Bi-articulados no Brasil: Curitiba, São Paulo, Campinas, Goiânia, Manaus e Boa Vista-RR (no passado também RJ e Rio Branco-AC)

bi-articulados na América: Colômbia, México, Equador e Guatemala

(em Cuba já operou em testes)

Curitiba, 1992: começam os bi-articulados no Brasil. Esse é o 1º que rodou em nossa nação, por isso recebeu a numeração 001.

INTEGRA A “ENCICLOPÉDIA DO TRANSPORTE URBANO BRASILEIRO

Por Maurílio Mendes, O Mensageiro

Publicado (via emeio) em 4 de fevereiro de 2013; e numa série no blogue “De Busão pelo Mundãoentre novembro de 2018 a abril de 2020

Maioria das imagens baixada das internet, créditos mantidos sempre que impressos nas mesmas; as tomadas que forem de minha autoria identifico com um asterisco ‘(*)’.

Os ônibus bi-articulados são a marca registrada de Curitiba, seu cartão-postal.

São Paulo, 1995: a maior metrópole de nosso país passa a ser a 2ª cidade brasileira com bi-articulados. Essa foto na Avenida Paulista é só de demonstração, pode ver que o veículo está vazio. Essa linha não passa por ali, alias acho que até hoje na Paulista não trafegam bi-articulados.

De fato essa foi a primeira cidade do mundo que contou com esse modal em escala industrial:

Já começou com 33 exemplares e hoje são mais de uma centena de unidades, operando em várias linhas.

Na capital do Paraná os bi-articulados surgiram em 1992, sendo os primeiros em nossa nação.

São Paulo veio logo a seguir, ainda no meio dos anos 90 (prov. 1995).

E hoje contabiliza acima de duas centenas de veículos desse tipo.

Já no século 21, Goiânia-GO, Campinas-SP, Manaus-AM e o Rio de Janeiro também passaram a contar com o modal.

2005: Goiânia adquire seus primeiros bi-articulados (igualmente amarelos e do modelo Caio ‘Top Bus‘, como os de SP na foto a esq. ). Linha pintada no letreiro, o veículo fixo nela.

Na maior cidade do interior paulista e na capital goiana eles ainda rodam (escrevo em 2020).

No Rio e Manaus, por outro lado, essa foi a realidade em momentos distintos da década de 10 que se encerrou.

Não mais, todavia. Em ambas os bi-articulados foram extintos, dizia o texto original.

Porém em 2021 depois de 10 anos de ausência Manaus voltou a ter um bi-articulado, alias ex-RJ

Boa Vista-RR também tem 2 desses ‘bichões’, que chegaram entre 2017 e 2018 mas passaram a ativa plenamente igualmente em 2021.

Em 2010 Campinas passou a ter esses modernos ônibus. Em 2020 essas eram as 4 cidades onde rodavam no Brasil.

Por alguns meses Rio Branco-AC contou com esse serviço, o mesmo ‘carro’ oriundo do Rio. Mas logo esse busão foi pra Manaus.

São Paulo, Curitiba, Campinas e Goiânia, além do Rio quando ali existiram, compram seus veículos 0km.

Na Amazônia eles chegaram usados, oriundos de Curitiba, São Paulo e Rio.

(Foi assim em Manaus em seus 2 ciclos – logo após a virada do milênio e de novo em 21; Boa Vista desde 2017/18; e Rio Branco por uns meses em 2020.)

Manaus teve bi-articulados logo após a virada do milênio, em 2011 foram extintos.

Na América, os bi-articulados existem na Colômbia, México, e mais recentemente foram implantados no Equador e Guatemala. Em Cuba um exemplar rodou em testes.

Apenas na América Latina, como observou. EUA e Canadá nunca contaram com esse modal.

Na Europa eles são comuns igualmente, sendo encontrados em vários países.

Apenas Pequim na China conta com esses ônibus de 2 sanfonas em toda Ásia.

Por 4 anos – de 2014 a 2018 – o Rio de Janeiro também fez parte do clube das cidades que contam com esse tipo peculiar de busão.

E por enquanto eles ainda não estrearam em solo africano, tampouco na Oceania.

Na internet circulam notícias, datadas de 2015, que Luanda/Angola na África iria contar com esse modal.

É comprovado que bi-articulados foram exportados (do Brasil e da Europa) pra esse país, tanto 0km quanto usados.

No Rio apenas 2 exemplares, o Marcopolo a esq. e esse Neobus, ambos no cinza e azul do ‘BRT’ carioca; modal que tem os únicos busos com pintura padronizada no RJ. As próx. 2 tomadas mostram o mesmo Neobus visto acima na Amazônia, em diferentes capitais.

Entretanto, não consegui ter certeza se o sistema de fato entrou em operação.

(O que está publicado na rede mundial de computadores fala apenas que ‘Luanda terá bi-articulados’. Em lugar algum mostram os busos em ação.)

Caso o fato se confirme, é Luanda a 1ª e até onde sei única cidade com bi-articulados em toda África.

Já falaremos de tudo isso com mais detalhes. Antes vamos a uma breve história dos ônibus bi-articulados.

2020: por alguns meses Rio Branco-AC teve esse bi-articulado ex-RJ. Chegou a ser pintado nas cores da padronização local.

Eles surgiram na Alemanha e na China, ainda na 1ª metade dos anos 80.

Pra chegar lá, vamos começar do começo, primeiro falar do modelo articulado.

Esse busão (agora me refiro ao que tem apenas 1 sanfona) surgiu também na Europa, na 1ª metade dos anos 70.

2021: Manaus volta a ter bi-articulado, o mesmo ‘carro’ que operou no RJ e AC. O mais curioso é que foi repintado como na origem, com a decoração do BRT carioca.

Na América, o primeiro articulado rodou em 1974, em Lima, no Peru. 

Sim, é isso. A capital peruana foi a pioneira em todo continente, incluindo EUA e Canadá.

Os articulados limenhos – os 1ºs articulados americanos não custa repetir – foram fabricados no Leste Europeu pela Ikarus, empresa que tem sede na então comunista Hungria.

Lima e Curitiba foram as duas primeiras cidades do mundo que contaram com sistema de ônibus que aqui chamamos de ‘Expresso (hoje preferem a sigla em inglês ‘BRT’):

Boa Vista tem 2 desses ‘monstros de metal’.

Por isso me refiro aos corredores exclusivos, onde os ônibus não precisam disputar espaço com o congestionamento causado pelos carros.

Tanto Lima quanto Curitiba inauguraram seus corredores exclusivos em 1974, com diferença de poucos meses. 

Até hoje há divergências sobre qual das duas teria começado primeiro.

Por outro lado, sobre um ponto não restam quaisquer dúvidas.

Em Bogotá/Colômbia, os bi-articulados começaram em 2009 (esse um Marcopolo/Volvo brasileiro).

Curitiba contou com os ‘Expressos’ em 74. Mas no início sem articulados, só com ônibus ‘tocos‘ (tamanho normal, sem articulação).

Aqui, os primeiros articulados só chegaram em 1981.

7 anos depois da inauguração do corredor, dentro da década de 80 portanto.

Em Lima, já em 74 o corredor exclusivo foi inaugurado com articulados. 

A Cid. do México também conta com o modal.

Portanto a capital do Peru não foi a 1ª cidade do mundo a ter articulados, foi apenas a 1ª cidade fora da Europa a fazê-lo, pois no ‘Velho Continente’ eles já existiam.

E disputa-se ainda se foi Lima ou Curitiba a pioneira cidade do mundo a ter corredores exclusivos.

Entretanto, um recorde é incontestável: a capital peruana certamente foi a primeira em todo planeta a ter simultaneamente ônibus articulados rodando em corredores exclusivos pra ônibus.

2015: chegou a vez de Quito/Equador.

Em 1978 o Brasil começou a produzir os primeiros protótipos dos articulados, a produção em série engatou entre 1980 e 1981, a princípio com chassis/motores Volvo e Scania, e carrocerias Caio e Marcopolo.

Em terras brasileiras, eles foram se popularizar mesmo a partir dos anos 90.

Acima falei dos articulados, com apenas 1 sanfona. Agora voltemos a falar dos bi-articulados, com 2.

A Cidade da Guatemala é a mais recente na América a contar com esses bichões (nessa foto e na do Equador e Colômbia, acima, vemos Marcopolos/Volvo brasileiros).

No seguinte a fabricação do pioneiro articulado brasileiro, em 1982 portanto, surgiu o bi-articulado.

Alemanha e China, como dito, fizeram protótipos mas na ocasião não houve produção em larga escala.

na segunda metade dos anos 80, a francesa Renaut lançou o primeiro bi-articulado que seria fabricado em escala industrial.

O modelo foi apelidado de ‘Mega-Bus‘, e rodou em testes por várias cidades da França e Suíça.

Em 2015 um bi-articulado usado vindo da Europa foi testado em Havana/Cuba (no detalhe a chapa). Porém não ficou em definitivo, sendo devolvido – a direita do busão vemos um daqueles velhos automóveis ianques dos anos 50, muito comuns em Cuba.

No entanto, apenas a cidade francesa de Bordô se interessou.

(‘Bordeaux’ no original, cujo nome batizou o vinho e também a tonalidade ótica homônimos.)

A prefeitura local encomendou 10 unidades, que foram entregues em 1989.

Dessa forma Bordô foi 1º lugar no mundo que o modal de bi-articulados se consolidou.

Por isso me refiro a contar com várias unidade de forma permanente, e não somente um exemplar temporário em testes.

Bi-articulado de Campinas, já com a pintura do Inter-Camp, rodando em Porto Alegre-RS (‘Tabela Trocada’: o busão opera em linha ou até cidade distinta da que foi programado).

De lá pra cá eles tomaram a Europa, e hoje há bi-articulados em diversos países:

França, Alemanha, Holanda, Suíça, Luxemburgo, República Checa, Espanha e Suécia, pelo menos.

Mais um detalhe: na Suíça há tróleibus bi-articulados, combinação única em todo planeta até onde sei.

Mesmo Caio emprestado ao Rio Grande do Sul (dir.), agora circulando em Campinas, dessa vez com a decoração apropriada a cidade.

(Digo, em Nancy, na França, também houve esse tipo de busão. Mas é bem perto da fronteira suíça.)

Na Ásia apenas a capital chinesa Pequim dispõe de bi-articulados, não custa dizer ainda mais uma vez.

E apenas bem recentemente, a partir do fim da década de 10 (de século 21 evidente) – tanto que não consegui achar fotos deles em ação.

Alemanha, 1982: surge o ônibus bi-articulado.

Esse modal ainda não estreou na Oceania, África e nem na América do Norte.

Por ‘América do Norte’ me refiro a EUA e Canadá, os países anglo-saxônicos.

O México por ser latino tenho que classificar como América Central.

Bordô, França: 1ª cidade do mundo a ter ao menos uma dezena de bi-articulados, em 1989 (o da foto talvez seja bem mais recente).

Disputas geo-linguísticas a parte, Estados Unidos e seu vizinho Canadá não contam ainda com bi-articulados, e nunca os tiveram.

Li na internet que há planos que uma cidade canadense os implante.

Ainda que se realize será só a partir da segunda metade da década de 20.

Por hora (2020), jamais um ônibus desse tipo rodou as ruas ianque-canadenses. Veremos se a situação se altera no futuro.

A VOLTA DOS QUE NÃO FORAM” – Mauá, região metropolitana de São Paulo, 2009. Esse subúrbio metropolitano (que fica entre a Zona Leste e o ‘Grande ABC’) ia passar a contar com bi-articulados em suas linhas municipais mais carregadas. A viação local comprou 2 busões usados, oriundos do sistema municipal da capital, e os reformou. Inclusive repintando, um deles nessa chamativa padronização que vigorava no município a época. Ia…mas não foi! Nunca aconteceu. Porque a prefeitura não permitiu, alegando que a topografia de Mauá, cheia de morros com suas vias estreitas, não favorece a operação de bi-articulados. Assim os veículos foram revendidos novamente sem sequer terem sido utilizados em território mauaense.

O fato é que é a América Latina que é, ao lado da Europa, a terra dos bi-articulados por excelência.

Em Bogotá na Colômbia eles estrearam em 2009, sendo acredito a 1ª cidade do mundo fora do Brasil e Europa a ter esse modal.

A seguir foi a vez da Cidade do México, e a partir do meio dos anos 10 eles chegaram em Quito no Equador e a Cidade da Guatemala.

Estive na Colômbia em 2011, e no México em 2012. Não presenciei bi-articulados em ação em nenhuma das duas capitais.

No começo dos anos 10 era mesmo difícil um turista ver os bi-articulados na Colômbia: eles eram poucos, e operavam somente no horário de pico.

Como eu passei poucos dias em Bogotá, não coincidiu de eu cruzar com um deles.

Pro que nos importa aqui, Bogotá inaugurou seu moderníssimo sistema de ônibus Trans-Milênio no ano de 2000. A princípio só com articulados, de sanfona única.

Os ônibus bogotenhos eram unicolores nesse 1º ciclo de padronização.

Zurique, Suíça: tróleibus/bi-articulado. Tá bom pra ti?

Os ‘BRT’s’ de lá eram e ainda são em vermelho, como os daqui de Curitiba que a inspirou.

Os Alimentadores eram na época verdes, embora depois tenham mudado pro azul.

Quando os primeiros bi-articulados foram entregues eram também uniciolores em vermelho.

Bi-articulado no Term. da Praça da Bíblia, na pintura atual da MetroBus de Goiânia.

Ou seja, toda a lataria do  busão no mesmo tom, sem destaques coloridos.

Mais recentemente chegaram mais bi-articulados, e então eles passaram a ter pintura própria, diferenciada dos articulados.

Agora os que tem uma única articulação permanecem unicolores em vermelho.

Próximas 5: bi-articulados Viale Marcopolo em São Paulo, a 1ª leva que chegou ainda em 1995. Aqui – e acima da manchete – 0km na apresentação, tinha pintura exclusiva, vinha escrito ‘Biarticulado’ na frente, e o letreiro eletrônico era o de primeira geração, aquele que as bolinhas amarelas formavam a palavra – era de difícil visualização, especialmente a noite.

Enquanto os que têm duas ainda tem o fundo no mesmo rubro. No entanto agora com grandes detalhes em amarelo, como a frente do busão.

Em Bogotá, México D.F., Guatemala e Quito é o legítimo sistema que Curitiba batizou como ‘Expresso‘, agora mais conhecido como ‘BRT’:

As linhas troncais, que têm maior demanda, são feitas por articulados ou bi-articulados em corredores exclusivos, e ligam o Centro (ou a orla no caso do litoral) ao subúrbio em corredores exclusivos.

Os terminais garantem (por via física ou digital) a integração gratuita com alimentadores, que servem as vilas, loteamentos e morros da periferia.

De preferência os ônibus (bi) articulados param em estações com embarque elevado e pré-pago, mas não necessariamente.

Nos final dos anos 90 e começo dos 2000, era comum em SP (todo o estado) a propaganda cobrir o veículo por inteiro. Felizmente isso hoje é proibido – embora em outros países como Chile, México, EUA e Canadá ainda aconteça. Seja como for, na frente que é o único espaço que o anunciante não galgou, vemos que se mantém a pintura original, incluso com a inscrição que se trata de um ‘Biarticulado“.

Se percorrerem corredores exclusivos, livres de congestionamento, o sistema já flui o suficiente pra justificar sua implantação.

Recapitulei o esquema básico acima até sendo redundante.

Todos os que têm algum conhecimento de urbanismo sabem como funciona um sistema de transporte de massa sobre pneus.

O que nos importa aqui é: na Colômbia, México, Equador e Guatemala, os bi-articulados são do modal ‘BRT’, com corredores, alimentadores e integração.

Aqui no Brasil também em Curitiba, São Paulo e Goiânia funciona assim também.

Pra compensar, depois os bichões ganharam essa pintura especial: na lataria há o trajeto da linha. Como esses busões maiores precisam ficar restritos aos corredores (porque em meio ao tráfego normal eles mais atrapalham que ajudam) só podem fazer as linhas-tronco, por isso o roteiro pode vir pintado que não irá mudar.

(Não conheço a fundo Campinas pra informar se ali os bi-articulados seguem 100% de seu trajeto pelos corredores ou se em algum trecho vão por ruas normais, com embarque a direita em nível do solo.)

Portanto em todas essas cidades os bi-articulados chegaram pra ficar.

Não são algo temporário, e sim uma característica permanente da cidade.

Em Cuba, entretanto, sua capital Havana testou um ônibus bi-articulado, por volta de 2015.

Veio usado da Europa, e após algum tempo foi devolvido. Não vingou, e não é pra menos.

Já com a pintura do Inter-Ligado (faixa 6, azul-clara, Zona Sul). Na frente ainda a inscrição “Biarticulado“.

O sistema de transporte da cidade não conseguiu extrair desse tipo longo de veículo o melhor que ele pode oferecer.

Como se sabe, por décadas Havana teve o famoso ‘camelo’:

Um cavalo-mecânico de caminhão puxava uma carreta, só que ao invés de carga a carroceria era de ônibus.

No Brasil, esse modal (ônibus puxado por um caminhão pesado) foi muito popular nos anos 50 e 60. Era o famoso ‘Papa-Fila’.

Faixa 7, roxa, do Inter-Ligado (tiraram o letreiro eletrônico e voltou pra lona, pelo que falei, a 1ª geração do eletrônico era de difícil leitura). Também Z/S, alias no início só a Zona Sul tinha bi-articulados.

O bichão bombava, obteve muito sucesso no Rio, São Paulo e Brasília especialmente.

Existiu também no interior do Rio Grande do Sul, mais recentemente circulou um exemplar em Manaus.

Na década de 70, o ‘Papa-Fila’ foi substituído pelo também famoso ‘Romeu-&-Julieta‘.

Trata-se de um ônibus normal, não-articulado, mas que no horário de pico tinha um reboque engatado nele.

A vantagem do ‘Romeu-&-Julieta’ é que o segundo vagão só operava no horário de pico.

Próximas 4: eis o 1º bi-articulado do Brasil, de Curitiba. Fabricado em 1992, carroceria Ciferal, motor e chassis Volvo. Na fase de testes era vermelho e tinha essa frente.

A desvantagem é que precisava de 2 cobradores, um pra cada vagão.

Do ‘Romeu-&-Julieta‘ e do ‘Papa-Fila‘ já falei em outras oportunidades, com muitas fotos.

Aqui, citei apenas pra vocês terem bem clara a linha do tempo:

Nos anos 50 e 60, as linhas mais carregadas de algumas metrópoles brasileiras eram atendidas por ‘Papa-Filas‘.

Na hora de operar, decidiram que os 1ºs bi-articulados (do eixo Boqueirão, Z/Sul) seriam cinzas. A frente foi mudada pra esse modelo arredondado. Os da Ciferal não tinham letreiro pra linha, mas não fazia diferença, pois ele só fazia uma linha, nos tubos só parava a linha Boqueirão, não tinha como confundir. Recebeu nº ED001, como já dito.

Na década de 70 algumas delas adotaram a solução do ‘Romeu…’.

E a partir dos anos 80 vem o articulado, com uma sanfona.

Que se consolida a nível nacional a partir dos anos 90 e após a virada do milênio.

Em 1992 surge o bi-articulado em Curitiba, com 2 sanfonas. São Paulo segue o mesmo exemplo a partir de (aprox.) 1995.

Em Cuba a realidade foi completamente outra, é o que quero dizer.

As linhas mais movimentadas da capital Havana foram servidas por décadas pelos ‘Papa-Filas‘.

Depois foi pintado de vermelho e recebeu letreiro, pois em 1999 começou a linha Circular Sul, assim em alguns tubos entre a antiga BR-116 e o Term. Boqueirão param 2 linhas (na ocasião da foto ele já foi aposentado e aguarda restauração).

Nessa ilha caribenha o ‘Papa-Filas’ tem o apelido de ‘Camelo‘, como todos sabem.

Isso porque a carroceria do ônibus, que é a carreta do caminhão, tem o teto cheio de curvas.

Pro chão do salão de passageiros poder se adaptar aos eixos do veículo, que afinal foi feito pra levar carga e não gente.

Pois bem. Na segunda metade dos anos 10 do século 21, após décadas de serviços prestados, os ‘Camelos’ cubanos começam enfim a ser aposentados

O governo cubano adotou o sistema ‘MetroBus’ em Havana.

Em 2003, a Carmo deixou de operar bi-articulados. Sua frota bi-sanfonada foi emprestada a outras viações, e recebeu o prefixo ‘VD‘, pra indicar esse empréstimo. Em seu último ciclo pelas ruas da cidade, o 1º bi-articulado do Brasil rodou como ‘VD001‘.

Sim, é o mesmo nome empregado em várias outras cidades ao redor do planeta.

Como por ex. Goiânia, Cid. do México, Joanesburgo-África do Sul e Buenos Aires-Argentina.

Seja como for, em algum momento já no novo milênio Havana começou a disciplinar sua rede de ônibus.

Que até então era mais pra orgânica, sem planejamento muito detalhado.

Primeiro definiram várias ‘linhas-tronco’ do sistema, padronizando a pintura (outra novidade) na cor da linha.

Recapitulando, em 1992 começou o bi-articulado no Brasil, com a linha Boqueirão pra Z/S de Ctba. . A princípio busões cinzas, pra marcar que eles usavam estações-tubo. Os da Marcopolo tinham letreiro, o notam.

A princípio, os ‘Camelos’ foram integrados ao ‘MetroBus‘, repintados e assim puderam continuar a rodar.

Com o avanço do planejamento, entretanto, foram comprados ônibus articulados (com uma só articulação) pra substituir as velhas carretas com carroceria de busão.

Agora (o texto é do começo da década de 20, lembre-se) você ainda pode ver os famosos Camelos’ em Cuba.

No entanto apenas no interior, fazendo o modal ‘rural‘ transportando estudantes e trabalhadores no campo e pequenas cidades.

"Viagem Pro Passado"

Os da Ciferal não tinham letreiro, mas não necessitava, só havia uma linha. Em 1995 foi inaugurada outra linha, mas não parava nos mesmos tubos, não tinha como pegar errado. Esse é o ED012, cinza e sem letreiro.

E nesse contexto que chegou o único bi-articulado cubano.

Veio usado da Europa, e circulou por um tempo nas ruas de Havana.

Entretanto, em Cuba o bi-articulado não contava com corredores exclusivos.

Muito menos com estações elevadas e terminais de integração.

Seguia pelas ruas normais, parando pra embarque e desembarque a direita, a nível do solo.

Assim sem o suporte necessário um bi-articulado não rende o esperado.

O mesmo ‘carro’, repintado e com letreiro. Depois que começou a linha Circular Sul – que ele exatamente está cumprindo – aí precisava o nome da linha escrito, pois então há duas opções em alguns tubos.

Pois se tiver que disputar espaço com os carros se torna lento, pelo seu grande comprimento e área de giro.

Essa é a razão pelo qual sua passagem por Cuba foi temporária.

Por outro lado, os articulados foram implantados com sucesso em Havana.

…………

Tudo isso posto, posso enfim reproduzir o emeio que deu origem a essa matéria.

Próximas 5: São Paulo. Nosso colega (que reproduzo a correspondência no texto) não havia registrado o fato, mas SP já conta com bi-articulados desde 1995. Esse é um dos primeiros, agora um Caio, modelo ‘Top Bus’, sendo apresentado 0km sem chapas, pintura própria pra ônibus mais longos.

Foi publicado em 4 de fevereiro de 2013Deixa eu explicar o contexto.

um colega que é paulistano, mas se radicou em Curitiba há algumas décadas.

Ele não sabia que sua cidade-natal já contava com bi-articulados.

Resultando que se espantou de ver um busão desse tipo rodando em São Paulo.

Veja a mensagem que recebi (os ênfases são meus):

“  Rua Romilda Margarida Gabriel, São Paulo, Brasil.

Aqui e na foto abaixo, o mesmo modelo ‘Top Bus’ já na pintura do ‘Inter-Ligado‘. Primeiro rara cena de buso bi-sanfonado na faixa 3, amarela, da Zona Leste de Sampa (no começo eles se concentraram na Zona Sul).

Entra neste endereço ai no ‘Google’ e anda na direção da Av. 9 de Julho, dobre a esquerda.

Parece que tem um biarticulado na foto. Um biarticulado? Em São Paulo? É isso mesmo?

Respondi a ele que São Paulo tem centenas, no plural, de ônibus bi-articulados.

São 207, a maior frota do Brasil desse modelo em números absolutos (já foram 259 no meio da década de 10).

São Paulo e Curitiba certamente têm a maior frota bi-sanfonada da América.

Justamente agora um na Z/S.

E provavelmente do mundo todo, afinal na Europa eles existem em várias cidades mas em poucas linhas em cada uma.

Pois lá o grosso do transporte de massa é feito pelo modal ferroviário (metrô, trens e bondes modernos).

Tudo somado, arrisco afirmar que as capitais do PR e SP são os 2 únicos lugares do mundo em que a frota bi-articulada se conta na casa dos 3 dígitos.

Voltamos aos Marcopolos. Esse teve uma pintura específica, exclusiva pra ele mesmo, fora de qiualquer padrão do sistema.

Ou seja mais de 100 em cada uma. 155 em Ctba. e 207 em SP, nos dados mais recentes que tenho.

Em Goiânia são 30 que chegaram em 2011. Antes eram apenas 5. Em Campinas são 10.

Já falarei melhor de tudo isso. Por hora, sigamos com com nosso apanhado.

Algumas cidades da Europa, e quem sabe também na China, contaram com bi-articulados em testes ainda nos anos 80.

O mesmo modelo Marcopolo, já na pintura Inter-Ligado, faixa 7, Zona Sul.

Porém não foi aprovado em nenhuma. Parecia ser um conceito a frente de seu tempo.

Exceto em Bordô/França, onde foram encomendados 10 bi-articulados ‘MegaBus’ Renalt.

Sendo portanto essa a 1ª cidade a ter vários busos bi-sanfonados (uma dezena, no caso) de forma definitiva.

Próximas 3: Bogotá, Colômbia. Os primeiros bi-articulados chegaram em 2009, e no começo eram unicolores em vermelho, como os articulados comuns do sistema Trans-Milênio.

Ali em Bordô eles operavam em apenas uma linha, a de nº 7.

Em 1992, eles chegaram a Curitiba e são a marca registrada da cidade.

Não é pra menos. Ctba. elevou o conceito do ônibus bi-articulado a um novo patamar, em nível global.

Já vieram 33 logo de cara, sendo portanto a primeira cidade do mundo a ter algumas dezenas deles.

Depois surgiu essa pintura, exclusiva pra ônibus que tenha 2 sanfonas, onde a frente é amarela. Esse e o anterior são Busscar, montadora com sede em Jonville-SC que fechou em 2012 (reabriu em 2018 comprada pela Caio, mas apenas pra carrocerias rodoviárias, urbanas não). Antes disso ela abriu uma unidade na Colômbia e se tornou um ícone por lá, inclusive quando a matriz brasileira faliu a filial colombiana continuou produzindo.

E não somente uma dezena, no singular, como em Bordô.

Em termos proporcionais, na relação de bi-articulados comparada com a frota total, Curitiba é a cidade do Brasil (e do mundo) que mais tem bi-articulados.

No texto original escrevi: aqui são pouco mais de 150 bi-articulados (155, quando consultei), e a frota total é de 1,9 mil veículos.

Assim não é difícil ver que 8% dos ônibus curitibanos são bi-articulados.

Certamente nenhuma outra cidade do mundo passa nem remotamente perto disso.

Agora criaram essa variante, que lembra um pouco um carro de bombeiros (esse é um Marcopolo, também brasileiro).

Nota: esse dado de 1,9 mil ônibus é de 2013, e pra toda a Rede Integrada.

Que inclui não apenas o município da capital mas boa parte da região metropolitana também.

Explico: até 2015, a prefeitura da capital gerenciava também boa parte das linhas inter-municipais.

Nesse ano houve o rompimento, as linhas metropolitanas voltaram pro governo do estado.

Apenas uma linha inter-municipal tem bi-articulados, a Pinhais/Rui Barbosa, que liga o Centro a Zona Leste. Não sei quantos ‘carros’ operam nela.

PONTO FINALem 2019, Curitiba teve que leiloar como sucata 30 bi-articulados fabricados em 1995 (matéria vinda do sítio oficial da prefeitura). O lote anterior, de 1992, teve o mesmo destino. Quando foram a venda, eles já tinham documentação baixada, e vários não tinham sequer motor, tiveram que ser guinchados pro pátio; ou seja, não podiam voltar legalmente as ruas, e muitos estavam mesmo impossibilitados fisicamente de fazê-lo. O bi-articulado tem 2 pontos fracos: 1) Sua mobilidade é limitada, como comentamos melhor no corpo do texto; e 2) Sem mercado – não tem valor de revenda, as 4 cidades que o utilizam no Brasil compram seus veículos 0km. Portanto ao esgotar seu primeiro ciclo na cidade de origem, o bi-articulado não tem muito pra onde ir. No passado, Manaus comprava bi-articulados usados, mas agora não conta mais com esse modal. Rio Branco-AC, também na Amazônia, recentemente comprou um desses busos ex-RJ, mas até pelo tamanho da cidade se ela vier a adquirir mais exemplares serão poucos.

Então se você levar isso em conta percebe que se considerar só a frota municipal a proporção de bi-articulados em relação ao total é ainda mais alta.

Repito que não sei quantos busos desse tipo fazem a única linha metropolitana em Curitiba que conta com eles.

Ainda assim, consideremos que a frota total (municipal + metropolitana) é de pouco mais de 150 exemplares.

Desses certamente pelo menos uns 130 fazem exclusivamente linhas municipais da capital.

Como são 1,5 mil ônibus nesse modal, assim chegamos no que escrevi acima:

Perto de 8% da frota curitibana é bi-articulada, recorde mundial absoluto.

Os bi-articulados de Curitiba surgiram cinzas. Isso porque em 1991 a prefeitura implantou o Ligeirinho.

Como sabem, nesse modal as paradas são nas famosas ‘estações-tubo’.

Super-Articulado” – 1 articulação, mas vagão traseiro alongado – Caio/Mercedes-Benz do Inter-Ligado paulistano. São Paulo e  Curitiba têm algumas coisas em comum quando se trata de ônibus de grande comprimento. Primeiro, essas 2 cidades têm juntas 90% dos bi-articulados do Brasil. E ambas não irão desistir dos bi-articulados, mas irão recalibrar a relação que têm com eles. São Paulo vem migrando do bi-articulado pro “Super-Articulado”, e mais recentemente Ctba. também adotou o mesmo movimento. Repito, os bi-articulados não estão sendo nem serão abandonados, mas ficarão restritos as linhas/horários de maior movimento. Mesmo linhas de ‘BRT’ (troncais em corredores) serão feitas por ‘Super-Articulados’ no entre-pico, com os bi-articulados operando apenas nos picos em muitos casos.

Que contam com embarque pré-pago e elevado em nível. As portas do busão são a esquerda.

No entanto, obviamente as linhas dos Ligeirinhos no começo só eram feitas por ônibus ‘pitocos’, não-articulados.

No novo milênio surgiram algumas linhas de Ligeirinho articuladas. Nos anos 90 era diferente, todos os Ligeirinhos eram ‘tocos’.

Digo de novo, o Ligeirinho começou em 1991. No ano seguinte, em 92 portanto, chegou o bi-articulado.

Como ele também usa as estações-tubo, no começo também vieram cinzas, pra ressaltar pra população o detalhe do embarque pré-pago e em nível.

No entanto, a cor cinza nos bi-articulados teve vida curta.

Em 1992 começou o bi-articulado no eixo Boqueirão, na Zona Sul, nessa cor.

Já em 1995 foi implantado o bi-articulado no eixo Sul-Norte, entre o terminais do Pinheirinho (Z/S) e Santa Cândida (Z/N), passando pelo Centro.

Marcopolo exportado pra Angola. Na lataria está escrito ‘BRT – Luanda‘, capital desse país. Em 2015 havia planos de implantar os bi-articulados na cidade. Caso tenha sido concretizado (o que não consegui confirmar) trata-se do 1º e até onde sei único sistema que conta com bi-articulados na África.

E os ‘latões’ que chegaram voltaram a ser vermelhos. Na 2ª metade dos anos 90, mesmo os bi-articulados da viação Carmo, que eram cinzas, foram repintados de vermelho.

Já voltamos a esse tema, da cor da lataria. Antes, sigamos a linha do tempo:

Em 1992 surge o primeiro eixo de bi-articulados em Curitiba, ligando o Boqueirão na Zona Sul ao Centro (terminais Boqueirão, Carmo e Vila Hauer);

1995: surge o segundo eixo, o Norte-Sul. Conecta o Eixo Sul (terminais Pinheirinho, Capão Raso e Portão) ao Eixo Norte (terminais Cabral, Boa Vista e Santa Cândida), passando pelo Centro.

2011: surgem os bi-articulados chamados de “Maior Ônibus do Mundo“, por terem 28 metros, contra 25 de um modelo normal. E eles vieram azuis, cor que nunca havia existido no sistema municipal de Ctba. .

1999: inaugurado o eixo Circular Sul. Como o nome indica, une em forma de círculo os dois eixos da Zona Sul (Boqueirão e Pinheirinho).

Na ponta superior, o corredor exclusivo, a ‘canaleta’, percorre a divisa das Zonas Central e Sul, do Portão ao Hauer via Vilas Guaíra e Lindóia

(Trajeto paralelo a uma linha de trem que um dia transportou passageiros, e que foi desativada nos anos 80 – em seu trajeto surgiu a Ferrovila, em 1991.)

"Enciclopédia do Transporte Urbano"

Não perdurou. A partir de 2018 os bi-articulados voltaram ao vermelho, por medida de economia. Aqui vemos o 1º dia de operação do Ligeirão Norte (200-S. Cândida/Pç. do Japão): pra marcar esse fato eles tinham a inscrição ‘Ligeirão’ na lataria, posteriormente retirada (*) – como explicado, as tomadas com ‘(*)’ são de minha autoria.

Na ponta inferior, interligou o Extremo Sul (Terminal Sítio Cercado) a rede de bi-articulados.

2000: os bi-articulados começam a operar no Eixo Leste-Oeste.

Uma linha une os terminais da Zona Oeste (Campo Comprido e Campina do Siqueira) aos da Zona Leste (Centenário, Oficinas e Capão da Imbuia), via Centro.

Do Centro a Zona Leste é criada uma segunda linha, o único Expresso metropolitano, portanto a única linha inter-municipal que tem bi-articulados: Pinhais/Rui Barbosa.

Do Centro ao Capão da Imbuia compartilha trajeto e tubos com a Centenário/Campo Comprido. 

Após o Capão da Imbuia há a bi-furcação, a linha municipal segue pro bairro do Cajuru e a metropolitana muda de município, entra em Pinhais.

Agora os Ligeirões que são vermelhos têm essas plaquinhas azuis na frente e laterais, pra galera se acostumar (*).

2009: surgem os Ligeirões. O 500-Ligeirão Boqueirão tem o mesmo trajeto da 503-Boqueirão (parador), mas com menos paradas como o nome indica.

Já a 550-Pinheirinho/Carlos Gomes vai pela Linha Verde, a antiga BR-116.

Essa passa a ser a mais nova canaleta (‘corredor exclusivo’) da cidade.

Em algum momento na década de 20 será inaugurado a extensão da Linha Verde.

Com novas linhas de bi-articulados ligando o Centro e a Zona Sul as Zonas Norte e Leste.

Vamos mostrar a diferença de um bi-articulado comum, que mede 25 metros, pra o “Maior Ônibus do Mundo”, que tem 28. Esse Marcopolo (prov. de 1995) é um comum: o motorista fica ao lado da porta 1.

Agora voltamos a falar da cor dos busões. Ainda viria mais uma tentativa de mudarem a caracterização dos Expressos, e ela também fracassou.

Vamos contar como foi. Azul é certamente a cor de ônibus mais comum, e isso em nível planetário.

Ainda assim, em todo século 20 e pela 1ª década do século 21 Curitiba não tinha busos municipais nessa cor. Eu disse ‘municipais’. Metropolitanos sim, haviam várias viações que usavam o celeste.

