIAGEM NO TEMPO –

No Sul do Brasil, no eixo Rio-SP e também em Pernambuco usamos o termo ‘terminal’ pra indicar onde param muitas linhas de ônibus.

“Estação’ aqui é só estação de trem, metrô, ou as ‘estações-tubo‘ curitibanas.

Agora: estão usando também a palavra ‘terminal‘. A placa no vidro informa que esse Busscar da ATB vai pro do Centro de L. de Freitas – onde foi clicado – pro “Terminal Aeroporto” (*). ATP é a ‘Alagoinhas Transp. Urbanos’, que opera na cidade de mesmo nome no interior baiano, e também na Grande Salvador, onde é ligada a BTM (antiga BTU), daí a mesma pintura.

Em Minas e parte do Nordeste, entretanto, inversamente fala-se ‘estaçãomesmo pro modal de ônibus normais. Notei isso quando estive em Belo Horizonte, em 2012. O letreiro diz ‘Estação Vilarinho’, pra dar um exemplo.

Pro que nos interessa aqui, na Bahia historicamente também o termo mais comum era ‘estação‘.

‘Estação da Lapa’, ‘Estação Pirajá’, ‘Estação Mussurunga’, eis alguns dos terminais – não-integrados na época – mais antigos e famosos da cidade

(A exceção parece ser o Terminal da França, igualmente não-integrado. As linhas cujo ponto final eram nele vinham como ‘T. França‘.)

Aí veio a revolução do meio dos anos 10 desse novo século 21.

Outra ‘volta no tempo’, 3 fases da Joevanza: aqui na pintura dos anos 70, um Aratu.

Chegou o metrô, e o sistema de ônibus foi totalmente re-estruturado pra ficar como alimentador do modal sobre trilhos.

Com isso, foram construídos ou reformados mais de uma dezena de terminais de ônibus, vários deles anexos as estações de metrô.

A mudança de patamar não foi apenas física, mas envolveu também a linguística.

Nos anos 80, amarelo ao redor das janelas.

Ao invés de ‘estação’, vários ônibus agora usam a palavra ‘terminal‘.

Vimos exemplos acima, a foto em preto-&-branco do Monobloco da Transur indo pra ‘Estação da Lapa’ mostra como sempre foi.

E a esquerda o vermelho e branco da ATP já diz ‘Terminal Aeroporto’. Sinal de uma nova era.

Depois o amarelo ficou apenas uma faixinha entre o vermelho e o branco.

Fotografei pessoalmente um Torino ‘5’ da Costa Verde em Ondina que usa os dois termos:

‘Estação’ adesivado no vidro, e ‘Terminal’ no letreiro de lona.

O busão vai da “Estação Aeroporto” pro Terminal Aeroporto”, sem sair do lugar, já que são um e o mesmo. É então mais uma viagem no tempo..

Falando nisso, seja chamado ‘Estação’ ou ‘Terminal, o fato é que o Terminal Aeroporto fica exatamente na divisa entre Salvador e Lauro de Freitas (‘LDF’), na região metropolitana.

Desenho onde mostro várias características dos ônibus baianos de antigamente. Sei que a qualidade não é primorosa, segue assim mesmo porque ilustra o que vou descrever.

Pois bem. Por conta disso ele é multi-modal. Abriga metrô, linhas de ônibus municipais da capital e de LDF, e também inter-municipais.

Se fosse pouco, ainda há uma linha especial pro Aeroporto mesmo, pra quem embarca/desembarca dos aviões.

………

Já que o tema é esse, voltando ainda mais no passado vou relembrar uma era que já se foi, da pré-padronização de pintura e pré-letreiro eletrônico.

Sul-América em sua clássica decoração unicolor azul; número da linha em vermelho.

Num tempo não muito distante, em Salvador, os ônibus tinham pintura livre e entrada traseira e saída dianteira.

Bem, um dia foi assim em toda parte. Vamos então falar de alguns traços que eram tipicamente soteropolitanos.

CÓDIGO DA LINHA EM VERMELHO – 

O letreiro menor, onde vinha o número da linha, era na cor rubra.

Outro azul, mas esse TSS: o espaço pro nº está vazio, o código vem junto do nome no letreiro principal (como era comum em Santa Catarina e Manaus); ainda assim o número tem fundo vermelho, porque é Salvador.

Portanto não é porque esse ônibus é vermelho que o letreiro do número é da mesma cor.

Valia pra todas as empresas, como as diversas imagens não deixam dúvidas.

Isso começou nos anos 80, porque foi a partir daí que os fabricantes de ônibus passaram a fazer o letreiro maior.

Assim adicionando um sub-letreiro a esquerda do principal pro código numérico.

Até a década de 70 os letreiros eram menores, e não havia essa divisão.

Os metropolitanos mantiveram a tradição do código da linha ser na cor rubra.

Alias por isso os busos no Rio, São Paulo e algumas outras cidades tinham a ‘capelinha‘, pra ´poder dar destaque ao número.

Salvador não teve capelinha, então não nos alongaremos nisso agora.

Na capital da Bahia, a partir da década de 80, a forma achada pra destacar o nº era escrevê-lo sobre fundo vermelho.

E foi adotado depois que os ônibus passaram a vir de fábrica com um espaço próprio pra isso.

No entanto, há casos de ônibus mais antigos, como o Monobloco ‘2’ (0-364) em que o letreiro ainda era mais estreito, sem o espaço separado a esquerda.

Aí a lona foi repintada, pro número ficar destacado em outra cor, mesmo ele vindo junto do nome da linha.

Nas próxs. 4 imagens o improviso (que pelo visto foi comum em Salvador até bem recentemente): letreiro principal desativado, a linha vem somente em placas e/ou escrita a mão no vidro. Nesse caso a mão com giz, e diz ‘Estação Pirajá’ e ‘Estação Mussurunga”.

A esquerda vemos um Monobloco da TSS, ilustrando o que acabei de falar.

Também há exemplos do buso ter o sub-letreiro específico a esquerda mas este não estar sendo usado.

O número da mesma forma vir junto do nome da linha – também a esquerda um pouco mais pro alto mais um TSS dessa forma.

Igualmente vinha em vermelho. Vocês entenderam perfeitamente.

Em Salvador, nas décadas de 80 e 90, o numeral da linha era sempre nessa cor.

Aqui e a seguir, o ônibus vai pro bairro ‘Caio’? Não, você tem que buscar a linha no para-brisas. O letreiro menor, o do número, está ativo – em vermelho, sempre.

Perto da virada do milênio as viações foram abandonando esse costume, e hoje com o letreiro eletrônico é só uma lembrança.

Isso no municipal. Em 2020 nas linhas inter-municipais ainda vi – e fotografei – ônibus usando letreiro de lona.

E algumas viações metropolitanas mantiveram por mais tempo vivo o costume do número ficar destacado em vermelho.

TODO ITINERÁRIO NO PARA-BRISAS:

Empresa Axé: nos anos 90, antes da frota ”embranquecer” de vez era comum ‘saia‘ (parte inferior da lataria) colorida e ‘blusa‘ (superior) sem cor, em muitas viações.

ANTIGAMENTE FEITO A MÃO –

Até pouco tempo atrás quase todo o itinerário vinha no para-brisas, em épocas mais remotas complementado a mão com giz.

Mais recentemente melhor organizado numa grande placa ou adesivo, mas ainda bem grande, visível de longe no vidro.

No desenho que fiz pegamos a transição, há a placa mais organizada mas pra garantir escreveram ‘Paripe’ e ‘Lapa’ a mão.

Na região metropolitana ainda é normal o itinerário feito com giz (micro de Camaçari).

Esse traço também existiu no Rio de Janeiro e Belém do Pará. No Rio antes, nos anos 50 e 60.

(Algumas viações cariocas levaram o costume um pouco adiante, mas a imensa maioria a partir da década de 70 já não mais.)

Na capaital paraense bem mais recentemente, até os anos 10 do novo século. Ali alias era adesivado, o veículo tinha que ficar fixo na linha.

Em Belém apenas com a implantação do letreiro eletrônico, já na virada pra década de 20, é que os busos deixaram de trazer todo itinerário no vidro.

A Axé já foi bem mais colorida.

IMPROVISO:

LETREIRO VAZIO, LINHA NO PARA-BRISAS –

Paralelo ao que acabei de citar, e na verdade se somando a isso, vemos que era frequente simplesmente a linha nem vir no letreiro. Exemplificado nas 4 fotos acima a direita.

Onde deveria estar a linha vinha escrito ‘Especial’, ou com o nome do fabricante da carroceria (‘Caio’, ‘Marcopolo’, etc) ou mesmo ficava em branco.

A linha estava no para-brisas, a mão com giz e/ou numa placa.

Evidente que a situação – que em São Paulo se chama ‘Paese’ – de um busão ter que fazer outra linha que não vem escrita na sua lona, e aí é preciso improvisar, aconteceu em todas as cidades.

Eu mesmo vi isso inúmeras vezes aqui em Curitiba. A questão é que, ao menos julgando pelas imagens que circulam na internet, em Salvador isso era mais comum que nas demais capitais.

Essa e a seguir: carroceria Aratu; no Mercedes da ITT ‘Comércio’ a mão no vidro.

Estivesse o letreiro ou não funcionando, o fato é que na capital da BA o giz era usado pra complementar o letreiro ou mesmo substituí-lo, se fosse o caso.

Em Campos-RJ é assim também (ao menos o foi até pouco tempo atrás).

Quem tem idade suficiente se lembra que antigamente nos ônibus de viagem o horário – e as vezes a plataforma – vinha escrita assim, a mão no para-brisas.

Aqui e a esq. viação Ondina verde e amarelo. Scania alongado, essa foto foi feita em 1993. A seguir Comil 0km em imagem de 1996.

Exemplificando pela linha que liga as capitais de SP e PR, que utilizei muitas dezenas de vezes em minha vida (quando era feita pela Cometa e Itapemirim).

Essa informação, “Curitiba/São Paulo”, vinha no letreiro principal.

A questão é que saíam vários ônibus da mesma linha no intervalo de poucos minutos

E quando eles paravam no meio do caminho pra pausa do lanche, como os passageiros re-embarcam no ônibus certo?

É simples. Vinha com giz no vidro “10:05”, por exemplo.

Se você também presenciou a situação que descrevi… não tem jeito amigo, estamos ficando velhos. Que coisa, né?

EM QUAL PONTO O ÔNIBUS PARA?

Central na mesma pintura.

CONFIRA PELA LETRA –

Em várias fotos existe uma letra bem grande no vidro dos ônibus, seja ‘A’, ‘B’, ‘C’ ou ‘D‘, adesivada ou numa placa.

Nos dois da Central, ao lado e logo abaixo, vemos que é um ‘B‘.

Enquanto que no outro Apache da Praia Grande logo a seguir (amarelo e branco) consta o ‘A‘.

Depois a Central “embranqueceu” como a maioria das viações de Salvador – a palavra ‘Lapa’ está escrita com o ‘L’ e o ‘A’ final maiores, envolvendo a camada de baixo.

Isso da mesma forma ocorre em outras metrópoles como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre-RS.

É que nas grandes avenidas passam dezenas de linhas de ônibus, então é preciso dividir elas por pontos diferentes:

Algumas param no ponto ‘A’, outras no ‘B’, se tiver mesmo muitas abre-se o ‘C’.

E até a letra ‘D’ existe nos corredores mais carregados. As vezes são números, a função é a mesma.

Esse busão e o anterior têm a chamada ‘Máscara Negra‘: o espaço logo abaixo do vidro – onde está escrito ‘Caio’ nesse aqui – está escurecido, e não na cor normal da lataria. Um capricho de seu dono, pra personalizá-lo.

LETREIRO EM 2 CAMADAS:

COM A DE CIMA FORMANDO UM ARCO SOBRE A OUTRA –

Vimos exemplos em várias imagens: era algo típico do Rio de Janeiro nos anos 80.

Que se repetiu também no nordeste, especialmente Salvador e João Pessoa.

A linha vinha escrita em 2 camadas, sendo que a superior envolvia a inferior, formando um arco sobre ela.

Na foto a direita acima mais um caso: o ‘Lapa’ acima ‘abraça’ as palavras ‘Rodov. Bonocô’ que estão sob ela.

Boa Viagem, mudada a cor mesma pintura da Praia Grande. A camada de baixo da linha vem escrita sobre fundo vermelho.

Tem mais: a linha inferior (justo onde está escrito ‘Rodov. Bonocô’, repetindo) está sobre fundo vermelho – como era o código da linha anteriormente.

Isso acabou virando uma marca registrada dos ônibus baianos.

Mesmo quando caiu o costume da palavra de cima formar o arco sobre a de baixo, a inferior ainda continuou sendo escrito no vermelho. Ao lado o exemplo nesse da Boa Viagem.

Pintura anterior da Praia Grande.

Enquanto perdurou a lona nos busões nos municipais. Nos metropolitanos ainda é a realidade no começo da década de 2020.

………..

Voltando ainda mais no tempo, em 1972 a prefeitura determinou que 6 viações acrescentassem uma letra após o número do ônibus, pra evitar numerações repetidas. Poderia ser ‘A’ ou ‘B‘, conforme a tabela abaixo.

Nº / Letra A B
4.000 CAB Autoviária Joevanza
5.000 Liberdade ITT
6.000 Campo Grande Sul-América

6084-B, alfa-numérico; B. Vista fabricado pela ‘Caio Norte‘, filial da Caio que havia no Recife.

Com isso os busões soteropolitanos ficaram com um sufixo. Me lembrei de Goiânia e São José dos Campos-SP.

Essas duas cidades nos anos 90 também tinham um sufixo diferenciado do resto da numeração – mas nesse caso era numérico.

Não para por aí. Curitiba, desde 1992 e até hoje (escrevo em 2022) também tem numeração alfa-numérica de sua frota.

Próxs. 4 fotos: BTU na pintura livre. Nos anos 80 um Caio Gabriela, a Busscar/Nielson ainda não fazia ônibus urbanos.

Apenas nos ‘latões’ curitibanos as letras são a frente dos números.

Seja como for, é mais um paralelo na busologia das capitais baiana e paranaense.

A exemplo das ‘padronizações informais’ que ocorreram em ambas precedendo a padronização oficial.

BTU: “HERÓIS DA RESITÊNCIA”-

Vou recapitular algumas informações já grafadas acima, e que ademais são de domínio público.

A partir da déc. de 90 só dá Busscar; a viação era grande cliente dessa montadora de Joinville-SC. Esse é metropolitano (vai pra Arembepe em Camaçari), o anterior e os 3 a seguir municipais de Salvador.

Usando de exemplo a ‘B.T.U., iniciais de ‘Bahia Transportes Urbanos.

Que tinha uma das pinturas mais bonitas de Salvador, azul e vermelho, as cores da bandeira baiana que a nomeia.

Seus busões nunca foram brancos, preferiu manter seu estilo tradicional.

Nem mesmo a parte de cima (‘blusa’) ficou alva, como já estava em voga nos anos 90.

Muito menos inteiro descoloridos, que se tornou quase universal logo a seguir.

Ecoss, último modelo feito em larga escala pela Busscar (ainda houve Urbanuss 2010, mas ela já estava quase fechando as portas).

Pois a BTU não adotou a “padronização branca” voluntária do começo desse milênio (exceto com alguns poucos veículos)

Seus busões, na imensa maioria da frota, continuaram multi-coloridos enquanto foi permitido por lei.

Depois veiopouco após da Copa de futebol, como ditoa padronização  denominada ‘Integra Salvador’, a 1ª da cidade. 

Aí a BTU entrou porque foi compulsória, imposta pela prefeitura.

Esse e o o próximo são o mesmo veículo.

A cidade foi dividida em 3 faixas, cada uma operada por um consórcio.

A BTU faz parte da faixa da Orla, azul. A viação agora é parte do consórcio Salvador Norte, ao menos a parte da sua frota que fazia linhas municipais.

Digo isso porque ela fazia linhas municipais e metropolitanas em Salvador, enquanto foi permitido com a mesma pintura, vermelho embaixo e azul acima

O ramal municipal da empresa agora é assim, foi incorporado ao consórcio Salvador Norte.

As viações metropolitanas não entraram no ‘Integra Salvador’, que é uma padronização municipal.

As empresas que fazem linhas inter-municipais continuam em pintura livre.

Pra operar as linhas da BTU que ligam a capital a Lauro de Freitas e a ora de Camaçari foi criada outra empresa, a BTM – Bahia Transportes Metropolitanos.

E ela, já falamos acima, adotou uma pintura idêntica ao ‘Integra Salvador’, apenas usando a cor vermelha, que não existe no sistema municipal.

Os veículos de linhas inter-municipais foram transferidos pra BTM, que usa uma pintura semelhante ao ‘Integra Salvador‘ (entre outras decorações, pois não há padronização)

O fez por que quis, numa homenagem, e não por ter sido obrigada, pois repito as viações metropolitanas ainda podem decorar sua frota como quiserem.

Há um caso igual em Fortaleza, onde empresas que fazem linhas inter-municipais igualmente ainda escolher como decorar sua frota.

A ViaMetro (que atende o subúrbio metropolitano de Maracanaú, na Zona Sul) da mesma maneira adotou uma pintura igual ao que na época era a padronização da capital, somente mudando o azul-claro pelo amarelo.

Transição BTU/BTM: ainda na antiga pintura, adesivaram o nome da nova viação.

………….

Enfim, meus amigos. Eis um resumo da história do transporte soteropolitano, dos anos 70 até hoje.

Há muito o que melhorar, sem dúvidas. Mas é indiscutível que em relação ao século 20 e início do 21 houveram muitos avanços no transporte de Salvador.

Um colega, que só esteve na cidade uma vez e há muito tempo, não teve a melhor impressão do que viu.

Até mesmo um ônibus em teste conta com ambiente climatizado. Nada mal, eu diria.

Respondi a ele na seção de ‘comentários’ da abertura da Série sobre a Bahia:

“    Então eu diria que vale sim uma segunda visita sua. Você vai gostar do que vai ver.

Alias, se possível espere até a inauguração do VLT (composições também chinesas, como a ponte que está sendo feita pra Ilha de Itaparica, a qual ele aludiu) e corredores de BRT. Aí o transporte em Salvador será de primeiro mundo:

Um dia o modal metropolitano chega lá.

3 linhas férreas de qualidade uma ao lado da outra (VLT na Avenida Suburbana, 2 de metrô na BR-324 e Av. Paralela), como um ‘tridente do bem’.

E modernos corredores com estações de embarque pré-pago e articulados correndo transversalmente ao modal ferroviário, interligando suas linhas. Vai ficar bom!

Se Deus quiser assim, certamente irei de novo a Salvador ainda nessa vida. Daí a gente se encontra lá, e come um acarajé no Mercado-Modelo.

Se imagens valem por milhares de palavras, terminamos como começamos, mostrando o quanto o transporte de Salvador evoluiu. Ontem: pessoas eram transportadas como gado, penduradas nas portas.

Na sequência vamos de VLT pra Paripe, e quem sabe até Camaçari. Na volta, não chegamos até o Centro.

Descemos no meio do caminho e pegamos um moderno articulado até a orla, pra ‘passar uma tarde em Itapuã‘! Oxalá seja assim!!!    ”

Feito esse convite, podemos arrematar: Deus permitiu, esse trabalho de retratar o que presenciei em Salvador se iniciou em 22 de abril de 2021.

(Aniversário do descobrimento do Brasil, que ocorreu na Bahia como todos sabem.)

Hoje: parte da frota tem até ar-condicionado. Será que é preciso dizer mais alguma coisa?

E hoje, 22 de abril de 22, exatamente um ano depois, concluo a missão. A todos os leitores, meu “muito obrigado”.

Toda Glória e Louvor ao Criador.

Assim É.

Deus proverá

Blumenau, a “Alemanha Brasileira”

a vida no morro: blumenau é santa catarina

Casas em ‘enxaimel‘ (modelo de construção típico alemão) na Beira-Rio: isso é Blumenau.

Por Maurílio Mendes, O Mensageiro

Publicado em 02/02/2022

Maioria das imagens de minha autoria, no último dia de 2021 (31/12/21). As que forem baixadas da internet você identifica pelos créditos, mantidos sempre que impressos nas mesmas, ou na falta destes adiciono um ‘(r)’, de ‘rede’.

Blumenau é a cidade mais alemã do Brasil (certamente entre as grandes e médias, que têm mais de 300 mil habitantes).

Esse fato é bastante conhecido, mesmo quem nunca foi até ali geralmente sabe disso, pois muito bem propagandeado.

Agora, toda moeda tem duas faces. O lado menos conhecido de Blumenau (abreviada ‘BNU’) é que de seus 300 e poucos mil moradores cerca de 60 mil vivem em ocupações irregulares nos morros.

Morro da Rua Araranguá, no bairro Garcia próximo ao Centro: isso também é Blumenau.

Bem, a tragédia de 2008 (quando alguns desses morros desabaram) mostrou ao Brasil todo essa característica de Blumenau, a de que uma porção significativa de sua gente mora nas encostas.

Abaixo falamos mais disso. Por enquanto, já que tocamos no tema da população, Blumenau é a terceira maior cidade de Santa Catarina.

A maior cidade do estado é capital Florianópolis, onde moram perto de 850 mil pessoas. Depois vem Joinville, com 581 mil, e na sequência Blumenau com 483 mil.

Desfile da ‘OktoberFest’ de 2012 (r).

(Em todos os casos os dados incluem a região metropolitana e são do censo de 2010, até o momento que escrevo o último realizado no Brasil.)

Contando somente os municípios-sede, Joinville é o mais populoso com 515 mil, seguido da capital Floripa com 421 mil, e Blumenau da mesma forma é o 3º com 309 mil.

Bem, Blumenau é Santa Catarina, em todas as dimensões.

Aqui e a acima da manchete o prédio da prefeitura, com o famoso letreiro “Eu Amo Blumenau” escrito em alemão.

E muitas das cidades catarinenses se espraiam nas encostas dos morros, exatamente ao contrário do Paraná.

No PR, começando pela capital Curitiba e se espalhando pelos maiores centros do interior, geralmente há alguns bairros em morros, mas ínfima minoria.

Ponta Grossa (‘P.G.’) é a exceção. Ali, ao contrário, a maior parte dos bairros é em ladeiras, mesmo perto do Centro.

Próxs. 4 fotos: bairro Progressodá pra andar no telhado da casa sem subir nenhum degrau.

Em PG é comum o desnível ser tão agudo que você está andando na rua e o telhado da casa ao lado está na altura de seus pés, você poderia pisar nele se quisesse.

Não por outro motivo denominei a matéria sobre Ponta Grossa como “A Vida no Morro“.

Afora PG, as maiores cidades paranaenses são majoritariamente planas, digo de novo e é notório.

Muitos bairros da periferia de Blumenau são no morro em meio ao verde. Vida tranquila, mesmo numa cidade grande.

Em Santa Catarina, que é nosso tema de hoje, é o contrário do Paraná.

Em SC é comum parte significativa da população morar nas encostas, Blumenau segue essa regra.

A exceção catarinense é Joinville. A maior cidade do interior, e município mais povoado do estado, quase não tem bairros com ladeiras, é basicamente plana.

Porem das 4 maiores cidades catarinenses as outras 3 (Florianópolis, Blumenau e Itajaí/Baln. Camboriú) tem essa realidade, muita gente nos morros.

Em Blumenau, especificamente, me deparei de novo com a mesma cena que vira em Ponta Grossa: caminhando pela via pública no mesmo nível do teto das moradias ao lado.

BLUMENAU X JOINVILLE:

A RIVALIDADE DAS CIDADES GERMÂNICAS –

Blumenau e Joinville são “rivais” digamos assim, mas falando numa competição saudável.

Precisa dizer mais?

O que é natural. Distam apenas 97 km uma da outra, são as duas maiores cidades do interior catarinenses, e ambas têm uma forte herança alemã.

Trabalhei uma vez com um colega que morava em Curitiba a pouco tempo, mas que era blumenauense.

Em sua cidade-natal ele jogava basquete. Me contou que quando enfrentavam a equipe joinvillense eles davam um gás extra.

Próximas 4: bairros centrais de renda mais elevada. Essa foto na Beira-Rio (oficialmente a Avenida Presidente Castelo Branco).

Era uma motivação forte, porque nas suas palavras eles podiam perder pra outras cidades, “mas pra Joinville não”.

Sempre que há duas cidades importantes uma perto da outra essa rivalidade se instala.

No Paraná há a ‘disputa’ entre Londrina e Maringá, no Norte, e entre Cascavel e Foz do Iguaçu, no Oeste.

No estado de SP, no Oeste Bauru e Marília competem, e no Norte Ribeirão Preto x São José do Rio Preto.

Entre muitos casos Brasil e mundo afora. Enfim, é o ser humano. Blumenau e Joinville são apenas mais um exemplo.

Blumenau é uma cidade nacionalista, as bandeiras do Brasil estão por várias partes – idem pro ‘Vale Europeu’ que a rodeia.

UMA CIDADE DE MONTANHA:

ÔNIBUS ANTES DAS 4 DA MANHÃ –

Por conta de sua topografia, Blumenau tem uma característica peculiar.

Fica entre as montanhas. Então isso faz com que a cidade se desenvolva de forma diferente do que ocorre geralmente.

Quase todas as metrópoles seguem o mesmo modelo de urbanização.

Aqui e nas 2 abaixo.: bairro Alameda.

Vão se espraiando pra todos os lados, de maneira uniforme. Exemplificando é mais fácil entender.

São Paulo, Curitiba, Campinas-SP, Belo Horizonte-MG, Goiânia-GO, Brasília-DF, entre muitos outros exemplos, todas elas crescem pros 4 pontos cardeais: norte, leste, sul e oeste.

Esse casarão em estilo germânico foi restaurado, hoje abriga uma escola.

Em algumas cidades a montanha ou principalmente o mar ou um grande rio impedem o desenvolvimento pra um desses lados.

O exemplo mais clássico é o Rio de Janeiro, que não tem Zona Leste, pois essa seria dentro da Baía da Guanabara. O Recife-PE e Buenos Aires-Argentina tampouco possuem Z/L.

Enquanto que Porto Alegre-RS e Belém-PA não contam com a Zona Oeste, Fortaleza-CE não tem Zona Norte, e Manaus-AM está alijada da Zona Sul (novamente, citando alguns exemplos entre muitos).

Ainda assim, todas elas crescem de forma uniforme pros 3 lados que estão disponíveis.

Em Blumenau é diferente, o relevo é muito montanhoso. Com isso algumas coisas acontecem:

Primeiro os bairros vão ficando muito distantes, pois vão ocupando o pouco espaço plano disponível.

Exatamente igual acontece em Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo-RJ, e pelo mesmo motivo.

Teatro Carlos Gomes, de 1942.

Curitiba tem a população 6 vezes maior que Blumenau (agora falando só dos municípios, excluindo região metropolitana).

Na capital do PR moravam 1,8 milhão de pessoas no censo de 10, enquanto que em BNU eram 300 mil.

Ainda assim, em Blumenau os ônibus começam a circular quase uma hora antes.

Rua em frente ao Terminal da Fonte: repare na arquitetura peculiar do sobrado.

As linhas que iniciam mais cedo em Ctba. são as que atendem os bairros do extremo da Zona Sul.

Me refiro ao Rio Bonito (Campo de Santana) e Tatuquara. Saem do ponto inicial as 4:40, ou seja 20 pras 5 da manhã.

Em Blumenau as linhas que atendem as vilas mais distantes fazem a 1ª viagem quase uma hora antes, as 3:50 (10 pras 4).

Casas de madeira no morro da R. Araranguá, também perto da Fonte. O material muda, mas o sobrado tem a mesma forma no teto. Há muitas moradias assim em Blumenau.

Há 3 ‘raios’ principais ao redor dos quais os bairros mais distantes vão se desenvolvendo. Pra Velha a oeste, Progresso ao sul e as Itoupavas ao norte.

A Vila Itoupava fica a 26 km do Centro. É mais longe que Pomerode.

Só que Pomerode é outro município, e a V. Itoupava pertence a Blumenau.

É preciso pegar praticamente a estrada, dentro da cidade.

Um estilo arquitetônico típico não apenas da Alemanha, mas também de todo Centro-Leste da Europa (povos eslavos). Fiz esse desenho da Ucrânia, o diálogo é no alfabeto cirílico. O telhado é igual aos que cliquei em SC.

Os bairros são afastados, e urbanizados somente poucas quadras pra cada lado da avenida.

Você vai vendo muito verde, e montanhas ainda não ocupadas.

É uma sensação diferente a que estamos acostumados em outros lugares. Parece estar viajando sem nem mesmo sair de Blumenau.

Pra quem mora nesses subúrbios, o custo do deslocamento pra chegar a Zona Central é alto, tanto em tempo quanto em dinheiro.

Em compensação, as pessoas moram em meio ao verde, quase como se fosse numa chácara em alguns casos.

Próximas 6: mais algumas do morro da Rua Araranguá (placa no detalhe), pra vermos um pouco da periferia da cidade.

Segundo, Blumenau é muito quente. Faz 40º brincando.

E como a cidade é num vale, entre as montanhas, fica abafada.

Muito quente mesmo, a ponto de chamar a atenção até dos amazônidas.

Eu me deslocava de ônibus entre os Terminais da Fonte e Garcia.

Muitas vezes a garagem é fechada, ao nível da rua. É preciso subir escadaria a seguir.

Atrás de mim sentaram um casal de colegas, trabalhadores do transporte coletivo.

Fui ouvindo a conversa deles. Ambos vieram do Norte do Brasil.

A mulher é do Amapá, e estava em SC já a 3 anos no final de 21.

O homem é do Pará, e na ocasião recém-chegado ao Sul do Brasil. Ela, mais ambientada, o aconselhava.

Dizia que ele iria estranhar o frio no inverno sim. Mas que no verão “é tão quente como no Norte“. Encerro meu caso.

Faça a soma: Blumenau tem uma grande parte de sua população de pele e olhos claros.

E o sol é intenso. Resultado: o câncer de pele é um problema bem sério.

Um dia, anos atrás, eu estava no Centro de BNU, e panfletos eram distribuídos pra alertar a população sobre os perigos dessa doença.

Outra consequência é o grande número de blumenauenses que moram em condições precárias no alto dos morros.

Várias famílias são mais humildes, mas há muitas de classe-média; esse sobrado a direita na imagem tem até piscina.

Um adendo aqui: em BNU morar nas encostas não é algo tão estigmatizado como no Rio e muitas outras cidades.

No Rio de Janeiro “morro” é praticamente sinônimo de “favela“.

A “escolha de quem não tem escolha”, digamos assim.

Em Blumenau é diferente. Há ocupações irregulares, sim. Há partes da encosta que estão favelizadas.

Ainda assim, em BNU dezenas de milhares de pessoas moram nas montanhas sim, mas em condições precárias não.

E sim em casas normais e escrituradas. Blumenau se espraia pelos morros.

Logo, bem mais de uma centena de milhar de blumenauenses vive nas encostas.

Pra muitos é absolutamente normal, não há nada de degradado no bairro.

Apenas é preciso subir ladeiras, o que já serve de academia gratuita.

O morro tem favelas, mas não sinônimo de favela, entende a diferença?

Aqui e a dir.: Blumenau alagada pela enchente de 1983 (r). O rio subiu 15 metros.

Tanto que quando tudo desabou em 2008 vieram abaixo milhares de casas de médio e até de alto padrão.

ESSA CIDADE É UMA FÊNIX:

A NATUREZA DESTRÓI, BLUMENAU RECONSTRÓI –

Bem, nem foi a primeira vez que Blumenau passou por uma tragédia de proporções bíblicas.

Em julho de 1983 choveu muito forte por vários dias seguidos.

A prefeitura. Vemos vários Fuscas (r). Esse carro dominava as ruas brasileiras a época.

Resultando que o Rio Itajaí-Açu transbordou, alagando toda a parte baixa da cidade (imagens acima e ao lado).

No auge ele estava 15 metros acima do normal. Levou um mês pra voltar a seu nível normal (32 dias, sendo mais exato).

8 pessoas morreram e 50 mil ficaram desabrigadas, 29% dos blumenauenses a época.

No ano seguinte, em 1984, houve novo alagamento, dessa vez o rio ficou bem menos dias fora do leito.

Nessa e a seguir o desabamento de 2008 (r).

Pra ajudar a levantar recursos pra reconstruir a cidade, em 1984 começou a ‘OktoberFest‘.

Festival de cultura alemã que se tornou famoso no Brasil todo (fui a 11ª edição da ‘Oktober’, em 1994).

Em novembro de 2008 novo temporal fustigou Blumenau. Dessa vez não houve grandes enchentes.

Porém, dizendo de novo o que todos sabem, boa parte dos morros veio abaixo, trazendo junto tudo que estava sobre eles.

Não foram só favelas que vieram abaixo (r).

Apenas em Blumenau foram 24 mortes (150 no total em Santa Catarina).

Gerando 3,5 mil desabrigados. Bem menos que em 1983? Sim.

Porém nos anos 80 em um mês as pessoas puderam retornar pra suas casas.

Em 2008 a avalanche destruiu tudo, não havia pra onde voltar.

Artex, somente uma das muitas grandes confecções ali sediadas.

Alguns blumenauenses ficaram refugiados por até 2 anos, morando em ginásios das escolas.

Foi preciso recomeçar. Um espírito de fênix, sempre se recuperando das tragédias que o fustigam.

A CIDADE DA TECELAGEM –

Blumenau, notoriamente, é uma região altamente industrializada.

Por todo o século 20 a tecelagem, especialmente, foi uma das bases da economia local.

Acima o barracão da Artex. A cidade também é a sede da Hering, dentre muitas outras empresas do ramo.

Veja a direita. Minha esposa comprou fio pra fazer crochê. Também é fabricado em BNU.

As indústrias trouxeram progresso. Blumenau teve o primeiro cinema de Santa Catarina – e um dos primeiros do Brasil.

Calçada no Centro com o mapa do estado de SP (vi o mesmo em Toledo-PR uma vez), imitando o estilo da capital paulista . Outra coisa: “lavação” é o termo de SC pro que no Sudeste se chama “lava-jato”, em Ctba. usa-se o estrangeirismo “lava-car“.

Trata-se do Cine Busch, inaugurado na década de 20 (do século 20 evidente).

Operou por cerca de 7 décadas. Nos anos 90 fechou as portas.

Alias Blumenau, assim como o planeta em geral, vem mudando bastante desde a virada do milênio.

“DOIS BRASIS”? MAS SÓ EXISTE UM BRASIL:

BLUMENAU, “CIDADE DO ‘FUNK’ ” –

Em 2006 trabalhei em vários bairros da cidade, fazendo levantamento de intenção de voto por conhecido instituto de pesquisas.

Perto do Centro um senhor já de certa idade me falou que havia “dois Brasis“.

Querendo dizer que o Sul é bastante distinto do Nordeste e até do Sudeste.

Que há muitas diferenças é evidente. Deus já me permitiu conhecer uma boa parte dessa nação-continente, e atestei com meus próprios olhos. 

Há pichação em Blumenau, mas bem pouco (essa é na Beira-Rio): a letra é oriunda de Curitiba, por sua vez foi importada de SP.

Agora, a ponto de serem “dois Brasis”? Acho que não.

Estive no Recife em novembro de 2020, e lá me informaram que boa parte dos pedintes nos sinais são venezuelanos.

Pois bem. Um ano em pouco depois, ouvi o mesmo relato em Blumenau.

Tem mais. Nessa ocasião na 1ª década do novo milênio subi o morro da Rua Araranguá.

No bairro Garcia, próximo ao Centro de BNU, batendo nas casas pra entrevistar os moradores.

Em 2021, quinze anos depois, repeti o mesmo roteiro, agora fotografando pra produzir essa matéria.

Blumenau tem muita gente morando nas encostas, inclusive dezenas de milhares de pessoas em condições bem precárias.

Bíblia numa praça no Centro.

Alemanha Brasileira? Há bastante traços germânicos na cidade, é fato.

Ainda assim em termos sociais Blumenau é Brasil, é América Latina de corpo e alma.

Além do mais, constatei que entre os jovens do morro o ‘funk’ é bastante popular.

Não para por aí. A seguir fui fotografar a Beira-Rio, o ‘coração’ da cidade, a mais famosa rua bumenauense.

Então. Não sei se era um bar ou uma residência. O que sei é que numa esquina tocava em altíssimo volume esse mesmo ritmo, o ‘funk‘.

Que pelo visto no século 21 é popular mesmo no ‘Vale Alemão’ de SC.

Beira-Rio, aparece a torre de uma igreja.

Exatamente como no Rio. E também Recife, Salvador, Fortaleza, Belo Horizonte, Curitiba, São Paulo e Porto Alegre.

Definitivamente, não há “dois Brasis”. Só existe um Brasil. E Santa Catarina faz parte dele.

BLUMENAU X CHILE:

ALGUNS PARALELOS INTERESSANTES –

Rua 15 de Novembro, paralela a Beira-Rio: a mesma torre mais de perto.

Pra conversa começar, há em Blumenau um bairro que se chama Valparaíso.

Como é domínio público, essa é a maior cidade do Chile após Santiago, sede de seu maior porto e também do Congresso.

Já que falamos de Santiago, no Centro da capital está o Palácio La Moneda.

Ao redor dele é o epicentro cultural, econômico e político da nação.

Aqui e a esq.: morro na periferia de Valparaíso. Repare nas placas de rua pintadas a mão, marrons com flecha branca.

Então, amigos. E a avenida se chama oficialmente “Libertador Bernardo O’Higgins”.  

Porém é conhecida entre todos simplesmente como “Alameda“.

De volta a BNU, o bairro mais aburguesado da cidade no mapa consta como “Jardim Blumenau“.

No entanto conhecido entre todos como…”Alameda“. Que coisa né?

Valparaíso, Chile, 2015.

Estou só me aquecendo. No Chile as placas de rua serem marrons e trazerem uma flecha com o sentido (é exatamente igual no Paraguai).

Nos bairros centrais, e nas vias principais da periferia, é um artefato de metal, oficial, posto pela prefeitura.

Nos morros e vilas afastadas as coisas são mais improvisadas, por sua natureza mesma.

Então. Nesse caso muitas vezes os próprios moradores pintam por sua conta.

Blumenau, último dia de 2021.

Nos muros ou plaquetas de madeira que afixam nos postes.

Fotografei alguns casos nas ladeiras do bairro São Roque, Valparaíso, Chile (2 imagens acima).

E agora em Blumenau vi uma no mesmo estilo (dir.). Incrível coincidência.

Se é que existem ‘coincidências’ no Universo, mas isso já conversa pra outro dia.

……….

Vamos comentando mais algumas das cenas que fotografei.

Já que entramos no terreno ‘místico’, digamos assim, ao lado praça no bairro Garcia.

Com o letreiro “Eu Amo Garcia” igualmente em alemão.

Prefeitura. Nos destaques taxi do RJ e letreiro no idioma germânico, dessa vez “Eu Amo Blumenau“. Os turistas amam tirar fotos ali.

E no poste do outro lado da rua um cartaz sobre Hercólubus.

Já fotografei o mesmo aviso em Joinville, e também Valparaíso. Não o bairro de Blumenau, que alias é ali perto dessa praça.

E sim a Valparaíso original, no litoral do Chile. Escrevi em 2015, quando fui a esse país:

“    Propaganda da Gnose (doutrina muito forte na Colômbia) alerta pra chegada de ‘Hercóbolus’.

Mais 2 do Rio Itajaí-Açu, ao redor do qual a cidade de Blumenau se fez.

Um ‘planeta intruso’ ao sistema solar que segundo muitos creem provocará grandes desequilíbrios na Terra. É esperar pra ver . . .”

Repeti quase com as mesmas palavras em 2017, na volta de Joinville:

    Cartaz do Hercólobus. Segundo a ciência oculta, um ‘planeta intruso’ que não faz parte do sistema solar, mas que passará perto da Terra nesse começo de milênio.

A Ponte Velha, ao lado da prefeitura (também vista na foto da enchente, mais acima).

Ocasionando muitas mudanças no nosso planeta. Vamos ver no que dá. . .

Bem, isso foi do meio pro fim da 2ª década do novo milênio.

Quando adentramos a 3ª década (2020) de fato grandes mudanças começaram a acontecer na Terra.

Essa epidemia de corona-vírus é um tema explosivo, altamente polêmico.

Certamente não iremos debatê-lo nesse espaço, que não é adequado pra tanto.

No entanto que o planeta mudou radicalmente creio que poucos contestariam.

E ainda irá mudar bem mais. Quem tiver ouvidos que ouça . . .

Voltando aos temas mais terrenos, a direita o famoso ‘Castelinho’.

Bairro Progresso, casas mais humildes no morro. No destaque adesivo aludindo aos 500 anos da Reforma Protestante.

É o imóvel que abrigou as lojas Moellmann, inaugurado em 1978.

Foi inspirado no prédio da prefeitura de ‘Michelstadt’, o mais antigo da Alemanha, construído em 1484antes do Brasil ser “descoberto“.

Em 1999 as lojas Moellmann fechou as portas. Mas outra rede de lojas, cuja sede é em SC, agora abriga ali uma de suas filiais.

Mantendo a tradição do ‘Castelinho’ de ser uma importante loja no Centro de BNU.

Quem sabe alguém um dia também retoma a tradição do ‘Grande Hotel’, visto ao lado.

O prédio de 14 andares foi construído entre 1959 e 1962.

No mesmo local onde já funcionara o Hotel Holetz, entre 1902 e 1959.

O Grande Hotel, por sua vez, esteve ativo entre 1962 e 2014.

Comércio fechado no Centro.

Quando foi interditado compulsoriamente pela justiça por acumulo de dívidas.

Enquanto manteve as portas abertas, era um ícone do setor de turismo em Blumenau, com 4 estrelas.

Tinha 88 apartamentos, restaurante, centro de convenções e até mesmo um museu anexo.

Me lembrei muito de Joanesburgo/África do Sul, onde vi cena exatamente igual:

3 próximas cenas da periferia, próximo ao Progresso. Aqui ‘kit-nets’, são 3 moradias independentes (‘quarto-&-cozinha’) nessa construção. Repare que lá atrás no muro há uma mulher desenhada.

Imponente prédio de hotel que marcou época no Centro agora vazio.

Voltando a nosso país, cliquei o mesmo também em Salvador e no Rio de Janeiro, em 2020.

A justiça já tentou algumas vezes leiloar a massa falida do Grande Hotel blumenauense, até agora sem sucesso.

Bem, já que um dos tópicos dessa postagem é comparar Blumenau com Joinville, recordei do que aconteceu a Busscar.

Cheguei na esquina, o desenho é de um salão de beleza. O prédio ao lado também aluga ‘kit-nets’. Montanha ao fundo, as casas na encosta em escala maior na próxima tomada.

Como todos sabem, fabricante de ônibus que tem sede em Joinville.

Era da mesma forma um ícone joinvillense, catarinense e mesmo brasileiro.

Teve sua falência decretada pelo poder judiciário, pelo não-pagamento das dívidas.

Várias tentativas de leilão malograram. Mas em 2018 a Caio comprou a Busscar e a fez voltar a ativa.

(Apenas com a ressalva que apenas no segmento rodoviário, urbanos não.)

……….

As duas tomadas abaixo são de outro morro, o da Rua Araranguá.

A esquerda ainda mais um edifício que aluga as ‘kit-nets’.

Tanto que os dois apartamentos do térreo possuem saída direto pra rua, não há saguão.

No destaque um orelhão que havia do outro lado da rua.

Estava quebrado, tanto o poste quanto o aparelho dentro do suporte estão derrubados. Obviamente não funciona.

Esses dias atualizei a postagem sobre as figurinhas do Ploc Gigante. Escrevi:

Na virada pra 2022 ainda existem Fuscas rodando. Numa cidade que é tão ligada a Alemanha, creio que nada mais justo.

   Os orelhões estão sendo extintos com a universalização da telefonia celular.

O telefone público – que aqui no Brasil chamamos carinhosamente de “orelhão” – breve deixará de existir em nossas ruas.  

De fato assim é. Mas curiosamente nesse dia, na virada de 2021 pra 22, além desse destruído achei em Blumenau um outro orelhão ainda funcionando, e o utilizei. Talvez pela última vez na vida…

Mais cenas de construção em ‘enxaimel’ na Beira-Rio e imediações:

Próxs. 14 fotos: Blumenau. Iniciando por esse belo Mercedes Monobloco da Glória, pintura livre, ‘saia’ azul e ‘blusa’ branca.

O TRANSPORTE EM BLUMENAU: 1ª PADRONIZAÇÃO IDÊNTICA PRA TODAS AS LINHAS, DIFERENCIAÇÃO POR CATEGORIA, REPADRONIZAÇÃO IGUAL EM TODA FROTA, OS ARTICULADOS VIERAM MAS FORAM EMBORA –

Blumenau, 3ª maior cidade de Santa Catarina, não tinha transporte integrado até o fim dos anos 80.

Nessa época iniciam-se os estudos pra implantação de um sistema utilizando terminais e com pintura padronizada.

Incasel da Rodovel, também na pintura livre. Repare na logomarca da viação, ao lado da porta traseira, com sua letra característica .

Até então vigorava a pintura livre, a operação ficava a cargo das viações Glória (acima) e Rodovel (ao lado).

No virada pra década de 90 (ou logo no início dela) esse trabalho rende os primeiros frutos:

É implantada a 1ª pintura padronizada, todos os ônibus da cidade ficaram em unicolor azul, ainda sem diferenciação por categoria de linha.

Escrito ‘Cidade de Blumenau’ atrás da porta dianteira, pra onde o embarque foi invertido.

Outro Incasel da Rodovel (Volvo alongado) na pintura padronizada, ‘Cidade de Blumenau’ a frente. No fundo a logomarca da Rodovel, no mesmo local que era na pintura livre.

Como uma transição, as viações puderam manter suas próprias logomarcas perto da porta traseira, como era na pintura livre.

Além das das citadas acima, entra no sistema a viação Verde Vale, que até então só fazia linhas metropolitanas.

Nesse momento ainda não há integração. Em 1991 começa a construção dos terminais.

Em 1995 são entregues os terminais da Fonte, Garcia e Aterro.

Próxs. 3 fotos (r): em 1995 com a inauguração os terminais vem a 2ª padronização, com diferenciação por categoria; ‘Troncal’ em vermelho, “Cidade de Blumenau” se mantém; a seguir, pela ordem, Alimentadores em azul e Interbairros em verde.

Dando início a integração, que no início abrangia poucas linhas.

O Terminal da Fonte é o Terminal Central, diferenciado dos terminais dos bairros.

Com os terminais operando vem a segunda padronização de pintura.

Com diferenciação por categoria, como também ocorre em Curitiba, Joinville (ao menos era assim na época) e tantas outras cidades:

Como eu acabei de dizer, o Terminal da Fonte é o Central.

Assim, a cor de cada linha se refere a se o ônibus passa pela Fonte ou não.

Os ônibus se tornam brancos, com uma faixa horizontal indicando o tipo de linha:

Troncal em vermelho, as linhas que ligam o Terminal da Fonte a outros terminais, imagem acima a esquerda.

(Mais uma vez inspirado em Curitiba, pois aqui os Expressos são vermelhos);

Alimentadores em azul, saem dos terminais e vão pros bairros próximos.

(Nessa primeira etapa inclusive os alimentadores da Fonte, a foto de 459 a direita deixa claro);

Interbairros em verde, ligam os terminais sem passar pelo Centro.

(Aqui xerocaram a cor e o nome de seus equivalentes curitibanos).

Aqui e nas 4 imagens a seguir: 3ª padronização, unicolor diferenciação por categoria – troncais viraram amarelos, aqui outro Comil.

Acima um Comil Interbairros da padronização com fundo branco, imagem raríssima (r).

No século não haviam celulares ‘inteligentes’, com câmeras embutidas.

Era bem mais caro e difícil tirar fotos com as máquinas fotográficas analógicas.

Como essa padronização de fundo branco foi brevíssima, não deu tempo de muita gente fotografá-la.

Sendo os Interbairros a categoria menos comum só consegui achar esse registro:

Alimentadores e Interbairros permanecem nas mesmas cores do padrão anterior: respectivamente azuis (esse) e verdes (a esq.).

Pra compensar insiro a foto da miniatura desse mesmo veículo, logo a seguir.

1997 é um ano que traz muitas mudanças no transporte da cidade.

Dizendo mais uma vez, somente dois anos depois da 2ª padronização vem a 3ª pra substituí-la.

Foi quando a frota se tornou novamente unicolor, porém dessa vez ainda dividida conforme a categoria da linha.

Os Troncais passam a ser amarelos (acima). Alimentadores e interbairros seguem azuis e verdes, respectivamente.

É criada a categoria Radial, em bege. Trata-se dos alimentadores do Termina da Fonte.

Os Radiais são integrados. Mas como eles ligam bairros centrais ao terminal central seriam os equivalentes dos Convencionais de Curitiba, por isso ganham sua própria cor.

Foi criada a categoria ‘Radial’, em bege.

E como ocorrera em Joinville o ‘Cidade de Blumenau’ se torna apenas ‘Blumenau‘.

É inserida a bandeira municipal, tradição catarinense que também ocorreu em Londrina-PR.

Em 97 chegam também os primeiros articulados de Blumenau.

Blumenau contou com articulados – esse Torino ‘5’ depois rodou em Curitiba.

A maioria deles recebe a cor amarela, pra linhas troncais.

Entretanto existem também articulados azuis, pras linhas alimentadoras de maior demanda.

Nesse mesmo ano é criado o modal ‘Alpino’, de micro-ônibus pra atender as vilas no alto dos morros, de difícil acesso pros ônibus grandes.

Em 1999 é inaugurado o Terminal Fortaleza, e em 2003 o Terminal Proeb.

Aqui e a seguir: em 2016 a Piracicabana assumiu o transporte blumenauense – no início com ônibus brancos, mas a bandeira da cidade continua presente.

Há planos de fazerem também os terminais Itoupava e Água Verde, mas até o momento que publico a matéria, em 22, ainda são apenas projetos.

E assim segue até 2016. Nesse ano ocorre uma mudança radical.

Quando por via judicial a viação Piracicabana, do grupo Constantino (dono da viação aérea Gol), assume o monopólio do transporte municipal blumenauense.

Exclui as 3 viações que operavam a décadas na cidade, a Verde Vale desde 1989, a Glória a mais de 50 anos.

A Verde Vale volta a operar somente linhas metropolitanas, como alias fazia antes de entrar no sistema municipal de Blumenau.

Nos primeiros dias a Piracicabana põe nas ruas ônibus brancos, trazidos de São Paulo.

A bandeira de Blumenau é mantida, mesmo nessa fase de improviso.

4ª padronização, toda frota em cinza, porém o mesmo estilo da padronização anterior. Não há mais articulados em Blumenau.

A seguir Piracicabana – agora chamada ‘BluMob’ – implanta a 4ª padronização de pintura:

Toda a frota se torna cinza, sem distinção por categoria de linha – como era na 1ª padronização.

Os busos são mantidos unicolores, com a bandeira e a inscrição ‘Blumenau’.

Infelizmente Blumenau deixou na ocasião de contar com articulados.

As linhas troncais mais carregadas são feitas por veículo ‘padrão’ alongados, mas sanfonados não mais.

Estive em BNU na virada de 2021 pra 22. Ainda havia cobrador em todas as linhas.

Term. Fonte, os bichões aguardam o próximo pega.

Sendo portanto possível pagar em dinheiro. Entretanto sendo planejada pra breve a extinção dessa profissão ali também.

Como vem acontecendo em Curitiba e já é a realidade em tantos lugares.

……….

A 2ª e a 3ª padronizações de Blumenau foram feitas seguindo o modelo de Curitiba (o que é frequente em SC).

O ‘interbairros’ tem até o mesmo nome e cor da capital do PR.

No entanto a 2ª padronização também foi inspirada em Florianópolis.

As imagens valem por muitas palavras. Veja ao lado: Gabriela na padronização EBTU que vigorou dos anos 80 até o meio dos 90 em Floripa.

Agora a direita a padronização adotada em Blumenau em 1995.

Um Amélia. Blumenau sempre teve muitos Caios até 2016. De lá pra cá não mais.

A semelhança é tão evidente que dispensa qualquer explicação.

Apenas na capital catarinense a faixa colorida indicava a região que a linha servia, enquanto em BNU mostrava a categoria da linha.

IMAGENS DO TRANSPORTE BLUMENAUENSE: encerramos a cidade com diversas tomadas, pra relembrarmos o tempo que já se foi

Começando por Torino 1 Scania da Glória em 3 fases, eixo dianteiro sob o motorista como era costume na época:

Viação Verde Vale:

Diversos modais da região metropolitana de Blumenau:

 De volta ao municipal de Blumenau, pintura livre da Rodovel:

Glória:

Alguns detalhes curiosos da transição entre as padronizações:

A 3ª padronização foi a mais longa de Blumenau: durou 19 anos, de 1997 a 2016. A atual, cinza, tem 6 anos quando jogo a matéria no ar (em 2022).

Ao lado Torino 3 no Termina do Aterro, que tem esse nome porque foi feito onde antes era um aterro sanitário.

Mais imagens da época:

A era Constantino, a partir de 2016.

Mapa turístico, veja como alguns bairros são bastante distantes do Centro.

Pra fechar, insiro aqui partes de um texto que escrevi em 2014.

Quando publiquei sobre o município de Rio Branco do Sul (‘RBS’), na Zona Norte da Grande Curitiba.

É relevante ao tema de hoje, porque defini ‘RBS’ como. . .

A “BLUMENAU DO PARANÁ” –

  Entretanto, há uma outra cidade importante que, essa sim, Rio Branco do Sul espelha de forma exata

Ao menos na topografia: Blumenau, Santa Catarina.

Caso conheça o epicentro da cultura alemã no Brasil, sabe que lá mesmo o Centro está prensado pelas montanhas, os espaços planos são raros.

No texto falo da Grande Curitiba. As imagens continuam mostrando BNU. Loja na Beira-Rio ostentando a bandeira nacional.

Por isso cada pedacinho disponível no Vale do Rio Itajaí foi milimetricamente ocupado.

Andando pela Avenida Beira-Rio blumenauense, sempre me impressiono como a cidade foi achando um ladinho no meio da serra pra ir se instalando.

No Centro e muito mais na periferia desse importantíssimo centro industrial catarinense, a urbe se adere a encosta.

Amiúde de forma precária, num duelo permanente que por vezes termina de forma fatal, como a tragédia de 2008 mostrou.

Casa na periferia na mesma sintonia.

Então, Rio Branco do Sul é assim também.

Cada vez que passo pela Rua Carlos Pioli, sua principal via, é inevitável.

Me lembro de minhas visitas ao Norte de Santa Catarina.

Pois o cenário é incrivelmente parecido.  

“Deus proverá”

“É Bom Passar uma Tarde em Itapuã”: É dia de Domingo em São Salvador

da barra a itapoã: é salvador em preto-&-branco

Corredor da Vitória a esq., vemos a piscina do ‘Yatch’ Clube da Bahia. Abaixo dos prédios de alto padrão a favela Vila Brandão: imagem-síntese de Salvador, suas belezas e contrastes

Por Maurílio Mendes,  o Mensageiro

Publicado em 22 de novembro de 2021

Repetindo algo que já falei na abertura da série, certamente você conhece a canção “Tarde em Itapoã”, clássico da música popular brasileira.

Ela conta como “é bom passar a tarde na Praia de Itapoã”, na periferia de Salvador.

Pois bem. Em novembro de 2020 visitei o Recife-PE e a seguir a capital baiana. Meu último dia não apenas na Bahia como no Nordeste em geral foi um domingo – “dia de domingo”, como dizem.