Aqui um “Maior do Mundo” (Neobus ano 2011) – veja como o ônibus cresceu: as portas precisam ficar na mesma distância uma da outra, ou o busão não conseguiria abri-la nos tubos; o condutor agora fica muito a frente da 1ª portabelo anoitecer no bairro Campina do Siqueira, Zona Oeste (*).

Incluso uma delas, justamente a que serve Pìnhais (Zona Leste, como dito e é notório), se chama Expresso Azul por que seus ônibus eram, bem, azuis, evidente.

No começo dos anos 90 o governo do estado padronizou a pintura das linhas metropolitanas.

Todos os busões ficaram unicolores, com a cor de cada região da cidade pra qual a linha ia.

A região de Pinhais e Piraquara (que até pouco tempo antes eram o mesmo município, Pinhais pertenceu a Piraquara até 1992) ganhou justamente o tom azul.

Então seja na pintura livre ou no 1º ciclo da padronizada, Curitiba teve sim ônibus em azul.

A mesma transição em SP: Viale da 1ª leva desses bi-sanfonados, ainda com a inscrição atestanto isso na frente.

Metropolitanos. Mas municipais não, digo mais uma vez. Até que em 2011 essa situação se alterou.

Foi quando chegou a nova leva de bi-articulados Neobus, então consagrados como “Maior Ônibus do Mundo”.

Não é difícil entender o porque. Desde que foram criados nos anos 80 até 2011, os bi-articulados tinham cerca de 25 metros de comprimento. O “Maior do Mundo” veio com 28 metros.

Até então, o motorista ficava ao lado da porta 1, na configuração adotada aqui em Ctba. .

Caio ‘Top Bus’ da mesma viação Cidade Dutra. Na capital paulista as portas são ao nível do solo, então elas podem variar de posição. Mas repare nos 2 últimos vagões, o do meio e o do fundo, como estão muito mais compridos.

Nesses Neobus (e a seguir nos Marcopolo e Caio que se seguiram) o veículo ganhou 3 metros mais a frente.

Significando que ainda há alguns bancos entre a porta 1 e a cabine do condutor.

Além disso, eles vieram azuis. A primeira vez que Curitiba tem seu transporte coletivo municipal nessa cor, não custa enfatizar mais uma vez.

Só que não durou. Os novos bi-articulados adquiridos a partir de 2018 voltaram ao vermelho, por questões de economia.

Na Avenida 9 de Julho: nesse ângulo fica bastante evidente como os vagões de trás cresceram (*).

Os Expressos de Curitiba nasceram vermelhos, e assim permanecem. Já tentaram por 3 vezes mudar a cor deles:

1) Em 1987 chegou a ‘Frota Pública’. Foram 88 articulados (com 1 só sanfona, antes do bi-articulado).

Eles vieram laranjas. A seguir pintaram os Expressos das viações particulares.

Tetra-articulado que foi testado nas Filipinas em 2015 – sim, é isso, são quatro sanfonas.

Tanto articulados quanto ‘pitocos’ (não-articulados) também em laranja.

Não deu certo. Em pouco tempo os Expressos retornaram ao vermelho.

Como herança dessa experiência, a cor laranja não saiu do sistema.

Próximas 3: bi-articulados no México, que adotou em larga escala os ônibus com dupla articulação a partir de 2018. O sistema é gerenciado pela estatal federal MetroBus, e operado por viações particulares.

Explico. Até 1988 os Alimentadores eram amarelos, mesma cor dos convencionais.

Quem herdou a cor laranja foram justamente os Alimentadores, que assim passaram a ter cor própria.

E, vejam vocês, a partir das renovações de frota de 2018 os Convencionais também passaram a ser laranjas.

Novamente pra economizar dinheiro, pois ter menos opções de decoração sai mais barato, por motivos óbvios.

Detalhe: portas lado-a-lado (na Colômbia é assim também). Há 2 fabricantes, esse modelo é produzido localmente.

Curioso, não? Até 1988 os Alimentadores não tinham sua própria cor, eram amarelos como os Convencionais.

Por 30 anos, de 88 a 18, Alimentador era laranja, Convencional amarelo.

Depois inverteu. A partir de 2018, são os Convencionais quem não dispõem mais de cor específica, passaram a ser laranjas como os Alimentadores.

Quando a renovação da frota for concluída, a cor amarela sairá do sistema. O laranja, que veio mais tarde, lhe subjugou.

Também circulam lá Neobus brasileiros.

(Em Belo Horizonte ocorreu algo similar: uma cor que veio depois, o verde, na padronização seguinte substituiu uma mais antiga, o vermelho.)

Em outras oportunidades já nos ocupamos da capital mineira, com muitas fotos. Aqui nosso foco é Curitiba. Eu dizia que o laranja acabou com a cor amarela, se tornou dominante.

Nos Convencionais sim. Nos Expressos, que é nosso foco aqui, não. A partir de 1987/88 os Expressos passaram a ser laranjas, primeiro a ‘Frota Pública’ articulada, depois todos os ‘carros’. Mas voltaram ao vermelho.

Próximas 2: Antes/Depois. O mesmo bi-articulado em São Paulo

2) Em 1992 os bi-articulados do eixo Boqueirão, na Zona Sul, foram apresentados cinzas.

Entretanto os do eixo Norte-Sul, em 1995, já voltaram ao vermelho.

Na sequência até os bi-articulados da Carmo, nos eixos do Boqueirão e Circular Sul (ambos na Zona Sul, como o nome do 2º indica), também retornaram ao vermelho.

3) Em 2011 os bi-articulados ‘Ligeirões‘ das linhas 503-Boqueirão e 550-Pinheirinho/Carlos Gomes (via Linha Verde, a antiga BR-116) vieram azuis.

… e agora em Manaus.

Ambas as linhas acima são na Zona Sul, que é disparado a mais populosa de Curitiba.

É por isso que as inovações do transporte começam por ali.

Seja como for, a leva de 2011 foi a primeira e última, e portanto a única, de bi-articulados azuis.

A capital amazonense trazia esses busões usados, quando lá existiram. Agora vamos na mão inversa, começo mostrando um ‘latão’ ex-Curitiba operando na Amazônia.

A partir das renovações de frota sub-sequentes, novamente os Expressos voltaram ao vermelho.

Quando os bi-articulados Neobus azuis forem aposentados, o que ocorrerá em algum momento da década de 20, Curitiba deixará de ter ônibus azuis, e agora tanto no municipal quanto metropolitano.

Não tem jeito. Expresso em Curitiba é vermelho. Já tentaram mudar 3 vezes, sempre voltam ao rubro que é seu território por excelência.

O mesmo “monstro de metal” quando ainda estava no Paraná, parado em frente ao Passeio Público.

……….

“GUERRA DE GIGANTES: DO BI-ARTICULADO AO SUPER-ARTICULADO” –

São Paulo, como dito acima, também tem centenas de bi-articulados.

Como lá a frota total, incluindo todos os modelos, é de 14 mil ônibus – aqui só o município, excluindo região metropolitana – proporcionalmente é certo que Curitiba tem bem mais.

Minha versão dessa cena, um bi-sanfonado Marcopolo em frente ao parque mais antigo da cidade (inaugurado em 1886).

Ainda assim, embora eu não tenha os números exatos pra afirmar cientificamente, acredito que em números absolutos a frota paulistana de bi-articulados é a maior do mundo. Do Brasil não restam dúvidas que sim.

Na capital paulista são 207 (dados mais recentes que tenho, consultei em 2020) ônibus com 2 sanfonas.

Já foram 259 no meio da década de 10, dizendo ainda mais uma vez.

Houve uma pequena redução porque concluiu-se que os bi-articulados devem ficar restritos aos corredores exclusivos.

Aqui e a direita: tróleibus/bi-articulado do ‘Fura-Filas, projeto que foi testado nos anos 90 em SP. Não foi aprovado.

As linhas que ainda não contam com esse melhoramento são atendidas ou por ônibus normais, sem nenhuma articulação, ou por articulados, com somente uma.

Em São Paulo esse processo já está bastante avançado.

No decorrer da década de 10 o número de bi-articulados caiu quase 20%.

Já a frota de articulados, com uma sanfona, cresceu astronômicos 80% no período:

Foi de cerca de 1,4 mil pra 2,3 mil busos. Boa parte deles são “Super-Articulados“.

Vamos entender o que significa esse termo. Trata-se de um veículo com uma só sanfona, visto em imagem mais acima na página (busque pela legenda).

Porém que é alongado, tem 23 metros. Leva 200 passageiros.

O corredor totalmente suspenso sobre o Rio Tamanduateí, no entanto, não foi perdido – e hoje é operado por veículos a dísel (alguns deles bi-articulados) e elétricos mas que dispensam fiação. É o “Expresso Tiradentes”.

Vejamos as medidas e capacidade de passageiros dos veículos sanfonados:

Articulado comum: 17 a 20 metros, de 120 a 150 pessoas a bordo.

1 sanfona (articulação), 3 eixos geralmente – algumas versões de 20 metros contam com 4 eixos.

Só que são raros os articulados comuns de 20 metros e 4 eixos. A maioria tem 17 metros, o vagão traseiro é curto;

– “Super-Articulado”: 23 metros, 200 passageiros, 1 sanfona, 4 eixos, ambos os vagões alongados;

Aqui e na próxima: moderno sistema ‘Trans-Milênio’ de Bogotá, com corredores exclusivos, estações com embarque pré-pago elevado e alimentadores – as linhas-tronco são feitas por articulados (1 sanfona, unicolores em vermelho) e bi-articulados (majoritariamente vermelhos mas com grandes detalhes em amarelo).

Bi-articulado comum: 25 metros, leva 220 pessoas, 4 eixos;

Bi-Articulado “Maior Ônibus do Mundo“, produzido a partir de 2011: 28 metros, até 250 passageiros, 4 eixos, vagão dianteiro alongado.

Assim não é difícil ver que um “Super-Articulado”, apesar de ter uma só sanfona, está mais perto de um bi-articulado comum que de um articulado comum.

Só que ele é mais barato que um bi-articulado mesmo na hora de adquirir 0km.

E na revenda então nem se compara. O bi-articulado é útil enquanto na ativa.

Porém se torna um ‘elefante branco’ após ter sua vida útil encerrada na cidade de origem, ninguém compra.

Ops…o que descrevi acima é a pintura normal dos ônibus bogotenhos. Quando os pichadores da cidade botam suas mãos em qualquer coisa, ‘redecoram‘ dessa forma.

Ou ele tem sua última articulação cortada (o que também custa dinheiro pra fazer) e é vendido como articulado comum, ou mesmo vai pra sucata.

O “Super-Articulado” não tem esse problema. Roda alguns anos na metrópole que o comprou novo.

A seguir vai pra uma capital de menor porte, ou mesmo pra alguma grande cidade do interior.

De 1992 a 2015, somente a Volvo fabricava chassis com 2 articulações no Brasil, de lá pra cá a Scania entrou no mercado.

na Cidade da Guatemala o sistema, igualmente moderno, se chama ‘TransMetro‘ (nessa imagem não há busos de 2 articulações, apenas de 1. Coloquei apenas pra vocês verem o corredor e as estações).

A Mercedes-Benz contra-atacou lançando o “Super-Articulado”.

E deu totalmente certo a tacada. São Paulo já fez a migração.

A partir da renovação da frota de 2019, Curitiba intensifica o mesmo movimento.

Na linha Circular Sul (a única de Expresso que não vai pro Centro, fica restrita a Zona Sul como o nome indica) essa já é a realidade há tempos:

No meio do dia apenas articulados, com uma sanfona. Os bi-articulados chegam no pico, pra ajudar nas viagens mais carregadas.

Agora sim, bi-articulado guatemalteco (fabricação brasileira, na verdade).

E mesmo a linha que liga o Boqueirão ao Centro está de uns tempos pra cá sendo operada de forma mista:

Há bi-articulados, que convivem com os ‘Super-Articulados’.

No futuro, as linhas do eixo Norte-Sul contarão igualmente com ‘super-articulados‘.

Pra baratear os custos do sistema (sendo sincero, não sei como está a situação no eixo Leste-Oeste).

OS “VD’s” – VEÍCULOS EMRESTADOS. Vemos articulado Marcopolo ex-viação Carmo. Está emprestado a outra empresa, por isso o prefixo ‘VD’ – originalmente era ‘ED‘.Pra entendermos como a situação se desdobrou pra chegar ali, recapitulemos o começo: os primeiros bi-articulados de Curitiba  eram cinzas, como é notório. Por 3 anos (1992-1995) só existiu nesse modal a linha 503-Boqueirão, que liga o Centro (local da foto) com esse populoso bairro da Zona Sul, onde eu morei por 15 anos. Os primeiros bi-articulados vieram em dois modelos. Marcopolo, e haviam também os Ciferal. A Marcopolo acabara de adquirir então metade do capital da Ciferal. Em 2000, completou a transação e se tornou proprietária de 100% da Ciferal. Seja como for, antes disso, ambas fabricaram os primeiros bi-articulados, como acabei de dizer. Os da Marcopolo vieram com letreiro, onde está escrito “Boqueirão”. Os da Ciferal, veja você, vieram sem letreiro. É isso mesmo, o vidro era liso, como se fosse de um carro, ou caminhão. Isso porque os bi-articulados a princípio só operavam uma linha. Em 1995 eles passaram a circular no outro eixo da Zona Sul, pro bairro e Terminal do Pinheirinho. Só que o trajeto é distinto. Assim, na canaleta do Boqueirão, continuava a existir só uma linha, não havia como pegar errado, logo ainda não precisa de letreiro com linha. Em 1999, entretanto, surgiu a linha Circular Sul, justamente que une os eixos e Terminais do Boqueirão e Pinheirinho, via Sítio Cercado na ponta mais periférica e via Vila Guaíra na extremidade central. Resultando que as linhas Boqueirão e Circular Sul, ambas operadas por bi-articulados, passaram a compartilhar uma parte de seus trajetos, entre o Terminal Boqueirão até o cruzamento com a antiga BR-116, hoje Linha Verde, no bairro do Parolin. Portanto a partir de agora os ônibus precisam ter letreiro indicando a linha. Nos antigos Ciferal, que não contavam com esse equipamento, na frente implantaram um letreiro completo (apenas menor e na parte de baixo do vidro, como nos ônibus de viagem), de lona. Porém nos vidros laterais, perto das portas foi preciso improvisar um letreiro de metal, onde uma placa era colocada, mostrando se o ônibus estava cumprindo a linha Boqueirão ou a Circular Sul. Só quem é busólogo pra guardar um detalhe desses na mente. Fazer o que? Em 2003, como dito, a Carmo deixou de operar ônibus com sanfona, seja com 1 ou 2. Sua frota (bi) articulada foi repassada as demais empresas, e ganhou o prefixo ‘VD‘.

………..

Alias como contamos na legenda de uma foto mais pro alto na página, Mauá (na Grande SP) vetou os bi-articulados em 2009.

Por hora, voltemos a falar da capital do estado. Articulados, com somente uma sanfona, São Paulo tem mais de 2 milhares de exemplares, como acabo de relatar e é notório.

Mais precisamente 2,3 mil deles. Com isso, é quase certo que a frota paulistana de articulados seja também a maior do mundo, em números absolutos. Só que nosso tema hoje é o busão bi-sanfonado.

São Paulo foi a 2ª cidade no Brasil e também a 2ª fora da Europa a adotar o bi-articulado, logo após Curitiba, assim que eles surgiram, no começo dos anos 90.

Os bi-articulados paulistanos pioneiros tinham pintura específica pra eles, eram amarelos.

Tudo isso já disse. Vamos então as novidades. No começo dos anos 90, mais precisamente em 1992, a prefeitura eliminou a padronização de ônibusSaia-&-Blusa‘, que vigorava desde 1978.

E adotou a padronização ‘Municipalizado’, que ficou vigente até 2003.

Por esse modelo, a princípio todos os busos da cidade tinham a mesma pintura, brancos com uma faixa vermelha.

No meio dos anos 90 foram surgindo diversas variações: pros busos ‘tocos’ (não-articulados) a dísel e elétricos (tróleibus) manteve-se o descrito acima.

No entanto adicionou-se uma pequena faixa menor colorida a frente e atrás, que indicava qual parte da cidade a linha ia.

Houve um novo desdobramento: por um tempo, os busos ‘tocos’ a gás natural, e também os mais compridos (‘padrão’ alongados [‘padron’], articulados e bi-articulados) a dísel ganharam pintura própria.

Enquanto as outras linhas seguiram brancos com faixas vermelhas, esses que citei no parágrafo acima (a gás e com sanfonas ou pelo menos ‘padrão’) tinham um outro esquema:

Eram unicolores, com uma figura geométrica estilizada bem grande na lateral. Os a gás natural eram inteiro em azul-claro. Já os demais, de comprimento maior, ficaram amarelos.

E foi assim que os bi-articulados surgiram em SP, amarelos portanto.

Essa diferenciação não vingou, exceto pros busões a gás. Esses sim ficaram azul-claros por um bom tempo.

VOLTAM OS “VD’s”; E VOLTA A CHAPA BRANCA – Essa situação descrita na foto anterior, dos VD’s ex-Carmo, perdurou de 2003 a 2006, mais ou menos. Porém, a partir de 2006 surgiu uma nova leva de “VD’s”, e esses tinham chapa-branca (nota: com o padrão de emplacamento ‘Merco-Sul’ que está sendo implantado, todos os veículos, particulares e públicos, leves e pesados, têm placas com fundo branco, muda a cor das letras pra diferenciar essas situações específicas. Mas nos modelos de emplcamento que vigoraram por 5 décadas [de 1970 a aprox. 2019] ‘chapa-branca’ indicava propriedade pública, esclareço pros mais jovens que não presenciaram os emplacamentos antigos). Sigamos. Veja o VD971 fazendo a linha Circular Sul, também pela Cid. Sorriso. O ‘V’ no prefixo (ao invés do ‘G’ que é o código dessa empresa) e a placa branca se devem ao fato que depois que os bi-articulados vencem a vida útil passam a ser propriedade da prefeitura. Continuam sendo operado pelas viações particulares, mas são agora parte do erário municipal. Como ocorria com a antiga ‘Frota Pública’ implantada pelo Requião. A diferença é que Frota Pública foi pública desde o início, comprada pela prefeitura. Os ‘VD’s’, como esses busos são chamados, foram adquiridos pelas empresas privadas. E em nome delas permaneceram em sua 1ª década. Passaram pro patrimônio estatal apenas a partir do 11º ano de existência no sistema. Enfim, isso explica a chapa branca. Tanto que foi a prefeitura quem leiloou esse lote, quando ele não tinha mais como rodar.

No entanto as linhas troncais, feitas por veículos maiores (articulados e ‘padrão’ alongados) logo foram repintados.

Ganharam faixa verde sobre fundo alvo, sem a faixinha menor indicando a região.

Resultando que se os bi-articulados surgiram amarelos, enfatizando de novo, logo viraram brancos com faixa verde.

No começo os bi-articulados em São Paulo eram pouquíssimos, quase uma relíquia.

E só operavam na Zona Sul, a mais populosa da metrópole.

Só já nesse milênio esse tipo de ônibus foi se massificar por lá, quando passou a operar também na Zona Leste.

Agora o processo está consolidado, o bi-articulado é um veículo tão típico de São Paulo quanto o é de Curitiba.

……….

Outras 2 cidades no Brasil tem bi-articulados: Goiânia e Campinas, vocês sabem.

Rio e Manaus já os tiveram, mas não é mais realidade. Em Rio Branco-AC o será em breve.

No entanto até o momento que a matéria sobe pro ar (2020) ainda não aconteceu.

Falemos um pouco de cada uma delas. Afora as pioneiras Curitiba e São Paulo, Goiânia é a terra em que esse tipo de busão está melhor enraizado.

Os primeiros bi-articulados goianos foram adquiridos em 2005.

No começo eram apenas 5, da marca Caio, e tinham cor amarela. Rodavam somente nos horários de pico.

Aqui e na próxima, mais exemplos de ‘VD’s’: busos que por estarem com a vida útil vencida passaram a ser propriedade pública. Veja que na ficha técnica o sítio que publicou colocou corretamente as empresas como ‘Urbs (pref. de Ctba.)/Exp. Azul.

Em 2011 chegaram mais 30 bi-articulados, dessa vez de carroceria Neobus (que pertence 40% a Marcopolo).

Alias nessa leva foram nada menos que 90 veículos pesados:

Além dos 30 bi-articulados que acabo de falar, viram também 60 articulados, com uma só sanfona.

Dessa vez todos na cor azul. São operados pela empresa do governo estadual MetroBus, que até 1997 se chamava Transurb.

Uma das poucas viações estatais do Brasil que escapou da onda de privatizações dos anos 90.

Vemos claramente as placas brancas.

Também escaparam a vizinha TCB, de Brasília-DF, e da Carris de Porto Alegre-RS.

No entanto, agora no começo da década de 20 estão novamente falando em privatizar a MetroBus. Veremos o que acontece.

O fato é Goiânia sempre foi uma cidade pioneira no transporte coletivo.

Curitiba inaugurou seu sistema de ônibus ‘Expressos’ em 1974, como sabem.

Sendo assim a 1ª cidade do Brasil e ao lado de Lima/Peru a 1ª do mundo a fazê-lo.

Sistema ‘Via-Livre’, do Recife-PE. Originalmente previa a utilização de bi-articulados, e caso se concretizasse seriam os primeiros do Nordeste. Não aconteceu, acabaram adotando apenas articulados (1 sanfona), e mais recentemente até veículos não-articulados.

Pois bem. Goiânia veio logo a seguir, e já em 1976 implantou o ‘Eixo Anhangüera‘, onde os ônibus tem sua pista exclusiva.

Até hoje essa é a espinha dorsal do transporte na capital de Goiás.

Alias recentemente o ‘Eixo Anhangüera’ foi ampliado pra atender também a região metropolitana.

Nada mais natural se a viação que o administra e opera é do governo estadual.

Tomada aérea dos anos 90 mostra frota 0km na fábrica da Volvo, no bairro Cidade Industrial de Curitiba, na Zona Oeste – pela pintura unicolor rubra vê que eles operaram na mesma cidade que foram fabricados.

………..

Em 2010 foi a vez de Campinas. Uma dezena de bi-articulados rodam pelas ruas da maior cidade do interior paulista.

Ali, as encarroçadoras são as marcas Marcopolo, Caio e finada Busscar.

No século 20, apenas Curitiba e São Paulo tiveram bi-articulados.

Goiânia se juntou a elas com 5 busões em 2005, e a partir de 2011 com dezenas desses ‘monstros de metal’.

São Paulo ameaçou abandonar a padronização ‘Inter-Ligado‘ (na qual os busões têm a cor da região da cidade que servem) por essa unicolor cinza pra todas as linhas. No fim se criou uma nova pintura, intermediária: o fundo é cinza, mas há detalhes nas cores do ‘Inter’… .

Na 2ª metade da 1ª década do século 21, Manaus também passou a contar com eles.

Ali eram veículos usados, ex-Curitiba e São Paulo. O estado de conservação por vezes deixava a desejar. 

Quando estive lá, em 2010, vi que o transporte de Manaus precisava de uma modernização, malgrado contasse com articulados e bi-articulados.

Não havia padronização nas pinturas e sequer no local de entrada, se é pela frente ou por trás.

Escrevi no texto original (a seguir retifico) que nessa épocaem Fortaleza-CE e Salvador-BA você entra por trás nos ônibus, como um dia foi no Brasil todo.

Só que nessas capitais nordestinas era padronizado, você entra por trás em todos os ônibus, em todas as linhas”.

Posteriormente ambas essas capitais nordestinas inverteram a entrada pra frente.

Seja como for, que quero colocar aqui é que em Manaus, em 2010, presenciei algo que eu nunca vi:

O mesmo veículo, agora operando em Realeza, Sudoeste do PR. Quase mantiveram o mesmo nº, virou o ‘BDO122’. E aproveitaram até a inscrição ‘Cidade de Curitiba‘, apenas tiraram o nome da capital e colocaram o da sua nova casa, no interior.

Dava a impressão que cada empresa escolhia se você embarca por trás ou pela frente.

De forma que quem é de fora da cidade só ia saber se aquela linha era por trás ou pela frente quando o ônibus encostava.

Isso valia pra veículos de todos os tamanhos, normais e também ou poucos articulados e bi-articulados que lá rodavam.

Por aí você imagina como era o transporte coletivo manauara.

Agora parando no tubo. Você sabia disso, que Realeza-PR também tem bi-articulados, com direito a estação-tubo e tudo?

Entretanto, com a entrada dessa nova década de 10, a coisa mudou.

Por ser a capital do Amazonas uma das sedes da Copa do Mundo que ocorreu no Brasil em 2014.

Manaus vem passando por uma necessária modernização em seu sistema de ônibus.

Isso escrevi na ocasião (2013, antes da Copa). Agora o processo já avançou bastante, vejamos o texto original.

Quito conta com tróleibus-articulados, corredores exclusivos e estações elevadas com embarque pré-pago. Sim, esse só tem 1 sanfona. É apenas pra você verem a moderna rede de transportes da capital equatoiriana.

Enfim, a pintura dos ônibus foi unificada, padronizada pra todas as viações.

E eu creio que a entrada também foi padronizada pela frente.

Foram comprados centenas de ônibus novos, a maior aquisição da história da cidade.

Entre eles dezenas de articulados – aqui, me refiro a veículo com uma só sanfona, não são bi-articulados portanto.

Quem sabe um dia veremos bi-articulados zero km na Amazônia também.

Vejam que beleza: aqui e na próx. tomada, os bi-articulados (a dísel) Volvo/Marcopolo brasileiros que agora operam nos corredores de Quito.

No momento Manaus não tem mais bi-articulados, nem adquiridos novos nem usados.

Em 2014, justamente no ano da Copa que teve sua finalíssima no Maracanã, o Rio estreou seus primeiros bi-articulados.

Foram apenas 2, um Neobus e um Marcopolo, e pouco duraram, infelizmente.

Na 2ª metade dos anos 10 o Brasil adentrou novamente em crise política e econômica.

Portas elevadas dos 2 lados.

O Rio de Janeiro sentiu bastante essa queda aguda, nem tem como ser diferente.

Passada a Copa e também a Olimpíada que igualmente foi lá em 2016, o financiamento federal e estadual diminuiu.

O transporte coletivo foi bastante afetado. Os bi-articulados pararam de rodar em terras cariocas no ano de 2018.

O Rio teve bi-articulados, por pouquíssimo tempo, como conto ao lado. Um dos busões que operou em terras cariocas foi repintado e irá estrear em Rio Branco do Acre.

Chegaram apenas em 2014, eram somente 2, e duraram meros 4 anos.

A história dos ônibus longos no Rio foi curta, paradoxalmente. Bem, a padronização de pintura dos ônibus lá também foi a mais breve da história.

Já que o tema é esse, adiciono aqui o texto publicado da matéria sobre o Rio de Janeiro publicada no blogue “De Busão pelo Mundão” (resumindo algumas das informações já faladas acima).

Fiz uma série sobre os bi-articulados no Brasil, que originou essa matéria que acabam de ler.

Mais 2 imagens dos bi-articulados de Mauá, na Grande SP, que foram comprados, reformados e pintados, mas nunca rodaram. Aqui uma foto de frente do Marcopolo que já vimos de costas mais pro alto na página

A postagem sobre o Rio foi publicada dia 29 de novembro de 2019.

Rio de Janeiro, década de 10. Mostro a foto de um bi-articulado Volvo Neobus.

Indo pro Terminal Alvorada, na Barra da Tijuca, Zona Oeste (já postada nessa atual matéria, bem no início dela no alto da página). 

Pertencente ao modal de ônibus ‘BRT’ TransCarioca e suas expansões.

O Rio teve bi-articulados entre 2014 e 2018, mas eles já deixaram de operar na ‘Cidade Maravilhosa’.

Próx. 3: bi-articulados Caio ‘Top Bus‘. Amarelo também de Mauá, em outra decoração.

O Rio de Janeiro passou por grande modernização no transporte no começo da década de 10.

Por conta da Olimpíada de 16 (que foi lá) e da Copa do Mundo de 14.

(Cuja grande final também foi ali, no Maracanã, excelso palco do futebol mundial.)

No começo desse milênio o Rio não tinha sequer articulados.

Aqui e esq. municipais de SP, acima servindo o Terminal da Varginha, Zona Sul.

Muitos menos ônibus BRT’s e estações com embarque em nível, nem sonhar com padronização de pintura.

Tudo isso foi implantado, e como vimos no ano da Copa do Mundo começaram inclusive a rodar modernos bi-articulados.

Das marcas Marcopolo e Neobus – a Neobus é 40% de propriedade da Marcopolo.

Ultimamente busos de 2 sanfonas chegaram a Zona Leste, no caso indo p/ São Mateus.

………..

Já atualizei as informações na abertura da matéria. Agora segue o texto original, escrito em 2020, a seguir mais uma vez corrigimos o que mudou de lá pra cá:

Apenas 4 cidades do Brasil contam com bi-articulados atualmente: São Paulo, Curitiba, Campinas e Goiânia. O Rio e Manaus fizeram parte dessa seleta lista em algum momento, mas não mais.

No começo dessa milênio várias capitais importantíssimas do Brasil não tinham sequer articulados, com uma sanfona somente.

Mais uma imagem do bi-articuldo de Campinas rodando em Porto Alegre pela Carris – veja o logo da viação na lataria.

Na época, o Rio de JaneiroBelo Horizonte-MGSalvadorFortaleza (entre outras) não contavam com articulados.

Digo, visitei BH em 2012Haviam sim articulados, mas numa única linha, que inclusive tinha pintura própria

A que ligava as estações de metrô e ônibus do Vilarinho a Cidade Administrativa, a sede do governo do estado.

Que é bem distante, ainda no município de Belô mas no extremo norte dele, na divisa com Santa Luzia e Vespasiano.

Essa linha (Vilarinho/Cid. Adm.), pelo seu caráter especial, tinha pintura específica.

E era de graça pros funcionários públicos que lá trabalham, bastava apresentar a carteira funcional.

Porém pras linhas normais, que eram tarifadas, a capital mineira não tinha nem ônibus articulado, muito menos bi-articulado.

Até 2011, os bi-articulados de Ctba. eram todos vermelhos. Aí chegou a leva da Neobus azul – esse clicado no Terminal do Boqueirão, Zona Sul, no 1º dia de operação, em 2011, ainda sem placas (*). Todos os bia-articulados azuis são Neobus, e vieram 0km já nessa cor.

Já Manaus, vejam vocês, tinha tanto articulados quanto bi-articulados.

Faço a ressalva que várias das capitais citadas acima também modernizaram sua rede de transportes.

Quando estive em B.H. em 2012 o Move estava na fase final de obras.

Agora já está operando, com articulados, corredores exclusivos, e estações modernas com embarque em nível pré-pago. 

A linha Vilarinho/Cid. Adm. (a única que tinha sanfonados quando fui lá) foi incorporada ao Move, e virou alimentadora do mesmo. 

Em Fortaleza idemAlém de corredores exclusivos, articulados e estações com embarque elevado, uma linha de trem de subúrbio virou metrô, e a segunda linha de metrô – com VLT – entrou em funcionamento.

Todos, exceto um. Esse Marcopolo era vermelho (na imagem seguinte ele na cor original) e ficou celeste. Foi o único de toda frota a ser repintado.

A capital baiana implantou o sistema Integra Salvador, que padronizou a pintura e mudou a entrada pela frente. 

Creio que a cidade até hoje não tenha articulados (eles existiram nos anos 80 e 90, mas nesse milênio só rodaram poucos exemplares em testes, inclusive alguns que iam pra Manaus).

Em compensação, Salvador já conta com 2 linhas de metrô.

Uma modernização também se deu no Rio. Foram inaugurados os modernos corredores do sistema Trans-Carioca.

Então agora a Cidade Maravilhosa tem – como a capital mineira – articulados, corredores exclusivos e estações modernas com embarque em nível pré-pago.

Os articulados fazem as linhas-tronco, mais longas, e ônibus curtos ou micros os alimentadores locais, com integração tarifária.

A linha Pinhais/Rui Barbosa é a única minter-municipal que conta com ônibus de 2 sanfonas na capital do PR – daí o ‘M’ de ‘Metropolitano’.

O metrô também passou por significativa ampliação, chegando a Barra da Tijuca, na Zona Oeste.

Atualização: no final da década, após a Olimpíada de 2016 que lá foi sediada, o Rio de Janeiro passou a enfrentar sérias dificuldades.

Isso repercutiu também no transporte coletivo, como não poderia deixar de acontecer.

Marcopolo que virou museu ambulante, decorado com a bandeira da Pátria Amada.

Tanto que a cidade deixou de contar com bi-articulados. Os articulados continuam operando.

Além disso, o Rio despadronizou a pintura, voltou a pintura livre.

Primeiro nos ‘carros’ que têm ar-condicionado. Isso só acontece no Rio. Em todas as demais cidades ter ar-condicionado não é desculpa pra não ter que cumprir a padronização de pintura.

Mais um desses bichões rasgando a Avenida 9 de Julho, SP, em tomada de 2018 (*).

A seguir toda a frota, com e sem ar, foi despadronizada. Enfim, é assim que as coisas estão.

Até o começo desse milênio o transporte carioca estava com sérios problemas.

Houveram grandes avanços. Infelizmente o teleférico nos morros, a padronização de pintura dos ônibus e os bi-articulados não puderam ser mantidos

Estação do ‘BRT’ abandonada no Rio. Em 2019 (antes da epidemia, não tem nada a ver com a doença) mais de 20 estações do ‘BRT’ carioca estavam fechadas em definitivo devido ao vandalismo. Em 2021 elas começaram a ser reabertas após serem reformadas.

Ainda assim a ampliação do metrô, o elevador no morro Stª Marta/Dª Marta, os articulados, os corredores exclusivos e estações com embarque pré-pago em nível e a ampliação do metrô chegaram pra ficar.

Fazendo um balanço, podemos dizer que a década de 10 foi positiva. No entanto, a década de 20 está sendo complicada.

Vários modais do transporte carioca estão em estado pré-falimentar ou já sob intervenção pública, como o próprio ‘BRT‘.

Além disso, como já dito, em 2021 Manaus e Boa Vista voltaram a ter articulados:

Divisa quádrupla: nessa esquina se encontram os bairros da Boa Vista, Santa Cândida, Bacacheri e Vila Tingüi, na Zona Norte de Curitiba. 2 bi-sanfonados vermelhos rumam ao Centro.

A capital do AM depois de uma década e a vizinha capital de RR depois de um ano e pouco.

Rio Branco teve um bi-articulado por uns meses, oriundo do Rio mas que logo seguiu pra Manaus.

SÉRIE COMPLETA “BI-ARTICULADOS NO BRASIL” NO BLOGUE ‘DE BUSÃO PELO MUNDÃO’:

(entre parênteses a data de publicação):

O Sol se Põe no Oeste“: próximo ao Rio Barigüi (nesse trecho divide o Camp. do Siqueira do Mossunguê na Zona Oeste) outro desses bichões também se dirige ao Centro da cidade (*).

– SÃO PAULO (11/03/2020);

– CURITIBA (09/10/2019);

– GOIÂNIA (29/04/2020);

– CAMPINAS (22/04/2019);

RIO DE JANEIRO (29/11/2019);

– MANAUS (23/11/2018);

Cidade de Luzerna, típico cenário dos Alpes.

Agora  várias galerias de imagens dos bi-articulados pelo mundo. Primeiro na Europa, lembrando sempre que eles surgiram nesse continente, ainda nos anos 80.

(Na China na mesma época houveram protótipos, mas os bichões até hoje não se popularizaram nesse país asiático.)

Na Suíça são comuns os tróleibus bi-articulados. Então começamos por eles, ao lado e nas 2 primeiras imagens do carrossel abaixo.

Voltando a América, como sabem um bi-articulado usado europeu operou em Havana, por volta de 2015.

Campinas, São Paulo. Única cidade que não é capital a ter esse modal (iniciaram as operações em 2010).

Goiânia, onde, repetindo, esses bichões começaram em 2005.

São Paulo, 2ª cidade do Brasil a contar com eles, e que hoje possui (prov.) a maior frota do mundo.

A tomada ao lado é de minha autoria, foi feita no Brooklin, Zona Sul, em 2014.

Na galeria abaixo voltamos as imagens baixadas da rede. Todos são Caio, incluindo o da esq. .