Beira-mar na Orla Atlântica.

Aceitei o convite musical, e fui passar a tarde em Itapoã.

Mais que isso. Fiquei hospedado em Ondina. Comecei esse domingo na Barra e no parque do Morro do Cristo, vizinho a ela.

Pra quem não conhece a cidade, a Barra é a praia da alta burguesia de Salvador.

Na capital mais negra do Brasil, um dos poucos lugares que os brancos são maioria absoluta nas ruas.

Em foto tirada de dentro do metrô da Av. Paralela, o “Extrato Diferenciado”. Salvador é uma cidade de muitos contrastes.

Passei a maior parte do dia nas areias e “aquele mar sem tamanho” de Itapoã, e finalizei na Lagoa de Abaeté, no mesmo bairro.

No subúrbio da capital da BA, ainda que seja a orla do subúrbio, perto de 95% das pessoas são negras ou mulatas.

Claro que a trilha sonora só poderia ser o ‘funk’. Algumas letras eram bastante explícitas na descrição do ato sexual ou dos genitais.

Elevador Lacerda, certamente o cartão-postal mais famoso de Salvador.

Um contraste. Lado “A“, Lado “B“. É Salvador em Preto-&-Branco.

Fiz o que eu sempre faço, em Curitiba ou todas as cidades que visito.

Procuro conhecer os 2 lados, os bairros mais caros, e também os mais afastados.

Já falamos um pouco sobre isso no texto anterior. Então aqui descrevo alguns detalhes que observei por lá.

SALVADOR SE RENOVA, OFERECENDO CONFORTO AOS TURISTAS –

Virando um pouco a câmera pra direita em terra firme vemos o Mercado-Modelo e atrás dele o ‘Forte do Mar‘, inaugurado em 1623.

Um colega, que como eu também mora em Curitiba e igualmente já viajou extensamente pelo Brasil e América, comentou sobre o que achou de Salvador.

Ele esteve lá apenas uma vez já a alguns anos, e ficou pouquíssimas horas.

Portanto sua amostragem é pequena, ele mesmo admite.

Isto ponto, suas impressões não foram das melhores. E ele não está sozinho.

Dentro do Mercado. Destaquei dois detalhes: 1) a placa de ‘proibido fumar’ traz o desenho do estado de SP, como se estivesse no Sudeste; 2) o Ypiranga ainda tem torcedores fiéis.

A capital baiana tinha fama de ser muito bonita e acolhedora, porém as vezes problemática em diversos quesitos. E devem haver motivos pra isso.

Entretanto relato que na única vez que estive em Salvador, em 2020, vi uma realidade diferente.

Completamente diferente. Uma grata surpresa. Eis o que respondi a ele:

“   Salvador deve ter sido uma cidade mal-cuidada no passado, pois tinha essa fama. Mas está muito mudada em relação a esse tempo.

Foto de dentro do Elevador Lacerda.

Por exemplo, nos quase 5 dias que passei lá só vi um sem-teto, e isso que andei extensamente pelo Centro e razoavelmente pela periferia.

Enquanto no Recife, e também em Curitiba, Rio, São Paulo e outras cidades esse problema é epidêmico, chega a ser catastrófico.

Evidente, não estou dizendo que a questão de moradores de rua seja irrelevante na capital da Bahia.

Comércio de artesanato nas imediações do Pelourinho: os quadros mostram cenas estilizadas de Salvador (até o Elevador Lacerda foi pintado) e as famosas imagens das negras com ‘Lata d’Água na Cabeça‘.

Significa apenas duas coisas: 1) Sim, é nítido que minha amostragem, como a sua, foi pequena.

Claro que se eu passasse mais tempo lá presenciaria essa situação pois ela é fato.

Ainda assim, 2), Salvador está melhor cuidada. Se a situação existe, e existe, não é tão grave quanto nas demais capitais.

Pois isso é algo que reparo atentamente onde vou, e você vê que capto muitos detalhes das cidades.   

Ao menos é a impressão que um turista tem. Oras, Salvador depende do turismo.

Também perto do Pelourinho, futebol em plena rua, com calçamento em pedras do tempo colonial (fotografei o mesmo tipo de pavimento no Recife).

Esse setor representa boa parte do orçamento do erário local, tanto estadual quanto municipal.

É importante respeitar o direito das pessoas que moram nas ruas?

Com certeza, e não estou advogando nenhuma medida drástica contra eles.

Ainda assim, é necessário procurar achar um equilíbrio.

Um meio-termo entre não ferir a proposição anterior nem onerar demais a imagem, pois num lugar turístico imagem é tudo.

Ao fundo belo pôr-do-sol na Praia de Ondina. Na quadra a molecada corre atrás da bolano Nordeste o futebol ainda é bem popular.

Também é fundamental que uma cidade que precisa do dinheiro que os visitantes gastam nela oferecer um ambiente limpo e seguro a quem ali está.

Isso deveria ser tão auto-evidente que nem precisaria ser grafado.

Entretanto como vivemos em tempos estranhos especulo que quem sabe encontremos um caminho entre as extremas esquerda e direita.

De qualquer forma, o que vi em Salvador foi isso:

Morador de rua na Cidade Baixa, o único que vi em 5 dias em Salvador.

Uma cidade limpa e segura. Sem multidões de sem-tetos no Centro e na Orla.

Exatamente ao contrário do Rio e Recife (que visitei na mesma época), e Curitiba e São Paulo (cidades que conheço como a palma da minha mão).

Como contei acima, passei meu último dia na Bahia de manhã na Barra e no vizinho parque do Morro do Cristo, e a tarde em Piatã/PlacaFor e Itapoã.

Tanto na praia mais central (frequentada pela burguesia e turistas) quando no subúrbio a Cavalaria da PM estava a postos.

Em compensação as favelas estão por toda parte. Essa é próxima do Centro.

No Nordeste a orla e o Centro são relativamente seguros.

Ao menos nos pontos mais turísticos e desde que você não caminhe nas ruas ermas após o anoitecer.

As cidades têm sérios problemas de violência, evidente.

No Nordeste o mar é transparente, você pode estar com água no peito que ainda enxerga seus pés – foto perto do Farol da Barra.

Só que essas situações se desenrolam nos morros e vilas da periferia, onde os turistas não vão.

A presença da polícia é ostensiva sem ser sufocante. O Rio de Janeiro, inversamente, parece estar sob ocupação militar. Complicado.

Bem, o Nordeste não é diferente do Sul do Brasil nessa parte.

Bairro Pituba: no Nordeste as pessoas colocam de 4 a 6 aparelhos de ar-condicionado na mesma janela – os que podem bancar essa conta de luz, evidente

Infelizmente parece que essa praga engolfou nossa nação por inteiro.

Curitiba, como o Recife e Salvador, é razoavelmente segura nas partes que os turistas visitam. Nos loteamentos do subúrbio e favelas a situação também é bastante preocupante.

NO PELOURINHO SEJA ECONÔMICO NAS PALAVRAS:

NÃO ESTIQUE A CONVERSA COM VENDEDORES E GUIAS –

Salvador está uma cidade acolhedora, limpa e segura.

Nessa e a seguir: eis o Farol da Barra. Pertence a Marinha, e o brasão dessa na porta ainda é do tempo imperial.

Gostei muito de conhecê-la, e se Deus permitir voltarei um dia.

Ainda assim, é preciso apontar um porém: assim que descemos do Elevador Lacerda um rapaz adolescente, se dizendo guia de turismo, nos abordou.

Começou a falar pelos cotovelos sem ser inquirido sobre coisa alguma, dando explicações históricas acerca da cidade.

A praia é bastante pedregosa. Alguns banhistas entram no mar assim mesmo.

Eu e minha esposa tentávamos nos desvencilhar, pois não necessitávamos que nos acompanhasse.

Ele nos seguia, insistindo pra que o contratássemos. Com muito custo consegui deixar bem claro que não seria o caso.

Foi quando ele pediu 10 Reais pelo seu “serviço” não-solicitado.

(Em 2020 esse valor dava pouco mais de 2 passagens de ônibus, ou 2 salgados numa lanchonete.)

Praia do Farol da Barra, ao fundo o Morro do Cristo (em Salvador diversas praias são mais baixas que a rua, há essa mureta separando e é preciso descer a rampa).

Disse que não daria, pois fora ele que nos abordou espontaneamente, não lhe perguntei nada.

Ofereci R$ 2. O ‘guia’ ainda se achou no direito de se ofender:

“Tá desvalorizando o trabalho do baiano”, argumentou, manhoso.

Ao fim, quando viu que era a oferta final, acabou aceitando e nos liberou.

As próximas 4 imagens são do Pelourinho

Foi um ensaio pro que estava por vir. Chegamos a praça  onde há o grande letreiro escrito ‘Salvador’.

Um vendedor veio e sem pedir autorização novamente já foi colocando fitinhas nos pulsos e correntinhas no pescoço, em mim e minha esposa.

Era bem criativo, falou até do que supostamente ele via na nossa ‘aura’, pra quem sabe o que é isso.

Se a gente fosse dando corda ele iria nos fantasiar como bateristas do Olodum.

A seguir colocou nela uma outra corrente, que disse ser de prata.

Pediu R$ 50. Falei que não iria comprar, então ele foi reduzindo o preço.

No fim fechamos por R$ 20 pela bijuteria supostamente “de prata”.

Veio de brinde os outros badulaques. Como foram várias lembranças não saiu tão caro.

Assim que aquele se afastou outros se aproximaram, como as formigas cercam um torrão de açúcar que cai no chão.

Ruas estreitas, calçamento de pedra; não há sequer postes, as luminárias são pregadas nas paredes.

Nessa hora já havíamos entendido a dinâmica: você tem que dizer ‘não’ de forma firme e enfática logo no começo da abordagem.

Eles irão insistir. Você tem que repetir o ‘não’, sem esticar o assunto, e se afastar.

Assim eles entendem que você não irá comprar qualquer produto ou serviço oferecido

Se podemos usar esse termo, no Pelourinho é preciso ser mal-educado.

Não dar conversa aos vendedores e guias, ou eles não irão te deixar em paz.

Essa e a dir. : Praia da Ribeirahoje frequentada pela classe trabalhadora, parte da orla “do subúrbio”.

Não é exclusivo apenas de Salvador esse problema, evidente.

Passei por situações similares na Cidade da Leste/Paraguai e República Dominicana.

Gostei muito da capital da Bahia, repito, e pretendo retornar.

Infelizmente é preciso registrar esse ponto negativo no texto, pois o compromisso é mostrar sempre os dois lados.

Nem sempre foi assim. Os casarões revelam passado de opulência.

Caso um dia eu volte ao Pelourinho, agora já estou suficientemente ‘escolado’.

O jeito é ser enfático na negativa assim que surgir a primeira abordagem.

Felizmente pra um curitibano não é difícil ser fechado com estranhos…rs.

‘SOTEROPOLITANO’:

O GENTÍLICO DA “ROMA NEGRA” –

‘Gentílico’, como se sabe, é o substantivo que indica que alguém é natural de alguma parte.

Salvador possui, eu arriscaria dizer, o gentílico mais curioso do Brasil:

Perto do Forte da Barra um casal de brancos rema em pé nesse caiaque; foi a 2ª vez que vi alguém praticando esse esporte, a outra foi na Cidade do Cabo, África do Sul – e também eram caucasianos os atletas, em mais uma cidade igualmente de ampla maioria negra.

Quem nasce ou mora na cidade não é “salvadorense” ou “salvadorenho”, como seria de se esperar.

Nada disso. Os nativos e residentes na capital baiana são os “soteropolitanos“.

A origem desse nome, vejam vocês, remonta ao grego:

“Soterópolis” quer dizer nessa língua “Cidade do Salvador“.

Desmembrando a palavra, ‘pólis’ significa ‘cidade‘ – esse termo é relativamente conhecido.

Salvador do começo do século 20 – essa e a próxima foto em P-&-B são do acervo do  museu Palácio da Sé, no Pelourinho.

Soter’ é aquele que protege de desgraças, enfermidades, etc. O ‘Salvador.

No Novo Testamento, Livro alias que foi escrito boa parte exatamente em grego, Jesus é chamado de ‘Soter’

 As referências ao período greco-romano não param por aí.

Salvador é conhecida como “A Roma Negra”. Se você diz . . .

Procissão a Nosso Senhor dos Navegantes – muitos não se contentavam em olhar, e sem ter botes iam nadando ao lado do barco que carregava o santo. Nota: eu não sou católico. Apenas em seus primeiros tempos a história de nosso país esteve muito atrelada a Igreja.

O “EXTRATO DIFERENCIADO”:

OU, CASO PREFERIR, É A ‘FAVELA’ –

Exatamente como no Rio de Janeiro, o que é mais impressionante em Salvador é a presença de favelas em morros por todos os bairros.

Até mesmo na Zona Central e na parte mais cara da Orla.

Eu não falo isso com desprezo burguês. Gosto de periferia.

De volta pro presente, parque no Morro do Cristo, perto da Barra: o ‘Soter‘ (Salvador) Abençoando a cidade que tem seu nome.

Conheço praticamente todas as 300 favelas de Curitiba, e além disso morei por 15 anos em uma delas.

Não por outro motivo passei meu último dia no Nordeste em Itapoã.

Que está bem longe, em todos os sentidos, de ser um ponto turístico apreciado pela burguesia, seja local ou visitante.

Capelinha em Ondina.

Então eu gosto de da favelas e periferias. Ainda assim, as coisas são como são.

A proliferação de favelas é uma situação obviamente problemática.

Nenhum discurso de “promoção da diversidade” pode mudar esse fato.

Andávamos pelo bairro de Ondina e imediações, uma das regiões mais caras da capital baiana.

Ainda em Ondina: até pontos de ônibus da cidade são decorados com adereços do Senhor do Bonfim – eu sei, as famosas fitinhas com a frase “Lembrança do Senhor do Bonfim da Bahia” já transcenderam em muito a igreja, se tornaram um símbolo de Salvador pra pessoas de todas as religiões.

Ainda assim com vários morros favelizados incrustados, observando essa situação.

O motorista do aplicativo nos falava dos encantos dessa parte do litoral soteropolitano, e de fato há muitos.

passamos por um dos morros ocupado precariamente, com as casas já com vários andares.

O rapaz falou que as vezes você dá um passo e se depara com o “extrato diferenciado”.

Em bom português também conhecido como “a favela”.

Sei que está na moda usar eufemismos como “comunidade”.

Peguei o ônibus na Av. Oceânica, no local da foto anterior, e desci aqui, no ponto final em  Lauro de Freitas. Conheci o Centro desse município, e de passagem também o bairro da Itinga e o Terminal Aeroporto (na divisa com a capital). Queria ter ido mais vezes a região metropolitana mas infelizmente não deu tempo. Seja como for,  valeu a volta por L. Freitas, sob um temporal – choveu muito em Salvador na semana que estive lá.

Ainda assim o “extrato diferenciado” me ficou registrado como uma peculiaridade do léxico baiano. Vivendo e aprendendo!

UMA DIVISÃO PECULIAR:

NÃO HÁ ‘ZONAS’, E SIM ‘ORLA’, ‘MIOLO’ E ‘SUBÚRBIO’ –

A imensa maioria das cidades cresce pros quatro lados, ou ao menos três.

O Centro é bem, no centro geográfico, e a urbe se expande pra todas as direções.

E assim se divide em Zona Central, Norte, Leste, Sul e Oeste.

No relógio desativado no Centro alguém fez essa brincadeira. Você pergunta ‘que horas são’ e a resposta é ‘Fui”?? É Salvador, amigos. Os trilhos de trem também estão desativados, nesse trecho já faz tempo e em definitivo.

Em muitos casos, não pros 4, mas apenas pra 3. Pois a água ou a montanha impede a ocupação de um dos pontos cardeais.

O Rio de Janeiro e o Recife não têm Zona Leste, tampouco Bogotá-Colômbia, Buenos Aires-Argentina e Chicago-EUA.

Fortaleza-CE não possui a Zona Norte, Manaus-AM ficou sem a Zona Sul.

Enquanto que Porto Alegre-RS, Belém-PA e Foz do Iguaçu-PR são alijadas da Zona Oeste, a Cidade do Cabo-África do Sul idem.

Outra imagem da linha férrea que não é mais usada (colagem, você percebe as emendas entre as fotos; a intenção não é enganar ninguém, se fosse nem teria equipamento e técnica necessários).

Citando apenas alguns alguns exemplos, claro que há muitos outros. Vocês entenderam.

Seja como for, além da Zona Central quase todas as cidades têm 4 ou ao menos 3 ‘Zonas’ relativas aos pontos cardeais.

Então. Em Salvador é diferente. A cidade ocupa uma península tem a forma de um dedo voltado pra baixo, se quiser ver assim.

Pela sua geografia específica, não faz sentido ali dividir a metrópole em Zona Leste, Zona Sul, etc.

Funicular’ que une a Cidade Alta a Cidade Baixa. Há propaganda dos corredores de ‘BRT‘ que estão sendo construídos (assunto que abordei com detalhes em matéria específica). O casarão do outro lado da rua está em ruínas, usado como estacionamento – só sobrou a fachada.

Ao invés disso a divisão ali aplicada é Orla, Miolo e Subúrbio.

E o Centro é composto pela Cidade Baixa e Cidade Alta, unidas pelo famoso ‘Elevador Lacerda’, cartão-postal mais famoso de Salvador.

Bem, além dele há também os ‘funiculares’ ou ‘planos elevados’. Trata-se de um elevador que opera na diagonal.

O Elevador Lacerda é usado tanto pela população local quanto os turistas. 

Já os ‘funiculares’ são pouco conhecidos dos turistas e eu diria mesmo da burguesia baiana, servem mais a classe trabalhadora.

Agora ao nível do solo o imóvel abandonado – nos destaques outro prédio na mesma situação (há partes do Centro de Salvador que já tiveram dias melhores) e a placa da Cia. de Docas, o porto é nas imediações.

Seja como for, a separação do Centro entre Cidade Alta e Baixa é por demais evidente pra ser explicada.

Foquemos então na divisão da cidade como um todo. Salvador é uma península, repito.

Tem mar dos 2 lados, privilégio que lhe confere nada menos que 80 km de litoral, mais que todo o estado do Piauí e quase empatando com o Paraná.

Além disso suas praias são bastante entre-cortadas, o que faz com que na capital da BA o sol nasça e se ponha no mar, privilégio único.

O que nos importa nessa análise é a divisão dos bairros da metrópole.

Tomada da Cidade Alta, em destaque o atracadouro dos navios com seus guindastes.

Ela tem duas costas, a do Atlântico de mar aberto, onde as ondas são fortes, e a da Baía de Todos os Santos, cujas praias não têm quase ondas.

Salvador teve sua gênese na Barra, na Costa Atlântica.

Acontece que uma povoação as margens do mar aberto é mais difícil de ser protegida de ataques de piratas, por motivos óbvios.

Aqui e a seguir: parque da Lagoa de Abaeté.

Assim o núcleo primordial da cidade foi transferido pra outra costa, dentro da Baía, muito mais facilmente defensável.

Até o início do século 20 a orla da Baía de Todos os Santos era a parte mais cara da cidade.

Os mais abastados tinham casarões na beira-mar da Praia da Ribeira, próxima ao Centro, ainda na região chamada ‘Cidade Baixa’.

Enquanto as pessoas se banhavam os cavalos se refastelavam alimentando-se da grama.

A ‘Costa Atlântica’ era então um lugar distante, onde alguns talvez tivessem casas de veraneio.

No entanto era difícil morar ali e se deslocar ao Centro diariamente pra trabalhar.

A cidade se desenvolvia as margens da Baía de Todos os Santos.

Caça da Força Aérea perto da Barra (fotografei a mesma cena na Argentina).

Ainda no século 19 foi inaugurada a ferrovia que ligava o Centro aos bairros distantes as margens desta.

O derradeiro século do milênio que se encerrou trouxe grande progresso material, e alterou esse quadro.

Com a construção de novas ruas e a popularização do automóvel tudo mudou.

As pessoas de maior renda foram se afastando do Centro e imediações, a chamada ‘Cidade Baixa’.

Bairros caros foram então se formando na Costa do Atlântico, que então passou a ser conhecida como “a Orla”.

Os bairros do lado oposto, na Costa da Baía, ficaram sendo chamados de ‘Subúrbio Ferroviário’, ou simplesmente “o Subúrbio”.

Por conta da linha de trem que corta a região, evidentemente.

E a porção intermediária, que não tem mar, é “o Miolo” soteropolitano.

Essa divisão, de tão enraizada, foi adotada até na padronização dos ônibus, ocorrida em 2014.

Ainda farei um texto específico sobre o transporte onde discorreremos com mais detalhes e centenas de fotos. 

Por hora basta observar o mapa ao lado: os busões que servem a Orla são azuis. Os do Miolo verdes, e os do Subúrbio na cor amarela.

2 cenas da Praia de Itapuã.

PRAIA DE BOA VIAGEM:

EM SALVADOR BEM DIFERENTE DO RECIFE –

Salvador é uma península de relevo montanhoso. Há muitos morros, vários deles favelizados.

As favelas em morro estão por toda parte. A “costa oeste” da cidade é as margens da Baía de Todos os santos. tudo isso todos sabem.

Agora, há a Baía de Itapajipe na Baía de Todos os Santos. Portanto uma ‘baía dentro de outra baía’ maior.

E com isso há uma ‘península dentro da península’. Uma das pontas da Baía de Iapajipe é a região dos bairros Ribeira, Bonfim, Uruguai, Roma, etc.

Esse é um detalhe que sempre me chamou a atenção na cidade, mesmo antes de eu visitá-la pessoalmente: uma grande região de periferia plana em Salvador.

A maioria dos bairros de classe trabalhadora soteropolitanos são em encostas.

Porém na península do Bonfim ocorre o contrário, não há ladeiras.

Uma antiga Brasília fechava o comboio, não sei se fazia parte da ‘procissão’ ou por acaso.

Topografia a parte, várias das vilas ali são tão densos quanto o resto da periferia da cidade, que é super-povoado por motivos que já falamos anteriormente.

Uma das praias dessa península se chama “Boa Viagem“. Achei curioso.

Boa Viagem é a praia mais famosa do Recife, não é preciso ensinar isso a ninguém.  Portanto cujos prédios tem o m2 mais caro de Pernambuco.

A Praia de Boa Viagem de Salvador não poderia ser mais distinta: poucas ondas porque é de baía, e no subúrbio da cidade.

Assim são os táxis na capital baiana. Ao fundo uma baiana, foto no Pelourinho.

Mais uma vez, eu não falo ‘subúrbio’ com desprezo. Gosto de periferia, moro na periferia de Curitiba, e moraria no subúrbio soteropolitano com muito gosto.

E caso vivesse na ‘periferia plana’ próxima a Boa Viagem, iria com frequência a essa praia;

Então não estou criticando, longe disso, que fique claro. Apenas notando a diferença.

Marina na Cidade Baixa.

Uns dias antes fiquei hospedado quase na esquina da Avenida Boa Viagem, Recife. A seguir passei na Avenida Boa Viagem, Salvador.

O mesmo nome, em duas capitais nordestinas. Mas são diferentes como o sol e a lua.

Além disso, nessa península plana está a Basílica do Senhor do Bonfim, e também um grande complexo hospitalar mantido pela Fundação Irmã Dulce.

Próx. 7; pichação em Salvador. Essa no Centro, no muro de um comércio

E.C. YPIRANGA, O “MAIS QUERIDO”:

AINDA É QUERIDO POR ALGUNS –

Viram numa foto no alto da página que flagrei um torcedor do Esporte Clube Ypiranga dentro do Mercado-Modelo.

É conhecido como ‘auri-negro’ por ser amarelo e preto. E também “O Mais Querido“.

Já que no começo do século 20 chegou a ter a maior torcida de Salvador.

Tomada noturna em Ondina (no destaque as bicicletas de aluguel disponibilizadas por um banco – aqui em Ctba. também teve mas acabou; em outras partes do Brasil como Nordeste e Rio continua ativo).

Hoje, como todos sabem, os dois times grandes são o E.C. Bahia e E.C. Vitória,que fazem o clássico ‘Ba-Vi’.

Entretanto antigamente haviam outros 2 times grandes: o Galícia E.C. e o Ypiranga.

Evidentemente o Galícia representa a colônia espanhola – Salvador é a cidade do Brasil mais ligada a Espanha.

Na capital baiana há o Clube Espanhol, Hospital Espanhol, Instituto Cervantes, enfim, uma gama de instituições que representam esses imigrantes.

Perto da Barra, prédio abandonado todo “redecorado” pelos ‘manos’ – no começo da Av. Oceânica (detalhe). Em Salvador foi o único que vi, no Recife é bem mais comum, tanto quanto em SP.

E o Galícia é o time deles. Campeão baiano cinco vezes no total.

Foi tri em 1941/42/43, primeiro tri-campeão baiano, orgulho máximo do clube.

O Ypiranga da mesma forma também já teve seus dias de glória.

Conquistou o campeonato baiano 10 vezes, sendo bi-campeão em 3 oportunidades.

Porém tanto Ypiranga quanto Galícia decaíram vertiginosamente.

O último título do auri-negro foi em 1951, o do time dos espanhóis veio um pouco depois, em 1968 – mesmo assim há bastante tempo.

Ultimamente ambos disputam com mais frequência a 2ª divisão do Campeonato Baiano que a 1ª.

Também no Centro.

Com tantas décadas de jejum mesmo do título estadual fiquei surpreso ao constatar que o Ypiranga ainda tem torcida na cidade.

O que um dia foi “Mais Querido” ainda é bastante querido por alguns (existia até uma viação de ônibus com o nome e cores do clube).

‘ARTE PROIBIDA”:

Ondina: a pichação em si se encerra no meio do muro, sobre o relógio de água; mas uma flecha a expande por muitos metros, até a esquina. Somente em Salvador isso acontece.

A PICHAÇÃO EM SALVADOR –

Salvador tem bastante pichação nos muros – e inclusive nos telhados!

Como aliás acontece em todas as metrópoles na maior parte da América (Latina e nos EUA).

Falando especificamente da Pátria Amada, de nossas 2 maiores metrópoles no Sudeste.

Final do “Corredor da Vitória”, chegando na Barra – quase onde a Avenida 7 se torna a Av. Oceânica: mesma coisa, o autor “esticou” o trabalho riscando até o fim do muro.

Em ambas se picha de tudo, muros, viadutos, paredes dos prédios de dezenas de andares, tetos dos barracões, marquises, etc. Isso elas têm em comum.

No entanto, o estilo das letras – o “alfabeto da pichação” se quiser chamar assim – paulista e carioca é diametralmente oposto.

Em S. Paulo as letras são grandes, retas e separadas. O mesmo “alfabeto” também é usado em todo estado de SP (interior e litoral).

E igualmente em outros estados do Brasil: no Sul em Curitiba e Porto Alegre, da mesma maneira no Recife, parcialmente em Belo Horizonte-MG.

Cidade Baixa: em azul por baixo pichação local baiana. Em preto, por cima, pichação colombiana, da torcida organizada do Milionários de Bogotá (emblema no detalhe). 2ª vez que flagro pichação da Colômbia no Brasil, a outra do Nacional de Medelím aqui em Curitiba. Na foto acima os colombianos ‘atropelaram’ o original, escreveram sobre o que já estava escrito. Um desrespeito, eles sabem que não podem fazer isso, a regra é universal e vale no país deles também.

No Rio, inversamente, as letras são redondas, menores e emendadas umas nas outras.

Em Brasília-DF e Goiãnia-GO há um estilo “híbrido” dos dois do Sudeste: letras redondas como no RJ, mas grandes e separadas como em SP.

No Nordeste, que é nosso tema de hoje, se picha bastante em todas as suas 3 maiores cidades. Mas de formas diferentes.

Na capital de Pernambuco, repetindo, é majoritariamente parecido com São Paulo, usa-se um pouco também o modelo carioca.

Em Fortaleza as letras em si mesmas são parecidas com as do Rio de Janeiro.

Porém se adicionou um “tempero local”: terminadas as letras, eles puxam flechas até as extremidades do muro.

Monumento da Cruz Caída, relembrando a catedral que havia na Praça da Sé e foi demolida nos anos 30 (séc. 20). A maquete está no Museu da Igreja.

Dando o toque do Nordeste, adaptando localmente o que veio do Sudeste.

Falamos tudo isso pra voltar a Salvador, que criou seu ‘alfabeto’ peculiar, exclusivo dali.

No Brasil além dela apenas São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belém inventaram seu estilo próprio, particular.

As demais cidades copiam o que veio dessas e também dos EUA.

Na capital baiana as letras são grandes e separadas, como em SP. Porém são redondas como em Brasília.

Aqui e a seguir: prédios de alto padrão no Largo da Vitória, ponto no qual a Av. 7 passa a ser conhecida como “Corredor da Vitória”.

Ainda assim, são bem distintas das capitais federal e paulista.

Um ‘alfabeto’ totalmente soteropolitano, criado e desenvolvido ali mesmo.

Como arremate, Salvador pegou o “toque do Nordeste” de estender as palavras com flechas e o levou ao extremo.

Em Fortaleza se expande as letras somente em alguns centímetros, até a extremidade vertical do muro.

Alguns edifícios contam com segurança particular ainda na via pública.

Na Bahia é bem diferente, as flechas por vezes têm muitos metros.

Pois ela é riscada até a ponta horizontal do muro! Até que ele termine, não importando o quão longe seja.

Nas outras cidades isso não é permitido. “Como assim ‘não é permitido?. Pichar não permitido”.

Alguns diriam isso, e com razão se analisarmos apenas o aspecto jurídico.

Polícia no Pelourinho. Desde que os turistas fiquem na parte mais movimentada e de dia, o local é bastante seguro.

No entanto, é notório que nem sempre as pessoas agem somente como a parafernália judicial determina.

Apesar de ser ilegal, ou talvez exatamente por causa disso, a pichação em muros tem regras claras de conduta.

Um ‘código de ética’ que precisa ser observado por quem decide exercer essa prática.

O ponto principal é que você não pode “atropelar” um picho – ou seja, não pode escrever por cima do que já está escrito.

Próximas 2: Pituba, um dos bairros mais verticalizados de Salvador.

Quem pichou primeiro é o ‘dono’ daquele espaço, até que ele seja repintado.

Nesse caso o muro se torna ‘virgem’ de novo, e quem chegar primeiro toma nova posse dele.

Só que antes disso, enquanto há algo já escrito, você não pode, repito, sobre-escrever o que já estava feito antes de você chegar.

Se o fizer, está iniciando uma agressão, que será respondida de uma forma que você não irá gostar.

Essa regra não tem exceções, é universal, em Salvador e no mundo  inteiro.

A diferença na capital baiana é que  ali o “código de conduta”‘ aceita como posse as flechas riscadas.

Em todas as demais cidades isso não é permitido, não custa enfatizar mais uma vez.

Aqui e a dir.: beira-mar Octávio Mangabeira.

Pra reivindicar um muro, parcialmente ou se conseguir por inteiro, você precisa ocupá-lo com letras ou também com desenhos – nesse último caso, o dos desenhos, Belém levou ao ápice.

Em qualquer parte exceto Salvador, não basta apenas riscar um traço. É preciso pintar algo mais elaborado, sejam palavras ou gravuras.

Destaquei a placa e o anúncio de ‘3/4’.

Na capital baiana é diferente. As enormes flechas, muitas vezes de muitos metros, são aceitas como parte do trabalho.

E devem ser respeitadas tanto quanto a parte principal da obra.

É o “tempero do Nordeste” em sua expressão superlativa.

Próximas 3: os morros ao lado da Av. Paralela, pra fazer o contraste.

Como estava alias escrito em um dos túneis de Salvador, em 2020:

“Pichar não é crime, e sim uma ‘arte proibida’ “. Tá bom pra ti ou quer mais???

“3/4”: O JEITO BAIANO DE DIZER “3 DORMITÓRIOS” –

Outro detalhe peculiar de Salvador: os prédios em construção anunciam quantos quartos possuem em forma de numeral.

Destaquei a bandeira da Bahia no mercado.

Veja a foto a direita um pouco acima. Destaquei que no anúncio da construtora no teto está escrito 3/4.

Em todas as outras cidades se escreve “3 quartos” ou ‘3 dormitórios”.

Na Bahia, entretanto, é mais prático. Você vê o anúncio, onde diz “1/4, 2/4 ou 3/4”.

Fotos tiradas de dentro do metrô.

Já sabe que os apês possuem um, dois ou três quartos, conforme o caso. E tá tudo certo.

UMA CIDADE QUE GOSTA DE CHURRASCO:

QUASE UM PEDAÇO DO SUL NO NORDESTE –

Aqui no Sul do Brasil adoramos comer carne assada, como não é segredo pra ninguém.

Uma semana antes desse texto subir pro ar foi aniversário de minha enteada.

Do metrô pro (já extinto) trem suburbano: foto na Estação de Paripe. Do outro lado da cidade, mas a mesma cena, morros favelizados e densamente ocupados.

A comemoração foi em volta da churrasqueira, como não poderia deixar de ser.

Digo isso pelo seguinte: a culinária baiana é bem distinta da sulista, é lógico.

Fomos, eu e minha esposa, ao Mercado-Modelo de Salvador, pra podermos experimentar o famoso ‘acarajé’, receita típica da ‘Boa Terra’.

Dique do Tororó, em frente a Fonte Nova: não importa se é na Orla, no Subúrbio ou na Zona Central, em Salvador os morros são sempre dessa forma, várias lajes subindo.

Ainda assim, há um ponto em comum entre as duas pontas opostas do Brasil: a capital da Bahia também aprecia churrasco.

Na avenida beira-mar da Orla do Atlântico um ponto que me chamou a atenção foi a grande quantia de churrascarias.

Como bom curitibano, residindo na capital do Paraná há 41 anos (em 2021), só pude me sentir em casa.

Descemos do ônibus entre as Praias de Piatã e PlacaFor, e precisávamos almoçar.

Aqui e a esq.: Praia de Piatã.

Nosso último dia de viagem foi também aniversário de minha esposa. Comemoramos, eu e ela, comendo uma bela alcatra. Estava bem gostosa, ao ponto.

Como se estivessemos no Sul. Mas o restaurante é em plena beira-mar de Piatã, Salvador, Bahia.

……….

O busão passa ao lado da Cavalaria da PM, a postos pra qualquer eventualidade.

Fechou com chave de ouro. Conheci Salvador da Barra até Itapoã, no mesmo “dia de domingo”

E um domingo de sol. Salvador é o Sol, como eu já disse.

A cidade em “Preto-&-Branco”. Suas belezas, seus contrastes.

Corredor da Vitória: região de bastante verde, numa cidade que a maioria dos bairros não são muito arborizados. Além da concentração de renda, existe a ‘concentração de árvores’.

Do Pelourinho a Lauro de Freitas, o metrô de 1º mundo e o trem suburbano de 4º mundo.

Cidade Alta, Cidade Baixa, a Orla e o Subúrbio. Apenas nos bairros do Miolo não deu tempo de ir, infelizmente.

Fica pra uma próxima vez, e se Deus permitir haverá uma próxima vez.

“O Reino não é desse mundo”, o que quer dizer que a perfeição não existe na matéria.

Não deu pra ir no Miolo, e conheci pouco a Região Metropolitana.

Cidade Baixa, ao fundo a Cidade Alta.

Faz parte. Não foi perfeito, mas foi excelente. Nos 4 dias e pouco que fiquei na capital baiana, andei em várias partes da cidade.

Dos cartões-postais mundialmente famosos, como o Elevador Lacerda, as regiões onde a imensa maioria dos turistas nunca vão, como a Estação Ferroviária de Paripe. Mas eu estive lá.

O poeta já sabia, a música não mentiu. Foi mesmo “Bom Passar a Tarde em Itapoã”.

Melhor ainda que antes disso comemos um assado igual aqui no Sul do Brasil, mas sentindo a brisa do mar de Piatã.

Em frente ao Mercado-Modelo, destaquei o comércio ambulante atrás do táxi.

No dia seguinte, embarquei no avião de volta a Curitiba. O passeio em Salvador estava completo.

Louvado é Deus Pai que Permitiu.

……..

Encerramos com algumas galerias de imagens da cidade.

Primeiro a Praia de Ondina, que foi minha casa em Salvador nesses 4 dias e pouco:

Pelourinho e imediações, na Cidade Alta.

Corredor da Vitória:

Cenas diversas captadas na capital baiana.

6 do mesmo local, a janela do hotel na Av. Oceânica, Ondina. Com o horário que cliquei.

“Deus proverá”

O transporte no Rio: bonde antigo, bonde moderno (VLT), ampla rede de trens de subúrbio, metrô, barcas, poucos articulados e corredores

bb(teleféricos, bi-articulado e padronização de pintura vieram mas duraram pouco)

Nas primeiras 4 fotos vamos mostrar as melhorias que vieram pra Copa e Olimpíada, e se mantiveram: aqui o bonde moderno (‘VLT’) no Centro do Rio (*).

Por Maurílio Mendes, O Mensageiro.

Publicado em 16 de outubro de 2020 – ampliado maciçamente em relação ao original.

Nessa página em 13 de outubro de 2021 – no 1º aniversário da abertura da série sobre o Rio.

A maior parte das imagens é baixada da internet, créditos mantidos sempre que impressos nas mesmas. As que forem de minha autoria identifico com asterisco ‘(*)’, como visto a direita.

Expansão do metrô pela Zona Sul, chegando a Zona Oeste (*). Eis a estação que serve ao Morro do Cantagalo/Pavão-Pavãozinho, entre Copacabana e Ipanema (Z/S, óbvio). A linha vai até o Jd. Oceânico na Z/O, vizinho a Barra.

Seguimos falando do Rio de Janeiro, vamos hoje nos estender sobre os transportes.

É um tema oportuno, porque fornece um raio-x da situação da cidade como um todo.

A forma como as coisas se sucederam com os transportes se refletiu na segurança pública, na transparência política e em muitas outras áreas.

E o que aconteceu, como não é segredo pra ninguém, foi:

Entrando no novo milênio o cariocas sonharam que os bons tempos voltariam.

BRT’ ‘Trans-Carioca’ e suas expansões nas Zonas Oeste e Norte, com articulados, corredores, terminais integrados, embarque pré-pago, ar-condicionado, etc.

No entanto passada a Copa e as Olimpíadas o dinheiro acabou e os velhos problemas voltaram com tudo.

Vários dos melhoramentos infelizmente já deram colapso.

Enquanto que alguns pontos positivos construídos no período se mantém mas ameaçam ter o mesmo destino, ou seja a falência.

Integração no cartão entre todos os modais como o desenho indica (*). Em alguns casos são 2 viagens só com uma passagem, em outros você tem 50% de desconto na 2ª viagem. Já é um alívio.

No começo desse novo milênio o Rio foi escolhido pra sediar sucessivamente uma final de Copa do Mundo e uma Olimpíada.

Embalado por essa conquista, a cidade acreditava que o caos das últimas décadas chegaria ao fim.

Na segurança pública criaram-se as UPP’s, que muitos sonhavam que milagrosamente colocariam um fim nos gravíssimos problemas de violência urbana.

Voltando a nosso foco de hoje, a cidade passou por uma onda de modernização ansiada a décadas. Foram implantados:

O teleférico e elevador pra diversas favelas (Complexo do Alemão na Zona Norte, Morro da Providência no Centro e Stª. Marta/Dª. Marta na Zona Sui);

O VLT no Centro (‘Veículo Leve sobre Trilhos’, o chamado ‘Metrô Leve’);

A expansão do metrô pra Zona Oeste, chegando bem próximo a Barra da Tijuca;

Bondinho’ do Stª. Marta (Z/S). Ajuda os moradores da favela mais inclinada do Rio.

– Também os corredores e terminais de ‘BRT‘ nas Zonas Oeste e Norte, com articulados e bi-articulados – o sistema ‘Trans-Carioca’ e suas extensões.

(Hoje gostam de usar essa sigla em inglês, que são as iniciais de ‘Bus Rapid Transit’.

Aqui em Curitiba, que foi onde tudo isso foi criado, nós chamamos de ‘Expresso);

– Ainda a padronização de pintura nos ônibus municipais;

E mais a integração tarifária no cartão entre diversos modais.

Lamentavelmente vários desses avanços não se mantiveram:

Terminal Jd. Oceânico de ‘BRT’ na Zona Oeste (*). Permite integração digital com estação de metrô de mesmo nome.

Os teleféricos do Alemão e providência já foram desativados.

O da Rocinha (na Zona Sul) nem chegou a ser construído, ficou só no projeto;

A padronização de pintura nos ônibus durou apenas 8 anos, de 2010 a 2018;

Os bi-articulados menos tempo ainda, somente 4 anos, começaram em 14 e encerraram as atividades no mesmo ano de 2018.

O outro lado da moeda: agora veremos alguns avanços da década de 10 (séc. 21) que foram perdidos. O principal certamente foi o teleférico nas favelas. No Complexo do Morro do Alemão, na Zona Norte (foto), ele operou de 2011 a 2016. No Morro da Providência no Centro foi ainda mais breve, de 2014 a 16.

O VLT, o Expresso ‘Trans-Carioca’ e o metrô e o ‘bondinho’ do Santa Marta a cidade manteve, embora todos eles estejam também ameaçados pela gravíssima crise financeira.

No entanto, dizendo de novo, os teleféricos nas favelas (com exceção do S. Marta), os bi-articulados e a padronização de pintura fracassaram, como o projeto das UPP’s.

Dado esse apanhado geral, vamos desenvolver mais sobre os temas atuais, depois faremos uma retrospectiva por boa parte do findo século 20. 

Emendo uma mensagem que foi publicada em 21 de janeiro de 2021

“Só o Pó”: o teleférico nos morros acabou, os equipamentos – importados da Áustria – apodrecem ao ar livre. Mais de 300 milhões de Reais desperdiçados! Tristeza . . .

A direita vemos o Complexo de favelas do Morro do Alemão, Zona Norte do Rio, com o teleférico operando, o que ocorreu entre 2011 a 2016.

O teleférico do Morro da Providência, no Centro (que oficialmente é a primeira favela do Brasil), teve vida ainda mais curta:

Só funcionou por 2 anos, de 2014 a 2016. Somente no período da Copa e Olimpíada.

Foram investidos nada menos que R$ 328 milhões nos dois sistemas, 253 milhões no Alemão e outros 75 na Providência. Tudo jogado no lixo. 

Por apenas 4 anos, de 2014 a 18, o Rio teve bi-articulados. Não mais. Esse aqui foi pra Rio Branco-AC e depois Manaus, abaixo veremos ele no Norte do Brasil.

Nem tudo foi perdido, claro. Como dito e todos sabem 3 melhorias importantes no transporte público se mantiveram:

Expansão do metrô por toda Zona Sul e chegando a Zona Oeste (a estação-terminal é no Jardim Oceânico, perto da Barra da Tijuca);

Implantação do sistema ‘BRT’Trans-Carioca’ e suas extensões, com articulados, corredores e terminais integrados.

Rio de Janeiro: a padronização dos ônibus mais curta da história. Durou somente 7 anos, de 2011 a 2018. Estive na cidade em 2020, e boa parte da frota estava nessa pintura padronizada, pois os busos foram adquiridos nos anos anteriores. Mas em breve, ainda nessa década de 20, regredirá totalmente a pintura livre novamente.

Serve as Zonas Oeste e Norte, não chega ao Centro nem a Zona Sul, sendo que nessa última é que estão boa parte dos empregos;

 VLT no Centro – moderno, limpo e não-poluente. Um oásis de eficiência no Centrão, que no geral está com algumas partes muito degradadas.

Porém o trajeto do V.L.T. (Veículo Leve sobre Trilhos, o ‘metrô leve’) é muito curto, apenas do Porto ao Aeroporto Santos Dumont.

Por conta disso o número de passageiros, e consequentemente a arrecadação, está muito abaixo do planejado (abaixo detalho melhor os números).

O projeto dos teleféricos nos morros, por outro lado, já naufragou. Em 2011 o do Alemão foi inaugurado com grande alarde, e em 2014 foi a vez do da Providência entrar em ação.

‘Bonde de Sta. Teresa’, o serviço se iniciou em 1896. Sendo aberto é normal ir pendurado.

A dura realidade se impôs em 2016, assim que houve a cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos:

O serviço nos teleféricos foi suspenso ‘temporariamente pra manutenção’, e nunca mais voltou.

Os equipamentos são importados da Áustria e hoje estão imprestáveis, pois foram abandonados ao relento.

As 2 imagens mais conhecidas do Rio são o Cristo Redentor e o Pão-de-Açúcar, evidente.

ao

O Rio de Janeiro conta com 270 km de rede de trens suburbanos, bem extensa. Entretanto o serviço passa longe do ideal.

Pois bem. O Pão-de-Açúcar é servido por um teleférico, esse turístico, como todos sabem.

No começo da década de 10 se imaginava que as favelas cariocas poderiam dispor do mesmo padrão de conforto.

No entanto acabou assim: as estações de teleférico dos Morros da Providência e Alemão foram abandonadas.

Nos trens ninguém deveria viajar pendurado. Não deveria, mas é assim que os moradores do subúrbio carioca são transportados.

Abandonadas e usadas como depósito de lixo, até vasos sanitários são depositados ali. Mais de 300 milhões jogados no ralo

………

Agora volta o texto original. Vamos analisar os diversos modais, começando pelo VLT.

Que de certo modo é o mais emblemático pois corta o ‘coração’ da cidade. Publiquei dessa forma:

VLT CARIOCA:

O CENTRO DO RIO TENTA RENASCER –

Mesma cena nos ônibus do sistema ‘BRT‘. No contrato deveriam ser 400 articulados, mas há menos de 200, e desses só cerca de 150 vão rua. O resultado salta aos olhos.

Fotografei no Centro do Rio em setembro de 2020 o Moderníssimo VLT (no topo da página).

Inaugurado em 2016 quando a cidade sediou as Olimpíadas, corta a Região Central.

V.L.T. como sabem são as inciais de ‘Veículo Leve sobre Trilhos’, uma espécie de ‘metrô leve’.

O detalhe é que apesar de ser um trem ele para nos sinais de trânsito nas esquinas, pois não tem pista segregada exclusiva pra ele.

Com corredores exclusivos ônibus escapam dos congestionamentos. Foto de janeiro de 14. Se houvesse investimento o ‘BRT’ poderia estar com essa eficiência até hoje.

O VLT do Rio é limpo, tem ar-condicionado (um alento numa cidade em que os termômetros passam dos 40º com facilidade).

Não tem catracas nem cobrador (no Rio e vários estados chamado de ‘trocador’).

O usuário compra o cartão, carrega e ele mesmo encosta no validador.

Entretanto, fiscais dão batidas ao acaso pra conferir o pagamento da passagem.

A evasão de tarifa, quando flagrada, gera multa de R$170 (valor de 2020), que dobra na reincidência. 

Estação de VLT no Centro (*). Oásis de modernidade e limpeza numa parte complicada da cidade.

Cada usuário precisa ter seu próprio cartão, não é possível pagar a viagem de mais de uma pessoa no mesmo cartão.

Ou seja, um sopro de modernidade numa região que as coisas estão complicadas.

O Centro da capital carioca está bastante degradado.

Aqui e a dir. : Terminal Alvorada na Barra (*). Se tornou multi-modal. Na plataforma principal param os articulados, embarque elevado e pré-pago, com diversas linhas pra periferia das Zonas Oeste e Norte.

O Rio de Janeiro como um todo enfrenta uma fase difícil, é domínio público.

Os problemas nas áreas de segurança e saúde públicas, por exemplos, são crônicos e exigirão bastante esforço pra serem solucionados.

Os fatos são bastante conhecidos pra que eu precise entrar em detalhes aqui.

De uns tempos pra cá o caos político também se cristalizou.

Nada menos que 5 ex-governadores já estiveram atrás das grades por conta de acusações de corrupção:

Sérgio Cabral, Anthony Garotinho, Rosinha Garotinho (esposa e sucessora de Anthony no cargo), Pezão e Moreira Franco.

Alimentadores nas demais plataformas (*). Em 2020 ainda com pintura padronizada, por pouco tempo infelizmente. Há integração no cartão, você usa 2 ônibus e só paga 1 vez.

O governador eleito em 2018, Witzel, foi afastado por corrupção, teve sua prisão pedida pela promotoria.

Entretanto a justiça decidiu somente pelo afastamento, mantendo (por enquanto) sua liberdade.

Na esfera municipal a situação está igualmente em mares bravios.

Em 2020,quando estive na cidade, o prefeito era prefeito Marcelo Crivella.

Ele escapou várias vezes da abertura de processos de impedimento (‘impeachment’ em inglês).

Em 2º plano ainda com a padronização que vigorou entre 2010 e 18; o da frente já regressou a pintura livre – foto tirada no Centro da cidade (*).

A última vez em setembro de 2020 por um placar apertado na câmara, 24 x 20.

Em dezembro do mesmo ano Crivella foi preso em seu apartamento na Barra da Tijuca.

Ele ainda exercia o cargo, faltavam 9 dias pro fim de seu mandato.

O caos na política se reflete nas ruas, como não poderia deixar de ser.

Relembremos características que marcaram época no transporte carioca. A cidade teve tróleibus de 1962 a 1971.

Todos os bairros sofrem com a decadência da cidade que por praticamente 2 séculos foi a capital do Brasil (1763-1960), é certo.

Ainda assim em nenhum lugar os problemas são tão sentidos como no Centrão.

Por várias partes dele, em plena luz do dia, várias pessoas dormem nas calçadas – em algumas quadras o odor de urina e outros dejetos é bem forte.

Em meio a esse cenário, a presença do VLT no Centro chega a ser um raio de esperança que as coisas irão melhorar um dia.

Um Dia de Fúria“: em 1987, num protesto contra aumento na tarifa, a população incendiou/depredou centenas de ônibus – em pleno Centro da cidade e a luz do dia.

Um meio de transporte limpo, moderno e seguro. Sinal que o Rio e principalmente seu núcleo histórico ainda podem renascer.

Nem tudo são flores, entretanto. A utilização desse modal está abaixo do inicialmente previsto.

O que tem levado a conflitos na justiça – a empresa operadora acionou a prefeitura judicialmente em julho de 19, alegando que os pagamentos não estão cobrindo os custos.

Esperamos que o Rio não venha a perder o VLT. Vários dos teleféricos que subiam (ou iriam subir) as favelas dos morros não funcionam mais.

Em 1928 o Rio (então Capital Federal) lançou o ônibus 2-andares no Brasil, apelidado ‘Chope-Duplo‘. O nome da viação – Excelsior, no caso – era escrito dentro de um círculo, tradição carioca em todo século 20.

Um foi cancelado ainda na fase de projeto – como no caso da Rocinha, na Sul.

Ou então foram inaugurados mas operaram pouquíssimo tempo e foram desativados.

Como ocorreu nos Morros da Providência (Centro) e Alemão (Zona Norte), repetindo mais uma vez.

O sistema de ônibus  ‘BRT’ está funcionando, mas com diversos problemas financeiros também opera com frota reduzida.

PAPA-FILAS, O AVÔ DO ARTICULADO” – caminhão pesado que no lugar da carreta tem uma carroceria de ônibus. ícone do transporte coletivo de Havana/Cuba até o início do século 21, no Brasil foi comum no Rio, SP e Brasília-DF nos anos 50 e 60 – do século 20, claro. Falando especificamente do Rio, esse exemplar tem capelinha o itinerário inteiro vinha escrito no vidro, tradição carioca nos anos 50 – em Salvador-BA e Belém-PA durou um pouco mais, até o começo do novo milênio.

O que prejudica o projeto, pois ele foi bolado pra ter rodando ônibus pesados (articulados) em abundância nas linhas troncais.

Por 4 anos o Rio teve bi-articulados (2014-18), mas eles já foram retirados de circulação.

Recapitulando, vamos fazer o balanço do transporte, tanto os que foi ampliado/inaugurado na década de 10 (séc. 21, óbvio), e também do que já existia anteriormente:

Integração no cartão entre os diversos modais: funcionando. Excelente legado da modernização pra Copa e Olimpíada.

Antes o Rio a integração no transporte do Rio era bem precária, pra dizer o mínimo. Não haviam terminais integrados de ônibus.

Então se você descesse de um ônibus pra embarcar em outro ou tivesse que trocar de modal tinha que arcar com as duas tarifas de forma integral.

ROMEU-&-JULIETA, O PAI DO ARTICULADO” – Um ôbnibus normal na frente e um outro a reboque, um pouco mais curto. Comum nos anos 70 e 80 no Rio e Porto Alegre-RS (existiu em outras cidades em menor escala). A vantagem é que o 2º vagão só era engatado no horário de pico, mas necessitava 2 cobradores, eis a desvantagem.

Com a implantação dos cartões, isso mudou.

Agora você pode pegar dois ônibus pagando uma vez só, o que inclui o sistema ‘BRT’.

Assim claro que o BRT deve continuar a ser ampliado.

E como ele é pra alta demanda o embarque precisa ser pré-pago e em nível.

Pra quando o articulado chegar abrir todas as portas e as pessoas entrarem rapidamente, sem catraca dentro do veículo.

Um Rio que Passou” – bairro da Lagoa, Zona Sul, 1964. Tróleibus da CTC passa pela Favela da Catacumba, a maioria das casas era madeira. A foto mostra várias coisas que acabaram: 1) A CTC-RJ, privatizada nos anos 90; 2) Tróleibus no Rio, extinto em 1971; 3) A Favela da Catacumba, as margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, removida em 1970; 4) Quando o Sudeste, e também o Centro-Oeste, tinham residências de madeira. Hoje é alvenaria, com poucas exceções.

Por outro lado, pras linhas convencionais não é necessária a construção de novos terminais.

O usuário pode pegar a 2ª condução na rua mesmo, pois a integração é digital.

Ônibus + VLT a baldeação também é sem custos, até pra agregar público ao VLT..

A melhora teve reflexos inclusive na região metropolitana.

Os passageiros agora usam as barcas pra Niterói e os ônibus municipais niteroienses com uma só passagem.

Assim a pessoa pode morar em qualquer bairro de Niterói e chegar ao Centro do Rio por um valor bem acessível.

Niterói teve tróleibus por mais tempo que o Rio, de 1953 a 1967. Também com capelinha. Operado pela Serve, viação estatal niteroiense encampada pela CTC em 1975.

Quando a troca envolve outros tipos de transporte você ganha aproximadamente 50% de desconto no segundo embarque.

Ônibus municipais do Rio e metropolitanos, metrô, trem, barca, qualquer baldeação entre modais distintos. Paga uma viagem por completo e metade da outra.

Ainda assim já ajuda bastante. Antes o usuário precisava custear do seu bolso  todas as tarifas integralmente.

Metrô: segundo muitos cariocas, é o único meio de transporte que opera com confiabilidade e segurança.

Porém a crise financeira provocada pela queda de usuários por conta da epidemia é gravíssima, e ameaça a continuidade das operações.

São 58 km com 41 estações em 3 linhas – na prática 2 (já explico o porquê de afirmar isso).

Próx. 4 imagens: o famoso Trem do Corcovado. Aqui a estação, no bairro Cosme Velho, na Zona Sul (*). Não é apenas turístico. Também é um meio de transporte coletivo pros moradores do bairro.

Antes da confusão provocada pelo corona-vírus (assunto polêmico e que não iremos debater aqui), aproximadamente 900 mil pessoas utilizavam o metrô por dia.

O metrô do Rio foi inaugurado em 1979, e é o 2º do país em todos os quesitos (antiguidade, extensão e número de passageiros), só ficando atrás do metrô de São Paulo, que é de 1974.