Vamos falar novamente de Curitiba. Recapitulando a linha do tempo:

“Deus proverá”

“Desse lado do Morro”: a Cidade do Vinho, Mendonça-Argentina

Mendonça, Argentina: ao pé da Cordilheira dos Andes.

Por Maurílio Mendes, O Mensageiro

Publicado em 18 de março de 2019

Fechamos a série sobre a Argentina.

E pra encerrar com chave de ouro, vamos falar sobre a cidade de Mendonça.

Mendonça, a “Cidade do Vinho”.

A 4ª maior do país, na base dos Andes, quase na fronteira com o Chile.

……….

Em 18 de março de 2017 eu estava em Buenos Aires.

E de lá, diretamente da capital argentina – vendo o famosíssimo Obelisco de minha janela – eu desenhei e joguei no ar um casal dançando tango.

Por toda cidade há canais nas ruas pra escoar a água que desce dos Andes.

Assim, a série de postagens sobre a Argentina foi aberta ‘in loco’, da própria Argentina.

Por isso, em 18/03/18, em comemoração ao primeiro aniversário, publiquei justamente a matéria sobre Buenos Aires, chamada ‘O Número da Besta.

Agora, em 18 de março de 2019, marcando o segundo aniversário, escrevo sobre Mendonça.

E concluo essa saga de reportar o que presenciei na vizinha nação.

Falamos também sobre Córdoba, sobre futebol, transportes, política, sobre como as mulheres se vestem, e muito mais.

Panorâmica de Mendonça (clique pra ampliar): são poucos prédios altos, concentrados no Centro.

Então agora foquemos em Mendonça, que tem pouco mais de 1 milhão de habitantes, incluindo a região metropolitana – já falarei melhor sobre isso.

Vamos da um panorama geral, depois adentramos melhor em cada tópico.

Resumiremos agora os pontos mais marcantes de Mendonça:

“A Cidade do Vinho” – são diversas vinícolas.

Isso faz que na periferia de Mendonça um copo de vinho de boa qualidade custe mais barato que um de Coca-Cola.

Um espírito interiorano: em Mendonça não há muitos edifícios com elevador (acima a dir.).

3:20 da tarde, dia útil: comércio fechado no Centro – as pessoas estão em casa sestando.

E de tarde o comércio fecha, todo mundo vai pra casa tirar a sesta.

Depois voltam pra trabalhar a noite (esq.).

Valas nas calçadas em todos os bairros: tanto no Centro quanto burguesia e periferia, a cidade é inteira marcada por canaletas nas calçadas.

Elas servem pra distribuir a água oriunda do desgelo da Cordilheira dos Andes.

Quase 8:30 da noite, o comércio está aberto.

Aos pés da qual a cidade está erguida, e da qual depende pra consumir água.

Uma ligação muito forte com o Chile, de quem é vizinha.

Muita arborização, no Centro e periferia igualmente.

………

Carreta chilena na periferia de Mendonça.

Vamos lá então desenvolver melhor esses pontos. O clima favorece o plantio de uvas.

Assim, a produção de vinho é o que mais marca o Espírito Mendoncino, com certeza.

Andava eu, uns dias antes, pela Zona Central de Buenos Aires, quando passei por uma loja de vinhos.

Pois bem. Já estava adesivado na fachada, em letras garrafais: “Somos Produtores. Somos de Mendonça”.

Loja em Buenos Aires: “Somos Fabricantes de Vinho. Somos de Mendonça”. Precisa dizer mais?

Por isso. Mendonça é vinho, e vinho – ao menos na Argentina – é Mendonça.

Nisso, se parece muito com a Cidade do Cabo, África do Sul, que visitei 3 semanas depois.

Essa é outra ‘Cidade do Vinho. Mas da África já nos ocupamos em outra hora.

Aqui, nosso tema é Mendonça. Andando pela periferia da cidade, parei numa mercearia pra comprar um refrigerante.

A cidade é muito arborizada (padrão na Argentina): aqui no Centro.

Levei um susto. Vinho era mais barato que o refri. E vinho bom.

Não estou falando naquele metanol colorido que é vendido em garrafões no Brasil.

Em Mendonça, os alcoolatras não bebem cachaça. Nem vodca, uísque ou tequila.

Eles bebem vinho, e vinho de qualidade razoável. Um privilégio? Não necessariamente.

Na periferia, carros muito velhos (como também é o padrão na Argentina): mas veja quantas árvores adornam a rua!

Dá no mesmo né? Em Mendonça, exatamente pelo preço do vinho ser baixo, não há nenhum glamour em se embriagar com ele.

Cada povo tem uma bebida que cumpre esse papel. No Brasil, é a cachaça

Por isso as pessoas da classe média acham que a cachaça é deprimente.

No entanto, fora do Brasil, a cachaça é cara e tem um glamour.

Próximas 6: valas nas calçadas pra escoar água (destacada). Aqui também na periferia: muitas árvores,  e rua em cimento.

Na Europa, quando uma pessoa da alta burguesia quer presentear um amigo, dá uma garrafa da legítima ‘Cachaça Brasileira’.

Tem mais. Você já parou pra pensar que é assim em todos os lugares? Quero dizer com isso o seguinte:

Na Escócia, é o uísque que é barato e nada chique, e é com ele que os bêbados se entorpecem.

No Centro.

Nos bairros populares de Glasgow, Edimburgo e demais cidades escocesas o uísque está disponível a um preço baixo.

Assim, na Escócia ficar entorpecido com uísque escocês não é nada chique, exatamente ao contrário, é trágico.

Nos bares de Moscou-Rússia e Varsóvia-Polônia, a vodca não é chique, é barata.

Ali, ficar bêbado com o que pra nós é a melhor das vodcas é lamentável, e não um símbolo de ‘status’.

De novo no Centro: quando vazios, canais acumulam lixo que as pessoas jogam nas ruas.

No México, é a tequila – que pra burguesia brasileira é tão cultuada – que é uma desgraça, uma droga legalizada que destrói vidas e sonhos.

Então. Em Mendonça é o vinho que cumpre esse papel, o de ser a bebida mais barata nos botecos.

Sendo mais barato que o refrigerante, não é difícil imaginar o estrago que ele causa em muitas famílias de pessoas que são alcool-dependentes.

Num bairro da Zona Central.

Assim, nos bares da periferia de Mendonça, é fácil e barato obter bastante vinho de boa qualidade pagando pouco.

O que não necessariamente é uma vantagem, pois o custo que ele cobra depois é bem elevado.

Óbvio, foquei aqui nessa parte negativa porque é preciso, o vício no álcool é um problema gravíssimo na Terra, na Argentina como em toda parte.

Numa região de classe-média.

Mas evidente, há uma maioria que sabe apreciar uma boa taça de vinho sem necessitar usá-la como entorpecente.

Pra esses, bem, aí Mendonça é quase uma visão do paraíso.

Imagine entrar numa adega e poder levar uma garrafa de marca conceituada por um valor quase equivalente a de uma garrafa de Coca-Cola ou Pepsi de 2 litros?

No Iraque e na Venezuela, encher o tanque de gasolina custa mais barato que um almoço popular num restaurante do Centrão.

Na periferia da região metropolitana: toda Mendonça tem essas canaletas.

Porque claro, Venezuela e Iraque nadam em petróleo. Analogamente, quase que podemos dizer que Mendonça nada em vinho!

………..

Mesmo sendo uma metrópole, Mendonça ainda tem clima de interior.

O exemplo mais marcante é que ali todos ainda tiram a sesta depois do almoço.

O comércio fecha a 1:30 da tarde, e só reabre as 5. Daí fica aberto até as 9 da noite.

Nas próximas 2, bancas de jornais e revistas: Mendonça é muito ligada ao Chile, por isso vendem ali o jornal chileno ‘Mercúrio’ – além de não estar imune a violência urbana (detalhe).

É só no interior que funciona dessa forma, em Buenos Aires não.

Bem, já escrevi anteriormente que Buenos Aires e o interior da Argentina são mundos a parte.

Politicamente fazem parte do mesmo país, evidente.

Mas cultural e até racialmente são bastante distintos.

É impressionante de ver. Você anda pelo Centro de Mendonça as 2, as 4 da tarde, e está tudo fechado.

No entanto, você anda pelo mesmo calçadão a noite, e está tudo aberto.

O Condorito (principal personagem das HQ do Chile) também é popular em Mendonça.

Aí alguém me perguntou: “mas não tem perigo de ladrões?”

Respondi: “Não, a questão da violência urbana no interior da Argentina é infinitamente menor que no Brasil”.

A Argentina, no geral mesmo na capital, é menos violenta que o Brasil.

Não quer dizer que Buenos Aires seja calma, bem ao contrário.

Carro chileno no Centro.

Foi até os anos 80 e começo dos 90, mas não mais a muito.

Como já escrevi antes e é notório, a Argentina no fim do século 19 e começo do 20 era um país de 1º Mundo.

Evidente pelo fato que Buenos Aires teve metrô em 1913, apenas 4 anos depois de Nova Iorque/EUA.

Outra do Centro: destaquei as valas pra água e que o estacionamento regulamentado (‘Zona Azul’) segue o horário da sesta.

O metrô de B. Aires foi o primeiro:

1) da América Latina;

2) do Hemisfério Sul;

e 3) de um país de língua espanhola, pois veio antes do de Madri/Espanha.

O metrô de Buenos Aires, sendo de 1913, antecedeu o de São Paulo em 61 anos (inaugurado em 1974), e o da Cidade do México em 56 anos (inaugurado em 1969).

Próximas 2: bairro no extremo da Zona Oeste, já na subida da Cordilheira.

Isso basta pra mostrar o quão a frente a Argentina esteve a frente de suas nações-irmãs da América Latina num ciclo anterior.

E por isso Buenos Aires durante quase todo o século 20 teve baixa violência urbana.

Com os assaltos a mão armada e assassinatos sendo raros.

Só que não mais. Na segunda metade do século 20 a Argentina entrou num ciclo de estagnação e mesmo decadência econômica.

Buenos Aires inchou muito. Se em 1970 a cidade (incluindo região metropolitana) contava com perto de 5 milhões de pessoas, em 2010 era o triplo disso. 

Mendonça sob neve (r) – as imagens que forem puxadas da internet identifico com esse ‘(r’) de ‘rede’, todas as demais de autoria própria.

E boa parte dos recém-chegados a capital vieram engrossar as favelas e loteamentos populares do subúrbios.

Onde a infra-estrutura oscila entre precária a quase inexistente.

Some-se a isso que o país entrou numa crise política após a ditadura militar (1976-83) que ainda não conseguiu se recuperar totalmente.

Vinícola.

Se tudo fosse pouco, somado ao alto desemprego e crise política, nos anos 90 chegou com tudo o ‘paco’.

Que é como eles chamam por lá a droga que em Brasília-DF e na Amazônia é conhecida como ‘merla’.

O craque já é um resíduo da cocaína. Pois bem. A merla na Argentina é chamada ‘paco’, repetindo.

Essa é uma droga ainda mais grosseira que o craque, tragicamente.

E na periferia de Buenos Aires infelizmente existe uma febre do paco.

São milhares de jovens viciados, que necessitam fumar diariamente várias doses.

Tudo isso fez com que dos anos 90 pra cá Buenos Aires se tornasse bastante conturbada.

Assaltos e assassinatos agora são rotineiros lá, bem diferente do que era até os anos 80.

Proporcionalmente Mendonça é a cidade argentina com mais articulados.

Claro, as metrópoles do Brasil são ainda mais violentas, uma dura realidade.

Buenos Aires não é calma, longe disso, mas tem bem menos problemas nesse quesito que as cidades de nossa nação brasileira.

E no interior da Argentina a violência urbana é menor ainda, falei tudo isso pra voltar nesse ponto.

Em Mendonça há alguns assaltos, uma situação preocupante.

Vi vários pequenos comércios, na periferia e mesmo no Centrão, atendendo gradeadas, pra evitar roubos com facas.

Eu mesmo entrei numa mercearia pra comprar uma garrafa de refrigerante na periferia de Mendonça, e o dono me atendeu, atrás do balcão, isolado da clientela por barras de ferro.

Aqui e a direita: filma a idade dos carros que eu flagrei circulando pelas ruas!

(Já havia passado pela mesma experiência no Chile, México, Colômbia e Belém do Pará.)

Ademais, lemos na manchete do jornal que houve duas tentativas de raptarem garotas no mesmo dia, uma frutífera e outra malograda.

Quando estive na Argentina (março de 2017) a capital Buenos Aires vivia grave onda de sequestros.

Infelizmente, o problema se desdobrou ao interior também.

Mesmo que não tivesse visto o jornal, vi várias mercearias em Mendonça gradeadas, enfatizando de novo.

Sinal que na periferia e mesmo no Centro há sim ladrões que atacam com facas no comércio.

Ainda assim, no calçadão do Centro, que ainda concentra burguesia da cidade (por isso bem policiado), o problema da violência é significativamente menor.

O que permite que as lojas fechem a tarde, e depois fiquem abertas até as 9 da noite.

Próximas 2: comércios abertos, mas atendendo atrás das grades. Esse na periferia.

Mas claro, há outra questão a se considerar, isso só dá certo numa cidade não tão grande.

Onde as pessoas possam ir pra casa no intervalo da sesta.

As lojas abrem as 9 da manhã e fecham 1:30 da tarde, reabrem 5 da tarde.

Logo, os funcionários precisam morar relativamente próximos ao serviço.

Pra dar tempo de ir pra residência, tirar um cochilo rejuvenescedor, e ainda voltar antes das 5 da tarde.

E agora em pleno Centro da cidade.

Por isso eu disse pra vocês, em Buenos Aires não se tira sesta.

Porque é inviável. A capital argentina tem, repetimos, perto de 15 milhões de habitantes.

Boa parte de sua classe trabalhadora vive em distantes subúrbios.

Pega o ônibus até uma estação de trem e pela linha férrea faz longa viagem até a Zona Central da capital.

Calçadão no Centro.

Leva de uma hora e meia a duas horas pra chegar de casa ao trabalho. Ida e volta dão de 3 a 4 horas.

Assim, não há como ir pro emprego de manhã, pra casa no meio do dia, de volta pro trabalho de tarde e mais uma vez pra casa a noite.

As pessoas passariam mais tempo no transporte coletivo que no emprego.

Uma cidade florida.

Resultando que em Buenos Aires não há mais pausa pra sesta a muito.

Em Mendonça, que tem pouco mais de um milhão, é o exato oposto, é universal.

Praticamente todo o comércio em Mendonça fecha a tarde.

O município de Mendonça é pequeno, pega só o Centro e parte da Zona Oeste da metrópole.

Tanto que até o estacionamento regulamentado (o ‘Estar’ aqui em Ctba., a ‘Zona Azul’ em SP) tem esse mesmo horário de operação.

Em Córdoba há um meio-termo. Algumas lojas ainda fecham a tarde pra sesta e reabrem a noite.

Enquanto que outras tocam direto a tarde e fecham a noite.

Assunção vive numa vibração similar a Córdoba: na capital do Paraguai a sesta já foi abandonada por muitos.

Próximas 2: comércio fechado a tarde pra sesta.

No entanto  alguns comércios ainda a exercem, mantendo a tradição.

Bem, Assunção tem perto de 1,5 milhão na região metropolitana.

Portanto uma população similar a Córdoba e pouco maior que a de Mendonça.

……….

Lojas ‘em sesta’ e restaurante vegetariano.

Outra diferença entre a capital e interior argentinos é na alimentação.

B. Aires adora pizza. No Centrão são centenas de pizzarias.

As vezes uma ao lado da outra, pra todos os gostos e bolsos.

Em Buenos Aires eles têm o costume de almoçar pizza.

Próximas 2: praças em Mendonça.

O que geralmente não acontece aqui no Brasil, nós ligamos a pizza mais ao jantar.

Já na capital argentina tudo acaba em pizza, não tem hora, é só sentar na mesa e pedir, sempre cai bem.

Então, meus amigos. No interior não é dessa forma, ao menos não tão acentuadamente.

Em Córdoba e Mendonça existem pizzarias, é claro, até porque esse é um prato quase oni-presente no planeta.

As praças do interior da Argentina são enormes, parecem parques.

Mas numa proporção muito, mas muito menor que em Buenos Aires.

Digamos assim, no interior argentino a quantia de pizzarias no Centro está mais próxima a que encontramos no Brasil.

Por outro lado, notei uma grande concentração de restaurantes vegetarianos no Centro de Mendonça, que em Buenos Aires são bem mais raros.

Existem estabelecimentos de alimentação na capital que servem somente pratos sem carne.

Quilmes, a cerveja mais vendida da Argentina (ao lado da Coca-Cola, refrigerante mais vendido no mundo): mesmo na ‘Cidade do Vinho’ a bera tem seu espaço.

Eu mesmo um dia almocei num deles no bairro de Palermo, na Zona Norte.

Mas, notem, Palermo, ao lado de seus vizinhos Recoleta, Belgrano e Nunhez, todos formam a parte mais rica da cidade, onde se concentra a burguesia.

E entre os burgueses o vegetarianismo é infinitamente mais comum que entre a classe trabalhadora, como todos sabem.

Quero dizer com isso o seguinte. Vi e mesmo fui cliente de um restaurante vegetariano na Zona Norte de Buenos Aires, no dia que visitei a região.

Favela na Zona Oeste (imagem via Visão de Rua do ‘Google Mapas’).

Porém no Centrão, que foi onde fiquei hospedado, não vi restaurantes vegetarianos em Buenos Aires.

Em Mendonça é diferente. São vários desses estabelecimentos que não servem alimentos feitos com corpos de animais.

Sinal que o hábito de não comer carne está proporcionalmente mais difundido em Mendonça.

Sim, eu sei, por Mendonça ser bem menor, nela o Centro ainda é o reduto da burguesia.

Mesmo assim a proporção de restaurantes vegetarianos ali é bem maior que na capital.

Alias, uma coisa curiosa, vi vários restaurantes vegetarianos em Mendonça que funcionavam somente no sistema ‘pra viagem’.

Próximas 4: Praça Independência, a “Praça de Armas” do Centro de Mendonça, com sua fonte das ‘águas coloridas‘.

Havia o bifê, mas não havia salão, sem mesas no estabelecimento.

Portanto não havia onde sentar, não sendo possível dessa forma comer ali.

Você fazia o seu prato e levava numa embalagem de isopor, com talheres de plástico.

Pra que você vá fazer sua refeição no escritório ou em casa, conforme o caso.

Outra coisa, a pavimentação das vias também marca o contraste entre capital e interior:

Em Buenos Aires, predomina o asfalto, exatamente como no Brasil.

Os Andes ao fundo. A dir. algo interessante: de noite o escudo da Argentina se acende.

No entanto, no Chile (e também no México) o modal preferido é o concreto.

Claro que nesses dois países as principais avenidas são em asfalto.

Mas as ruas secundárias geralmente têm o piso em cimento.

Pois bem. Mendonça tem grande proximidade física e cultural com o Chile.

Resultando que o concreto também é o escolhido pra boa parte das ruas da cidade.

Córdoba não fica perto do Chile. Mas nela as ruas em cimento já são bem mais comuns que na capital Buenos Aires.

……..

Ademais, contribuindo pra esse espírito interiorano, de cidade menor, vemos que Mendonça tem poucos prédios altos.

Próximas 2: em Mendonça as avenidas são numeradas como ‘eixos‘.

O contraste com Córdoba e Rosário é gritante. Essas duas são metrópoles.

Por toda Zona Central de ambas são centenas de edifícios imponentes, com elevador.

E agora está surgindo na extremidade oeste de Córdoba um subúrbio pros afluentes, parecido com a Barra da Tijuca no Rio (mas sem o mar, é óbvio).

Ou seja, o miolo de Córdoba e Rosário, e no caso de Córdoba até num subúrbio distante, está tomado por prédios altos.

‘Marco Zero’, onde os eixos ‘zero’ se encontram.

São muitas centenas deles, pelo Centro e bairros de classe média-alta vizinhos (e nem tão vizinhos).

Em Mendonça não é assim. Mendonça tem relativamente poucos edifícios com elevador.

São algumas poucas dezenas deles, e sempre somente no Centrão mesmo.

Aqui vemos o cruzamento da B. Mitre (eixo 4 Oeste) e Colombo (Eixo Zero).

Fora o Centro em Mendonça não há bairros verticalizados.

Nem mesmo na Zona Central, e muito menos na periferia.

…………

Mendonça tem as suas avenidas numeradas como os ‘eixos’.

Num sistema que guarda alguma semelhança com os nºs da Super-Quadras de Brasília.

Próximas 2: ruas de terra na periferia.

Funciona assim: o cruzamento das Avenidas San Martín e Colombo é o ‘Marco Zero’, onde os eixos ‘Zero’ se encontram.

Ou seja, a Avenida San Martín é o Eixo Zero na dimensão vertical, o que divide a cidade em Leste e Oeste.

Logo, a primeira paralela a leste dela é numerada como o Eixo 1 Leste.

Bairro de bom padrão com sobrados, mas a via em calçamento natural ainda.

A 2ª paralela, a Av. São João, é o Eixo 2 Leste, e assim sucessivamente.

Inversamente, a primeira paralela a oeste é o Eixo 1 Oeste. A Av. Bartolomeu Mitre, por mim fotografada (vide um pouco acima) é sua 4ª paralela pro ocidente, portanto o Eixo 4 Oeste.

Na Av. San Martín a Av. Colombo também muda de nome. Ela se chama assim, ‘Colombo’, a oeste da San Martín.

Próximas 4: como é típico da Argentina, Chile e do Nordeste do Brasil, casas mais humildes com a porta direto na calçada.

Após o cruzamento, a Av. Colombo se torna a Av. José Vicente Zapata. Seja como for, apesar de mudado o nome é a mesma avenida.

Então. E a Av. Colombo/J. V. Zapata divide Mendonça em Norte e Sul, pois é o Eixo Zero na dimensão horizontal.

A Av. São Lourenço (que cliquei na esquina com a B. Mitre) é sua primeira paralela ao norte, dessa forma numerada como o Eixo 1 Norte, a que vem a seguir o Eixo 2 Norte, e por aí vai.

Você já pegaram o jeito da coisa: a Av. Brasil é a 8ª paralela ao sul.

Logo, a avenida que homenageia nossa Pátria Amada é o Eixo 8 Sul de Mendonça.

Tudo isso resulta que de bater o olho na placa você já sabe onde está na cidade, a quantas quadras do Centrão.

Outra coisa: igual ao Brasil, na Argentina, Uruguai e Paraguai se usa o termo ‘Oeste’, como vimos.

Já contei antes, em Buenos Aires se diz ‘Zona Oeste’, exatamente igual fazemos aqui.

Digo isso porque nos demais países hispano-falantes (Colômbia, México, Chile, etc) não se usam nenhum desses termos, nem ‘Zona’ pra dividir cidades nem ‘Oeste’.

‘Norte’ e ‘Sul’ são ‘Norte’ e ‘Sur’. Mas Leste é ‘Oriente’, em todos eles, e Oeste é ‘Occidente’ no Chile e Colômbia, e ‘Poniente’ (‘poente do sol’) no México.

Repare sempre nas canaletas de água.

Assim: o que nós dizemos ‘Zona Norte’, eles dizem simplesmente ‘o Norte’, sem ‘zona’.

E nosso ‘Zona Oeste’ é ‘o Ocidente’ ou ‘o Poente’, sem ‘zona’ de novo.

Isso, repito, nos países trans-andinos e América Central (México incluído).

Na Argentina, como no Brasil, se usa a palavra ‘Oeste’ e também o termo ‘zona’ pra dividir cidade.

Agora como é típico da Argentina – mas do Nordeste brasileiro não! – residências de melhor padrão, mas ainda assim com a porta saindo na rua, sem muros.

Daí nós presenciamos chamado o Eixo ‘Oeste’ em Mendonça.

……

Apesar de nesse ponto Mendonça seguir o resto da Argentina, ela é muito ligada ao Chile, pois esse está logo ali, do ladinho.

É muito comum vermos caros e até carretas chilenos nas ruas de Mendonça.

Tem mais. Vi – e fotografei – na periferia de Mendonça um caminhão chileno vazio, parado em frente a uma casa.

Próximas 3: chegando a Mendonça, ainda na estrada, os primeiros subúrbios da cidade.

Sinal que o motorista estava hospedado na região, ou mesmo morasse ali.

É provável que o motorista seja dali de Mendonça ou no mínimo tenha parentes do lado argentino da fronteira.

Mais ainda: quando fui lá (03/17) o comércio de Mendonça estava pressionando as autoridades a endurecerem o ‘contrabando de roupas’ na fronteira.

Explico: no Chile, visando exatamente esse público argentino, existem centros comerciais populares que vendem vestuário no atacado (como ocorre no Brás, no Centro de São Paulo).

Os argentinos vão lá, enchem as sacolas e depois revendem na Argentina a parentes e conhecidos.

Aí, obviamente as lojas em Mendonça estão perdendo faturamento, e exigem ‘providências’.

A questão é que é um problema de difícil solução.

Mendonça é muito perto do Chile, e continuará sendo.

Setor de Engenharia na Universidade (Z/Oeste).

Enquanto as roupas chilenas forem mais baratas, natural que os mendoncinos continuem a fazer suas compras no país vizinho.

Parafernália legislativa não pode mudar essa lei da economia.

O clima é bem seco, veja quantos cactus a venda na floricultura no Centro.

A não ser que se criminalize totalmente o contrabando, com duras penas de prisão.

A questão é: vale o preço? Pôr na cadeia mães-de-família, que só queriam aproveitar a oportunidade pra vestir seus filhos e maridos?

(E também faturar um troquinho revendendo no escritório ou vizinhança, que mal tem nisso?)

Outra coisa: em 1989, quem tem idade suficiente e gosta de futebol vai se lembrar, Brasil e Chile disputavam no Maracanã um jogo pelas eliminatórias da copa de 1990.

Fachada de um banco. Não restam dúvidas, antigamente as coisas eram ais caprichadas.

Uma torcedora brasileira atirou um rojão no campo. Ele passou perto mas não acertou o goleiro chileno.

O arqueiro adversário, entretanto, simulou ter sido atingido, pra que o Chile ganhasse o jogo no tapetão.

A farsa envolveu a comissão técnica chilena, que derramou mercúrio no jogador pra simular sangue.

Vitral religioso (com as bandeiras do Chile e Peru, além da local). Na periferia, a Argentina ainda é um país extremamente católico.

Por conta disso, o Chile foi automaticamente eliminado das copas de 90 e 94.

O atleta-ator foi banido de jogar futebol profissional de forma perpétua.

E o que tudo isso tem a ver com Mendonça, Argentina?

É simples. Como uma punição adicional, quando o Chile enfim pôde voltar a disputar partidas internacionais, foi proibido por um tempo de fazê-lo em seu território.

Aí o Chile mandou seus jogos em Mendonça. Quase como se estivesse em casa.

Próximas 5: periferia de Mendonça.

Por conta de tanta proximidade, surgiu o título da matéria. Nomeei a série sobre o Chile de “Do Outro Lado do Morro”.

Posto que essa é a característica mais marcante chilena: a de ser uma nação trans-Andina, estar ‘do lado de lá’ da Cordilheira dos Andes.

Pois bem. Mendonça, como Santiago que é tão próxima, está também aos pés da Cordilheira. Mas do lado de cá.

Por isso “Desse Lado do Morro”. Pra mostrar que ela fica exatamente ao pé desses mesmos Andes, que a separam – e a unem – ao Chile.

……..

Sendo uma cidade de sopé de serra, Mendonça é muito fria no inverno.

Essa tirei de dentro de trem, vemos os trilhos.

E acredito que o clima seja seco, vocês viram que vender cactus é um bom negócio por lá.

Por conta disso, seu clima é propício pra produção de vinho.

Os picos dos Andes ficam com neve o tempo todo, mesmo no verão.

Fomos até lá ainda nos últimos dias da estação mais quente do ano.

E, veja a foto logo no começo da matéria, as montanhas mais altas ficam permanentemente cobertas de branco.

Claro, no inverno a neve toma conta da região. Centros de ‘ski’ são um atrativo pra quem pode pagar, já que não é um divertimento barato.

As montanhas ficam com tanta neve que você pode esquiar.

Ainda mais uma vez, repare sempre nas valetas da água dos Andes.

Mesmo na cidade de Mendonça propriamente dita neva com frequência.

Não todos os anos, é certo, mas ainda assim várias vezes por década.

Como comparação, a capital Buenos Aires só viu neve 2 ou 3 vezes em sua multi-centenária história, ou seja B. Aires está igual Curitiba nesse quesito.

Tomada noturna do Centro.

……….

Seja como for, o que ocorre todos os anos é que a neve se acumula nos Andes no inverno, e desgela na primavera.

E a cidade de Mendonça depende dessa água pra sobreviver.

Assim, por toda Mendonça há canais nas calçadas pra neve desgelada, agora em forma de água, escorrer.

Esse é outro dos pontos que mais chamam a atenção em Mendonça.

Próximas 2: a Zona Central, com muitas árvores.

Por toda cidade, Centro, bairros de periferia e da burguesia.

Todos eles são cortados por esses canais, em boa parte de suas ruas.

E os canais são abertos, verdadeiras valas nas calçadas, é preciso olhar bem onde pisa.

Isso, repito, de forma universal, por toda Mendonça – as imagens deixam claro.

Santiago do Chile – mais uma vez as duas cidades são ligadas – tem isso também.

Porém no caso chileno apenas em alguns pouquíssimos bairros da periferia da Zona Leste, que já ficam no pé dos Andes.

Em Mendonça não. É por toda cidade mesmo, inclusive em pleno Centro.

Alias por conta disso Mendonça deve ser o terror dos bêbados, hein?

Praça, elas sempre são gigantes.

Esteja a pé ou de carro, lá você tem que tomar muito, mas muito cuidado com seu trajeto.

Ou facilmente você cai numa dessas valas de escoar a água da Cordilheira.

Quebrando a perna ou as rodas de seu carro, conforme o caso.

Fui a Zona Oeste de Mendonça, nos bairros que já estão na subida dos Andes.

De lá dá pra ver a cidade inteira. E depois voltei a pé pro Centro.

No caminho, passei por um enorme canal de concreto.

Imagem ao lado, via ‘Google Mapas’ (minha câmera ficou sem bateria).

Mas como estávamos no fim do verão, só havia um pequeno filete fluvial.

Próximas 3: o que mais chama a atenção em Mendonça, as canaletas pra desgelo da montanha.

Infelizmente em alguns pontos havia muito lixo, muito mais que aparece na cena a esquerda.

Quanto a água mesmo, e é isso que eu quero lhes contar:

Um riachinho somente, que qualquer um pode atravessar a pé sem problemas.

Isso porque era final de verão, repito, começava a esfriar.

Portanto a neve começava a se acumular na montanha ao redor.

Se eu passasse ali 6 meses depois, isto é, na primavera, teria visto um portentoso rio que ocuparia quase todo o leito do canal.

……..

Mas claro, Mendonça também tem rios perenes, que são caudalosos de forma permanente.

Esses não dependem de desegelo, são fartos de janeiro a janeiro.

Enquanto outros são sazonais, como descrito acima: rios fortes só na primavera.

Nas demais estações se tornam riachos. Falar nisso, ao lado do canal que delimitava um desses arroios havia uma favela, uma das poucas favelas de Mendonça.

A cidade tem bolsões de miséria, é claro, pois é América Latina.

Já descrevi minha volta pela região no capítulo ‘Mad Max em Mendonça’, na matéria de abertura da série.

Então Mendonça tem favelas, passei por uma delas. Mas são poucas. Bem menos que em Buenos Aires.

Próximas 4: canais dos rios de Mendonça (alguns são perenes, outros – esse aqui como exemplo – só enchem de forma sazonal).

A capital argentina, inversamente, tem muitas favelas, e elas estão crescendo pros lados e pra cima.

Hoje as favelas portenhas já não mais se diferenciam das favelas brasileiras.

Em Buenos Aires são diversas favelas, dizendo ainda mais uma vez.

Elas são densas, as lajes já atingem fácil o 4º e 5º andar.

Em Mendonça são poucas e ainda não chegou a ‘cultura da laje’.

Se precisar puxadinho é nos fundo, horizontal (no Paraguai é assim também).

Em Córdoba e na capital, pelas cidades serem maiores, as casas na periferia estão se verticalizando:

Tanto dentro como mesmo foras das favelas, nas periferias cordobesa e bonarense (B. Aires) está sendo comum ‘subir a laje’, como vemos tanto no Brasil.

Em Mendonça isso não existe. As casas na periferia, mesmo dentro das poucas favelas, são térreas.

……

Apenas 4 cidades argentinas superam a marca do milhão:

Sem-tetos no Centro.

Na Grande Buenos Aires vivem praticamente um terço dos argentinos, são quase 15 milhões de pessoas na Capital Federal e seus subúrbios.

Em Córdoba são 1,5 milhão, e desses 1,4 milhão vivem no município de Córdoba mesmo, e apenas 100 mil em subúrbios metropolitanos.

Rosário (essa não pude visitar, infelizmente) vem logo atrás, são entre 1,2 a 1,3 milhão.

Em Mendonça a situação se inverte em relação ao que contei de Córdoba:

1 milhão de argentinos moram na cidade que é a Grande Mendonça.

Na Argentina (e Paraguai também) os bancos só funcionam até o almoço, das 8 a 1 da tarde.

E desses apenas 119 mil vivem no município de Mendonça, pouco mais de 10% portanto.

É que o município de Mendonça é minúsculo em área, como o mapa (visto mais acima na matéria) deixa claro.

Abrange apenas o Centrão e uma parte da Zona Oeste (onde ficam o estádio e a universidade) e outra da Zona Norte.

Quase toda a área urbana da cidade fica em outros municípios vizinhos.

A capital estadual é apenas o 6º município mais populoso da Grande Mendonça, você acredita nisso?

Pois é a realidade. O município mais povoado da Grande Mendonça é Guaymallén, com 320 mil. Pega quase toda a Zona Leste da cidade.

Xadrez no estacionamento da rodoviária? E quase 10 da noite??

Como acabo de dizer e é notório, o município da capital da província (estado) é muito pequeno.

Você está no coração de Mendonça, a Praça Independência.

Onde há aquela fonte com a bandeira argentina e a outra com as “águas coloridas”.

Eis a ‘Praça de Armas’ da cidade do tempo da colonização espanhola (no México o ‘Zócalo’).

Estacionamento na Argentina chama-se “Praia” (‘playa’). A noite a “praia está fechada”, diz a placa. “¡ Bamos a la Playa !

Ou seja no núcleo da metrópole mesmo, onde se iniciou sua colonização.

Pois bem. Caminhe 9 quadras pra leste. Apenas nove quadras o que dá menos de 1 quilômetro, quinze minutos a pé.

Você ainda está na Zona Central da Grande Mendonça, evidente.

Mas, isso que quero apontar, não mais no município de Mendonça, e sim em Guaymallén.

Depois vem Las Heras, com 227 mil, que corresponde a maior parte da Zona Norte.

Próximas 2 tomadas (a mesma em 2 escalas): carros velhos na periferia, rua de concreto.

A seguir Godoy Cruz, 203 mil. Se espraia entre as Zonas Oeste e Sul de Mendonça.

Seu vizinho em área e número de habitantes é Maipú, onde vivem 193 mil pessoas. Parte da Zona Sul e a parte da Zona Leste.

O extremo da Zona Sul já fica em Luján de Cuyo, moradia de mais 137 mil mendoncinos. 

Parece incrível mas é isso mesmo, o município de Mendonça é apenas o 6º mais populoso da cidade que é a Grande Mendonça.

No Brasil, temos um paralelo com essa situação no Espírito Santo.

Pois o município de Vitória, capital do estado, é apenas o 4º mais populoso da Grande Vitória, atrás de Serra, Vila Velha e Cariacica.

Voltando a Argentina, o município de Mendonça é conhecido como “a Cidade” dentro da Grande Mendonça.

Veja ao lado as fotos que tirei do comércio. Quando fica no município de Mendonça mesmo – e não na região metropolitana, é o que quero dizer – eles identificam como ‘Cidade’.

Próximas 6: cenas de Mendonça, suas canaletas nas calçadas, casas sem muros, ruas de concreto, etc.

Abreviação de “Cidade de Mendonça”. Mas não é preciso grafar tudo.