Um legado altamente positivo da Copa e Olimpíada foi a ansiosamente esperada expansão do metrô pra Zona Oeste (Jardim Oceânico, próximo a Barra da Tijuca), esse está operando como previsto.

Nos seus primórdios. Foi inaugurado em 1884, bem antes do monumento do Cristo Redentor, que é de 1931. Já mostra que ele tem outras funções além de levar gente a famosa estátua.

O projeto teve início em 2010, custou 9,8 bilhões de reais, e ficou pronto em 2016.

Com isso a rede ganhou mais uma linha, 5 estações e mais 8 quilômetros.

Antes tarde que nunca. Fazendo os cálculos você vê que até 2016 o metrô carioca só tinha 50 km. Muito pouco.

Até o fim do século 20 era bem pior. Até 1998 o metrô só ia até Botafogo na Zona Sul, e não funcionava aos domingos.

Atualmente. São dois vagões em cada composição (*). Há diversas favelas nas encostas do morro que está o Cristo.

Chega a ser surreal um meio de transporte de massas não operar aos domingos, mas é assim que acontecia.

O metrô de São Paulo sempre operou os 7 dias da semana, desde sua inauguração.

Entretanto no Rio era diferente. A classe trabalhadora dos subúrbios usava o metrô pra ir trabalhar durante a semana.

Todavia não podia contar com ele pra pegar uma praia no seu dia de folga.

Finalizando em Botafogo, obviamente não chegava a Copacabana, Ipanema, Leblon, São Conrado.

A Estação Morro do Inglês é a 1ª da viagem (*). Próxima a favela chamada ‘Guararapes‘. Somente moradores da região – devidamente cadastrados – podem desembarcar, apenas o 1º vagão abre as portas. A passagem pra eles é gratuita ou valor simbólico.

As praias da Zona Sul de mar aberto resumindo (as Praias do Flamengo e Botafogo, que nomearam os clubes de futebol, são na Baía da Guanabara). E muito menos a Zona Oeste.

Felizmente a situação se alterou. No final do século passado o metrô enfim chegou a Copacabana e Ipanema.

E no meio da segunda década do novo século cortou toda a orla da Zona Sul e atingiu a Z/O.

São 3 linhas no metrô do Rio: 1, 2 e 4 somente, porque a 3 está faltando. As linhas 1 e 2 ligam a Zona Norte a Zona Sul.

Imagem dos anos 50 mostra uma garagem. Destaquei que o letreiro também vinha escrito ‘Cidade’ quando a linha ia pro Centro, tradição no Rio e no Estado de SP. Porém em SP Capital o costume se encerrou ainda nos anos 60. Em Campinas e no Grande Rio (dir.) no começo dos anos 80. Em São José dos Campos-SP o letreiro ‘Cidade’ durou até 2010!

A 1 começa na região de classe-média mais central da Z/N:

Os bairros próximos ao Estádio do Maracanã, obviamente Vila Isabel, Tijuca, Grajaú, etc. .

Depois cruza o Centro e vai até Botafogo nos dias úteis (nos finais de semana até o Estácio).

A linha 2 vem do subúrbio: seu ponto final é na Pavuna, na divisa com a Baixada Fluminense.

Passa por Acari, Irajá, Engenho da Rainha, Inhaúma, Maria da Graça, Del Castilho, dentre outros bairros.

Igualmente cruza o Centro e antigamente tinha seu ponto final em Ipanema, na Praça General Osório.

Niterói, 1982: ônibus da viação Araçatuba ainda traz a indicação ‘Cidade’ como sinônimo de ‘Centro‘. Também tem capelinha.

No Centro ambas unem seus trajetos e seguem pelo mesmo trilho até Botafogo.

Portanto o tempo de espera no trecho Centro/Botafogo é curto, pois é atendido por duas linhas.

Em Botafogo quem vem da linha 2 e quer seguir pra orla (Copacabana, Ipanema e além) precisa baldear pra linha 1.

Dizendo mais uma vez, no meio da década de 10 inauguraram a linha 4, que liga a Zona Sul a Zona Oeste.

Anos 60, vários ícones do transporte do Rio a época: 1) o itinerário inteiro escrito no vidro (essa característica se encerrou nos anos 60 mesmo); 2)  capelinha com o nº da linha acima do teto; e 3) nome da viação dentro de um círculo (esses 2 últimos traços existiram até os anos 80). No detalhe outro buso na linha 688 pro Méier, na Z/N. No para-brisas todo o trajeto: “Piedade/ Cascadura/ Deodoro/ V. Militar/ Pe. Miguel/ IAPC/ Bangú/ V. Aliança”.

O ponto final é no Jardim Oceânico, perto da Barra como todos sabem.

A princípio ainda era preciso fazer baldeação. Você descia na linha 1 na estação Gen. Osório em Ipanema.

E ali era necessário trocar de trem pra poder seguir viagem.

No entanto, já desde 2017 na prática as linhas 1 e 4 foram fundidas.

Assim você pode vir das Zonas Norte, Central ou Sul e seguir direto pra Zona Oeste, sem baldeação.

Então a expansão do metrô é o ponto alto do transporte do Rio.

No entanto, o próprio sítio oficial do metrô alerta que a situação financeira é gravíssima.

1975: Mercedes e Metropolitana anunciam renovação de frota dessas marcas pela CTC.

E se nada fosse feito a operação poderia ser interrompida num futuro próximo (acessei em outubro de 2020, então os números são desse momento).

Com a epidemia do corona-vírus, o número de usuários caiu 70%, em média.

No auge, em abril de 2020, a diminuição chegou a 86%.

No segundo semestre melhorou um pouco, ainda assim a redução chega a 64% (agosto de 20 é o último mês que os dados estavam disponíveis).

1982: em ação esse exato modelo da propaganda anterior. Curioso é a porta no meio mesmo com embarque traseiro.

Resumindo, do público normal até março, só 1/3 continua usando – e pagando – o metrô.

Nada menos que 2/3 migraram pra outras formas de deslocamento.

Ou nem estão se locomovendo, por estarem sem trabalho ou em sistema ‘remoto’, a partir de casa.

No pico negativo, o número caiu pra pouco mais de 100 mil.

Gambiarra!! Ex-ônibus de carroceria Metropolitana transformado em vagão do metrô. Não leva passageiros, é do apoio operacional, ainda em serviço em 2019.

A seguir se recuperou um pouco, foi pra cerca de 330 mil passageiros/dia no final de 2020.

No entanto, o metrô alega que necessita ao menos 550 mil usuários por dia pra ser solvente.

O prejuízo mensal é de 35 milhões, e o déficit total até aquele momento já totalizava de 200 milhões.

A nota emitida em julho de 20 é bem drástica e ameaçava claramente:

Se não houver aporte externo de recursos por parte do governo, as operações seriam descontinuadas em breve.

Em foto dos anos 70, um antigo monobloco 0-321 da viação estatal: capelinha e o ‘CTC-RJ’ continua dentro de uma bola.

Em 2021 a tarifa foi reajustada de R$ 5 pra 5,80, o que deve ter dado um alívio ao orçamento da empresa.

Embora, inversamente, o mesmo não possa ser dito do orçamento dos usuários.

(Como comparação, quando jogo a matéria no ar em outubro de 21 um dólar estadunidense vale R$ 5,38;

A passagem de ônibus em SP é 4,40, e em Curitiba 4,50.)

O Rio também teve ‘Tribus. Raro na cidade. Fora o 2-andares de 1928, só achamos fotos desse velho Gabriela da viação Redentor. Em SP e no Nordeste é bem mais comum.

Na verdade o Metrô Rio – que é operado pela iniciativa privada – queria aumentar a passagem pra 6,30.

O governo tentava manter perto dos 5 Reais. Após tensa negociação se chegou a 5,80, um “meio-termo”.

Então mesmo no modal que funciona melhor, a situação é crítica.

Vamos comparar com São Paulo. O metrô paulistano tem 101 km de extensão,quase o dobro do carioca.

As vezes a população se revolta: em Niterói houve 2 “Quebra-Quebra das Barcas” bem próximos, em 1959 e 1961. Nessa tomada de 59 o povão incendeia e saqueia a estação das barcas pro Rio.

Entretanto o metrô de SP levava antes da epidemia 3,8 milhões de passageiros diários, número mais de 4 vezes maior que o do RJ.

Além disso na capital paulista há integração plena e gratuita entre trens e metrô.

Você usa os dois sistemas e só paga uma vez. Assim, são 370 km de trilhos com uma só passagem.

Faz toda diferença, pois agrega mais público tanto pro trem quanto por metrô.

No Rio não há integração gratuita, apenas 50% de desconto na segunda viagem.

Em 1987 a mesma cena, dessa vez no Rio de Janeiro. Ônibus queimados, caos no Centrão.

Falando só dos trens da CPTM, São Paulo tem 270 quilômetros de rede, igual ao Rio de Janeiro.

Porém os trens suburbanos de SP levavam 2,3 milhões de passageiros diários.

Igualmente 4 vezes mais que seu equivalente carioca, onde o tráfego era de 600 mil pessoas/dia.

Sim, ambas as capitais sentiram os efeitos do corona-vírus, evidente.

Em frente ao Posto 9 de Ipanema um táxi (*). Um paradoxo. O Rio não gosta de padronizações, tanto que a dos ônibus demorou pra vir mas não demorou pra acabar. No entanto os táxis foram padronizados assim, amarelo com faixa azul, ainda na virada pros anos 80 – ou antes. Em São Paulo foi o contrário, os ônibus passaram a ter decoração determinada pela prefeitura em 1978 mas os táxis demoraram bastante, eram cada um de uma cor até os anos 90. Voltando ao RJ, a caracterização de seus táxis é amplamente conhecida a nível nacional e mesmo mundial, mesmo quem nunca picou lá já viu em filmes/novelas.

Acontece que se SP tinha tráfego 4 vezes maior pôde absorver o impacto sem ameaçar falência.

No Rio a situação é bastante distinta. Vejamos o resumo da rede:

Trens suburbanos cariocas: como dito, 270 km em 8 linhas, cobrindo 12 municípios com 104 estações.

Porém o funcionamento é precário, pra gente dizer o mínimo.

Houve a privatização, mas não vieram os investimentos prometidos.

O número de usuários diários já era baixo, 600 mil/dia, e com a epidemia foi pra 300 mil, se reduziu a metade portanto.

A dívida da operadora, a Supervia, já chega a estratosféricos 1,2 bilhão (com ‘b’) de Reais.

Em junho de 2021 ela requereu recuperação judicial (diversas viações de ônibus estão a mesma situação, abaixo falamos melhor disso).

“Da Ponte pra Cá” – menos conhecidos são os táxis de Niterói: a faixa é mesma, mas branca sobre fundo escuro (*). Ao fundo ônibus, que em ‘Niquíti‘ (apelido de Niterói, pra quem não sabe) permanecem padronizados.

A tarifa nas bilheterias nesse mesmo ano subiu de R$ 4,70 pra R$ 5. Certamente insuficiente pra cobrir o rombo da Supervia.

Não precisaria ser assim. Na década de 90 os trens suburbanos de São Paulo estavam igualmente sucateados, situação que comprovei pessoalmente várias vezes.

Por conta disso o movimento era muito baixo. Em 1994 ficava em apenas 200 mil passageiros por dia, parecido ou talvez até pior que o Rio a época.

Na beira-mar do Leblon um táxi, uma van e dois ônibus, em 2020 ainda na pintura padronizada (*). Na encosta do morro a Favela do Vidigal (uma colagem, você percebe as emendas entre as fotos; a intenção não é enganar ninguém, se fosse nem teria equipamento e técnica necessários. Apenas mostro ângulo mais amplo do que seria possível se fosse uma só tomada).

Desde então o governo paulista investiu nada menos que R$ 8,1 bilhões (valores de 2021. Foram U$ 1,5 bilhão).

Pra melhorar a malha já existente, e construir mais alguns quilômetros de trilhos e estações.

Deu resultado. O público pagante nos trens de subúrbio paulistas se multiplicou por 10 em quase 3 décadas:

De 200 mil/dia pra 2,3 milhões/dia (dados de antes da epidemia).

Com a mesma quilometragem de rede que o Rio são quase 4 vezes mais passageiros.

Totalmente desnecessário se torna argumentar além disso.

Esperamos que a capital carioca possa se dar conta disso e invista pesado nos trens nas próximas décadas.

Pra que os moradores dos distantes subúrbios possam chegar a seus empregos com mais conforto.

A “Minhoca de Metal“: trens de subúrbio na famosa Estação ‘Central do Brasil’, ontem e hoje:

Próx. 3 imagens: o VLT (*). Aqui o salão de passageiros. Tem ar-condicionado e é limpo.

VLT: ainda funcionando, mas assim como o metrô, a situação financeira é gravíssima e a continuidade do projeto está ameaçada.

Nesse caso o problema é inclusive anterior a epidemia de corona-vírus.

O VLT não tem nem de longe o público pra o qual foi projetado.

A questão é que a rede é diminuta, são apenas 3 linhas no Centro e imediações (*).

Assim as passagens arrecadadas não conseguem cobrir os custos.

Esperava-se que 260 mil pessoas viriam a usar o VLT por dia. 

Em 2019, antes da inauguração da linha 3, o número estava em pouco mais de 1/3 disso, quase 90 mil usuários/dia.

Foto de 2015 mostra as obras (autoria de uma colega).

Isso porque as linhas são muito curtas, atendem apenas o ‘Centro Expandido’, da Rodoviária/Porto ao Aeroporto Santos Dumont.

As linhas 1 e 2 foram inauguradas em 2016. A linha 3 ficou pronta no final de 2018.

Entretanto por problemas técnicos e jurídicos só foi inaugurada em novembro de 2019. 

Antes disso, em julho de 19, a concessionária acionou judicialmente a prefeitura pra que o poder público faça um aporte de recursos, ou então o serviço será descontinuado.

O imbróglio ameaçou até a inauguração da linha 3. As partes concordaram em uma renegociação, e a linha 3 começou a operar.

Próx. 3 fotos: o Rio também tem Ônibus-Barco. Não é transporte coletivo, e sim pro turismo. Como é um veículo curioso mostro.

A estimativa era que com ela o fluxo de passageiros passasse enfim da marca de 100 mil pessoas diárias.

Porém aí veio recessão provocada pela epidemia. A coisa tomou o rumo oposto.

Do sonho de ultrapassar a centena de milhar de passageiros/dia passou-se a lutar pra manter poucas dezenas de milhares de passagens no mesmo período.

É híbrido. Em terra é um ônibus normal . . .

A concessionária do VLT quer que alguém cubra o rombo.

Acontece que a prefeitura do Rio não tem esses recursos, tampouco o governo do estado.

De forma que é incerto que as ‘negociações de paz’ em curso consigam trazer a solução.

Contra números não há argumentos. Não há dinheiro em caixa pro socorro que a concessionária demanda.

. . . mas na água se torna um barco. Na Holanda esse transporte bi-modal é comum, o que é natural já que suas cidades têm extensa rede de canais. Voltando ao Rio, ao fundo o Pão de Açúcar, ponto de partida do roteiro.

E a prefeitura fala, com razão, que não tem como fazer milagre.

Não há como triplicar por decreto o número de usuários dos VLT, que é o que a operadora está exigindo.

Algumas linhas de ônibus que cortavam a região Central já foram extintas ou encurtadas na estação de VLT.

Pra obrigar o usuário a fazer/completar a viagem sobre trilhos  (há integração tarifária entre os dois modais).

Aqui e a seguir: ônibus chinês elétrico, ainda na pintura padronizada. Num dia de chuva, vemos também um táxi ao lado, um buso a dísel atrás e ao fundo um morro (favelizado).

Não há soluções fáceis, porque não há muito o que fazer além disso exceto uma aumento massivo da rede do VLT.

É necessário levá-lo a outros bairros, aumentando assim sua demanda de forma natural. 

Uma excelente ideia seria enfim cumprir os planos iniciais, e levar o VLT por um lado até Botafogo, na Zona Sul, e de outro até São Cristóvão, na Zona Norte.

Isso sim agregaria muitas dezenas de milhares de novos usuários por dia.

Porém não há dinheiro nem pra se pensar em começar essa obra.

2 portas no século 21? Curiosa configuração.

De forma que o VLT, como o metrô, está ameaçado…. Que situação…

Sistema de ônibus ‘BRT’ nas Zonas Oeste e Norte – funcionando, mas não como deveria.

São 2 problemas: devido a aguda crise financeira menos da metade da frota de articulado prevista estava operando.

Foram construídas 125 estações no total. Só que o altíssimo índice de vandalismo está comprometendo a continuidade mesma do ‘BRT‘.

Avenida Brasil, subúrbio do Rio, anos 80: além de vários Fuscas e um caminhão 11-13 da Mercedes, chama a atenção o número de pessoas penduradas pra fora do ônibus. Essa era a realidade em todo o Brasil nas décadas de 70, 80 e 90 (pra quem não conhece, a Av. Brasil tem uma faixa expressa a esquerda, pros ônibus ‘rápidos‘, os que por virem de subúrbios muito distantes não fazem paradas nessa via expressa).

Nada menos que 21 estações na periferia da cidade estavam desativada permanentemente, pois sem condições de operar.

Viraram moradia pra sem-tetos, pontos-de-venda de drogas e ‘mocós’ pra outras diversas atividades ilícitas. Isso ainda em 2019, sem nada a ver com ‘covid’.

Portanto a situação já era ruim antes da epidemia. Ainda assim eram 340 mil passageiros diários.

Quando a doença estourou, desativaram mais de 30 outras estações.

Assim em 2020 das 125 estações de BRT quase a metade – acima de 50 – estavam inoperantes. 

Não precisa ser um gênio pra saber que o número de passageiros iria cair na mesma proporção.

Século 21: no Rio ainda nada mudou. As pessoas continuam sendo transportadas assim.

E assim se deu. Em 2020 o movimento desabou pela metade, pra 170 mil passagens diárias. Foi o ‘tiro de misericórdia’.

Em março de 2021 pra tentar impedir o colapso completo a prefeitura decretou intervenção no sistema ‘BRT’.

Ação que vai injetar R$ 133 milhões nos corredores, estações e frota.

21 estações do ‘BRT’ inutilizadas e inoperantes (no Recife aconteceu exatamente igual). Assim realmente a coisa não vai pra frente  . . .

Pra ver se o ‘BRT’ volta a funcionar com a eficiência que o caracterizava quando de sua implantação.

Algumas das estações que estavam destruídas (a esq. uma delas) já foram reformadas e voltaram a operar.

Menos mal, mas o trabalho está só no começo. A estrada será longa.

Andei no ‘BRT’ em setembro de 2020, antes da intervenção portanto.

Começou bem . . . Haviam até bi-articulados.

E achei que ele funcionava bem, fui a Praia da Barra com os articulados e alimentadores.

Planejava usar também o trecho que serve ao subúrbio, mas não houve tempo.

Aliás infelizmente não pude ir a Zona Norte, independente do meio de condução. Fica pra uma próxima viagem, se Deus quiser em breve.

As linhas mais carregadas são feitas por articulados, com 1 sanfona – foto no Term. Alvorada, na Barra da Tijuca (*).

Pra não perdemos o foco aqui, eu peguei o metrô em Copacabana e no Terminal Jardim Oceânico baldeei pro articulado.

Utilizei o ‘BRT’ até o Terminal Alvorada (ao lado), que é o ponto nevrálgico do sistema. E dali de alimentador a praia.

Na ocasião tudo me pareceu funcionar a contento. Depois fui entender:

Ônibus de tamanho normal se encarregam das linhas de menor movimento dentro do corredor. Tendo embarque em nível, ar-condicionado e pintura padronizada mantém-se o padrão do ‘BRT’ (Neobus do mesmo modelo dos articulados vistos logo acima).

O trecho da orla, na Barra da Tijuca e vizinho Recreio dos Bandeirantes, é limpo, seguro e com todas as estações operando.

Porém no subúrbio, nas outras partes da Zona Oeste (região de Santa Cruz e Campo Grande) e na maior parte da Zona Norte, é bem diferente:

Assaltos, superlotação e sujeira tornam a viagem desconfortável e perigosa. Pior, muitas estações estavam desativadas.

Já que saquearam tudo que era possível carregar, e destruíram o que não conseguiram levar.

Tem mais, infelizmente: o contrato previa 419 articulados.

Afinal, o busão é ‘Rápido’? Ou é pra ter ‘Paciência’ com ele??Deus É um Cara Gozador e Adora Brincadeiras“.

Porém uma vistoria da prefeitura só encontrou 199 desses ‘sanfonados’ nas garagens.

Apenas 130 operavam efetivamente nas ruas. Em outro momento descobriram que então eram somente 168 articulados em ação.

Evidente que algo que foi programado pra ter um certo número de veículos precisa de fato honrar esse cálculo pra ter o mínimo de eficiência.

Se na prática só dispõe de menos da metade ou até um terço desse número terá a qualidade dos serviços diminuída na mesma proporção.

Ônibus alimentador, que faz as linhas terminal/bairros do entorno: sem articulação e com portas ao nível da rua. Mas com pintura padronizada e ar-condicionado.

Os articulados além de maiores têm ar-condicionado e embarque em nível, sem catracas, pra serem usados nas estações projetadas especificamente pra eles.

No auge do caos pra não interromper os serviços as viações passaram a substituir os articulados do ‘BRT’ por ônibus comuns:

‘Pitocos’ (sem articulação), com catraca e portas ao nível do solo, e provavelmente sem ar-condicionado.

Não apenas eles são bem menores, e portanto andam muito mais lotados.

Do mesmo modelo (Apache ‘3’) no Centro, com a pintura padronizada pra linhas convencionais (*). A Caio tem forte presença no Rio. No destaque o consórcio e a viação.

Por não terem portas elevadas não podem usar as estações, param em frente a elas.

Oras, aí não se perdeu somente a rapidez do embarque em nível pré-pago.

Não é segredo pra ninguém que a periferia do Rio é bastante violenta (problema que afeta todo Brasil e boa parte do mundo, mas que ali é especialmente agudo).

Um dos diferenciais do ‘BRT’ em relação aos ônibus comuns era justamente que o usuário podia esperar sua condução em segurança dentro de uma estação vigiada.

Terminal Alvorada (*). Os alimentadores ostentam (por enquanto) a decoração padronizada, e não a específica do ‘BRT’.

Se regredimos de novo as paradas na rua sem segurança e sem embarque pré-pago, não existe mais ‘BRT’.  Por que foram investidos bilhões na construção do sistema?

Sabe um procedimento de emergência que seria adotado somente quando um articulado quebrasse, mas que se tornou o normal? O próprio “provisório-permanente”.

Beira-mar da Barra, feriado de 7 de Setembro de 2020 (*). Trânsito parado, ciclovia e busão já com pintura livre e letreiro eletrônico com o nº da linha no vidro traseiro.

Não precisaria ser assim. O sistema ‘BRT’ foi inaugurado em 2012, com o ramal ‘TransOeste‘.

Em 2014 veio o ramal ‘TransCarioca’, e em 2016 o ‘TransOlímpica’. No começo funcionavam bem.

Passou a ser possível ir dos bairros mais afastados das Zonas Oeste e Norte a Barra, de um lado, e ao Aeroporto do Galeão, no outro, em metade do tempo que se gastava antes.

E pagando apenas uma passagem. Era um meio de transporte rápido, eficiente, seguro, com ar-condicionado.

Niterói: aqui a padronização dos ônibus se manteve (*). Nesse notamos melhor o letreiro que indica a linha, tradição carioca pois no Grande Rio as pessoas conhecem o ônibus que pegam pelo número, e não pelo nome.

Desde que foi escolhido pra sediar a Olimpíada de 2016 até a realização efetiva dela na cidade o Rio sonhava alto. E parecia haver motivos pra isso.

Pois havia acontecido uma grande modernização, a muito esperada.

Na virada do milênio, o Rio não tinha corredores exclusivos, terminais, articulados, nem integração de qualquer tipo.

No século 20 operaram na cidade ônibus articulados, da estatal CTC em linhas municipais e inter-municipais, e em viações particulares em algumas linhas inter-municipais.

Nos anos 80 havia uma plaquinha na lataria. Faz tempo que olhando a traseira você sabe a linha que o veículo cumpre.

Porém a CTC foi privatizada (abaixo falo melhor disso) e as empresas privadas não acharam esse tipo de veículo viável.

De forma que por quase 2 décadas, do meio dos anos 90 até o meio da década de 10, o Rio não tinha um articulado sequer.

Parece incrível mas é verdade. Bem, outras capitais importantíssimas no Brasil passaram pelo mesmo processo.

Por exemplo Belo Horizonte-MG, Salvador, Fortaleza-CE e Belém.

As próximas 2 fotos foram tiradas em 2016, num posto de gasolina na BR-116, no interior de São Paulo (*). Os ônibus eram 0km, são do mesmo modelo, fabricados no Rio Grande do Sul pela Neobus e estavam a caminho do Rio de Janeiro. Esse é um Vera Cruz, metropolitano, portanto na pintura livre.

Todas elas tiveram ‘sanfonados’ nos anos 80/90, mas a seguir deixaram de contar com eles.

De lá pra cá essas cidades modernizaram seus sistemas de transporte.

Fortaleza, Belém e B.H. voltaram a ter articulados em corredores exclusivos, com modernas estações com embarque pré-pago e em nível.

Salvador não tem ‘sanfonados’ ainda, mas seus ônibus melhoraram muito, ganharam pintura padronizada e integração.

Municipal – a época – padronizado (*). Mesmo com ar-condicionado (detalhe).

Além disso a capital baiana agora conta com 2 linhas de metrô (já publiquei matéria específica sobre o transporte nessa cidade).

De volta ao Rio que é nosso foco hoje. Foi construído o moderníssimo sistema de ‘BRT’ ‘Trans-Carioca’ e suas extensões.

Hoje eles cortam boa parte das Zonas Norte e Oeste – infelizmente não chegam ao Centro e Zona Sul, e é nessa última que estão boa parte dos empregos.

Setembro de 2020: mais um Neobus na beira-mar do Leblon (*). Também climatizado.

Seja como for, na teoria funciona bem com uma ponta no Aeroporto Galeão na Z/N, daí passando por pela Z/O chegando a Barra da Tijuca e a bairros do subúrbio como Santa Cruz.

Por 4 anos, de 2014 a 18, operaram ali 2 bi-articulados, ambos Volvo, carrocerias Marcopolo e Neobus.

Aqui e a dir.: no começo do novo milênio o Rio teve ônibus com propaganda tomando-o por inteiro. Esse é Rio-Itá, metropolitano. Como consolo, foi igual em SP [capital e litoral], Brasília-DF, EUA, Canadá, México, Chile, Colômbia, África do Sul e muitas outras partes. A seguir um municipal, da NovaCap.

Apenas 4 cidades do Brasil contam com frotas de bi-articulados atualmente.

São elas São PauloCuritibaCampinas-SP Goiânia-GO.

(Duas capitais amazônicas, Rio Branco-AC e Boa Vista-RR, possuem cada uma com um exemplar que veio usado de outras capitais.)

O Rio e Manaus-AM fizeram parte dessa seleta lista em algum momento, mas não mais.

Seja como for, o sistema de BRT carioca é viável sem bi-articulados (2 sanfonas), desde que conte com muitos ônibus articulados (1 sanfona) rodando.

O problema é que com a crise que assola todo o transporte do Rio até mesmo os articulados estão sendo tirados de circulação.

Segundo se diz, em alguns horários apenas 1/3 dos ‘sanfonados’ disponíveis estão em ação.

E na média não chega nem a 50% do que seria adequado.

TABELA TROCADA“: operando no municipal carioca com a pintura do metropolitano de SP. É que o mesmo empresário é dono de várias viações no Rio e também em outros estados: Pará, Ceará e uma em Guarulhos, Grande SP.

Isso está tornando difícil a vida dos usuários do sistema ‘Trans-Carioca’ e suas extensões.

Li numa matéria que a própria continuidade do ‘BRT’ no Rio de Janeiro está ameaçada.

A prefeitura está pensando em substituir em definitivo cada vez mais os articulados que ainda restam por ônibus ‘tocos‘ (não-articulados).

A princípio convocando as próprias empresas que já operam no sistema.

Se elas se recusarem o convite será estendido a qualquer viação que tenha interesse.

Outro Monobloco 0-321 (prov. produzido nos anos 60) ainda em ação nos anos 80, com a pintura da CTC a época: branco com faixa vermelha e azul. Tem capelinha, é claro.

Oras, todo o modal ”BRT’ foi pensado pra ter suas linhas-troncos – nos corredores, entre os terminais – supridas basicamente por articulados.

Os ônibus ‘tocos’ devem ficar restritos as linhas alimentadoras, que ligam os terminais as vilas.

Digo, esse seria o ideal. No entanto, mesmo dentro do corredor de ‘BRT’ há algumas linhas de menor demanda.

Essas podem contar com veículos não-articulados fora do horário de pico.

Na década de 80 a CTC operou também os bondes, a pintura é a mesma. Apenas 2 cidades do Brasil, o Rio e Santos-SP, contam com bondes antigos, desses que existiam no começo do século 20. Mas somente no RJ de forma ininterrupta. Em Santos os bondes ‘clássicos’, se quiser chamar assim, acabaram em 1971 e retornaram em 2000, como atração turística. Enquanto que o carioquíssimo ‘Bondinho de Stª Teresa’, na Zona Central, foi inaugurado ainda no século 19, em 1896 repetindo, e nunca deixou de operar. Digo, em 2011 houveram alguns acidentes, inclusive com vítimas fatais. O bonde parou pra manutenção, ficou inativo até 2015. Fora esse hiato de 4 anos, já são 125 anos de serviços (quando a matéria sobe pro ar). A passagem custa R$ 20 pros turistas mas é de graça pros moradores do bairro, devidamente cadastrados.

Desde que, claro, o ‘padrão BRT’ seja honrado: pintura padronizada, ar-condicionado e, o principal, embarque em nível pré-pago.

Agora, isso não deveria nem estar em discussão, as linhas mais carregadas certamente necessitam de veículos pesados o dia inteiro

Se as linhas-tronco passarem a ser operadas por veículos ‘pitocos’, o diferencial do ‘BRT’ se perde, e assim se vai a atratividade pros usuários.

Com isso, cada vez menos gente o utiliza, agravando ainda mais o déficit entre arrecadação/custos de operação, gerando um círculo vicioso.

O ‘BRT’ deveria ter mais uma linha, a ‘TransBrasil’. Não, não pretendem ressuscitar a cia. aérea que marcou época até a virada do milênio.

O nome se deve a que o ramal ‘TransBrasil’ cortaria a Avenida Brasil, do Aeroporto do Galeão (onde já parte uma linha de ‘BRT’) até a divisa com a Baixada Fluminense.

Porém as obras estão paradas, apenas estorvando quem passa por essa importante artéria de tráfego.

Se tudo fosse pouco, nada menos que 16 viações de ônibus faliram nos últimos 5 anos (de 2016 a 21, quando escrevo).

Ponto final da linha 368 no Centro (*). Diz até a quantia de vagas de cada linha

E outras 10 requereram concordata, que é um passo antes da falência. Não perca a conta:

Vila Isabel, Penha Rio, Campo Grande, Real, Pégaso, VG, Palmares, Pavunense e Paranapuan no sistema municipal e a Tinguá no metropolitano.

Em 2020 a arrecadação caiu 50%, o déficit das empresas de ônibus já chega a estratosféricos 1,5 bilhão de Reais (com ‘b’, de novo).

…….

Já segue o texto. Antes imagens dos Terminais de ‘BRT’ Alvorada e Jd. Oceânico, na Zona Oeste.

Ainda no Centro, busos na padronização de pintura (*).

PINTURA DOS ÔNIBUS:

PADRONIZADA EM 21 CAPITAIS (NA PRÁTICA 23); LIVRE NO RJ E MAIS 3 –

Vale lembrar que os articulados do ‘Trans-Carioca’ e extensões são os únicos ônibus do Rio com pintura padronizada.

Isso nos leva a novo fracasso do programa de modernização implantado na década de 10:

Pintura padronizada nos ônibus: a mais breve da história do Brasil, durou apenas alguns anos e foi descontinuada.

Implantada em 2010, e abandonada em 2018. Todos os busos ficaram como esse a direita, apenas variava a cor da parte da frente.

Próximas 7: viação Braso-Lisboa. Algumas viações, tanto da capital quanto da região metropolitana, operam linhas municipais e inter-municipais. Enquanto era pintura livre com a mesma decoração em ambos os modais. Aqui um Ciferal da Braso-Lisboa do sistema municipal do Rio (nos anos 90 era moda o nome da viação vir num retângulo, abaixo falamos melhor disso).

Enquanto durou, essa padronização de pintura mostrava qual parte da cidade a linha servia.

A cidade foi dividida em 4 faixas. A lateral era branca, na frente e atrás a cor era a da região que a linha servia.

Podia ser vermelho, azul, verde ou amarelo. No teto haviam 4 faixinhas pequenas, mostrando todas as regiões.

Na padronização de Salvador alguns busos também trazem as referidas faixinhas no topo do veículo com as demais faixas. A maioria não mas existem os que sim.

Em Rio Branco há também esse detalhe, vejam vocês. Embora na capital do Acre é a mesma pintura pra toda frota.

Mesmo modelo e viação, mas em linha conectando a capital a Niterói. Por isso o prefixo ‘RJ‘ antes do número.

Sem qualquer diferenciação por região da cidade. Portanto as faixas no teto são apenas uma homenagem ao Rio.

Nesse ponto a padronização carioca lembrava igualmente a do SEI do Recife-PE, pois lá também há faixas verticais mostrando as outras cores do sistema.

Apenas em Pernambuco a padronização SEI é por categoria da linha (como em Curitiba, 1ª cidade do Brasil e creio que do mundo a padronizar os ônibus) e não por região da cidade.

Em 2010 a Braso-Lisboa entrou pro consórcio Inter-Sul, padronizado em amarelo. Torino ‘5‘ da empresa em linha municipal.

De volta ao Rio com pintura padronizada (2010-2018).

Ressurgiu a moldura negra ao redor dos vidros. Tornando os veículos urbanos parecidos com os de viagem.

Esse contorno escuro foi onipresente nos anos 80 e começo dos 90, daí desapareceu por uma década e pouco. Tudo vai e volta!

Como sabem, o Rio foi uma das últimas capitais a padronizar a pintura e a implantar integração via cartão.

Idêntico modelo e viação, em linha que cruza a ponte Rio-Niterói. Os metropolitanos seguiam em pintura livre, a viação não precisa ter adotado decoração xerox do municipal. O fez porque o quis, por uma questão de logística sua, pra poder remanejar os ‘carros’ entre os modais, e não porque foi obrigada por lei. Em Salvador houve caso idêntico.

Escrevi em 2012, quando abordei esse assunto pela 1ª vez:

Rio de Janeiro com pintura padronizada nos ônibus. Muitos achavam que isso jamais aconteceria, mas aqui está. ”

Infelizmente, os que apostavam que o Rio não conseguiria padronizar seus ônibus estavam certos. 

A padronização veio em 2010. Só que durou pouquíssimo, bem menos de 10 anos, foi a padronização mais breve da história.

Já no meio da década os busos com ar-condicionado passaram a vir com pintura livre.

De costas, mesmo buso visto a direita acima.

Com a desculpa que “ônibus com ar é serviço diferenciado e portanto isento de padronização” – só no Rio isso acontece!!! 

Diversas cidades contam com ônibus climatizados, e em nenhuma delas eles estão dispensados da pintura padronizada.

Foi o ensaio, logo veio o golpe final. Ainda em 2018 o Rio voltou novamente a pintura livre em toda frota, com ou sem ar.

Em 2018 quando retornou a pintura livre a Braso-Lisboa adotou nova decoração. Aqui um buso municipal da capital.

Sendo assim, o Rio foi uma das capitais que mais demorou a padronizar a pintura.

Na década de 10 (séc. 21) pelo menos 5 capitais padronizaram a pintura:

O Rio, Manaus, Maceió-AL, Florianópolis-SC (nesse caso uma ‘repadronização’) e Cuiabá-MT.

Na mão contrária, além do Rio Londrina-PR Feira de Santana-BA da mesma forma passaram por despadronizações

Laranja com brasões luso-brasileiros também adotado em linhas ‘Executivas‘ (*). Clicado em Copacabana, indo pra Niterói.

Florianópolis foi a primeira capital a padronizar as linhas metropolitanas (ao lado de Belo Horizonte e Goiânia).

O fez junto com as municipais, ainda na virada dos anos 70 pra 80.

No entanto, do meio pro fim dos anos 90 Floripa também despadronizou, tanto a frota municipal quanto inter-municipal. 

Na padronização os ‘Executivos’ municipais – busos de viagem com 1 porta, banco reclinável estofado, ar-condicionado, tarifa mais cara – ficaram azuis; tem as faixinhas no teto (mesma pintura e modelo do ‘Executivo’ que liga o Centro de Santiago/Chile ao Aeroporto).

Na capital de SC, entretanto, houve nova padronização em 2014.

(Apenas nas linhas municipais, as metropolitanas seguem em pintura livre.)

Sim, eu sei. Muitos cariocas não gostam de pintura padronizada, tanto é que ‘não pegou’ na cidade.

Eu morei toda minha vida em Curitiba, que começou a padronizar os ônibus em 1974.

Foi quando chegaram os ônibus Expressos (as demais linhas na virada pros anos 80).

Executivo’ ainda padronizado em 2020 no Centro (*). Vemos os trilhos do VLT e uma viatura da polícia, a cidade estava ocupada pelas forças de segurança pra tentar re-estabelecer a paz.

Ctba. foi a 1ª cidade do Brasil e até onde sei do mundo a fazê-lo. Isso nas linhas municipais.

As linhas metropolitanas levaram bem mais, foi só a partir de 1992. Eu sempre fui busólogo, desde criança.

Então gostava de ver os ônibus metropolitanos curitibanos cada viação com sua própria decoração.

Falando só com a emoção, senti falta dessa diversidade.

Nos anos 80 esse modal mais confortável era conhecido como “Frescão” – por isso a indicação ‘Turismo’. É uma linha urbana, mas diferenciada. A maioria das viações que o operavam tinha pintura específica pros ‘Frescões’, diferente da frota convencional. Aqui um ‘Frescão’ da Pégaso (Diplomata da Nielson, que depois virou Busscar).

Ainda assim, a padronização de pintura é uma questão de cidadania, do poder público regular as corporações.

Se alguns amigos do Rio de Janeiro não pensam assim, respeito sua opinião dissonante da minha.

Acontece que das 27 capitais do Brasil em apenas em 4 cada viação faz o que quer na sua frota.

Em 23 os ônibus têm pintura uniforme, sendo que em 21 há padronização oficial:

Todas as do Sul (Porto Alegre, Florianópolis e Curitiba);

Todas as do sudeste exceto o Rio (São Paulo, Belo Horizonte-MG e Vitória-ES);

Amélia 0km da Pégaso. Essa viação, ao contrário da maioria, pintava os ‘Frescões’ igual aos convencionais (o buso tem capelinha, a viação vem escrita dentro de um círculo e essa pintura com faixa diagonal colorida era comum a várias empresas; abaixo falaremos melhor de tudo isso).

Também todas as do Centro-Oeste (Brasília, Goiânia, Cuiabá e Campo Grande);

7 das 9 capitais do Nordeste (Salvador, Aracajú-SE, Maceió, Recife, Fortaleza, Teresina-PI, e São Luís-MA);

No Norte, Belém, Manaus, Rio Branco e Palmas-TO igualmente.

Em Porto Velho-RO e Boa Vista-RR há uma ‘padronização informal’: só há uma viação em cada, então na prática toda a frota tem a mesma pintura.

(Em Boa Vista com exceção dos articulados e o bi-articulado.)

Garagem da Pégaso, um convencional a frente cercado de ‘Frescões’, decorados igual. Destaquei a placa no alto, característica do Sudeste (Rio, SP e BH) nos anos 80.

P. Alegre, Curitiba, SP, BH, Vitória, Goiânia, Belém e São Luís têm padronização incluso nas linhas metropolitanas.

Somente no Rio, João Pessoa-PB, Natal-RN e Macapá-AP nem mesmo os municipais contam com esse avanço.

Não quero dizer que a maioria está sempre certa. Ao contrário, muitas vezes a massa age como rebanho e não reflete, repete o que está na moda.

Ainda assim é um fato que quase todas as capitais entendem que padronizar a pintura é melhor.

Pintura padronizada de Niterói (*). Tem ar-condicionado, mas com as janelas abertas (prov. pela epidemia) o equipamento não climatiza o veículo, cena que vi muitas vezes no municipal do Rio e também em Salvador.

23 x 4 é um placar que dispensa outras argumentações.

MESMO NO GRANDE RIO:

NITERÓI, NOVA IGUAÇU E SÃO GONÇALO MANTIVERAM A PADRONIZAÇÃO –

Niterói é o município mais importante (excetuando a capital) não apenas do Grande Rio mas de todo o estado. Bem, até 1975 Niterói era a capital do Estado do Rio de Janeiro.

Pintura padronizada de Nova Iguaçu.

(Até 1960 o município do Rio era o Distrito Federal, e de 1960-75 o Estado da Guanabara, como todos sabem.)

Então. Em Niterói os ônibus têm pintura padronizada. E também em São Gonçalo e Nova Iguaçu.

O município do Rio de Janeiro tinha 6,3 milhões de habitantes quando foi feito o último censo em nosso país (2010).

São Gonçalo, vizinho a Niterói, também padronizou suas linhas municipais.

Fora a capital eis os 4 municípios mais populosos do Grande Rio (os dados são sempre do Censo de 10):

1) São Gonçalo, 998 mil (praticamente 1 milhão); 2) Duque de Caxias, 852 mil; 3) Nova Iguaçu, 787 mil; e a seguir 4) Niterói, 487 mil.

Portanto dos 4 maiores subúrbios metropolitanos 3 têm pintura padronizada nos ônibus. Até no Grande Rio a maioria dos municípios mais populosos preferem assim.

Vejamos os busos de Niterói – o desenho é o mesmo, varia a cor, vermelho ou verde:

São Gonçalo, município mais populoso do Estado do RJ fora a capital.

Nova Iguaçu, município cuja área um dia abrangeu toda Baixada Fluminense, de Japeri a Dq. de Caxias:

Ciferal da viação Zona Oeste, na pintura livre que caracterizou várias empresas cariocas.

Não é só na região metropolitana da capital. Pelo que pesquisei rapidamente na internet no interior também.

Campos (‘dos Goytacazes’) é a maior cidade do estado fora do Grande Rio, e também tem pintura padronizada. Volta Redonda, que é a 3ª maior, idem.

Das 3 cidades mais importantes do interior do estado do RJ, 2 têm a frota padronizada (em Petrópolis, a 2ª, é pintura livre como na capital).

Mesma viação (Zona Oeste) e modelo, na 1ª padronização do RJ: “Canarinho”, de 1994.

Teresópolis e Barra Mansa igualmente têm a decoração dos ônibus determinada pelas respectivas prefeituras.

E em Angra dos Reis e Nova Friburgo têm uma padronização na prática.

Pois ambas só tem uma viação em cada (como ocorre em Boa Vista e Porto Velho, no Norte do Brasil).

Outro Ciferal igual, dessa vez viação Real em sua decoração dos anos 80 e começo dos 90 (o nome da empresa dentro de um círculo).

Ou seja, mesmo no Estado do Rio várias cidades já deram o passo de padronizarem os ônibus.

Na capital já tentaram duas vezes, mas ainda não deu certo.

‘PROJETO CANARINHO’ (1994):

A 1ª PADRONIZAÇÃO TAMBÉM “NÃO PEGOU”;

MAS A REAL FICOU COM O LEGADO –

Nos anos 90, em 1994 mais especificamente, houve uma primeira tentativa de padronizar a pintura dos ônibus cariocas.

Veremos 6 viações diferentes em sequência, mas de mesmo modelo (também Ciferal) e pintura: é a 1ª padronização do Rio, de 1994. Nesse esquema, quase tudo amarelo com detalhes em branco. Valia só pra algumas linhas ‘Rápidas’ das Zonas Sul e Oeste. Esse é também é viação Real, pintura padronizada, linha 127, que fazia parte do projeto.

Nesse caso não eram todas as linhas, apenas algumas ‘rápidas’ das Zonas Sul e Oeste.

As linhas ‘rápidas’, ‘expressas’ ou ‘diretas’, como se sabe, fazem menos paradas no caminho.

O ideal é que a cidade conte com um sistema de ‘BRT’:

Articulados em corredores exclusivos, terminais de integração e de preferência com estações elevadas.

Na falta disso, e o Rio da década de 90 nem sonhava que um dia teria ‘BRT’, as linhas ‘rápidas’ fazem o papel de linhas-tronco.

São feitas por carros maiores, de tamanho ‘padrão’ (‘padron’ no original, eu traduzo tudo pro português).

Agora 5 viações da Zona Oeste. Aqui um Ocidental (‘Oeste Ocidental’? Pleonasmo, ‘Ocidental’ quer dizer exatamente ‘do Oeste’).

.Levam mais depressa o grosso do público que precisa ir direto a um bairro mais distante, sem ficar encostando em todos os pontos.

Pois bem. Em 94 a prefeitura criou os chamados “Corredores Expressos”. Da Zona Sul e Zona Oeste, repetindo.

Na Z/S envolvia as linhas 121, 123, 125, 127, 128 e 132. Na Z/O eram as que levavam os códigos S-13, S-14 e S-15.

Essas linhas, e somente essas, iriam receber a seguinte pintura padronizada:

Viação Oriental – paradoxo, apesar do nome serve a porção ocidental da cidade (fonte de várias fotos: Antigos Ônibus do Rio de Janeiro.

Ônibus todo amarelo, exceto ao redor das janelas e o teto, que eram brancos. Por isso ficou conhecida como “Projeto Canarinho“.

Essa é a pintura livre da viação Real, tanto antes da padronização dos consórcios de 2010 quanto após o fim dela, em 2018.

O que ocorreu foi o seguinte: até 1994 a decoração da Real era bem diferente, ‘saia’ vermelha e ‘blusa’ cinza com detalhe em azul (vista um pouco mais pra cima a esquerda).

Viação Pégaso.

Porém ela fazia parte do “Corredor Expresso da Zona Sul“.

Assim, os busões da Real que faziam essas linhas receberam a pintura padronizada em amarelo, com detalhes em branco.

Como também aconteceu com diversas outras viações da Zona Oeste.

Na Zona Oeste, viação Zona Oeste. Os 6 ônibus acima, contando com esse, têm essa película escura em torno dos vidros, que foi muito comum no Rio na década de 90.

Todas os ‘carros’ de todas essas empresas ficaram iguais, por isso é uma padronização de pintura.

Todavia que os cariocas não gostam mesmo de padronizações de pintura, por isso o “Projeto Canarinho” fracassou.

A frota das empresas que operam essas linhas voltou cada uma decoração escolhida por seu dono.

Acontece que a Real gostou do desenho, amarelo e branco.

Viação Campo Grande. Repito, 6 Ciferal do mesmo modelo (e até idêntico ângulo nas tomadas) de viações distintas. Isso mostra o quanto a Ciferal era forte entre os frotistas cariocas nos anos 80 e 90.

E quando o “Projeto Canarinho” acabou ela resolveu pintar toda sua frota desse jeito.

Ou seja, aí era uma escolha da Real, não era mais compulsório.

Na Grande Florianópolis aconteceu exatamente igual, com a viação Biguaçu.

Ela manteve como sua escolha particular a pintura ‘EBTU’ que ela tivera que usar na padronização, mesmo depois da padronização ter acabado.

Na Grande Curitiba todas as viações metropolitanas adotaram o bege.

Próx. 4: viação Real. Pintura livre, foto de 1982 (o código da linha, 123, está repetido na capelinha no teto e no letreiro menor. No Rio o nº é mais importante que o nome).

Digo melhor, todas com exceção da São José dos Pinhais, que se mantém sua frota em vermelho desde os anos 90. No começo era obrigada, agora o faz porque quer.

Hoje nosso foco é Rio. Repetindo, a Real teve que padronizar parte de sua frota em 1994 de amarelo e branco, como diversas outras viações igualmente o fizeram.

O “Projeto Canarinho” durou pouco, logo foi abandonado.

Até 2010 ‘Canarinho’, sua escolha após fim da padronizaçãomesma linha 123 pro Jd. de Alá (divisa Ipanema/Leblon), décadas depois.

Não conseguiu o que planejava, familiarizar os usuários pra diferenciação visual entre linhas ‘rápidas’ e ‘paradoras’.

Imediatamente todas as empresas de ônibus envolvidas despadronizaram, voltaram a pintura livre.

A questão é que a pintura livre da Real foi a que ela usou no “Canarinho“. Isso por vontade da Real.

Busões adquiridos entre 2010 e 2018 vieram padronizados nos ‘Consórcios‘. Por meses o letreiro informa que a TRO1 é a “antiga 125“.

Poderia caso ela quisesse simplesmente ter retornado a forma que era antes de 1994, ou então adotado qualquer outra.

Não quis dessa forma. Adotou o “Canarinho” como sua escolha voluntária, não custa enfatizar ainda mais uma vez.

Os mais jovens não conhecem essa história (e tampouco História, de um modo geral, eu poderia acrescentar).  

Por isso nas páginas de busologia criou-se um padrão bastante repetitivo.

Após 2018 a Real voltou pro ‘Canarinho‘, sua marca registrada. ‘TRO6′ é a antiga 108.

Toda vez que é postado algum buso de outra viação padronizado como ‘Canarinho’ sempre tem alguém que escreve nos comentários “que é cópia da Real“. Toda vez, não falha.

Não, não é cópia da Real. Muitas viações ficaram assim compulsoriamente por um tempo – as que operam linhas dos “Corredores”.

Apenas a Real voluntariamente se manteve dessa forma após esse período. Não foi copiada por ninguém.

Vejamos alguns “Canarinhos” da viação Campo Grande:

DO RIO PRO MATO GROSSO E TOCANTINS: O “CANARINHO” NO CENTRO-OESTE –

Cuiabá, início do novo milênio (essa foto é de 2005): a viação Norte-Sul importava muitos ônibus usados do Rio, que rodavam no Mato Grosso sem serem repintados. Esse é ex-Real, Placa ‘LCV’, 1º licenciamento no RJ.

Em Cuiabá hoje há pintura padronizada, articulados, estações de BRT, ar-condicionado. Estive na capital mato-grossense em 2006. Não havia nada disso, era pintura livre e só ônibus ‘tocos’, sem climatização.

Uma das coisas que mais me chamou a atenção é que várias viações locais importavam ônibus usados de outras cidades e operavam ali em Cuiabá sem sequer repintar os veículos.

O Rio era um dos maiores fornecedores de veículos de 2ª mão pro MT. Uma viação cuiabana, a Norte-Sul, parecia especializada em importar busões da Real carioca.

Imagens valem por milhares de palavras. Veja as viações Real, Verdun e Oriental no Rio de Janeiro.

Agora seus ‘clones’ em Cuiabá/Mato Grosso e Palmas/Tocantins.

DO RIO PRA AMAZÔNIA: O MESMO BI-ARTICULADO NO BRT CARIOCA, NO ACRE E MANAUS

O original, em Fortaleza (*). O Ceará também teve sua CTC, viação estatal estadual. Igualmente foi privatizada.

NA MÃO INVERSA AGORA:

DE FORTALEZA PRO RIO –

Fortaleza passou por grande modernização nos transportes no começo dos anos 90.

Chegaram os articulados e padronização de pintura dos ônibus.

A 1ª padronização foi por categoria de linha: Expressos/Troncais/Radiais, Alimentadores, Circulares/Inter-Bairros, etc

Aqui e a esquerda: viação Bangu, Rio de Janeiro, RJ. Mas cópia de Fortaleza, CE.

Como em Curitiba, SEI do Recife, Belo Horizonte, Los Angeles-EUA, entre outras cidades.

Na segunda toda frota foi pintada como os antigos troncais da 1ª padronização.

Pro que nos importa aqui, dos anos 90 até a virada do milênio na capital do Ceará os busos eram como vê acima

Brancos, com duas flechas estilizadas vermelha e azul se entrelaçando. A inspiração.

Agora filma o clone acima e ao lado: a Viação Bangu da Zona Oeste do RJ usou exatamente a mesma pintura.

Porque quis, na época era pintura livre no Rio. Outro clone, outra homenagem.

No micro (esq.) a cópia fica mais perfeita, porque nele o nº do buso vem a frente da flecha, exatamente como no Ceará.

Aqui e a esq. viação Matias. Nos anos 80,  inspirada nos ‘hippies’, tinha pintura florida. Esse é um convencional, sem ar-condicionado.

Fechando esse tema, o esquema do  “Canarinho” é popular entre nossos vizinhos da América do Sul.

A viação estatal Enatru do Peru foi quem criou esse famoso desenho:

Ônibus todo amarelo com o entorno das janelas branco.

Ainda nos anos 70 ela operava o transporte de Lima, capital peruana obviamente, nessa configuração.

Frescão” da Matias. Outra das poucas das poucas viações que usavam a mesma pintura nos executivos e convencionais.

E já com articulados andando em corredores exclusivos, livres dos congestionamentos.

Lá como aqui, a Enatru (Empresa Nacional de Transporte Urbano) acabou sendo privatizada nos anos 90.

Em 1991 Santiago do Chile se tornou a primeira cidade da América Hispânica a padronizar a pintura dos ônibus.

E mais uma vez o mesmo esquema foi escolhido, buso inteiro amarelo com a parte superior alva. É o período conhecido como ‘Febre Amarela‘.

A maioria das viações tinha pintura própria pros “frescões“. Aqui a Real em 1982, mas a mesma decoração foi mantida até o século 21.

Os ‘Amarelinhos’ da capital chilena duraram até o começo desse novo milênio, quando veio a atual padronização ‘TranSantiago‘.

AS CARROCERIAS CARIOCAS METROPOLITANA E CIFERAL MARCARAM ÉPOCA;

HOJE ASCENSÃO DA PAULISTA CAIO –

Vamos reproduzir algumas informações extraídas da Lexicar, a “Enciclopédia do Automotor”.

O legado também foi preservado no guincho. Saudade desses Volvos bicudos dos anos 80

Duas encarroçadoras sediadas no próprio Rio foram ícones no transportes dessa cidade:

A Metropolitana nos anos 60 e 70, e a Ciferal, nas décadas seguintes, 80 e 90.

Curiosamente foram fundadas pela mesma pessoa, o imigrante austríaco Fritz Weissman.

A indústria de carrocerias Metropolitana iniciou sua produção em 1948, no Rio de Janeiro.

Os ônibus por ela fabricados estiveram presentes em outras cidades, evidente. Em especial no próprio Sudeste

Ônibus Condor, a antiga ‘Ciferal Paulista’, em 1982 – a filial se separou da matriz e ajudou a dar falência na empresa da qual se originou. Mais uma vez vemos diversos traços típicos dos busos cariocas: capelinha no teto; chapa mais alta, na grade; nome da viação em uma bola (todas as empresas mesmo a CTC até os anos 70, na maioria delas até os 80). Na próx. foto ‘Ciferal Paulista’ da viação Acari.

Há vários registros deles em Belo Horizonte, e as viações estatais paulistas CMTC e CSTC (da capital de Santos, respect.) também adquiriam da marca.

No entanto seu principal mercado era mesmo o Rio, onde estava sua sede.

Carioca da gema, seus busos levavam o nome de bairros da cidade, como Ipanema e Copacabana.

Em 1975, entretanto, a Metropolitana foi comprada pela paulista Caio.

Cuja sede na época era no bairro da Penha, Zona Leste de SP.