‘Cidade’ já está implícito que é dentro dos limites do município da capital do estado (na Argentina os estados se chamam ‘províncias’, você sabe).

………

No mais, o que podemos acrescentar? Mendonça é extremamente arborizada, as árvores cobrem praticamente todos os bairros.

A cidade mais verde que já estive certamente é Maringá-PR, que tem pouco mais de meio milhão de habitantes na área metropolitana.

Entre as com mais de 1 milhão, as cidades com mais árvores entre as que eu já pisei são Curitiba – onde eu vivo -, Assunção/Paraguai e João Pessoa/Paraíba.

Na Argentina não há tanta arborização quanto nessas acima citadas, mas chega perto. Todas as cidades argentinas são muito verdes, e Mendonça vibra na mesma frequência.

As praças da cidade são gigantes, parecem mini-parques. Em Córdoba ocorre o mesmo.

…………

Mendonça tem algumas linhas de tróleibus, e uma linha de VLT (bonde moderno).

Em ambos os casos alguns veículos vieram usados da América do Norte:

Os trens do VLT operaram antes a linha São Diego/Tijuana, na fronteira EUA/México.

E alguns ônibus elétricos de Mendonça são oriundos de segunda mão de Vancuver, no Canadá, por isso têm adesivos em francês dentro dele.

Sim, eu sei, Vancuver é Costa Oeste, onde não se fala francês.

Talvez apenas por ser canadense esse idioma seja obrigatório na comunicação visual, e de fato por isso está aí.

E proporcional a seu tamanho Mendonça é a cidade que mais tem articulados na Argentina.

Buenos Aires praticamente não tem articulados, em Mendonça eles são relativamente comuns.

Já falei melhor de tudo isso na matéria sobre os transportes.

Nas próximas 6 imagens, não estamos vendo Mendonça e sim Buenos Aires. Aqui e a esquerda os teatros em tomadas noturnas.

……….

No futebol, a Grande Mendonça não consegue ter expressão a nível nacional e muito menos internacional.

Nunca um time da cidade conseguiu ser campeão argentino, e muito menos de torneios sul-americanos.

A principal equipe mendoncina, o Godoy Cruz (conhecido como “Tomba”), está em 2019 disputando sua 4ª Libertadores da América.

É o único clube de Mendonça que já participou da principal competição do continente.

E sua melhor colocação foi uma classificação as oitavas-de-final.

O Godoy Cruz tem também um vice-campeonato argentino.

Todos os campeões da história da Argentina são da Grande Buenos Aires (incluindo os ‘subúrbios estendidos’) e Rosário

Famoso “Choripan”, o pão-com-linguiça, sanduíche nacional argentino.

Córdoba, Mendonça e todo o resto do interior não fazem cócegas ao eixo Bs. Aires-Rosário.

Igualmente já falei desse tema com mais detalhes na matéria sobre futebol.

………..

Documentei algo inusitado na Rodoviária de Mendonça:

Quase 10 da noite, ao ar-livre, duas pessoas jogavam xadrez no estacionamento.

Próximas 2: Metrô de Buenos Aires. Aqui umas poltronas confortáveis que há em algumas estações, e a direita anúncio defendendo a Rússia das acusações dos EUA.

Pelo horário e local, certamente eram pessoas do povão, sem estudo.

Provavelmente funcionários da rodoviária, quem sabe até vigias do estacionamento.

Não sei se foi uma cena ao acaso, ou se eles na Argentina curtem muito mais xadrez que no Brasil.

O que sei é isso seria impensável em nosso país. Aqui, o xadrez tem uma aura intelectual, jamais seria praticado num estacionamento.

ÚLTIMAS IMPRESSÕES DA ARGENTINA –

Como a legenda já informou, as últimas 9 tomadas – a partir daquelas noturnas dos teatros – não mostram Mendonça.

E sim 6 de Buenos Aires e 3 de Córdoba.  Achei essas imagens no arquivo, e as publico aqui.

Pedágio na Grande Buenos Aires.

Já vimos a região boêmia da capital com seus teatros, dizendo de novo.

Depois o ‘choripan’, abreviação de ‘chorizo’ + ‘pan’, ou seja, pão-com-linguiça.

Os argentinos adoram essa receita, tanto que já fotografei o ‘choripan’ aqui no Brasil, na praia que eles frequentam em Florianópolis-SC.

Daqui até o final: Córdoba. Assim é servido café na Argentina, com um copo d’água.

A seguir imagens do metrô: aquelas poltronas confortáveis, que alguns aproveitam até pra cochilar nelas.

E depois anúncios de um sítio da Rússia defendendo seu país das acusações de interferência nas eleições dos EUA.

Acima pedágio na estrada na saída da capital. Na Argentina há uma quantia absurda de pedágios.

Sai caro viajar de carro por lá. Bem, nada diferente do Brasil, não é mesmo?

Em pleno século 21??

Vamos pra Córdoba, pra fechar. A direita: sempre que você pede café na Argentina, eles servem junto um copo de água.

Dizem que é pra ‘limpar a garganta’, e você poder sentir melhor o gosto de seu café.

Ao lado: em pleno século 21, encontrei essa balança numa farmácia de Córdoba.

O farmacêutico tem que ir e regular o peso do medidor, pro aparelho poder indicar quanto você está pesando.

Antigamente no Brasil víamos essas balanças nas feiras-livres, mas aqui mesmo nesse modal está extinto.

Pra pesar gente eu nunca havia presenciado, e vocês? Foi como entrar num ‘túnel do tempo’.

2016: 200 anos da Argentina.

Como arremate: estive na Argentina em 2017. Essa vizinha nação ainda comemorava seu bi-centenário de independência.

Numa estrada no interior do estado (‘província’) de Córdoba, o escudo nacional com os dizeres ‘1816-2016’ estava por toda parte.

Que Deus Pai Ilumine a Argentina e também a toda Humanidade.

O Criador permitiu, cumprimos mais essa etapa do Trabalho.

“Deus proverá”.

Patcha-Papa, Patcha-Mama: Córdoba É América

Córdoba, Argentina.

Por Maurílio Mendes, O Mensageiro

Publicado em 26 de novembro de 2018

Continuando nosso giro pela Argentina, depois de vermos Buenos Aires, vamos pro interior, pra Córdoba, maior cidade do país fora a capital.

Alias esse é um ponto interessante. Em verdade não existe apenas uma Argentina, mas duas: a capital e interior estão unidos numa única entidade política, óbvio.

Uma cidade mestiça: veja que 2 das mulheres dentro do ônibus são de ascendência indígena (pele morena, cabelos escuros e olhos puxados).

Entretanto nas outras dimensões – raciais, sociais, religiosas, culturais – é quase como se fossem países distintos, tamanha a diferença entre eles.

É simples de explicar o porque. A burguesia de Buenos Aires, a ‘Capital Federal’ propriamente dita, é formada majoritariamente por brancos.

Só que brancos realmente, de descendência europeia sem quase mistura com as raças escuras.

Posto que no Brasil o que dizemos ‘brancos’ em verdade são mestiços de pele clara.

E por isso uma cidade mística: Córdoba está cheia de cartazes de ‘amarração pro amor’ e ‘tiro encostos‘. Em B. Aires isso não existe.

Em nossa Pátria Amada a classe-média é formada majoritariamente por mestiços entre europeus e negros e índios.

Apenas um terço dos chamados ‘brancos’ no Brasil seria considerado branco na Europa, EUA, Canadá e África do Sul.

Em Buenos Aires, repito, é diferente daqui. Entre a alta burguesia portenha a imensa maioria seria considerado branco nos países ricos do Hemisfério Norte, porque são euro-descendentes sem mistura.

Córdoba é diferente de B. Aires em muitas coisas. Aqui são comuns as ruas pavimentadas em concreto, que são raras na capital.

Já a periferia de Buenos Aires é mestiça, porque sua população veio do migrada do interior.

Nos subúrbios bonarenses – a ‘Província’, porque a periferia da cidade fica em outro estado – o tom médio de pele é mais parecido com o Brasil e América Latina em geral.

E, falei tudo isso pra chegar aqui, no interior da Argentina predomina a mestiçagem, mesmo entre a classe média e média-alta.

Próximas 2: a mesma catedral no Centro de dia e de noite (fotografei a mesma cena em Belém-PA).

A população de Córdoba, nosso tema de hoje, mesmo em sua classe-média repito é muito diferente da classe-média da capital.

E muito mais parecida com a do Chile, Bolívia, Paraguai, Brasil, Colômbia, México, Peru.

Em Córdoba, embora a maioria das pessoas tenha a pele clara, predominam os olhos e cabelos negros.

É muito comum pessoas de olhos puxados, entregando sua ascendência Americana Nativa. 

E essa diferença se manifesta em diversas dimensões, enfatizando:

Religiosa: em Córdoba são comuns, como no Brasil, cartazes de ‘consultores espirituais’ (geralmente mulheres) que fazem ‘amarração pro amor’, ‘tiram encostos’ e ‘afastam rivais’.

Não pense que isso é universal porque está longe de ser o caso.

Em Buenos Aires essa manifestação praticamente não existe.

Fiquei 5 dias lá e não flagrei nenhum panfleto ou cartaz desse.

Aqui e a direita: Vila Carlos Paz, linda cidade a 40 km de Córdoba. Entre as montanhas e o lago, uma ‘Campos do Jordão Argentina’.

Em Córdoba, ao contrário, vi aos montes, fotografei vários, ainda descartei outros tantos.

É simples entender o porque. Córdoba, pela sua ascendência indígena, é mística, como o Brasil, América Latina e África.

Em Córdoba as pessoas creem nas chamadas ‘forças ocultas’.

Que não podem ser vistas mas que influenciam a vida das pessoas tanto quanto as coisas tangíveis.

Em Buenos Aires, ao contrário, a burguesia é formada praticamente por ateus, que não acreditam no que os olhos não podem ver.

E a periferia de Buenos Aires ainda é majoritariamente católica.

Assim se vê que na capital pouco espaço há pro trabalho de curandeiros e feiticeiros.

Em Córdoba não é assim. No interior, e nessa metrópole interiorana do Norte da Argentina em particular, as pessoas têm Fé.

E tem uma Fé sincrética, como no Brasil: vão a missa na igreja.

Ainda assim também creem em outras manifestações que não as sancionadas exclusivamente pela doutrina apostólica romana.

Foto tirada (prov.) na Avenida Colombo: Córdoba é uma metrópole, tem muitas centenas de prédios altos (os mais antigos até 12 andares na média).

Por isso o ‘Patcha Mama/Patcha Papa’ foi usado no título.

Pois é assim que os índios sul-americanos – incluindo os argentinos – chamam Deus Pai e Mãe.

Não para por aí. Outras dimensões que o interior e capital argentinos são distintos:

Racial: esse já falei acima, alias essa diferença é a raiz de todas as outras;

Social: Buenos Aires está coalhada de favelas, e favelas muito grandes e densas, como no Brasil.

As construções novas são ainda mais elevadas, a Argentina está se tornando mais parecida com o Brasil.

No interior existem favelas é claro pois é América Latina. Mas são poucas, e elas não têm nem de longe a mesma densidade.

Vamos deixar isso bem claro, por isso vou repetir: as favelas da capital são iguais aos do Sudeste Brasileiro, Curitiba e Salvador-BA.

Nessa capitais brasileiras, vão se subindo laje em cima de laje.

Resultando em ‘prédios artesanais’ de 4, 5 e mesmo 6 andares.

Claro que isso também existe em outras cidades além das citadas acima.

A questão é que especialmente nelas essa manifestação é de fato bem forte.

Próximas 2: no extremo da Zona Oeste de Córdoba surgiu um bairro parecido com a Barra da Tijuca, no Rio (sem o mar, óbvio).

Em Buenos Aires é assim também. Bem no Centrão da metrópole há a mais famosa favela argentina, a Vila 31.

Um auto-estrada suspensa sobre viadutos cruza bem o miolo da comunidade.

É impressionante a cena, parece que você está no Jacarezinho (na Zona Norte do Rio) ou na Tiquatira (na Zona Leste de SP), entre outras.

Então, no interior da Argentina passei em favelas, tanto em Córdoba quanto Mendonça (curiosamente em ambos os casos na Zona Oeste das respectivas cidades).

Assim, existem favelas no interior argentino? Claro que sim.

Acontece que elas são poucas, e as casas geralmente ainda não têm laje, são térreas

Digamos assim, Córdoba deve ter umas 4 ou 5 favelas médias.

Cada uma com várias centenas a talvez poucos milhares de habitantes.

E aí diversas favelas menores, com algumas dezenas de habitantes cada.

Nas duas tomada acima e na ao lado, algumas das favelas de Córdoba.

Ambas entre as Zonas Oeste e Central, as margens do Rio Suquía.

Próximas 2, periferia de Córdoba: os problemas não se restringem a favela. Em toda periferia da Argentina, capital e interior, o saneamento básico é precário, o esgoto corre a céu aberto.

A direita o contraste agudo, a favela na margem do rio, e ao fundo os prédios caros e elegantes da burguesia.

Córdoba é América Latina, afinal (já flagrei a mesma cena em Florianópolis-SC, Santos, São Paulo e no Chile, pra citar só os que fotografei pessoalmente) .

Em Mendonça a proporção é ainda menor, quem sabe 2 ou 3 favelas médias.

Repito, não há em Córdoba e Mendonça favelas grandes, onde morem muitos milhares ou mesmo dezenas (e até mais de uma centena) de milhares de pessoas.

E no Brasil, toda América Latina (com exceção do Uruguai e Santiago sim mas interior do Chile não) elas são a visão mais comum da periferia.

Mesmo ao lado de bairro elitizados, como é notório. Em Buenos Aires idem.

De horários: Buenos Aires é como no Brasil, o comércio funciona de manhã a tarde sem fechar pro almoço.

Portal no calçadão, Centro de Córdoba.

No interior não é assim, lá as pessoas ainda fazem a pausa pra sesta.

Isso é especialmente forte em Mendonça, mas em menor medida vale pra Córdoba também.

Nessas cidades (em Mendonça invariavelmente, em Córdoba que é nosso tema de hoje em alguns casos) o comércio abre as 9, vai até 1:30 da tarde.

Aí fecha pra merecida sesta. As pessoas retornam pra casa, dormem umas duas horas. O expediente só volta as 5 da tarde. Depois que as lojas re-abrem vão até 9 da noite;

Culinária: Buenos Aires adora pizza. Simplesmente adora. O interior não liga tanto.

No Centrão da capital há uma pizzaria do lado da outra, pra todos os gostos e bolsos.

Os portenhos adoram comer pizza no almoço, o que no Brasil é raro.

No interior não há esse costume. Claro, há pizzarias, em Córdoba mesmo fotografei uma (dir.). Mas na mesma proporção do Brasil, digamos assim.

Linguística: em Buenos Aires, mercadinho ou mercearia chama-se ‘Kiosco’. Sempre, sem exceções.

Seja na favela, no Centrão, na periferia ou nos bairros de clase-média, é invariavelmente o ‘Kiosco’.

No interior funciona diferente. Em Córdoba e Mendonça, os mercadinhos e vendinhas no Centro e bairros burgueses se chamam ‘kiosco, como na capital.

Porém nas periferias cordobesas e mendoncinas esse termo não é conhecido. Utiliza-se ‘despensa’..

Veja acima, na Zona Central de Córdoba, o comércio usa os dois nomes:

‘Kiosco’ como é corrente em Buenos Aires, e ‘despensa’ como o interior está acostumado.

E agora ao lado: na periferia de Córdoba, só está grafado ‘despensa’, sem ‘kiosco’.

Tudo azul: bandeira argentina tremula no céu limpo de Córdoba.

Outro detalhe da foto a esquerda, mais uma vez repare na falta de saneamento básico, o esgoto corre na rua.

Voltando a diferença linguística, entre ‘despensa’ e ‘kiosco’, e o porque em Córdoba e Mendonça as vezes se usa só ‘despensa’ ou ambos. Não é difícil entender o porque.

Na Zona Central da cidade as pessoas estão mais conectadas a capital, fisicamente e em termos culturais também. Na periferia não necessariamente.

Nos subúrbios de Córdoba (e ainda mais de Mendonça, que é mais longe), a maioria das pessoas que não têm parentes na capital nunca viajou até lá.

A peça de teatro em cartaz em Carlos Paz é “Mulheres Fodidas” (‘minas’, no original, que na Argentina significa ‘mulher’, e não apenas ‘garota’ como no Brasil). E, vejam vocês, na capital estadual a rádio se chama, ‘Louca a Solta’. Coisas de Córdoba

Pavimentação: na capital argentina as ruas pavimentadas em concreto são raras. Predomina o asfalto, como no Brasil

Em Córdoba as ruas em cimento são infinitamente mais comuns, embora não sejam universais como no Chile e México.

……………

Antes de prosseguirmos, uma pausa pras fotos. Algumas cenas captadas de dentro do trem suburbano que leva de Córdoba até Cosquín.

Vimos bastante miséria, vão longe os tempos que a Argentina tinha um padrão social acima da média da América Latina.

Várias favelas, algumas ainda dentro da Grande Córdoba e outras já no interior, próximas a capital porém fora de sua área urbana.

O trem vai a margem de um riozinho, uma cena bonita e relaxante. Mas veja abaixo que a realidade de muitos argentinos não é tão aprazível.

Parque na Zona Oeste de Córdoba.

Tudo isso posto, Córdoba e Mendonça são diferentes entre si também.

Córdoba é uma metrópole plena, urbanisticamente falando.

Sua Zona Central tem aquela linha de prédios volumosa, são centenas sobre centenas de edifícios altos um ao lado do outro.

Na saída do Centro pra Zona Oeste há a Avenida Colombo (‘Colón’ no original).

Camelô no Centro. A crise está brava e cada um se vira como pode.

Então meus amigos. Ali há um bairro de classe alta e média-alta densamente verticalizado.

É um ‘Grand-Canyon’ de prédios, parecido com a Av. Padre Anchieta, também na Zona Oeste mas aqui em Curitiba.

De volta a Córdoba, no extremo da Zona Oeste está surgindo um novo bairro similar aos subúrbios estadunidenses.

Feira de roupas nas praças, outro reflexo da deterioração da situação econômica.

Apenas é vertical, não horizontal.

No fim da cidade, e em casos mais extremos já fora dela, estão erguendo diversos edifícios.

Elevados altos tanto na altura quanto no preço, tornando o local similar a Barra da Tijuca, que também é Z/O do Rio de Janeiro

Claro que Córdoba não tem litoral, está a 700 km de oceano, um dia inteiro de viagem.

Próximas 5: o Rio Suquía corta Córdoba. Percorri ele do extremo oeste até o Centro.

Então o subúrbio elitizado da Z/O cordobesa não tem a parte mais bonita da Barra, a praia.

Porém urbanisticamente há semelhanças. São bairros de padrão alto, verticais, que foram pensados somente pro automóvel

Não há comércio nas imediações, então tudo que você precisar fazer até comprar pão tem que ser motorizado.

Assim, resumindo, Córdoba tem muitos prédios altos já no Centro.

No começo ele é bem limpo.

E diversos bairros densamente verticalizados na Zona Central e agora até nos distantes subúrbios.

Olhando a linha de prédios da cidade, não se tem dúvidas tratar-se de uma metrópole.

Então, gente. Mendonça não é assim. Essa ainda é uma cidade típica do interior nesse quesito.

Uma cidade grande, com certeza, são mais de 1 milhão de habitantes.

Ainda assim, uma cidade tipicamente interiorana, em termos de arquitetura e urbanismo.

Em Mendonça, concentração de prédios altos com elevador só no Centrão.

Pessoas se banham, pra refrescar o calor (o Norte da Argentina é um forno no verão).

Mesmo assim bem menos que em Córdoba. E em Mendonça não há bairros densamente verticalizados exceto o Centro mesmo. 

Fui num bairro mais alto já na subida dos Andes, na Zona Oeste de Mendonça.

Dali tinha uma visão panorâmica da cidade.

E o que vi foi uma cidade basicamente horizontal, verticalizada em seu núcleo sim, mas ao redor dele quase nada.

Mas aí ele vai adentrando cada vez mais a cidade, recebendo dejetos não-tratados (uma pequena favela em 1º plano).

……….

Olhe, e é uma diferença mais cultural que do número de habitantes propriamente dito.

Afinal, se o quesito for esse, Córdoba não é tão maior que Mendonça assim.

A Argentina tem 45 milhões de habitantes. Desses, um terço – 15 milhões portanto – moram na capital Buenos Aires (incluindo os subúrbios metropolitanos, óbvio).

Chegando no Centro o Rio Suquía se torna canalizado – e, acredito, também poluído.

Córdoba é a maior cidade do interior. 1,5 milhão de argentinos residem ali.

Depois vem Rosário (mais próxima da capital em todos os sentidos), com 1,3 milhão.

Mendonça é a 3ª maior cidade do interior, a 4ª maior no geral.

Acaba de ultrapassar 1 milhão (em todos os casos incluindo região metropolitana).

Aqui e a direita: praças em Córdoba. As praças no interior da Argentina são gigantes, parecem parques.

Essas são as únicas 4 cidades do vizinho país acima da marca do milhão.

Voltando as comparação, portanto apenas 500 mil pessoas separam Córdoba de Mendonça.

Posto de outra forma: Córdoba é somente 1 vez e meia maior que Mendonça.

No entanto deve ter pelo menos 4 ou 5 vezes mais prédios altos, com elevador.

Mendonça é uma importante cidade do interior argentino, e exerce sua influência por vasta região em seu entorno.

Só que Córdoba é uma metrópole, sua área de influência abrange toda nação argentina.

……

Como já dito, o Rio Suquía corta a cidade de Córdoba, do extremo de oeste a leste.

Vim percorrendo ele, do extremo da Zona Oeste perto Estádio Mário Kempes até Centro.

Note que a cultura da laje começa a chegar a Argentina.

Trata-se, claro, do costume já tão arraigado no Brasil do cara ter uma casa térrea e por conta própria fazer um sobrado.

Seja pra ampliar sua própria residência ou pra fazer uma segunda moradia independente.

Acima e ao lado exemplos típicos. Isso existe na Argentina, mas bem menos que em outros países latino-americanos (Brasil, Colômbia, México, Peru, etc).

Na sequência abaixo mais cenas da periferia de Córdoba. Algumas tomadas foram a margem do Suquía como explicado acima, e as demais em outros bairros da cidade.

Contei que percorri o Rio do extremo oeste ao Centro.

No começo do trajeto é periferia, e já dentro da Zona Central há algumas favelas, bem pequenas é verdade.

Só que, claro, no geral quanto mais vai aproximando do Centro mais o padrão social sobe.

Então na imagem acima e ao lado, e na sequência horizontal abaixo:

As casas de burguesia na Zona Oeste cordobesa, as margens do Rio Suquía. Algumas sequer têm muros.

Próximas 2: ruas de terra na periferia de Córdoba. Mas nesse caso o bairro é de razoável padrão.

Disse acima que em Córdoba a coisa é bem mais calma que em Buenos Aires, em termos sociais, políticos, de violência urbana, etc.

De fato assim é. Entretanto, Córdoba está inserida politicamente na Argentina.

E portanto não escapa de sofrer – ainda que em menor medida que a capital – os efeitos do terremoto político que a Argentina atravessa.

Quero dizer com isso o seguinte. Quando estive lá (março de 2017) Buenos Aires estava praticamente sitiada pelos protestos diários contra o presidente Maurício Maccri.

No interior, em Córdoba e Mendonça, a agitação política era infinitamente menor. Ali a vida seguia normalmente.

Tirar o presidente não era o foco principal da vida de tantas pessoas como na capital.

No entanto, a tensão social, ainda que bem mais diluída, também está presente.

Em Córdoba estão ocorrendo com frequência apedrejamentos do transporte coletivo.

Sem-tetos no Centrão.

Há um trem suburbano que liga a capital estadual (a cidade de Córdoba) a pequena cidade de Cosquín, no interior, nisso passando por outras pequenas cidades.

Alias do trem se vê muitas favelas (que vão margeando a linha férrea, as vezes entre ela e o rio).

Tanto já no interior como ainda dentro da Grande Córdoba, no extremo de sua periferia.

Próximas 6: a pequena cidade de Cosquín, ponto final do trem suburbano. Ao pé da montanha, uma cidade típica do interior.

Mas a parte mais problemática está perto da Zona Central da cidade.

Antigamente o trem saía da Estação Central, de onde partem os trens de longa distância pra Buenos Aires e outras cidades.

Aí esse trem de subúrbio fazia uma parada numa estação já na periferia de Córdoba.

Que se é chamada Rodrigues do Busto (eu traduzo tudo pro português, lembre-se). E só dali parti pra Cosquín.

Em boa parte de Cosquín você vê a serra ao fundo. E em boa parte da Argentina não há saneamento básico, capital, e interior.

Pois bem. Mas pra transitar entre estação da periferia e a central o trem cruzava uma antiga favela.

Chamada ‘Vila de Náilon’, agora urbanizada, mas os problemas permanecem.

E ali estavam ocorrendo apedrejamentos constantes da composição.

Assim a linha foi seccionada, não vai mais até o Centro, pra evitar o trecho problemático.

Outra coisa. Na hora de irmos do interior pra Buenos Aires (de onde partiu nosso voo pro Brasil) chegamos a Rodoviária de Córdoba.

Bairro de classe-média.

E nada de nosso ônibus encostar. Passou mais de uma hora, os outros ônibus chegando e partindo.

O nosso não vinha. Uma hora e meia, a mesma situação, nem sinal.

Aí ficamos sabendo o porquê. O veículo que nos levaria a capital havia sido apedrejado, teve que voltar a garagem pra reparos.

O Centro da pequena cidade. Em Cosquín predominam as ruas de concreto.

Já contei essas histórias com mais detalhes, aqui é apenas pra vocês visualizarem:

Social e culturalmente Córdoba é bem diferente de B. Aires.

A questão é que politicamente Córdoba também é Argentina, portanto enfrenta também os choque políticos que sacodem a nação.

……….

Se nas dimensões econômica e política Córdoba tem importância fundamental na Argentina, em compensação no futebol a cidade é muito fraca.

Bairro elegante de Cosquín. Se no saneamento básico a Argentina está pior que o Brasil, em compensação a violência urbana é bem mais baixa que aqui, há grades na janela, mas a porta sai na rua, sem muro – e nós vemos isso nas grandes cidades de lá também.

Em 2017 houve o clássico cordobês (Talleres x Belgrano) pela 1ª divisão nacional. Faziam 15 anos que isso não acontecia.

Nunca um time de Córdoba foi campeão argentino, alias disputar a primeira já é um título pra eles.

Em 2002, o Talleres conseguiu jogar a Libertadores, feito que permanece inédito na cidade.

Alias, o futebol da Argentina se resume a Grande Buenos Aires, basicamente, e o que sobre pro interior a cidade de Rosário.

Mural numa mercearia – onde se usa o termo ‘despensa’, e não ‘kiosco’ como em B. Aires.

Os times da capital (incluindo seus subúrbios estendidos) já venceram o campeonato argentino 121 vezes.

(Os dados são de 2017, até então eram dois torneios por ano.)

Os do interior têm 10 títulos. E todos os 10 na cidade de Rosário.

Voltamos a capital estadual, a cidade de Córdoba. As placas de rua indicam o sentido da via, tradição na América Hispânica.

Além disso, todas as 25 Libertadores argentinas (já incluída a de 2018) foram ganhas por clubes da capital e arredores.

Acontece que o interior chegou duas vezes a final, e novamente ambas com a cidade de Rosário.

Portanto, repetindo, o futebol naquele país é grosseiramente centrado na capital.

E o que sobre pro interior é totalmente centrado em Rosário.

Ao lado da placa moderno, fotografei uma antiga, em cerâmica, no Centro – cliquei cena idêntica na Rep. Dominicana.

A única façanha de Córdoba foi ter ganho a extinta Copa Conmebol, em 1999, com o Talleres.

A Argentina tem 3 conquistas nesse torneio, as outras duas são, adivinhe, de Rosário e da Grande Buenos Aires.

Uma taça de um torneio internacional secundário já extinto.

Pouco, pra uma cidade do tamanho e importância de Córdoba.

Próximo dali, uma feirinha de artesanato.

Entretanto, infelizmente no futebol ela é quase irrelevante em termos nacionais.

………..

Vimos a foto acima, há tróleibus em Córdoba, inclusive articulados. E dirigidos exclusivamente por mulheres. 

É uma viação estatal, e há essa política, de só contratar motoristas do sexo feminino.

Linha-Turismo de Córdoba: o 2-andares é ex-Londres/Inglaterra, cortaram o teto. O bichão é valente, segue na ativa em 2017.

Na Argentina são 3 cidades com tróleibus: além de Córdoba, Mendonça (onde também estive, e também andei e fotografei os troleis) e Rosário (onde não pude conhecer, infelizmente).

Estão a frente do Brasil nesse quesito, pois aqui só há esse tipo de ônibus elétricos em duas cidades, a Grande São Paulo e Santos, no Litoral do mesmo estado.

Em toda a América, apenas os EUA tem mais redes de troleibus que a Argentina, lá são 4 cidades.

CARLOS PAZ, A ‘CAMPOS DO JORDÃO’ DO NORTE ARGENTINO –

Repito o que já escrevi antes, adicionado de novos apontamentos.

Estive na Vila Carlos Paz, no interior da província de Córdoba – na imagem ao lado o Centro de C. Paz.

Próximas 7: Centro de Córdoba. Outra cena do calçadão, mensagem religiosa no poste.

A uma hora de ônibus da capital estadual, é uma espécie de ‘Campos do Jordão (SP)’ argentina.

Na verdade Carlos Paz é ainda mais bela que C. do Jordão.

Pois nessa cidade argentina além das montanhas há um rio que vira um lago bem no Centro.

Em Carlos Paz eu ‘quase’ me senti na Suíça, se quer saber.

Monumento “Bi-Centenário da Independência Argentina“, as margens do Rio Suquía.

É muito belo, ao redor do lago dos dois lados há morros.

As casas – nesse ponto de alto padrão – vão subindo a montanha.

Aquelas ruas sinuosas, o clima mais frio, é muito aconchegante.

Agora, sendo a Argentina América Latina, o contraste social é gritante também.

As faces da montanha voltada pro lago estão tomadas por bairros mais caros, ou pelo menos de classe-média.

No entanto, um pouco mais pra frente começa a periferia, onde inclusive há algumas favelas.

Essa é bem próxima a Rodoviária.

Bem, isso não é exclusivo da Argentina. A própria Campos do Jordão-SP também tem favelas e periferias no ‘outro lado’ do morro.

A Vila Carlos Paz está a 40 km do Centro de Córdoba, você faz um bate-volta, sai cedo e volta a noite se quiser.

Claro, quem pode pagar pernoita, e há hotéis e pensões pra todos os gostos e bolsos.

Você pode também alugar uma casa pra temporada, vi muitas placas com esse tipo de anúncio.

E evidente, posar na cidade é mais agradável, você curte a noite. É uma delícia ver o crepúsculo e o início da noite num restaurante na orla do lago, tomando um vinho, etc.

Poste de luz bem antigo.

Todavia nem todos os cordobeses têm essa facilidade no caixa.  Pra grande maioria a conta bancária não é tão polpuda, estamos em tempos difíceis.

Ainda assim você pode pegar um ônibus urbano no Centro de Córdoba. Aí passa o dia em Carlos Paz, e regressa ao entardecer.

Ainda curte a montanha e o lago, sem quebrar o orçamento do mês.

De Rosário a distância decuplica, ou seja são 400 quilômetros.

Os táxis verdes são os tele-táxis, você pede por telefone. Se chamam ‘Remi’ no jargão local. Só em Córdoba eu vi isso em toda minha vida, o ‘tele-táxi’ ter cor diferente dos normais. Nas outras cidades a pintura é a mesma pra todos os táxis, como no Brasil e maioria dos países.

Então é preciso pernoitar. Mesmo assim, muitos rosarinos visitam Carlos Paz.

Comprovei isso pelas pichações nos muros, a guerra entre as torcidas do Rosário Central e Newell’s Old Boys (sigla ‘N.O.B.’ nos pichos).

……

Tudo isso posto, vamos a mais uma retificação. Escrevi que a Vila Carlos Paz é a ‘Campos do Jordão Argentina’.

Na verdade, quem cumpre esse papel com mais propriedade é a cidade de Bariloche, no Sul da Argentina.

Fechamos o Centro com essa panorâmica.

Alias Bariloche é bem maior que Carlos Paz. O dobro, pra ser mais exato.

Carlos Paz tem cerca de 60 mil moradores fixos, Bariloche mais de 120 mil.

Evidente, em ambos os casos estou falando de população fixa.

Próximas 3 fotos: bairros da Zona Central.

Como são estâncias turísticas, nas temporadas esse número se multiplica várias vezes.

Então Bariloche é mais famosa, e tem mais atrações que Carlos Paz.

Inclusive é possível esquiar no inverno, e muita gente vai lá só pra fazer isso.

a questão é que Bariloche também é muito mais longe, fica na Patagônia, no Sul da Argentina.

Maioria de ruas com asfalto. Em Córdoba as com cimento são bem mais comuns que em B. Aires, mas muito mais raras que no Chile.

As 3 maiores metrópoles argentinas – Buenos Aires, Rosário e Córdoba – formam um eixo em diagonal sudeste-noroeste no Centro do país.

Buenos Aires está a apenas 300 km de Rosário, e 700 de Córdoba.

Logo 400 quilômetros é a distância que separa Rosário de Córdoba.

Estando Carlos Paz a 40 km de Córdoba, está a pouco mais de 400 de Rosário, e pouco mais de 700 da capital.

Aqui e a seguir a Zona Oeste: os edifícios novos são mais altos. E os táxis comuns (que você pega na rua) são amarelos.

Resultando que os cordobeses pernoitam se quiserem, senão podem fazer bate-e-volta, como já dito.

E os argentinos que moram em Rosário e Buenos Aires precisam apenas enfrentar apenas algumas horas dentro do carro, especialmente no caso dos rosarinos.

Já Bariloche fica entre 1,5 e 1,6 mil km das 3 maiores cidades do país.

Logo o você tem que ir de avião ou então tem que pernoitar na estrada.

Ambas as opções encarecem muito o custo, evidente.

Assim Bariloche é acessível apenas aos ricos e a alta burguesia da população que mora no Centro da Argentina.

Condomínio fechado. Embora a violência seja menor que no Brasil, é também preocupante.

Dessa forma, a Vila Carlos Paz se torna uma opção atraente.

Não dá pra esquiar, verdade. Mas sai bem mais em conta o passeio.

Claro que no verão os corodobeses também vão a praia  – muitos deles no Brasil, em Santa Catarina.

E os demais nos balneários da Argentina – notadamente Mar del Plata – e Uruguai.

Porém o mar na Argentina é gelado fora dos meses mais quentes do ano.

Mural que fotografei em Córdoba: o cabelo da garota é mais volumoso que todo corpo somado! A menor das cabeleiras ali pintadas, as demais tinham mais de 10 metros!!! A dir. outra’ Rapunzel moderna’, essa de minha autoria, feito em 28 de outubro de 2015.

Resultando que nas outras estações é melhor ir curtir um friozinho na montanha.

Em Carlos Paz, a “Campos do Jordão do Norte Argentino”.

……….

Enfim, meus amigos. Assim é Córboba – as vezes grafada ‘Córdova’.

(A pronuncia é a mesma, no idioma espanhol ‘v’ tem som de ‘b’).

A ‘capital’ econômica do Norte do país, maior metrópole do interior.

Uma cidade mestiça e mística, em seu povo e em sua cultura.

Como no Brasil e América Latina, mas ao contrário de Buenos Aires.

Patcha-Mama, Patcha-Papa. ‘Córdova’ É América. E  como É.

Louvado é Deus Pai e Mãe.

Amém.

O CÉU DA ARGENTINA

Atualizando a matéria, vou inserir aqui outras duas postagens.

Começando por essa, que foi publicada em 7 de janeiro de 2019.

Mostra as fotos que tirei do nascer e pôr-do-sol – em Buenos Aires, Córdoba e Mendonça – e também alguns dias chuvosos.

A direita a Praça Independência de Mendonça ao entardecer.

(Trata-se da “Praça de Armas” da cidade, no jargão hispânico.)