Por 3 anos a Caio manteve o ‘Metropolitana’ como nome-fantasia.

Até que em 1978 marcou o fim definitivo dessa icônica marca.

A partir daí os veículos ali produzidos vinham assinados como ‘Caio’.

……..

Outro Condor em bela cena a beira-mar. Compare com o ‘Ciferal Paulista’ da tomada anterior, são praticamente idênticos os modelos. O autor – dessas 3 fotografias e de muitas outras pela matéria – é o mesmo, o inglês Donald Hudson. Já destaquei antes: a capelinha, placa na grade e não no para-choque, a viação escrita no círculo. Outro traço típico do RJ, a linha da maneira escrita em duas camadas no letreiro. Só que não duas camadas sobrepostas regiamente, de mesmo tamanho. Não. A de cima era maior, a debaixo surgia como num arco sob esta. Ocorreu creio dos anos 50 ou 60 até os fim dos 80. Olhando a foto é mais fácil entender. “Vidigal-Mourisco” por cima. Surgindo por baixo, espremendo as palavras de cima pra achar um espacinho, vem a informação que a linha é ‘Circular”.

A Metropolitana se foi. Entretanto o Rio de Janeiro ainda contava com a carioquíssima Ciferal.

Sigla que significa ‘Comércio e Indústria de Ferro e Alumínio’. A montadora começou as atividades em 1955.

No mesmo ano de 1978 ela abriu uma filial em São Paulo, por isso chamada ‘Ciferal Paulista‘.

Pois bem. A filial, a Ciferal Paulista, resolveu se separar da companhia que a fundou.

Após uma briga na justiça em 1981 adotando o nome ‘Condor’.

Porém num acordo de cavalheiros pôde continuar a produzir os mesmo modelos de ônibus da matriz Ciferal.

Sem qualquer contrapartida (ou seja, sem precisar pagar pelos direitos autorais).

Isso acelerou a queda da Ciferal, pois os produtos da Condor eram similares porém mais baratos.

No fim não adiantou, a Condor faliu entrou em concordata em 1983, e faliu em 1985.

Capelinha dupla’ só no Rio – 2 espaços pro nº da linha, porque 1 não basta. Outro exemplo do letreiro típico do RJ: linha “Bangu-S. Francisco” por cima. Espremido embaixo, formando um arco sob o corpo principal do texto, lemos que é “Via V. Militar. Esse estilo foi copiado em outras cidades, fato. Especialmente no Nordeste (João Pessoa-PB e Teresina-PI principalmente, mas também o Recife-PE, Fortaleza-CE e São Luís-MA).
E ali perto do Rio em São José dos Campos-SP. Então sim, também houve em outras partes. Mas muito pouco, na verdade é mesmo sinal indelével dotransporte carioca.

Foi comprada pela Thamco, que por sua vez faliu na 2ª metade dos anos 90, sendo comprada pela Neobus.

Pro que nos importa aqui, a Ciferal também faliu em 1982.

Porém esse ano marcou a eleição de Leonel Brizola como governador.

Em 1983, logo no seu primeiro ano de mandato, Brizola encomendou 125 ônibus ‘padrão’ a Ciferal, o que marcou a retomada da montadora.

O modelo oficialmente se chama ‘Alvorada’, mas é conhecido popularmente como ‘Briza, em homenagem ao governador.

Em 1987 Curitiba lança sua ‘Frota Pública’, em 1988 encomendando a Ciferal 50 articulados ‘Alvorada‘.

Parecia que os bons tempos haviam voltado. Mas a recuperação se deu com a estatização da Ciferal.

Outro Amélia, também com nº da linha dobrado, acima do teto e ao lado do nome da linha. A capelinha foi tão presente em SP quanto no RJ. Em menor escala existiu também em BH, Porto Alegre, Brasília e Belém. Em todas as cidades exceto o RJ somente nos modelos fabricados até a virada dos anos 70 pros 80. Pois até então o letreiro era menor, assim o número pra ser visto de longe precisava desse destaque extra sobre o veículo. No começo dos anos 80 a Caio lançou o Amélia, e a Marcopolo a 1ª versão do Torino. Ambos tinham o letreiro bem mais largo, de forma que a esquerda do local destinado ao nome da linha havia um espaço específico pro código numérico dela. A capelinha se torna redundante, e em SP nunca houve Amélia ou Torino com capelinha. Os cariocas viram a questão de forma diferente, e mesmo já havendo um local pro nº no letreiro preferiram manter a capelinha no teto. Amélia ou Torino com capelinha só mesmo no Rio!

O governo do estado detinha então quase 80% do capital da encarroçadora.

Em 1992 ela adquire da Fiat as instalações em Xerém, em Duquei de Caxias no Grande Rio, as instalações que um dia foram da ‘Fábrica Nacional de Motores’, a popular ‘Fenemê‘.

Em 1995 o governo do estado privatiza a Ciferal. Foi um golpe fatal na companhia.

A Ciferal veio mesmo a pique, foi comprada parcialmente pelo Marcopolo em 1999.

No ano 2001, a Marcopolo assumiu o controle completo da Ciferal.

A marca ‘Ciferal’ foi mantida por mais uma década e pouco como nome-fantasia.

A partir do início de 2014 a Marcopolo descontinuou o uso do nome Ciferal.

Os veículos produzidos nas instalações da antiga Ciferal em Duque de Caxias, agora assinam sua produção como ‘Marcopolo Rio’.

Essa fase dura pouco mais de 6 anos. No fim de 2020 acontece nova reviravolta:

RJ, final dos anos 70: um ‘mar’ de capelinhas!

A Marcopolo fecha essa filial carioca, transferindo a produção pra matriz em Caxias do Sul-RS e outra filial no Espírito Santo.

É o fim agora de todo legado tanto da Ciferal quanto da saudosa Fenemê.

……..

Logo abaixo falarei mais da CTC. Pra aquecer o Ciferal Alvorada nessa viação. Pros íntimos ‘Ciferal Briza‘:

 

Próx. 3 fotos no Centro, em 2020 (*). Real Rio é metropolitano, placa de Seropédica.

Estive no Rio na virada de 1997 pra 1998, e em setembro de 2020.

Nos anos 90 presenciei a força da carioca Ciferal, boa parte da frota da cidade era dessa marca, produzida ali no grande Rio mesmo.

Em 2020 foi diferente. Vi a maciça presença da paulista Caio – outra sigla, iniciais de Companhia Americana Industrial de Ônibus – nas ruas da ‘Cidade-Maravilhosa’.

Esse e a seguir municipais de volta a pintura livre (*). Ambos com ar-condicionado e janelas abertas, assim o climatizador não funciona!

Me parece que a Caio é líder do mercado carioca.

(Não é científico, apenas uma observação empírica minha).

Caso minha impressão esteja correta, creio que o Rio e talvez Goiânia sejam as únicas cidades que a Caio esteja na frente em todo Brasil fora do Estado de SP.

Todos de carroceria Caio, esses 3 verdes e o da foto a direita, padronizado (*).

No resto dessa nação-continente a liderança da Marcopolo é incontestável.

Alias se nós excluirmos a Grande São Paulo eu acredito que perto de metade da frota brasileira seja Marcopolo.

A Caio deve ter mais ou menos uns 20% e os demais 30% são divididos pela Neobus, Comil, Mascarello e outras.

Foto em Copacabana, busão vai pra V. Isabel (*). Várias linhas cruzam o túnel, ligam a orla a parte mais central da Zona Norte (entorno do Maracanã e começo da Av. Brasil). Quem vem dos subúrbios mais distantes pra Zona Sul pega mais de uma condução, geralmente mais de um modal. Na mesma imagem um 11-13 Mercedes vermelho, e no destaque outro Mercedão azul clicado nas imediações.

Mais uma vez, estou estimando por alto. Não tenho os números exatos.

Ainda assim é um fato que sem contar a região metropolitana da capital paulista a Marcopolo deve ter pelo menos o dobro do tamanho da Caio.

O Rio, no entanto, é exceção. Ali a Caio tem certamente sua maior presença fora de Sampa a nível nacional.

Recapitulemos como chegamos nesse ponto, enfatizando de novo alguns dados já colocados. As montadoras cariocas faliram, como se sabe.

Entre 1999 e 2001, dizendo de novo, a Marcopolo comprou a Ciferal, primeiro de forma parcial depois integralmente.

Nessa imagem e na anterior pessoas lavando ou varrendo as calçadas (*). As fotos foram batidas perto das 9 da manhã. Há muitos sem-teto dormindo na praia e avenidas próximas, quando o dia começa é preciso reforçar a limpeza em frente a loja ou prédio. Voltando ao transporte, ponto na divisa Copacabana x Ipanema: a sigla ‘BRS 1’ indica que várias linhas foram re-organizadas pra se tornarem complementares ao sistema ‘BRT‘. A padronização se foi, ao menos a hierarquização de linhas se manteve.

No final de 2013 foi tomada a decisão, efetiva a partir de 2014, de eliminar a ‘Ciferal’ até como marca-fantasia.

Não há mais uma encarroçadora carioca. Uma das coisas que me chamou a atenção foi a enorme fatia dos ônibus Caio no mercado da cidade. Cabe aqui um comentário.

O líder de mercado nesse segmento no Brasil é a Marcopolo.

Alias não sei se ainda é o caso mas houve um tempo que ela era a maior fabricante de carrocerias de ônibus de todo o planeta.

A Marcopolo já incorporou no decorrer de sua caminhada ao topo a Nimbus e a Ciferal. Além disso é dona de 40% da Neobus.

Sendo que a Neobus incorporou a Thamco, que já havia incorporado a Condor, que era a antiga Ciferal Paulista.

Relação das linhas no verso do mesmo ponto (*). Várias linhas viraram ‘Troncais’, recuperando a ideia do ‘Corredor Zona Sul‘ que havia sido tentado nos anos 90.

Portanto a Ciferal se dividiu em 2 no fim dos anos 70. O mundo dá voltas.

De forma direta ou indireta tanto a matriz carioca quanto a filial paulista acabaram de posse da Marcopolo (ao menos parcialmente).

Pois bem. A Caio vem em 2º lugar a nível nacional. No papel a distância entre ambas não é tão grande.

Porém se você excluir a frota municipal de São Paulo da conta a liderança Marcopolo se torna muito mais ampla que aparenta a primeira vista.

E por que eu falo de ‘excluir o mercado paulistano da conta’? Simples.

Porque o grupo Ruas, que é dono da Caio, detêm perto de 60% da ônibus do sistema municipal de SP.

Próx. 3: busos da Oriental, Zona Oeste. Como sabem, por todo século 20 até os anos 80 a viação era escrita num círculo (destaque).

Não é pouco, o total são 14 mil veículos na cidade inteira.

Portanto só as viações do Ruas (concentradas nas Zonas Sul e Leste, as mais populosas) têm perto de 8 mil ônibus.

Nos anos 90 a Caio faliu, e só não fechou porque foi comprada pelo Ruas. Logo 100% de sua frota é dessa encarroçadora.

Pois o conglomerado compra dele mesmo, e nem teria como ser diferente.

Torino ‘1’, era 0km quando foi clicado.

Assim a Caio tem garantido pra si um enorme mercado, o maior do país disparado.

As viações que não são do grupo Ruas compram ônibus de outras marcas sim.

Porém pela enorme presença dessa montadora na Grande SP, mesmo as demais viações adquirem majoritariamente da marca Caio.

Nos anos 90 houve uma variante: o nome da viação passou a ser escrito num retângulo. Ainda é uma figura geométrica. Exemplifiquei com a Oriental, mas todas as viações fizeram o mesmo. Esse busão na linha S-13, que fazia parte do “Corredor Zona Oeste”, e portanto por um tempo foi padronizada em amarelo. Aqui já voltara a pintura livre.

Que dessa forma deve ter quase 90% do mercado na  região metropolitana da capital paulista.

Como já disse acima, no Brasil todo fora a capital paulista e entorno a situação se inverte completamente.

Aí é a Marcopolo quem tem liderança absoluta, devendo ter quase o dobro do tamanho da Caio.

O Rio Grande do Sul, por exemplo, não compra ônibus da Caio. Somente das encarroçadoras que são ali sediadas:

Marcopolo, Comil e Neobus. Eventualmente também Mascarello, que é de Cascavel-PR.

No estado inteiro do RS quase não há ônibus da Caio, exceto se forem importados usados.

Nos anos 80 e 90 somente a estatal CTC e algumas viações metropolitanas tinham articulados, nas empresas particulares municipais não. Veja o Centro do Rio no fim de tarde, centenas de milhares de pessoas dependendo de ônibus pra ir ao subúrbio. Era um alívio quando encostava um ‘sanfonado‘.

Na Grande Florianópolis só uma viação, a Biguaçu, tem alguns exemplares da Caio, as outras não.

Aqui em Curitiba a partir de 2018/19 a Caio reagiu bem, ganhou muita força.

Várias viações que não compravam dela a décadas voltaram a fazê-lo (Campo Largo, Tamandaré, Colombo, Mercês, Cidade Sorriso).

Inclusive na grande renovação da frota de 2019 ela emplacou grande quantia de articulados e bi-articulados.

A última vez que Ctba. comprara bi-articulado dessa marca havia sido em 2006.

“NA TINGUÁ NÃO FALTOU TREM“: foto da revista Eu Rodo, da Volvo. Eis a chamada da matéria que falava dos articulados da viação Tinguá, de Nova Iguaçu – fazendo uma alusão a greve dos trens de subúrbio da então RFFSA, hoje privatizada como Supervia (esse buso e os trens tinham basicamente o mesmo trajeto, N. Iguaçu/Central). Mesmo no sistema metropolitano os articulados eram muito raros no Rio do final do século 20, daí o impacto no imaginário popular.

A Zona Sul de Curitiba a maior, mais populosa e mais de classe trabalhadora da cidade, portanto onde mais se usa ônibus.

As viações Redentor e Cidade Sorriso, baseadas ali, adquiriram dezenas de Caios recentemente.

De todos os tamanhos, micrão, normal, articulado e bi-articulado.

O Terminal Pinheirinho, na Z/S evidente, é o maior da cidade.

Portanto agora é comum você ir lá e ver de uma vez dezenas de ônibus da Caio juntos, as vezes só eles em todo terminal.

Porém até 2018 não era assim, haviam poucos dessa encarroçadora aqui em Curitiba.

Apenas as viações Redentor e Santo Antônio tinham muitos exemplares, nas demais viações muito poucos ou nenhum.

Não apenas no Sul. Em João Pessoa, por exemplo, creio que não há ônibus da montadora paulista circulando, e se tiver são raríssimos.

A foto anterior do articulado está em baixa definição. Então coloco essa pra vermos como era a pintura da Tinguá na época.

Em diversas capitais como Brasília, Salvador, Recife, Belém, Fortaleza, Belo Horizonte, Manaus, é assim também.

Algumas viações compram dessa marca, você os vê na cidade. Mas certamente em minoria.

No Rio é diferente. Ali os Caios estão em profusão.

Se não for a líder é bem perto disso. Me chamou a atenção.

Scania da Rio-Itá, também metropolitano. Vai pela ponte Rio/Niterói. Placa quase no vidro, tradição no RJ (e todo Sudeste) nos anos 80.

OS “LOUCOS ANOS 80”:

EM 85 A CTC ENCAMPA 16 EMPRESAS;

EM 87 “UM DIA DE FÚRIA” NO CENTRO –

A década de 80 foi bastante turbulenta, quem tem idade suficiente se lembra bem, quem não presenciou leu nos livros de história:

Tumultos em todas as esferas, econômica, política e social.

Nova Iguaçu, 2021. A chapa está logo abaixo do para-brisas. Pelo menos uma viação do Grande Rio mantém vivo o estilo do século 20, já na 3ªdécada do século 21. No Tocantins as empresas de ônibus fazem o mesmo.

Nem poderia ser diferente, pois foi a período da redemocratização. Essas passagens de bastão sempre têm seus percalços.

Sucessivos planos econômicos, todos fracassados, mudavam a moeda brasileira num ritmo frenético.

Até mais rapidamente que a Pepsi altera seu logotipo – a competição é acirrada.

A carestia faz com que começassem a surgir saques a supermercados.

Isso em todo Brasil porém especialmente no Rio de Janeiro.

Aqui e a dir. : tumultos no Centro de Niterói na virada pros anos 60. Vemos um jipe (prov. do Exército) incendiado na revolta de 1959.

O governo estadual toma várias medidas polêmicas pra amenizar os efeitos da crise.

Assunto que não discutiremos aqui. Só iremos falar dos transportes.

A retomada da Ciferal em 1983 foi apenas o começo. Haviam planos mais ambiciosos, logo postos em prática.

Em 1985, através do decreto 8.711, a CTC-RJ (viação estatal estadual) intervém em 16 viações no Grande Rio, municipais da capital e metropolitanas.

Em 1961 houve lojas saqueadas e incendiadas.

A encampação dura até 1988. Nesse período de 3 anos a frota ‘estatizada’ recebe a pintura da CTC da época:

Fundo branco com 2 pequenas faixas em vermelho e azul perto das janelas.

Não apenas no Rio isso ocorreu. No mesmo momento, o início/meio dos anos 90, o poder público também encampa viações no estado de SP.

1987: Centro do Rio em idêntica situação. O buso que está queimando é um “Frescão” da Pégaso. Bem, não está tão ‘fresco’ assim . . .

Tanto na capital através da CMTC quanto em Santos com a CSTC. Nos casos paulistas as viações estatais são municipais.

Já no século 21 Brasília acabou passando pelo mesmo processo.

A estatal TCB-DF requereu judicialmente e lhe foi concedida a posse temporária da frota e garagens de algumas empresas particulares.

1980: um dos 1ºs articulados brasileiros em teste na CTC (por isso a chapa azul-escura).

De volta ao Rio de Janeiro dos anos 80. A estatização das 16 viações durou 3 anos, a seguir foi revertida.

Na década seguinte, a de 90 portanto, houve o reverso da fortua. A CTC, e também o metrô e trem suburbano foram todos privatizados.

Antes disso a CTC tinha ônibus em 3 modais no Grande Rio: municipal da capital, municipal de Niterói e inter-municipal Rio/Niterói. Operou também em Campos, maior cidade do interior do estado:

As próx. 8 imagens mostram a CTC-RJ. Também na 1ª metade dos anos 80 outro articulado em testes, esse Marcopolo.

A Cia. de Transporte Coletivo marcou época. Os primeiros articulados do Brasil foram fabricados em 1978.

Aprovados nos testes, a produção em larga escala se iniciou entre 1980 e 81.

Logo que surgiu a novidade um dos primeiros exemplares de ‘sanfonados’ brasileiros rodou no Rio em testes pela CTC.

Era um Caio Gabriela Scania. a foto está a direita, logo acima da galeria horizontal.

Está na pintura ‘EBTU (‘Empresa Brasileira de Transportes Urbanos)’: fundo branco, uma faixa maior colorida seguida de outra menor negra.

Os tróleibus cariocas (1964-1972) eram operados pela CTC. Na época ainda ‘CTC-GB‘.

Essa decoração, com apoio do governo federal, acabou nessa época sendo a escolhida pra padronizar os ônibus em Brasília, Porto Alegre, Florianópolis, Maceió e Campinas-SP.

Cumpre a linha 10, pro bairro de Fátima, na Zona Central. Sendo no Rio tem que ter capelinha.

A chapa azul-escura indica que o veículo ainda é um protótipo, não iniciou a produção em série.

Quando os ‘tróleis’ acabaram converteram alguns pra dísel, seguiram na pista (esse talvez um deles).  Pintura dos anos 60: azul, faixa amarela, branco em cima. Foto em Botafogo, ano de 1972 – Fusca dominava as ruas.

A CTC tinha vários prefixos: 100 pro municipal do Rio e boa parte dos inter-municipais;

Depois da 2ª metade dos anos 80 unificaram o ‘100’ no municipal niteroiense e também em praticamente todos os ônibus intermunicipais. Alguns metropolitanos chegaram a usar o RJ-100.

as linhas internas de Niterói tiveram várias numerações: alguns busos tinham nºs baixos, por ex, o da linha 5 no ‘carrosel’ de fotos acima era o 155.

Nos últimos tempos houveram CTC’s com o prefixo ‘NIT‘. Outros com o 100, sem o ‘RJ’.

Se tudo fosse pouco, de 1975 até o meio dos anos 80 houve veículos que ostentaram o prefixo RJ-118. Explico:

Anúncio da Metropolitana com a decoração do começo dos anos 70. A capelinha nunca falta. Última vez que o ‘CTC’ veio numa bola, nas particulares o costume foi até os anos 80.

Antes havia a viação estatal Serve, de Niterói. Ela quem era dona do tróleibus niteroiense visto mais pro alto na matéria.

Até 1960 o Rio era capital do Brasil. Portanto o município do Rio de Janeiro era o Distrito Federal. Niterói era a capital do Estado do Rio de Janeiro.

Quando Brasília foi inaugurada a princípio o município do Rio passou a ser o  Estado da Guanabara.

Pra não passar direto de D.F. pra somente município. Niterói seguiu sendo a capital do Estado do RJ.

Nos anos 70 e 80 vieram os ‘Azulões‘ – não apenas no Rio: as ‘frotas públicas’ do Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste também se consagraram nessa cor. Recupera-se a pintura dos anos 60, mas agora unicolor, sem detalhes em amarelo e branco; surge o logotipo com a letra ‘T’; municipais do Rio (esse) e muitos metropolitanos com prefixo 100, sem a sigla ‘RJ‘.

Essa fase de transição acabou em 1975. O Estado da Guanabara (‘GB’) foi incorporado ao Estado do RJ.

O município do Rio de Janeiro passou a ser capital estadual.

Isso todos sabem. Recapitulei aqui porque tem a ver com o transporte.

Em 1975, com a fusão dos Estados da GB e RJ, a CTC-RJ incorpora também a viação estatal Serve, de Niterói.

Pois bem. Era a Serve quem tinha o prefixo 118. Que a CTC mantém por mais uma década, em mais uma transição.

Assim entre 1975 e o meio dos anos 80 a CTC tem dois prefixos, o 100 (as vezes RJ-100) que já era seu e o RJ-118 herdado da Serve niteroiense (direita abaixo).

Municipal de Niterói com o prefixo ‘RJ-118’.

Do fim da década de 80 ate´a privatização toda frota inter-municipal da CTC é unificada sob o prefixo 100.

Niterói é umbilicalmente ligada ao município do Rio, por motivos óbvios.

Já que falamos de ‘Niquíti’, do tempo que o Rio deixou de ser a capital federal e dos turbulentos anos 80, vamos relembrar alguns tumultos que aconteceram em Niterói, na virada pros anos 60.

Alguns intermunicipais usavam o ‘RJ-100’.

Em 1959 Brasília estava em fase final de obras e logo a sede da União seria transferida pro Centro-Oeste.

A ponte Rio/Niterói não existia, pois é dos anos 70. Pra cruzar a Baía da Guanabara você dependia das barcas.

Então obviamente elas eram muito mais primordiais no sistema de transporte do Grande Rio que atualmente, quando é muito mais prático ir pela ponte.

Pintura criada em 1983, especialmente pro lançamento do Ciferal Alvorada ‘Briza’.

Pois bem. Com 2 anos de diferença, em 1959 e 1961, houveram dois “Quebra-Quebras das Barcas“.

Motivadas pelo que a população percebia ser baixa qualidade nos serviços, no 1º caso, e um reajuste tarifário no 2º.

Em ambos as pessoas que esperavam pra embarcar na estação começaram uma revolta espontânea.

Saques e incêndios tomaram boa parte do Centro de Niterói (Já vimos as fotos mais acima na página).

Foto dos anos 60, pois a chapa só tinha nºs, sem letras (o emplacamento com 2 letras começou no ano de 1970). A V. Kennedy era novinha em folha, foi inaugurada em 1963. Esse é viação Oriental, que usava o prefixo 42.

A própria estação, lojas, jipes do Exército que tentavam controlar a situação, nada escapou da fúria da população.

Até mesmo a casa da família proprietárias das barcas foi invadida e saqueada.

,As mulheres da turba saíram as ruas usando escandalosamente as joias retiradas das gavetas, num processo de aberto escárnio.

Pois bem. Um pouco depois da transferência do governo federal pra Brasília veio o regime militar, que alias consolidou a mudança de capital.

Em 1985 a CTC intervem em 16 empresas, uma delas a Oriental. Amélia encampado pela viação estatal e daí a pintura. O nº do ‘carro’, 42.045, entrega que pertencia a Oriental.

Nos anos 80 chegou o momento da redemocratização, período bastante turbulento como sabem.

A hiper-inflação era galopante. Pra tentar resolver em 1986 veio o Plano Cruzado, que congelou preços e salários.

Por uns meses pareceu funcionar, o país se entusiasmou, porém no fim do mesmo ano tudo desandou.

Foto de 1984: como dito, a CTC operava os bondes com essa mesma pintura.

No ano seguinte houve nova tentativa de congelamento, com o ‘Plano Bresser’. Mais uma vez não deveria haver qualquer reajuste de preços, ou assim fui dito.

Em 30 de junho de 1987, no entanto, a população do Rio é surpreendida com um salgado aumento de 50% nas passagens de ônibus, que deveria estar “congelada“.

A maioria das linhas passou pra CZ$ 4,80 (sigla de ‘Cruzados’, moeda implantada no ano anterior, substituindo o Cruzeiro).

Voltando ao modal sobre pneus, houve essa variante, as faixas são iguais mas o fundo é cinza. Amélia na linha 219-Usina/Praça 15.

O povão não teve dúvidas, explodiu novamente em revolta. Aproximadamente 160 ônibus foram danificados.

Sendo 60 queimados e o restante apedrejados. O Centro do Rio entrou em caos, como não é difícil imaginar.

Repetindo em plenos anos 80 as cenas que aconteceram na virada pros anos 60 em Niterói.

De volta pro presente, a viagem nas barcas do Rio pra Niterói em 2020.

Gabriela na pintura normal da CTC nos anos 80.

PINTURA EXCLUSIVA PRAS LINHAS INTEGRADAS AO METRÔ E TREM:

NOS ANOS 80 NO RIO E B.H., AGORA SÓ NO RIO –

Já que falamos de pintura de ônibus, desde o começo dos anos 80 o Rio tem pintura exclusiva pra linhas integradas ao metrô.

No começo esse modal era de responsabilidade da estatal CTC.

Gabriela na pintura das linhas integradas ao metrô, ainda da CTC. O mesmo letreiro em 2 camadas naquele estilo típico do Rio.

Nessa época Belo Horizonte tinha o mesmo, dentro da padronização ‘Metrobel’. Mas em Minas isso acabou.

No Rio existe até hoje. Além disso, após a virada do milênio os trens suburbanos aderiram ao mesmo procedimento, igualmente com pintura específica.

Com uma tarifa você pode usar duas conduções. Embarca no ônibus, paga, e quando chega a estação pra trocar pro modal sobre trilhos não precisa pagar de novo.

Já nesse milênio rebatizado ‘Metrô na Superfície’, na ocasião da foto R$ 2,80 esse ônibus com ar-condicinado + metrô. Atrás um convencional da Real, custava 2,35 somente o ônibus.

Ou na volta usa primeiro o metrô ou trem e a seguir o ônibus. Há desde linhas curtas, alimentadoras locais nos bairros, como outras mais longas.

Quando não havia o metrô pra Zona Oeste linhas ‘Expressas’ de ônibus, sem paradas no caminho, ligavam o metrô em Ipanema ao Terminal Alvorada, na Barra da Tijuca.

Na África do Sul existe exatamente igual, o moderníssimo ‘Gautrem’ tem sua própria rede de ônibus alimentadores em Joanesburgo e Pretória.

Mais exemplos de linhas integradas, passado e presente. Fora os articulados e alimentadores do ‘BRT’ os únicos busões com pintura padronizada no Rio de Janeiro.

Todos os ônibus inter-municipais do Estado do Rio precisam ter o prefixo ‘RJ’ antes do nº.

INTERMUNICIPAIS: PREFIXO ‘RJ’ NO ESTADO INTEIRO;

OS MUNICIPAIS NO GRANDE RIO TAMBÉM TÊM SEUS PREFIXOS ESPECÍFICOS –

Já a décadas todos os ônibus intermunicipais do estado do Rio de Janeiro precisam ter o prefixo ‘RJ’ antes da numeração.

A regra vale tanto pra ônibus metropolitanos quanto pros de viagem.

Os subúrbios metropolitanos também criaram prefixo pras linhas municipais. Aqui e a dir. em Niterói, cuja sigla é ‘NIT‘ (embaixo do vidro nesse Monobloco 0-371 da Ingá).

Não importa se o veículo é urbano e tem 2 portas, catraca e bancos fixos (como o Monobloco 0-364 acima ou o 0-371 ao lado) ou se é de longa distância, saindo de rodoviária pra rodoviária e mais confortável.

Não faz diferença. Se a linha liga municípios diferentes dentro do Estado do Rio de Janeiro é preciso grafar o ‘RJ’.

Pois bem. Mais recentemente vários municípios do Grande Rio fizeram o mesmo:

Adotaram uma sigla que precisa ser inserida antes do nº na frota que cumpre linhas municipais.

Até a CTC teve carros com a sigla ‘NIT’.

Em Niterói é ‘NIT’; São Gonçalo ‘SG’; Duque de Caxias ‘DC’; e Nilópolis ‘NL’. Entre outros, estou citando apenas os mais próximos a capital.

Em Niterói e São Gonçalo os prefixos municipais foram abandonados quando a pintura foi padronizada, pois não é mais necessário.

Nos demais permanecem as siglas. Mato a cobra e mostro o pau:

Próx. 5: várias viações, mesma pintura nos anos 80. Esse da Acari (nome da viação num círculo). A seguir Pégaso.

A MAIS CARIOCA DAS PINTURAS:

FAIXA DIAGONAL MULTI-COLORIDA

O empresário Jacob Barata é dono de várias viações no Rio de Janeiro.

E também no Pará (sua terra-natal), Ceará e São Paulo.

Pois bem. Entre os anos 70 e 90 todas as suas empresas de ônibus cariocas ostentavam o mesmo desenho na frota, mudando apenas a cor:

A ‘blusa‘ (parte de cima) é branca. Da frente até a metade do veículo na lateral há uma ‘saia’, ou seja uma faixa horizontal, de uma determinada cor.

No entre-rodas pouco antes do eixo traseiro disparam a partir de baixo 5 faixas coloridas paralelas em diagonal.

Braso-Lisboa – nos anos 90 preferiram usar um retângulo pra nomear a viação.

A do fundo é a mais grossa, a da frente a mais fina. Ambas da mesma tonalidade da ‘saia‘, na verdade uma continuação desta.

Entre essas duas da ponta há 3 faixas, sempre da mesma cor em todas as empresas do conglomerado:

A da frente é amarela, mais grossa; a do meio laranja, afina um pouco; e a seguir uma vermelha, a mais estreita.

Tijuquinha.

Sobre a roda há a segunda faixa diagonal da mesma cor da ‘saia’, assim a rabeira do buso é branca. E não apenas no Rio.

No século 20, quando era pintura livre, a viação Guarulhos da Grande São Paulo e a Arsenal de Belém tinham essa exata mesma pintura. Ambas também são de Jacob Barata, e nelas a saia era azul.

De costas viação Tijuca – que depois mudou o nome pra Tijuquinha e a cor pra azul. Na traseira placa com a linha, nesse caso 220.

Hoje não é mais possível, tanto o metropolitano da capital paulista quanto municipal e metropolitano da capital paraense são padronizados.

Vide as imagens, é mais fácil visualizar que imaginar o que estou descrevendo.

Era pintura livre, cada viação decorava a frota como bem entendia. Entretanto várias delas, voluntariamente, adotaram o mesmo desenho só mudando as cores.

Por outro lado nada mais natural, se eram do mesmo dono. Uma “assinatura” do grupo Barata.

Traço tão forte no municipal carioca que transbordou pra outros modais: metropolitano (onde se mantém até hoje) e rodoviário.

DO RIO PRO MUNDO:

“É molinho de achar, é lá na Feira de Acari…”. Lembra dessa música?

A “MAIS CARIOCA DAS PINTURAS” EM SÃO PAULO (CAPITAL E INTERIOR) E NO PARÁ –

Como dito acima, vejamos as viações de Jacob Barata ostentando a mesma pintura que foi consagrada no Rio em ação também em São Paulo e no Pará.

Quando era permitido. Hoje SP e Belém têm pintura padronizada tanto no municipal quanto metropolitano.

A direita o original na Zona Norte carioca. Abaixo os clones.

A esquerda articulado do ‘BRT’ carioca chegando ao Aeroporto do Galeão, em 2016. Destaquei a placa, ‘KQB-7431’.

A direita abaixo o mesmo veículo em Manaus, cumprindo a linha 678 que liga os Terminais 4 e 5 a Ponta Negra, na Zona Oeste. Agora é o emplacamento ‘Merco-Sul’, a chapa virou KQB-7E31.

Essa viação manauara adquiriu vários articulados e inclusive um bi-articulado usados do Rio de Janeiro. Operaram na capital amazonense sem sequer serem repintados.

O veículo é o 03.14002. Detalhes: 1) nada menos que 7 dígitos. Típico de Manaus esses nºs muito altos, no passado também presente em São Paulo e Brasília; 2) o prefixo (’03’) em cor diferente, porque é ‘Costa Norte’ brasileira.

Estive em Manaus em 2010. Na época constatei que era comum importarem ônibus usados de vários estados do Brasil e pôr pra rodar por lá sem re-emplacar.

Vi pelas ruas do Amazonas busões com placas de Porto Alegre, Curitiba, São Paulo e Rio.

Só que pelo menos os ‘latões’ haviam sido repintados na decoração das viações locais (ainda era pintura livre em Manaus).

Agora com o referido emplacamento ‘Merco-Sul’ isso não é mais possível, pois não há mais o nome da cidade na placa.

Indo pro Cosme Velho.

Entretanto hoje Manaus conta com pintura padronizada, quebrada por esses ‘sanfonados’ ex-Rio que circulam na Amazônia como chegaram do Sudeste.

……

Ao lado Torino ‘3(‘G.V.’) da Breda Rio, na sua clássica decoração em branco com 2 faixas diagonais vermelha e azul.

Linha urbana do Rio Gde. do Sul pra Rondônia? Calma, é um bairro de S. Leopoldo.

Agora segura essa. A seguir vemos mesmo modelo e pintura, porém da viação Futura na Grande Porto Alegre. Até os para-choques são da mesma cor.

Clicado mais especificamente no município de São Leopoldo, no Vale dos Sinos. São Léo’ nos anos 90 já teve uma pintura-clone da CMTC paulistana.

Agora clone de uma empresa carioca, pras homenagens gaúchas ao eixo Rio/SP ficarem completas.

Rio de Janeiro, 1982.

……..

Dizendo ainda mais uma vez  que todos já sabem, por todo século 20 era tradição no Rio escrever o nome da viação num círculo (na CTC até os anos 70, nas particulares até os 80).

A esquerda viação Redentor de partida pra famosa ‘Cidade de Deus’.

Igual em Fortaleza, virada pros anos 90.

Várias viações de Fortaleza fizeram o mesmo, ao lado um exemplo.

Natural, a capital do Ceará se parece bastante com o Rio em muitas dimensões.

Duas viações de São Paulo, a Taboão e a São João Clímaco (que eram do mesmo dono) também homenagearam o Rio de Janeiro, e colocavam suas iniciais dentro de uma bola.

Veja abaixo o Veneza da Taboão. Com a viação num cículo, no estilo carioca. Até aí tudo bem.

Mesmo círculo em SP, também nos anos 80.

Agora repare no letreiro. Vai pra…  “Vila Carioca”??? Definitivamente, Deus é o Cara Gozador e Adora Brincadeiras !!!

De volta ao Rio, na virada do milênio as viações passaram a assinar sua frota num retângulo.

Acompanhe a evolução na viação Amigos Unidos, da Zona Sul. Exemplifico com essa, mas todas as viações passaram pelo mesmo processo:

Até mesmo viações municipais de Niterói e metropolitanas escreviam seu nome no círculo:

Van que atende a Zona Norte – mas foi fotografada na orla da Zona Sul (*). É simples de entender: de 2ª a 6ª puxa linhas regulares no subúrbio, e no fim-de-semana faz fretamento, levando a galera pra passar o dia na praia. Fotografei o mesmo em Belém.

Foi uma longa ‘viagem pro passado‘ nos ônibus cariocas. Vamos voltar ao presente e aos demais modais.

Seguindo nossa análise do que deu certo e o que não deu no esforço de modernização desse novo século, em especial pra Olimpíada.

Legalização e inserção das vans no sistema de transporte regular: sucesso parcial.

Houve a regularização, mas as “guerras do transporte” continuam.

Veja a direita: pintura padronizada, linha fixa, veículo limpo e com manutenção em dia, aceita cartão assim tem integração com ônibus e trem.

Isso deu certo. Vamos ver então o que não deu, o reverso da moeda.

‘Romeu-&-Julieta’ da viação Oriental.

No Sul do Brasil o problema do transporte clandestino é, poderíamos dizer, insignificante.

Em todas as demais regiões da Pátria Amada (Sudeste, Nordeste, Centro-Oeste e Norte) a situação é bem diferente.

Nos anos 90 o transporte clandestino, com vans e as vezes até Kombis, tomou conta das capitais e maiores cidades do interior.

Papa-Filas. Os busos cariocas têm capelinhas desde o tempo do Fenemê. É tão importante esse destaque porque no Rio (repetindo o que todos já sabem) as pessoas conhecem as linhas pelo nº, e não pelo nome. É assim também em Santos, e da mesma forma na Itália, Argentina e Paraguai, entre outros lugares. Inclusive antes do letreiro eletrônico os busões de Santos, da Itália e alguns no interior da Argentina sequer traziam qualquer palavra no letreiro, apenas o numeral mesmo. Não era necessário nada além disso. No RJ não chegou a tanto, há o nome do bairro escrito, mas o mais importante é o código numérico. Como já vimos mais pra cima na matéria, a prefeitura mudou várias linhas que passam por Copacabana, pra torná-las complementares ao sistema BRT. Como no Rio as pessoas conhecem a linha pelo nº e não pelo nome, por meses repetiram a informação que “a TRO1 é a antiga 125“ . Aqui em Ctba. quando um código de linha muda nem sequer é comunicado aos passageiros, porque além dos técnicos da prefeitura ninguém conhece o número nem mesmo do ônibus que pega todo dia. Há na Zona Oeste curitibana 2 terminais próximos, o Fazendinha no bairro de mesmo nome e o Caiuá no CIC. Até pouco tempo cada um deles tinha uma linha troncal a servi-lo, respectivamente as linhas 701-Fazendinha e 703-Caiuá. Nós curitibanos só conhecemos esses busões como ‘Fazendinha’ e ‘Caiuá’, ignoramos seus códigos. Tive uma colega de trabalho que era carioca e mudou pra Curitiba. Inversamente, ela dizia que pra ir pra casa pegava “o 701 ou o 703”. Um ‘choque cultural‘.

Depois da virada do milênio houve um esforço pra regularizar esse modal:

Os operadores foram organizados em cooperativas, e as cooperativas respondem perante o poder público como se fossem uma viação de ônibus.

Na maior parte das cidades o resultado foi bom. Os veículos dos antigos ‘perueiros’ agora tem que cumprir horário e itinerários fiscalizados.

Há pintura padronizada, e a manutenção tem que estar em dia e o cartão-transporte é aceito.

Em São Paulo capital inclusive foram proibidas as vans e Kombis, só podem operar micro-ônibus ou veículos de porte ainda maior.

No Rio, que é nosso tema de hoje, também houve uma modernização e retomada do poder regulador do estado de direito.

As vans lá também têm que aceitar o cartão-transporte, têm pintura padronizada e precisam cumprir linhas pré-determinadas.

Digo, em 2013 eu retornava de João Pessoa e fiz a conexão no Galeão. Havia uma ‘janela‘ de 4 horas entre um voo e outro.

Assim peguei um ônibus, andei uns poucos pontos, logo desci (‘saltei’, no jargão local) e caminhei um pouco a pé pela Avenida Brasil, pra conhecer um pouco da Zona Norte da cidade.

A região da Favela da Maré de um lado e o bairro Bonsucesso de outro. Caminhei perto de uma hora, a seguir retornei ao Aeroporto do Galeão exatamente de van.

Essa era legalizada. Porém na Ilha do Governador cheguei a ver transporte ainda clandestino, Kombis brancas operando sem qualquer fiscalização.

Outro papa-filas, (prov.) viação Paranapuan  da Ilha do Governador, na Zona Norte.

Isso já tem alguns anos, quase uma década quando escrevo (2021). Não sei como está a situação hoje.

Desconheço se ainda existem Kombis e vans nessa situação. Infelizmente dessa vez não pude ir a Zona Norte.

Então ainda que não seja de forma perfeita, o Rio conseguiu regularizar o transporte alternativo. Isso é bom.

Sobre a ponte rumando ao Rio (*). Ao fundo o porto e o Centro de Niterói, pra onde se dirige o Coesa. Foto datada, setembro de 2020.

Só que há um porém. Desde os anos 80 o Rio de Janeiro enfrenta seríssimo problema de segurança pública, como é de conhecimento universal.

E o transporte alternativo, agora legalizado, está no centro desse conflito.

Milícias cobram pedágio das vans pra que os motoristas possam passar pelo território controlado pelas quadrilhas.

Em 2005 a Coesa já tinha essa pintura.

Os milicianos chegam mesmo a fazer barreiras nas grandes avenidas, como se fosse uma batida policial clandestina.

Pra fiscalizar as vans que passam, se elas pagaram a propina ou não.

Obviamente por ser uma atividade ilícita a milícia extorquir os perueiros não há recibo.

Breda/Rio, que operou na cidade nos anos 90.

Uma vez li no jornal que o esquema funcionava assim: quando o perueiro pagava a ‘caixinha’ da semana recebia um adesivo.

Não havia nada de chamativo nele, não vinha escrito ‘Milícia do Batan’ ou algo assim, evidente.

Era um adesivo com um desenho normal, sem chamar a atenção, desses que os motoristas grudam nos carros normalmente.

Viale Ex-Breda, já foi comprado pela Auto Diesel mas ainda não repintado.

Acontece que o adesivo muda toda semana, e só o recebe quem está com pagamento em dia a organização criminosa.

Os vigias ficam de guarda e analisam cada van que passa, se ela traz o adesivo daquela semana.

As que sim são liberadas, as que trazem adesivos ‘vencidos’ são paradas pra que se ‘quite a dívida’.

As milícias têm na extorsão do transporte clandestino uma de suas principais fontes de renda, dizendo de novo o que todos sabem.

Vitória da Amigos Unidos na C-10 (Central/ Bairro de Fátima): linha que foi da CTC, na qual operou o articulado em testes em 1980.

Assim estão eclodindo violentos confrontos entre as quadrilhas pelo controle desse lucrativo mercado.

………

Um colega me enviou um vídeo bastante antigo sobre o transporte no Rio.

Foi dele que extraí a imagem em preto-&-branco de uma garagem, com destaque pra 2 letreiros que diziam ‘Cidade’ e ’26-Penha’.

Ex-Amigos Unidos, agora da Acari: mesmo caso, ainda com decoração da viação anterior. Na próxima foto outro Vitória ostentando a clássica pintura da Acari.

Era na verdade uma propaganda da implantação do tróleibus, que se efetivou em 1962.

A peça publicitária falava dos diversos problemas do ônibus e lotações cariocas de então:

Motoristas que não respeitavam as leis de trânsito, falta de manutenção nos motores, dificuldade das pequenas viações em modernizar a frota, poluição, etc.

A seguir minha resposta a ele: Essa reportagem deve ser do final dos anos 50. O troleibus no Rio rodou de 1962 a 1971.

Com todos os problemas ali apontados era uma época romântica comparada a atual. O Rio era capital do Brasil.

Não haviam Comandos de traficantes. Nem Milícias. Nem transporte clandestino.

Gabriela da CTC na já citada linha C-10.

Hoje existem milícias, comandos, transporte clandestino e consequentemente guerras pelo controle do faturamento do transporte clandestino.

Esses dias (texto do 2º semestre de 2021, lembre-se) li no jornal a triste notícia que a Zona Oeste está em conflagrada por guerra entre duas milícias rivais.

Santa Cruz e Campo Grande estão em estado de choque. E o transporte clandestino está no cerne do conflito.

Também indo pra Central um micro Caio Carolina da Real. Só tem 1 porta, curioso.

Por isso puseram paus nos trilhos da Supervia, impedindo a passagem das composições.

Pra que as pessoas não possam ir trabalhar pelo modal ferroviário e tenham que pegar a van.

Pois a van, por sua vez, tem que ‘molhar a mão” dos milicianos pra poder circular.

Exatamente igual está acontecendo na África do Sul nesse exato momento. Ali o termo “Guerras do Transporte” não é modo de falar.

Em uma imagem bem mais recente, micro Marcopolo na pintura padronizada.

Não é figura de linguagem, é guerra mesmo. Os donos das vans atiram nos ônibus com ele lotado e em movimento.

No auge das “guerras”, dezenas de motoristas foram baleados, centenas de ônibus foram queimados.

Pensaram que com o fim do ‘apartheid’ as coisas iriam acalmar. Mas não acalmaram, ao contrário a violência urbana foi pra estratosfera.

Agora, em 2021, os donos de vans estão incendiando trens na Cidade do Cabo. Não se contentam mais em atacar apenas os ônibus.

Próximas 2: viações metropolitanas. Esse Limousine Carioca que vai pra Baixada.

Se quer saber onde essa situação do Rio pode acabar, veja o que aconteceu e ainda acontece na África do Sul.

A parte mais irônica, e talvez a mais triste, é que, como o Rio, a Cidade do Cabo é espremida entre as montanhas e o mar.

Igualmente tem um teleférico que sobre seu morro mais famoso, no caso do Cabo a ‘Mesa-Montanha’.

Antiga viação Luxor de Magé.

O Cabo é a cidade mais bonita da África do Sul, e ao lado do Rio uma das mais belas do planeta.

Entretanto tanto a Cid. do Cabo quanto o Rio de Janeiro estão conflagrados pela violência urbana fora de controle.

E em ambas a briga pelo faturamento do transporte está gerando derramamento de sangue. Que situação!

Miramar, municipal de Niterói.

Implantação de bondinhos nas favelas em morro:

Fracasso quase total, com a nobre exceção do morro Santa Marta/Dona Marta, em Botafogo, Zona Sul.

Ali pelo que pesquisei na internet o plano inclinado está operando, ainda que longe do ideal.

Próx. 2: Mafersas operando em testes no Rio. Esse municipal da capital, indo pra Vaz Lobo.

No entanto, o teleférico da Rocinha, também na Zona Sul, nem sequer saiu do projeto.

O teleférico do Complexo do Alemão, na Zona Norte, operou por apenas 5 anos, de 2011 a 2016.

O do Morro da Providência, no Centro – oficialmente a 1ª favela do Brasil – foi mais breve ainda e só funcionou por 2 anos, de 2014 a 2016.

Por que o do Dona Marta foi o único que vingou? A resposta é óbvia.

Porque é o mais simples e de menor custo, tanto pra construir quanto pra operar.

O aparelho que é conhecido como ‘plano inclinado’ ou ‘funicular’ é na verdade um elevador que funciona na diagonal.

Marcopolo da Rio-Itá, agora na decoração da empresa. Seguindo pra Alcântara.

Já andei em ‘funiculares’ em Salvador e Valparaíso-Chile.

É um meio eficaz de levar conforto a quem mora no alto dos morros.

Evidente, não? No Santa Marta privilegiaram a funcionalidade e baixo custo a estética.

Deu certo, o elevador segue operando e os moradores não precisam subir a escadaria a pé.

Viações que atuam tanto em linhas municipais quanto metropolitanas na mesma pintura: essa foto e a seguir Feital, aqui municipal do Rio e a esq. inter-municipal.

No Alemão e Providência ao contrário optaram pela ostentação. Construíram logo um teleférico em cada morro.

(Na verdade no Complexo do Alemão são muitos morros, precisou de uma rede de teleféricos com várias estações.)

Pra piorar não calcularam direito quem arcaria com os custos.

Gratuidades e benefícios foram concedidos aos moradores dos morros.

Oras, acharam que o governo teria uma máquina de dinheiro pra bancar toda essa ‘generosidade com o chapéu alheio’?

No meio da década de 10 (séc. 21), no auge do sonho da retomada, a violência estava um pouco mais controlada.

Assim os teleféricos do Alemão e Providência atraíam muitos turistas. Esses pagavam a passagem integralmente.

Como sabem, os metropolitanos têm o prefixo ‘RJ‘, como vê aqui no Monobloco da Garcia.

Um público ‘inusitado’, convenhamos. Os teleféricos deveriam beneficiar basicamente os cariocas que moram nos morros, de classe trabalhadora naturalmente.

Agora, claro, tudo tem um custo. Os moradores do morro merecem conforto, evidente.

Igualmente evidente é que teria que haver cobrança de passagem pra bancar os gastos da operação – no mesmo valor do ônibus, trem ou metrô.

Mesma viação, municipal de São Gonçalo, daí prefixo ‘SG’. A frente uma Veraneio GM.

Quem sabe o teleférico poderia ser integrado no cartão a outros modais.

Aí ficava num meio-termo. Não onerava tanto o usuário nem o operador.

No entanto burgueses de outras cidades é quem estavam bancando boa parte da bilheteria dos teleféricos.

Próx. 4: de volta ao municipal da capital, viação escrita no círculo, como era corrente a época. Condor da Madureira-Candelária.

É lógico que essa situação não seria economicamente viável, ainda que os tempos de relativa paz no auge das UPP’s permanecem.

Entretanto logo os confrontos de gangues de traficantes, entre si e contra a polícia, voltaram com força total.

Mesmo que os teleféricos do Alemão e Providência ainda estivessem operando certamente quase todos os turistas já teriam deixado de procurar andar neles.

Esse e o próx. da São Silvestre. Primeiro um Haragano/São Remo (quando a Marcopolo comprou a Nimbus) alongado e com motor traseiro. Um luxo nas ruas do Rio!

Teria sido mais fácil fazer alguns ‘planos inclinados’ na Providência e Alemão.

O Morro da Providência é menor, um desses aparelhos bastaria.

No Alemão já existe um plano inclinado, usado primordialmente por fiéis de uma igreja.

Entretanto os moradores do morro, de qualquer religião, também o utilizam.

Talvez pudesse ser ampliado e quem sabe construído mais um no morro vizinho, parte do mesmo complexo.

Outro Condor. Os 3 acima têm capelinha.

Só que não. Optaram pelo teleférico, bem mais caro de construir e operar.

E não planejaram quem arcaria com os custos, talvez crendo que o governo (federal ou estadual) bancaria a diferença.

Deu no que deu. Nenhuma das esferas estatais têm esse calibre, e os teleféricos fecharam. Um retrato da cidade pós-2016.

Monobloco da Braso-Lisboa, antes dela adotar as famosas faixas diagonais.

…..

Ou seja: com a Copa e Olimpíada o Rio sonhou alto. Sonhou que iria renascer.

No transporte os teleféricos nos morros, o ‘BRT’, ampliação do metrô.

Igualmente investimentos de vulto foram feitos com a implantação das UPP’s – “Unidades de Polícia Pacificadora”.

Próx. 3 fotos: perto da virada do milênio as viações assinavam sua frota dentro de um retângulo (como o círculo, também figura geométrica, continuando a tradição). Empresa Penha-Rio, uma das 10 viações que pediram concordata, além de 16 que faliram em 5 anos – retrato do transporte carioca.

O sonho acabou. No transporte, segurança pública e outras áreas como a saúde.

Quando a Olimpíada passou e o Brasil entrou em crise financeira na segunda metade da década de 10 pra cá, tudo desandou.

Abordamos a explosão de violência em todas as matérias da série:

Na abertura, em sua sequência e no encerramento.

Na questão do transporte, que é nosso foco aqui, a situação é igualmente caótica.

Algumas empresas de ônibus estão falindo, as que ainda rodam estão com as finanças ameaçadas.

Nessa época a moldura negra ao redor dos vidros, tão comum no começo dos anos 90, desapareceu. Esse Madureira/Candelária.

Com isso, várias linhas de ônibus têm tido sua frequência imensamente reduzida ou mesmo sendo ignoradas.

Dezenas de milhares de pessoas nos subúrbios estão tendo que ir trabalhar a pé.

Porque o ônibus que elas pegavam simplesmente não existe mais.

Ou chega tão lotado que não para no ponto, o que dá no mesmo na prática..

Outro Busscar da viação América.

Assim, pra garantir na mesa o pão de cada dia, tem gente enfrentando de uma a duas horas de caminhada pelas ruas da cidade, pra chegar no trabalho.

E o mesmo trecho a pé na volta, somando de 2 a quase 4 horas de pernada, além das 8 ou mais de batente diário.

Em serviços que as vezes já são bastante estressantes e cansativos por si mesmos.

Frota de Monoblocos da CTC nos anos 80.

Resumindo, podemos dizer que as coisas estão bastante difíceis.

A cidade avançou muito nos anos 10. Muito mesmo. O Rio sonhava com a volta dos dias de glória.

Acontece que assim que a Olimpíada acabou, parece que a luz se apagou.

 E a situação se tornou um pesadelo. Vários avanços da época já se foram, e outros estão ameaçados.

Mais uma do Tribus da Redentor.

Bem, no caso das pessoas estarem indo a pé trampar, o retrocesso é maior ainda.

Na África é assim, o que comprovei pessoalmente em 2017:

Os trabalhadores andam de uma a duas horas pra chegar no serviço cedo, e o mesmo tempo de tarde pra voltar pra casa.

Outro Condor/Ciferal – modelo que parecia dominar o Rio no início dos anos 80.

Do outro lado do oceano no Rio parece estar havendo regressão mesmo a níveis africanos de “qualidade de vida”.

A situação é preocupante. O VLT do Rio funciona bem. É limpo, seguro, rápido e climatizado. Um alento no Centrão.

O metrô também é rápido e seguro, e uma de suas linhas vai até a divisa com a Baixada Fluminense.

Neobus – com piso baixo – na pintura padronizada. Não durou muito (2010-2018).

Que a sociedade se una e encontre soluções, pra que essas sementes de prosperidade não morram.

Ao contrário germinem num jardim de progresso pra cidade mais bonita do Brasil, e uma das mais bonitas do mundo se não a mais bela mesmo. Amém.

……

Fechamos com galerias de imagens. Estatal CTC-RJ, municipais e metropolitanos:

Viações particulares, em vários modais (municipais cariocas e nireroienses, e metropolitanos):

“Deus proverá”

Recife, a “Veneza Brasileira”

Praias de Candeias e Piedade, Zona Sul do Recife (no subúrbio metropolitano de Jaboatão dos Guararapes).

Por Maurílio Mendes, O Mensageiro

Publicado em 12 de julho de 2021

Maioria das fotos de minha autoria. As que forem baixadas  da internet identifico com um ‘(r)’ de ‘rede’, créditos mantidos sempre que impressos nas mesmas.

Seguindo a série sobre o Recife, vamos delinear algumas de suas características peculiares.

É uma cidade muito antiga. Abriga a 1ª sinagoga de toda América (incluindo EUA) e a 1ª ponte do Brasil.

Por conta das suas muitas pontes e canais no Centro recebeu o apelido de ‘Veneza Brasileira‘.

Seu Centro Histórico é praticamente como se fosse um museu a céu aberto.

O Brasil começou no Nordeste, então andar pela da capital pernambucana é uma verdadeira aula de história.

Falando em pontes, o Centro do Recife é composto por várias ilhas, formadas pelo encontro de 2 grandes rios – Capiberibe e Beberibe – com o mar.