(Já falaremos sobre o que isso significa, pra quem não teve a oportunidade de conhecer os países vizinhos.)

Quando escurece, o escudo a Argentina acende, como percebem.

Bem, não é único caso. O cartão-postal mais famoso desse país da também é iluminado quando a noite cai.

Me refiro, claro, ao Obelisco da Avenida 9 de Julho no Centro de Buenos Aires. Nesse dia ele estava rosa.

A foto a esquerda ao nível do solo. Mas eu via ele de minha janela:

A direita, por outro lado, minha vista da janela em Córdoba.

De manhã cedo, o firmamento está totalmente celeste. Se destaca a Catedral, que já foi vista mais pro alto na matéria.

Na sequência horizontal abaixo, por outro lado, o anoitecer registrado do mesmo local:

Próximas 2: ainda na estrada, chegando em Mendonça, quando mais um dia começou.

A igreja fica na Praça San Martin, que é a ‘Praça de Armas’ Córdoba.

Se alguém não sabe o que isso significa esclarecemos, como prometido:

Bem no Centro de cada uma das cidades que fundavam os espanhóis faziam a chamada ‘Praça de Armas’.

Que era o local onde as tropas (e os homens civis em idade militar) deveriam se reunir caso a cidade fosse atacada.

Ali fazer seu quartel-general pra basear a resistência, e iniciar o contra-ataque.

Hoje essa função bélica é parte do passado então a ‘Praça de Armas’ é apenas a praça principal de cada metrópole.

Vicente Lopes, Z/Norte da Gde. Buenos Aires.

A de Mendonça é a Praça Independência (onde fica a fonte das águas coloridas’ e o brasão argentino que se acende, a primeira imagem dessa mini-matéria).

Enquanto que a de Córdoba essa Praça San Martin vista acima.

E já que tocamos no tema na Cidade do México é o Zócalo (pronuncia ‘Sócalo’).

A direita  o Centro de Buenos Aires, em meu primeiro dia assim que cheguei vi essa cena, e debaixo de tempestade, como está evidente.

Ficou legal o efeito da imagem distorcida pelo vidro molhado, mantive como ‘licença poética’.

E agora o sol sobre o Rio da Prata. Meu último dia na Argentina.

Na verdade meus últimos momentos no país. Cliquei defronte o Aeroporto Aeroparque, já aguardando chamada pra embarcar.

Deixei a Argentina com céu azul, sem nuvens, e dia bem quente.

Exatamente o oposto da chegada. Pra contrastar em todas as dimensões.

Agora uma cena onde aparecem os trens suburbanos de Buenos Aires.

Os prédios da Zona Norte (a parte mais verticalizada e aburguesada da cidade) e ao fundo o pôr-do-sol.

Nessa tomada estamos no município de Bs. As. mesmo, a ‘Capital Federal’.

Alias a rede ferroviária de lá é excelente, já fiz matéria completa sobre o transporte no país.

A esquerda e na sequência horizontal abaixo ainda na Zona Norte, porém agora na Grande B. Aires (a “Província”, no jargão local).

O fim-de-tarde no subúrbio metropolitano de Vicente Lopes, que é de renda bastante elevada.

A orla do Rio da Prata, com os prédios vistos ao fundo. As margens são de pedra, não dá pra entrar na água.

Encerrando Buenos Aires, agora o outro lado da cidade, a Zona Sul (fui também a Zona Oeste, e vi um belo entardecer. Mas nesse dia a máquina ficou sem bateria).

Aqui e na galeria abaixo: anoitece no Centro de Avellaneda, Zona Sul da Gde. B. Aires.

Assim terminou o dia 18 de março de 2017: fui a Avellaneda, subúrbio metropolitano da Zona Sul – que sedia os clubes Independente e Racing, ambos campeões da Libertadores.

Sim, Buenos Aires têm tantos títulos que até o ‘Clássico Suburbano’ opõe dois times que já venceram esse torneio.

Porém do futebol já falei com muitos detalhes outro dia. Aqui nosso tema é o céu.

O anoitecer em Mendonça:

  E fechamos com o crepúsculo em Córdoba, meus últimos momentos na cidade:

Também nessa despedida de Córdoba cliquei as bandeiras nacional e estadual.

Alias despedida de Córdoba e da Argentina, ao anoitecer peguei o ônibus pra B. Aires, onde fui direto pro aeroporto pra voltar ao Brasil.

AS FLORES DO PAMPA E DO PRATA –

De brinde, adiciono aqui uma mensagem que subiu pra página em 08/08/18.

Mostrando, como o nome indica, as flores que cliquei na Argentina.

Tanto em Córdoba quanto em Buenos Aires e Mendonça.

Essa acima primaveras violetas na cidade de Mendonça.

Agora 4 da capital B. Aires. A dir. ao fundo aparece o novíssimo bairro de Porto Madeiro, que é de alto padrão, ao lado do Centro.

Sacada com várias bandeiras argentinas (creio que seja um prédio governamental).

Trata-se, quem conhece a capital argentina sabe, de uma ilha que estava sub-utilizada.

No século 20 ali era uma região complicada. Pois o canal que separa a ilha do continente abrigava o cais do porto – como o nome indica.

E o entorno portuário amiúde apresenta esse tipo de situação.

Tiraram os navios de carga dali – mas mantiveram os guindastes como atração turística.

Jardim Botânico de Buenos Aires.

Agora só ancoram ali luxuosos navios de cruzeiro, de passageiros.

Removido o porto, construíram um novo bairro, a partir do zero.

Cheio de espigões residenciais e comerciais pra elite e alta burguesia.

Acompanhados claro de lojas, bares e restaurantes. Tudo pra quem “não tem problemas de caixa”, como alguém definiu.

Abaixo um lindo parque há bem no Centro, na divisa com o bairro Recoleta.

Perto do Aeroporto local – o Aero-Parque -, da Faculdade de Direito.

E também da maior e mais famosa favela argentina, a Vila 31.

……..

.Mais flores da Argentina, fotografadas em março de 2017:

Deus proverá.

“O Número da Besta”: Buenos Aires, Argentina

Obelisco: na frente tudo é belo, turistas tiram fotos. É o ‘Lado A’ de B. Aires.

Por Maurílio Mendes, O Mensageiro

Publicado em 18 de março de 2018

Ao fim da matéria explico porque fiz essa relação com a música “O Número da Besta”, do ‘Iron Maiden’.

Nossa série sobre a Argentina chega a capital.

Vamos falar um pouco do que observei na cidade.

Mas veja por trás do Obelisco, sem-tetos dormem em pleno dia. Esse é o ‘Lado B’, o que ninguém quer ver.

Com isso recapitulando algumas coisas já ditas em outras mensagens da série.

Adicionando muitas informações novas, é claro.

As fotos são na maior parte inéditas, quase todas de minha autoria.

As que forem baixada da internet eu identifico com um ‘(r)’, de ‘rede’.

…..

Como a legenda informou, hoje, 18 de março de 2018, faz exatamente um ano que eu fiz esse desenho a esq. :

PERFUME DE MULHER” – Feito em Buenos Aires, publicado em 18 de março de 2017.

Um casal dançando tango (em comemoração ao aniversário que subo essa matéria).

O título, “Perfume de Mulher”, é uma referência óbvia a famoso filme.

E fiz lá, direto do Centro de Buenos Aires, ou melhor, do ‘Micro-Centro’.

Estava vendo o Obelisco de minha janela enquanto traçava as linhas desse casal em preto-&-branco.

Esse mesmo Obelisco que é o cartão-postal-mor, a imagem-arquétipo de Buenos Aires.

Boca x Ríver – ou seria ‘Voka x Ríber’?: Buenos Aires É Futebol (r), são 24 Libertadores ganhas por essa cidade – incluindo região metropolitana e subúrbios próximos. O Brasil inteiro tem 18 (quando fiz o texto), contando todas as cidades. Precisa dizer mais?

Todos conhecem essa imagem, mesmo quem nunca pisou na Argentina.

O que eu não conhecia antes de ir pessoalmente é essa escultura feita com vegetação.

Que na frente dele forma em letras gigantes as iniciais da cidade, B.A. .

E mais a bandeira da ‘Cidade Autônoma de Buenos Aires’. Esse é o novo nome oficial.

Antigamente a ‘Capital Federal’, o povo ainda diz assim. E por que ‘autônoma’?

Belo fim-de-tarde em Vicente Lopes, abastado município da Zona Norte colado a capital.

Porque não pertence a nenhum estado (lá os estados se chamam ‘províncias’, o sabes).

Nomenclatura a parte, o Obelisco, a frente dele, é obviamente o ponto mais procurado do país pros turistas.

Que tiram fotos com ele como cenário. Quando eu passei lá ocorria exatamente isso:

O rapaz posa sob a bandeira enquanto o grupo que o acompanha faz o registro, como deixa claro a primeira imagem da matéria.

“Bs. Aires, Cidade da Erva”: eles tomam chimarrão literalmente em toda parte, é oni-presente. Em família, numa roda só de gurias….

No entanto veja o outro lado – literalmente. No calçadão sem-tetos dormem em pleno dia.

A Argentina atravessa severa crise social, política, econômica, todas as dimensões. E essa imagem sintetiza isso.

Agora, justiça seja feita, nesse ponto (pessoas morando nas ruas) o Brasil está pior.

Bem pertinho, o bairro de Nunhes (do ‘Monumental de Nuñez’), também Z/N, mas dentro da Capital Federal.

Muito pior, sem comparação possível.

Na Argentina existem sem-tetos mas numa proporção ‘normal‘.

Digamos assim né, se é que isso pode ser consideradonormal.

A título de comparação, existem mendigos também no Chile, os vi e fotografei.

Mas muito poucos, pelo menos na capital é bem raro.

Do outro lado da cidade: favela da Vila 21, Zona Sul, município de B. Aires. Lá, como aqui, vão cada vez subindo mais lajes pra morar mais gente no mesmo espaço.

Na África do Sul existem mais moradores de rua (incluso vários brancos, ainda que a maioria negros) que na Argentina, mas bem menos que no Brasil.

Não sei se há algum país que esteja pior que o nosso nesse quesito, infelizmente.

Aqui a situação está catastrófica, parece que passamos por uma hecatombe nuclear.

Em Curitiba o problema está alarmante, em todos os bairros agora há aglomerações de pessoas que vivem nas ruas.

Metrô de Buenos Aires, de 1913: 1° da América Latina, 1° do Hemisfério Sul, 1° entre todos países de língua espanhola.

E no Centro então a coisa está tenebrosa, mesmo de dia e a noite é melhor não comentar.

Agora, fui a São Paulo no fim de janeiro de 18, e me assustei. Realmente eu me assustei com o que vi:

A Zona Central de Sampa está…me faltam palavras pra definir. Está macabra.

Em B. Aires nos ônibus o itinerário está em letras garrafais (em Lima-Peru também!).

Confira matéria completa com muitas fotos. Hoje nosso tema é a Argentina.

Só falei pra podermos comparar:

A crise no vizinho país está brava, muitas coisas estão até mais complicadas que no Brasil.

Mas no ponto dos sem-tetos aqui é infinitamente pior.

Casas típicas da Argentina, as portas saem direto na rua. No Chile e Nordeste Brasileiro é assim também, mas no Brasil mais pra periferia. Nos outros países tanto periferia quanto classe-média (o caso aqui).

Isso exposto, bora de volta pra lá. Claro que gente na Argentina há morando nas ruas. Fotografei alguns atrás do Obelisco.

E na mesma região, do outro lado da 9 de Julho (onde ficamos hospedados) havia uma família inteira.

Eles improvisaram uma ‘casa’ de papelão em plena calçada, tinha espaço até pros cachorros – e isso no Micro-Centro!

Outro dia andava eu tirando fotos entre o Retiro e a Recoleta.

O Retiro é bem o Centrão da cidade mesmo, onde estão os terminais de transporte, de todos os modais.

Mas a Recoleta é um bairro de elite, colado ao Centro, coisa que no Brasil não existe mais há décadas.

Na Recoleta estão alguns dos prédios mais caros da Argentina.

Casa Rosada, sede da presidência.

(Ao lado de Porto Madeiro e Palermo, que são vizinhos a ela, então é tudo a mesma região.)

Mas embaixo do viaduto havia um cidadão argentino que não era tão afortunado, pra dizer o mínimo.

Casa Rosada, ao fundo Porto Madeiro, como notam novo e riquíssimo bairro da Zona Central. Na próximas 7 imagens vamos então apreciar Porto Madeiro e seus arranha-céus.

Esse não tinha um apê de ‘um por andar’ que vale alguns milhões de pesos. Longe disso. 

Se abrigava sob as alças de um viaduto (fotografei sua ‘casa’, busque pela legenda).

Ele também tinha cachorro, esse bicho é mesmo o ‘melhor amigo do homem’, nunca abandonam seus donos não importam em que condições.

Me pediu dinheiro, dei-lhe 2 pesos, equivalente a somente R$ 0,30, e disse “só tenho isso, irmão”. 

Ele exultou de felicidade, respondeu “pelo menos já posso comprar um cigarro“.

Pra que não tem nada o pouco é muito. Dureza, né?

São os Lados ‘A’ e ‘B’ da Argentina literalmente lado-a-lado..

Porto Madeiro era parte do porto da cidade, daí o nome. Tiraram os navios do canal, e colocaram no lugar prédios, restaurantes e lojas de luxo. Os antigos guindastes ficaram pra dar um charme, né?

…………

Buenos Aires não tem Zona Leste, porque essa é o mar.

Ou melhor dizendo, o Delta do Rio da Prata, que é tão largo que parece mar.

Os ricos e a alta burguesia habitam majoritariamente as Zonas Central e Norte da capital e sua região metropolitana.

Um guindaste visto mais de perto. Note o empréstimo de bicicletas (já fotografei o mesmo em SP capital, Santos-SP, Chile e México.

Enquanto as favelas e demais ‘partes quentes da cidade’, se é que me entendes, se concentram nas Zonas Sul e Oeste.

‘CABA’ X ‘AMBA’, AS DUAS FACES DA MESMA METRÓPOLE: 

UMA É A ‘EUROPA NA AMÉRICA’, E DEPOIS DO VIADUTO/PONTE ‘AMÉRICA DE CORPO & ALMA’.

A maioria das pessoas no Brasil não conhece as siglas ‘Caba’ e ‘Amba’. Começamos pela primeira.

‘CABA’, A “EUROPA NA AMÉRICA”: NA “CAPITAL FEDERAL” COM CERTEZA –

Buenos Aires tem a fama de ser uma cidade europeizada, como todos sabem.

É verdade, o mito corresponde ao fato? Sim e não. 

Não carregam mais navio ali. Agora é a morada da alta burguesia e elite.

Depende do que alguém entende como “Buenos Aires”.

Politicamente, a Região Central da metrópole é a Capital Federal.

A ‘Cidade Autônoma de Buenos Aires’ no termo mais moderno (cujas iniciais formam a sigla ‘CABA’).

As ruas da parte nova (e residencial) de Porto Madeiro têm nomes de mulheres.

Ali, fato. Sim, Buenos Aires é europeia. Totalmente.

Muito mais que Curitiba, que é a capital mais branca do Brasil.

Muito mais. A classe média-alta curitibana é formada majoritariamente por pessoas que aqui no Brasil consideramos ‘brancos’, verdade.

Todavia nunca te esqueças que os ‘brancos’ brasileiros, em sua maioria, não seriam considerados brancos na Europa e EUA.

Com o ‘Parque das Mulheres Argentinas‘ fechamos essa sequência de Porto Madeiro.

Mesmo os de melhor padrão social, porque entre os ‘brancos’ brasileiros boa parte tem mistura de raças.

Mesmo com pele mais clara, a imensa maioria tem um pouco de sangue das raças escuras.

No Hemisfério Norte, pra pessoa ser ‘branca’ não pode ter mistura de raças não-europeias.

Prédio no Centro (perto de Porto Madeiro), adornado por Netuno, ‘Rei dos Mares’ – versão masculina e nórdica do papel que Iemanjá cumpre na mitologia brasileira.

No Brasil não somos tão rigorosos. Pelo exemplo é mais fácil entender.  

Busque na internet a imagem do general e ex-secretário de estado ianque Colin Powell.

Nos EUA, Powell é negro, ele mesmo se define assim.

No Brasil, caso ele fosse da burguesia ou elite (como é), nós o chamaríamos de branco.

Se você entende isso, a classe média-alta curitibana é formada por pessoas que na sua imensa maioria tem a cutis clara.

Favela em frente ao estádio do São Lourenço (note o poste pintado com as cores do clube), Zona Oeste.

Já os olhos e cabelos variam amplamente, por todo espectro, mas boa parte deles são mestiços, ‘brancos’ no Brasil, nos EUA e Europa não.

Então. A burguesia de Buenos Aires, é de imensa maioria de brancos.

Falo aqui somente da Capital Federal – sem incluir a região metropolitana portanto.

Nesse critério seus habitantes são brancos mesmo.

Seus cabelos são loiros ou ruivos, e os olhos também são claros.

Passeador de cachorro“, creio que essa é uma profissão típica de Buenos Aires.

Eu estava num restaurante do Centro de Buenos Aires.

Na mesa ao lado havia um grupo grande, de perto de 10 pessoas.

Quase todos eram brancos, mas brancos pelo padrão europeu.

A pele deles parecia um leite de tão despigmentada. Olhos e cabelos igualmente claros, ou ruivos.

Aqui em Curitiba não é assim, repito.

Próximas 2: um belo parque bem no Centro.

Na África do Sul ocorre o mesmo que na Argentina, até mais intenso:

Os brancos sul-africanos são claríssimos, parecem fantasmas de tão alvos que são.

Na África do Sul a miscigenação é próxima de zero.

até porque até uma geração atrás era proibido relações sexuais entre raças diferentes.

Agora é permitido, vimos (e fotografei) vários casais inter-raciais nas orlas de Durbã e Cidade do Cabo.

Acontece, amigos, que as coisas mudam devagar, óbvio.

Ainda ali perto, uma avenida onde mora a elite e alta-burguesia em pleno Centrão (no Brasil você não vê isso).

Eles são ‘vários’ se você considerar que até a geração dos pais desses jovens não havia nenhum.

Entretanto 99% dos casais sul-africanos ainda são intra-raciais, ou seja, de pessoas de mesma raça.

Portanto os brancos da África do Sul são iguais aos brancos da Holanda, Inglaterra, Alemanha e França, de onde eles vieram.

Principalmente os dois primeiros, mas as duas últimas nações também contribuíram.

Na Argentina nunca houve ‘apartheid’, então a miscigenação é maior que na África do Sul.  Bem maior.

Bem próximo está a Faculdade de Direito.

Porém muito menor que no Brasil – entre a burguesia, na periferia é outra história, já chego lá.

Agora, na burguesia é assim.

Entre os habitantes endinheirados da Capital Federal argentina, imensa maioria de brancos.

Na mesma região, um sem-teto se abriga sob o viaduto. É o Lado ‘A’ e ‘B’ lado-a-lado.

E, repetindo, brancos caucasianos mesmo, pessoas normandas.

São alvos iguais aos europeus e diferentes de nós brasileiros, enfatizo mas uma vez porque em nosso país o conceito é mais ‘flexível’.

Mas cruze o Riachuelo ou a Auto-Pista General Paz e verá como a coisa muda.

Próximas 6: os vizinhos bairros de Palermo e Recoleta, a parte mais rica da cidade entre o Centro e o começo da Z/Norte.

JÁ A AMBA É A ‘AMÉRICA NA EUROPA SUL-AMERICANA’: NO SUBÚRBIO O POVÃO É MESTIÇO –

A burguesia argentina é majoritariamente euro-descendente.

E sem mistura de sangue, uma verdadeira ‘Europa na América’.

Acontece que a periferia é completamente diferente.

Entre o povão é onde a Argentina se reconcilia com a América.

Região bastante arborizada.

Onde a Argentina é América de Corpo-&-Alma.

O que quis dizer por ‘cruze o Riachuelo ou a Auto-Pista’ é “vá pra região metropolitana”.

Se ‘Caba’ é a Capital Federal, ‘Amba’ é a sigla de ‘Área Metropolitana de Buenos Aires.

Mas nem é preciso ir pra outro município (e estado da federação).

Se você for ao bairros proletários mais afastados, mais ainda dentro da Capital Federal (ou nas favelas, mesmo no Centro), aí os brancos puros já são ínfima minoria.  

A mestiçagem agora impera. Isso já na periferia de Buenos Aires. Fiz um desenho que resume a questão:

Retratei duas amigas argentinas, uma loira e uma índia, se uma imagem vale por mil palavras.

E se pegar estrada mais ainda. O interior é bem mais escuro que a capital.

Muito mais, sem comparação possível.

É gritante a diferença de altura entre os edifícios mais antigos

Já está no ar a matéria sobre Córdoba, aí os que ainda não tiveram a chance de ir até lá vão comprovar. 

No interior a Argentina é como todo o resto da América Latina (Brasil, Colômbia, Paraguai, Chile, México, Bolívia, etc): com mestiçagem mesmo na classe média.

Agora, na capital é como falei, muito parecido com Europa/EUA, a raça caucasiana (sem mistura) é amplamente majoritária entre a classe dirigente. Isso já disse.

e os mais modernos, esses muitos passam dos 40 andares. Em Santos-SP constatei o mesmo.

Porém a periferia de Buenos Aires é miscigenada. Totalmente.

Nos subúrbios da metrópole, nas favelas tanto mais centrais quanto afastadas, aí é tudo ‘junto e misturado’.

No dia que cheguei, fui a um jogo de futebol, São Lourenço x Atlético-PR.

(Nota: eu sou de Curitiba ainda assim não sou atleticano.

Fui nessa partida porque foi a que foi possível, a que ocorreu quando estava lá.

“Jeitinho Argentino”??? A placa e a faixa deixam claro que não pode estacionar ali, é rota de ônibus. poucos se importam….

Minha primeira ideia era assistir uma peleja local do campeonato argentino, mas não deu certo.

Então fui ver o CAP, mas sem ser torcedor dessa agremiação.

Portal no Zoológico de Buenos Aires, no aburguesado bairro de Palermo, começo da Zona Norte perto do Centro.

Portanto não inicie aqui uma discussão clubística porque não é o espaço pra isso.

Também já assisti um jogo do Coxa longe de Curitiba.

Lá em Belo Horizonte-MG no caso, então estou 1×1, neutro na disputa dos rivais da capital).

Já volto ao tema da composição racial, entenderão onde quero chegar.

Mais um pequeno adendo, já que falamos do esporte mais popular do planeta:

Buenos Aires é futebol. São nada menos que 24 Libertadores concentrada numa única cidade.

(Nessa conta incluindo região metropolitana e ‘La Plata’, que é fora da Grande Buenos Aires.

Ainda assim um subúrbio próximo, como São Paulo e Jundiaí.)

Ponte sobre o Riachuelo (visto a esq.). Saí do município de B. Aires, a Capital Federal (o D.F. deles) e entrei em Avellaneda, no estado (ou ‘província’ no jargão local) de B. Aires.

Então ir a Buenos Aires e não ir ao estádio é como ir a Roma-Itália e não ver o papa.

Alias o atual papa que é argentino como sabem é torcedor declarado desse São Lourenço que vi ‘in’ loco’.

Ainda não fui a Roma, não fui a Europa nessa encarnação. Mas fui a Buenos Aires, e fui ao estádio.

Enfim, já fiz matéria completa sobre o futebol argentino, onde conto com detalhes incluso com muitas fotos.

Aqui nosso tema é a composição racial da periferia de Buenos Aires.

Então eu estava no lugar certo pra analisar isso, o São Lourenço é um time suburbano, popular.

O time da burguesia é o River Plate, o Boca o do povão. Claro que é uma generalização, e toda generalização é imprecisa.

“Buenos Aires, Cidade da Pizza”. No Centrão são centenas de pizzarias, uma ao lado da outra, de todos os tamanhos e pra todos os orçamentos. Eles adoram esse prato tanto quanto no Brasil, mas a receita é diferente. No Brasil é mais apreciada a massa mais fina, e misturar todos os ingredientes possíveis. No cardápio há dezenas de opções (em alguns casos centenas!), e cada um deles com muitos ingredientes, cada um cria como quer, você pede 2, 3 ou 4 sabores na mesma pizza. Na Argentina é completamente diferente, lá eles são tradicionalistas, as recitas de pizza basicamente se mantém as mesmas que vieram da Itália. Funciona assim: a massa é grossa e não há misturas. São 2 ingredientes, 3 no máximo. É delicioso, pra quem gosta de queijo é divino. Veja a foto, há um mar de queijo derretido transbordando, como um rio transborda quando chove muito. Mas é queijo, cebola e só, umas azeitonas no meio no máximo. Não é como aqui, que é queijo, cebola, azeitona por tudo, e mais presunto, ovo, tomate, molho de tomate, frango, catupiry, quatro queijos, milho, atum, tudo isso em diversas combinações mas sempre pelo menos 5 ou 6 deles juntos. Não. Em Buenos Aires é queijo (um queijo, não quatro) e mais alguma coisa, uma coisa só. Queijo e presunto. Se entra o tomate, sai o presunto. Essa é queijo e cebola. Tá bom pra ti? Pra mim está ó-ti-mo!!!, sinto saudades.

Evidente que há muitos burgueses que torcem pro Boca, e o River tem muitos fãs na periferia. Evidente que sim.

Anda assim, nas favelas e loteamentos de quebrada no subúrbio o Boca tem 2/3 da torcida ou mais, e na burguesia é o River quem domina inconteste.

São esses dois quem tem torcida gigante a nível nacional. Os demais são muito fortes no entorno de seus estádios.

Mas conforme vai se afastando vai se diluindo.

O São Lourenço é um desses casos, típico time suburbano. Um dos grandes do país? Sim. Mas ainda suburbano.

Muito forte ali na divisa da Zona Oeste com a Sul onde está sediado, e bem menos em outras partes da cidade.

E bota ‘subúrbio’ nisso. Bem em frente ao estádio há uma favela bem chamativa.

Uma das maiores e mais perigosas de Buenos Aires (veja as fotos, busque pela legenda).

Todos me alertaram que o local é violento, do taxista ao rapaz da vendinha que fui tentar carregar o cartão do ônibus, aos outros torcedores a quem pedi informação:

“Não ande pelas ruas. Não ande. O bairro aqui é sinistro, vão te roubar com certeza.”

Não consegui mesmo recarregar o cartão, tratei de entrar logo no estádio, aceitei o conselho, fiquei bem quietinho lá dentro, em segurança.

Vicente Lopes, Z/N.

Enfim, falei tudo isso pra chegar aqui: fiquei acompanhando o “aquecimento” da banda da torcida organizada (‘barra-brava’) do S.L..

Foi regado a muito churrasco popular (um pão com bife extremamente gorduroso) e maconha.

É um time do povo, a maioria dos torcedores é do bairro e bairros vizinhos. Uma região pobre, esquecida e perigosa da cidade, como já dito.

Caminhão detonado por pichadores no Centro. Fotografei o mesmo no México, República Dominicana e Chile.

Portanto eu estava no ponto ideal pra traçar um raio-x do povão, da classe operária, da periferia da urbe.

E o que eu via me dava a impressão que estava na divisa da Europa com Ásia:

Turquia, Geórgia, Romênia, Bulgária, Armênia, Azerbaijão, aqueles lados.

Os garotos da torcida oscilavam entre o alvíssimo ao pardo.

A macabra Esma, onde foi o ‘Dops argentino’ (r). Dali saíram os famosos ‘Voos da Morte’. A ditadura lá matou 30 mil pessoas, proporcional a população foi 120 vezes pior que no Brasil. A Argentina anda não se curou do trauma.

Cabelos geralmente mais lisos, porque a Argentina tem muito poucos afro-descendentes.

Haviam brancos, alguns de pele bem clara, e loiros e ruivos como a burguesia é majoritariamente assim.

Então primeiro, nem tudo mundo no estádio é de periferia, há gente de classe-média.

Segundo, nem toda periferia é mestiça, claro que em Buenos Aires há muitos pobres caucasianos.

De pele cor-de-leite. Incluso nas favelas.

E agora veio outra crise política gravíssima. A Argentina passa por uma insurreição que visa derrubar o presidente Macri. Todos os dias avenidas são bloqueadas, estão havendo apedrejamentos do transporte coletivo, a coisa está bem séria. Uma nação em ebulição.

Agora, entre o povão os mestiços entre brancos e índios são maioria.

Por essa mistura, o tipo físico se parece com o dos povos que rodeiam o Mar Negro, como dito:

O portenho burguês típico é loiro ou ruivo, sempre de olhos e pele claros, como dito e é notório.

A crise não é só política, é também econômica. A miséria aumentou muito na Argentina, é comum ver pessoas revirando as latas de lixo, como na Grécia.

Já o bonarense médio tem cabelo preto e liso, e pele também morena, cor-de-cobre.

(Esses são os gentílicos, já que tocamos no assunto:

‘Portenho’ da Capital Federal, ‘bonarense’ da ‘Província’, do subúrbio metropolitano. Sigamos.)

A tez do bonarense (agora você já sabe o que é isso) é mais pra clara que pra escura.

Reflexo da crise: no Centro há vários comércios fechados. Flagrei 3 em sequência.

Mais clara que a média do Chile e Colômbia.

E muito mais clara que a média da Bolívia e México, óbvio.

Ainda assim, resumo dessa forma:

Na Argentina, ou pelo menos em sua capital, a questão de raça é mais forte que no Brasil.

Entre os que têm renda e educação relativamente elevadas, há mestiços.

Mais 2 do Centro. Essa perto da 9 de Julho.

Mas os caucasianos sem mistura predominam amplamente.

Entre a massa, o povo, há muitos brancos puros, é certo.

Entretanto os mestiços ali são maioria. Tudo somado:

Na verdade algumas fotos que denominei ‘Centro’ mostram a Recoleta. Como São Paulo (e ao contrário de Curitiba e do Rio), Bs. Aires não tem um bairro chamado ‘Centro’. O Centro deles é a ‘Comuna 1’ e parte da Comuna 2 (exatamente a Recoleta).

A Argentina é um país miscigenado, muito mais que as pessoas pensam.

É que as pessoas confundem ‘Argentina’ com a Zona Central da capital.

Mesmo seus subúrbios são mais escuros, e mais ainda interior, ressaltando mais uma vez.

A Argentina é mais clara que o Chile? Sim. Mas mais escura que o Paraguai.

E o fato que o Paraguai certamente é bem menos desenvolvido economicamente não altera em nada esse dado.

Como nunca estive no Uruguai, não posso incluir essa nação na comparação. 

Principais municípios da Grande Buenos Aires (adesivo de manutenção do elevador).

……….

Nas favelas de Buenos Aires, 40% dos moradores são estrangeiros.

Especialmente paraguaios e bolivianos, mas há alguns peruanos e colombianos também.

Paraguai e Bolívia têm colônias enormes de expatriados na capital argentina.

Em Buenos Aires, vendinha ou mercearia é chamada ‘kiosco‘, com ‘k’ (vem da palavra ‘quiosque’). Sempre, independente do bairro. Pode ser no Centrão, na burguesia, periferia ou favela, é o ‘kiosco’. No interior nem sempre. As vezes sim, nos bairros mais ricos sim, mas nas periferias das cidades do interior argentino há outros termos.

Trabalhando na construção civil e outros serviços braçais.

No estrangeiro, bolivianos e paraguaios estão numa situação difícil econômica (moram em favelas) e politicamente (geralmente ilegais).

Assim eles têm que achar um meio de conviver senão com amor pelo menos em harmonia.

E até cooperarem, pois estão no mesmo barco. Digo isso pelo seguinte:

Quando não são expatriados, quando estão cada um na sua terra-natal, bolivianos e paraguaios geralmente se odeiam encarniçadamente.

Natural. Paraguai e Bolívia travaram uma das guerras mais sangrentas da história, no século 20, a “Guerra do Chaco”.

Mais uma do cartão-postal do país. Os argentinos gostam tanto de futebol que até aqui, sob o Obelisco e no canteiro da 9 de Julho (uma das avenidas mais movimentadas da cidade) eles batem uma bola.

Conhecido no Paraguai como “a Guerra Total”, o embate terminou com vitória paraguaia.

O estádio Defensores do Chaco tem esse nome por causa do conflito.

Alias ele participou do esforço de guerra:

Virou paiol de munição enquanto duraram as hostilidades.

A guerra foi sinistra, dois países muito pobres e que já tinham sido destroçados em guerras anteriores.

Próximas 3 (via ‘Google Mapas’): já que tocamos nesse esporte, apresento-lhes o “Forte Apache”, conjunto na periferia de Buenos Aires onde Tévez (aquele que jogou no Corinthians) foi criado. Nota que no bairro a coleta de lixo funciona longe do ideal.

Eles se combateram em condições extremamente hostis.

O Chaco é desértico. Os soldados marchavam por horas sob sol escaldante, as vezes descalços.

Epidemias, fome e sede mataram mais combatentes que as balas inimigas.

O Paraguai venceu a guerra, manteve ¾ do Chaco, a Bolívia ficou com ¼ como apaziguamento.

Fica no município de Cidadela, Zona Oeste da Gde. B. Aires. Oficialmente chamado Conjunto “Exército dos Andes”, mas todo mudo conhece por ”Forte Apache”. No destaque um carro queimado que estava nas imediações. Obra curiosa, tentaram fazer um estilo futurista misturarando vários estilos arquitetônicos, prédios de diferentes tamanhos, que se conectam pelos andares mais altos. Ficou bom o resultado? Responde você.

Só que ainda não houve o perdão, de parte a parte.

Bolivianos e paraguaios tem uma antipatia mútua muito forte.

Isso quando cada um está ‘em seu quadrado’, em seu próprio país.

Quando convivem nas favelas e periferias de Buenos Aires, têm que se entender.

E se organizarem pra melhorar as condições de vidas de todos na comunidade:

Estrangeiros e argentinos pobres do interior, estão todos ali, no apuro, precisam lutar juntos.

Pois a elite argentina (como todas as elites) não se importa com os desfavorecidos pelo sistema, sejam compatriotas ou imigrantes.

Inexplicavelmente ao redor do F. Apache é comum lixo pela rua, pois não é uma favela. Depois falam em reduzir as epidemias…..

Por isso nas quebradas de B. Aires paraguaios e bolivianos convivem bem, sem maiores conflitos.

Realmente a dificuldade abranda corações, sem dúvida.

Alias, já dissemos acima e é notório, o Ríver é o time da classe média-alta, o Boca do povão.

Por isso, há uma brincadeira que hoje o ‘politicamente correto’ não permite que seja dito dentro dos estádios.

Próximas 5: Vicente Lopes.

Ainda assim, nas redes sociais rola, nas pichações nos muros também:

A torcida do Ríver ‘acusa’ o Boca de “ter a maior torcida da Bolívia, referência óbvia a massa imigrante.

As vezes incluem o Paraguai também no chiste.

Então Buenos Aires ficou assim: uma cidade europeizada, mas também latino-americana.

Estive lá num fim-de-tarde, como já sabem.

Pegou um pouco das características de cada um desses povos.    

As vezes os portenhos são rígidos como os caucasianos europeus. Quem já foi a Argentina sabe:

Em muitas oportunidades os comerciantes lá se negam a dar troco, preferem perder a venda.

Anoitecendo….as últimas fotos do dia. Essa é uma arquitetura típica argentina.

No caixa eletrônico saem muitas notas de 50 Pesos (8 Reais).

Você tenta pagar uma compra de 15 Pesos com ela, o caixa (geralmente o dono do negócio) recusa, opta por deixar de faturar.

Como você só tem nota de 50, fica na mão, não podia antes nem pegar um ônibus.

(Lá não tem cobrador, tinha que ser valor exato em dinheiro, agora é no cartão.)

A solução é comprar nas lojas de chineses.

Portas direto na rua, outro traço indelével.

Esses nunca perdem negócio, nunca reclamam de dar troco.

Falando agora da latinidade, de um ponto negativo dela.

Assim com existe o “Jeitinho Brasileiro”, há o “Jeitinho Argentino” de se lidar com as coisas. 

E funciona da mesma forma, infelizmente. O argentino é tão malandro quanto o brasileiro, é a triste realidade.

Centro empresarial importante da cidade.

Viram o carro parado exatamente embaixo da placa de “proibido estacionar”. Essa imagem é na capital.