Próx. 3 fotos: “arrecifes” rochosos que nomeiam a cidadea palavra vem do árabe ‘Ár-Raçif’, que quer dizer ‘barreira feita com pedras’, dá pra traduzir como ‘caminho pavimentado’, ‘dique’, ‘calçada’, ‘parede’, ‘cais’. A palavra “arrecife” então indica um ‘caminho de pedras’, porém submerso. Esses prédios são da Praia do Pina.

Essas ilhas precisam ser ligadas entre si e com o continente, obviamente.

Por suas muitas pontes e canais/rios, o Recife é conhecido por ‘Veneza Brasileira‘.

Também se usa o apelido “Amsterdã Sul-Americana“, pelo mesmo motivo.

(Em ambos os casos apregoando a semelhança com cidades europeias, respectivamente a Veneza original italiana e a Amsterdã holandesa, óbvio).

Um lugar belíssimo. Entretanto  com inúmeros contrastes e graves problemas sociais, como acontece em todo o Brasil.

Aqui e a esq. em Piedade (Jaboatão). A formação rochosa cria piscinas naturais.

Não o menor deles a violência urbana, como infelizmente também é praxe na maioria de nossas metrópoles.

“CHOVE, CHOVE BALA”: A VERSÃO RECIFENSE PRO CLÁSSICO DE JORGE BENJOR –

Creio que todos conhecem o sucesso “Chove Chuva”, do cantor carioca Jorge Ben (mais tarde auto-rebatizado ‘Jorge Ben Jor’).

Seu refrão diz, notoriamente, “Chove chuva, chove sem parar”. Pois bem.

Muitos banhistas preferem por ficar ali mesmo, nem entram no mar aberto, na parte que tem ondas.

No Recife fizeram uma versão da famosa canção “adaptada a realidade local”, se quiser ver assim. 

O refrão diz que na periferia da cidade “chove, chove bala. Chove sem parar”. Uma tempestade diferente. É o Recife né?

………..

Próxima ao Rio Capibaribe (divisa das Zonas Oeste e Norte) há outra região aburguesada, vem se verticalizando bastante.

O problema é crônico. A capital pernambucana é conturbada nesse sentido a há décadas.

No mínimo desde os anos 80. Exatamente como o Rio e SP.

Abaixo falo melhor dessa parte, comparando com outras cidades brasileiras.

Por hora falemos de outros aspectos da geografia e cultura recifenses.

BASTANTE GENTE DE OLHOS VERDES:

Foto no Centro de Olinda, onde tremulavam os estandartes estadual e nacional. O Recife é uma cidade nacionalista, a bandeira da Pátria Amada está por toda parte (falo melhor disso abaixo). Os prédios ao fundo da imagem já estão no município da capital.

A “NOVA HOLANDA” FRACASSOU MAIS O LEGADO FICOU –

No século 17 a Holanda tentou abocanhar a ‘parte do leão’ do império português na América.

A Coroa Holandesa invadiu o Nordeste e ali estabeleceu a Nova Holanda.

O Recife, que era a capital, foi renomeado ‘Cidade de Maurício‘ ou ‘Mauriciópolis’ (“Mauristad” no original).

1ª ponte do Brasil, feita em 1643 por Maurício de Nassau durante ocupação holandesa.

Em homenagem ao comandante da empreitada que era, evidentemente, Maurício de Nassau.

Um excelente urbanista, melhorou muito o Recife, construindo pontes, canais, bibliotecas, jardim botânico.

Por isso é cultuado em Pernambuco até hoje. Tanto que foi ele quem edificou a primeira ponte fabricada no Brasil, em 1643 (esq.).

Era também um estrategista militar de primeira grandeza, muito renomado.

Bairro do Recife, o Centro Histórico: a placa indica a sinagoga Kahal Zur Israel, de 1636, a 1ª do continente americano. Também construída durante a ocupação holandesa.

Enquanto ele dominou as ações a Nova Holanda venceu todas as inúmeras batalhas defensivas travadas contra Portugal pra retomar seu território.

Maurício de Nassau só perdeu 2 batalhas ofensivas, ambas visando tomar Salvador, então a capital da colônia americana lusa.

Ainda assim, a Cia. das Índias holandesa achou que sob sua direção a colônia Nova Holanda não rendia o que seria esperado.

Demitiu-o, ordenando seu retorno a Europa. Aí Portugal ganhou novo fôlego.

Conseguiu afinal expulsar os invasores (abaixo falaremos melhor desse período histórico).

Os holandeses acabaram indo embora, mas seu legado ficou.

Houveram muitas  melhorias urbanas no Recife e outras cidades.

E eles deixaram sua herança genética no território ocupado, como não poderia ser diferente.

Por conta disso até hoje em Pernambuco há muitas pessoas de olhos verdes.

O que nos outros estados do Nordeste – e também no Norte e Centro-Oeste – é bem mais raro.

Inclusive no Recife é comum pessoas de pele bem morena, porém olhos claros. Uma mistura peculiar.

………..

Assim como acontece no Rio de Janeiro, o Recife não tem Zona Leste.

Pescador dentro do mar em Piedade/ Candeias. Fotografei o mesmo em J. Pessoa.

Precisamente pelo mesmo motivo, porque o Centro é a beira-mar, logo a leste dele está o Oceano.

Cidades que têm seu crescimento limitado em uma dimensão por água ou montanha geralmente ficam desfalcadas de uma das ‘zonas‘,

Fortaleza-CE não tem Zona Norte, Manaus-AM não possui Zona Sul, em Porto Alegre-RS, Foz do Iguaçu-PR e Assunção-Paraguai inexiste a Zona Oeste.

Enquanto que Buenos Aires-Argentina, Bogotá-Colômbia e Chicago-EUA, como o Rio e Recife, não contam com a Zona Leste. Citando apenas alguns exemplos, óbvio que há muitos outros.

Agora, pescadores em pleno Centrão eu só vi no Recife, e há muitos deles trabalhando nas pontes. No detalhe ampliado o siri recém-capturado.

Na capital colombiana por conta dos Andes. Nas demais cidades a região citada está ausente porque o Centro é na orla, seja de um rio, lago ou mais comumente o mar.

João Pessoa, inversamente, tem Zona Leste mesmo ficando no Atlântico.

É que na capital da Paraíba (sobre a qual também falaremos melhor mais adiante) o Centro da é longe da praia. Logo, há bairros a leste do núcleo primordial da cidade.

……

O Recife tem 2 grandes regiões de classe média-alta. Uma é a orla da Zona Sul; e outra longe do mar, as margens do Capiberibe, que como é notório divide as Zonas Norte e Oeste.

Na Zona Sul me refiro as Praias de Boa Viagem e Pina na capital e Piedade e Candeias no vizinho município de Jaboatão dos Guararapes.

Os rios centrais são usados como meio de sustento pra parte da população (destaquei o pequeno barco a remo).

O epicentro é Boa Viagem, eis o bairro que tem o m2 mais caro de Pernambuco. Indo em direção ao Centro entramos no bairro e Praia de Pina.

(Na verdade Pina é um prolongamento de B. Viagem, assim como no Rio o Leme é um prolongamento de Copacabana. Muitos moradores do Pina dizem que moram em B. Viagem, assunto que abordarei melhor abaixo).

Logo após o Pina fica Brasília Teimosa. Trata-se de uma antiga favela. Até 2003, tinha palafitas praticamente dentro do mar.

Brasília Teimosa em 1º plano, no meio da imagem o Pina, os prédios ao fundo em Boa Viagem (r): é o Recife sem retoques, sua beleza e seus contrastes numa imagem.

No novo milênio tudo mudou. ‘Brasília’ foi urbanizada desde então, se tornou um bairro normal.

Os casebres sobre estacas deram lugar a uma avenida beira-mar com ciclovia e canchas de esporte.

Até o nome mudou. A prefeitura batizou essa beira-mar recém construída de Brasília “Formosa”.

Melhorou muito, sem dúvidas. Mas, evidente, ainda é uma vila popular na orla, e na parte mais cara dela.

A foto a direita vale por mil palavras, o contraste entre as casas humildes de Brasília e os prédios do Pina e B. Viagem.

Brasília Teimosa antes da urbanização (r): uma favela com palafitas até dentro do mar.

Obviamente a parte mais abastada é Boa Viagem. O Pina tem quase o mesmo padrão.

Boa Viagem” deve seu nome porque já está na saída do município do Recife. Transcrevo a explicação do jornal local PorAqui:

A histórica Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem foi construída no século XVII.

Ganhou este nome por causa da devoção dos navegantes e viajantes que utilizavam a região para repousar das viagens vindas do sul da Capitania de Pernambuco.

Na época, havia algumas vendas que serviam de local de descanso. ”

Brasília Teimosa atualmente: um bairro normal, a avenida beira-mar com parque linear e ciclovia.

Até o meio do século 20 Boa Viagem era usada como local pra moradia de veraneio, e não a casa fixa da família.

Os mais abastados moravam em bairros mais próximos ao Centro de segunda a sexta e passavam os fins-de-semana na casa de praia em Boa Viagem.

(Como alias também aconteceu com as partes mais caras das orlas de Salvador, Santos e Rio de Janeiro, entre outras cidades.)

A Avenida Boa Viagem é de 1924, e ajudou a urbanizar o bairro. Mas ele só começou a ser habitado de forma permanente em massa a partir dos anos 60. Até então tinha poucos prédios (esq.).

Panorâmica de Boa Viagem, década de 60 (r): a verticalização apenas se iniciava.

Bem, com a implantação da BR-101 placas desejando uma ‘boa viagem’ aos viajantes que deixam a capital reforçam a ideia que nomeou Boa Viagem.

Portanto o bairro, mesmo sendo o mais caro da cidade, já está na divisa de município.

Assim que entramos em Jaboatão começa a Praia de Piedade.

Apesar de ser na região metropolitana, é um bairro limítrofe a Boa Viagem. Resultando que Piedade também é uma região de classe média-alta

Próx. 4 fotos: Jaboatão, populoso subúrbio metropolitano cheio de contrastes. Aqui o Centro Histórico, conhecido como ‘Jaboatão Velho‘ (no destaque o Sine, a Agência do Trabalhador), que fica na Zona Oeste do Grande Recife.

Ali, como no Pina, os apartamentos custam quase tanto como em Boa Viagem.

Seguindo em frente chegamos a Candeias. Essa também está se aburguesando e verticalizando.

Digamos assim aproveitando um ‘transbordamento’ do aburguesamento que veio de B. Viagem e Piedade.

1989: JABOATÃO TRANSFERE A SEDE PRA PRAIA PRA EVITAR A SECESSÃO;

E SE TORNA “DOS GUARARAPES” –

Já que estamos falando disso, antigamente Jaboatão se chamava assim, simplesmente ‘Jaboatão‘.

Bairros de ‘Jaboatão Velho‘, ao redor da estação de trem:  porção de periferia da região metropolitana da capital.

A sede, ou seja o edifício que abriga a prefeitura, era no Centro perto de onde está a estação de metrô (trem suburbano, na verdade) denominada por isso mesmo de ‘Jaboatão‘.

Porém nos anos 80 os bairros a beira-mar – a princípio Piedade, a seguir também Candeias – começaram a se verticalizar e aburguesar, aproveitando o ‘transbordamento de riqueza’ que vinha de Boa Viagem.

As praias de Jaboatão (aqui a divisa entre Piedade e Candeias) já estão na Zona Sul do Gde. Recife, são longe do Centro de Jaboatão. Repare na banca azul no meio da foto.

Obviamente não tardaria pra que a orla tentasse se separasse do resto do município.

Afinal os prédios mais caros perto da praia eram a maior fonte de IPTU de Jaboatão.

Há precedentes aqui no Sul do Brasil. Creio que a cidade de Balneário Camboriú-SC (a ‘Dubai Brasileira’, onde estão os edifícios mais altos do Brasil) é bem conhecida, a nível nacional.

Os nativos de S. Catarina a chamam de ‘Balneário’, pra diferenciar do município que é nomeado simplesmente ‘Camboriú‘.

Ampliei a cena anterior: na banca há a bandeira de Pernambuco e de seus 3 maiores times, Sport, Santa Cruz e Náutico.

Essa última é chamada ‘Cidade de Camboriú’, e está ‘do outro lado’ dessa mesma BR-101 que corta também o Recife.

A ‘Cidade de Camboriú’ não tem praias, e fica na periferia da região metropolitana que ambos os municípios (o ‘Balneário’ Camboriú e a ‘Cidade’ de Camboriú) formam ao lado de Itajaí.

Pois bem. Até 1964 não existia o município de Balneário Camboriú. Era apenas um único município, chamado ‘Camboriú‘.

A sede (a prefeitura) era longe do mar, no Centro Histórico onde começou a povoação da região.

Infelizmente em alguns pontos há bastante lixo na rua. Foto no Centro, final-de-tarde.

Erro fatal. Os moradores da orla se organizaram e dividiram o município.

Surgiu então o Baln. Camboriú, independente agora do município chamado ‘Camboriú‘.

O ‘Balneário’, como alias o nome indica, na divisão ficou com as praias (foi criado pra isso, como não é difícil entender).

Assim arregimentou pra si a maior parte do faturamento do antigo município, pois o turismo é a principal fonte de rendimento.

Aqui e a esq., tomadas noturnas da Av. Boa Viagem. Aqui Ponto de coleta de lixo reciclável. Destaquei o brasão municipal – com o leão, animal que tem fama de ser supremo – e o igualmente pomposo lema de “Capital do Nordeste“.

A ‘Cidade’ de Camboriú, o antigo distrito-sede, se tornou a periferia do Balneário recém-criado.

Os pernambucanos não quiseram a repetição dessa mesma saga em Jaboatão.

Quando perceberam que a orla iria cedo ou tarde – e mais cedo que tarde – requerer a secessão de Jaboatão eles transferiram a sede do município pra perto da praia.

Assim a coisa se inverteu. Em 1989 o Centro Histórico do município, que era o distrito-sede, passou a ser o distrito de Jaboatão.

O antigo distrito de Muribeca dos Guararapes (que abrange os bairros de praia) se tornou o novo distrito-sede.

Ali perto, várias estátuas desse animal que é o símbolo da cidadepresente no escudo e apelido do Sport Recife, o ‘Leão do Norte’.

Um golpe de mestre. Pois por razões que dispensam explicação a sede de um município não pode se declarar independente dele próprio.

(Assim como na esfera logo a seguir à capital de um estado é vedado deixar de fazer parte do mesmo.)

Se a sede de Jaboatão agora é na orla, a orla não tem mais como se separar de Jaboatão.

O município de Jaboatão garantiu as receitas do IPTU e ISS – e também as participações no ICMS e IPVA – gerados na beira-mar e imediações.

PERIGO NA ÁGUA: Placa em Boa Viagem alerta pro risco de ataque de tubarões. O leão que é ‘rei da selva’ pode ser muito querido no imaginário recifense. Mas é o tubarão, que analogamente seria ‘o rei dos mares’, quem está presente de forma concreta na cidade.

Obviamente decorrentes da alta concentração de prédios mais abastados e dos amplo setor de serviços aos turistas que se hospedam e se alimentam perto da praia.

O Centro Histórico de Jaboatão (que agora não abriga mais a prefeitura mas se manteve solvente graças a manutenção do município individido) é conhecido como ‘Jaboatão Velho‘.

Pra marcar a mudança, em maio de 1989 o município que até então era apenas ‘Jaboatão’ se tornou ‘Jaboatão dos Guararapes‘.

PERIGO EM TERRA: Recife é capital nacional, e prov. mundial, de surfe no busão (r).

Homenageando o morro onde se deram as batalhas históricas que, em 1648 e 49, enfim conseguiram expulsar os invasores holandeses.

Sendo por isso a “Batalha Formadora” do Exército Brasileiro (na sequência abordaremos de novo o assunto).

Vale lembrar que o município de Jaboatão contava com 644 mil pessoas no Censo de 2010, no momento que escrevo ainda o último realizado no país.

É o 2º município mais populoso de Pernambuco só atrás da capital Recife de quem é limítrofe, e grande também em área.

Resultando que tem um agudo contraste entre os bairros mais elitizados a beira-mar e sua porção muito grande de periferia, tanto perto da orla quanto ao redor do Centro Histórico.

A prática é tão arraigada na capital pernambucana que se criou até um “ritual de passagem separando os meninos dos Homens“: na adolescência treinam segurando nas janelas, como aqui (r).

Fora do Eixo Rio/SP Jaboatão é o município mais populoso do Brasil entre os que não são capitais. Já que estamos falando disso, detalhemos.

O Grande Recife é a 6ª maior cidade do Brasil, com 3,69 milhões de habitantes.

A frente estão (sempre incluindo a região metropolitana, os dados são do IBGE, compilados pelo sítio CityPopulation.de):

1º) SP, 19 milhões; 2º) RJ, 11 milhões; 3º) Belo Horizonte-MG, 5,41 milhões; 4º) Porto Alegre, 3,95 milhões; 5º) DF e Entorno, 3,717 milhões.

Quando atingem a idade adulta sobem pro teto do veículo (r). É como ‘tirar as rodinhas’ da bicicleta. Isso existe em todo o Brasil (e já vi até no Chile). Mas em nenhum lugar como ali.

A seguir vem o Recife, com 3,69 milhões, repetindo. Está um pouco a frente de Fortaleza, que tem 3,61 milhões de moradores.

Salvador da Bahia contava em 2010 com 3,57, e Curitiba ocupa o 9º lugar com 3,17 milhões.

Contando somente os municípios agora, o Recife é quem fica com a 9ª posição, com 1,53 milhão de pessoas.

Logo atrás de Curitiba, que em 2010 registrou 1,75 milhão, ficando em 8º lugar.

Veja: a capital do PR tem mais de 200 mil habitantes a mais que a de PE somente nos municípios-núcleo.

Entretanto o Grande Recife têm mais de meio milhão a mais de habitantes quando se inclui os subúrbios metropolitanos.

PERIGO NO AR: edifício abandonado pichado do teto o chão no Centro. O Recife e São Paulo são as campeãs nacionais nessa modalidade de ‘alpinismo urbano’ que ‘redecora’ os prédios. Mais uma vez, claro que isso existe em diversos lugares. Mas ali e na capital paulista foi onde a manifestação chegou ao seu ponto mais alto, se me permite um trocadilho.

A causa é que a Grande Curitiba, excluindo a capital mesma, não é tão populosa.  

Nenhum município ao redor da capital paranaense ultrapassa os 300 mil moradores.

E apenas 2 superam os 200 mil (São José dos Pinhais na Zona Leste, e Colombo na Zona Norte).

Na capital pernambucana a história é bem diferente. Além dos mais de 600 mil pessoas em Jaboatão (Zonas Sul e Oeste do Gde. Recife) Olinda e Paulista (ambos na Zona Norte) ficam acima dos 300 mil.

RECIFE, A “CAPITAL DO NORDESTE”.

MAS . . . SERÁ QUE OS BAIANOS CONCORDAM???

Na mesma viagem estive em Salvador, cujo lema – repetido sempre que aparece o brasão municipal – é “A Primeira Capital do Brasil”.

Trata-se de um fato histórico incontestável, então creio que a frase não gera qualquer polêmica.

Recuei um pouco a tomada. O prédio pichado aparece a dir. na cena, sobre as árvores. Em 1º plano vemos um ônibus branco da nova padronização branca (implantada a partir de 2015) e um articulado do Via Livre/SEI.

o lema do Recife é mais provocador. a cidade se auto-denominou “A Capital do Nordeste“.

Será mesmo? Historicamente as capitais baiana e pernambucana disputam esse título, o de principal metrópole da região.

É uma competição subjetiva, que depende mais do sentimento que as pessoas têm pelas cidades que de fatos concreto como PIB, IDH, etc.

O Recife reclamou pra si o posto, e nada mais natural se o símbolo da cidade é o leão, que nunca perde a majestade.

Dei mais uns passos pra trás, na Av.Conde da Boa Vista. No destaque em laranja no meio da imagem estão os prédios ‘redecorados’ pelos pichadores que estamos falando. O Recife tem muitos sem-tetos, tanto no Centro quanto em alguns bairros – igual ocorre em Curitiba, Rio, SP e muitas outras cidades pelo Brasil. Voltando a falar da capital de PE, o problema já era agudo e agora se agravou com a chegada de milhares de venezuelanos. Segundo me informaram lá, ‘boa parte dos pedintes nas esquinas veio da Venezuela’.

Porém não creio que os baianos estejam de acordo. E você, o que acha?

PÁTRIA AMADA, BRASIL:

O RECIFE É UMA CIDADE NACIONALISTA

Algo que me chamou bastante a atenção na capital de Pernambuco foi a grande quantia de bandeiras do Brasil nas janelas.

Especialmente nos edifícios de padrão mais elevado, principalmente na Zona Sul mas também na Zona Norte.

Sim, eu sei. Do meio da década de 10 (séc. 21, evidente) pra cá o gesto de ostentar a bandeira passou na ideia de alguns a configurar apoio ou repúdio aos governantes de plantão, conforme o caso.

Não estou falando disso nem vou entrar nesse mérito aqui, e já esclareço melhor desse ponto.

Próx. 4 imagens: a bandeira brasileira no Recife. Aqui na Praia de Piedade, Zona Sul metropolitanano Nordeste eles gostam de prédios com vãos, há um em Fortaleza, na Praia de Meireles (fotografei outro parecido no Chile, também no Litoral).

O que tem que ficar claro é que não estou fazendo propaganda contra ou favor desse ou de nenhum outro político ou partido político.

Sou a favor do Brasil, de termos orgulho de nossa pátria e nossa bandeira.

Esse é mais um motivo pra Amar o Recife – como se fosse preciso, porque já Amo essa cidade do fundo de minha Alma e Coração.

E no Recife nossa bandeira está por toda parte. Foram tantas que fotografei várias, e a partir daí deixar passar outras tantas.

Na mesma beira-mar mas outro município: prédio em Boa Viagem, na capital. Enquadrei mais um buso na padronização branca do ‘Grande Recife’, e também da Borborema.

Não era preciso enfatizar mais, já estava registrado, tanto em minha câmera (agora aqui publicado) quanto em minha Mente.

Evidente, o hábito de saudar nossa nação dessa forma não se restringe ao Recife.

Aqui em Curitiba e em outras cidades do Brasil, e mesmo do exterior, quando vejo nosso símbolo máximo desfraldado eu registro, sempre que possível.

A questão é que na capital de Pernambuco o fenômeno chama mesmo a atenção.

Estive na mesma época no Rio e Salvador, e nessas cidades não presenciei nem remotamente o mesmo número de bandeiras brasileiras que no Recife..

Falando de ônibus, até pouco tempo atrás a frota recifense trazia a bandeira brasileira sobre a janela (r). Nesse caso pintura livre, a do estado ao lado (João Pessoa, próxima física e culturalmente, faz o mesmo).

A página está no ar desde 2015. Desde o princípio seu símbolo foi a bandeira nacional.

Além disso, desde 2011 eu levo nosso pavilhão pátrio pra outros países e o fotografo no estrangeiro.

A matéria que mostra essas imagens também está no ar desde 2015.

Portanto isso basta pra provar que não estou me manifestando contra ou favor do mandatário atual (2021).

Esse trabalho de valorizar nossa bandeira começou muito antes dele anunciar que seria candidato.

Pra Porta Larga em Igarassu Busscar na pintura SEI, a bandeira continua presente. Há 2 ‘Portas Largas’ no Gde. Recife, essa na Zona Norte e outra na Zona Sul, em Jaboatão.

Começou bem antes mesmo do movimento que acabou por ‘impedir’ o restante do mandato de sua antecessora.

Eu nem sequer voto em ninguém, desde 2010. Alias no dia da eleição municipal de 2020 eu estava justamente no Recife.

Assim, ao me justificar numa escola entre o Morro da Conceição e o Alto Zé do Pinho, na Zona Norte, me abstive de opinar sobre quem deveria ser o próximo prefeito de Curitiba – onde vivo desde 1980.

Isto esclarecido, vamos em frente. Imagens valem por milhares de palavras. O Pavilhão Pátrio pelo Recife:

Aqui e a seguir: Casa Caiada (Olinda), a praia mais aburguesada e verticalizada da Z/N.

PERIGO NO MAR: SIGA AS INSTRUÇÕES OU . . . .

PODE SER SEU ÚLTIMO MERGULHO –

O Recife é a “Cidade Sangue-Quente“. A cidade vive em ‘alta voltagem’, se entende o que digo.

Eis um lugar que até tomar um banho de mar pode ser arriscado.

Na Zona Norte futebol na praia.

Ali ocorrem quase todos os ataques de tubarões registrados no Brasil.

Apenas 4 países concentram a imensa maioria de mordidas desse bicho em humanos no planeta:

Brasil, EUA (especialmente na Flórida), Austrália e África do Sul. No Brasil 90% dos casos são no Grande Recife.

Na Zona Sul entretanto a galera preferia o basquete. Pus em escala maior o jogo e também placas de rua na esquina da Rua do Atlântico com Avenida Boa Viagem, no Pina.

Por que tanto assim? Alguns dizem que a causa foi a construção do Porto de Suape, na região metropolitana.

Antigamente o porto era no Centro. Uma pequena parte dele permanece ali, ainda há atracadouros no Bairro do Recife.

Entretanto a maior parte da atividade portuária foi transferida pro moderno Porto de Suape, como acabo de dizer e é notório.

Onde era o Porto no Centro agora é a região turística conhecida por ‘Marco Zero’.

Como ocorre no Centro-Sul do Brasil, talvez o futebol esteja perdendo adeptos nas classes mais abastadas também no Nordeste. Aqui e na próxima cena as quadras de Boa Viagem. O pessoal em ambas pratica fute-vôlei.

Retiraram os guindastes, os navios de carga não atracam mais no local.

Nos barracões foram feitos no lugar bares, restaurantes e lojas pros turistas.

É a nossa ‘versão brasileira’ do famoso ‘Porto Madeiro’, em Buenos Aires.

O ‘Marco Zero’ recifense ficou muito bom. Mas tudo cobra seu preço.

A atividade portuária não deixou de existir, óbvio. Apenas foi transferida pras novas instalações.

O Porto de Suape como todos sabem, fica no município do Cabo de Stº. Agostinho, na Zona Sul metropolitana.

Pros navios poderem chegar a costa destruíram algumas barreiras naturais que haviam no fundo do mar.

Resultando que os bichões passaram a caçar muito perto da praia, o que antes não acontecia.

Uma partida de tênis as 5 da manhã? E em plena Praia do Pina? Aí sim, hein!

Além disso os restos de comida jogados pela tripulação também atraem esses predadores. Tudo somado:

Quando você for se banhar no Recife leia bem essas instruções e siga-as a risca.

Ou você pode acabar sem um braço, perna ou mesmo sem vida.

Todos sabem perfeitamente disso. E alias nem teria como não saber.

Placas bi-língues português/inglês oni-presentes na orla garantem que todo mundo que frequente as praias do Grande Recife tome ciência do perigo.

Aqui e a esq. na Av. Boa Viagem. Traduzindo do idioma “Nordestês”, “Visse” é corruptela de “Vistes“. Originalmente se falava ‘tu vistes?’. Agora se fala ‘tu visse?’. Tão consagrado que aparece nas propagandas.

Ainda assim, tem vários surfistas e mesmo alguns banhistas que preferem se arriscar.

O que acontece a seguir não é difícil deduzir, alguns deles são atacados por tubarões.

Por exemplo, as placas avisam claramente pra você nunca entrar no mar de manhã bem cedo e no fim-de-tarde, quando a maré está alta.

Pois há barreiras no leito do oceano que no meio do dia, com a maré baixa, impedem a chegada desses predadores marinhos perto da faixa de arrebentação das ondas.

Numa tomada noturna agora, ‘Oxe!’ por sua vez é abreviação do termo ‘Oxente!’, tipicamente nordestino.

A maioria naturais, os famosos ‘arrecifes’ de pedra que nomeiam a cidade.

Pra reforçar a segurança nos pontos mais vulneráveis instalaram muros artificiais.

Então se você não entrar na água ao nascer nem pôr-do-Sol e se mantiver antes dos arrecifes está seguro.

Com a maré baixa os tubarões não conseguem passar por sobre a contenção, não custa enfatizar.

Casa Amarela, Zona Norte. Uma região que vem se aburguesando e verticalizando intensamente nas últimas décadas. Na foto a seguir ampliei as placas de rua que há no muro do condomínio e numa transversal próxima.

Todos que vão as praias recifenses sabem disso. Andando no fim-de-tarde na praia constatei que a maioria respeita a regra.

Afinal não é mole uma mordida desses animais. Os ferimentos são severos e podem ser fatais.

Porém adivinhe? Tinha gente que ignorava solenemente, e entrava no mar ao anoitecer e mesmo depois dele.

Justo no momento que a maré está alta, os tubarões conseguem então passar as pedras.

Parece que algumas pessoas não apenas não temem o risco, mas ao contrário, ele as atrai. Gostam de viver perigosamente.

Por que ó ser humano é assim? Não sei, e talvez ninguém saiba e nunca venha a saber.

A Filosofia, malgrado todo seu esforço hercúleo, ainda não conseguiu decifrar esse mistério.

“METENDO LATA”:

NO RECIFE OS PICHADORES NÃO TEM DÓ –

.Um outro exemplo. O Recife é, ao lado de São Paulo, a cidade do Brasil onde mais se picham prédios abandonados, ‘redecorando-os’ do teto ao chão.

Avenida Norte, ao fundo os prédios de classe média-alta que estão sendo construídos nessa parte da Zona Norte. Veja a pichação no meio da foto, repito em escala maior a seguir.

Oras, não é difícil entender que o risco de acidentes é elevadíssimo nessa prática.

Afinal, os pichadores se penduram precariamente de cabeça pra baixo numa grande altura.

E ainda precisa usar uma das mãos pra escrever, e usando o “alfabeto” específico, que é peculiar a cada cidade.

O ‘serviço’ precisa ser feito bem rápido, antes que a polícia chegue e enquadre.

Fora o fato que muitas vezes os “manos” estão embalados por ‘substâncias’, lícitas ou ilícitas.

Na pichação do Recife se usa o mesmo “alfabeto” criado na capital paulista (no sul do Brasil [Curitiba e Porto Alegre] e todo o interior e litoral paulistas, idem – em Belo Horizonte também, mas aí parcialmente). No resto do Nordeste não é assim, Salvador tem um tipo de letra próprio e Fortaleza mistura o estilo de Salvador e do Rio de Janeiro.

Obviamente tudo somado a chance de despencar e quebrar membros, a bacia, a coluna ou mesmo o crânio é bem alta. E as vezes acontece mesmo.

Ainda assim os pichadores do Recife parecem ignorar o risco, ou quem sabe inclusive são atraídos por ele.

Evidente que o mesmo também ocorre em outras cidades.

Não foi o Recife quem inventou nem tem exclusividade.

Aqui em Curitiba há vários exemplos, inclusive fotografei um prédio alto no Centro riscado no teto e dali até o solo, em todos os andares.

Nele foi feito um ‘trabalho em conjunto’ com uma gangue de pichadores de Porto Alegre.

Ainda na Av. Norte. A maioria dos pichadores usa criação de SP, mas alguns preferem essa letra mais arredondada vista a dir. na cena, parecida com a usada no Rio e Fortaleza. Aqui flagramos os 2 tipos na mesma imagem.

Sinal que a técnica também é utilizada na capital gaúcha.

Também registrei o mesmo em diversas capitais como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Fortaleza, Salvador, Belém do Pará.

E mesmo em cidades do interior/litoral como Santos-SP, Joinville-SC, Matinhos-PR.

Então, verdade, esse fenômeno não se restringe ao Recife.

Também na Zona Norte. Ampliei o nome da rua e as pichações, essas feitas na letra arredondada. Um dos pichadores pertence a ‘TOIC‘, ‘Torcida Organizada Inferno Coral’, do Santa Cruz (não sou torcedor desse time, apenas registro o que vi nas ruas).

Acontece que só o Recife conseguiu igualar Sampa nesse quesito.

Sendo que a capital paulista é uma das ‘mecas’ mundiais da pichação, ao lado de Nova Iorque/EUA .

A ousadia recifense, alias, ultrapassa as fronteiras de Pernambuco.

Maceió-AL, que é bem perto tanto geográfica quanto culturalmente, passa por uma tragédia, como vocês sabem.

4 bairros foram interditados em definitivo, estão afundando porque a mineradora Braskem cavucou o sub-solo de forma irresponsável.

Nessa imagem aparece o prédio também retratado acima da manchete. ‘Suburbano’ assinou aquelas barreiras de pedra do trânsito, uma letra em cada peça (uni no detalhe pra podermos ler a palavra).

20 mil pessoas perderam as suas moradias, infelizmente.

Uma região grande da capital de Alagoas virou uma enorme cidade-fantasma: todas as casas e prédios estão vazios, e aguardam demolição.

Pois bem. Os pichadores do Recife, que “não tem nada a ver com isso”, invadiram alguns dos prédios interditados e deixaram nas suas paredes sua assinatura indelével.

No detalhe como ficou o prédio abandonado marrom depois da passagem dos “artistas“. Essa imagem nas areias de Piedade resume o Recife: praias belíssimas, em compensação uma cidade conturbada com seus contrastes.

Ninguém pode entrar neles, quem for pego burlando irá pra cadeia não apenas pelo vandalismo mas pelo próprio desrespeito ao embargo judicial dos bairros.

o risco natural que envolve pichar prédios que falamos acima.

E ainda temos que considerar que os edifícios estão ameaçando cair a qualquer momento. Por isso foram interditados pra conversa começar!

Bem, há uma música em que o ‘repeiro’ estadunidense ‘Ice-T’ afirma ser “viciado no perigo”.

Talvez a graça seja essa . . . Por isso “a Cidade Sangue-Quente”.

Então vamos ver como são os prédios no Recife:

Atual bandeira de Pernambuco, a ‘estrela solitária’ representa o estado.

AS ESTAÇÕES DO ANO NO RECIFE:

‘QUENTE’, ‘MAIS QUENTE’, ‘AINDA MAIS QUENTE’ E ‘FERVENDO’

O Recife é quente. Em muitos sentidos. Alias nisso, como em muitas coisas, é diametralmente oposto a Curitiba.

Daí o “Choque Cultural” de um curitibano no Recife, que descrevi na abertura da série.

A origem do estandarte: em 1817 (Brasil ainda pertencia a Portugal) explode em Pernambuco a chamada ‘Revolução dos Padres’. Paraíba e Ceará aderem. Paraíba e Pernambuco, vizinhos e umbilicalmente ligados, adotam bandeiras-expelho pra marcar a insurreição. Essa é a bandeira pernambucana, o epicentro da rebelião: a cruz pela participação da igreja, o Sol e o arco-íris pra mostrar que dias melhores virão, e no alto as três estrelas são as três províncias rebeldes, PE, PB e CE.

O Brasil tem 27 capitais, a Federal e 26 estaduais (desde a Constituição de 1988).

Justamente Curitiba é a capital mais fria do Brasil, dentre todas essas 27.

Já nevou aqui duas vezes nas últimas décadas, em 1975 e 2013.

O Recife, inversamente, é uma das que faz mais calor. E bota calor nisso.

Alguns dizem que o Recife tem as quatro estações climáticas bem definidas:

‘Quente’, ‘Mais Quente’, ‘Ainda Mais Quente’ e ‘Fervendo ou Derretendo’.

Constatei – e fotografei – no Pina que nas regiões de classe média-alta é comum ter 5 ou 6 aparelhos de ar-condicionado funcionando em cada apê. No mínimo 3.

Bandeira da Paraíba adotada na revolta de 1817: similar a de Pernambuco, apenas o fundo é branco e o Sol tem rosto (como estava em voga na época. A Argentina surgiu mais ou menos no mesmo período, e o sol que adorna a sua bandeira – posteriormente também a do Uruguai – de idêntica maneira é humanizado); as 3 estrelas estão ali, igualmente.

Cliquei o mesmo em Salvador, alias. Nunca vi nada parecido no Centro-Sul.

Em Curitiba o apartamento mais valorizado é o que recebe mais Sol quando ele está mais forte, ao meio-dia.

No Recife, de forma análoga mas inversa, os apês mais caros na hora de comprar são os que pegam o Sol mais fraco, o do período da manhã.

Nos classificados o vocábulo usado aqui no Paraná é ‘Face Norte’, em Pernambuco ‘Nascente‘.

O 2º termo não é preciso explicar, o cômodo que pega a luminosidade e calor solares da manhã, quando o astro está nascendo, são mais frescos que os que recebem de tarde.

Placa atesta a existência do bairro do Pina, ignorado por alguns.

O sol se levanta no leste e se põe no oeste, como todos sabem. Mas no meio do dia ele se inclina pro norte.

Por isso as construções na ‘face norte’ são mais calorosas, pois são as diretamente iluminadas no horário mais quente do dia.

No Recife (e boa parte do Nordeste, Norte e Centro-Oeste) isso seria uma desvantagem. No gélido inverno austral brasileiro é uma vantagem.

Os apartamentos ‘face sul’ em Ctba. são gelados entre maio e agosto, alguns anos até entre abril e setembro (produzi esse texto em julho de 2021, estava especialmente congelante, temperaturas abaixo de zero e geadas severas).

Os do ‘poente’ no Recife são tórridos, praticamente o ano inteiro e muito mais no verão.

Por isso nos dois casos são mais baratos em relação ao lado oposto do prédio.

As próx. 6 tomadas são na Avenida Norte. Aqui outra placa de rua indica a entrada pros bairros Alto Zé do Pinho e Mangabeira (J. Pessoa também tem um bairro ‘Mangabeira‘ na periferia, na Zona Sul nesse caso).

“CORRIGINDO OS BAIRROS”:

AQUI O RECIFE E CURITIBA SE ENCONTRAM –

As capitais de Pernambuco e Paraná são cidades diametralmente opostas em muitos quesitos, inclusive no clima.

Entretanto num ponto são iguais: os moradores de ambas gostam de “corrigir” o nome do bairro que moram, escolhendo um que consideram mais ‘chique‘.

Essa foto e as próximas duas mostram a região dos bairros Alto Zé do Pinho e Morro da Conceição, no lado direito (de quem vem do Centro) da Av. Norte.

Fiquei hospedado no Pina, que obviamente é um bairro independente.

Ainda assim vários panfletos e propagandas dos comércios locais diziam que ali era “Boa Viagem“.

Me senti “em casa”. Aqui em Curitiba esse costume é crônico.

Quando alguém diz que mora nos bairros Fazendinha ou Campo Comprido, ambos na Zona Oeste, as vezes diz a verdade e realmente reside neles.

Todavia, muito mais comum o ‘sim’ que o ‘não’, na maioria das vezes a pessoa vive de fato na Cidade Industrial, o maior bairro de Curitiba, mas que por algum motivo não caiu no gosto de alguns.

É apenas um exemplo entre muitos. Muita gente que mora no Boqueirão, na Zona Sul, dá erroneamente seu endereço como ‘Vila Hauer’.

Morro da Conceição: a placa não é dessa rua mostrada na imagem, mas de uma paralela próxima. Destaquei os leões, símbolos da cidade; pichação com a letra redonda.

De volta a Z/O a maioria das vezes que a imprensa vai relatar algo que ocorreu no Butiatuvinha proclama que foi em ‘Santa Felicidade‘.

Alguns exemplos entre muitos. Como acabo de dizer, creio que seja o mais ‘curitiboca’ dos hábitos “retificar” o nome do bairro que mora.

No Recife, tão diferente de Curitiba em tanta coisa, encontrei o mesmo procedimento. Que coisa, né?

Além do trânsito na Avenida, vemos a sujeira eleitoral (era votação pra prefeito). Outro triste detalhe é o esgoto que corre a céu aberto mesmo nas avenidas principais, asfaltadas; realidade latino-americana que já registrei também em Fortaleza, João Pessoa, Belém e na Argentina (Buenos Aires e Córdoba).

NO RIO “OS MORROS”; NO RECIFE, “OS ALTOS” –

Como já foi cantado inúmeras vezes em verso e prosa, uma das características mais marcantes do Rio de Janeiro (que foi nossa capital por quase 2 séculos) é a presença dos morros por toda parte.

São a Glória do Rio; mas também seu maior desafio. Não é difícil entender o porque.

Dão a cidade uma forma única, que se traduz numa beleza sem paralelos no planeta.

Em compensação vários deles estão favelizados, não é segredo pra ninguém, o que faz com que o Rio tenha índices de violência urbana explosivos.

Também raramente igualados em outras metrópoles pelo planeta, mesmo em países que passam/passaram recentemente por guerras.

O termo “morro” está tão popularizado na cultura carioca – e por conseguinte brasileira – que passou a ser sinônimo de “favela“, mesmo em cidades que são planas.

Agora mirando o lado esquerdo da Avenida Norte, que está se tornando uma região de classe média-alta.

Do Rio nos ocupamos em outras oportunidades. Aqui, nosso tema é o Recife.

Fiz esse adendo pra colocar que a capital pernambucana tem seu próprio termo pra designar os bairros em ladeiras: O que no Rio de Janeiro é chamado de “morros” no Recife são os “altos”.

Alto Zé do Pinho (de onde veio o grupo de ‘rap’ Faces do Subúrbio, que nos anos 90 creio que era banda do Norte/Nordeste desse gênero mais conhecida nacionalmente), “Alto Stª Terezinha”, “Alto da Bondade”, “Alto do Capitão“, etc. . 

Nessa imagem e a seguir estamos ainda na mesma região mas já fotografando a Zona Oeste, na outra margem do Rio Capibaribe.

Pra citar só alguns, são muitos os “Altos”. Especialmente na Zona Norte (perto da divisa entre os municípios do Recife e Olinda), e em menor escala na parte da Zona Oeste próxima a Z/N.

A Zona Sul tem topografia menos acidentada, assim não tem tantos “Altos” se é que possui algum. E o Recife não tem Zona Leste .

Evidente, também se usa o termo “morro“. Tanto que ao lado dos “Altos” Zé do Pìnho, S. Teresinha e José Bonifácio está o “Morro da Conceição” – denominação chancelada pela prefeitura, por isso presente nas placas de rua emitidas pelo poder público.

(Esse é outro ponto diametralmente oposto a Ctba. . Podes estar certo que ‘o inferno irá congelar’ antes da capital do PR ter um bairro oficialmente chamado de “Morro qualquer coisa“.)

Voltando ao Nordeste: porém note que os “Altos” e “Morros” do Recife são em ladeiras, daí o nome.

Exatamente sobre a ponte. Vindo em sentido contrário micro ‘Complementar’ e um táxi. A pintura de ambos é parecida, branca com detalhes numa faixa vertical azul-clara.

Entretanto não ficam em encostas de montanhas íngremes como no Rio, Vitória do Espírito Santo, Florianópolis-SC e Santos-SP (pra citar alguns exemplos).

Nesse sentido a periferia do Recife se parece com a maior parte da periferia de São Paulo, as vias dos bairros são inclinadas mas eles não ficam em serras (em SP a exceção é a Zona Norte. Ali existem ocupações na Serra da Cantareira).

………..

Já seguimos com o texto. Antes, aproveitando o embalo da foto a esq., vamos ver como são os táxis em alguns municípios do Grande Recife.

Nas próx. 3 fotos a transformação de Casa Amarela e entorno, construções antigas simples perto de prédios novos e mais caros

Falando em táxi, no dia que ocorreu o 1º turno da eleições municipais eu estava no Recife. Fui de aplicativo até a Avenida Norte.

Ali andei pelo subúrbio da cidade, entrando brevemente nos bairros Alto Zé do Pinho e Morro da Conceição.

Pude conhecer um pouco da região. Algo que me chamou bastante a atenção é que a referida Avenida Norte parece um ‘portal inter-dimensional‘.

Notei que via não separa apenas os bairros, traçando seus limites físicos. Muito mais que isso:

A Av. Norte é o ponto de encontro de 2 realidades diametralmente opostas.

Próximas geograficamente mas que parecem galáxias a parte na dimensão social.

Quero dizer com isso o seguinte: os bairros a direita são os “Altos”:

Inclinados e com perfil típico de periferia, muitas casas sem acabamento.

O da frente sem elevador, o edifício mais novo não pode dispensar esse item. A seguir na mesma esquina, virei a câmera pra dir. .

A ‘Cidade da Laje’, onde os moradores por conta vão “enchendo lajes” e subindo mais andares em suas moradias.

Geralmente sem que nenhum engenheiro ou arquiteto assine a obra.

A esquerda o perfil era completamente distinto. Começa pela topografia plana.

Somado a isso, o bairro Casa Amarela e seus vizinhos está se tornando uma região de classe média-alta.

Os muitos novos edifícios ali erguidos são elevados, tanto no nº de andares quanto no valor dos apartamentos.

E ali, na Avenida Norte, os diferentes “mundos” se encontram (Curitiba também tem um desses ‘portais’, alias).

O que se configurou num paradoxo martelando em minha mente.

Em Casa Amarela, um… prédio amarelo!

Perto da virada pra década de 90 eu havia lido num jornal de circulação nacional que ‘Casa Amarela é um bairro da periferia do Recife‘.

No entanto andando ali em 2021 tive uma impressão completamente diferente.

Bom, até 1988 o Alto José do Pinho, que é uma das periferias mais emblemáticas da cidade, pertencia a Casa Amarela.

Se você olhar por esse ângulo, tudo faz sentido. Pode ser que a separação nem sequer houvesse ainda ocorrido.

Casa Forte, bairro vizinho.

E mesmo que a reportagem tenha sido escrita pouco depois do Alto Zé do Pinho já ter se tornado independente, quem sabe “a ficha ainda não havia caído” por completo.

Se o jornalista ainda incluía o Zé do Pinho na descrição quando quis dizer ‘Casa Amarela’, aí de fato a região era – e ainda é – de periferia..

Porém, do “outro lado” da avenida tudo mudou. Os bairros ali se aburguesaram e verticalizam muito, a olhos vistos.

Esse é o ponto. Mesmo na parte hoje mais cara a realidade era outra mais de 3 décadas atrás (escrevo em 2021).

Casa Amarela de fato tem padrão razoavelmente elevado, mas na amplitude que está hoje é um fenômeno recente.

De novo as flores brancas comuns por lá.

Nota-se no bairro que a imensa maioria dos edifícios são novos, construídos nas duas últimas décadas, quando não de pouquíssimos anos pra cá.

Talvez nos anos 90 não fosse assim, e Casa Amarela na época contava de fato um perfil mais misto, partes de burguesia mas certamente com grandes porções de classe trabalhadora.

Os prédios mais antigos, os que já têm várias décadas, são todos baixos sem elevador.

“Nem tudo são flores”: aqui e a seguir 2 favelas da região, a da dir. ao lado de um “shopping“.

De padrão bem mais simples. Observe mais um exemplo a direita.

Há muitas casas que vão no mesmo embalo, cliquei uma em que em pleno 2020 o carro da família ainda era um Fusca.

E nem mesmo dos Fuscas mais novos. Pelos faróis pequenos notamos que o veículo foi produzido no máximo nos anos 70.

Tá valendo. Percebe-se o bichinho bem-conservado, deve estar com a manutenção impecável.

Seja como for, ainda há porções humildes no bairro (inclusive algumas favelas).

Acontece que isso vem mudando, se tornando uma parte da cidade relativamente abastada.

Ao lado mais um exemplo. Repare nas flores, no canto inferior da imagem.

Na tomada a seguir amplio esse detalhe em escala maior.

 “AS FLORES DO RECIFE” –

Já que tocamos nesse quesito, aproveito e mostro algumas belas tomadas que me deparei da flora de Pernambuco.

Nas legendas identifico os respectivos bairros (ou o município, conforme o caso) onde fiz o registro:

Antiga Estação Central de trens, agora transformada em Museu Ferroviário.

FAVELAS DENTRO DA PRAIA, AGORA URBANIZADAS

No Censo de 1991 o IBGE afirmou que cerca de 40% das moradias do Recife eram precárias.

Em Fortaleza o número era um pouco melhor, por volta de 30%. Ainda assim bem alto.

Nas capitais do Centro-Sul como São Paulo, Curitiba e Florianópolis era perto de 10%.

O quadro, tanto no Norte/Nordeste quanto no Sul/Sudeste, melhorou nessas décadas de lá pra cá.

Aqui e a seguir 2 cenas da Avenida Boa Viagem. Um dominó pros aposentados se divertirem no fim-de-tarde.

Afinal houve intensa urbanização das favelas brasileiras no começo desse novo milênio.

A própria Brasília Teimosa recifense é um exemplo desse processo.

No século 20 era comum as capitais do Nordeste terem favelas nas praias.

Muitas vezes incrustadas ao lado dos bairros mais caros da cidade.

Brasília Teimosa era assim, não apenas os barracos invadiam as areias da praia.

Tire uma foto aqui e poste”, escrito no poste. Pronto, está postado.

Como havia palafitas mesmo dentro do mar, uma cena impressionante.

A partir de 2003 foi urbanizada, como já falamos nessa outra mensagem da série.

Em Fortaleza ocorreu o mesmo processo, apenas ele se iniciou uma década mais tarde.

Em 2011, quando estive lá, havia a favela Servilux, também nas areias da praia.

E isso na Zona Leste, que abriga as praias mais caras da capital do Ceará.

Ainda na beira dos muitos rios que cortam o Centro: estou numa margem e fotografo na margem oposta o prédio da prefeitura. No destaque a gravura de Luiz Gonzaga, o ‘Rei do Baião‘, um dos ícones da cidade.

Tive oportunidade de conhecer pessoalmente essa realidade, voltando a pé da Praia do Futuro, também na Zona Leste.

A Zona Oeste em Fortaleza é a porção mais periférica da cidade.

Nela haviam ainda mais favelas nessas condições, na região do bairro Barra do Ceará.

Em 2011 a urbanização de Servilux apenas se iniciava.

Placas no local avisavam pra reintegração de posse por parte da Marinha.

Estátua de Luiz Gonzaga no Centro. Alguém escreveu na árvore “Jeremias 51:17“.

Constatei pela internet, que tanto essa favela da Zona Leste quanto as outras – bem maiores – da Zona Oeste foram urbanizadas.

Como também foi feito no Recife, retiraram as casas da areia da praia.

Abriram uma avenida beira-mar, transformando o local num bairro normal.

De qualquer forma essa é a realidade na América Latina:

A maior parte de população vivendo em condições longe do ideal.

Cais da Alfândega”, Bairro do Recife“, diz a placa. Parte do Centrão tem o mesmo nome da cidade. Chamado então de ‘Recife Antigo’, pra diferenciar bairro de município, já que ambos são denominados ‘Recife’. Hoje o Bairro do Recife é uma ilha, mas nem sempre foi assim. Originalmente, e assim permaneceu até o início do século 20, havia um istmo que o conectava com Olinda – ou seja, ele era parte do continente, uma península do mesmo. Até que foi aberto um canal pra poderem ampliar o porto, tornando o ‘Recife Antigo’ uma ilha artificial.

“SINAIS ANTES DO FIM”:

EM MEDELÍM, E NO RECIFE TAMBÉM –

Em 2011, mesmo ano que fui a Fortaleza, visitei também a Colômbia.

Conheci a capital Bogotá e também Medelim, cidades que se recuperavam – especialmente Medelím – da sangrenta guerra que engolfou a nação nas 3 décadas anteriores.

O investimento no transporte coletivo foi parte fundamental desse renascimento.

Cali e Medelím foram o epi-centro dos “problemas”, sede dos respectivos ‘cárteis’ que levam o nome das cidades.

Medelím em 1995 inaugurou o primeiro – e por enquanto único – metrô da Colômbia.

Acontece que a Zona Central de ambas são em vales no meio de altas montanhas na Cordilheira dos Andes, com os bairros mais periféricos no alto desses morros.

Aqui e a esq., Praia de Candeias, Jaboatão, Zona Sul.  Um barco e a seguir um “buggie” que estava encostado num prédio.

O que inviabiliza por completo a construção desse modal ferroviário em muitos bairros.

Pra contornar esse problema, Medelím criou o “metrô-cabo”: uma rede de teleféricos integrada a estação do metrô.

Deu tão certo que a ideia foi copiada em Cali, e também em caracas/Venezuela, La Paz/Bolívia e Rio de Janeiro – infelizmente nesse último caso operou apenas 5 anos.

Porém não é sobre isso que quero falar, afinal foge totalmente ao nosso tema de hoje, que é o Recife. Contei tudo isso acima pelo seguinte.

A situação melhorou bastante na Colômbia, mas ainda há muito por fazer.

Em graus variados de urbanização das vilas, cerca de metade da população de Medelím ainda vive em favelas.

A maior parte dessas vilas nas colinas que cercam a cidade pelos 2 lados.

Ainda Jaboatão. Nesse dia trechos das praias da Zona Sul estavam cobertos por algas.

Peguei o “metrô-cabo” pra chegar aos morros da periferia da Zona Oeste medlinense. Conforme já contei antes:

   Aí me deparei com uma cena muito curiosa. O teleférico sobrevoa um riacho, no meio da montanha.

Numa de suas pedras alguém pintou o título “Sinais Antes do Fim, Lucas 21-7”. 

Escreveu em letras garrafais, dá para ler nitidamente lá de cima.

Postos salva-vidas são assim em Pernambuco.

Há o contraste entre o mineral negro e os escritos em branco.

Fui ler o versículo. Trata-se do que irá ocorrer indicando que essa civilização está nos seus últimos tempos, na visão dos que acreditam no Apocalipse.

Diz que “aparecerão os falsos profetas, e os que creem em Deus de verdade serão castigados pelos poderosos por sua fé.

No município do Recife os banheiros na orla são construídos de forma permanente, de tijolos. Minha esposa utilizou e disse que são limpos, pediu pra elogiar a prefeitura e a equipe da limpeza. Está feito.

Surgirão doenças e guerras, e por toda parte haverá destruição.

E por fim, quando chegar a hora final, as cidades serão arrasadas, devendo por isso quem estiver no campo ali permanecer.

Os que ainda estiverem nas cidades que a deixem o quanto antes”.

Citei o sentido geral do que está escrito na Bíblia.

Sem me preocupar em transcrever as palavras ‘ipsis-litteris’   ”.

Em Jaboatão (a orla é a mesma mas o município é outro) é diferente: os sanitários são ‘trailers‘ estacionados. Móveis ou fixos, o importante é que estão ali, servindo aos banhistas.

O mundo foi engolfado por uma grande confusão a partir de 2020.

Você sabe do que estou falando, basta ver as pessoas de máscara nas fotos.

Não vamos entrar na discussão sobre essa doença, porque aqui não é o canal.

Numa coisa creio que todos concordam, o planeta está completamente de pernas pro ar.

Com isso muitos creem que as Profecias começaram a se cumprir.

Assim, seguindo essa visão quem pintou as palavras na selva colombiana nas cercanias de Medelím ainda no começo desse século 21 é também um profeta, por nos alertar pras palavras do Profeta Bíblico.

Da Z/S vamos pra Zona Oeste: aqui e a seguir o Centro de Camaragibe, final de tarde.

E o que tudo isso tem a ver com o Recife? É bastante simples.

Como a foto que mostra a estátua de Luiz Gonzaga no Centro nos mostra, algo similar aconteceu em Pernambuco:

Alguém escreveu numa árvore na praça “Jeremias 51:17“. Diz esse Versículo e o seguinte:

“   Todo homem se tornou estúpido e não tem saber; Todo ourives é envergonhado pela imagem que esculpiu;

Comércio todo pichado até o teto (porque é o Recife!) e, num posto de gasolina, flagrei em 2020 um velho Volvo, fabricado nos anos 80.

Pois suas imagens são mentiras e nelas não há fôlego (ou seja, são desprovidas de Inspiração Divina).

Vaidade são, obra ridícula; no tempo do seu castigo virão a perecer.   ”

Como é óbvio pra quem conhece a Bíblia, Jeremias descreve a queda da Babilônia.

Que pra alguns é sinônimo de uma sociedade decadente, que perdeu a Fé.

Painel no aeroporto: Carnaval do Recife, ‘Galo da Madrugada‘ em ponte no Centro.

Certamente quem está pintando a referência bíblica no Centro do Recife vê dessa forma.

E mais, não precisa ser um gênio pra entender o que ele quer dizer:

Nossa civilização atual não se salva mais, pois se corrompeu além do ponto em que poderia ser recuperada.

O chamado ‘Ocidente’ teria se tornado, sempre seguindo essa mesma linha de raciocínio, uma ‘Babilônia Moderna’.

Onde, mais uma vez, “todo Homem se tornou estúpido e as obras são vaidade, totalmente desprovidas de Inspiração Divina”.

Obviamente quem entende as coisas dessa forma acredita que o chamado ‘Ocidente’, sendo a “Babilônia Moderna”, terá inevitavelmente que ter o mesmo destino da Babilônia original na narrativa bíblica.

Há várias estátuas do Galo pela cidade, é um dos símbolos do Recife; aqui noturna na Av. Boa Viagem, e a seguir no Centro (de costas porque cliquei do carro).

Quando eu estava no Recife e fiz a foto, nem sequer vi essa inscrição.

Apenas já em casa, em Curitiba, é que vi na hora de subir pra internet.

Então peguei a Bíblia pra ler esse versículo, que eu ignorava.

Conheço a mensagem da Escritura Cristã mas não cada detalhe dela.

Está registrado a mensagem dos “Sinais Antes do Fim” que vi no Centro do Recife.

Cada um que interprete o alerta como sua Consciência indicar.

Quem tiver ouvidos, ouça . . .

……..

Já que estamos por aqui, um ensaio fotográfico do Centro do Recife, a “Veneza Brasileira, com suas pontes e canais.

Avião da Aeronáutica na orla da Zona Sul, perto da divisa entre o Recife e Jaboatão.

“PELADAS NA PRAIA”:

COMUNS NO RECIFE, E EM SALVADOR TAMBÉM –

Constatei que o futebol ainda é imensamente popular em algumas partes dessa nação-continente.

Nas capitais pernambucana e baiana vi – e cliquei – as “peladas“ (que significa “partida entre amigos”. Se você pensou em outra coisa, tipo belas Mulheres num campo de nudismo, eu nada tenho a ver com isso….rs).

Eis exatamente o limite municipal. O carro branco em 1º plano ainda está em Piedade, Jaboatão. Os que ultrapassaram a placa já trafegam por Boa Viagem, Recife. No detalhe um calango que passeava pela praia.

Foi mais um aspecto do “Choque Cultural” que um sulista sente no Nordeste.

Explico. No Sul e Sudeste do Brasil é diferente. Claro que muita gente ainda gosta de um ‘futeba’.

Entretanto o número de praticantes desse esporte caiu mais da metade desde a virada do milênio, 2 décadas atrás.

Aqui em Curitiba só vemos garotos jogando futebol em quadras públicas nas vilas mais afastadas da periferia.

Nas regiões de classe-média ou as quadras ficam vazias ou a galera está jogando basquete.

Nem só tubarões frequentam as praias do Recife: placa da desova de tartarugas em Jaboatão – esse subúrbio metropolitano tem no brasão a frase (em português mesmo) “Pela Integridade da Pátria“, pela Batalha de Guararapes ter sido ali. E, como na capital, leões adornam o emblema.

Em seu lugar outras modalidades até pouco tempo atrás mais elitizadas, que pelo menos em Ctba. só eram praticadas nos clubes particulares, agora são vistas na via pública.

Entre 2018 e 2019 frequentei bastante a Zona Oeste da cidade, que é onde fica a Cidade Industrial (CIC).

Pra quem não é daqui, o CIC é o maior bairro de Curitiba em área, população e PIB.

É de moradia popular, a maior parte de suas vilas ainda é de perfil de classe trabalhadora.

Inclusive 20% das favelas de Curitiba (em diferentes graus de urbanização) são no CIC.

Na Vila Santa Helena, Morro da Esperança e Morro do Piolho, nessa mesma C. Industrial, as praças públicas sempre tinham jovens jogando futebol.

Também na praia entre Piedade e Candeias, pescador trabalha. Ele cavuca a areia pra capturar iscas, pequenos moluscos e larvas que depois serão usados pra atrair os peixes.

Como até o nome de algumas vilas indicam, trata-se da periferia da cidade.

Porém pra chegar ao CIC eu passava pelo complexo esportivo que há na Avenida Artur Bernardes, no bairro Santa Quitéria.

Também é Z/O, mas um perfil bem distinto, de classe média pra média-alta.

Então. E ali no Stª. Quitéria ninguém jogava futebol, só basquete – as traves da quadra foram até retiradas!

Próx. 4 imagens em Candeias, Jaboatão. Ao contrário de Piedade que faz divisa com Boa Viagem, ela é mais longe do município do Recife. Assim até pouco tempo atrás não era tão aburguesada. Veja esse prédio, a 2 quadras do mar. Não estou criticando, eu certamente gostaria de morar nele se pudesse. Ainda assim, de um padrão mais popular – a 2 quadras do mar, repito.

Também se praticava muito tênis, e eventualmente até fute-vôlei. Mas futebol nunca.

Na Zona Norte é o mesmo. Aqui no Jardim Aliança, em Santa Cândida (ainda no município de Curitiba mas no limite dele) a quadra de futebol sempre tem público.

No Juvevê, entretanto, que é um bairro na divisa com a Zona Central e portanto de padrão bem mais elevado, só vejo basquete sendo praticado na praça.

No começo dos anos 2000 eu jogava futebol nesse local. Hoje não seria mais possível.

Entre muitos outros exemplos. Passei minha adolescência no Cristo Rei, entre as Zonas Central e Leste.

Entretanto, de algumas décadas pra cá os prédios erguid0s em Candeias são assim, ao menos na orla. Não é preciso explicar mais.

Nas quadras do Jardim Ambiental havia futebol todos os dias, mesmo de 2ª a 6ª.

Nos fins-de-semana então a procura era tanta que chegavam a formar 3 ou 4 times “de próxima“.

No começo de 2020 passei no Jd. Ambiental um sábado a tarde de SolNinguém jogava futebol.

As quadras estavam vazias exceto por pais que brincavam com os filhos pequenos. 

“Maior Hospital Veterinário da Zona Sul”, diz a placa. A própria inauguração de um hospital veterinário particular já mostra que o padrão do bairro vem se elevando, sobra dinheiro no orçamento prum tratamento melhor pros bichos.

E foi antes da epidemia de Corona-Vírus (assunto polêmico, que não iremos debater aqui).

Minha visita ao bairro que morei 9 anos ocorreu na virada de janeiro pra fevereiro.

Não foi por causa da doença, não havia ainda qualquer isolamento social, que só se iniciou 2 meses depois, no fim de março/20.

Os campos de futebol serviam apenas de ‘parquinho’ pros miúdos porque os jovens da burguesia não se interessam mais por esse esporte, ponto final.

No Nordeste presenciei algumas vezes futebol na praia. E achei que lá esse divertimento ainda é mais praticado que no Centro-Sul do país. Mas pensando bem . . .

FUTEBOL NA ZONA NORTE;

NA ORLA DA ZONA SUL FUTE-VÔLEI E BASQUETE

Prédios antigos com menos andares. Os novos lançamentos são bem mais altos.

Vi gente jogando futebol nas quadras públicas, 2 vezes no Recife e 1 em Salvador.

No entanto, refletindo me dei conta que no Recife em ambas as vezes foi na Zona Norte.

Uma em Olinda (em Casa Caiada) e outra no município do Recife mesmo, entre as Zona Central e Norte.

Tirei a foto em Boa Viagem (1º plano). Vemos também a linha de prédios de Piedade ao fundo – a esq. mesma cena ampliada.

Na Zona Sul vi gente jogando basquete, fute-vôlei e tênis. Mas futebol nunca.

Não é segredo pra ninguém que a Z/S do Recife é muito mais aburguesada que a Z/N.

Em Salvador foi em Ondina. Embora esse seja um bairro de classe média-alta, também tem diversas favelas nos morros.

Pode ser que a rapaziada que batia uma bola morasse nelas.

Talvez, como já escrevi na legenda das fotos acima, no Nordeste o futebol também seja uma diversão mais comum entre as classes populares hoje em dia.

Pode ser que, como no Centro-Sul, os jovens mais aburguesados estejam migrando pra outras modalidades.

Boa Viagem, mas bem próximo a Piedade. Por isso se virar a esq. chegará a Prazeres e Porta Larga, bairros de Jaboatão.

Afinal, fiquei só 5 dias no Recife. Mas o que presenciei lá foi o mesmo que em Curitiba:

Futebol nas partes mais populares, basquete, fute-vôlei e tênis nas regiões abastadas. Está feito o registro.

BEM DIFERENTE:

NO NORDESTE O MERCADO AINDA É DO POVO –

Essa e a seguir de volta ao Centro: moderno articulado do Via-Livre cruza a ponte.

Agora, há algo que no Nordeste ainda é popular: os mercadões de rua.

Fui conhecer o ‘Marco Zero’, marquei no aplicativo pra descer no ‘Cais de Santa Rita’.

Pois bem. O motorista nos deixou próximo de onde queríamos ir, mas pra chegar até o local era preciso atravessar uma região do Centro onde há um mercado.

A esquerda as bicicletas que um banco disponibiliza pra aluguel. Quase no meio da imagem a cobertura de um mercado.

O ‘Marco Zero’, que é uma parte turística bem bacana, como já falei acima e todos sabem.

Esse mercado entretanto não é turístico, e nem teria como.

No Centro-Sul os Mercados Municipais viraram ‘chiques’.

São frequentados pela classe-média, os de Curitiba e São Paulo com certeza.

Os prédios são os mesmos da tomada anterior, agora vistos pelo ângulo oposto. Brasília Teimosa em 1º plano, aqueles 2 prédios marcam o começo do Centro ao fundo. Era dia útil, e a Praia do Pina estava vazia por motivos óbvios. Mas em ‘Brasília’ os guarda-sóis eram muitos e estava lotados. Não é um julgamento, que fique bem claro. Nas regiões mais humildes as opções de lazer são escassas. Assim, é natural que as pessoas vão pra praia congregar, pois o acesso é público e gratuito. Se eu ou você morássemos em Brasília Teimosa provavelmente também passaríamos boa parte de nosso tempo livre tomando banho de mar – de preferência um petisco a seguir, porque ninguém é de ferro.

O Mercado Municipal curitibano, alias, tem praça de alimentação igual a de um “shopping”.

Em São Paulo as lanchonetes ainda são em meio as bancas, no entanto o sanduíche de 250g de mortadela (num único pão) também é um muito famoso, muita gente vai ali só pra experimentar a iguaria.

Pois bem. No Nordeste não é assim, os mercados públicos não se parecem com centros comerciais de grife nem têm ícones conhecidos entre a burguesia. Ainda frequentados pelo povão.

Exercem, em pleno século 21, o mesmo papel pra que foram criados séculos atrás:

O de ser um ponto popular de venda de gêneros alimentícios, privilegiando o baixo custo ao luxo.

Na Paraíba e Ceará inclusive presenciei o comércio de animais vivos nos mercadões.

No Recife não chegou a tanto, mas enfatizo que tanto em Fortaleza quanto João Pessoa vi sim comércio de galinhas e até de bodes.

Aqui e nas próx. 3 imagens voltamos ao Centro: nessa outra colagem (percebe a emenda; a intenção não é enganar ninguém, somente mostrar ângulo maior que seria possível com apenas uma única foto).

Porém ambos os mercados citados eram na periferia, alias os dois em subúrbios metropolitanos da Zona Oeste dessas capitais:

Me refiro os mercados de Santa Rita e Caucaia, respectivamente.

Enquanto que na capital pernambucana o único mercadão que pude passar era em pleno Centro.

Então não vi nem aves e muito menos mamíferos vivos sendo vendidos.

Talvez se eu fosse em um mercado do subúrbio recifense veria a mesma cena.

Seja como for, em todos os casos entorno dos mercados têm o burburinho típico que seria de se esperar.

Curiosa estátua na beira-rio.

Acho que entendeu o que quero dizer, como disse e é óbvio não é uma parte turística.

No Nordeste, os mercadões ainda são populares. Bem diferente do Sul e Sudeste.

O Mercado Municipal de Curitiba é tão procurado pelos visitantes de outras cidades que tem um ponto da Linha-Turismo bem em frente.

GUARARAPES:

Praça da República, onde fica o Palácio do Campo das Princesas, sede do governo de Pernambuco (destaquei as placas) – como era sábado nesse dia e não havia expediente, a área foi isolada por razões de segurança. Essa imagem encerra a sequência do Centro.

“BATALHA FORMADORA” DO EXÉRCITO BRASILEIRO –

O Monte dos Guararapes, que desde 1989 nomeia Jaboatão, foi onde foi travada a chamada ‘Batalha Formadora’ do Exército Brasileiro.

É sabido que logo após a metade do milênio passado diversas potências europeias disputavam território pra formar colônias no chamado ‘Novo Mundo’.

(Evidente que a América não foi “descoberta” quando Cristóvão Colombo aportou na República Dominicana, e se tivesse sido seria somente pros europeus.

Comércio na entrada de uma pequena favela entre as Zonas Central e Norte.

Uma vez que aqui já habitavam Homens e Mulheres a muito tempo.

Portanto o “descobrimento” é apenas do ponto de vista eurocêntrico. Isso muito bem registrado, sigamos.)

No século 17 veio a Holanda, invadiu e abocanhou boa parte do Nordeste brasileiro.

Fundando assim a Nova Holanda, que tinha capital no Recife.

Foto na beira-mar em Olinda que mostra o Centro do Recife. Aqueles 2 prédios mais altos no meio da imagem são os mesmos clicados de Brasília Teimosa e do mercado no Centrão, mostrados um pouco acima na página.

O comandante de tudo era, evidentemente, Maurício de Nassau.

Que renomeou Recife em homenagem a si mesmo, virou a “Cidade de Maurício”, “Mauristad” no original.

Natal-RN foi rebatizada ‘Nova Amsterdã’. Assim a América teve por um tempo duas ‘Novas Amsterdãs’.

Pois a atual Nova Iorque-EUA também pertencia a Holanda, e tinha a mesma denominação.

Ao fim os holandeses foram expulsos da maior parte da América.

OLINDA, “CIDADE-MÃE DE PERNAMBUCO“: Criada em 1535, foi ela que fundou o Recife, 2 anos depois. Aqui a Igreja da Sé, e nas próx. 10 fotos o roteiro que fiz em Olinda, uma tarde caminhando pela cidade mais antiga do Brasil excluindo o Litoral Paulista.

Escorraçados tanto aqui do Sul quanto do Norte de nosso continente.

Malgrado o grande esforço, nenhuma das ‘Novas Holandas’ vingou.

Os holandeses, enquanto ali dominaram, alteraram também o nome da atual João Pessoa.

Que passou a se chamar Fredericoburgo (1634-1654). No original, ‘Frederikstad.

Portugal nunca se conformara com essa invasão por motivos óbvios.

E sempre organizara guerra de guerrilhas pra tentar fazer os holandeses se retirarem.

Bairro de periferia próximo ao Centro, na parte alta de Olinda. A porta das casas sai direito na rua, típico dos bairros populares no Nordeste (e também Argentina e Chile).

Se a Nova Holanda vingasse, seria o fim do império luso na América.

Outras potências europeias viriam na sequência tomar mais território de Portugal, incentivadas pelo sucesso holandês.

Mesmo que não desencadeasse ações-espelho, a Nova Holanda em si mesma era o fim do sonho português.

Até por ser do lado de Salvador. Os holandeses, alias, tentaram duas vezes invadir a atual capital baiana.

Desci em direção ao mar por essas ladeiras. Note a falta de saneamento básico, o esgoto corre a céu aberto.

Que era a então capital do território português na América:

Uma antes de tomar Recife e fundar a Nova Holanda, e outra depois, tentando ampliá-la.

Deixando claro que o objetivo dos holandeses era mesmo a expulsão de Portugal da América.

Não por acaso Maurício de Nassau nomeava até a capital da Nova Holanda, pois ele era definitivamente o cabeça da empreitada.

Antes de sua chegada e principalmente enquanto ele esteve no comando, a Holanda só perdeu duas batalhas:

O farol, que está nesse local desde 1941.

Justamente as duas tentativas frustradas de se apossar de Salvador.

Que é muito bem defendida por estar numa península, frustrando ataques por terra.

A invasão tem que ser por mar, e aí basta um forte com potentes canhões pra pôr a pique os navios inimigos.

Assim, ele tentou 2 vezes, a Bahia não caiu em mãos holandesas.

Na beira do mar praça com várias peixarias.

De resto, Maurício de Nassau e seus antecessores venceram todos os outros confrontos militares contra Portugal.

Estendendo a Nova Holanda dos atuais Sergipe até o Maranhão, todo o atual Nordeste exceto a Bahia, resumindo.

Casas muito antigas na avenida. Essa parte da praia, perto do farol, é mais humilde.

Entretanto, pra sorte de Portugal (e posteriormente do Brasil), a coroa holandesa não teve essa visão.

E Maurício de Nassau foi demitido do comando das ‘Indias Ocidentais’ holandesas, a empresa do governo holandês pra explorar as colônias americanas.

Teve que voltar pra Europa. Acharam que sob sua direção a Nova Holanda não dava tanto lucro quanto poderia.

Caminhando pra Casa Caiada a orla vai se aburguesando, surgem hotéis e restaurantes, mas ainda sem prédios altos no bairro.

Não consideraram que ele tinha que defender militarmente o território, antes de desenvolvê-lo economicamente.

Pois as investidas de Portugal eram permanentes, fustigavam o tempo inteiro a Nova Holanda.

Na intenção que até que cansados das baixas em termos humanos e financeiros os holandeses achassem melhor fazer as malas e ir embora.

Maurício de Nassau era excelente urbanista, melhorou muito o Recife.

Fim-de-tarde gostoso de sábado, os restaurantes aproveitam esses diques de pedra e instalam as mesas sobre as ondas.

Construindo muitas pontes, canais, bibliotecas, jardim botânico.

Seus feitos são amplamente reconhecidos em Pernambuco.

Era também excelente analista militar. De fato não conseguiu tomar a capital da colônia lusa.

Só que não consideraram que essa cidade era bem mais fortificada por sediar o governo, fora que a geografia ajuda.

Seguindo mais um pouco na mesma avenida e aí vemos prédios e centros de compra.

Exceto por Salvador enquanto ele esteve ali em incursões fulminantes furou facilmente as defesas e a seguir repeliu os contra-ataques de Portugal.

A Holanda saiu vitoriosa em todas as batalhas, ofensivas e defensivas, em que tomou e resguardou seu território.

Portanto, o retorno de Maurício pra Europa foi um erro fatal, sob o ponto de vista do invasor.

Sem o mentor da ocupação holandesa, que inclusive nomeava a capital, as forças portuguesas ganharam novo fôlego.

Iates e espigões: estamos chegando a Casa Caiada.

E enfim conseguiram começar a virar o jogo, fazendo os holandeses pela primeira vez recuarem.

Assim, o exército português avançou rumo ao objetivo final.

Que era, logicamente, a tomada da cidade do Recife, capital da Nova Holanda, pros holandeses chamada ‘Mauriciópolis’.

Escultura pra Olinda, “Cidade-Mãe de PE“. Era véspera da eleição, daí as bandeiras.

As tropas portuguesas eram mestiças. Haviam portugueses mesmo, aliados a índios, negros e brancos pobres nascidos no Brasil.

Entre 1648 e 49 ocorre a famosíssima Batalha de Guararapes já nas cercanias do Recife.

Portugal enfim bateu a Holanda num embate importante, após longa série de derrotas.

Próx. 3 imagens feitas na Avenida Norte: ainda na Z/N, mas agora no município do Recife. Ao fundo o Alto José do Pinho.

Na prática, esse foi o momento que acabou a Nova Holanda.

Alguns holandeses ainda permaneceram por aqui, mas já sabendo que o fim era inevitável.

Em 1654, enfim os últimos holandeses se retiraram, dissolvendo de forma oficial a possessão.

Em 1661, a Holanda ratifica, no papel, a soberania portuguesa. O Brasil existe pela Batalha de Guararapes.

O termo “altos” no Recife é mais ou menos equivalente aos “morros” do Rio: bairros de periferia em locais inclinados.

O fim da Nova Holanda, e a retomada de todo o Nordeste pra Portugal, foi um recado claro a todas as potências europeias:

A coroa lusa não pouparia esforços pra manter o que hoje é o Brasil sob sua guarda.

A Batalha de Guararapes é a Gênese do exército brasileiro, seu maior orgulho.

Nota que os “altos” são em ladeiras sim, mas não em encostas de montanhas.

Por exemplo. O primeiro bairro que eu morei em Curitiba foi o Portão, na Zona Sul. E o prédio fica exatamente na … Rua Guararapes.

As homenagens são merecidas, por ser o combate que fez com que nosso país existisse.

Já que ainda que tardiamente reverteu uma enorme sequência de derrotas contra um adversário mais estruturado.

Vamos pro Oeste“: as próx. 5 imagens são na Z/O. Aqui o Sine (Ag. do Trabalhador) no Centro de Jaboatão, o “Jaboatão Velho”.

E por ter tido em suas fileiras a presença de todas as raças em suas tropas.

Assim como a Batalha de Riachuelo na Guerra contra o Paraguai é o orgulho da marinha, dois séculos depois.

A história sobre a por nós chamada ‘Guerra do Paraguai’, pros paraguaios a ‘Grande Guerra’ ou ‘Guerra de 1870’ eu já contei com mais detalhes em texto específico.

Essa e a seguir são na mesma praça, já no município do Recife. Vemos inclusive um taxi.

Voltando ao Nordeste e ao século 17, assim a “Cidade Maurício” deixou de existir, voltou a se chamar Recife.

A atual capital paraibana também perdeu o título holandês, Fredericoburgo.

Bem, acho que essa cidade bate o recorde mundial de mudança de nome:

Mesmo na periferia, a maioria das casas usa telha de barro. No Sul, Sudeste, Centro-Oeste e na Bahia, no subúrbio a cobertura é quase sempre de eternit. Recife é uma transição. Quem pode utiliza telhas, mesmo nas favelas, mas há casa de eternit. De João Pessoa a São Luís-MA, passando por Fortaleza, Natal e Teresina-PI, praticamente só se usa telha de barro, até dentro das favelas. Porque essas cidades são muito quentes, então a telha mesmo sendo mais cara é escolhida pra dar conforto térmico. No Recife a imensa maioria das casas é de telha como nota, mas há algumas de eternit (próxima imagem).

Foi fundada em 1585 como “Cidade Real de N. Srª das Neves.

Depois já se chamou Filipéia (“Philipéia de N. Srª das Neves”), Fredericoburgo (“Frederikstad”), Cidade da Paraíba (“Parahyba”, o nome que durou mais tempo entre todos, 276 anos).

Em 1930 muda pra “João Pessoa, desde que o governador da Paraíba, o próprio João Pessoa, foi morto a tiros – alias o atentado ocorreu no Recife.

OLINDA, “CIDADE-MÃE” –

São Vicente (na Grande Santos, Litoral Paulista) é a cidade mais antiga do Brasil. Foi fundada em 1532.

Por isso denominada ‘Celula-Mater’. Pois bem. São Vicente é ‘a Cidade-Mãe do Brasil’.

Então Olinda é Cidade-Mãe de Pernambuco. É somente 3 anos mais nova que São Vicente.

A imagem a seguir é a mesma em escala maior, mostra em detalhe o “alto”.

De 1535, Olinda é assim a 3ª cidade mais velha do Brasil.

(Só atrás da própria S. Vicente e Cananéia no Litoral de SP.)

Foi fundada junto com Igarassú, também em Pernambuco, e pouco antes de Vila Velha (na Grande Vitória-ES).

Olinda, a 1ª capital de Pernambuco, fundou o Recife, em 1537. “Seu primogênito”, como o poeta definiu.

Porém acontece que os holandeses não gostavam de Olinda.

Por considerar difícil de defendê-la militarmente de ataques navais estrangeiros.

Saquearam os palácios olindenses e depois incendiaram a cidade.

PINA, BOA VIAGEM, PIEDADE E CANDEIAS: 16 KM A PÉ PELA ORLA DA ZONA SULMeu último dia no Recife eu passei da melhor forma possível, caminhando de Candeias até o Pina. Foram 9 horas a pé pelas areias das praias recifenses. Vou mostrar meu roteiro, mas invertido do que fiz. Começo pelo Pina nas próx. 4 tomadas e 2 galerias a seguir.

Completaram a despossessão transferindo a sede do poder pra vizinha Recife.

Porém o tempo passa e acontece a queda da ‘Nova Holanda’ na derrota de Batalha de Guararapes.

(Ocorrida em 1648/49, ratificada por tratado em 1661.)

Olinda foi restaurada como capital de Pernambuco, posto que ocupou até 1837.

Quando a capital (da então província, hoje estado) foi transferida em definitivo pro Recife.

Traçando um paralelo histórico, Paranaguá se denomina ‘Mãe do Paraná‘.

Por ter sida a primeira cidade fundada no atual território paranaense.

Porém note que a colonização do Sul se deu bem depois da do Nordeste. Paranaguá é de 1648.

Destaquei no detalhe que na classe média-alta é comum cada apê ter 5 ou 6 aparelhos de ar-condicionado funcionando. No mínimo 3. Fotografei o mesmo em Salvador.

Sendo portanto a pioneira cidade paranaense mais um século mais nova que Olinda e Recife (tem 113 e 111 anos a menos, respectivamente).

Me lembrei igualmente de Assunção/Paraguai, que se denomina a ‘Mãe de Cidades‘. Também é antiga, do ano de 1537.

A capital paraguaia fica as margens do Rio que nomeia o país. De seu porto partiram os colonizadores que fundaram inúmeras cidades.

Não apenas em sua própria nação mas também na Argentina, Bolívia e Brasil. De Assunção zarparam inclusive os Homens que re-fundaram Buenos Aires/Argentina.

Pois a B. Aires original, que é mais velha que Assunção, fora destruída por ataques indígenas.

Dessas cidades mais ao sul do continente já falamos em outras ocasiões.

Hoje aqui nosso tema é Pernambuco, cuja ‘mãe’ simbólica é Olinda.

……..

Acima a dir. e ao lado o anoitecer no Pina. Emendo com galeria mostrando o mesmo prédio visto a esquerda.

Prédios em 1º plano no Pina, ao fundo em B. Viagem.

“DA LAMA AO CAOS”:

ASSIM É O RECIFE, BELO E CONTURBADO –

Pra fechar, iremos mais uma vez ter que falar da violência urbana.

De novo comparando o Recife com Curitiba, mote dessa série de escritos.

Placa prova que chegamos a Boa Viagem, praia mais badalada de Pernambuco. Foto a dir. a poucas quadras dessa, ciclovia em uso.

Evidente que esse problema é nacional e mesmo assola boa parte da América Latina e também África.

As duas principais metrópoles brasileiras, Rio e São Paulo no Sudeste, da mesma forma enfrentam situações gravíssimas nesse quesito.

Inclusive as vezes com insurreições abertas de grupos armados.

Curitiba, tão versada na mídia como sendo uma capital “de Primeiro Mundo”, igualmente é bastante violenta.

Moro no bairro Santa Cândida, na Zona Norte, na divisa com os subúrbios metropolitanos de Colombo e Almirante Tamandaré.

No final de junho de 2021 ouvimos perto das 8 da noite algo que soou uma execução na esquina:

Descarregaram uma arma em alguém, a seguir um carro saiu em disparada.

Próximas 9 imagens: Boa Viagem. Aqui e a dir. a praça que leva o nome do bairro. A igreja, N. Srª de  Boa Viagem, é de 1707.

Um ano antes, em julho de 20, eu e minha esposa fomos assaltados por motoqueiros a mão armada, a 300 metros aqui de casa.

Morei 15 anos no Boqueirão, na Zona Sul, outro bairro da periferia da cidade.

Nesse período fiquei sabendo de dezenas de assassinatos que ocorreram nas imediações.

Inclusive uma vez igualmente ouvi o linchamento de um vizinho – na festa de aniversário dele!

A morte ocorreu exatamente porque os “manos” da vila invadiram a comemoração sem convite.

Ao serem postos pra fora acabaram por executar aquele Homem, que trabalhava e não tinha inimigos, com suas próprias mãos.

Escutei claramente tudo de minha casa, pois era meu vizinho de muro. Ele vendia carros usados.

No começo da semana seguinte os veículos continuavam parados na rua com o preço no para-brisas.

Entretanto não podiam mais ser comercializados porque o dono já não estava mais nesse mundo.

Foi triste. E repito, apenas uma das dezenas de mortes violentas que ocorreram na divisa entre Boqueirão e Uberaba no período, felizmente a única que fui testemunha auditiva.

E essa situação, de banalização do ato de se tirar a vida de um ser humano, se repete em diversos bairros da periferia, tanto municipal quanto metropolitana.

Não devemos nos focar em coisas negativas. Tive que fazer esse lamentável adendo apenas pra mostrar que Curitiba também é uma cidade violenta, e bastante violenta por sinal.

Em diversas escalas o mesmo se repete em quase todas as capitais do Brasil, bem como nas maiores cidades do interior.

A diferença entre o Recife e Curitiba nessa triste competição é que a capital de Pernambuco enfrenta essa problema a bem mais tempo que a capital do Paraná.

Boa Viagem tem o m2 mais caro de Pernambuco, então logicamente os prédios da beira-mar são altos, pra não desperdiçar espaço.  São comuns espigões de 40 andares, que no Paraná são raros.

O Brasil teve desde o final do século 20 diversos ciclos de aumento de violência.

Algumas capitais, como o Rio, São Paulo – e o Recife  – se tornaram bastante problemáticas nesse ponto já nos anos 80.

A década de 80 (como quem tem idade suficiente se lembra bem) que marcou a transição do fim da ditadura pro retorno a democracia foi bastante tumultuada:

Sucessivos planos econômicos, todos eles fracassados após alguns meses.

Instabilidade política e social. Tentaram assassinar algumas vezes o primeiro presidente civil.

Com os meios mais inusitados, usando desde picaretas até aviões e ônibus urbanos sequestrados.

Viaturas de polícia eram incendiadas no epicentro mesmo do poder, a Esplanada dos Ministérios em Brasília-DF.

No entanto a parte de Boa Viagem mais distante, na divisa com Jaboatão, ainda não é tão verticalizada, vários prédios são baixos, mesmo os mais novos e na beira-mar.

Saques de supermercados começaram a ocorrer em diversas capitais, notadamente no Rio de Janeiro – que até pouco mais de 2 décadas antes era a capital nacional.

Paralelamente a isso, também na capital carioca os “comandos” começaram a organizar suas bases nos morros, processo que foi bastante sangrento por sua própria natureza.

Além do Rio, São Paulo e o Recife se tornaram metrópoles bastante conflagradas pela violência urbana, já nos anos 80.

Em menor medida Porto Alegre e Belo Horizonte também tiveram aumento no número de crimes nesse período, mas nas capitais gaúcha e mineira de forma não tão aguda.

Então. Curitiba, o Centro-Oeste, o Norte e o Nordeste fora o Recife não foram tão atingidos por essa primeira onda de aumento na violência urbana que ocorreu nos anos 80.

Exatamente no limite municipal Recife/Jaboatão há uma quadra inteira praticamente desocupada, só há no enorme terreno uma moradia simples.

Ao contrário. Até a metade dos anos 90 Curitiba era uma cidade extremamente pacata pros padrões brasileiros.

A capital paranaense teve em 1994 cerca de 50 assassinatos.

Isso no ano inteiro (só o município, sem contar a região metropolitana). São Paulo, como comparação, registrava 5 mil homicídios anuais no começo da década de 90.

A população da capital paulista era cerca de 8 vezes maior, mas com 100 vezes mais mortes não é difícil concluir que a violência na maior cidade do Brasil era mais de 10 vezes pior per capita que em Ctba. .

Piedade, perto de Boa Viagem: casas e prédios baixos mesmo na beira-mar.

Por conta do que estou falando. SP, o Rio e também o Recife se tornaram cidades muito violentas antes que a maioria de suas colegas de outros estados.

Aí, quando começamos a nos aproximar da virada do milênio, o Brasil passou por uma segunda onda de aumento da criminalidade.

Dessa vez Curitiba, Florianópolis-SC e o Norte e todo o Nordeste foram atingidos em cheio.

Nas próx. 5 imagens vamos ver a parte mais verticalizada da orla de Jaboatão. As 4 primeiras na praia, evidente.

Em 2010 a capital do PR teve mais de 900 assassinatos.

(Somente o município, e esse são os dados oficiais. Na verdade ultrapassou a marca do milhar.)

Veja: de 1994 a 2010 Curitiba passou de 50 mortes violentas por ano pra quase 1.000.

Multiplicou por praticamente 20 vezes em apenas uma década e meia.

Enquanto isso em São Paulo nesse novo século esse tipo de crime caiu quase 80%.

Das 5 mil ocorrências em 1991 conseguiu reduzir pra 1,2 mil no começo da década de 10.

Ou seja, um pouco acima de mil. Curitiba ficou um pouco abaixo de mil.

Acontece que a população paulistana era 6 vezes maior que a curitibana no Censo de 2010 (11 milhões contra 1,8 milhão).

Fazendo as contas você vê na ocasião do Censo de 1991 São Paulo era 10 vezes mais violenta que Curitiba em termos proporcionais.

Entretanto em 2010 havia invertido, era Ctba. quem tinha 5 vezes mais mortes em relação ao número de habitantes.

Reverteu totalmente a popularidade. Não apenas em relação a Ctba. .

No detalhe os barquinhos de pesca.

São Paulo se tornou a capital mais calma do Brasil, mais até que Florianópolis, que por décadas ocupou esse posto.

Lembre-se, estamos contabilizando apenas os homicídios, que foi onde SP teve a maior melhora.

No quesito de roubos a mão armada o problema continua gravíssimo na capital paulista.

Agora na avenida principal do bairro, a 2 quadras do mar. Destaquei a placa de uma transversal que leva o nome da cidade de Campina Grande, na vizinha Paraíba.

Porém não resta dúvida que o atentado contra a vida é o mais grave dos crimes, por ser irreversível.

Curitiba foi o exemplo típico do que ocorreu na 2ª onda de aumento de violência no país a partir dos anos 90.

Em Florianópolis aqui no Sul e o Norte e boa parte do Nordeste também ocorreu o mesmo.

A seguir após esse pico tenebroso houve significativa melhora em muitas capitais.

Voltamos ao Pina, na capital.

Na década de 10 (séc. 21) Curitiba conseguiu reduzir pra um terço o número de assassinatos em relação ao auge de 2010.

Assim em 2020 esse crime ocorreu oficialmente na média de um por dia no município.

Mesmo com a significativa melhora ainda é mais violenta que SP contando por habitante.

Outras cidades brasileiras, incluindo Belém do Pará e o próprio Recife, também tiveram queda no número de mortes ‘per capita’, ou ao menos uma estabilização mais recentemente nesse novo século (o texto é de 21).

Daqui até o fim vamos ver 3 imagens do mesmo local – a janela do apartamento que me hospedei – em diferentes horários. Viro a câmera pra praia. Ainda é noite alta, eis a esquina da Rua do Atlântico com Avenida Boa Viagem.

Já que em muitas ocasiões na série que escrevi sobre o Recife comparei-o com Curitiba, o veredito é esse:

Tanto a capital do Paraná quanto a de Pernambuco são cidades bastante violentas.

A diferença é que o Recife atingiu esse estágio de ‘Guerra na Cidade” antes, junto com o Rio e SP, ainda nos anos 80.

Ctba. e muitas outras capitais como Florianópolis, Manaus ou João Pessoa passaram por isso depois, de próximo da virada do milênio pra adiante.

Seja como for, hoje a violência urbana é uma chaga gravíssima em nosso país, em quase todas as suas capitais e mesmo cidades médias do interior.

Foto feita as 4:39 da manhã, o Sol começa a surgir no Oceano.

O Brasil concorre com a África do Sul e o Centro da América (da Venezuela e Colômbia ao México, passando por Caribe e América Central) nessa triste competição:

O de possuir as metrópoles mais violentas do planeta (ultimamente até os EUA estão chegando no mesmo triste patamar, com a nova onda de violência que ocorre por lá).

……….

Enfim meus amigos, o que observei na capital de Pernambuco foi isso: uma urbe belíssima, que adoro de paixão.

Ainda assim, indiscutivelmente conturbada e fragmentada. Por isso “A Cidade Sangue-Quente”.

De dia. O mar no Nordeste é transparente. Vemos a quadra em que o pessoal joga basquete acima.

É o Recife, pooooooooooorra!

Eu Amo Você!

…………

Apesar disso, só pude conhecê-la melhor em 2020, aos 43 anos de idade. Antes tarde que nunca.

Deus Permitiu, esse Trabalho está Concluído. Toda Glória ao Criador.

“Deus proverá

Onde Tudo Começou: Salvador da Bahia

salvador é o sol: com 80 km de praias, o sol nasce e se põe dentro do mar

1500: Portugal “descobre” o Brasil, chegando pela Bahia (quadro do museu Palácio da Sé, no Pelourinho-Salvador).

Por Maurílio Mendes, o Mensageiro

Publicado em 22 de Abril de 2021 – aniversário de 521 anos do ‘Descobrimento’ do Brasil, que ocorreu na Bahia.

Mensagem-portal da viagem a Salvador. No fim da matéria ancoro as demais reportagens da série.

Maioria das imagens de minha autoria. As que forem baixadas da internet identifico com um ‘(r)’, de ‘rede’.

Salvador é peculiar, por muitos motivos: é uma cidade muito antiga, foi a primeira e por enquanto mais longeva capital do Brasil.

Salvador foi fundada em 1549 (5 anos antes de SP e 16 antes do Rio), quase meio século após o “descobrimento”, pra sediar a administração portuguesa no então nascente Brasil. A esq. o 1° bispo do Brasil, instalado em Salvador. Nota: eu não sou católico. Apenas em seus primeiros tempos a história de nosso país esteve muito atrelada a Igreja.

Com 80% de sua população afro-descendente, é a metrópole mais negra do Brasil – e uma das mais negras do mundo fora da África.

Espremida entre a Baía de Todos os Santos e o Oceano Atlântico, tem 80 km de praias. Seu litoral é maior que o do estado do Piauí.

Com uma orla com essa grande extensão e bastante recortada, o Sol nasce e se põe no mar:

Situação creio que única no mundo, ao menos entre as cidades dessa porte.

Salvador é uma península (tem a forma de um dedo, se quiser visualizar assim).

Isso faz dela uma cidade muito densa, com pouca área verde e muita verticalização, inclusive nas áreas mais humildes.

Some-se a isso uma grande desigualdade social, que também ocorre nas outras metrópoles do Brasil e do mundo.

Resultando que há favelas em quase todos os bairros, mesmo na Zona Central e nas partes mais abastadas da Orla.

Como as favelas são em morros e com muitos prédios artesanais, em que as lajes vão sendo enchidas e os andares vão subindo sem muita fiscalização, a imagem é bastante impressionante.

Andar pela capital baiana, mesmo perto do Centro e das praias, é parecido com andar na periferia de São Paulo.

O subúrbio soteropolitano (o gentílico da cidade se alguém não sabe) é bastante denso e verticalizado, repetindo.

BEM-VINDO A SALVADOR“: favela em morro ao lado de prédios de padrão mais elevado; eis uma das 1ªs imagens que vi da cidade, ainda dentro do moderníssimo metrô que me levou do aeroporto ao Centro.

Mais parecido com os subúrbios do Sudeste que com os das outras capitais nordestinas.

Salvador é a ligação entre o Sudeste e o Nordeste em termos Espirituais, assim como Curitiba é a ligação entre Sudeste e Sul.

……

É notório que o Brasil já teve 3 capitais em sua história: Salvador, o Rio de Janeiro e atualmente – desde 1960 – Brasília-DF.

Aqui e sobre a manchete: Elevador Lacerda, o cartão-postal mais famoso soteropolitano. Nos detalhes ampliada a estátua da praça (na frente da Candelária, no Rio, há uma parecida), e o valor da tarifa, somente 15 centavos – nov. de 2020, quando o ônibus na cidade custava R$ 4,20.

Salvador, além de ter sido a vanguardista, foi a cidade que ocupou o posto por mais tempo, acima de 2 séculos:

A atual capital da Bahia foi capital do Brasil por 214 anos, de 1549 quando foi fundada a 1763.

O Rio quase chegou a 2 séculos, foram 197 anos sendo mais exato (1763-1960);

E Brasília completou 61 anos um dia antes (21/04/21) da publicação desse texto pra rede.

Salvador foi fundada exatamente pra esse fim, já nasceu capital, como Brasília ela veio ao mundo pra isso.

Esse é o lema da cidade, seu orgulho, repetido em todos os brasões da prefeitura: “Primeira capital do Brasilconfira na foto ao lado.

Ruas estreitas do Centro Histórico.

Então vamos nesse texto falar um pouco da pioneira e por enquanto mais longeva sede administrativa de nossa nação:

São Salvador da Bahia de Todos os Santos, Salvador da Bahia, ou simplesmente ‘Salvador’.

Não é segredo pra ninguém que essa é uma cidade muito antiga. Seu Centro é praticamente um enorme museu a céu aberto (dir.).

O Brasil como conhecemos começou no Nordeste, mais especificamente na Bahia.

Todos sabem, foi em Porto Seguro, no sul do estado, que Pedro Álvares Cabral aportou, em 22 de abril de 1500.

Farol da Barra, onde Salvador começou. De certa forma, o Brasil também começou ali.

Obviamente o Brasil não foi “descoberto” na ocasião, pois aqui já moravam seres humanos logo a região já estava descoberta a tempos, milênios no caso.

De forma que não houve qualquer “descobrimento” pouco mais de 5 séculos atrás, e se houve foi apenas pros europeus.

Seja como for, a terra já era habitada, e o era, mas não se pode negar que era por uma civilização completamente diferente da que temos agora.

Aqui e a esq.: ladeiras do Pelourinho (essas duas tomadas foram clicadas por uma colega, no ano de 2015).

Como entendemos o termo, a América começou na República Dominicana. O Brasil teve sua gênese na Bahia.

E ali foi travada a primeira das duas batalhas decisivas que repeliram a invasão holandesa.

(Falo melhor disso numa mensagem sobre o Recife-PE, pois essa era ‘Mauriciópolis, a capital da ‘Nova Holanda‘.)

Se o Brasil é essa nação-continente, é graças também a Salvador.

Nome apropriado. A cidade que realmente salvou o Brasil. Onde tudo começou.

. ………….

3° MUNICÍPIO MAIS POVOADO DO BRASIL, PORÉM SUA 8ª CIDADE: A CAPITAL É BEM POPULOSA MAS A REGIÃO METROPOLITANA NÃO TANTO –

O município de Salvador tinha 2,8 milhões de habitantes no Censo de 2010 (o último realizado no Brasil).

São Paulo contava, na mesma contagem, com 11,1 milhões, o Rio de Janeiro 6,7, e Brasília 2,9.

Só que esta última é obviamente o Distrito Federal, e não um município.

Mercado-Modelo, aos pés do Elevador Lacerda (ao fundo a esquerda na imagem).

Assim, considerando apenas a divisão administrativa, Salvador é o 3° município mais populoso do Brasil, atrás apenas das capitais paulista e carioca.

No entanto, as pessoas vivem em cidades, não em municípios. Cidade’ e ‘município’ são conceitos diferentes, como já escrevi muitas vezes.

Uma cidade pode ser composta de somente um município ou de vários.

Lojas na parte interna do mesmo Mercado.

Olhando por esse ângulo, a Grande Salvador é a 8ª cidade do Brasil, com seus 3 milhões e meio de moradores.

[As 7 primeiras em milhões incluindo Região Metropolitana: 1) SP, 19,7; 2) RJ, 11,8; 3) BH-MG, 5,4; 4) P. Alegre-RS, 3,9; 5) DF/Entorno em GO, 3,7; 6) Recife, 3,690; 7) Fortaleza-CE, 3,619.]

Por que isso acontece? Simples. Como dito na ‘gravata’ (sub-título) logo acima, o município-núcleo de Salvador é extremamente denso e povoado.

Agora invertido: estou na Cidade Alta, o Elevador em 1° plano; ao fundo a Baía de Todos os Santo com sua marina e o Forte do Mar (‘S. Marcelo’); a dir. o Mercado-Modelo.

Todavia em seus subúrbios metropolitanos a história é outra.

Se a capital conta com 2,8 milhões de moradores, a Grande Salvador não acompanha o ritmo

Camaçari tem 234 mil, Lauro de Freitas 163 mil e Simões Filho 105 mil, pra citarmos os 3 maiores e mais próximos do núcleo.

A causa é o formato do pedaço de terra que abriga Salvador.

Sendo uma península, se parece com um dedo esticado pra baixo, se quiser comparar assim.

A capital baiana é muito fina, literalmente, falando em termos físicos.

Aqui e a dir.: Elevador Lacerda visto da Cidade Baixa (sem os detalhes da tarifa e da praça; a seguir de próprio punho).

O que faz com que os subúrbios da Grande Salvador sejam muito distantes do polo de empregos, que é a parte turística mais central.

Ir de Lauro de Freitas ou Simões Filho até a Orla diariamente numa migração pendular laboral é complicado.

De Camaçari ainda mais, e daí pra frente o sacrifício se torna cada vez maior.

Bem caro esse deslocamento, se o meio escolhido for automóvel próprio – que muitos trabalhadores braçais nem sequer possuem.

De ônibus sai mais em conta, mas é preciso enfrentar uma viagem desconfortável e demorada.

Agora, desde 2014, Salvador conta com metrô, o que facilitou e muito a vida de quem utiliza transporte coletivo.

Sua mobilidade urbana melhorou bastante na última década (escrevo em 21).

Em junho de 2014, sendo mais específico, Salvador se tornou a 3ª cidade do Nordeste a contar com metrô, após o Recife (1985) e Fortaleza-CE (2012).

Famosa Praia do Farol da Barra, por onde passam os trios elétricos no Carnaval (a direita a minha versão da cena).

Voltando a Bahia, a inauguração foi bem a tempo pra Copa do Mundo de 2014 – a qual Salvador foi uma das sedes.

Logo antes dos jogos começou a operar a 1ª linha do metrô de Salvador, com 4 estações.

Pelo próximo ano e meio, até o fim de 2015, a Linha 1 foi aumentada até atingir seu atual trajeto, que conta com 8 paradas.

Ainda será ampliada em mais alguns quilômetros em direção ao subúrbio.

Em dezembro de 2016 veio a linha 2, próxima a Orla, cujo ponto final por enquanto é no Aeroporto 2 de Julho (o chamo por seu nome antigo).

E em breve a linha de trem suburbano que corria na margem da Baía de Todos os Santos será modernizada pra VLT – Veículo Leve sobre Trilhos, o ‘metrô leve’.

Estou no mesmo local da tomada anterior (o alto do Morro do Cristo), apenas virei a câmera em direção a Ondinacomo em todas as colagens que faço, você percebe a emenda. A intenção não é enganar ninguém, e se fosse eu não teria os recursos e técnica pra tanto; viso apenas mostrar um ângulo maior que seria possível em uma única foto.

Esse trem foi desativado em fevereiro de 2021, pra dar lugar as obras dos trilhos e estações do VLT. 

Não era sem tempo, o trem funcionava de forma bastante precária.

Tanto que a tarifa no seu encerramento de atividades era apenas R$ 0,50 (sim, cinquenta centavos), senão ninguém utilizava.

Quando o VLT estiver pronto, aí sim a cidade contará com 3 linhas ferroviárias paralelas de qualidade:

Uma na Baía, outra no Miolo e mais uma na Orla. Vai ficar bom.

A rede de ônibus também foi e continua sendo bastante modernizada.

Outra colagem mostra a Praia da Ribeira, na Baía de Todos os Santos. Não tem ondas, pois não é mar aberto. É frequentada pela classe trabalhadora.

Publiquei matéria específica sobre o tema, com muitas fotos., onde analisamos em detalhes todos os modais, dos anos 70 até hoje.

Por hora, o foco é na cidade como um todo. Então nos basta ter isso em mente: 

Do meio da década de 10 pra cá a situação da mobilidade urbana em Salvador se modernizou bastante, processo que ainda prossegue.

Praia de Ondina, após a Barrao litoral de Salvador é recortado, muitas reentrâncias, tornando a vista mais espetacular. No detalhe os pescadores nas pedras, avaliando o que tiraram do mar naquele dia.

No entanto, por todo século 20 e também na primeira década do novo milênio o transporte coletivo da capital baiana deixava a desejar, pra dizer o mínimo.

Então some tudo: a cidade é estreita e é uma das maiores metrópoles do Brasil a décadas.

Tem pouco terreno disponível pra novo loteamentos, especialmente de padrão popular.

A região metropolitana é distante, e até pouco tempo atrás o deslocamento entre as cidades-dormitório e os polos mais abastados era bastante difícil.

Praia de Piatã/PlacaFor (o nome é porque havia uma placa da Ford, anunciando os carros da montadora): na costa do Atlântico, mas aqui estamos na periferia da cidade.

Resultando que as pessoas preferem morar no município de Salvador mesmo.

A periferia municipal já é distante da Orla e do Centro, onde estão os empregos.

A periferia metropolitana, então, é ainda mais distante. A preferência é morar na capital.

Veja: Camaçari tem 200 e poucos mil habitantes, Lauro de Freitas e Simões Filho ainda não chegam a 2 centenas de milhar

Vizinha a Piatã está a Praia de Itapuã (“é bom passar uma tarde em Itapuã”, como diz a música). O público de ambas são as pessoas do povo, trabalhadores braçais.

O Grande Recife e a Grande Belo Horizonte contam cada uma com um município com mais de 600 mil moradores:

Jaboatão dos Guararapes e Contagem, respectivamente. E vários acima dos 300 mil: Olinda e Paulista (PE), e Betim (MG).

A Grande Vitória tem 2 subúrbios metropolitanos com mais de 400 mil pessoas (Vila Velha e Serra) e um acima de 300 (Cariacica, 337 mil sendo mais preciso).

Também em Itapuã, a Famosa Lagoa de Abaeté, com sua areia branca e água escura.

Sim, a capital do Espírito Santo é um caso bastante atípico dentro da realidade brasileira.

O município da capital é pequeno, então Vitória, com 327 mil, é apenas o 4° município mais povoado da Grande Vitória.

Tanto Ananindeua, na Grande Belém do  Pará, quanto Aparecida de Goiânia (que como o nome indica é um subúrbio da capital de Goiás) têm mais de 400 mil habitantes, e Canoas na Grande Porto Alegre mais de 300 mil.

Panorâmica da cidade (r): até na Orla regiões de classe média-alta (mais verticalizadas) convivem com bairros periféricos – por exemplo aquele em 2º plano na imagem, atrás da 1ª concentração de prédios altos.

Nem vou falar dos subúrbios da Grande SP e Grande Rio, pois essas cidades são bem maiores que a Grande Salvador.

Me restringi a capitais de porte similar. Vocês me entenderam.

Próx. 3: “Corredor da Vitória”, onde estão os prédios mais caros da capital baiana. Trata-se de um trecho de 1 km da Av. 7 de Setembro, na descida do Centro pra Barra.

Muito mais gente mora ao redor de BH, Recife, Vitória, Goiânia, Belém e Porto Alegre que ao redor de Salvador.

Além dos subúrbios da Grande Salvador serem menores que seus colegas de outras capitais, há outra consequência dos baianos preferirem residir na capital:

Os morros soteropolitanos estão hiper-povoados, pra compensar a região metropolitana menos habitada.

Em praticamente todos os bairros de Salvador, mesmo no Centro e na parte mais cara da Orla, grandes favelas cercam as planícies litorâneas e os planaltos de classe média e média-alta.

Em Ondina, onde fiquei hospedado. Próximo ao Corredor da Vitória, que tem o m2 mais caro do Norte/Nordeste. As margens do Dique do Tororó (em frente ao estádio da Fonte Nova).

Salvador é a capital do Brasil mais ligada a Espanha – a bandeira espanhola está por toda parte, como nessa escola.

Nas proximidades da Avenida Paralela (por onde corre o metrô), que como o nome indica é paralela a praia, e bem próxima dela.

Enfim, em toda parte. Morros favelizados são a mais soteropolitana das cenas, andar por Salvador é se deparar com essa realidade o tempo todo.

Nota: eu não falo em ‘favela’ com desprezo burguês. Curitiba tem cerca de 300 favelas (em diferentes graus de urbanização).

Conheço todas e cada uma, por dentro, andando em suas ruas e becos.

O Corredor da Vitória é o único bairro de padrão elevado as margens da Baía de Todos os Santos (r). Note que vários prédios têm suas marinas particulares, com teleféricos de uso exclusivo a moradores e seus convidados.

Morei 15 anos numa delas, o Canal Belém as margens do Rio de mesmo nome, no bairro do Boqueirão, Zona Sul.

Já documentei em diversas matérias que Curitiba também tem aguda desigualdade social:

No Tatuquara, Caximba [Z/S], CIC, São Miguel e Augusta [Z/O], Cachoeira [Z/N], Parolin [Z/C], pra citar alguns exemplos

Fiz o mesmo em São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza, Belém, Florianópolis-SC, Santos-SP, etc.

Dique do Tororó, famoso parque as margens da lagoa. Olhando pra um lado vemos o Estádio da Fonte Nova (esq. na imagem).

E também no México, Argentina, Colômbia, Chile, Republica Dominicana, Paraguai e África do Sul,

Pesquisando pela internet até mesmo nos EUA e Europa, porque a coisa lá também está ficando complicada.

Então sei que a desigualdade social não é um problema exclusivo da Bahia ou mesmo do Nordeste.

No entanto, em Salvador essa situação é muito gráfica, pois quase oni-presente. Parecido com o que vemos no Rio de Janeiro.

De novo a Fonte Nova – no detalhe a loja do E. C. Bahia, anexa; não torço pro Tricolor Baiano, se tivesse visto a loja, a sede do clube ou alguma torcida organizada do E. C. Vitória teria clicado também. Portanto não inicie uma discussão clubística porque aqui não é o espaço pra tanto.

No Recife mesmo os bairros de Boa Viagem e Pina, na Zona Sul, têm várias favelas, a mais famosa delas, Brasília Teimosa, a beira-mar.

Só que em Pernambuco as favelas são planas e não têm tantas lajes. Então elas não são tão visíveis quanto.

Na Bahia os morros favelizados estão por toda parte, e suas casas já nem são casas e sim prédios artesanais.

Com 3, 4 ou mesmo 5 andares, mesma situação do Sudeste.

Ainda no mesmo local, próximo ao estádio; virei a câmera pra direita: além das Baianas Orixás (alusão as religiões afro-brasileiras da Umbanda/Candomblê), vemos que enormes porções da cidade têm morros favelizados – isso que aqui estamos perto do Centro e dos bairros e praias de padrão mais elevado.

Repito, sei que todo lugar tem desigualdade social, mesmo o que se conhece por “1o mundo”.

E eu gosto de periferia, gosto de favelas. Não por outro motivo morei em uma.