Em Mendonça, eu esperava o ônibus bem no Centro. Ponto lotado, várias linha passam ali. 

A cada minuto, dois minutos no máximo, para um buso, sobe, desce gente.

E é difícil achar vaga pra estacionar no Centro, como sabem.

Pois bem. Uma burguesa não se fez de rogada.

Parou o carro grande e caro dela exatamente no ponto de ônibus.

As causas da crise: a Argentina já foi muito mais industrializada, mas muitas fábricas fecharam. Aqui barracão abandonado em Avellaneda, Zona Sul da Grande Bs. Aires.

Trancou, saiu com calma. Ficou uns 10 minutos numa loja.   

Enquanto isso os ônibus tiveram que parar em fila dupla, os passageiros correndo risco subindo e descendo no meio da rua.

Tudo porque a madame não quis pagar estacionamento.

Ela voltou pra carrão, nem sequer olhou pras pessoas que estavam ali pra pedir desculpas, entrou e arrancou.

Aqui e a direita: Centro de Buenos Aires.

No México fotografei o mesmo, o ponto de ônibus ocupado por carros.

Alias no México é pior, os micros só andam de porta aberta.. 

…….

Seja como for. Buenos Aires tem grande população imigrante sul-americana. Pela ordem:

São muitos paraguaios, muitos bolivianos, muitos uruguaios, poucos peruanos, poucos colombianos.

Santiago do Chile, com quem Buenos Aires faz um ‘jogo de espelhos’, tem (pela ordem):

Muitos bolivianos, muitos peruanos, poucos colombianos, uruguaios e paraguaios são quase inexistentes.

Próximas 3: famosa feira de artesanato de São Telmo, na Zona Central.

Já retomamos com tudo a comparação com o Chile. Agora falemos de Buenos Aires:

Os uruguaios se concentram entre a classe-média. Mas são muitos.

Há 3 milhões de uruguaios no Uruguai mesmo. 

E quase 1,5 milhão de uruguaios na Argentina.

Sim, é isso, quase um terço dos uruguaios cruzou o Prata e se assentou na nação ao lado.

A imensa maioria na Grande Buenos Aires, que é perto:

Casal dança tango em praça pública.

3 horas de barco e poucos minutos de avião.

A economia uruguaia decaiu muito, depois que as indústrias (principalmente frigoríficos e tecelagem) fecharam, e daí esse êxodo em massa.

A Argentina é bem maior e bem mais rica, especialmente a capital.

Então há grande oferta de trabalho pra classe-média uruguaia qualificada.

Como são países muito próximos, tanto física quanto culturalmente, muitos uruguaios optaram por se estabelecer ali.

Próximas 3: bairro São Telmo e imediações, Zona Central, o entorno da feirinha. Uma parte antiga da cidade.

Assim em alguns bares da Zona Central de B. Aires quando jogam Boca x Penharol ou Ríver x Nacional.

(Ou outras combinações de times das capitais, você entendeu), a torcida é quase meio-a-meio.

Entre os paraguaios que vivem na Argentina há muito povão, mas muita classe-média também.

E pelo mesmo motivo, intensa proximidade física e cultural.

Com os bolivianos é o contrário dos uruguaios.

Quase todos os bolivianos que lutam na Argentina são de periferia, são quase inexistentes na burguesia.

Essas três nacionalidades acima concentram o grosso dos estrangeiros.

os peruanos e colombianos de Buenos Aires, que são bem mais raros, se concentram também na periferia.

BUENOS AIRES, CIDADE DA CUMBIA –

O Chaco – na Argentina chamado ‘Pampa’ – é a “Grande Planície Central Sul-Americana”.

Pega Uruguai e Paraguai inteiros, quase toda Argentina (o Sul dela, mais frio, é a Patagônia) e o Sul da Bolívia.

Apagões são frequentes em Buenos Aires, leia o pedido no metrô. A crise é multi-dimensional na Argentina.

E a Cumbia é a música do Chaco. Exemplificar é mais fácil que explicar. Ouça:

https://www.youtube.com/watch?v=-shpxdvBWwQ

https://www.youtube.com/watch?v=xzSlYVa2SvA

Numa delas diz “cumbia paraguaia”, mas o ritmo é sempre igual, seja do Paraguai, Argentina ou Bolívia.

É o sertanejo deles. Digo, há uma versão um pouco mais acelerada, com mais ‘remix’, que se chama ‘cumbia villera’ no original, significa ‘cumbia de favela’ ou ‘do subúrbio’.

O desemprego é muito alto, cada um se vir como pode. O metrô está cheio de camelôs, igual no Brasil.

Ali seria o equivalente ao ‘rap’. Toda América adora ‘rap’, EUA, México, América Central, Caribe, Brasil, Chile, Venezuela, Colômbia.

Digo, quase toda América. Porque a Argentina e seus vizinhos menores (Paraguai, Uruguai, Bolívia) não gostam.

Quando eles querem uma música mais pesada, mais agressiva, a ‘cumbia villera’ é a escolha.

E quando querem mais romantismo, se sintonizam na cumbia tradicional.

Por ‘A’ ou por ‘B’, só dá cumbia.

E, bem, as favelas e subúrbios de Buenos Aires são habitados por argentinos do interior e por bolivianos e paraguaios.

Catador de papel no Centro de B. Aires.

Os argentinos mais humildes que incham as favelas da capital vieram a maior parte do Norte do país que é menos desenvolvido.

Ou seja, são oriundos exatamente do coração do Pampa, na fronteira com os vizinhos Paraguai e Bolívia.

E vivem lado a lado com esses estrangeiros, que vieram de regiões próximas, do outro lado das fronteiras mas a cultura é parecida.

Aqui e a esquerda: camelôs africanos no Centro de Buenos Aires. A Argentina teve escravidão africana, como no Brasil. No meio do século 19 Buenos Aires (que então era bem menor, a grande imigração europeia ainda não havia chegado) chegou a ter um terço de sua população negra. Mas aí os negros foram mandados desarmados pras linhas de frente na ‘Guerra do Paraguai’. Os paraguaios descarregavam toda pólvora neles, e foram genocidados na Argentina. O Brasil fez o mesmo, que fique claro. Mas aqui haviam muito mais escravos, por isso os negros continuaram numerosos em nossa pátria. Voltando ao país vizinho, após esse massacre por mais de um século Buenos Aires teve pouquíssimos negros. Agora eles voltaram, imigrando da África. Esses dois na Av. 9 de Julho, o garoto usa uma camisa de Mandela no mapa de seu continente-natal, pra não deixar dúvidas.

Tudo somado: nas periferias de Buenos Aires, independente da nacionalidade, quase todos vieram do Chaco/Pampa.

Portanto ali só dá cumbia. Eu voltava de trem dos subúrbios metropolitanos, ouvindo rádio.

É impressionante a quantia de estações dedicadas a cumbia.

Uma hora a cantora mandou ‘um beijo a todos um cumbeiros’.

Ela foi específica, dedicou a música a todos os fãs da cumbia na:

“Bolívia, Argentina, Brasil (São Paulo tem uma grande comunidade boliviana) e Chile”.

O Paraguai também adora cumbia. Ela não citou esse país porque é boliviana, o ressentimento ainda fala mais alto.

E ao meu lado vinha um boliviano (ele mesmo se identificou assim, não estou chutando).

E esses aqui no Retiro, em frente as estações centrais de trem (suburbano e longa distância) e ônibus (igualmente urbanos e longa distância – destaquei com a flecha o letreiro ‘Terminal de Omnibus’ da Rodoviária do Retiro). Há muitos camelôs (tanto argentinos quanto estrangeiros, africanos, paraguaios e bolivianos) ali, mas quem foi alguns anos trás disse que antigamente era muito pior.

Contava sua saga na Argentina, as dificuldades que passou, e sua luta pra vencer.

Não foi o único boliviano que me deparei na cidade.

No primeiro dia que cheguei fui ao jogo São Lourenço x CAP, repetindo.

Tentei recarregar o cartão de ônibus, andando num bairro bem popular, ao lado de uma grande favela.

Entrei numa vendinha. Tudo isso já contei. Agora as novidades.

A mercearia era gradeada, o cara te atendia parecendo estar num presídio, pra evitar assaltos.

Próximas 2: Centro do subúrbio metropolitano de Avellaneda. Era sábado fim-de-tarde/começo de noite, havia uma festa nessa praça, com banda e tudo.

E era um índio, bem escuro, logo vi que não era argentino.  

Sim, a periferia de Buenos Aires é mais mestiça que a burguesia.

Mas esse garoto destoava mesmo disso. Perguntei a ele: “você é argentino?” Ele respondeu:

“Sim, nasci aqui. Mas meus pais são bolivianos, fui criado na Bolívia, agora voltei”.

Expliquei que sou jornalista, pedi permissão pra fotografar, ele assentiu.

Quase todos os ônibus de Buenos Aires (como em São Paulo) têm motor traseiro.

É isso, amigos. Nos trens, subúrbios e favelas de Buenos Aires, eu me senti em La Paz, Bolívia, onde nunca estive, ou também de volta a Assunção-Paraguai, que visitei em 2013.

E dá-lhe Cumbia!!!! Se Belo Horizonte, Fortaleza-CE ou mesmo as periferias de Curitiba são as “Cidades do Funk”, Buenos Aires é a “Cidade da Cumbia”!!

…………

Periferia típica de Buenos Aires, foto na Zona Sul. Saída direto na rua, grades na portas e janelas pra evitar arrombamentos, casas geminadas sem acabamento, eram térreas depois subiram a laje‘, varal no teto, e uma imagem de Jesus. A Argentina é um país bi-polar, a burguesia é quase toda materialista (são ateus), mas a periferia é muito católica. Muito mesmo.

BUENOS AIRES & SANTIAGO: O “JOGO DOS ESPELHOS” –

As capitais da Argentina e do Chile se refletem mutuamente, mas em formas invertidas, como um Yin-Yan em 3D.

(A.S.: Por ‘Americana’ me refiro sempre ao continente América, o que vem dos EUA é ‘ianque’ ou ‘estadunidense’, lembre-se disso.)

Explico: ambas são a ‘Europa na América’, mas em dimensões diferentes.

Santiago é fisicamente uma cidade europeia, em Espírito, em cultura, é totalmente Americana.

Buenos Aires é o contrário: totalmente Americana fisicamente (por isso digo Latino-Americana), mas bem mais Europeizada em Espírito, em cultura.

Avellaneda, Zona Sul metropolitana. Bairro de classe-média, mas as portas saem na rua também. O detalhe é essa grade no teto, suspensa no ar (a casa ao lado é bem mais baixa). Será que alguém acha que os ladrões vão aterrizar vindo do céu??

A crise na Argentina está brava, e além de aguda virou também crônica.

Buenos Aires se empobreceu muito, se coalhou de favelas, e favelas horrorosas.

A capital argentina hoje tem tantas favelas quanto qualquer cidade brasileira de mesmo porte.

E, repito, as favelas deles não devem nada as nossas, em densidade, falta de infra-estrutura e serviços públicos, etc.

Buenos Aires é América. No passado não foi, mas hoje é.

Subúrbio metropolitano de Avellaneda, com seus táxis brancos. No município de Buenos Aires os táxis são pretos com tetos amarelos, como sabe.

E como é! Fisicamente falando, é totalmente (Latino-) Americana.

Ainda assim, em sua burguesia predomina a raça caucasiana/ normanda, brancos mesmo sem mistura.

Resultando que culturalmente (pois é a burguesia quem determina o grosso da cultura) Buenos Aires é muito europeia, em Espírito, em seu jeito de ser.

Santiago é o contrário. A capital chilena passou por uma das maiores reformas urbanas já vistas na humanidade.

Do outro lado da cidade, anoitece no Centro do subúrbio metropolitano de Vicente Lopes, Zona Norte. O posto é Petrobrás.

Pinochet e seus sucessores literalmente refizeram a cidade.

Erradicaram e urbanizaram a maior parte das favelas.

Construíram literalmente milhões de casas novas. Não estou brincando nem exagerando.

A ênfase de re-urbanização foi só na capital Santiago.

O interior nem de longe tem o mesmo nível, exatamente ao contrário, suas periferias são cheias de favelas.

Próximas 2: seguimos em Vicente Lopes, vemos o parque a beira-mar da cidade. As pessoas aproveitam a temperatura amena pra se exercitar.

Nisso incluindo Valparaíso, que depois da ditadura se tornou capital legislativa, o Congresso foi re-aberto lá.

(Durante a era de Augusto Pinochet o Chile não teve Congresso, nem mesmo de fachada:

O ‘Generalíssimo’ dizia e estava dito, dispensava-se qualquer ratificação mesmo que simbólica.)

Da política chilena, seus conflitos do passado e do presente, já tratei com muito mais detalhes quando voltei de lá.

Vou contar o que vi nesse parque. Os chilenos adoram pingue-pongue, várias praças lá têm a mesa pra jogar. Os argentinos também gostam do tênis de mesa, não tanto quanto no Chile mas bem mais que no Brasil, a galera estava praticando. Mas presenciei também um esporte que nunca tinha visto, o fute-tênis, você conhece? O fute-vôlei é uma fusão do futebol com vôlei, não? O fute-tênis é uma fusão do tênis com o futebol. A quadra é de tênis, rede baixa, de metal. Ficam dois de cada lado, bola de futebol, joga-se com os pés. O ponto é como no tênis, quando a bola pinga duas vezes no chão, sendo a 1ª dentro da quadra adversária.  É….vivendo e aprendendo, conheci algo inédito.

Aqui só fiz esse adendo pra mostrar que Valparaíso, mesmo sendo também capital, nem de longe tem o mesmo nível de Santiago.

Nem pensar….Valparaíso é coalhada de favelas em morro. ‘Valpo’ é América de Corpo & Alma.

A questão é que Santiago, fisicamente, é europeia. Urbanisticamente falando, Santiago é uma cidade britânica.

A periferia santiaguina é formada quase que somente por conjuntinhos de casas geminadas, sejam térreas ou sobrados.

Na Zona Oeste há bastante predinhos de cohab, aqueles pombais baixos sem elevador.

Nas outras partes da cidade eles existem mais são bem mais raros, as casas predominam mesmo.

Sim, parece que você está na Inglaterra, Irlanda ou Escócia.

Bairro após bairro após bairro, um conjunto emenda no outro, que emenda no outro, que emenda no outro.

São raras as casas autóctones, as construídas pelo dono conforme seu gosto. Geralmente é padronizado.

Grafite no bairro Barracas, Zona Sul, que fica entre o Parque Patrícios, Nova Pompeia, bairro da Boca (que sedia o time multi-campeão) e o vizinho município de Avellaneda (que sedia o Racing e o Independente). Desculpe o dedo na câmera.

Claro, na periferia rolam puxadinhos, incluso em prédios (já falo mais disso).

E as favelas em Santiago então são raríssimas. Atenção:

Não estou dizendo que não existem. Sim, há favelas em Santiago. São poucas, mas existem.

Fui na maior delas, o Morro São Cristóvão, entre as Zonas Central e Norte.

Na Extremidade da Zona Sul, vi e fotografei mais algumas.

Próximas 3: famosa favela ‘Vila 21‘, que fica entre Barracas e Nova Pompeia, divisa com Avellaneda mas no município de B. Aires.

Então, repito, há favelas em Santiago.

Quem diz que não ou nem se deu o trabalho de ir a periferia ou está mesmo mentindo abertamente.

Ainda assim são poucas, bem poucas. Santiago foi intensamente re-urbanizada.

E é agora uma cidade basicamente formada por conjuntos habitacionais, na sua classe proletária.

Avenida principal da vila, um buso (da linha 70) vem, outro vai.

Fisicamente, uma cidade europeia.

A questão é que Santiago tem o povo bem mais escuro que em Buenos Aires.

Mesmo a classe-média da capital chilena é mestiça, entre brancos e índios.

E na periferia isso só aumenta. Há brancos na periferia de Santiago?

Sim. Mas são poucos. A imensa maioria dos santiaguinos suburbanos são mesclados.

São uma mistura entre euro- e amero-descendentes.

O tom de pele varia, mas o cabelo quase sempre preto e liso, e os olhos levemente puxados.

Parecido com a Colômbia? Exatamente.

Filho de bolivianos que tem uma vendinha (‘kiosco’) perto do estádio do São Lourenço – gradeada pra evitar assaltos. Um aviso pede pra você “não esquecer de trazer sua própria sacola pra levar suas compras”. Em São Paulo quando você vai ao mercado é cobrado um valor pra cada sacola plástica, né? Então, Buenos Aires foi mais radical, simplesmente proibiram as sacolas plásticas, não pode mais e ponto final. Vale só pra capital federal. Nos subúrbios metropolitanos vi a galera saindo com a compra ainda nessas sacolinhas derivadas de petróleo.

Do “outro lado do morro” (os Andes) a América é diferente que do lado de cá.

Na burguesia, Buenos Aires e Santiago se parecem, é fato. Na periferia são completamente diferentes.

Completamente. Entre o povão, o Chile é um país andino.

Com isso, quero dizer que ele é mais parecido com a Colômbia, Venezuela, México, América Central e Peru que fisicamente estão longe que com a Argentina que está do lado.

(Sim, o Peru nem tão distante do Chile, mas ainda assim bem distante, especialmente do Centro físico do Chile, que é o Centro político, econômico e cultural da nação.) 

Paraguai e Uruguai são satélites culturais da Argentina. Ambos esses pequenos países enxergam a Argentina e sua cultura como um guia, como um irmão maior.

Mercado municipal de Buenos Aires.

Eles se parecem com ela e querem se parecer ainda mais.

O Chile não é assim. O Chile, entre sua cultura popular, não se parece com a Argentina nem almeja parecer.

Santiago, culturalmente, é América Latina pura, com tudo que isso implica.

Próximas 4: Recoleta, bairro de elite que ainda faz parte do Centro.

Alias em Santiago eu vi (e fotografei) algo que só existe lá: puxadinho no prédio.

Sim, é isso. O cara mora numa cohab, segundo ou terceiro andar.

E quer aumentar a casa, fazer mais um cômodo. Não se faz de rogado:

Bota uma estacas e faz mais uma sala, ao lado da que já existia.

O puxadinho fica precariamente suspenso por colunas improvisadíssimas.

No alto do prédio, meu irmão.

Se você nunca viu isso e acha que estou brincando, confira as fotos que tirei por lá.

Isso é bem revelador da cultura de Santiago. O improviso, traço típico da América, mais anti-europeu impossível.

Por isso. Entre o povão, a massa, Santiago é América pura. Mas fisicamente é europeia.

Buenos Aires é o contrário: com tantas favelas, é totalmente América.

Mas pelo predomínio caucasiano na burguesia, uma cidade de cultura europeia, repetindo.

Eis o “jogo dos espelho”, o reflexo invertido entre essas duas metrópoles.

……….

CONFLITOS EM LINIERS, “ZONA OESTE DE BS. AS.” –

Essa matéria concentra as fotos nas Zonas Central, Sul e Norte.

Buenos Aires não tem mesmo Zona Leste, porque essa é o Rio, digo de novo.

Grades sobre os cartazes, pra que não se colem outros cartazes por cima.

Mas não há fotos da Zona Oeste, exceto poucas em frente o estádio do São Lourenço.

Que ainda é na divisa com a Zona Sul.

Entretanto, eu fui a Zona Oeste. Ao coração dela.

A ausência de imagens se refere a que naquele dia minha câmera descarregou.

Próximas 2: o famoso calçadão da Rua Florida, no Centro. Repare o ‘Comuna 1‘ escrito na placa, e mais um rapaz tocando em via pública.

Em compensação, puxei pelo ‘Google Mapas’ as cenas de Forte Apache.

(Fiz colagens, qualquer um percebe facilmente a emenda.

A intenção não é enganar ninguém, mas dar uma visão mais ampla do bairro.)

Eis o lugar que Carlitos Tévez (ex-Corinthians) foi criado. O ‘Forte’ é Z/O, e como é!

Na região metropolitana, eu não estive ali, conheço só virtualmente.

Já chegamos lá. Vamos seguindo a ordem, contando meu passeio conforme o fiz.

Desci na estação final da linha ‘A’ do metrô, quase chegando ao bairro Floresta.

Na Av. Rivadávia, importantíssimo eixo que conecta o Centro a parte ocidental da metrópole.

E aí fui seguindo a Rivadávia, as vezes entrava um pouco na parte residencial do bairro.

Praça de Maio, epi-centro político do país, onde as mães e avós resistiram a ditadura – que alias foi muito, mas muito pior que no Brasil. Também na Comuna 1. Vê que é aqui que começa a Avenida Rivadávia, cuja outra ponta percorri na Zona Oeste.

Aí passeava umas quadras pelas paralelas de ambos os lados.

Voltava pra avenida, sempre tendo ela como eixo.

Cheguei ao populoso e importante bairro de Liniers, que é o coração da Z/O como já dito.

Ainda dentro da capital federal, é uma transição da burguesia da Zona Central pro que virá mais a frente, a periferia da região metropolitana.

Assim Liniers é, como posso dizer, o começo da periferia.

Ali perto, também no ‘Micro-Centro’. E o que seria essa ‘Comuna 1’? O município de Buenos Aires é dividido em Comunas, como no Brasil dividimos em administrações regionais. Quase toda Zona Central é a 1. São vários bairros por comuna, com duas exceções: os bairros Recoleta e Palermo, que são os mais ricos da cidade, são cada um uma comuna individualmente, a 2 e a 3 respectivamente. A Av. Crámer, na Zona Norte, está na Comuna 13, destaquei. Já em Medelím-Colômbia, ‘Comuna’ significa favela, também são numeradas.

Majoritariamente de classe média-baixa, classe proletária, com algumas porções de burguesia do subúrbio.

Liniers, embora popular, não tem favelas, ao contrário de Vila Lugano ali perto, que é cercado de favelas por todo lado.

Incluindo duas favelas bem grandes – uma delas a famosa ‘Cidade Oculta.

(Tem esse nome porque foi murada na ditadura Videla pra não ‘atrapalhar’ a vista de quem passava na avenida.)

Isso é Vila Lugano, onde eu não estive. Volto a falar de Liniers, onde passei.

Segui pela Rivadávia e paralelas. A cidade começa a mudar pra periferia:

O comércio começa a ficar mais popular, você começa a ver mais povão nas ruas.

Aqui e a direita em Avellaneda. Esse conjunto popular é bem perto dos estádios do Independente e do Racing (que são vizinhos). Alguns moradores desses prédios em dias de jogos aproveitam pra vender lanche, refri e cerveja pros torcedores

Começa a ver mais mestiços, embora claro que há também muitos brancos.

Naturalmente há muitos caucasianos na periferia de Buenos Aires, embora já não maioria como na burguesia.

Fim-de-tarde, um caos natural pelo horário de pico, as pessoas nos pontos de ônibus, trânsito pesado, outras se dirigem a estação de trem.

Em alguns pontos a Argentina parece que ainda está no meio do século 20:

Uma parte antiga, de periferia. Sempre as portas saindo direto na rua.

Em Córdoba ficamos num hotel grande, bem no Centro, que ocupa todo um prédio bem alto.

Pois bem. A chave ainda é de metal, você deixa na portaria quando sai.

Como era no Brasil décadas atrás, mas não mais há muito.

Em toda Argentina, em boa parte do comércio ainda não se aceita cartão de débito, você acredita?

Mais uma favela em frente o estádio do São Lourenço, fotografei de dentro dele, as cabeças são dos torcedores.

No Brasil isso parece outra galáxia.

As pessoas aqui pagam tudo no cartão, até a conta do pão na padaria que dá R$ 3 é saldada na maquininha do cartão de débito.

Então o fato que um país que tem fama de desenvolvido ainda não aceitar cartão em diversos lugares parece inacreditável.

A falta de infra-estrutura na Argentina está crítica. Veja essa importante avenida na Zona Sul, dentro da Capital Federal. Céu limpo, aquela fileira de água não é chuva, mas esgoto que corre a céu aberto. Ressalto o que está óbvio: uma avenida grande, com comércio aberto, num bairro de classe-média, não é favela recém-invadida, nem mesmo um loteamento do fundão da perifa. E mesmo assim a situação é essa que presencia! Vai vendo….

Entretanto é assim no momento que escrevo (2018, estive lá em 2017).

Retornando a Liniers, lá eu tive mais uma ‘volta no tempo‘.

A avenida Rivadávia é paralela a linha do trem, e logo elas se encontram, passam a correr lado-a-lado.

Pois bem. As balizas que fecham os cruzamentos com a linha férrea quando a composição passa ainda são operados manualmente!

Você acredita nisso? Pois é a realidade. Fica um guardinha a postos, quando o trem apita ele vai lá e abaixa a cancela.

Voltando a Z/N (parte abastada da cidade), outra vista do parque onde está o zoológico.

(Ambos os sexos têm essa ocupação, vi homens e mulheres de uniforme na função.)

É mole? Em pleno século 21, isso era pra estar automatizado faz tempo. Mas ainda haveria mais.

A Argentina vive aguda crise social, política, econômica, todas as dimensões.

Panorâmica da linha de prédios da Zona Norte.

O desemprego é alto, as ruas estão tomadas de camelôs mesmo na área central.

Muito mais na periferia, especialmente ali, perto de estações de trem.

Loja de vinhos na Zona Central. Com o aviso: “Somos fabricantes, somos de Mendonça”, a ‘Cidade do Vinho’.

Em alguns pontos era até difícil andar na calçada, nada diferente do que acontece no Brasil.

E aí o governo resolveu complicar ainda mais o que já estava bem difícil.

Na saída da estação Liniers havia uma galeria de lojas. Já na calçada, tinham umas 20 lojas.

Havia comércio de roupas populares, lanchonetes, essas coisas.

Aqui e a foto seguinte: periferia da Zona Sul metropolitana, Avellaneda e imediações.

Sabe-se lá o porque, decidiam embargar o estabelecimento.

Está tudo fechado e lacrado, com os avisos de ‘interditado’.

Porém as pessoas precisam trabalhar, não podem parar.

Precisam comer, essa necessidade não pode ser suspensa.

Uma parte antiga da cidade….

Nem mesmo enquanto se debatem questões técnicas legislativas, se ‘atende ou não ao plano diretor’, etc.  

Os antigos comerciantes do dia pra noite foram expulsos e perderam o direito de ocupar seus pontos.

(Alguns estavam a décadas ali, você nota que a construção é antiga.)

Próximas duas: Av. 9 de Julho, Zona Central.

Obviamente eles passaram a protestar. Haviam diversos cartazes dizendo:

“Não somos invasores, só queremos trabalhar”, “galeria fechada. Por quê?”, e assim vai.

Mas claro que não ficou só na retórica. Repito, as pessoas têm que comer todos os dias.

Então é preciso achar um meio de atender essa necessidade.

Se uma porta se fecha, é preciso abrir outra, essa é a lei da natureza.

Os antigos comerciantes que foram despejados de suas lojas montaram agora banquinhas, e atendem na calçada.

Exatamente em frente as suas lojas que estão fechadas, pra manter o mesmo público.

Tudo ficou mais precário, não? Antes eles eram regularizados, pagavam impostos.

Agora não pagam. Um país que está em crise fiscal gravíssima.

Outra de Vicente Lopes.

E ainda se dar ao luxo de desperdiçar receita é bem estranho, ultrapassa as raias da burrice.

O desconforto aumentou muito, tanto pra vendedores quanto compradores, especialmente quando chove.

A higiene também caiu, onde vendem alimentos.

A circulação se tornou mais difícil. E se tudo fosse pouco, antes os comerciantes eram todos argentinos.

Como o mexicano, o argentino é um povo musical, simplesmente ama a música. Por toda parte você vê gente tocando. Aqui na Zona Central, perto da feirinha de São Telmo.

Agora que se formou um camelódromo, os africanos se somaram a eles.

Veja bem, eu não tenho nada contra africanos, o oposto sendo verdadeiro.

Fui a Mama-África, e amei a experiência, foi um presente que a Grande Vida (Deus) me proporcionou. Nunca fui a Europa, mas fui a África.

Isso já revela que nutro um profundo Amor pela Raça Guerreira Negra Original.

Aqui e a esquerda: uma parte feia, lixo espalhado pelo Centro.

Não tenho nada contra sequer em relação aos camelôs africanos. Ao contrário. 

Uma vez comprei uma aliança de um camelô senegalês no Centro de Curitiba.

Então respeito o direito deles lutarem como podem pra sobreviver.

Nessa aqui a impressão é que estava dentro do latão e alguém revirou pra recolher alguma coisa.

Estou apenas descrevendo o caos que se tornou o entorno da Estação Liniers de trem.

E tudo porque alguém decidiu estupidamente embargar a galeria.

Todo esse conflito e confusão se processava exatamente em frente as lojas fechadas….

Não era mais fácil permitir o funcionamento do comércio regularizado?

Capelinha na rua em Porto Madeiro. A Argentina tem esse choque, a burguesia é majoritariamente materialista (são ateus), mas a classe trabalhadora ainda é bastante católica. Óbvio que P. Madeiro não é periferia, mas talvez esse altar ainda seja remanescente de quando ali era o porto.

Ia ser melhor pra todo mundo, comerciantes, clientes, pessoas que apenas querem passar pela calçada, e até pro governo, que iria arrecadar mais.

Podiam devolver as lojas aos antigos donos, afinal eles precisam de uma renda.

E se a legalidade se fecha são empurrados pra ilegalidade, mas continuam ali.

poderiam construir mais algumas lojas, pra contemplar também os africanos recém-chegados, dar a eles a chance de também serem cidadãos de fato.

Mas não. Não elevaram os africanos ao nível de cidadãos plenos. Foram na mão oposta.

Rebaixaram os argentinos ao mesmo nível dos africanos que são imigrantes ilegais.

Agora todos são ilegais, todos são camelôs sem licença, ao lado da galeria fechada que poderia estar sendo usada.

Algumas coisas são difíceis mesmo de entender

…….…

Flores. Ao fundo o novo – e de alto padrão – bairro de Porto Madeiro, já que falamos nele.  Muita gente não sabe, mas Porto Madeiro é dedicado as mulheres. As ruas da parte nova e residencial têm nomes femininos, já mostrei acima. Um parque também. O outro parque é o ‘das Mulheres Argentinas’ (também fotografado) , e essa parte da ilha é ligada ao continente pela ‘Ponte da Mulher’.

Olhei pra cima. No alça do viaduto estava escrito: “Buenos Aires, Zona Oeste”.

Exatamente assim, o mesmo termo que usamos no Brasil.

Por que digo isso? Porque a palavra ‘zona’, no sentido de Zona Oeste, Zona Central, etc, só existe no Brasil, Argentina, Uruguai e mais raramente Paraguai.

No Chile, Colômbia, México, República Dominicana – esses tive oportunidade de ir, mas também nos demais [Equador, Venezuela, Peru, América Central] – é diferente:

No resto da América hispânica não há a palavra ‘zona’.

Um artista retratou a ‘Ponte da Mulher’.

Pro sul da cidade eles dizem simplesmente ‘o sul’, pro norte ‘o norte’.

Todo mundo entende que é nosso ‘Zona Sul’ e ‘Zona Norte’. O leste é o ‘Oriente’, em todos eles.

O oeste é o ‘Ocidente’ na América do Sul e Central (incluindo Caribe).

Só que no México ‘zona oeste’ eles dizem ‘o Poente’. Poético, não?

Próximas 7: o rico bairro de Nunhes (‘Nuñez’ no original) na Z/Norte. Essa é no município de B. Aires, mas perto da divisa com Vicente Lopes.

Isso nos demais países. Na Argentina (e Uruguai, as vezes também Paraguai) é igual no Brasil.

Por isso a inscrição no viaduto: “Buenos Aires, Zona Oeste”.

CRUZANDO A AUTO-PISTA: BEM-VINDO AO “VELHO-OESTE SELVAGEM” –

Liniers, como dito, é o começo da periferia, mas ainda classe-média.

Agora de dia. destaquei o itinerário das linhas de transporte coletivo.

Só que é o último bairro a oeste dentro do município de Buenos Aires, a ‘Capital Federal’.

Ali estão as oficinas da rede ferroviária argentina, então a cultura proletária é muito forte.

Os argentinos ainda são sindicalizados, ainda creem na literatura da ‘luta de classes’.

Então Liniers é assim. Um bairro operário em espírito, que tem um padrão de classe média-baixa em sua maioria.

Passando por baixo do viaduto da Auto-Pista General Paz entramos na região metropolitana, e mudamos também de estado.

Saímos do Distrito Federal, adentrando a Província de Buenos Aires, pros íntimos simplesmente “A Província”.

Em Buenos Aires, quando alguém usa esse termo, já está entendido que é a periferia, os subúrbios da capital.

A cidade é a mesma mas muda a unidade da federação.

Então. Saí de Liniers e da Capital Federal, entrei em Cidadela, na “Província”.

Essa parte da cidade é bem arborizada.

Agora você vai ver o que é Zona Oeste de verdade!

A Avenida Rivadávia continua, inclusive com mesmo nome e numeração, herda tudo que veio da capital.

Porém o perfil social começa a mudar. Em Cidadela…

Região de classe média-alta. Mas eis a típica arquitetura argentina, porta direto na rua.

(Nota: essa é a ‘municipalidad’ deles, que seria um município aqui no Brasil talvez, a divisão é diferente.

O ‘partido’ é 3 de Fevereiro, que seria um condado, como existe nos EUA e África do Sul).

Então estamos no município de Cidadela (‘Ciudadela’ no original), condado da ‘3 de Fevereiro’

(Outra nota: originalmente escrevi que o condado era ‘La Matanza’. Está errado.

Essa pichação também é em Nunhes. com essa fechamos a sequência nesse bairro da Z/N. Até a virada do milênio Buenos Ares quase não tinha pichações, exceto de torcidas de futebol e políticas. Agora surgiu um pouco, nesse estilo que vê aí. Mas infinitamente menos que no Brasil. Na Argentina não se picham prédios inteiros, andar por andar, nem os telhados de comércios.

O vizinho município de Ramos Mejía fica em ‘La Matanza’, mas Cidadela no 3 de Fevereiro. Corrigido).

A cidade começa a mudar, enfatizo. Surgem algumas favelas, que não existem em Liniers.

Entrei em duas delas, uma pequena ao lado de um viaduto e uma de tamanho médio.

Até o transporte coletivo muda na “Província”.

As linhas que passam pelo município de Buenos Aires  são servidas por ônibus mais novos, maiores, 3 portas e motor traseiro.

Conta de luz do apartamento que fiquei. Bairro: Micro-Centro. Trata-se de um termo local pra indicar a região entre o Congresso e a Praça de Maio, como o Obelisco bem ao meio como referência máxima.

(Isso tanto linhas municipais quanto as que ligam o Centro aos subúrbios metropolitanos.).

Já nas linhas internas metropolitanas (que não entram na Capital Federal) de menor demanda o nível não é o mesmo.

Nos deparamos com veículos mais velhos, menores, 2 portas e motor na frente.

Vamos ver mais cenas do sol se pondo em lados opostos da metrópole. As duas primeiras em Avellaneda, Zona Sul.

Natural, é assim no mundo todo, os ônibus novos começam nas linhas principais e vão sendo repassados pro subúrbio conforme envelhecem.

Caminho mais um pouco, passo pela Estação Cidadela de trem, entro por dentro do bairro, sigo.

Quando chego na Estação seguinte, Ramos Mejía, está anoitecendo.

Fico por ali, subo na passarela, fico vendo o trânsito engarrafado.

Observo os ônibus voltando cheios da capital, e indo pra ela vazios – claro né, todo mundo já ralou e volta pra casa.

Carros, comércio ambulante, as pessoas passam apressadas lá embaixo e atrás de mim, vários prédios altos de classe-média.

E como pano de fundo o sol se pondo, o céu mudando de cor, as luzes na rua começam a se destacar….

Fico ali uns minutinhos, parado, sozinho, quase que em meditação, sendo Um com o Criador.

E agora duas em Vicente Lopes, Zona Norte.

E agradeço a Ele pela chance de conhecer mais um país. Quase Zen.

……

Desço as escadas, é realmente uma queda de dimensão.

A Argentina está em caos, muitas obras ao mesmo tempo.

A estação de trem está em obras, muitos tapumes.

Tudo confuso, cartazes indicam onde é o embarque provisório.

Obviamente é difícil entender, ando de um lado pro outro, vou, volto, até sacar o lance.

Favela Vila 51, bairro Vila Lugano, Zona Oeste, também conhecida por ‘Cidade Oculta’ por ter sido murada na ditadura de Videla (imagem via ‘Google Mapas’).

E não é só porque eu sou turista. Os próprios locais também se atrapalham.

Uma moça, argentina, dali mesmo, me pergunta onde entra na estação

Explico: “é o que estou tentando entender também”. Ela opina “deve ser por ali”, no fim achamos a bilheteria.

Pego o trem, volto pro Centro. Está encerrada a Saga na Zona Oeste.

A rede de trens da Argentina é invejável, tanto os de subúrbio (esse caso) como longa distância.

Não há porque ficar circulando por ali a noite.

Especialmente quando as ruas ficam mais vazias. 

Primeiro, a noite já não dá mesmo pra ver tanta coisa.

Segundo, é uma ‘zona vermelha’ da cidade, se é que me entendes. É disso que falarei agora.

Flagrei em Avellaneda: veículo que que começou a vida como um ônibus sobre chassi de caminhão (bicudo pra ninguém duvidar que é um 11-13). Depois tiraram a carroceria de ônibus e lascaram um baú. Mas….mantiveram a porta de ônibus. Gostou dessa transgenia???

..

Não fui a parte mais ‘quente’ da Z/O. Não por medo.

De dia, eu entro em qualquer parte de qualquer cidade, em qualquer favela.

Em Buenos Aires mesmo entrei nas duas favelas mais famosas da capital argentina, no Centro e Zona Sul, as Vilas 31 e 21, respectivamente.

Na Zona Oeste não fui ao pior pedaço dela porque faltou tempo, realmente.

De dia teria ido. Mas não fui. Deixa eu contar onde é:

Já que o tema é caminhões, ao fundo Porto Madeiro, a frente carretas Mercedes e Scania.

Na própria Cidadela, um pouco mais ao norte, está o Conjunto ‘Exército dos Andes’.

Mas todos conhecem como…o “Forte Apache”.

Onde Tévez criado, como já dito. Essa informação saiu na mídia a época.

O ‘Forte’ é um lugar cujo apenas a menção do nome já provoca arrepios a burguesia portenha.

Aqui e a direita: Forte Apache, Cidadela, Z/Oeste.

Notam pelas fotos, tem um projeto arquitetônico singular, futurista.

Parece um ‘Blade Runner’, um ‘Mad Max’.

Só nessa imagem vemos duas carcaças de carros, cemitério de metal ao ar livre.

Torres de diferentes tamanhos, as mais altas se conectam pelo alto por passarelas.

Mas o pior está embaixo. Não há coleta de lixo regular no local.

Mesmo entre os que rodam: a crise está brava! Na periferia a frota da Argentina parece a de Cuba.

Pela quantia de moradores, o caminhão tinha que passar todo dia, óbvio. Mas não passa. O lixo se acumula na rua.

Muitas carcaças de carros abandonados estão desovadas nas imediações.

(Bem, pilhas de lixo eu não vi pela Argentina. Mas carcaças de carro, é pela periferia inteira..

Essa é entre Palermo e Recoleta, também Zona Norte mas perto do Centro. Notam o céu muitas vezes azul, não? Buenos Aires é fria no outono, muito mais que no Pampa/Chaco (interior argentino e Paraguai). Estávamos lá em março, a noite esfriava. Mas no verão a capital é um forno. Quem pode escapa pro litoral, especialmente pra cidade de Mar do Prata.

Parece que estamos nos lugares mais desgraçados da África, Sul da Ásia e América Central.

Aí de vez em quando (semanalmente? Quinzenalmente?) passa um caminhão e recolhe.

E não tem porque ser assim. O Forte não é uma favela, é um conjunto.

Digo, há uma invasão numa das faces dele. Mas não é por causa disso. O lixo na rua não é o da favela.

Pois a favela está só de um lado, e o lixo se acumula por todas as partes do Forte Apache, em todas as suas faces.

O Forte não é uma favela. Mas de tão mal-cuidado acaba parecendo uma. E um lugar perigoso, também.

Em março de 17, quando estive na Argentina, li (e fotografei) um jornal que dizia: “uma onda que cresce – sequestraram 5 pessoas em 15 dias na Capital Federal”.

Próximas 3: favela da Vila 31, bem no Centrão – atrás os arranha-céus que a burguesia trabalha, um fica vendo o outro.

Dizia a notícia que os sequestros são no bairro Liniers e imediações, esse que acabamos de descrever.  

Sempre nas proximidades da Auto-Pista, pra facilitar a fuga.

E arrematava: “a polícia já sabe que a quadrilha tem sua base no conjunto Forte Apache, na Cidadela.”

Precisa dizer mais? Por isso essa parte da Zona Oeste é chamada lá de “Velho-Oeste Selvagem”. Porque é bangue-bangue.

Verdade, a violência urbana na Argentina é bem menor que no Brasil.

Mas Buenos Aires é uma cidade violenta. Menos que aqui? Sim, acabei de dizer.

Não há lá as mega-chacinas do tráfico, como em nossa pátria há aos montes.

Nas favelas e periferias de Buenos Aires matam muita gente, mas só no varejo:

Um num dia, dois no outro, na semana sequinte mais um.

10 a 20 de uma vez, só no Brasil, Colômbia, México, África do Sul, esses lugares mais ‘civilizados’.

Noturna do Obelisco iluminado.

Ainda assim, Buenos Aires está violenta. Bem mais do que era lá até duas décadas atrás. Bem mais, sem comparação possível.

Até pouco antes da virada do milênio, assaltos a mão armada aconteciam mas eram raros.

Latrocínios (matar pra roubar) praticamente inexistente, um a cada muitos meses no máximo.

Agora a chapa tá quente de verdade. O ‘paco’ chegou com tudo.

(Trata-se de uma droga pior que o craque, existe também em Brasília-DF e na Amazônia com o nome de merla)

Daqui até o final: periferia da Zona Sul de Buenos Aires, tanto municipal quanto metropolitana (são áreas próximas, basta cruzar o Riachuelo).

Destroçando as favelas e periferias. Fez um arregaço.

Não 2 dígitos de uma vez só como no Brasil.

Ainda assim, as favelas e quebradas portenhas (Capital Federal) e bonarenses (Província) também estão desovando cadáveres em ritmo alto.

Hoje não é mais seguro andar a pé a noite no Centro e bairros ricos, como um dia foi.

E os latrocínios se tornaram corriqueiros, não comovem mais, exceto a família da vítima.

Do lado esquerdo da rua, mais uma carreta Scania (o mercado de caminhões da Argentina – e também Paraguai – é muito parecido com o Brasil) e no direito notamos mais uma vez a falta de saneamento básico.

Buenos Aires mudou muito. Uma pena. Mas é a realidade deles agora, que conhecemos bem aqui.

………..

Promessa é dívida. Por que o título, “o Número da Besta”?

No meu último dia em Buenos Aires, fui conhecer a Feirinha de Artesanato de São Telmo.

Parecida com a do Largo da Ordem em Curitiba, pra quem conhece.

Próximas 3: Avellaneda, região metropolitana. Essa e a próxima no entorno do campo do Racing, com direito a a pichação de campanha política do clube.

Almoçamos num restaurante ‘descolado’. Comida boa, ambiente aconchegante. Mas bem caro. Por isso estava vazio. 

E….não aceita cartão, como é o padrão na Argentina. Tivemos que desembolsar uma boa quantia, e em efetivo. 

Apesar da conta salgada, foi um almoço agradável, o local é todo decorado com quadros, os pratos são gostosos.

E tudo regado ao bom e velho ‘rock’n roll’.

Aqui em frente ao estádio mesmo.

Já na hora de ir embora (e eu estava me despedindo da cidade também, lembre-se) fui dar uma volta, ver os quadros.

Começou a tocar essa música, “Number of the Beast” do ‘Iron Maiden’. Entrei em transe.

Parece que tive um ‘despertar’, como os místicos contam. Tudo se encaixou, entende?

Ainda Avellaneda, que se desenvolve bastante. Prédio de bom padrão e altura sendo erguido.

Foi a trilha sonora perfeita do momento. Deu um estalo em minha Alma. 

Pronto, associei pela Eternidade essa música a Buenos Aires.

Sempre que volto lá (pelo ‘Google Mapas’) puxo ela como pano de fundo. A cidade e a canção agora são um e o mesmo.

Buenos Aires É o Número da Besta!

Outros conjuntos novos subindo.

Está dito. Cada um que interprete como quiser porque fiz essa associação de maneira tão indelével.

..

Deus proverá

Foz do Iguaçu, “Capital do Merco-Sul”: encontro das águas e das nações

Por Maurílio Mendes, O Mensageiro

Publicado em 20 de janeiro de 2018

Começou Expresso em Ctba. Quando foi pra Foz, pintaram saia azul ondulada pra disfarçar.

Atualizado em março de 2023

Imagens baixadas da internet, créditos mantidos sempre que impressos nas mesmas.

Vamos falar da ‘Tríplice Fronteira’, onde Brasil, Paraguai e Argentina se encontram.

Vide a placa acima da manchete – ela foi clicada no lado brasileiro.

Estou atualizando a postagem pra retratar Foz do Iguaçu. A cidade foi nomeada por um aspecto geográfico:

O maior rio do Paraná é o Iguaçu, que em seu trecho final divide o Brasil da Argentina.

Marco da Tríplice Fronteira, um tótem em cada lado; em sentido horário: o paraguaio, 3 do Brasil e fechando com o argentino.

Cuja foz – a ‘foz do Iguaçu’ portanto é no Rio Paraná.

Que por sua vez nomeia o estado, e a montante do Iguaçu divide Brasil e Paraguai, e a jusante desse ponto Argentina e Paraguai.

Um “Encontro das Águas”: o Iguaçu é o maior rio do Paraná, dizendo de novo.

Nasce em Curitiba, e logo em seu início já absorve o maior Rio de Curitiba, que é claro o Belém.

Vamos ver destaques da Tríplice Fronteira. Aqui e na próxima a ‘Ponte da Amizade’ Brasil/Paraguai, a construção nos anos 60.

E aqui na capital do estado nomeia justamente o palácio da sede do governo. Depois cruza todo território paranaense.

E após isso chega ao fim de sua epopeia, e se dissolve no Rio Paraná, que apropriadamente nomeia o estado.

E ali as 3 nações-irmãs americanas também têm seu encontro.

Por conta disso, em cada uma delas há o Marco das 3 fronteiras que vemos acima.

Todos em suas respectivas margens, juntos formam um triângulo.

Amplie a imagem a esquerda acima pra ver melhor o que vou descrever abaixo.

Não é preciso legendar a imagem, o obelisco de cada país obviamente ostentas suas respectivas cores nacionais:

O brasileiro verde-&-amarelo, o argentino azul claro e branco. E o paraguaio tricolor, azul escuro, branco e vermelho.

Foz abriga Itaipu, que já foi a maior usina hidrelétrica do mundo (esq.), também na fronteira Brasil/Paraguai.

Os obeliscos brasileiro e argentino são idênticos, em forma de cunha, e foram inaugurados em 1902.

O paraguaio é bem mais recente, de 1961, e diferente dos demais:

Além de retangular, tem o nome da nação grafada num apêndice.

Na tomada do tótem argentino (no canto inferior esquerdo ainda da mesma colagem) vemos ao fundo os prédios do Centro da Cidade do Leste, Paraguai.

E dentro do Rio as balsas que ligam a Argentina ao Paraguai. Entre esses dois países ainda não há ponte, vejam vocês.

Até o final de 1985 ali também era o ponto a balsa Argentina/Brasil.

Pois em novembro de 85 a ponte (chamada “da Fraternidade”) que liga esses países foi inaugurada.

Cheguei a cruzar essa balsa Porto Iguaçu/Foz do Iguaçu.

Nesse exato ano de 85, poucos meses antes da ponte ser entregue.

a ponte Brasil/Paraguai (a “da Amizade”), é bem anterior, de 1965.

Numa nota brasileira vemos as Cataratas do Iguaçu, na fronteira Brasil/Argentina.

Portanto o Obelisco Paraguaio das 3 Fronteiras foi feito enquanto a ponte estava em obras.

O Marco do lado paraguaio é bem mais novo, repetindo. Em compensação nunca foi reformado.

Já os Obeliscos Brasileiro e Argentino foram reformados, mudaram o piso e fizeram outras melhorias.

Vemos isso claramente no lado brasileiro. Até o começo dessa década já existia o tótem, mas era só isso.

Uma jardineira na cidade argentina de Porto Iguaçu. A região tem transgenias busófilas curiosas

Você podia se encostar e mesmo abraçar o monumento, e alguns faziam isso.

Era num ponto afastado do Centro de Foz do Iguaçu, sem nenhuma infra-estrutura de apoio ao turista.

Logo, pouquíssimas pessoas iam até o local, não havia atrativos além do tótem em si.

Agora, claro que ele continua no mesmo lugar, mas foi todo reformulado:

Soldado do Exército Paraguaio (de meu próprio punho). O militar está obviamente guardando sua própria nação. Ao fundo dele, a direita vemos nossa Pátria Amada, e a esquerda a Argentina.

Construíram um laguinho incluso com iluminação noturna.

Portanto ninguém mais pode chegar a pé até o monumento de cimento.

E ao redor fizeram estacionamento, restaurante, e um museu da colonização imitando uma missão jesuítica espanhola.

Afinal o estado argentino que faz divisa com Brasil e Paraguai é justamente as Missões.

Agora o Marco das 3 Fronteiras do lado brasileiro é uma atração turística de verdade.

Assim os guias de viagem passaram a incluí-lo em seus roteiros.

………

Encontro das Águas, Encontro das Nações Irmãs em Amizade e Fraternidade: 

Assim é Foz do Iguaçu, Porto Iguaçu e Cidade do Leste, a “Tríplice Fronteira”.

Breve amplio a postagem com essas dezenas de fotos abaixo, contando a história do transporte no Oeste do PR.

Ao lado um articulado Viale Volvo em Cascavel. Por hora serve de aperitivo.

 

 

 

 

O mesmo veículo sendo entregue 0km, o conglomerado tem um hotel e outra viação em Foz do Iguaçu-PR.

  

Porto Iguaçu, fronteira com Foz do Iguaçu, Brasil.

 

xxxxxx

“Deus proverá”

Linha pintada no ‘Micro’ colorido; 3 cidades com troleibus; bom metrô e trem; poucos articulados e corredores: o Transporte na Argentina

Argentina (r): Meca do Tróleibus na Am. Latina – são 3 cidades, aqui um ex-Canadá em Mendonça.

INTEGRA A “ENCICLOPÉDIA DO TRANSPORTE URBANO BRASILEIRO

Por Maurílio Mendes, O Mensageiro

Publicado em 5 de novembro de 2017

Maioria das fotos de minha autoria. O que for baixado da internet eu identifico com um ‘(r)’ de ‘rede’, como visto ao lado.

Vamos falar da rede de transportes da Argentina. De bate-pronto vamos dar um resumo da situação, depois vamos desenvolvendo.

Aqui e acima da manchete: Buenos Aires não tem tróleibus. Mas os ônibus a dísel são multi-coloridos, com itinerário pintado na lataria (igual a Lima).

Buenos Aires:

Excelente rede de trens suburbanos, uma dos melhores do mundo;

Metrô (um dos primeiros do planeta, 6 décadas antes do Brasil) razoável.

Atende boa parte da Capital Federal (‘CABA’, Cid. Autônoma de Bs. As.).

Só que essa é apenas a Zona Central da cidade que é a Grande Buenos Aires (‘Conurbado’), tendo menos de 20% da população.

Metrô de B. Aires, um dos 1ºs do mundo.

O metrô, por ser municipal, não entra na região metropolitana (‘AMBA’, Área Metrop. De Bs. As., que lá é em outro estado, a Província de Bs. As.).

Como sabem, na Argentina os estados são denominados ‘províncias’.

Logo, a periferia da capital é conhecida simplesmente como ‘A Província’. Nela vivem mais de 80% da população da Grande Buenos Aires.

Essa imensa maioria não têm acesso ao metrô exceto via baldeação, portanto pagando duas vezes;

Ônibus: não há terminais e nem integração, seja física ou digital. Pouquíssimos articulados. Não existe qualquer padronização de pintura, os busos (lá chamados ‘micros’) são em pintura livre.

Tem mais: com o itinerário pintado na lataria (o que também ocorre em Lima-Peru).

Corredor de ônibus MetroBus na Av. 9 de Julho, Centro de B. Aires. Não há integração.

Rede de corredores (chamada ‘MetroBus’) razoável, 50 km. Demorou muito pra ser implantada, apenas em 2011.

Portanto somente 6 anos quando o texto sobe pro ar em 17. Mas estão tirando o atraso, em expansão constante;

No sistema municipal e nas linhas metropolitanas que ligam o Centro ao subúrbio, todos os ônibus são de 3 portas e motor traseiro.

Bonde moderno em Mendonça.

Na periferia (as linhas internas metropolitanas que não entram na Cap. Federal), entretanto, vemos veículos de 2 portas e/ou motor dianteiro.

As linhas são conhecidas pelo número, e não pelo nome. Alguns busões alias só tem o nº no letreiro.

Esse também é o padrão na Itália, Paraguai e no Brasil no Rio de Janeiro e Santos-SP. Há outros países e cidades que isso ocorre, mas de cabeça me lembro desses.

‘Antes/Depois’ (r): as composições que rodam em Mendonça vieram usadas da fronteira EUA/México. Aqui vemos uma delas em ação no Hemisfério Norte.

Um dia houve tróleibus em Buenos Aires, mas não mais a muito. Em compensação no interior há 3 redes. O que faz com que a Argentina seja o país da América Latina com mais cidades contando com ônibus elétricos.

E o 2º da América, só atrás dos EUA que tem 4. No Brasil são 2 cidades: Grande SP e Santos. 3 sistemas, pois em SP há o municipal e o metropolitano. De volta a Argentina:

Córdoba (maior cidade do interior, e a mais importante, em termos políticos e econômicos):

Tróleibus: são apenas 3 linhas, exclusivamente com mulheres ao volante.

Próximas 2: Tróleis em Mendonça. Mesma leva ex-Canadá da 1ª foto da matéria, no alto da página. Foram repintados em apenas uma cor, não há mais nada escrito na lateral.

É uma viação estatal municipal, que também opera alguns ônibus a dísel.

A política é ter um quadro funcional 100% do sexo feminino como condutoras.

São as únicas motoristas mulheres que vi na Argentina, incluindo elétrico e a combustão de carbono.

Nos ônibus particulares de Córdoba, Mendonça e Buenos Aires só vi homens guiando.

E os tróleibus de Mendonça (dir.), que também são estatais, igualmente são dirigidos pelo sexo masculino.

A capital Buenos Aires hoje não tem viação pública, não sei se no passado houve e foi privatizada ou nunca houve mesmo.

A traseira. Nos detalhes: avisos no interior bi-língues em inglês e francês (apesar que Vancuver é Costa Oeste, não fala francês). E um cartaz que fotografei no Centro protestava contra a possível privatização.

Voltando aos tróleis de Córdoba, as motoristas são mulheres, mas o acesso é livre a passageiros de ambos os sexos.

No México ocorre o contrário: há ônibus que só mulheres podem utilizar (homens com menos de 12 anos ou mais de 65, entre essas idades somente deficientes).

No entanto a maioria dos motoristas dos ‘ônibus rosas’ mexicanos são homens, alguns são guiados por mulheres, mas são poucos.

Ônibus: não há pintura padronizada, corredores ou terminais, nem integração seja física ou temporal.

Articulado em Mendonça (viação Maipu). Proporcional a população, essa é a cidade com mais ‘sanfonados’ na Argentina.

A maioria dos ônibus contam com 3 portas, mas existem vários com 2.

Em Córdoba há mais articulados que em Buenos Aires, proporcional a população.

Como no Brasil e ao contrário de Buenos Aires, o itinerário não vem pintado na lataria.

No entanto, como na capital as linhas são mais conhecidas pelo número que pelo nome. Alguns ônibus de Córdoba igualmente só trazem o número no letreiro.

Moderno ônibus (viação Trapiche) de Mendonça, até com letreiro eletrônico. Mas tem somente 2 portas.

Pequena rede de trens suburbanos, apenas 1 linha. O detalhe lamentável é que a parte mais urbana esteja cancelada em 2017.

Pois estavam ocorrendo constantes apedrejamentos na favela chamada ‘Vila de Náilon’.

Antes o trem saía de uma estação bem central em Córdoba, parava numa outra ainda dentro desse município mas já na periferia.

E dali seguia pra algumas cidades que são no interior do estado (‘província’) de Córdoba.

Não são mais região metropolitana, mas ficam próximas a capital.

Agora o trem já parte da estação da periferia rumo ao interior, não faz mais o pega urbano dentro da capital pra evitar o trecho problemático.

Digo, relato o que era verdade quando estive ali em março de 2017. Na ocasião a Argentina enfrentava dolorosa agonia política.

Próximas 3: trem suburbano de Córdoba.

Que se refletia nessa situação de normalização de apedrejamento do transporte coletivo, como já detalhei melhor na postagem ligada em vermelho acima.

Pode ser que quando você estiver lendo essas linhas a situação tenha sido normalizada. Faço votos pra que assim seja.

Tristeza: por constantes apedrejamentos eliminaram um trecho da linha.

Mendonça (4ª maior cidade argentina, 3ª do interior depois de Córdoba e Rosário):

Bonde moderno, implantado num antigo ramal de trens de carga. Funciona bem, um meio rápido, barato e não-poluente de ligar o Centro a populosos subúrbios da Zona Sul.

Detalhe: as composições foram importadas usadas da fronteira EUA/México. Antigamente operavam na linha que liga a Grande São Diego (Califórnia) a Tijuana.

Grades na janela pra evitar que o motorista seja atingido por pedras. Na África do Sul do ‘apartheid’ era assim, mas hoje não mais.

Presenciei em Mendonça uma que o letreiro não havia sido mudado, infelizmente não pude fotografar.

Tróleibus de uma viação estatal, a STM – Sociedade de Transporte Mendonça (no original ‘Sociedad de Transporte Mendoza’, eu traduzo tudo pro português sempre que possível), anteriormente chamada EPTM – Empresa Provincial de Transporte de Mendonça.

Ao contrário de Córdoba, os tróleis mendoncinos são dirigidos por homens. No total 6 linhas, e o sistema passa por expansão e modernização. Em 2013 foi inaugurada uma longa linha, de 13 km. E no ano seguinte outra, essa mais curta, até a universidade.

Articulado de Córdoba.

Alguns tróleibus são ex-Vancúver, Canadá. Os da linha 4 pra Dorrego, que foram os que eu andei e fotografei, se enquadram nesse caso.

Assim vemos que essa é uma tradição mendoncina, importar da América do Norte os veículos de seu transporte elétrico.

Também Córdoba, mesma viação. Na Argentina as linhas são conhecidas pelo nº, esse sequer tem o nome no letreiro.

Até recentemente havia também tróleis russos e alemães, esse últimos eram mais curtos e trucados (tribus, ou seja 3 eixos).

Não tenho certeza quanto aos russos, mas os tróleis alemães não circulam mais em Mendonça.

Já estão fora de serviço, flagrei vários deles sendo desmontados.

Eram vendidos como sucata num desmanche de beira de estrada na entrada da cidade, mas não deu tempo fotografar.

Tróleibus em Córdoba. São só 3 linhas, denominadas ‘A’, ‘B’ e ‘C. Viação estatal.

Não há motivo pra tristeza, pois chegou uma nova leva de tróleis, e esses de fabricação argentina mesmo, ademais gerou empregos e tecnologia nacionais.

Ônibus: mesma situação do resto do país, sem terminais, integração ou padronização de pintura. Como em Córdoba, não há corredores, mas tampouco o itinerário é pintado na lataria.

O ponto negativo de Mendonça é que ali a maioria dos ônibus é motor na frente e de 2 portas, os de 3 são exceção.

Em compensação Mendonça é a cidade da Argentina com mais articulados, proporcional a população.

Todos os tróleis de Córdoba têm mulheres ao volante, é uma iniciativa política.

Em Mendonça (ao menos nos a dísel) o número principal que você vê no letreiro não é o da linha, mas ‘tronco’, ou seja, da avenida principal que várias linhas pegam.

A linha mesmo vem num letreiro menor no para-brisas. Exemplificando é mais fácil entender, vide a tomada abaixo a direita.

Ali escrevi ‘corredor’, mas não no sentido de canaleta exclusiva, porque elas não existem no interior da Argentina.

‘Corredor’ aqui é no sentido usado na Rep. Dominicana, o eixo, a avenida principal que a linha passa (dado que um dia também foi mostrado em Belo Horizonte-MG).

 Mendonça (por isso 2 portas): o nº no letreiro maior é o tronco. A linha vem no letreiro menor, no vidro (Viação Avelar).

………

Rosário é a 3ª maior cidade argentina, a 2ª do interior após Córdoba.

E em termos de relevância política ambas disputam palmo-a-palmo quem tem mais influência.

Agora, como detalhe curioso aponto que no futebol Rosário é disparado o maior polo após a capital.

Rede de trens da Gde. Buenos Aires. Em vermelho a divisa entre a Cap. Federal (‘CABA’) e a ‘Província’ (‘AMBA’, a região metropolitana). Note que os próximos 2 mapas só mostram a ‘CABA’, ou seja dentro da linha rubra.

Das 132 edições de seu campeonato de futebol (quase sempre 2 por ano) Buenos Aires e seus subúrbios venceram 122.

Apenas 10 foram pro interior, e todas pra Rosário. Ademais, Buenos Aires (incluindo subúrbios) ganhou todas as 24 Libertadores da Argentina.

Somente em 2 vezes o interior da Argentina chegou a final da Libertadores, e as duas vezes foi novamente Rosário.

Escrevi tudo isso pra colocar que se nos campos político, econômico e cultural a rivalidade entre Córdoba e Rosário é intensa, no futebol não há comparação possível.

Esse esporte na Argentina se concentra 90% na capital. Do pouco que sobra pro interior, Rosário fica com praticamente tudo.

Rede de metrô.

Em termos nacionais Córdoba é praticamente irrelevante, e em Mendonça e demais cidades então os times só têm qualquer importância a nível local.

Já fiz matéria específica sobre o futebol, onde dou todos os detalhes, ricamente ilustrado.

Aqui só fiz esse adendo pra mostrar que nessa dimensão – que é a própria Alma da Argentina! – Rosário é o orgulho do interior:

Corredores de ônibus MetroBus.

A única cidade que faz alguma frente ao gigante que é Buenos Aires. Então voltando ao transporte, que é nosso tema atual.

Rosário também tem tróleibus. Incluso alguns ex-Belo Horizonte. Digo, eles foram produzidos e inclusive pintados pra rodar na capital mineira, mas não chegou a acontecer.

Ficaram anos parados num depósito, até que foram exportados pra Argentina. Já contei essa história outro dia, com muitas fotos.

Como não tive a oportunidade de ir a Rosário, não posso detalhar como funciona sua rede de ônibus, faço apenas esse adendo que lá também há veículos elétricos.

………

TETRA-MODAL: a favela Vila 31, no Centrão de B. Aires, fica atrás das estações de trem e ônibus, e pertinho do aeroporto e porto – ao lado da auto-estrada – aquele viaduto a dir. . Consegui numa tomada enquadrar o 4 modais (na África do Sul foram 3).

Como é sabido, essa vizinha nação teve seu período de glória na primeira metade do século 20.

Nessa época era considerada (ao lado do vizinho Uruguai) uma ilha europeia no oceano latino-americano.

Após a Segunda Guerra Mundial, entretanto, a Argentina entrou num novo ciclo, enfrentando severa decadência em várias dimensões:

Econômica, política, cultural, etc. O que a nivelou a mesma frequência dos demais vizinhos da América do Sul.

Veja bem: não estou dizendo que a Argentina está pior que o Brasil. Não.

Buenos Aires, o buso brilha refletindo o Sol. Linha 17, que eu cliquei as 17 horas do dia 17, que alinhamento, não? Pro que nos importa aqui, no itinerário pintado na lata vemos que ele passa pelo corredor MetroBus.

Diria que os dois países estão mais ou menos no mesmo nível, há pontos em que estamos a frente deles, e outros em que eles estão mais evoluídos.

A questão é que por um século, do fim do século 19 até a década de 80 do 20, não havia qualquer comparação possível.

A Argentina estava então milênios-luz a frente do Brasil, especialmente na coesão social.

Esse não é mais o caso. Repito, não estou afirmando que a Argentina é o pior país da América Latina ou mesmo do Sul. Mas está muito longe de ser o melhor.

Na Argentina os busos não têm catraca ou cobrador, você encosta o cartão na máquina (mas não há a evasão rampante do Chile). Falar nesse país trans-andino, tanto as chilenas como as argentinas adoram cachecóis e echarpes, como nota!

Indubitavelmente, houve uma queda de patamar. Agora estamos todos no mesmo barco, se quiser colocar assim.

Não por outro motivo denominei a série que retrata a Argentina como “Ascensão & Queda”.

Na Abertura da Série, que tem exatamente esse título, já tracei um panorama mais geral, multi-dimensional.

No tema de hoje, vamos nos focar especificamente nos transportes, que obviamente também seguem o que delineei acima

Já escrevi antes: o metrô de Buenos Aires (abreviada ‘Bs. As.’) é de 1913. Um dos mais antigos do mundo.

O de Londres-Inglaterra foi eletrificado (e portanto a partir daí considerado metrô) em 1890. O de Paris-França é de 1900, Nova Iorque-EUA inaugurou o seu em 1904.

A tomada anterior foi feita em Mendonça. Portanto a bela argentina de echarpe encosta na catraca eletrônica o cartão abaixo a esquerda. Vemos também os de Córdoba (no interior ambos se chamam ‘Red Bus’) e de B. Aires (‘Sube’).

Assim vemos que o metrô da capital argentina é apenas 13 anos mais novo que o da capital francesa, e veio menos de uma década depois da principal cidade estadunidense. 

Mais: o metrô de Buenos Aires (lá chamado ‘subte’, diminutivo de ‘subterrâneo’) foi o 1º de todo Hemisfério Sul, o 1º de toda América Latina.

E, se tudo fosse pouco, o 1º de um país de língua espanhola, pois mesmo o de Madri-Espanha chegou 6 anos depois dele.

O metrô de Lisboa-Portugal, que também é Europa Ocidental, só foi rodar em 1959.

Catraca de B. Aires pede que se ‘informe o destino’. Atrás os protestos que sacudiram o país no começo de 2017, mesmo tarde da noite eles seguiam.

Hoje a China tem os dois maiores sistemas de metrô do mundo, nas suas capitais política e econômica Pequim e Xangai.

Entretanto o metrô de Pequim é de 1965, e o de Xangai ainda mais novo, entrou em operação bem recentemente, em 1993.

Já que estamos na Ásia, Tóquio-Japão fez o seu em 1927, e o de Seul-Coreia do Sul é de 1974.

Hoje esses dois sistemas são infinitamente maiores que os de Buenos Aires.

Mas os portenhos contaram com esse conforto 14 anos antes que os japoneses, e 61 anos antes dos coreanos.

Há razões pra protestar: a Argentina está depauperada, e na periferia sua frota parece a de Cuba. Daqui pra baixo vamos combinar  o seguinte: quando a foto for no interior eu informo. Se não disser nada é em Buenos Aires, como é o caso aqui.

Somente no mesmo ano de 1974 o Brasil passou a contar com esse modal, quando São Paulo inaugurou sua primeira linha.

No México D.F. em 1969, pouquíssimo antes de SP e muitíssimo depois de Bs. As. .

O primeiro e até agora único metrô da Colômbia, o de Medelím, data de apenas 1995.

Assim fica evidente o passado glorioso da Argentina:

Muito próxima na Linha do Tempo de Londres, Nova Iorque e Paris, e a frente mesmo de Madri (a ex-colônia superou sua antiga metrópole). E décadas e décadas a frente de Portugal, Brasil, México, China e Colômbia.

Os táxis na Argentina oscilam entre o preto e o amarelo.

No entanto essa não é mais a situação do país, exatamente o oposto sendo verdadeiro.”

Modelo na primeira metade do século 20, a Argentina estagnou na segunda metade, marasmo que adentrou a 1ª metade do século 21.

O Brasil passou por ampla onda de modernização do transporte a partir da virada pros anos 80, processo ainda em andamento.

Depois dos anos 90, a América Latina nos acompanhou nessa vibração:

Por exemplo, Santiago do Chile foi a 1ª cidade hispano-americana a padronizar a pintura dos ônibus, em 1992 – foi a saudosa ‘Febre Amarela‘.

Centro de Buenos Aires: a chilena Metalpar tem boa fatia do mercado de carrocerias argentino.

Medelím inaugurou seu metrô no meio dessa mesma década, e depois expandiu-o via modal teleférico a morros inacessíveis a engenharia convencional.

Até os menores países países da América Central (tanto continentais quanto insulares, o Caribe) investiram pesado no ramo, fazendo metrô e modernizando os ônibus.

E a Argentina permanecia adormecida. Até o fim da década passada (o texto é de 17) já existia metrô e trem em Buenos Aires, óbvio.

Próximas 3: Retiro, Centrão de B. Aires. Ali é o ‘ponto zero’ da malha de transportes. Nessa foto a estação de trens (suburbanos e longa distância). A frente um buso da linha 115.

A questão é que a rede de ônibus da cidade se parecia muito com a de Assunção-Paraguai.

(Nota: não estou falando por preconceito. Estive no Paraguai em 2013, e constatei que a época ‘não haviam trem, metrô, corredores, articulados ou integração;

Porém haviam muitas jardineiras‘ [aqueles ônibus encarroçados em chassi de caminhão, com motor a frente].

E tampouco falo com desprezo. Ao contrário, Eu amo o Paraguai, e agradeço muito a oportunidade que a vida me deu de ter ido a sua capital.

Cruzando a rua está o Terminal Central (não-inegrado) de ônibus urbanos.

Além de várias vezes já ter visitado a Cidade do Leste, sua maior metrópole do interior.

Ainda assim, fatos são fatos. O Paraguai ainda não investiu na modernização do transporte. Haviam em 2013 planos de fazê-lo, e espero que tenham saído do papel.

Na quadra seguinte a Rodoviária.

Entretanto quando estive lá retratei a situação como a vi, e era essa.)

Pois bem. Em 2010 boa parte da América Latina, do Chile a Colômbia, Venezuela, Peru, México, América Central, já contava com modernos articulados que iam por canaletas exclusivas, com embarque em nível.

E em Buenos Aires . . ., bom já não haviam mais jardineiras, é certo.

Transição: a Argentina está mudando o emplacamento , a esq. o novo modelo.

Essas um dia foram oni-presentes na Argentina, mas nesse milênio já haviam sido eliminadas da capital (no fundão do interior ainda haviam alguns ‘heróis da resistência’).

De resto, o sistema de ônibus da capital da Argentina se assemelhava muito a da capital do Paraguai:

Bi-trens são comuns no país (o Mercedes maior foi clicado chegando em Mendonça, os brancos do detalhe não tenho certeza).

Sem padronização de pintura, integração, corredores, terminais ou articulados. Ao menos, já tardiamente, nessa década houve um despertar.

Foi inaugurado o primeiro corredor – chamado ‘MetroBus’ como na Cidade do México e várias outras metrópoles pelo planeta.

Tróleibus na Argentina, em verde ativos, vermelho um dia existiu.

E há alguns articulados. Muito poucos. Tão poucos que nem consegui fotografar.

Eles existem, sim, mas são raros, grosseiramente insuficientes pra uma megalópole de 12 milhões de pessoas.

Vi mais articulados na Zona Oeste de Buenos Aires. No corredor que leva ao bairro Liniers, na divisa de município, passaram alguns sanfonados.

Infelizmente nesse dia minha câmera estava sem bateria e não consegui registrar.

Mas no Centro de Buenos Aires, por exemplo, não passam articulados. E nem na maior parte da cidade.

Tróleibus em Rosário (r). Mas a linha é Venda Nova (BH-MG)???? Que ‘Tabela Trocada‘, hein? Nessa outra mensagem eu mostro toda linha do tempo dessa safra, de BH pra Rosário.

Fiquei 4 dias rodando com máquina na mão, e não deu certo clicar – e o motivo é esse, são muito poucos.