Ainda assim, não sejamos hipócritas nem tentemos tapar o sol com peneira grossa.

A proliferação descontrolada de favelas é um problema gravíssimo social em si mesmo.

E gera diversos outros problemas, não o menor deles a violência urbana, que no Brasil as vezes atinge contornos de conflitos bélicos.

Ainda as margens do Dique do Tororó. Vimos acima o ‘lado A’ de Salvador, sua parte turística: Elevador Lacerda, Pelourinho, praias, o parque e estádio ao redor da lagoa. Agora vamos ao ‘lado b’, a dura realidade de como vive boa parte do povo, suas classes mais humildes. As favelas em morro estão praticamente em todos os bairros. Aqui, repetindo, ao lado do Tororó, Zona Central.

É muito impressionante andar por Salvador e ver essa situação.

Não sou de direita, e por isso não rotulo as favelas e periferias como “reduto de bandidos”.

Exatamente o oposto sendo verdadeiro. Gosto do subúrbio.

Sei, inclusive na prática, que a imensa maioria de seus moradores são honestos, e trabalham duro pra sustentarem suas famílias.

Entretanto, as coisas são como são. Nenhum discurso da esquerda de que “somos todos iguais” pode mudar essa realidade.

Corredor da Vitória (r). Destaquei o teleférico e clube particular de um prédio. Ao lado a favela da Gamboa, entre a avenida e o mar.

Voltando ao aeroporto de metrô, comentei com minha esposa que a capital baiana é muito parecida com a periferia paulistana, que conheço muito bem.

Aí disse a ela: “mas essa é a diferença. Em SP, a cidade é assim nos arrebaldes. E aqui, por toda parte”.

É Salvador, irmão. Seja bem-vindo.

……..

Gamboa, Salvador, em escala maior (r) .

Veja a imagem a esquerda, o Corredor da Vitória. O bairro tem esse nome porque nele se deram as comemorações da Independência da Bahia em relação a Portugal.

Afinal, a Coroa Portuguesa tentou manter a Bahia sob seu tacão, não reconhecendo a adesão dela a Independência do Brasil em 1822. Uma breve guerra se seguiu.

O Império Brasileiro sitiou Salvador por mar, com ajuda de mercenários ingleses contratados pra esse fim.

Foto tirada do Largo da Vitória: a esquerda os prédios luxuosos da Avenida Sete. Logo abaixo a favela chamada Vila Brandão. No meio da imagem o Iate Clube da Bahia (eles ainda preferem a grafia inglesa, ‘Yatch’), notamos o azul-clarinho de suas piscinas – pra amenizar um pouco tanta disparidade social, o ‘Yatch’ Clube promove na vizinha V. Brandão aulas de futsal e capoeira no projeto ‘Vila dos Esportes’; por fim, na pedra atrás da Igreja de Santo Antônio da Barra há mais uma favela, uma vila de pescadores que aparentemente não conta sequer com água corrente, luz elétrica ou saneamento.

Sem conseguir receber suprimento, os portugueses amealharam tudo que puderam carregar e fugiram, na madrugada de 1° pra 2 de Julho de 1823.

Em 2 de Julho, por ali marcharam vitoriosas as tropas que derrotaram Portugal, expulsando a antiga metrópole e incorporando a Bahia ao Brasil.

A Avenida 7 de Setembro, popularmente apelidada “Avenida Sete”, vai do Centro a Barra.

O trecho de mais ou menos um km a partir do Largo da Vitória é conhecido assim, o “Corredor da Vitória”, como é notório.

Ali se localizamos prédios mais caros da Bahia, e de todo Norte/Nordeste.

Alguns dispõem de teleférico e clube (marina e restaurante) exclusivo.

No entanto, logo ao lado, espremida no barranco entre a avenida e o mar está a favela da Gamboa.

Ondina, olhando pra Barra (um dos cartões-postais mais famosos de Salvador, porque ali o Sol se põe no mar ao lado daquele edifício maior a esq., como veremos logo a seguir); porém foque nos prédios mais baixos, sem elevador, ao lado da árvore, a dir. na cena.

É certamente a imagem que resume os contrastes em nosso país.

Casas simples se comprimem contra o barranco que logo ao lado alguns descem de teleférico particular.

UMA COSTA ENTRECORTADA, FÍSICA E SOCIALMENTE –

Salvador é uma península de relevo acidentado. Muitos morros entre as costas, as vezes formando pequenos planaltos.

Então claro que há regiões de classe média-alta, algumas bastante verticalizadas, no estreito planalto e (relativamente) longe das praias.

Entretanto, no geral a maior parte dos bairros de alta-burguesia e elite se concentram nas planícies a beira-mar.

Vistos mais de perto os prédios que acabei de citar na legenda anterior.

A capital baiana tem duas costas, a da Baía e a do Atlântico, como todos sabem.

O Centro fica as margens da Baía. Apesar disso a maior parte das regiões mais caras estão do outro lado, no Atlântico.

Ou talvez exatamente por isso, já que o Centro é um dos bairros mais violentos da cidade.

A orla da Baía é a periferia da cidade, o chamado ‘Subúrbio Ferroviário. Mas há uma exceção:

Aproximando ainda mais a câmera, vemos uma das favelas de Ondina.

O bairro que tem os prédios de padrão mais elevado de Salvador é o Corredor da Vitória, que está do lado da Baía.

Depois dele há o cabo, ou seja a península acaba, há o encontro das águas fechadas da Baía com o mar aberto.

Vizinha a Vitória está a Barra, e a seguir Ondina. Na sequência Rio Vermelho, Amaralina, Pituba e a Costa Azul.

O litoral soteropolitano é entrecortado, nas dimensões física e social.

Próximas 4: Centro, próximo a Estação Central de trens. Colagem da avenida que corta a Cidade Baixa, e o morro que a separa da Cidade Alta ao fundo. Vou mostrar em detalhes tanto o barranco atrás da igreja a esq. na tomada (prox. cena) quanto sobre o barracão a dir., ao lado do ônibus azul (a seguir).

Quanto ao terreno, são muitas falésias, pequenos cabos e penínsulas.

Em relação as pessoas, a forma como vivem os homens, também há uma grande oscilação.

Alguns pedaços da costa são bastante verticalizadas e aburguesadas.

No Corredor da Vitória não há praia, pois o mar encontra o continente numa falésia (penhasco).

Da Barra pra frente, ao contrário, o que não faltam são belas praias. Aí que notamos aquela heterogeneidade tão marcante de Salvador:

Favela na encosta – em pleno Centro!

Na Barra especialmente, mas em menor medida também em Ondina e Rio Vermelho, há muitos edifícios de padrão elevado, embora em meio a alguns morros favelizados.

Já na vizinha Amaralina a situação não poderia ser mais distinta. Quase não há prédios.

E mesmo a poucas quadras da  beira-mar predomina um perfil mais de periferia, sobrados artesanais onde se “enche laje” sem muita fiscalização do poder público.

O barracão um dia foi usado como estação ou garagem de trens – trilhos desativados ainda estão na via; acima dele temos mais uma síntese de como vive o povo em Salvador.

Quando se entra em Pituba, mais uma vez a realidade se altera em 180°.

Trata-se de uma das regiões mais verticalizadas da capital baiana.

A Costa Azul, que fica a seu lado (mesmo nome do bairro que me hospedei em Acapulco-México), vai no mesmo embalo. Vocês entenderam.

Regiões abastadas (algumas com mais prédios, quando nos afastamos do Centro há outras de condomínios horizontais) convivem com bairros de classe trabalhadora, e isso na orla.

Composição aguarda partida na estação Central de trens (operou até fev.21), no bairro da Calçada, que também é parte do Centrão. Veja atrás o morro favelizado, e isso em pleno Centro da cidade, não custa enfatizar de novo. Imagine como são os bairros as margens dos trilhos dali pra frente. Por isso a orla da Baía de Todos os Santos é chamada de ‘Subúrbio Ferroviário‘.

O SOL NASCE E SE PÕE NO MAR: PRIVILÉGIO SOTEROPOLITANO –

A capital baiana é uma península entre o Oceano Atlântico e a Baía de Todos os Santos, dizendo mais uma vez.

São nada menos que 80 quilômetros de orla, apenas no município.

O litoral de Salvador é maior que o do estado inteiro do Piauí!

Tá certo, dos 17 estados brasileiros que são banhados pelo Atlântico, o Piauí foi o menos agraciado pelo contato com o mar, são apenas 66 km.

Próximas 3: mesmo perto das praias do Atlântico a situação as vezes é difícil. Tirei essa foto de dentro do metrô, alias está visível a grade de proteção do mesmo.

Porém a capital baiana sozinha não fica muito atrás do litoral do Paraná, que tem 100 km, 2° menor do país.

Além de bem grande, a orla soteropolitana é bastante recortada.

Tudo isso aumenta sua extensão, claro. Mas produz um outro efeito:

Na maior parte das cidades brasileiras litorâneas, o sol nasce no mar.

Há esperança: perto do aeroporto (o avião já se prepara pro pouso). De novo, note o gradil do metrô – a melhoria dos transportes levando progresso pra periferia, tornando de classe-média partes antes depauperadas; vi exatamente a mesma cena em Santos-SP..

Algumas têm o privilégio de ver ele se pôr no oceano (ou pelo menos num belo lago).

Porém creio que apenas Salvador pode ver o nascente e o poente do Astro-Rei no mar.

Salvador e o sol. Salvador é o sol, pras religiões ameríndias que o Cultuam de forma mística.

…………

Voltemos a descrever o que presenciei na cidade em 2020.

VÁRIOS HOTÉIS FECHADOS:

SITUAÇÃO BEM DIFÍCIL –

A síntese: estação de metrô em 1° plano, a periferia (ao fundo) está enfim recebendo melhores cuidados – parecido com o que vi em Medelím/Colômbia.

A coisa já é complicada por si mesmo, não é segredo pra ninguém que os índices sociais do Nordeste não são tão robustos quanto no Centro-Sul.

A economia de Salvador tem no turismo uma de suas principais fontes de empregos e receitas (impostos).

Porém desde a 2ª metade da década de 10 – do século 21, evidente – a economia brasileira desacelerou.

Próximas 3 imagens: hotéis fechados, cena comum em Salvador, situação preocupante pois o turismo é uma das bases da economia local. Esse na Barra. A seguir na Avenida 7 de Setembro, o “Corredor da Vitória“.

Situação ruim que foi tornada catastrófica com a epidemia de Corona-Vírus que eclodiu em 2020.

Essa doença é um assunto altamente polêmico, como não poderia deixar de ser, e não vamos aqui debater as causas.

Vamos falar apenas de uma das consequências, no que toca a Salvador,que é nosso foco:

Vários hotéis estão fechando, boa parte deles em definitivo. Cliquei exemplos no corredor da Vitória, Barra e Ondina. 

Alias em Ondina haviam 2 grandes hotéis um em frente ao outro com as portas lacradas, não irão reabrir tão cedo se é que algum dia.

Diversos desses estabelecimentos estão até murados, como precaução pra evitar invasões de sem-teto.

Nesse do Corredor da Vitória visto ao lado o prédio que abrigava o estabelecimento inclusive já está sendo demolido.

Aí como vai ficar? Quem vai sustentar essas famílias dos funcionários mandados embora? Responda quem puder a essa pergunta.

Pior que não se restringe a Bahia: no Rio de Janeiro presenciei (e fotografei, breve publico) a mesma cena. Que Deus nos ajude!!!

Ondina. Do outro lado da rua estava também fechado – e este em definitivo – o Hotel Othon, que operou em Salvador por mais de 4 décadas (1975-2018), e tinha um dos maiores centros de convenções da cidade, com capacidade pra 3 mil pessoas. Me lembrei do Centro de Joanesburgo, África do Sul.

METRÔ NA ORLA , SUBÚRBIO FERROVIÁRIO NA BAÍA: O ‘LADO A’ E ‘LADO B’ DE SALVADOR –

A cidade começou as margens da Baía de Todos os Santos.

Daí o nome do estado, obviamente, antigamente a grafia era diferente, se escrevia ‘bahia’ com ‘h’.

(A Grande Acapulco no México é até hoje conhecida por ‘Bahía’, pois em espanhol ainda é assim.)

Da linguística desse idioma-irmão ao nosso luso falamos outro dia. Aqui, o tema é Salvador.

A princípio, no início do século 16, tentaram construir a cidade na Barra, que é o ponto de encontro da Baía com o Oceano.

Salvador, lado ‘A’, lado ‘B‘: na costa da Baía circulou, até 2021, um trem de subúrbio em condições precárias (quando estive lá, em 2020 estava nos últimos meses de vida). Antes gerido pela CBTU, nos derradeiros tempos foi operado pela CTB, estatal estadual que significa ‘Cia. de Transportes da Bahia’.

Tanto que o forte de Santo Antônio da Barra data de 1534. Se havia um forte, é porque já haviam construções portuguesas a serem protegidas.

Foi na Barra que Salvador foi oficialmente fundada, em 1549.

No entanto a região era vulnerável a ataques, tanto de estrangeiros europeus quanto dos nativos da terra.

No fim do século 16 Inglaterra e Holanda intensificam suas tentativas de tomar posse das possessões portuguesas na América.

Em 1605 Portugal decide levar a sede da capital de sua colônia pra costa interna, as margens da Baía, tirando-a da costa Atlântica.

Em compensação, desde 2014 a cidade conta com metrô, que além de facilitar o transporte vem levando progresso a periferia.

Natural, uma povoação as margens de uma baía é muito mais fácil de defender de ataques de piratas que em mar aberto, por motivos óbvios.

Em 1605 (ou 1608, as fontes divergem) inicia-se o planejamento de um forte na Baía.

Em 1623 Portugal inaugura o Forte de São Marcelo, também conhecido como Forte do Mar ou de Nossa Senhora do Pópulo.

Em João Pessoa-PB ocorreu o mesmo: a cidade começou ao lado do mar. Só que a povoação foi atacada.

Por isso transferida pra um local de mais fácil defesa contra invasores.

No caso o forte foi construído numa colina as margens do Rio Paraíba (acessível aos navios amigos, inacessível aos inimigos).

Voltando a Bahia e sua capital, nos seus primeiros séculos a Costa Atlântica era um local distante, pouco povoada.

Salvador se desenvolvia em volta da Baía da Todos os Santos.

Próx. 3 imagens: Pelourinho e imediações. Aqui uma típica Baiana, ao fundo o casario antigo, também visto nas tomadas a seguir.

Até fins do século 19 e começo do 20, a Praia da Ribeira, ali localizada, era o reduto da elite e alta burguesia da capital baiana.

Até hoje vemos imponentes casarões na beira-mar da Ribeira que atestam esse passado de luxo.

Porém o século 20 trouxe grande progresso material ao planeta, como todos sabem.

A chegada do automóvel e a construção e melhoria das vias públicas possibilitou que a cidade se expandisse cada vez mais rumo a costa de mar aberto.

Além disso, a pirataria deixou de ser um problema como fora em tempos anteriores.

Assim, os moradores mais abastados foram deixando a orla ocidental soteropolitana, a da Baía, e se instalando na orla oriental, a Atlântica.

Com isso, as duas costas de Salvador passaram a expressar uma dicotomia cada vez mais aguda.

A parte aburguesada no Oceano, a porção da baía foi se tornando cada vez mais a periferia da cidade.

Praça da Sé sob chuva.

Por quase 5 anos, de 2016 a 2021, esse contraste podia ser visto até no transporte:

Na Costa Atlântica existe um moderno metrô, construído sobre a Avenida Paralela.

Enquanto que a outra costa, a da Baía, contava até pouco tempo atrás com um trem de subúrbio que funcionava em péssimo estado.

Entrada da Cidade Alta do Elevador Lacerda, ao lado da praça da tomada anterior.

Por isso os bairros as margens dessas praias são conhecidos em Salvador como “Subúrbio Ferroviário”.

Em fevereiro de 2021 esse trem foi aposentado pra dar lugar a um moderno VLT. Aí sim!

Quando o VLT estiver pronto os bairros do ‘Subúrbio’ terão acesso a um transporte de qualidade, já disponível no Miolo e Orla com as 2 linhas de metrô.

Praia de Ondina: na praça lembrei de novo do Centro de Medelím, na Colômbia, que tem estátuas parecidas; nos detalhes as bicicletas de aluguel disponibilizadas por um banco e a rua com o lema da Aeronáutica, ‘Senta a Púa‘.

Os primeiros vagões, fabricados na China, tem previsão de chegada ao Brasil em abril de 21.

Veremos quando serão concluídas as obras dos trilhos e estações do VLT – as do metrô atrasaram bastante.

Seja como for, em algum momento dessa década de 20 que se inicia (escrevo em 21) o VLT estará em funcionamento. Oxalá, assim seja!

Porque olhe, o pessoal do ‘Subúrbio Ferroviário’ merece um transporte de qualidade.

O trem suburbano que o nomeia era totalmente precário, deixava a desejar em muito.

Foto de dentro do Elevador Lacerda: Cidade Alta a esq., Baía de Todos os Santos a dir. com sua marina, e Corredor da Vitória ao fundo (essa é de autoria de um colega).

Tive a oportunidade de andar nele num de seus últimos meses de funcionamento.

como dito, na matéria específica sobre o transporte, onde relato tudo em detalhes.

Aqui, basta dizer que a tarifa era irrisória, somente R$ 0,50.

Sim, cinquenta centavos – e ainda tinha meia-passagem pra estudantes!

Era cobrado algum valor apenas pra não dizerem que era de graça.

Avenida beira-mar. O ônibus azul ao fundo é municipal, da padronização Integra Salvador. O vermelho é metropolitano, copiou a pintura numa homenagem.

E mesmo nesse preço simbólico, que obviamente não cobre, os custos o movimento era baixíssimo.

O trem era sub-utilizado, exatamente porque a qualidade dos serviços era péssima.

Pra você ter uma ideia, o intervalo entre as viagens era de 40 a 45 minutos.

Só pegavam trem aqueles que realmente não podiam arcar com o ônibus – que custa R$ 4,20 quando escrevo (como comparação em Curitiba é 4,50, e em SP 4,40).

Pituba, um dos bairros mais verticalizados da orla.

Então, como dito, na 2ª metade dos anos 10 o contraste entre as costas da cidade era expresso até nos modais sobre trilhos, que não poderiam ser mais distintos:

Na Orla (e também no Miolo) metrô com ar-condicionado, de domingo a domingo.

Intervalo entre as viagens de cerca de 6 minutos no meio do dia (3 no pico). Estações e trens seguros, policiados.

Sim, a tarifa custa 4,20. Mas pagando com cartão dá direito a uma viagem de metrô e duas de ônibus, municipais ou metropolitanos.

Se fosse somente de ônibus, o usuário já pagaria os mesmos 4,20. Ou seja, pega um ônibus perto de casa até a estação do metrô.

Dali percorre de forma rápida, segura e relativamente confortável o trecho mais longo. E ao descer na estação pega outro buso que o deixa no trabalho. 

ÁFRICA NA AMÉRICA” – Família aproveita o domingo na Praia de Ondina, sintetizando o povo de Salvador, que é uma das metrópoles mais negras do mundo fora da África: 80% de seus moradores são afro-descendentes.

No Subúrbio Ferroviário a situação era diametralmente oposta: a única vantagem do antigo meio de transporte era o preço, praticamente gratuito.

Sabe aquele ditado ‘não paga, mas também não leva’? Com o trem suburbano de Salvador era o mesmo. 

Pagava-se muito pouco pela tarifa, verdade. Com uma moeda de R$ 1 você ia e voltava. Em compensação, não tinha integração com ônibus nem metrô.

Se precisasse mais uma condução pagava de novoe a maioria precisava, difícil quem more e também trabalhe ao lado da estação, aí o trem já saía mais caro que o metrô/ônibus.

Mesmo quem usava só o trem, o custo era baixo mais a qualidade do serviço idem. 40 minutos de espera entre as viagens, ou mais.

Essa e as próximas 4 fotos são no mesmo local da anterior, e mostram o pôr-do-Sol na Praia de Ondina. Há um muro entre areia e avenida. Várias praias de Salvador têm esse desnível pra rua, você tem que descer por rampas ou escadas. Só na Cidade do Cabo/África do Sul presenciei esse fenômeno na mesma magnitude.

Num vagão sem ar-condicionado (é sabido que a capital baiana é bem quente).

Pra não falar que da insegurança, assaltos e apedrejamentos eram frequentes.

No começo dos anos 90 o trem já havia deixado de operar aos domingos justamente porque a população que voltava das praias depredava as composições e estações.

O movimento era muito baixo. Apenas os que não podiam arcar com o ônibus, iam de trem. Quem podia preferia viajar de busão.

Se o modal sobre trilhos, mesmo sendo quase gratuito e mais rápido que o sobre pneus, não consegue competir com este último algo está errado.

De lado o mesmo prédio que será visto 3 vezes (em outro ângulo) na sequência abaixo. Destaquei o comércio no térreo.

É porque o serviço é ruim. No trem suburbano de Salvador era de fato precário.

Presenciei o mesmo na África do Sul – as grandes cidades desse país têm uma extensa rede de trens urbanos, chamada ‘MetroRail’.

Só que quase ninguém usa, exceto os os que não têm mesmo outra opção por falta de recursos financeiros, todos os demais vão de van (preferencialmente) ou de ônibus pro trabalho.

O SOL SE PÕE NO MAR – Já seguimos com o texto. Antes um carrosel de imagens mostrando o astro-rei adentrando o oceano, em Ondina, e o começo da noite.

Domingo de sol na Praia de Itapuã, na periferia da cidade – a dir. em escala maior: 90% das pessoas são negros ou mulatos.

O “DIA DE ZUMBI” NÃO É FERIADO: É SALVADOR EM PRETO-&-BRANCO –

Não sou de direita nem de esquerda, porque não concordo com muitas coisas que os dois lados falam. Eu nem sequer voto.

Vou apenas relatar o que vi na cidade, independente de ideologia.

Salvador é a capital mais negra do Brasil, de cada 5 de seus moradores nada menos que 4 são afro-descendentes.

Conhece obviamente a música que diz “É bom passar uma tarde em Itapuã, ao Sol que arde em Itapuã”.

Pois bem, aceitei o convite. Fui passar uma tarde de domingo na Praia de Itapuã.

Aqui e a dir.: Morro do Cristo, na Barra. Muita gente curtia no parque esse mesmo fim-de-semana de tempo bom, depois de uma semana bem chuvosa. Nessa imagem vemos a Praia do Gaban, entre Barra e Ondina.

Os banhistas ali presentes são as pessoas mais humildes (2 fotos acima, na verdade a mesma em diferentes escalas).

Cerca de 90 a 95% deles eram negros ou mulatos naquele belo dia ensolarado.

Inversamente, na Barra e imediações, como o parque no Morro do Cristo (esq.), a imensa maioria – 70%, estimando por alto – eram brancos.

Há brancos na periferia soteropolitana? Sim, claro que há. Mas são minoria.

Inversamente, há negros nas classes média-alta e alta? Sim. Igualmente também uma minoria na alta burguesia, na elite ainda mais raros.

Os brancos são imensa maioria dos frequentadores. A Cavalaria da PM está a postos, tanto ali quanto nas praias da periferia.

Nosso Brasil é realmente um país imerso em contradições.

Muitas vezes as classes trabalhadores passam por dificuldades, de norte a sul desse país-continente.

Porém em Salvador esse contraste se expressa mais nitidamente em termos raciais que nas outras capitais.

Isso se refletia nas pessoas que frequentavam esses espaços de lazer. Em Itapuã os brancos eram raros.

Calçadão da Barra, ao lado: mesma situação, os de pele alva predominando (no prédio espelhado fica o consulado da Espanha).

Não chegava ao ponto da República Dominicana (onde na periferia não há caucasianos), mas ficava próximo disso.

Nas regiões mais caras da cidade, ao contrário, os negros eram minoria.

Eu faço um tipo peculiar de turismo, sempre procuro conhecer os bairros mais caros e também os mais distantes, pra fazer o contraste.

Por isso vi, com meus próprios olhos, o quanto em Salvador a questão de classe está ligada a raça das pessoas.

Na mesma Praia do Gaban vista um pouco mais pra cima na página, o Clube Espanhol – quadras de vôlei-de-praia vazias porque o Sol está no pico, no fim-de-tarde deve bombar.

O alinhamento é 100%? Não. Há brancos nos morros e subúrbios, e negros morando nos prédios mais elegantes. Afinal, no Brasil não há ‘apartheid‘.

Existem exceções. Mas minoria de parte a parte. Na maior porção das vezes, digamos em 70 a 80% dos casos, haverá o alinhamento.

Presenciei isso ao frequentar os dois lados da cidade. Porém poucos fazem o que eu fiz.

Quase todas as pessoas preferem um turismo mais convencional:

Essa e a seguir: parque do Morro do Cristo, olhando a Praia do Farol da Barra ao fundo.

Se restringem aos pontos turísticos mais conhecidos.

Como Elevador Lacerda, Mercado-Modelo, Pelourinho, Corredor da Vitória, praias, restaurantes badalados, ‘shoppings’, etc.

Esses visitantes verão muitos negros na capital baiana certamente, no entanto talvez nem se deem conta que ali eles são não apenas maioria, mas amplíssima maioria.

Pois na Barra e no Morro do Cristo era o contrário, os descendentes de europeus quem eram majoritários no local.

Sim, claro. Muitos dos brancos ali eram turistas, vieram de outros estados.

Entretanto muitos eram soteropolitanos da gema, nascidos e criados em Salvador, apenas geralmente em seus bairros mais caros.

Ruas antigas do Centro, na Cidade Alta (nem têm postes, a iluminação é fixada nas casas).

Ou pelo menos imigrantes, oriundos de outras partes mas já muito bem estabelecidos na capital baiana, e obviamente da mesma forma nas regiões abastadas.

Além disso, na sexta-feira, dia 20 de novembro, eu havia planejado andar no trem de subúrbio que até então corria paralelo a orla da Baía de Todos os Santos.

Ele a tempos não funcionava domingos e feriados, porque quando o fazia até a virada pros anos 90 era depredado com frequência. Ao chegar no Centro achei que não conseguiria andar de trem, pois 20/11 é o Dia da Consciência Negra.

Praia da Ribeira, na periferia – nem sempre foi assim, entretanto: todos esses casarões nos lembram que até o começo do século 20 ali era a beira-mar mais cara da cidade.

(Em comemoração a morte de Zumbi no Quilombo dos Palmares, que ficava no atual estado de Alagoas, pertinho da Bahia.)

Portanto, cri, seria feriado e o modal não estaria operando.

No entanto, pra minha surpresa ao chegar na Estação Central ela funcionava normalmente. Fui e voltei a Paripe, no Subúrbio. Óbvio, dia 20 de novembro não é feriado em Salvador.

Ao lado do Cemitério Inglês, o ‘Yatch’ Clube, na Avenida Sete. Um utilitário ‘Jeep’ custa perto de R$ 100 mil (até 150 mil se 0km a dísel; isso quando US$ 1 = R$ 5,50). Dele desembarcou uma criança loira pra se entreter no clube.

Achei curioso. Pois é feriado municipal nas duas principais metrópoles brasileiras, Rio e São Paulo.

Alias é feriado não apenas na capital mas em todo Estado do Rio de Janeiro.

Também é feriado estadual no Amazonas (1° estado brasileiro a abolir a escravidão, bem antes da Lei Áurea), Mato Grosso, Alagoas, Amapá e Roraima.

E foi oficializado igualmente em milhares de municípios do Brasil. Entre as capitais fora as já citadas em Belém do Pará e São Luís do Maranhão

Enquanto isso, no subúrbio: saída da Estação Paripe do trem. Imagem auto-explicativa, após a catraca feira improvisada, negros e mulatos se dirigem a suas casas no morro (ampliado no detalhe). É Salvador em Preto-&-Branco.

Porém em Salvador, que é a capital mais negra do Brasil, não é o caso. É dia normal de trabalho.

Assim é Salvador. Suas belezas, seus contrastes. Nossa viagem está apenas começando.

…….

Está concluída a Série sobre a Bahia:

É BOM PASSAR UMA TARDE EM ITAPUÃ: É DIA DE DOMINGO EM SÃO SALVADOR (publicado em novembro de 2021)

Comecei meu último dia no Nordeste na Barra, que é o único lugar de Salvador que os brancos são maioria na rua. Portanto uma região de elite.

Praia de Itapuã.

E, como diz a música, fui “passar a tarde em Itapuã” – uma praia da periferia, onde exatamente ao inverso 95% das pessoas eram negras ou mulatas.

A trilha sonora só poderia ser o ‘pancadão’ do ‘funk’. Daquele jeito.

Falo do renascimento do Salvador pros turistas: uma cidade acolhedora, limpa e segura.

Por outro lado, as ofertas dos guias e vendedores no Pelourinho extrapola pra insistência desrespeitosa e mesmo pra uma extorsão velada.

Pichação em Salvador, com seu estilo inconfundível (no destaque bicicletas que um banco disponibiliza pra aluguel em Ondina).

Abordo também da pichação em muros, que tem ‘alfabeto’ e regras próprias.

Além de vários aspectos soteropolitanos: da origem desse gentílico, que remonta ao grego;  até o gosto pelo churrasco, compartilhado com o Sul do Brasil.

2 LINHAS DE METRÔ, SISTEMA DE ÔNIBUS RENOVADO, ELEVADORES, E BREVE VLT, CORREDORES E ARTICULADOS: O TRANSPORTE EM SALVADOR – Todos os modais, dos anos 70 até hoje e os planos pro futuro:

Metrô impulsionando o desenvolvimento (r).

Padronização Integra Salvador, o metrô que foi inaugurado em 2014 e já tem 2 linhas, o trem suburbano que operou por 160 anos, o futuro VLT que entrará em seu lugar;

O “Brancão” do começo desse novo milênio (abaixo), quando quase todas as viações adotaram uma “padronização informal” embranquecendo a frota – mas nem todas, a BTU foi uma das que resistiu;

Deu Branco“: a ‘padronização informal’ de Salvador, antes da padronização oficial (*).

O tróleibus que existiu nos anos 60, a viação estatal Transur, as primeiras tentativas de padronização (‘Grande Circular’ e TMS), os articulados – que acabaram mas logo voltarão com o BRT, os elevadores que conectam a Cidade Baixa a Cidade Alta.

SOTEROPOLITANO –  Publicado em janeiro de 2017, antes de eu ter ido pessoalmente, portanto:

PUXADINHO NO PRÉDIO, GENTE NAS CAÇAMBAS, GARAGENS NA VIA PÚBLICA:

SALVADOR TAMBÉM É AMÉRICA! E COMO É!!!

Em algumas fotos puxadas do ‘Google Mapas’, mostramos cenas da periferia da cidade.

Ao lado “puxadinho no prédio“:  há um edifício, legalmente construído, com alvará e tudo.

E aí sem alvará alguém sobe mais um andar por conta.

Orla de Salvador: buso municipal em azul, o vermelho metropolitano imita a pintura.

Essa é no bairro de Perambués, mas é situação comum por todo subúrbio soteropolitano.

Flagrei também pessoas viajando sem proteção nas carrocerias de caminhões, calçadas das vias públicas que foram transformadas em estacionamentos pros prédios em frente, e por aí vai.

América Latina, né? Fazer o que?

Deus proverá

A “Cidade Sangue-Quente”: Recife, Pernambuco

“choque cultural”: um curitibano no recife

O Recife é lindo, com certeza (essa panorâmica é um quadro que havia no hotel).

Por Maurílio Mendes, O Mensageiro

Publicado em 24 de fevereiro de 2021

Mensagem-portal da viagem ao Recife. No fim da matéria ancoro as demais reportagens, conforme eu as vá publicando.

Maioria das imagens de minha autoria. As que forem puxadas da internet identifico com um ‘(r)’ de ‘rede, e sempre que possível passo ligação pras fontes.

Em novembro de 2020 Deus permitiu e realizei um dos maiores sonhos de minha vida: pude conhecer o Recife. Foi definitivamente uma experiência extática!!

Por dois motivos, o 1° e mais importante é porque Amo essa cidade, do fundo de minha Alma e Coração.

E, tão importante quanto pra gerar esse êxtase, é porque sou candango de nascimento mas curitibano de adoção, morei toda minha vida aqui em Curitiba.

Mas o contraste social é agudo. Favela de palafitas dentro do rio quase ao lado do Centro da cidade.

Poucas cidades no mundo são tão diferentes quanto as capitais pernambucana e paranaense.

O Recife é quente, Curitiba é fria – e por isso me refiro também a temperatura física evidente, mas vai muito além disso.

Não é uma questão de julgamento, ok? Não estou dizendo que uma é melhor e a outra pior.

No entanto, que são bem diferentes, disso não resta dúvidas. Foi um “Choque Cultural”.

O Recife é belo, e também perigoso! Até mesmo pra tomar um simples banho de mar: cerca de 90% dos ataques de tubarão no Brasil ocorrem aliplacas nas praias alertam pros riscos, os surfistas são as maiores vítimas.

Você se lembra desse quadro que havia no Fantástico no começo da década de 10?

Não vejo mídia a muito tempo, nem sei se ainda existe. Só assisti a um episódio, que me foi enviado por emeio.

Funcionava assim, a produção da emissora de televisão escolhia uma pessoa pra participar.

E a seguir a levava pra viver um tempo do outro lado desse Brasil, que é um verdadeiro país-continente.

Sempre em condições muito diferentes daquela que a pessoa mora em sua cidade de origem, daí o nome da atração.

No único capítulo que tive a oportunidade de assistir, houveram 2 ‘choques culturais’:

1) Uma curitibana da alta burguesia, classe média-alta mesmo que andava num carrão, foi levada pros Lençóis Maranhenses, onde nem energia elétrica havia na época.

Se é arriscado surfar no mar, que tal na lataria do ônibus? O Recife é a capital nacional e talvez mundial de ‘Surfe no Busão‘, e faz tempo, viu? Essa cena é dos anos 80, um tróleibus da CTU – ainda mais temerário, pois aqueles fios na traseira são de alta-tensão; acima da manchete imagem atual de um ônibus da Globo já no padrão SEI mostrando a mesma coisa (ambas as tomadas baixadas da rede).

E 2), Um negro da periferia de Salvador da Bahia foi trazido pra residir um tempo em Pomerode-SC.

Sendo essa uma pequena e conservadora cidade do interior do Sul de colonização alemã.

Ali quase não há pessoas afro-descendentes, pelo menos até recentemente.

Enquanto que Salvador é a capital mais negra do Brasil, 80% dos habitantes são dessa etnia.

Aliás, estive também na capital baiana, e igualmente estou produzindo uma série relatando o que vi nessa que foi a 1ª capital do Brasil.

Hoje, entretanto, o foco é a capital de Pernambuco. Disse acima:

Toda vida sonhei em ir ao Recife. Deus permitiu, o dia chegou. Vamos contar nessa série de matérias o que observei na cidade, a cena aqui retratada se materializou, fui de metrô a Camaragibe – e também a Jaboatão. Já é uma diferença marcante entre as capitais de PE e PR: o Recife conta com metrô, 1º do Nordeste. Enquanto Curitiba não tem essa modernidade, provavelmente não terá nunca, pelo menos não por muitas décadas.

Poucas cidades no mundo são tão diferentes quanto as capitais pernambucana e paranaense. O Recife é quente, Curitiba é fria. ”

De fato assim é. Na dimensão física-densa, aquela que os termômetros medem.

Entretanto, digo de novo e é óbvio, principalmente no jeito de ser de seus povos.

Em outra mensagem da série falamos melhor do clima, da parte física.

Primeiro vamos abordar a diferença psicológica, espiritual, entre o curitibano e o recifense.

Diria que o principal contraste é: o povo recifense é sátiro, o curitibano é sério.

Novamente enfatizo, não é uma questão de tentar determinar qual é melhor ou pior, e sim de reconhecer as diferenças.

VENEZA BRASILEIRA” – O Centro do Recife é composto por várias ilhas, formadas pelo encontro de 2 grandes rios – Capiberibe e Beberibe – com o mar. Por suas muitas pontes e canais/rios, a cidade é conhecida por ‘Veneza Brasileira‘ (ou ‘Veneza Americana’).

Em todo o planeta as pessoas do povo, as classes mais humildes, são menos formais, pela própria natureza de como as coisas são.

Isso bem esclarecido, vamos lá. A questão é que no Recife, a sociedade formal, estabelecida, reconhece a ‘sabedoria popular’, se quiser ver assim.

E adota como denominações oficiais os nomes populares, criados e consagrados pelo povão.

“DE VOLTA AO PLANETA DOS MACACOS”. OU SE PREFERIR….BEM-VINDO AO RECIFE, A CIDADE SANGUE-QUENTE –

Exemplifico com 2 postos de saúde (U.S.) recifenses: Planeta dos Macacos – na Zona Oeste da capital – e Maria Farinha – no subúrbio de Paulista, Zona Norte do Gde. Recife. É isso mesmo que você leu, veja as fotos mais abaixo.

Aqui e a direita: famosa Praia de Boa Viagem (Zona Sul), que é o m2 mais caro de Pernambuco e um dos mais caros do Brasil.

Oras bolas, pode ter certeza que o inferno irá congelar antes de Curitiba batizar uma U.S. dessa forma bastante exótica.

O mesmo vale pra linhas de ônibus como ‘Bola na Rede’, ‘Carnaval’ ou ‘Festa no Morro‘ – no entanto essa é a realidade recifense.

Salvador tem uma ‘comunidade’ chamada da mesma forma de Planeta dos Macacos. Fica próxima ao Aeroporto 2 de Julho.

Nos anos 90 chegou a ser murada ao seu arrepio pra ficar escondida de quem passava na avenida, como igualmente aconteceu na famosa favela ‘Cidade Oculta, na Zona Oeste de Buenos Aires, durante a ditadura argentina.

Adivinhe? Não tem nenhuma U.S. ou linha de busão que ratifique essa curiosa alcunha na Bahia.

Alias portanto nesse caso a disparidade não é nem entre o Recife e Curitiba, mas eu arriscaria dizer entre o Recife e o mundo.

Nem nos outros estados do Nordeste vemos esses nomes populares elevados ao reconhecimento oficial.

E olhe que Fortaleza-CE (que visitei em 2011) é a ‘capital nacional do humor’.

Praia de Piedade (também na Z/S), em Jaboatão, vizinha a Boa Viagem e quase que um ‘prolongamento’ desta.

Tanto que Chico Anysio, Renato Aragão, Tom Cavalcante, Falcão, Tiririca, entre muitos outros, vieram de lá.

Também fui a João Pessoa-PB (2013) e Salvador (2020).

Conheço razoavelmente as demais capitais pelo ‘Google Mapas’.

E em nenhuma delas me deparei com algo remotamente parecido.

Claro, os mais humildes não são beneficiados pelo sistema.

Creio que não estou revelando nenhum segredo ao dizer isso. Por esse motivo eles têm menos compromisso com as ‘regras do jogo.

Colagem mostra o Centro (mudei o céu pelo computador e você percebe as emendas. A intenção não é enganar ninguém, e sim mostrar uma panorâmica de quase 180°).

Inclusive na hora de criarem os apelidos de seus bairros, vilas e ‘comunidades’.

Isso é universal, e ocorre mesmo nos EUA, que ainda são formados majoritariamente por brancos anglo-saxões (‘WASP’).

Até nesse país os bolsões que abrigam esses depauperados – como acampamentos de sem-tetos, que estão aumentando muito – têm nomes curiosos como “ObamaVille” ou “TrumpVille”.

A capital pernambucana é uma cidade muito antiga. Essa é a 1ª ponte do Brasil, erguida por Maurício de Nassau.

Se é assim entre os ‘WASP’, muito mais o é entre os latinos.

E Curitiba é uma cidade latina, uma metrópole latino-americana.

Então aqui na capital paranaense e sua região metropolitana as vilas e periferias do subúrbio também ostentam nomes curiosos. Alguns exemplos, entre muitos outros:

Ilha do Sapo’ (Piraquara, Z/L), ‘Morro do Piolho’, ‘Morro do Juramento’ (ambos no CIC, Z/O), a já extinta ‘Favela do Lixão’ (também no CIC), ‘Favela da Tripa’ (Umbará, Z/S). Estou só me aquecendo.

O Recife e seus paradoxos: charrete passa por uma dessas velhas pontes no Centro. Aqui em Curitiba há muitos anos é proibido a circulação de carroças.

Não esqueci o ‘Morro do Amor’ (Tamandaré, Z/N), Buraco do Sapo’, ‘Cantinho do Céu’ (as 2 no Tatuquara, Z/S), ‘Rocinha’ (Cajuru, Z/L), no Rio Barigüi o ‘Bom Menino‘ (divisa entre C. Siqueira e Mosunguê, Z/O), etc. .

Além disso, as 2 favelas da Zona Central, agora urbanizadas, são a Vila Capanema (entre o Jardim Botânico e Prado Velho) e a Vila Parolin (no bairro de mesmo nome).

Antigamente elas eram chamadas, respectivamente, de ‘Vila Pinto’ e ‘Valetão’. 

No Centrão vi muitos pescadores tirando seu sustento das águas. Já rodei uma boa parte da América (e dei uma esticada até na África), mas só nessa cidade eu presenciei essa cena em pleno Centro. Tudo tem uma 1ª vez.

Até mesmo o Jardim Social, que é o 2° bairro de renda mais alta da cidade, era conhecido antes de ser urbanizado como ‘Morro do Querosene‘. Precisa dizer mais?

Então em Curitiba, como no mundo todo, o povo batiza de forma curiosa os bairros.

A questão é aqui, como em quase toda parte, o poder público não ratifica esses apelidos, os ignora, e sempre que possível os retifica.

No Recife é diferente, passam a fazer parte do ‘ethos’ da metrópole. Como já escrevi antes:

Ônibus com esse nome só existe no Recife (r)!

FESTA NO MORRO “: AH, ESSES ÔNIBUS RECIFENSES . . . .

Andava eu (Visão de Rua/’Google’ Mapas) pela Zona Norte do Recife.

Quando me deparei com um busão dessa linha que vocês estão presenciando no veículo azul a dir.: “Festa do Morro”.

Um nome bem inusitado pruma linha de transporte coletivo.

Em 1° plano o Centro de Olinda (Zona Norte – no detalhe placa de um comércio), cidade-mãe do Recife, cujos prédios vemos ao fundo.

Aí eu me recordei que essa é uma característica local.

Esclarecendo, Festa do Morro” não é uma linha fixa que opere o ano inteiro.

No Morro da Conceição, Zona Norte do Recife, há uma enorme festa.

Justamente a Festa do Morro que começou como celebração católica.

Todavia com o passar do tempo se tornou laica, sem estar automaticamente atrelada a igreja.

Casa Caiada, região moderna e praia mais aburguesada de Olinda.

Então, somente na época da “Festa do Morro” existe uma linha com esse letreiro.

Na verdade diversas linhas regulares são reforçadas pra atender esse evento.

E indicam dessa forma pras pessoas saberem, evidente.

Próximas 7 imagens: nomes populares curiosos que acabaram consagrados como postos de saúde (‘U.S.)’, linhas de ônibus e agências bancárias, traço típico recifense. Começamos com 2 U.S.’s. Essa se chama, hum…., “Planeta dos Macacos”!! Sério isso?? No Recife é (foto via ‘Google Mapas’). A seguir ‘Maria Farinha‘ (r).

É digamos um ramal temporário de muitas outras linhas, de várias empresas.

Quando o ‘Google’ fez uma filmagem foi esse o caso, ela estava ativa.

Pois assim que eu saí do Morro da Conceição foi esse o ônibus que vi.

(Nota: em 2012 o passeio descrito aqui foi de forma virtual e não física, conforme já delimitei acima.

Porém em 2020 visitei pessoalmente o Morro da Conceição, embora não com a profundidade que eu gostaria.)

Cidades, como as pessoas, têm personalidade própria.

E o gosto pernambucano é esse, dar nomes curiosos as linhas de ônibus que cortam suas ruas.

Há também busão.

Vejamos algumas das linhas de ônibus urbanos que circulam na capital de Pernambuco e região metropolitana:

Maria-Farinha (ao lado);

Bola na Rede (logo abaixo);

Totó (segue na mesma frequência, ‘totó’ é o popular ‘pebolim’);

Carnaval;

Roda de Fogo;

Chão de Estrelas;.

Linha do Tiro;

Cor do Abacaxi (sim, é ‘Córrego do Abacaxi’ – porém o letreiro estava abreviado, então dizia ‘Cor. do Abacaxi’);

Cor da Areia (mesmo caso: ‘Córrego da Areia’, mas no busão estava escrito ‘Cor’);

Rio das Velhas (dir.);

Porta Larga. Pensa que eu tou brincando, né?

Eu não estou, e há 2 linhas de ônibus ‘Porta Larga‘, se uma fosse pouco.

Agência “Ilha do Leite”, quase no Centro.

O letreiro não está informando que o veículo tem suas entradas e saídas bem amplas.

Não. ‘Porta Larga’ é nome de duas comunidades.

Uma do município de Igarassu, um subúrbio distante do extremo norte do Grande Recife, e outra em Jaboatão;

Estrada do Encanamento em Casa Amarela, região de classe média-alta da Zona Norte.

Chá de Alegria (na verdade ‘Chã de Alegria’);

Sítio Histórico;

Rua do Sol;

E por último nessa lista mas não menos importante, a “Festa do Morro

Bem-vindo ao Recife, meu irmão.

Bem-vindo a “Cidade Sangue-Quente”.

Aqui e a dir.: tomadas noturnas da Av. Boa Viagem. 1° o ‘Galo da Madrugada‘, símbolo do Carnaval de Pernambuco. A seguir as carrancas típicas do Nordeste, presentes nas barcas do Rio São Francisco. Dizem que elas espantam maus-olhados. Qualquer ajuda é bem-vinda.

Tudo isso constava num emeio que produzi em 2012 (antes dessa página existir o modal de nosso canal de comunicação era esse, o emeio).

Subi pra internet numa matéria de 2015, logo que o blogue se iniciou.

Só pra fecharmos esse tópico, darei mais um exemplo marcante:

Num bairro de padrão elevado da Zona Norte do Recife existe uma avenida que se chama “Estrada do Encanamento”.

Ainda mais uma vez, jamais existiria em Curitiba uma via com esse nome,

E muito menos em um dos bairros mais aburguesados da cidade.

Digo, aqui na Grande Curitiba existe também uma “Estrada do Encanamento”.

É a rodovia (PR-415) que liga a capital aos subúrbios metropolitanos de Pinhais e Piraquara, na Zona Leste.

Só que veja a diferença. Esse é só o apelido informal dela, oficialmente é denominada “Rodovia João Leopoldo Jacomel”.

Se o povo quer chamar assim, chame. Mas no mapa consta de outra forma, bem mais ‘elegante’.

Ou seja, mesmo na região metropolitana aqui em Curitiba e região não aceitam a ‘sabedoria popular’.

O nome da cidade vem do termo ‘arrecife‘, paredões de pedra comuns nas praias da região (ao fundo os prédios do Pina).

E muito, mas muito menos nas porções mais aburguesadas da capital.

Em Pernambuco mesmo os magnatas não se avexam em dar seu endereço como “Estrada do Encanamento”. É o Recife, né?

………………

“CURITIBA/BÉLGICA E RECIFE/ÍNDIA”: SERÁ MESMO???

Aqui e na próx.: fotos feitas do alto do hotel que fiquei, no Pina. Se eu olhasse pra direita via essa praia maravilhosa – no Nordeste a água é cristalina, você pode estar com água no peito que ainda vê seus pés. Aquelas manchas escuras são os arrecifes. É preciso ficar entre eles e a areia, pois após essa barreira de pedras os tubarões pululam.

Em 2020 não tivemos o Censo demográfico, devido a epidemia de corona-vírus – assunto altamente polêmico, que não entrarei no mérito aqui.

O fato é que a contagem desse ser realizada em 2021 (escrevo em fev.21).

Isso já aconteceu uma vez. Em 1990 o Censo igualmente foi cancelado, sendo feito no ano seguinte, 1991.

O que isso tem a ver com o que estamos falando aqui? É simples, já vou voltar as comparações entre o Recife e Curitiba.

Hoje não acompanho mais a mídia capitalista a muitos anos.

Porém no começo dos anos 90 (eu era um adolescente então) o fazia.

No entanto, virando pra esquerda está essa favela, a apenas 2 quadras do mar.

Em 1992 – quando começaram a sair os resultados do Censo/91 – a manchete de um dos maiores jornais de circulação nacional foi bombástica:

Apenas 7 habitantes separam a Curitiba/Bélgica da Recife/Índia”.

A metáfora é bastante explícita pra necessitar de explicações. Implicava que esse país-continente é imerso em desigualdades.

Quase nas margens do Rio Capiberibe (na divisa entre as Zonas Norte e Oeste) a mesma situação: um “shopping” ao lado de uma “comunidade” – eufemismo que alguns preferem usar pra não ter que dizer ‘favela’. É o Recife em Preto-&-Branco.

Não o menor deles a diferença de padrão de vida entre o Sul e o Nordeste.

Aqui teremos que navegar em águas turbulentas, então vamos com calma.

Será que Curitiba é mesmo a ‘Bélgica’? Posto em outras palavras:

Será verdade que a capital do Paraná poderia mesmo ser uma ilha de ‘1° mundo’ num oceano de 3° mundo que é a América Latina?

Anoitece, prédios do Centro ao fundo.

Não, evidente que não! Isso é um mito, definitivamente. Curitiba é uma metrópole latino-americana, com tudo que isso implica.

Apenas no município, sem contar região metropolitana, são cerca de 300 favelas.

Morei numa delas (o Canal Belém, no Boqueirão, Zona Sul) por 15 anos, e conheço todas as outras, por dentro, andando em seus becos.

Agora todo mundo pode surfar: na Praia de Casa Caiada, Olinda, há um mural com prancha de surfe tridimensional. Você sobe e ‘tira aquela onda’. Tão fácil quanto dirigir um antigo Fenemê.

Portanto eu gosto de periferia, não falo de ‘favela’ com o preconceito burguês, ficou bem claro?

Ainda assim, as coisas são como são. Alta desigualdade social já é um problema em si mesmo, e gera diversos outros problemas.

Não o menor deles o aumento da violência urbana – vide como está a situação no Rio de Janeiro principalmente, que se repete em menor escala em diversas cidades brasileiras.

Isto posto, sigamos. As favelas curitibanas estão em diferentes graus de urbanização, óbvio.

Continuamos em Olinda nas próximas 5 imagens. Aqui a Igreja da Sé, com o letreiro grafitado a frente e o mar ao fundo.

Algumas já passaram pela intervenção do poder público, e agora são vilas normais de periferia.

Enquanto que outras ainda são favelas mesmo, com barracos (alguns deles palafitas nas barrancas dos rio), ‘gatos’ de eletricidade e esgoto a céu aberto.

2 das maiores entre as que ainda não estão urbanizadas são as do São Miguel (próximo ao CIC, Zona Oeste) e Caximba (Zona Sul).

Curitiba tem favelas. Centenas delas. Já documentei muitas vezes as desigualdades dessa cidade, seu lado ‘A’ e lado ‘B’.

Aqui e na próx.: Centro de Olinda, as ladeiras que levam ao Alto da Sé. Repare no calçamento da rua, não é paralelepípedo (rochas cortadas em forma de retângulos regulares, obviamente) mas sim pedras irregulares, que foram colocadas ali e a rodagem das carroças assentou. Provavelmente a via foi pavimentada dessa forma ainda na época da escravidão, que terminou a 132 anos quando escrevo. Fotografei o mesmo em Salvador.

Além disso, os problemas de violência urbana e sem-tetos igualmente são rampantes.

Então, está dito com todas as letras, Curitiba não é um pedaço da Europa dentro do Brasil.

Alias, se for ver bem certinho, será que a própria Europa ainda é realmente de “1° mundo”?

Afinal, nesse ‘Velho Continente” as favelas – iguaizinhas as que temos na América Latina, África e Ásia – estão aumentando bastante, como já documentei amplamente com fotos inclusive.

A Bélgica mesmo, que é apontada na metáfora usada nessa reportagem de 1992 como um exemplo de desenvolvimento, também tem seus problemas

Pra conversa começar, a Bélgica foi o país do mundo mais atingido pela epidemia de corona-vírus.

Essa é a parte turística de Olinda, cheia de hotéis, restaurantes e lojas de artesanato. Subi por aqui. Agora veja a próxima foto.

Foi a primeira nação a passar de mil mortes pra cada milhão de pessoas.

E no momento que essa matéria sobe pro ar já está chegando a impressionantes 2 mil mortes por milhão de habitantes

(Mais precisamente 1.885 em 22/02/21, quando você estiver lendo será ainda mais alto o índice.)

Então se há “algo de podre no Reino da Dinamarca”, como diz o ditado, certamente também o há no Reino da Bélgica.

No entanto desci pela parte popular de Olinda (de novo o mar ao fundo), aquela que não é turística. Observe que a ladeira é de terra, não tem qualquer pavimentação, nem asfalto tampouco pedras, regulares ou irregulares.

No mínimo o sistema de saúde público deles não era tão eficiente da maneira que muitos pensavam

Pra não falar dos ataques terroristas, que lá são frequentes, bem como nas vizinhas França, Alemanha e Reino Unido.

Enfim, vocês entenderam. Nem a Bélgica original é tão justa e desenvolvida como é apregoado na mídia.

Assim, certamente não seria a ‘Bélgica Brasileira’ (Curitiba) que seria isenta de graves problemas sociais, muito pelo contrário.

Chegando na beira-mar fotografei esse farol. Aqui fechamos a sequência de Olinda.

Um mito, repito. Agora, analisemos por esse lado: o que é um mito?

É uma narrativa que exagera, que confunde as vezes a ilusão com a realidade.

Sim, com certeza. Por outro lado ainda que distorça em parte a forma com que as coisas acontecem o mito precisa ter alguma base nessa mesma realidade.

Ou então ele nem pega. O mito é uma mistura de real e ilusão, e muitas vezes é difícil determinar em que grau.

Sub-emprego: moça limpa vidros depois pede trocados aos motoristas. Dura realidade latino-americana, já fotografei exatamente a mesma cena na Argentina e Paraguai.

O que é certo é que há sempre algum grau de verdade na narrativa que o mito conta.

No caso da dicotomia entre Curitiba/Bélgica x Recife/Índia, analisemos o contexto no qual a matéria que levou essa manchete foi escrita.

CURITIBA É “3ª MELHOR CIDADE DO MUNDO”; ENQUANTO QUE RECIFE É A “4ª PIOR”?? NÃO NECESSARIAMENTE, MAS ERA ISSO QUE SE DIZIA A ÉPOCA –

Certamente você conhece a música “Antene-se”, em que Chico ‘Science’ – que é recifense, como todos sabem – assume que é “Mangue-Boy”.

Logo na primeira estrofe Chico e sua Nação Zumbi fala que eles estão “entulhados à beira do Capibaribe, na quarta pior cidade do mundo.”

Mais 2 cenas noturnas da Av. Boa Viagem.

Recife, a 4ª pior cidade do mundo? Uma opinião bem radical eu diria.

Certamente discordo. Mas de onde Chico tirou esse título então? Simples.

Em 1991 saiu uma pesquisa, não me lembro se tinha o aval da ONU, que foi amplamente divulgada na imprensa – eu mesmo li na revista que era a de maior circulação nacional.

Esse estudo comparava metrópoles do mundo inteiro, em diversos pontos:

IDH, educação, violência urbana, acesso a moradia, etc.

E foi ali que o Recife foi, somando todos os critérios, escolhido como quarta pior cidade do planeta pra se viver.

O Recife tem 2 grandes regiões de classe média-alta. Uma é a orla da Zona Sul, que no município da capital abrange as Praias de Boa Viagem – vista aqui – e Pina (na verdade Pina é um prolongamento de B. Viagem, assim como no Rio o Leme é um prolongamento de Copacabana).

No mesmo levantamento São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre-RS estavam entre as 10 cidades mais violentas de toda a Terra na ocasião, embora não constassem entre as 10 piores na contagem geral.

Belo Horizonte-MG foi então agraciada com a honra de ser a melhor cidade do Brasil, segundo os dados ali comparados.

Curitiba não participou dessa pesquisa. Entretanto ‘’deram um jeito”:

Na mesma época um arquiteto ianque declarou que “Curitiba era uma 3 melhores cidades do mundo pra alguém morar”, se não me engano ao lado de São Francisco-EUA e Roma-Itália.

Piedade, em Jaboatão, é vizinha a Boa Viagem, e também um prolongamento destana tomada vemos Piedade ao fundo e a Praia de Candeias em 1° plano. Como notam, Candeias também tem se verticalizando e aburguesando intensamente.

O que muitos não prestaram atenção quando isso foi divulgado com tanto alarde na mídia é que essa era apenas a opinião pessoal de alguém, desprovida de qualquer valor científico.

E não alguém imparcial. O arquiteto que afirmou isso era amigo pessoal de Jaime Lerner, prefeito de Curitiba na ocasião – e que também é arquiteto.

Oras, esse estadunidense tem o direito de ver o mundo como quiser, e de expressar o que sente.

A questão é que a mídia divulgou uma visão individual como se fosse uma verdade definitiva.

Na Av. Boa Viagem são comuns os espigões de 40 andares (que em Ctba. e todo Paraná são bem raros).

E a partir daí passou a repetir o mantra que “Curitiba é a 3ª melhor cidade do mundo” com um fervor quase que religioso.

O levantamento que determinou Recife como ‘4ª pior’ é polêmico, sem dúvida. Até pelo escopo da tarefa.

Não é fácil comparar centenas de cidades em escala global em diversos critérios, não o menor dos problemas sendo que diversas estatísticas estão longe de serem confiáveis.

Ainda assim, pelo menos um levantamento objetivo, científico, que pode ser contestado por outros cientistas sociais.

Enquanto que a opinião do estadunidense é totalmente subjetiva e individual.

Em compensação no Pina está Brasília Teimosa, antiga favela, agora urbanizada, mas que não deixa de ser uma vila popular a beira-mar e no bairro mais caro da cidade (r). Um ‘choque de realidade’ entre os prédios do 1° e as casas humildes da 2ª.

No entanto como era ‘música aos ouvidos’ da mídia da época, foi propagada como se fosse uma Revelação Divina.

Pra quem não é daqui, Curitiba completou 300 anos (contando apenas desde a fundação oficial pelos europeus) em 29 de março de 1993.

Portanto desde que adentramos os anos 90 começou um dos maiores festivais de propaganda que esse país já viu.

Curitiba já tinha muitas favelas nessa oportunidade. As duas mais centrais, as Vilas Capanema e Parolin, são dos anos 60.

Próximas 4: a outra região bem aburguesada e verticalizada é as margens do Capiberibe, que como dito e é notório divide as Zonas Norte e Oeste (pra Z/O é onde a câmera mira aqui que foco a montante do rio – na próxima imagem a jusante).

Os ‘complexos’ (‘aglomerados’ no termo mineiro) do Cajuru e Uberaba, na Zona Leste, começaram a se formar ainda nos anos 70, e engrossaram nos 80.

A invasão da Vila Verde, na Cidade Industrial, se deu em 1988, e do Xapinhal, no Sítio Cercado (ambos na Zona Sul) foi em 1991.

Diversas favelas nos bairros Boqueirão, Xaxim, Pinheirinho, Novo Mundo (todos na Zona Sul), e algumas na parte da C. Industrial que fica na Zona Oeste igualmente são das décadas de 70 e 80.

E isso só pra citar apenas alguns exemplos, há muitos outros.

Ou seja, na virada dos 80 pros 90, Curitiba já tinha bem mais de uma centena de favelas (talvez mais de 2 centenas), algumas delas bem grandes

No bairro Casa Amarela e entorno, essa parte perto do rio, também estão surgindo vários prédios bastantes elevados, na altura e no valor dos apês.

Ainda assim, boa parte da burguesia curitibana embarcou numa catarse.

Cria piamente que Curitiba ‘não tem favelas’ e é mesmo ‘de 1° mundo’.Cria e queria que assim fosse.

Natural. Vivíamos uma barragem de lavagem midiática colossal, que criou essa narrativa, mesmo não sendo verdade.

Então pronto, está dito. Se o arquiteto ianque considerava Curitiba uma das 3 melhores cidades do mundo pra se morar, é um direito dele.

No entanto o fato que a imprensa capitalista reverberou a exaustão como se fosse a verdade acabada e definitiva, isso criou um mito.

Um mito que distorceu a realidade? Sim. Mas, digo de novo, o mito distorce a realidade, mas não pode criá-la de todo, ou senão o mito não pega.

Agora, claro, essa aburguesação não impede que C. Amarela também tenha suas favelas (a dir. na foto aquelas placas marrons com nome da rua, típicas do Recife).

O mito de que Curitiba era (alguns até hoje acreditam que ainda é) como pintada na tela de TV pegou tão forte pelo seguinte:

Curitiba tinha favelas. Porém, no censo de 1991, cerca de 10% dos curitibanos moravam em invasões.

Não é nenhum feito tão fantástico. Outras capitais do Centro-Sul, como São Paulo e Florianópolis-SC, registraram índices similares.

Nas próximas 6 imagens, o Centrão. No Recife é comum vermos prédios assim, ‘redecorados’ pelos pichadores – só em SP presenciei esse fenômeno na mesma magnitude.

A questão é: o Recife emplacou, nesse mesmo Censo, perto de 40% de seus habitantes vivendo em moradias precárias/invasões.

Natural que seja assim. Creio que ninguém contestaria que as condições sociais variam muito dentro de Brasilzão gigante.

Ainda assim, as diferenças chegam a ser gritantes em certos casos.

O Recife tinha quase metade de seus moradores apenas lutando pra sobreviver.

Enquanto que em São Paulo, Paraná e Santa Catarina era um décimo, 4 vezes menos que em Pernambuco.

Digo, o Norte e Nordeste se desenvolveram muito nas últimas décadas, se industrializaram razoavelmente, então a disparidade hoje é bem menor que era na época.

Esse ponto de ônibus na beira-rio também mudou de função, agora é moradia de sem-tetos. Repare que há até barracas armadas.

No começo dos anos 90 não era assim. Os empregos eram escassos muitas vezes no Nordeste, e assim bem mais raras que hoje as oportunidades de ascensão social.

BEM AO LADO DO CENTRO, A “ILHA DA MISÉRIA”: É O RECIFE SEM MÁSCARAS –

Além disso, não é só uma questão de quantidade, mas ‘de qualidade’, se quiser ver assim.

A diferença entre Curitiba e várias das demais capitais não é apenas o número de favelas, mas principalmente onde elas estão localizadas.

Curitiba tem 2 grandes favelas centrais (hoje urbanizadas, na ocasião ainda não).

O porto é bem no Centro, no Bairro do Recife que nomeia a cidade. Uma parte dele ainda está no local original.

Só que fora essas quase todas as suas favelas são na periferia.

Fora da visão das pessoas de classe-média, sejam os nativos e muito mais dos turistas. ‘Longe dos olhos, longe do coração’, saca?

No Nordeste e no Rio não funciona dessa forma. As favelas estão por todos os bairros, mesmo na orla mais endinheirada, mesmo no Centro. 

Aqui e nas próx. 2 tomadas: região do ‘Marco Zero‘, dali o porto foi retirado e deu lugar a atrações turísticas como restaurantes e lojas de artesanato. Isso já ocorreu em muitas cidades do mundo, por ex. em Buenos Aires-Argentina.

Fiquei na Praia do Pina, a meia quadra da Av. Boa Viagem. No 10° andar.

Da janela do meu apartamento, se eu olhasse pra direita via aquele marzão simplesmente maravilhoso.

Entretanto, se virasse pra esquerda via algumas favelas bem grandes, a 3 quadras da avenida que tem os edifícios mais elitizados de Pernambuco.

Fotografei esse contraste. Visitei Brasília Teimosa, que era uma favela miserável a beira-mar até 2006.

Os trilhos do bonde foram mantidos, embora a décadas esse modal tenha sido abandonado (fotografei o mesmo na Argentina, Paraguai e Belém do Pará).

Agora está urbanizada, melhorou muito, mas ainda é uma região de periferia em plena orla.

Abordamos o tema com maior profundidade em outra matéria da série.

E pelo ‘Google Mapas’ constatei que os bairros de Pina e Boa Viagem têm diversas favelas.

Fui de metrô a ‘Jaboatão Velho’ e a Camaragibe. Sim, esses são subúrbios metropolitanos.

No entanto, mesmo na parte central da capital a situação é complicada

No Marco Zero há esse letreiro com o nome da cidade, onde os turistas se enfileiram pra serem fotografados.

Peguei o trem na Estação Joana Bezerra, que é a segunda da linha, logo após a Estação Recife (Central).

Ou seja, Joana Bezerra é colada ao Centro. Ainda assim, há uma grande favela bem em frente a estação de trem/terminal de ônibus.

Uma caminhonete da polícia ficava estacionada ali, me pareceu de forma permanente ao menos durante o dia, pra garantir a segurança dos usuários de transporte coletivo.

Casa Caiada, em Olinda, tem um letreiro similar, todo grafitado em diversas cores.

E logo após a estação vi diversas outras invasões. Por conta disso, a região é conhecida como “a Ilha da Miséria”. Isso ao lado do Centro, enfatizo de novo.

É o Recife, irmão. Mas isso não me incomodou nem um pouco, muito ao contrário.

Gosto de periferias, digo mais uma vez e quantas se fizerem preciso.

E Amo o Recife. Amo essa cidade de uma forma visceral, tenho uma ligação espiritual com ela, talvez tenha vivido ali uma vida passada.

De volta ao Centro do Recife, que é quase um museu a céu aberto. A cidade é uma das s do Brasil, fundada em 1537 (SP só surgiu 17 anos depois, o Rio 28 anos, Salvador 12, Curitiba 156, e Porto Alegre 235 anos depois).

Ter podido enfim pisar em suas ruas, cruzar suas lendárias pontes, me banhar em suas praias, foi um Presente do Criador Deus Pai e Mãe, o sonho de toda uma vida realizado.

Amo o Recife como ele é. Sem máscaras, sem maquiagem.

Fui pra explorar essa cidade, ver os dois lados, o lado ‘A’ e o lado ‘B’.

Fiquei no Pina. Passeei portanto muitas vezes em Boa Viagem.

Alias abri a série com um ensaio sobre essas 2 praias (que na verdade são a mesma) da Zona Sul. Visitei Casa Caiada, a praia mais verticalizada da Zona Norte.

Metrô chega a Estação Joana Bezerra. Observe que mesmo na Zona Central há várias favelas.

No meu último dia no Recife, peguei um ônibus até Candeias, em Jaboatão obviamente.

Dali voltei a pé pro Pina, passando por Piedade e Boa Viagem.16 km caminhando, eu e minha esposa.

Como vim pela areia da praia sob sol forte e evidentemente parei muitas vezes pra entrar na água e uma vez pra almoçar, levei 9 horas, das 10 da manhã as 7 da noite.

Conheci toda orla do Recife e Jaboatão. Mas não apenas isso.

Subúrbio da Zona Oeste.

Fui também a região de classe média-alta as margens do Capiberibe. Falo de Casa Amarela e seu entorno, como você percebeu.

Então estive na parte aburguesada da cidade. Tanto a orla da Zona Sul quanto a outra porção, perto do rio e longe do mar.

Alto Zé do Pinho, subúrbio da Zona Norte – no canto direito um micro complementar.

Ainda assim, e pra fazer o balanço completo, andei pelas ladeiras de Olinda (e não me refiro a parte turística perto das igrejas), por Brasília Teimosa, pelo Centro de Jaboatão.

Dei uma passada também por Camaragibe e, na Avenida Norte, pelo Alto Zé do Pinho e Morro da Conceição, embora nesses casos bem mais brevemente do que gostaria.

Mostrando agora as icônicas placas marrons colocadas nas esquinas. Aqui na Avenida Boa Viagem, onde desemboca a Rua do Atlântico (que só tem 3 quadras) . . .

Fui conhecer o Recife por inteiro. Na orla e no morro.

Boa Viagem, Piedade, Candeias, Pina e Brasília Teimosa.

O Centrão com suas belas pontes e multidão de sem-tetos e a região metropolitana que você chega de trem.

Os dois lados da Avenida Norte, os ‘altos’ a direita (no sentido indo pro subúrbio) e os espigões caros a esquerda.

. . . e agora na Avenida Norte, na estrada dos bairros Alto Stª Terezinha, Alto José Bonifácio e Bomba do Hermetério. Por todo o Recife, da orla até o subúrbio, “Eu Sou O Mensageiro”.

Olinda e Camaragibe, e, em Jaboatão, de Piedade a Jaboatão ‘Velho’, o Centro.

O Recife como ele é. Sem máscaras.

No Preto e no Branco,

Amor Maior.

Graças a Deus Oni-Poderoso que permitiu.

Continua . . .

Foto na beira-mar em Olinda que mostra o Centro do Recife (no meio da imagem) e a orla da Zona Sul (em 2º plano).

Série sobre o Recife:

– “VENEZA BRASILEIRA(julho de 2021) –

O apelido, evidente, se deve as muitas pontes e canais do Centro. Também chamada Amsterdã Sul-Americana, pelo mesmo motivo.

Falo de vários aspectos sobre a cidade: o perigo dos tubarões nas suas praias, o patriotismo (marcante presença da bandeira nacional), a violência urbana, o nome, o clima, a geografia, a pichação nos muros, e muitos outros.

Metrô (r).

– “FESTA NO MORRO”??? AH, ESSES ÔNIBUS RECIFENSES . . .

Publicado originalmente (via emeio) em 11 de novembro de 2012. Levantado pra página em 2015.

Matéria ampliada maciçamente nos primeiros  dias do ano (e década) de 2020, com a adição de centenas de imagens.

Assim se tornando uma radiografia do transporte na capital pernambucana, abordando todos os modais, do metrô ao micro-ônibus ‘complementares’.

Ou seja, foi escrita antes de eu ir pessoalmente ao Recife (novembro de 20), com base no que estudei pela internet.

Em 2023 atualizei a postagem com o que constatei ‘in loco’.

ISSO É QUE É VIDA!!! AMANHECE E ANOITECE NA PRAIA DE BOA VIAGEM

Ensaio de dezembro de 2020, 1ª mensagem feita após a ida ao Recife. Palavras não são necessárias, basta apreciarmos a beleza das imagens. Na capital pernambucana amanhece cedo.

Veja ao lado, as 4:20 da manhã os primeiros raios de sol surgem no horizonte. Pra quem tem o privilégio de ver o grande astro se levantando do mar da Praia do Pina melhor ainda.

DE BRASÍLIA ‘TEIMOSA’ A BRASÍLIA ‘FORMOSA’ Publicado em 2015 (bem antes da minha visita a Pernambuco, portanto), apenas com desenhos da cidade.

Em 2019, entretanto, ampliei a matéria com fotos, pra documentar a urbanização de ‘Brasília Teimosa‘.

Brasília Teimosa antes da urbanização (r).

Pra quem não conhece o Recife, trata-se de uma antiga favela localizada entre o Centro e a Zona Sul da cidade.

Até 2003, tinha palafitas praticamente dentro do mar. Isso não muito longe de Boa Viagem, o m2 mais caro de Pernambuco.

No novo milênio tudo mudou. ‘Brasília’ foi urbanizada desde então, se tornou um bairro normal. Os casebres sobre estacas deram lugar a um parque

O mesmo local em 2020.

Fiz uma análise do antes/depois, mostrando o que vi – e fotografei – no local.

A esquerda o ‘antes’: barracos em palafitas não apenas a beira-mar, mas mais precisamente dentro do mar.

A direita atualmente: uma avenida com ciclovia e canchas de esporte. Brasília virou ‘Formosa.

Deus proverá”

021: a cidade é maravilhosa, mas . . . . se liga meu irmão!!!

Complexo de favelas do Morro do Alemão, Zona Norte do Rio, com o teleférico operando, o que ocorreu entre 2011 a 2016 (r): com a Copa e Olimpíada, o Rio de Janeiro sonhou que os dias gloriosos retornariam. Passados esses eventos, o dinheiro minguou e a dura realidade chegou pra ficar.

Por Maurílio Mendes, o Mensageiro

Publicado em 4 de janeiro de 2021

Maioria das imagens de minha autoria, setembro de 2020.

As que foram baixadas da internet – créditos mantidos sempre que impressos nas mesmas – identifico com um ‘(r)’ de ‘rede’, como visto ao lado.

Não é segredo pra ninguém que o Rio de Janeiro enfrenta, a décadas, um problema gravíssimo de segurança pública.

Estive lá em setembro de 2020 e o que vi foi uma cidade ocupada militarmente. Parecia que eu havia desembarcado por engano em Bagdá/Iraque ou Cabul/Afeganistão.

Policiais saturavam toda a Zona Sul, e também tinham presença forte no Centro (como já contei, infelizmente não pude ir ao subúrbio, então não sei como estava a situação ‘do outro lado do túnel‘).

Copacabana, setembro de 2020: o Rio (melhor dizendo, sua Zona Sul) estava totalmente ocupado pela polícia, na operação ‘Segurança Presente‘, que visa saturar a cidade e mostrar que o Estado de Direito regido por leis ainda se faz presente e controla seu território – ao menos na orla . . .

EPIDEMIA? OS LADRÕES AGRADECEM . . .

Como chegamos nessa situação? Há vários fatores, e mesmo uma tese de mestrado seria insuficiente pra uma conclusão definitiva.

Agora, um motivo que certamente agravou foi a obrigatoriedade que todos fizessem uso de máscaras nas ruas.

Como todos sabem, no 1º semestre de 2020 veio a epidemia do corona-vírus. Eis um assunto altamente polêmico, e certamente não vamos entrar nessa discussão aqui.

O que nos importa é: com todas as pessoas tendo que cobrir o rosto, o número de assaltos aumentou muito na Zona Sul, e certamente em outras partes da cidade também.

Afinal, por motivos óbvios isso facilita bastante a ação de ladrões, que agora a menos que sejam pegos em flagrante não podem mais ser identificados por testemunhas ou filmagens.

Jardim de Alá na divisa das praias de Ipanema e Leblon: em plena beira-mar que tem o m2 mais caro do Brasil encontrei uma pichação da facção Comando Vermelho (‘C.V.’). Sim, foi a única que vi na cidade, mas isso porque não pude ir nas ‘comunidades’ nem no subúrbio, senão acharia bem mais, posto que essa cena é comum no Rio.

Fora isso, o Rio vive do turismo, tem nessa uma de suas principais fontes de renda e empregos senão a principal.

Com as restrições pra viajar, esse fluxo caiu muito, quase a zero no auge que foi o outono e inverno de 2020.

Somente na primavera as coisas começaram a melhorar, e apenas começaram. Muita gente ficou desempregada.

O que certamente aumenta as fileiras dos que recorrem ao crime pra conseguir alguma renda (as causas da violência são complexas, e creio que nunca se chegará num consenso; agora, que um alto desemprego gera aumento de crimes é fato comprovado).

Tudo somado, os tiroteios entre bandidos e deles com a polícia também tiveram fortes espasmos, situação alias que é crônica a décadas.

Em julho e agosto de 2020 mesmo mais uma onda de violência chocou a cidade. Cheguei ao Rio no começo de setembro, poucos dias depois. 

O Estado, em suas diversas esferas, tenta reagir: Praia de Ipanema com várias viaturas da PM (estadual) e Guarda Civil (municipal), pra que os banhistas pudessem ter um feriadão da Independência tranquilo.

Em meu 2º dia lá fomos, eu e minha companheira, ao Cristo Redentor. Chamamos um motorista pelo aplicativo.

O primeiro que aceitou a corrida nunca chegava. Por três vezes o mapa indicou que ele virava a esquina da Barata Ribeiro, ou seja, já se encaminhava pro prédio que estava hospedado.

Só que não se materializava, e a seguir o carro aparecia em outro ponto de Copacabana. Quando isso aconteceu pela 3ª vez, cancelei a corrida.

Chamei outro carro. Também não veio, mas pelo menos esse motorista não ficou me enrolando, ele mesmo cancelou o serviço. Tentei ainda mais uma vez, por outro aplicativo.

Agora deu certo, ele nos apanhou no local combinado. Entretanto, assim que entramos no carro avisou que só nos levaria até a estação de trem que sobre no Corcovado, no bairro Cosme Velho.

Em condições normais é possível subir até os pés do Cristo de automóvel, dispensando assim o trem, que é caro. A estrada é particularmente bonita, vai serpenteando o morro, no meio da mata.

Na Região Central a mesma situação: picape da PM patrulha a avenida principal, no detalhe observamos que uma outra viatura, essa um carro pequeno, desce a ladeira.

Só que suas encostas abrigam também algumas favelas, entre outras a de Cerro-Corá e Guararapes. E as condições não estavam nada normais.

Poucos dias antes haviam ocorridos encarniçados tiroteios nessas favelas. O clima está bem tenso lá”, nos explicou o motorista.

Assim não tem como subir de carro, eu pelo menos não vou. Se vocês quiserem desçam e tentem contratar outra corrida”, ele arrematou.

Como 2 outros condutores já haviam recusado, achei melhor seguir com ele até a estação do Cosme Velho e dali embarcar no trem.

Seria bem mais caro, mas ao menos garantia nosso passeio, já que certamente outros motoristas tampouco arriscariam nos levar de carro ao Cristo. Então fomos.

Só que, digamos até naturalmente nesse contexto, a conversa passou a girar em torno da violência na cidade. O motorista chegou a dizer que “se você vem ao Rio e não vê ‘tiros e explosões’ você não veio ao Rio”. Isso começou a deixar minha companheira preocupada.

Copacabana é cheia de montanhas (cortados por túneis), que a dividem dos bairros vizinhos. Um dos morros fica ente Copa e Ipanema.

Nota: evidente que problemas de segurança pública não são exclusivos do RJ. Eu e ela alias fomos assaltados alguns meses atrás na Zona Norte de Curitiba.

Até por isso já estávamos ‘cabreiros’, como se diz. E aí o motorista resolveu nos impressionar contando episódios de violência.

Minha companheira ficou receosa e perguntou se não era melhor cancelar a ida ao Cristo Redentor naquela hora e ir depois.

Oras, fomos ao Rio de Janeiro principalmente pra ela subir ao Cristo, que era seu sonho. E no dia seguinte o problema continuaria igual, de nada adiantaria adiar.

Pedi ao motorista do aplicativo que “parasse com aquele assunto”. Imediatamente ele se deu conta e mudou o tom da conversa.

Agora também o rapaz ajudava a deixá-la tranquila. Ele falava “essas coisas que eu contei aconteceram bem longe, no subúrbio. Aqui é Zona Sul, é bem seguro, a polícia protege”.

No entanto veja o que há sobre o túnel: bem ao lado dos prédios de classe média/média-alta, a favela do Pavão-Pavãozinho/Cantagalona próxima tomada a mesma cena em escala maior.

Chegamos ao Cosme Velho. Havia uma viatura parada na estação, como há viaturas paradas e rodando por todos os pontos das Zonas Sul e Central, pelo menos.

Ainda assim, o motorista nos alertou: “ali é a bilheteria. Vá direto comprar seu ingresso, não fale com ninguém”. 

Como se nós não tivéssemos entendido, ele repetiu 3 vezes no curto tempo de manobrar o carro pra descermos:

Não fale com ninguém, não peça informações, se falarem com você não responda. Vá direto a bilheteria – ah, e não use o celular na rua”.

No fim deu tudo certo. Subimos ao Cristo Redentor de trem, não presenciamos nenhum episódio negativo.

Voltando ao tema anterior, alias minha mulher reparou que no Rio pouca gente usa celular nos ônibus, enquanto aqui em Curitiba essa prática é universal. Se você andar de busão na capital paranaense irá constatar que quase 90% das pessoas estão entretidas com seus apetrechos eletrônicos.

No Rio, segundo ela apontou, é bem mais raro. Mas ressalto que andamos poucas vezes de ônibus lá, a amostragem foi pequena, não posso endossar nem refutar a observação dela.

…….

No feriado de 7 de Setembro fomos a Barra da Tijuca. Ida de metrô e novo sistema de ônibus ‘BRT‘.

Na volta pegamos um ônibus convencional, que vem margeando a orla. Ele passa perto da Rocinha e aos pés do Vidigal, duas das maiores e mais famosas favelas da orla carioca (alias a imagem acima da manchete – puxada da internet – mostra justamente uma operação militar na Rocinha, em 2017).

Em São Conrado 4 garotos de uma dessas “comunidades” invadiram o ônibus, pela porta de trás. Eram garotos mesmo, ainda crianças, por volta dos 10 anos. O motorista levantou e deu uma dura neles: “O menor, cadê a passagem?” Um dos meninos respondeu “a gente tá trabalhando”.

Ainda o Pavão-Pavãozinho visto de Copa, o contraste entre os extremos

Pra quem não sabe, existe um acordo tácito que camelôs que vendem seus produtos no busão podem embarcar por trás sem pagar, mas precisam descer tão logo concluam o serviço.

O motorista obviamente não aceitou o ‘caô’ dos meninos, pois além deles estarem em grupo não tinham nada as mãos pra vender.

Encrespou: “Que trabalhando que nada. Vai pagar a passagem ou vai descer, qual vai ser?Só que a seguir ele mesmo propôs um acordo: “Vai ficar na disciplina?”

Isso quer dizer que a gurizada podia viajar sem pagar, mas precisava ficar sem fazer algazarras, sem incomodar os demais passageiros – essa é a ‘disciplina’. Ele reforçou: “então, vai ficar na disciplina ou vai descer agora?”

A mesma ‘comunidade‘ (nas fotos anteriores vista das ruas, de dentro do bairro de Copacabana), agora fotografada em plena areia da praia de Copa: “O Rio é uma cidade de cidades misturadas; O Rio é uma cidade de cidades camufladas; Com governos misturados, camuflados, paralelos, sorrateiros; Ocultando comandos…”, bem definiu a música “Rio 40º”. Obviamente todos entenderam que os comandos – e mais recentemente também as milícias – é que são os governos ‘paralelos, sorrateiros e misturados’.

O líder das crianças aceitou a oferta, garantindo que eles iam sim ‘ficar na disciplina‘. E assim foi, eles viajaram na paz até a Praia do Leblon.

Ali desceram, cumprindo o acordo de não perturbar o motorista e demais passageiros. Só queriam uma carona pra curtir o fim-de-tarde de feriadão nas areias da Zona Sul.

Somente o susto. Mas que foi um momento tenso é certeza. Felizmente eram crianças. Se os invasores fossem um pouco mais velhos, adultos ou mesmo adolescentes, a situação poderia ter tomado outro rumo.

Alias nem mesmo o motorista teria peitado um grupo de rapazes, temendo – com razão – primeiro por sua própria segurança.

Esse foi o único episódio de quebra de ordem que presenciei em 6 dias no Rio. Ficamos um pouco apreensivos sobre o rumo que a coisa tomaria, mas não aconteceu nada.

Bem, digo ainda mais uma vez, a cidade estava inteira tomada pela polícia, ao menos em seus bairros mais caros e no Centro. Assim estava segura.

Praia de Ipanema. Sua beira-mar tem os prédios residenciais mais caros do Brasil. Mas repare ao fundo no morro a favela do Vidigal.

Tudo foi tranquilo, mas foi bem tenso. É impressionante de ver a polícia oni-presente, e triste constatar que essa é a única forma de garantir um pouco de segurança pros turistas e moradores.

………..

RIO, CIDADE-DESESPERO: FICA DE OLHO ABERTO “QUE A MALANDRAGEM NÃO TEM DÓ” –

Agora estou a anos afastado da cobertura da mídia, mas por décadas (entre os anos 90 e começo dos anos 10) eu lia frequentemente jornais de várias partes do Brasil e do mundo.

Acompanhava também os periódicos cariocas. E neles eu vi diversas histórias de horror das guerras do tráfico – em menor medida também do jogo do bicho.

Em escala maior, o Vidigal em sua ‘Glória & Esplendor’, vigiando as praias do Leblon e Ipanema. Como já escrevi antes: na orla e ao lado do bairro de m2 mais caro do Brasil, o próprio Vidigal, ainda que seja uma favela, é um lugar caro de se morar. Segundo levantamento da revista Exame, um imóvel de 100 m2 ali sai por nada menos que R$ 800 mil, mesmo preço do Centro e mais caro que em todos bairros da Zona Norte e Zona Oeste exceto a Barra, mas acima do Recreio dos Bandeirantes.

Relatos dignos de figurar nas reportagens das guerras do Afeganistão, Iraque, etc. Não apenas a imprensa falou disso. A arte também.

Conhece a música ‘ZeroVinteUm’ do grupo carioca ‘Planet Hemp?

O título é, obviamente, a forma por extenso do DDD ‘021’. Assim está evidente que a canção se propõe a ser um breve raio-X do Rio. Diz a letra:

“  Rio de Janeiro, cidade hardcore.

Arrastão na praia não tem problema algum.

Chacina de menores, aqui é 021.

Polícia, cocaína, Comando Vermelho.

Sarajevo é brincadeira, aqui é o Rio de Janeiro. 

………

Sarajevo’, não custa relembrar, é a capital da Bósnia-Herzegovina, país que se separou da Iugoslávia no começo dos anos 90. A secessão foi qualquer coisa menos pacífica; exatamente ao contrário:

Desandou numa guerra civil que foi o mais sangrento conflito bélico da Europa desde o fim da 2ª Guerra Mundial, 75 anos quando escrevo em 2020.

Em frente a Lagoa Rodrigo de Freitas (clique pra ampliar) vemos o mesmo Vidigal a esquerda da imagem – no detalhe. “O Rio de Janeiro continua lindo“, sem dúvidas. Mas o descaso com a situação das favelas, que cresceram descontroladamente, fez surgir um descalabro nas mesmas. Foram tomadas pelos ‘comandos’ de traficantes surgidos a partir da gênese da Falange Vermelha, ainda nos anos 70. Na maior parte da Zona Oeste e Baixada Fluminense predominam as ‘milícias’, que a princípio não permitiam a venda de drogas no território que dominam; mais recentemente, entretanto, algumas milícias passaram a explorar também as bocas-de-fumo, pois viram que elas rendem bastante dinheiro. Seja ou não permitido comércio de entorpecentes na comunidade (e agora mesmo algumas milícias aderiram a prática, repetindo), ‘milícias’ e ‘comandos’ têm mais pontos em comum que divergências: nos territórios dominados por um grupo armado o poder é mantido de forma brutal, e é praticada extorsão contra comerciantes e fornecedores de serviços como camelôs e moto-táxis. Em compensação, não há roubos dentro da ‘comunidade‘, os moradores podem deixar as portas destrancadas quando saem pra trabalhar. Não para por aí, os traficantes e milicianos são o verdadeiro ‘estado paralelo’, e implantaram em algumas favelas até mesmo clínicas médicas pra população. Além disso, quando há casamentos nas favelas eles fornecem limusines pra que as noivas possam chegar em alto estilo no ‘grande dia‘.

No começo e meio do anos 90, os jornais televisivos e impressos estavam repletos de histórias de atrocidades, matanças e bombardeios ocorridos em Sarajevo e toda Bósnia.

Ainda assim, o autor que é Marcelo D2 achou que era justo dizer que ‘Sarajevo é brincadeira, aqui é o Rio de Janeiro‘.

Querendo com isso dizer que o conflito carioca pelos pontos-de-venda de drogas é ainda mais pavoroso que a guerra que culminou na independência da Bósnia.

Na mesma linha segue a música ‘Calibre’, do grupo Paralamas do Sucesso.

Trata-se de outro retrato do que acontece em terras cariocas por quem as conhece por dentro. Reproduzo-a na íntegra:

Eu vivo sem saber até quando ainda estou vivo

Sem saber o calibre do perigo

Aqui e a seguir, o Centro da cidade: nos deparamos com a mesma situação da Zona Sul – uma ocupação militar pra garantir a ordem, com viaturas oni-presentes.

Eu não sei, daonde vem o tiro (2x)

Por que caminhos você vai e volta?

Aonde você nunca vai?

Em que esquinas você nunca para?

A que horas você nunca sai?

Há quanto tempo você sente medo?

Quantos amigos você já perdeu?

Entrincheirado, vivendo em segredo

Próximo aos camelôs da Rua Uruguaiana.

E ainda diz que não é problema seu

E a vida já não é mais vida

No caos ninguém é cidadão

As promessas foram esquecidas

Não há estado, não há mais nação

Perdido em números de guerra

Rezando por dias de paz

Não vê que a sua vida aqui se encerra

Ainda no Centro, o VLT em obras em 2015: entre a Copa e Olimpíada o Rio imaginava que a bonança estava de volta (foto de autoria de uma colega).

Com uma nota curta nos jornais

Do ‘rap’ vamos pro roque. Do ‘morro’ passamos pro ‘asfalto’.

No entanto a mensagem é a mesma: a situação da violência urbana no Rio está fora de controle.

E ameaça mesmo a continuidade do Estado de Direito regido por leis. De fato assim é, infelizmente.

Como Herbert Viana do Paralamas colocou, no caos ninguém é cidadão; não há estado, não há mais nação.”

A GUERRA NA CIDADE: CV X TC/ADA X TCP –

Esse problema atinge diversas capitais brasileiras, e mesmo cidades médias do interior.

No entanto, certamente no Rio de Janeiro é onde essa situação é mais aguda.

E mais antiga. No fim dos anos 70 surgiu no presídio de segurança máxima da Ilha Grande, em Angra dos Reis, a famosa ‘Falange Vermelha‘.

Em ouro texto, que breve publico, falo melhor disso. Aqui, pra resumir, a ‘Falange’ metamorfoseou-se no ‘Comando Vermelho’ (‘C.V.’).

Aqui e a dir.: 2020, VLT operando no Centro do Rio. O chamado ‘metrô leve’ é limpo, rápido, eficiente e não-poluente. No entanto, o trajeto é muito curto – do Porto ao Aeroporto Santos Dumont. Por conta disso, o número de passageiros, e consequentemente a arrecadação, está muito abaixo do que era esperado.

O CV logo dominou boa parte das favelas e periferias cariocas. Pra se contra-pôr a ele, nos anos 80 veio o Terceiro Comando (‘T.C.’).

É um segredo ‘nem tão secreto assim’ que o TC foi fundado com a participação de alguns policiais e ex-policiais corruptos.

Que dessa forma almejavam competir com o CV pelo lucro da venda de entorpecentes.

Por esse motivo o Terceiro Comando era algumas vezes chamado de ‘Comando Azul’, alusão a cor da farda dos PM’s.

A seguir surgiu a facção ‘Amigos dos Amigos’ (‘A.D.A.’). O nome é inspirado na máfia italiana, cuja uma de suas múltiplas correntes se denomina ‘Amici del Amici’.

Nomenclatura a parte, ADA e TC se aliaram, formando uma parceria. Assim, os morros comandados pelos dois não se combatiam, uniam suas forças contra o CV.

No entanto, um grupo dentro do Terceiro Comando não aprovou a união com os ‘Amigos’. Numa dissidência, surgiu dessa forma o ‘Terceiro Comando Puro’ (‘T.C.P.‘).

O Terceiro Comando original, o TC, não combatia a ADA e nem o Terceiro Comando ‘Puro’, dissidente seu.

E em reciprocidade o TCP tampouco guerreava com o TC. No entanto, entre TCP e ADA o pau comia, eram considerados tão inimigos quanto o CV.

Descrevi aqui como a situação se desenrolou dos anos 80 até o começo dos 2000. Como já disse, há tempos não acompanho imprensa, então essas alianças e mesmo seus grupos podem estar bastante modificados atualmente.

Pro que nos importa aqui, ainda que com outros nomes e configurações, o fato é que os grupos de criminosos fincaram raízes nos morros e favelas planas de várias partes do Estado do Rio.

Tomaram conta do município do Rio de Janeiro e mais Niterói e Duque de Caxias, além de várias cidades do interior do estado.

O VLT se manteve. No entanto, foram construídos 2 teleféricos em favelas, e esses foram desativados ainda em 2016, assim que acabaram os Jogos Olímpicos. Nessa imagem e na seguinte estamos vendo o teleférico do Morro do Alemão, na Zona Norte, no período que ele funcionou, de 2011 a 16 (r). Foram investidos nada menos que R$ 328 milhões nos dois sistemas, 253 milhões no Alemão e outros 75 na Providência.

Todavia, na Baixada Fluminense os ‘comandos’ não conseguiram se estabelecer tão firmemente – com exceção de algumas partes de Duque de Caxias (que é mais perto da área central do Rio).

Isso porque ali na Baixada a ação dos grupos de extermínio – conhecido como ‘Esquadrão da Morte’ ou ‘os Mão-Branca’ – é muito forte.

Assim, na Baixada surgiram posteriormente as milícias. Formada basicamente por ex-policiais e ex-bombeiros, a maioria deles expulsos da corporação por má-conduta.

Em alguns casos, participam também alguns policiais e bombeiros ainda na ativa. O que importa é que as milícias são organizações criminosas tão cruéis quanto os ‘comandos‘.

Com uma diferença: no princípio, as milícias não permitiam a venda de drogas nos territórios controlados por elas. Pra se sustentar, elas arrumavam outras formas de extorsão contra os próprios moradores.

Por exemplo, cobravam um ‘pedágio’ pra permitir a venda de botijões de gás dentro das favelas ou ‘comunidades‘.

Alemão ao anoitecer, a todo vapor as gôndolas do teleférico (r). Bons tempos . . .

Assim, um bujão de gás tem um ágio de 50% a 100% pros moradores da favela, que já têm o orçamento hiper-apertado por natureza.

As milícias instituíram além disso uma taxa ilegal pra permitir o transporte por táxis, moto-táxis e vans.

Os camelôs da região são extorquidos da mesma forma, precisam pagar a ‘licença’ pra milícia.

E ainda exploram a pirataria de TV a cabo, que no Rio é generalizada e conhecida como ‘gato-net’.

Um adendo: é evidente que em todas as cidades existe gente que pirateia sinal de TV por assinatura.

Aqui em Curitiba mesmo conheço pessoas que utilizaram desse ‘serviço’ ilegal. A diferença é que aqui e na maioria das cidades a fraude se dá ‘no varejo‘, digamos assim.

Teleférico do Morro da Providência, na Zona Central – ao fundo vemos o prédios da Central do Brasil (r). Esse teve vida ainda mais curta, só funcionou de 2014 a 16.

Alguém quer ter TV a cabo sem pagar pela assinatura. Aí então telefona pro técnico e esse vem a sua casa e instala ali um decodificador clandestino.

Só que nesse caso o roubo do sinal se dá individualmente, casa por casa. Se seu vizinho tiver TV por assinatura clandestina, você não saberá, pois no seu aparelho não pega o sinal desviado.

No Rio de Janeiro é diferente. Lá o roubo de sinal de TV se dá ‘no atacado’. Explico. Em cada ‘comunidade’ e em muitos bairros de periferia existe uma central não-autorizada de TV a cabo.

E nessa central o sinal é decodificado e daí enviado coletivamente a todas as casas da ‘comunidade’ ou bairro.

Ou seja, todos os moradores têm TV a cabo, sem precisar de uma assinatura formal. Porém como nada vêm de graça é preciso pagar uma taxa a milícia, que é quem comanda a central.

A dura realidade: em 16 o serviço nos teleféricos foi suspenso ‘temporariamente pra manutenção’, e nunca mais voltou (r). Os equipamentos são importados da Áustria e hoje estão imprestáveis, pois foram abandonados ao relento, como vê aqui.

………

Seja como for, as milícias tomaram conta da Baixada Fluminense. E então começaram a entrar no município do Rio mesmo.

Um de seus epicentros na capital é a favela (plana, não é em morro) chamada Rio das Pedras, próximo a Barra da Tijuca na Zona Oeste.

Vocês sabem que a Barra é uma espécie de ‘subúrbio estadunidense’: um lugar afastado dos bairros centrais, que a elite e alta-burguesia escolheram pra morar justamente por ser distante do resto da cidade.

Pois bem. Rio das Pedras é ali do lado, inclusive dá pra ver dela os espigões na orla da Barra. A última coisa que os moradores da Barra querem são assaltos e arrastões nas suas ruas e praia, alias quem é que iria querer isso?

Daí surgiu a milícia em Rio das Pedras. Ela usa de todas as formas de financiamento ilegais. Inclusive correm boatos que não posso confirmar, mas que atestam que alguns comerciantes da Barra pagam uma ‘caixinha’ pra milícia, em troca da tranquilidade do bairro.

Ingresso do teleférico do Pão-de-Açúcar, na Zona Sul. Esse é turístico, evidentemente. No começo da década de 10 se imaginava que as favelas cariocas poderiam dispor do mesmo padrão de conforto.

Alias, dizem que esse é o caso também na orla da Zona Sul e em bairros da Zona Norte igualmente. O que é fato é: a milícia estabeleceu uma base em plena Zona Oeste, ao lado de um dos bairros mais ricos da cidade.

Paralelamente a isso a milícia se expandiu e conquistou boa parte da Zona Oeste, em seus bairros mais periféricos como Santa Cruz, Sepetiba e o vizinho município de Itaguaí.

Logo ela seguiu crescendo e passou a dominar ‘comunidades’ na divisa entre as Zonas Oeste e Norte, em bairros como Bangu, Padre Miguel, Realengo, Quintino, Bento Ribeiro, etc.

Começaram então violentos confrontos com as quadrilhas de traficantes. A princípio, repito, a milícia não permitia a venda de drogas (depois isso veio a mudar, já falaremos melhor).

Assim o conflito carioca aumentou e se tornou multi-dimensional. Além dos comandos brigarem entre si pelos pontos-de-venda de drogas, enfrentavam agora a ira da milícia com seu crescente poder.

No entanto acabou assim: estação de teleférico do Morro da Providência – ao fundo vemos a Baía da Guanabara – abandonada (r). Abandonada e usada como depósito de lixo, até vasos sanitários são depositados ali. Mais de 300 milhões jogados no ralo. Depois não entendem porque a cidade está quebrada . . .

RIO, A “TERRA EM TRANSE”: COMO NA COLÔMBIA

Já escrevi antes, a situação no Rio guarda vários paralelos com o que aconteceu na Colômbia. Nesse vizinho país (2º mais populoso da América do Sul só atrás do Brasil), 2 Cartéis de Traficantes, o de Medelím e o de Cali, se engalfinhavam numa disputa sangrenta.

Os choques ocorriam entre eles e contra as forças do estado. Paralelamente a isso havia uma guerrilha de esquerda ativa muito forte.

Cujos grupos mais significativos eram as ‘Farc‘ (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e o ‘ELN‘, ‘Exército de Libertação Nacional’.

Conflitos entre esses dois grupos e os militares atingiram níveis de guerra civil. No auge perto da virada do milênio a Farc chegou a controlar uma grande ‘área desmilitarizada’ na Amazônia Colombiana.

Pra combater as Farc e o ELN surgiu a milícia AUC – Auto-Defesas Unidas da Colômbia. As AUC, como as milícias cariocas fariam depois, no começo não permitiam o tráfico de drogas em seus territórios.

Vale lembrar que o que chamamos ‘tráfico de drogas’ na Colômbia está uma dimensão acima do que ocorre no Brasil. A coca é plantada um pouco na Colômbia mesmo, mas o grosso na Bolívia e Peru.

Porém independente do país que seja plantada, quase toda coca produzida na América do Sul é refinada na Colômbia, ou seja, ali ela vira cocaína. De forma que nesse país o jogo sujo do tráfico movimenta bilhões, é briga de cachorro grande.

Medelím, Colômbia: ali foi inventado o ‘metrô-cabo’, os teleféricos que sobem os morros  (r). Deu certo. Tão certo que foi copiado também em Cali (na própria Colômbia), Caracas (Venezuela), La Paz (Bolívia) e no Rio. Pena que no caso carioca já foi abandonado.

No começo as AUC não permitiam a venda de drogas em seu território, portanto elas combatiam tanto as guerrilhas de esquerda como os cartéis.

No entanto, logo as AUC ”perderam a pureza”, se quiser ver assim. E passaram a também permitir a ação dos cartéis em seus territórios, desde que claro um alto pedágio fosse regiamente pago.

Portanto o conflito colombiano se tornou, repito, multi-dimensional. A partir do momento que as AUC também negociam com os cartéis, várias guerras paralelas se desenrolam, com múltiplas interações entre os grupos envolvidos:

– Os cartéis de Medelím e Cali se combatem entre si e contra o Estado.

– As guerrilhas Farc e ELN enfrentam as AUC e o Estado.

Voltamos ao Rio, desembarcando justamente na estação Cantagalo do metrô, que serve ao morro (favelizado) de mesmo nome, na Zona Sul. O transporte é parte fundamental da recuperação da Colômbia. No Rio os teleféricos nos morros deixaram de funcionar; mas do legado da Copa e Olimpíadas, nem tudo foi perdido, muito ao contrário: ficaram o VLT (já visto mais pra cima na matéria), a expansão do metrô por toda Zona Sul e chegando na Zona Oeste (perto da Barra) e a implantação dos ônibus ‘BRT’ ‘Trans-Carioca’ e suas ampliações – próx. foto.

No entanto, quando as AUC resolveram aceitar o dinheiro sujo dos cartéis (o que as guerrilhas também fazem), nova situação se desdobrou, muito mais complexa.

As duas guerras se misturaram, tornando-se uma só. Tanto a milícia de direita quanto as guerrilhas de esquerda fazem alianças pontuais com os cartéis da droga.

Alianças que são tênues por natureza, pois visam apenas uma vantagem imediata. Se as circunstâncias se alteram, as ‘amizades’ também oscilam. Resultado: “Todos Contra Todos, como a CIA Gosta”. Bem complicado!

Da Colômbia já escrevi com mais detalhes quando visitei esse país, em 2011. Citei agora brevemente porque há paralelos com o Rio.

Em 2020 as últimas notícias dão conta que as milícias cariocas, como fizera a colombiana antes, agora também permitem a venda de entorpecentes em seus territórios.

Segundo uma investigação divulgada na imprensa, já são 180 favelas e ‘comunidades’ no Grande Rio comandadas por milicianos com bocas-de-fumo ativas.

Essas ‘biqueiras’ as vezes são operadas diretamente pelos milicianos e em outros casos ‘arrendadas’ aos comandos de traficantes. Sim, é isso. O domínio do território é da milícia. Ela quem determina as regras de convivência social.

Neobus articulado do sistema ‘BRT’ (aqui em Curitiba, que criou esse modelo, chamamos de ‘Expresso’) no Terminal Alvorada, na Barra da Tijuca, Zona Oeste. Só foi implantado nas Zona Norte e Oeste, no Centro e na Zona Sul não. Ainda assim, ele liga de forma rápida e barata as periferias da Z/N e Z/O a orla da Z/O. Isso, a expansão do metrô e mais a construção da Linha Amarela nos anos 90 mudou a Barra, que até então era uma espécie de ‘subúrbio estadunidense’. Trocando em miúdos, o pessoal da elite e alta burguesia escolheu a Barra da Tijuca pra estar distante e próximo do Rio ao mesmo tempo: poder aproveitar ao máximo a extensa vida cultural da cidade, ir a jogos no Maracanã, mas ao mesmo tempo ficar afastado dos problemas cariocas, não o menor deles a violência. No começo saiu como o planejado. Mas com a melhoria dos transportes o Rio ‘alcançou’ a Barra, se quiser ver assim. Hoje, a Praia da Barra da Tijuca é do povão, igual as da Zona Sul. Não deu certo a estratégia de se isolar. Deixo pra vocês avaliarem se isso é bom ou ruim.

Inclusive em quem os moradores devem votar nas eleições – apesar do voto ‘ser secreto’ (nos bairros dominados por milícias e comandos a população vota em bloco no candidato determinado pelos chefões, num verdadeiro ‘curral eleitoral’).

No entanto, a comércio de substâncias ilegais é de responsabilidade de um dos comandos, que dividem os lucros com os donos do local.

Por isso a música ‘Calibre’ dos Paralamas fala: “No caos ninguém é cidadão; não há mais estado, não há mais nação”.

De fato assim é. O Rio atingiu um ponto de caos. Como contei, agora a anos não vejo mais mídia, exceto muito esporadicamente.

No entanto, na primeira década do novo milênio, quando eu lia os jornais cariocas com frequência, vi histórias horrorosas de conflito urbano, de fato não devendo muito pra uma guerra civil.

Além de muitas chacinas e decapitações/amputações, os tumultos chegaram ao ponto de provocar refugiados, como uma guerra mesmo.

Em Curitiba e na maiorias das cidades brasileiras, quando uma quadrilha de traficantes toma o ponto da outra eles matam ou expulsam da ‘comunidade’ os líderes antigos.

No Rio a coisa é mais brutal. Os traficantes recém-chegados escolhem algumas casas na favela invadida e as tomam pra si, pondo dezenas de moradores no olho da rua.

Assim, algumas grandes favelas cariocas chegaram a ter, no começo do novo milênio, alguns mini ‘campos de refugiados’:

Alguns dos expulsos de suas casas, sem ter pra onde ir, acampam na praça na entrada da favela, pra poder manter seus empregos que são nas redondezas.

DUAS ABORDAGENS OPOSTAS PRO MESMO PROBLEMACopacabana, Zona Sul do Rio, 2020. Ruas públicas com grades, transformando-se em condomínios fechados – cena comum no bairro, e que se repete em todas as outras metrópoles brasileiras, evidente. No entanto, na imagem a seguir . . . .

Oras, essa é a situação do Haiti pós-terremoto. Como sabem, a situação nessa ilha caribenha de ampla maioria negra já era difícil antes.

Em 2010 um fortíssimo tremor de terra abalou essa sofrida nação, as mortes foram na casa das centenas de milhares, estimadas entre 100 e 300 mil.

Após esses triste ocorrido, as praças da capital Porto Príncipe se tornaram campos de refugiados.

Imagens de satélite mostram diversos acampamentos improvisados pela cidade, em que a ONU e diversas ONG’s tentam como podem mitigar o sofrimento dos desabrigados.

Claro que no Rio a situação não chegou nesse extremo, afinal nenhum terremoto ocorreu ali. Ainda assim, embora em escala infinitamente menor, há um paralelo.

Além disso, não sei como a coisa está hoje, mas na década de 2000 você precisava consultar no rádio ou na internet se podia passar em algumas partes da cidade.

. . . . agora vemos um prédio sem qualquer grade ou porta externa, nem mesmo de vidro. Numa cidade que sem dúvidas é violenta, alguns não sentem dessa forma, não sentem medo, e por isso o pátio de entrada do edifício é aberto. Curioso, não? A mesma cidade, o mesmo bairro, mas as pessoas veem a mesma questão por ângulos opostos: alguns fecham até a via pública, outros não fecham nem a área particular de seus prédios.

Se você ia pegar via expressa de grande movimento (como as Linhas Vermelha e Amarela ou a Av. Brasil) tinha que pesquisar se elas não estavam fechados.

Isso por conta que tiroteios entre traficantes ou deles com a polícia com frequência tornavam essas vias temporariamente intransitáveis.

Óbvio que isso apenas diminuía o risco, e não o eliminava. Você ficava sabendo que até quando saiu de casa a coisa estava tranquila.

Entretanto nada podia garantir que coisa não iria degringolar justamente no momento que você estava ali.

Então o que presenciei no Rio, a invasão do ônibus pelos meninos da favela e os motoristas se recusarem a nos levar até o Cristo, foi apenas o aperitivo. Uma pequena amostra do que os cariocas têm que enfrentar diariamente, a décadas.

Antiga UPP do Cosme Velho, Zona Sul, agora desativada e em ruínas – desse ângulo não aparece (eu estava dentro do trem que sobe ao Corcovado em movimento) mas largaram ali até as viaturas pra que apodrecessem ao relento. Tipo, abandonaram essa e muitas outras UPP’s, foi todo um sonho jogado fora. A justificativa é que agora a região do Cosme Velho é atendida pela UPP do Santa Marta/Dona Marta, em Botafogo, também na Zona Sul. Hummm… O conceito de UPP não funciona assim. Na UPP, a unidade precisa estar baseada na própria comunidade que policía e pacifica, pro policial conhecer os moradores e saber separar o ‘joio do trigo’. Se a UPP está baseada longe, em outra favela, não é mais ‘Polícia Pacificadora’, e sim polícia comum com o rótulo de UPP. Mas fica pior, se fosse possível mas é. Não apenas desistiram da UPP do Cosme Velho, mas não se deram sequer ao trabalho de levarem as viaturas, que poderiam ser utilizadas em outras unidades. Não aconteceu assim. Ao contrário, os carros da polícia, propriedade pública, foram esquecidas ali se deteriorando, como se o Estado tivesse que ter fugido as pressas de seu próprio território. Isso nos leva a algumas reflexões: na Colômbia, recuperação que o Rio tentou imitar, o renascimento tem duas vertentes, igualmente importantes –  o aspecto social, de dar cidadania as classes sociais carentes; e o aspecto policial, o de reprimir a ação de criminosos pra desenraizar as quadrilhas. No caso colombiano investiram na infra-estrutura das favelas, sendo o transporte um aspecto fundamental do câmbio; porém investiram pesado no policiamento da cidade toda, as ‘comunidades’ inclusive. No Rio, após um bom começo, parece que tudo desandou de vez de novo. Aí como almejar melhorias? Só porque é o Morro do Cristo querem um milagre? Talvez seja isso que estejam esperando!!!!

Encerrando como comecei, temos que perguntar: como chegamos nesse ponto??? É isso que irei abordar no próximo texto, na sequência da série sobre a ‘Cidade Maravilhosa’. Alias, parafraseando o ‘Planet Hemp’ que já nos alertou:

“     A cidade é maravilhosa mas se liga, mermão.

Aqui fazem sua segurança assassinando menor. Então fica de olho aberto, a malandragem não tem dó. 

Rio, cidade-desespero. A vida é boa mas só vive quem não tem medo.  ”

Por ”malandragem não tem dó” é óbvio que D2 quis dizer exatamente que as ‘comunidades’ iriam se organizar em comandos/milícias, e passar a viver num ‘estado paralelo’.

E quando esse ‘estado paralelo’ se chocasse com o ‘estado oficial’ a burguesia não iria gostar do resultado. De fato assim se deu.

Sim, evidente, como diz a música do Rappa, “menos de 5% dos caras do local (os moradores de favela) são dedicados a alguma atividade marginal.

A canção sabiamente esclarece que ”a grande maioria (das pessoas que vivem em ‘comunidades’) daria um livro por dia, sobre honestidade e sacrifício.  Pura verdade. Ainda assim, o problema permanece:

“A cidade é maravilhosa mas se liga mermão. Fica de olho aberto, malandragem não tem dó. A vida é boa mas só vive quem não tem medo”.

Como não ter medo com as coisas correndo soltas dessa maneira? Finalizo com sábio aviso da música dos Paralamas:

“    Perdido em números de guerra, rezando por dias de paz.

Não vê que a sua vida aqui se encerra com uma nota curta nos jornais?

No caos ninguém é cidadão. As promessas foram esquecidas.

Não há estado, não há mais nação   ”.

Que situação! Deus nos ajude!!!

“Deus proverá”