Ademais, no corredor os pontos não têm plataformas nem catracas. Ou seja, não há embarque em nível nem pré-pago – portanto não existe integração.

Simplesmente criaram uma pista exclusiva pros ônibus normais, curtos e de piso baixo, pararem.

Claro que houve vantagens, agora os coletivos não pegam congestionamentos nos trechos das grandes avenidas que têm MetroBus, e eles estão sendo ampliados.

Só que ainda é pouco. É preciso hierarquizar as linhas em troncais e alimentadoras.

Do Centro até alguns pontos-chaves em várias partes da cidade, as linhas precisam ser feitas por articulados que tenham corredores exclusivos em todo trajeto.

E desses pontos pras vilas, aí sim os ônibus pequenos podem continuar operando como alimentadores. Se houver a integração no cartão não há a necessidade de construção de terminais físicos.

Esse modelo é usado no mundo todo, do Brasil ao México, Guatemala, Indonésia, Turquia, China, até a Colômbia e Chile, pra citar apenas alguns.

Avellaneda: os ônibus municipais dos subúrbios só têm 2 portas, e muitas vezes no letreiro só há o nº da linha, repetindo.

A Argentina é quem ainda não despertou pra essa realidade tão óbvia. Vendo por outro lado, até somente 6 anos atrás (quando escrevo) nem o corredor não-integrado existia.

Aí era a raça mesmo, os ônibus duelando cm os automóveis nas vias entupidas do horário de pico. Se serve de consolo . . .

Já seguimos com o texto. Antes uma galeria de imagens com mais ônibus de Buenos Aires, quase sempre com a linha escrita na lataria:

Próximas 2: linha de bonde moderno abandonada no Centro de Buenos Aires.

Sobre a última foto: macaco vê, macaco imita. O nome do bairro é Palermo, mas os parvos chamam de ‘Palermo Soho’.

Porque pensam que vivem em Nova Iorque/EUA. Os macacos existem em nossa pátria também:

O Batel aqui em Ctba. é igualmente chamado ‘Batel Soho’ por alguns. Lamentável . . .

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Vamos falar mais alguns detalhes do que observei na minha estada na vizinha nação:

Ali crianças de mais de 3 pagam passagem. No Brasil é 6, o dobro. Diferença significativa, obviamente.

Outra plaquinha que está afixada em todos os ônibus argentinos:

“Proibido abrir as janelas no inverno ou em dias frios”.

Esse é o verdadeiro estado-babá, que trata os cidadãos como bebês incapazes, a quem tudo precisa ser dito nos mínimos detalhes.

A Linha Turismo de Córdoba é feita por um 2-andares inglês bastante antigo – daí a porta na esquerda. Só tiraram o teto.

Oras, deixe que os próprios passageiros negociem entre si quando e quanto abrir de cada janela, não é papel do governo querer regular até isso.

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Nas carrocerias a chilena Metalpar tem boa fatia do mercado argentino. Isso já disse na legenda acima.

Entre os chassis, quase todos são Agrale ou Mercedes-Benz. Curioso isso, não? A Agrale é brasileira, com sede em Caxias do Sul-RS.

Hoje não existem mais ‘jardineiras‘ (ônibus em chassi de caminhão) nas grandes cidades argentinas. Mas por décadas eles reinaram absolutos. Viação de Bs. Aires relembra em adesivos o tempo que os ‘bicudinhos’ dominavam as ruas portenhas.

Ainda assim aqui em nossa Pátria Amada quase não vemos ônibus Agrale. No entanto, em Buenos Aires eles são extremamente comuns.

Alias, no século passado era proibido a importação de ônibus pra Argentina.

Abriram uma exceção pros tróleibus Marcopolo brasileiros que iriam pra B. Horizonte, mas nunca foram.

Ficaram anos num pátio, quando foram exportados pra Rosário. Assim quebrando alguns tabus:

Foram os únicos tróleibus brasileiros a rodar no exterior, em qualquer país. Alias creio que essa situação se mantém inédita até hoje.

E segundo, por muito tempo eram os únicos ônibus brasileiros na Argentina, contando elétricos e a dísel.

Segura essa: em registro do sítio DBPBuss, uma jardineira operando na Argentina, no ano de 2009. Em Porto Iguaçu, fronteira com Brasil e Paraguai.

Essa reserva de mercado se foi. Hoje os ônibus brasileiros podem ser vendidos livremente nessa vizinha nação.

No mercado rodoviários eles são infinitamente comuns. Nos urbanos de tamanho normal existem porém são muito raros. Mas entre os micros embora longe de serem dominantes são comuns.

Eu mesmo andei (e fotografei) num micro brasileiro entre Córdoba e uma cidade do interior próxima.

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Na Argentina os ônibus não tem catraca física, apenas uma máquina onde você encosta o cartão pra que a passagem seja descontada.

Antiga jardineira do transporte urbano, agora transformada em uma casa-móvel.

Ainda assim, não há a evasão rampante de passagens como no Chile.

Contei com mais detalhes, incluso com fotos, quando voltei de lá: em Santiago, creio que quase um terço dos passageiros não pagam a tarifa.

Há campanhas com cartazes por toda a cidade, e também dentro dos coletivos, pra tentar diminuir essa situação, até agora sem muito sucesso.

No Chile os busos também não tem catraca, alias esse é o padrão pelo planeta, já falamos mais disso.

Linha 146 e o Banco da Nação na Pç. de Maio, Centro de Bs. As..

Na periferia da Zona Sul de Santiago, que é a parte mais ‘quente’ da cidade se é que me entendes, alguns micros alimentadores têm catraca.

E com isso a evasão se reduz significativamente, pra menos de 10%. Ainda assim, alguns jovens pulam a roleta.

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Não é o fato de ter ou não roleta física que determina o grau de evasão. Alias, a situação do Chile não tem paralelo com outros lugares.

Em todos os outros países que visitei, com exceção da República Dominicana nenhum outro tem roleta.

E em nenhum deles – incluindo a Argentina – há tanta gente que anda sem pagar como em Santiago.

Próximas 3: linhas especiais da Grande Buenos Aires. Todas elas fotografadas na Zona Norte (Palermo/Recoleta), a parte rica da cidade). A 57 é o ‘Expresso Palermo‘, ônibus urbano mas só 1 porta.

Mesmo no Litoral do Chile os micros não têm catraca, mas as pessoas pagam pela viagem corretamente.

Enfim. Como disse, só no Brasil e República Dominicana existe a profissão de cobrador de ônibus.

Nos demais ou a cobrança já é mesmo eletrônica (você encosta o cartão numa máquina) ou então você paga ao motorista.

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Hoje na Argentina é eletrônica, não se aceita mais dinheiro nos ônibus.

A 194 tem duas portas, mas também é diferenciada, com cortinas inclusive.

Porém no passado, antes da revolução digital, o usuário pagava em dinheiro, tinha que ser em moedas, e no valor correto.

O que gerava um problema seríssimo, pois se você não tinha o valor exato – em moedas de metal, repito, notas de papel não eram aceitasvocê não andava de ônibus.

Minha primeira viagem pra Argentina foi em 2017, então não presenciei essa situação lá. Mas parentes que viajaram anos atrás passaram por isso.

Essa é um ônibus de viagem, mas a linha é urbana, dentro da região metropolitana.

Antes de pegar o buso você tinha que rodar o comércio pedindo que a algum comerciante trocasse suas notas por moedas, e a maioria se recusava aliás.

Houve casos em que as pessoas tiveram que ir de táxi, pagando mais caro, pois não tinham trocado pro ônibus.

Não passei por isso na Argentina, mas no Hemisfério Norte sim. Fui a Nova Iorque/EUA em 1996. Ao lado do motorista havia um moedeiro:

Exatamente igual, você tinha que pagar a tarifa em moedas e sem sobras pois a máquina não dá troco.

Um belo fim-de-tarde no Centro de Avellaneda, Zona Sul da Grande Buenos Aires. Como em Córdoba, só há o nº da linha pintado no letreiro.

Digo, se colocasse a mais você podia viajar, mas perdia a diferença.

Já havia cartão, mas 21 anos atrás (nov.17 é quando escrevo, relembrando) mesmo nos EUA seu uso ainda era incipiente.

Depois fui ao México, em 2012. A mesma situação, havia o moedeiro, e você necessitava desembolsar o valor exato.

Guia de Buenos Aires traz além do itinerário a viação que faz os roteiros e sua pintura. Numa cidade de pintura livre em que praticamente cada linha é de uma cor, uma informação útil.

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A tarifa do metrô de Buenos Aires é única, independente de quanto você utiliza:

Você pode andar somente uma estação ou então percorrer uma linha inteira, fazer baldeação e a seguir andar outra linha inteira.

E tudo que há no meio desses extremos. Resumindo, tanto faz quantas estações você anda, se troca de composição ou não, paga a mesma quantia.

Entretanto nos ônibus e trens o preço varia conforme o trecho percorrido. Ao embarcar você diz onde vai descer, e é debitado de acordo. Isso nos ônibus.

Veja que na foto noturna em que mostro a catraca em primeiro plano e fora da janela um protesto em B. Aires, a roleta diz: “Informe destino”.

Próximo da divisa de Avellaneda com a Cap. Federal achei essa transgenia. No Brasil já flagramos caminhões que receberam cabine de ônibus. Porém na Argentina é de mão dupla: começou com um ônibus encarroçado em chassi de caminhão. No fim de sua vida útil voltou a ser caminhão! Mas mantiveram a porta do ônibus!!! Tudo vai e volta . . .

Em cima dela, se você ler com cuidado observa, um aviso explica: “Preencha o destino, e não o valor da passagem, pra não dar confusão”.

Nos trens você tem que passar o cartão tanto na entrada quanto na saída. Aí a máquina calcula quanto você percorreu, e desconta proporcionalmente do seu crédito.

Na maioria dos países a tarifa é proporcional a distância.

Nos micros e vans da Colômbia, México, Chile, nas linhas metropolitanas do México, na África do Sul em todos os modais, no metrô de Valparaíso-Chile, é sempre cobrado conforme o trecho que você utiliza.

Num dia bastante tumultuado, em que inclusive andei de camburão ao ser abordado pela polícia numa das periferias mais perigosas de Durbã/Áfr. do Sul, um dos problemas foi esse:

Ataque em Dupla: não foi apenas um, mas dois busos que viraram caminhões.

Ao descer do trem o fiscal constatou que por engano eu havia pago o valor errado da viagem, por não ter conseguido uma boa comunicação com o bilheteiro da estação central.

nos ônibus de Córdoba e Mendonça a tarifa é fixa como no Brasil.

Idem nos ônibus grandes municipais do Paraguai, Colômbia e México, nos metrôs desses últimos dois países, nos ônibus e metrôs de Santiago, na República Dominicana em todos os modais – nesses casos o valor é pré-determinado, independente do tanto que seja andado.

Em Córdoba. Palavras não são necessárias.

Bem, na Argentina, resumindo, só no metrô de Buenos Aires e nos ônibus municipais do interior é fixa.

Até nos ônibus grandes municipais da capital oscila conforme a distância.

Por falar no cartão, nas capitais da Argentina como do Chile ele te empresta o equivalente a duas viagens quando está esgotado.

Assim você vai pra casa e no dia seguinte chega a teu trabalho tranquilo.

Próximas 5, Córdoba. Aqui e a esq.: Ersa, creio ser a maior empresa. Logo 3, ‘Ataque em Bando‘. Um raro com 2 portas.

Aí tem o dia seguinte inteiro pra re-abastecer de créditos.

De forma que não precisa ficar rodando as vezes em horários e locais perigosos buscando um ponto de recarga. O Brasil deveria adotar essa solução.

……..

Em Buenos Aires todos os ônibus das linhas mais movimentadas têm 3 portas.

AuCor, Autobuses Córdoba, outra viação grande. Esse buso provavelmente é ex-Ersa, pois a pintura é a idêntica.

Apenas algumas internas do subúrbio, de uso local, ainda contam com veículos só com 2.

Em Córdoba quase todos com 3, mas ainda vemos os de 2 (a direita um deles). E Mendonça está bem pra trás, lá a regra ainda é 2, só alguns com 3.

Bem, nada é tão ruim que não possa piorar. Na África do Sul, pela herança inglesa, a imensa maioria dos busos só tem 1 porta, até 2 ocorre as vezes mas já é um luxo.

Viação Coniferal.

E 3 portas não existe exceto nos articulados. A circulação interna nos busões sul-africanos é horrorosa.

Empurra-empurra geral, e não é culpa das pessoas, afinal estão tentando entrar e sair pelo mesmo local.

Unindo então fluxo e contra fluxo. No 2-andares então é pior ainda, aquilo é um pesadelo.

Salão interno do tróleibus.

Já começa pela confusão na única porta que há – e onde o motorista ainda têm que cobrar a passagem e emitir o bilhete -, e boa parte do salão de baixo é tomado pela escada e motor.

Acrescente-se ainda a confusão na escada, onde o mesmo se repete: um espaço apertado, onde alguns querem ir num sentido, outros na mão oposta… aff!!!

Tenebroso. quando conseguimos enfim descer do 2-andares lotado no Centro de Joanesburgo foi um verdadeiro alívio. Enfim, nosso tema de hoje é a Argentina. Coloquei apenas pra traçarmos esse paralelo.

Garagem na periferia, ainda em Córdoba.

Se os busos 2 portas de Mendonça são ruins, comparados com os de 1 porta (e as vezes 2-andares) da África eles são um sonho.

Mais uma pausa pra fotos. Vimos acima busos da Ersa, AuCor e Coniferal de Córdoba. Seguimos nessa cidade, as mesmas viações.

Um dia as jardineiras (ônibus com chassi de caminhão, o motor saltado a frente) dominaram toda América Hispânica, da Argentina e Chile ao México e tudo que há no meio.

Do Paraguai ao México, passando por Bolívia, Peru, Colômbia e toda América Central, elas ainda são muito comuns.

Na Colômbia e no México, presenciei pessoalmente, ainda fazem jardineiras zero km.

Entretanto na Argentina, Chile e Uruguai elas já não existem mais nas grandes cidades desde os anos 90.

Nos fundões do interior ainda encontrávamos algumas até pouquíssimo tempo atrás.

Em Porto Iguaçu presenciei pessoalmente no ano de 2006 as quase míticas jardineiras ainda na ativa.

Proxs. 2: metrô de B. Aires. Aqui a entrada na calçada, uma escada, parece Nova Iorque.

(“Puerto Iguazú” no original, fronteira com Foz do Iguaçu/Brasil e Cidade do Leste/Paraguai, no estado argentino das Missões.)

E pela internet constatei jardineiras em P. Iguaçu no ano de 2009, já publiquei a foto mais pro alto da página.

Falar no Paraguai, embora ali elas ainda existam aos montes, também caminha pro fim.

No Paraguai não se compram mais jardineiras zero km, ao contrário de México e Colômbia.

Quando as últimas jardineiras esgotarem sua vida útil como transporte urbano, se acabarão nas grandes cidades do Paraguai também.

O Panamá está vivendo exatamente esse mesmo momento de transição.

Mural na estação.

Tudo na vida é cíclico, e depois da lua cheia vem a minguante e a seguir a nova.

Alias é exatamente porque um dia todos os ônibus foram jardineiras que em Buenos Aires ônibus urbano é conhecido como ‘micro’.

Pois as jardineiras são mais curtas que os ônibus normais, que já eram usados no modal de viagem, por exemplo.

Proxs. 2: a viação municipal de Córdoba que opera os tróleis tem alguns a dísel (também guiados por mulheres) na ‘frota reserva’. Circulam no pico, ou quando um elétrico quebra (veja o destaque da próxima imagem).

Como os ônibus urbanos eram de tamanho menor, viraram simplesmente ‘os micros’.

Hoje não é mais assim. Atualmente os ônibus de Buenos Aires são iguais aos do Brasil

Incluso no comprimento. Mas o nome ‘micro’ ficou, refletindo essa fase do passado.

Em Acapulco-México, os ônibus urbanos são conhecidos como ‘caminhões’.

E o motivo é o mesmo, porque as jardineiras são construídas sobre e têm o motor de caminhão saltado a frente.

……………

TRENS MODERNOS E BARATOS – Um dos pontos extremamente positivos do transporte na Argentina é sua rede de trens.

Lá, ao contrário do Brasil, as pessoas ainda viajam sobre trilhos entre uma cidade e outra. É confortável e barato.

Garagem dos tróleis na periferia de Córdoba. Repare que na Argentina os ônibus elétricos não têm placa – em várias cidades do Brasil foi assim também por décadas, mas hoje não mais.

Tentei ter essa experiência, mas não foi possível por questões de escala, os dias que há as viagens (que não são diárias) não batiam com nossa programação. 

Assim fui de Buenos Aires a Mendonça, dali a Córdoba, e de volta a capital sempre de ônibus-leito.

Alias, já falo dos trens. Antes um adendo: andar de leito na Argentina é um luxo só, é como a 1ª classe dos aviões.

Ônibus suburbano (2 portas e vai parando no caminho, mas pega estrada pra ir pra cidades já fora da reg. metropolitana) na Rodoviária de Córdoba – essa é a rodoviária normal, de onde saem também os de longa distância.

Nessa vizinha nação está consagrado o ‘serviço-cama’, que agora chegou no Brasil. As poltronas reclinam 180º, você deita na horizontal.

Há rodo-moça (em alguns casos rodo-moço), que serve café-da-manhã completo, temos a opção de leite com café, chocolate, chá ou – estamos no Pampa afinal! – chimarrão.

Pra me ambientar com o local, eu tomei chimarrão. Ademais na tela você pode ouvir música, ver filmes ou jogar. A viagem passa rápido, eu disse, você se sente no avião. É caro, de fato, mas bom demais!

‘Rodoviária Suburbana’: bem no Centrão de Córdoba, e dali só partem linhas suburbanas (fotografei uma igual no Chile). Um micro é Comil brasileiro. Nessa foto encerramos os ônibus da cidade de Córdoba.

Por outro lado, no banheiro você só pode urinar. Se precisar do ‘número 2’, é preciso avisar a rodo-moça (o), que o motorista encosta num posto. No Chile é exatamente igual.

……

Acima descrevi como é viajar de ônibus-leito, que fiz 3 vezes. Não pude andar de trem.

No entanto quem o fez me disse que igualmente vale muito a pena.

Pra começar, é incrivelmente barato. Há 3 opções, o ‘toco-duro’, a ‘tudo-incluso’ e uma intermediária.

Rodoviária de Cosquín e imediações. Uma pequena cidade no interior do estado de Córdoba, próxima a capital. Vemos ônibus suburbanos, alguns das mesmas empresas já retratadas acima.

O ‘toco-duro’ é desconfortável, você tem que dormir e comer na poltrona, exatamente igual aos ônibus convencionais.

A vantagem é que o valor é quase irrisório. Pra quem está sem muita grana ou quando a viagem for de dia é a melhor opção.

No ‘tudo-incluso’, você tem direito a uma poltrona pra ficar sentado durante o dia, a noite dorme numa cama – num vagão que tem quartos com beliche.

E as refeições são no vagão-restaurante. Esse colega me informou que tudo isso acaba saindo pelo mesmo valor do ônibus.

Como comparação, no Brasil há pouquíssimas opções de trem de longa distância disponíveis, e custam os olhos da cara.

Agora a estação de trens de Cosquín.

Aqui em Curitiba, por exemplo, só é possível ir de trem a Paranaguá e outras cidades próximas no Litoral.

A questão é que é bem mais caro que o ônibus, que já não é barato.

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Ademais, vide o mapa mais pro alto na página, a rede de trens suburbanos de Buenos Aires é bastante extensa.

De volta a cid. de Córdoba, capital estadual, da florida estação na periferia saem os trens pra Cosquín. Fui de trem e voltei de busão.

Assim, você pode ir do Centro de Buenos Aires a alguns bairros dentro do município mesmo. Ou a municípios da região metropolitana.

Ou ainda a cidades do interior, que são próximas a capital mas já fora da Grande Buenos Aires.

Por exemplo, a ‘Cidade da Prata’ (‘La Plata’ no original). Essa é a capital do estado (‘província’) de Buenos Aires.

Como já explicamos antes, o município de B. Aires é o Distrito Federal: está dentro do estado de B. Aires, mas não pertence a ele.

Antigamente conhecida como ‘Capital Federal’, hoje chamada ‘CABA’, Cid. Autônoma de Bs. As., recapitulando, e o ‘Autônoma’ é justamente porque não está vinculada a nenhum estado.

Próximas 3: ônibus na Rodoviária do Retiro, Buenos Aires, nesse belo fim-de-tarde de março de 17.

Como já foi dito várias vezes e é notório, o município ‘autônomo’ de Bs. As. hoje é apenas a Região Central da metrópole.

Toda periferia fica na ‘Província’, ou seja, em outro estado, a Província de Buenos Aires. Cuja capital é a ‘Cidade da Prata‘.

Essa alias foi planejada justamente pra isso, pra ser a capital estadual quando o Distrito Federal foi criado, no fim do século 19.

No século passado quase todas as viações argentinas eram assim, multi-coloridas. Não mais, após uma reformulação agora são mais sóbrias. Essa manteve a vibração anterior.

A ‘Cidade da Prata’ (‘La Plata’) fica a 55 km de Buenos Aires.

Perto da capital, mas uma cidade a parte, não pertence a Gde. Buenos Aires.

Digo, futebolisticamente falando eu arrendondei e considerei a Cid. da Prata como um subúrbio da capital.

No futebol sim, mas urbanística e socialmente falando a Prata é uma cidade a parte.

Ainda assim, é possível ir de trem suburbano (aqueles em que os bancos são de acrílico e você pode viajar em pé) até lá.

Bem mais barato que o ônibus, embora um pouco mais lento porque tem mais paradas.

Ainda assim, como a distância é pequena a diferença de preço compensa os poucos minutos a mais.

Rodoviárias de Córdoba: as 2 fotos de cima na capital estadual, abaixo em Cosquín. Na 2ª imagem, como identificado, há ônibus suburbanos (2 portas + catraca) e de viagem (1 porta e bancos reclináveis estofados).

Não pude ir a Cidade da Prata. Assim como nos trens de longa distância, reproduzo o que me foi passado por quem pôde realizar esse deslocamento.

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Viram na foto a ‘Estação Retiro’ de trens. Esse bairro, que fica na verdade no Centrão da capital, é o ponto focal da rede de transportes da Argentina, de forma tetra-modal:

Ali estão as estações de trens suburbanos e longa distância, o porto, o terminal de ônibus urbano e a rodoviária.

Centro de Córdoba, março de 2017: caminhonete circula normalmente com um emplacamento que já foi extinto a 20 anos. Como é possível?? Já flagrei a mesma situação na Itália (‘Google Mapas’)

O aeroporto também fica próximo.

E em uma parte invadida do pátio ferroviário (cada vez maior) está a favela Vila 31, uma das maiores da cidade – mas essa já é outra história.

Eu já disse isso, que todos os terminais estão concentrados no Retiro ou próximos a ele.

Aqui, o que quero colocar é que ‘Retiro’ é tão sinônimo de ‘rodoviária de Buenos Aires’ que é assim que vem escrito nas passagens e no letreiro dos ônibus de viagem.

Sim, você compra o bilhete, e nele não está escrito ‘Buenos Aires‘, a cidade a qual o ônibus se destina.

Próximas 3: bonde moderno de Mendonça. Aqui a galera no ponto. Não há catraca, você paga quando entra, depois o fiscal chega de surpresa e pede seu tíquete pra verificar.

E sim ‘Retiro‘, o bairro no qual a rodoviária fica localizada.

Portanto veem que virou um mantra, que ‘pegou’ não apenas no vocabulário da capital, mas até no interior.

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Como a colagem deixa claro, os táxis na Argentina oscilam entre o negro e o amarelo.

Em Buenos Aires é exatamente igual Santiago do Chile, corpo do carro negro e teto amarelo.

Um antigo vagão de carga virou ponto.

Isso no municipal da capital. Na região metropolitana cada município é livre pra escolher sua pintura.

Em Avellaneda, na Zona Sul, a terra do Independente e do Racing, eles são brancos.

Em Mendonça são as mesmas cores da capital, amarelo e preto, mas em mistura diferente. E Córdoba aboliu o preto, são inteiros dourados.

Mapa da rede.

Não custa lembrar, no Paraguai e Colômbia os táxis do país inteiro são amarelos, de todas as cidades.

De volta a Argentina e a Córdoba, apenas os táxis que você pega na rua são amarelos.

O tele-táxi, obviamente o que você pede por telefone, lá se chama ‘remí’.

E o mais curioso: tem outra cor, verde-claro. Todos são táxis. Acenando na rua é de uma cor, e discando, de outra

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Já retomamos o texto. Vamos comentar um pouco das fotos que estamos vendo de Mendonça.

Fui a Z/S de Mendonça de bonde moderno, voltei nessa linha feita por articulados.Viação Cacique.

Acima pontos e mapa do bonde moderno, e a direita o articulado. Ambos os modais concorrem entre si.

Nas próximas 2 imagens abaixo vemos a Rodoviária de Mendonça.

……….

Voltamos a relatar o que observei lá: a Argentina está mudando o emplacamento.

Como dito, nas próximas 2 a Rodoviária de Mendonça. Em meio a ônibus de viagem um suburbano azul prepara-se pra encostar. A direita vários suburbanos, uma colagem.

Eu já havia percebido isso antes de ir até lá. Em fevereiro de 17, fui a Florianópolis-SC.

Na Praia de Canasvieiras (Norte da Ilha) haviam tantos argentinos que ali mesmo eu vi carros com o nova chapa.

Na Argentina nos últimos 20 anos, do fim dos anos 90 pra cá, vigora um modelo com 3 letras e 3 dígitos numéricos.

A partir de agora a chapa terá uma faixa azul em cima com o nome do país.

E serão mais letras, inclusive dizem que se quiser você poderá dispensar o números e escrever uma palavra.

Já é dessa maneira nos EUA e México, entre outros, como é domínio público.

Vila Carlos Paz, cidade no interior do estado de Córdoba parecida com Campos do Jordão-SP.

Não apenas na Argentina. Será padronizado em todo Merco-Sul.

Veremos no fim da matéria que o Uruguai também já está fazendo a mudança.

Mas o choque vem agora. Vi vários carros circulando na Argentina com o emplacamento que já foi abolido a duas décadas:

Selos de regulamentação colados na lataria.

A chapa era inteira preta, com 1 letra e 6 dígitos numéricos.

Não havia nada escrito além disso, nem o nome do país nem da cidade.

Os mais velhos, que tiveram a oportunidade de ir a Argentina até o começo dos anos 90 (ou, o que nesse caso dá no mesmo, pra Florianópolis no verão) se lembram bem.

Próximas 2: bairro Nunhes (‘Monumental de Nuñez‘), Z/N, parte rica de Buenos Aires. Aqui o corredor MetroBus.

Então, amigos. Esse modelo já foi extinto na virada do milênio, quem sabe antes.

Como esses carros podem circular dessa forma é um mistério que não pude compreender.

Afinal, nem há como multar um veículo desses se o motorista cometer uma barbeiragem.

Pois sequer há como digitar a chapa no maquinário eletrônico próprio pra registro da infração.

É como se víssemos hoje no Brasil um carro andando pelas ruas ainda com a chapa amarela, aquela de 2 letras, que foi aposentada na mesma época.

Perto dali, a estação de trens. O destino é ‘Tigre’ (na África do Sul não daria pra saber, lá o letreiro é numérico).

Impossível, não? Mas na Argentina vi vários, muitos deles consegui fotografar.

Sim, alguns estavam sendo sucateados, talvez não andem mais.

Na Argentina é comum deixar os carros batidos ou muito velhos simplesmente se decompondo na via pública, sem levar pro ferro-velho como seria correto.

Já falarei mais desse ponto. Aqui, o que nos interessa é:

Pontos de ônibus pelo país.

Mas alguns carros com o emplacamento antigo, já encerrado há 2 décadas, estavam rodando normalmente.

Vi um em Mendonça, inclusive estava sendo reformado.

No estado de Córdoba, todos os veículos comerciais (exceto ônibus municipais) têm que ter uma segunda chapa com registro estadual.

Portanto o dono estava usando ele normalmente, e pretendia continuar, pois investia dinheiro no veículo.

Infelizmente esse não pude fotografar, nesse dia mais uma vez minha câmera estava descarregada (ela viciou a bateria, perdi algumas fotos por isso infelizmente).

Mas Deus Abençoou, e no Centro de Córdoba fotografei claramente uma antiga picape D-20 Ford com essa chapa há muito desatualizada.

Ali sem qualquer margem pra discussão o veículo estava em uso.

Mais um bi-trem.

Mesmo com o emplacamento pra lá de irregular, e a foto comprova isso indubitavelmente.

Como isso é possível deixo pra algum amigo argentino explicar.

Bem, a Argentina está bem caótica, em múltiplas dimensões. Isso é só um sintoma dessa confusão que engolfou a nação.

……….

Por outro lado nas dificuldades é que as pessoas se revelam.

Enquanto alguns aproveitam o tumulto pra tirar vantagens pra si, outros demonstram uma disposição incomum em ajudar os outros.

Mercedes com desnível no vidro: esse modelo foi muito vendido lá.

Usando o transporte coletivo na Argentina, vimos os dois lados da moeda.

O ponto negativo: na Argentina simplesmente não respeitam o banco pra deficientes, idoso, grávidas e gestantes. Veja a imagem acima:

Banco preferencial está sempre ocupado, e sempre por pessoas jovens e saudáveis.

Na foto inferior da colagem, há duas moças a direita no banco preferencial.

Entretanto o casal a esquerda está na mesma situação, a primeira fileira perto da porta é reservada.

Próximas 2: corredor MetroBus em frente ao estádio do S. Lourenço (torcedores chegam pro jogo sob muita chuva). A placa indica quais as linhas que passam ali.

Na Argentina não respeitam esse direito de quem necessita.

Sim, fiquei poucos dias lá, menos de 2 semanas. Mas andando de transporte coletivo o tempo todo.

A situação era sempre a mesma. Não muito diferente do Brasil, na verdade.

Em qualquer parte há ‘espíritos de porco’:

Aqueles que não se importam com ninguém, e sentam no assento preferencial sem necessitar.

Mesmo adolescentes e jovens adultos não sentem a menor cerimônia em ficar confortavelmente instalados enquanto quem precisa vai de pé.

Filma as jóias que circulam na Argentina. Aqui e a esq. 2 Falcões, o próximo mesmo batido ao menos bem conservado. Já esse…

…….

Por outro lado, em Mendonça o motorista do ônibus foi extremamente atencioso e prestativo conosco.

Nosso cartão não tinha créditos suficientes pra pagar a viagem.

Em Buenos Aires nesse caso o cartão te empresta o suficiente pra mais 2 viagens, mas pelo visto o interior ainda não aderiu a essa melhoria.

Assim sendo o motorista, que também é o cobrador, pelo regulamento poderia ter solicitado que a gente desembarcasse.

Carregasse o cartão, assim seguindo somente em outro ônibus.

Viação STM, Sociedade de Transportes de Mendonça, estatal estadual que opera os tróleibus, mas também, notam, veículos a dísel.

Mas ele não fez isso. Ao contrário, nos explicou a situação.

Disse que seria preciso que outro passageiro creditasse no cartão dele.

E aí nos reembolsávamos em dinheiro a quem fizesse o favor.

Aí ele, o próprio motorista, fez o pedido a quem entrou a seguir.

A frota argentina está velha e sucateada. Dodge na Z/S da capital, sob o olhar de ‘Che’ Guevara.

Pagamos em espécie a passagem ao passageiro que regularizou a situação na catraca digital.

E pudemos voltar ao Centro de Mendonça com tranquilidade.

Na África do Sul esse nível de gentileza é o padrão do povo.

Trólei-tribus alemão que rodou em Mendonça (r) (foto de um Guevara. Parente do ‘Che’?).

Registro aqui que na Argentina deparamos com ele também.

…………

Em Mar do Prata é onde os portenhos passam suas férias de verão.

(Nota: me refiro claro aqueles que não vem pro Brasil, evidente – porque Baln. Camboriú e Florianópolis/SC eles dominaram, como se sabe).

Em desmanche próximo a Mendonça, vários ônibus Ciferal que há pouco ainda rodavam lá. No ferro-velho ao lado eu vi as carcaças os tróleibus-tribus alemães da foto anterior.

No original é ‘Mar del Plata’ (sempre que possível traduzo pro idioma português).

Por isso conhecida carinhosamente pelo apelido de ‘Mardel’.

Não visitei ‘Mardel’, portanto não a conheço pra poder escrever.

Mas pro tema que nos interessa aqui, que é o transporte, vi pela internet que Mar do Prata tem uma Linha Turismo.

E essa é feita por um ônibus que tem a carroceria que imita a de um bonde antigo (foto ao lado, puxada da internet).

Em Santos-SP há bondes antigos (e também modernos, o VLT), que foram restaurados e ainda rodam sobre trilhos.

Na Argentina, entretanto, não há bondes antigos. Inclusive veja a foto um pouco mais abaixo a direita que tirei no Centro de Buenos Aires, mostra os trilhos.

Comprovando que um dia ali realmente passou bonde (registrei a mesma cena em Assunção e Belém do Pará).

Um dia sim, mas não mais a muito. Em Mar do Prata tampouco há bondes.

Mas numa brincadeira, encarroçaram um ônibus a dísel e com pneus com uma carroceria de bondes. Isso já falamos.

O Ford Falcão na foi o ‘Carro do Terror’ na ditadura argentina (r).

Por conta disso ele traz uma inscrição pretenciosa:

Se auto-denomina “O Último Bonde”. Isso não é novidade, já está no ar a tempos em outra postagem.

Pois bem. O de ‘Mardel’ não é o último pseudo-bonde da Argentina. Em Mendonça há outros iguais, veja acima.

É o seguinte: Mendonça também tem sua Linha Turismo. Chama-se ‘Bonde das Compras’.

Falcão no Centro de B. Aires, sobre os trilhos onde um dia passaram bondes.

Pois igualmente é feita por ônibus com carrocerias de bondes antigos.

Esses eu pude ver e fotografar pessoalmente, apenas não andei nele.

……..

Outra seção de fotos. Já que falamos de Mendonça, vejamos mais busos dessa cidade andina.

UMA ‘ALMA MUSICAL’: IR A ARGENTINA FOI COMO VOLTAR AO MÉXICO –

Na Argentina eu comprovei como a Alma Hispano-Americana é a mesma, do Sul ao Norte do Continente

Quando fui ao México, em 2012, já havia lhes contado como o mexicano ama a música.

O tempo todo dentro do transporte coletivo há apresentações improvisadas.

Umas profissionais até com caixas de som e após a qual CD’s são vendidos.

Outras vezes um cara sozinho com um violão.

Buenos Aires: acima a linha 373, em azul a Viação São Vicente.

Andar de ônibus ou metrô no México jamais será monótono.

Pois bem. Na Argentina é igual. Acima consegui clicar o garoto com o violão no metrô de B. Aires. A cena se repetiu várias vezes.

Uma apresentação-solo, um casal cantando música romântica, ou mesmo uma banda completa.

Os vagões e estações do metrô da capital são um palco aberto a todos, basta tomar um espacinho e mandar ver.

No Chile é assim também, mas bem menos. Na Argentina e México infinitamente mais.

………

Calamidade! Na Argentina a frota está velha e batida. Ademais, é comum deixarem os carros que não servem mais (seja por acidente ou porque são antigos demais) simplesmente apodrecendo na rua, sem recolher ao pátio ou ferro-velho.

Vimos mais pra cima a esquerda um buso Mercedes (já aposentado do serviço regular) com desnível no vidro.

Esse detalhe é comum na Ásia (Japão), Na Argentina foi consagrado nesse modelo da Mercedes fabricado nos anos 80 e 90.

Meus parentes que foram pra lá perto da virada do milênio me trouxeram inúmeras fotos dos busos com esse desenho (na época) em linhas urbanas.

O tempo passou e hoje eles só fazem ‘escolar’, ‘rural’, transporte de bandas, etc.

………

Os caminhões bi-trem são muito comuns na Argentina.

Mas atenção: nesse vizinho país não existem os caminhões gigantescos com 30 metros e 2 engates, como os que se popularizaram no Brasil.

Explico: nas estradas de nossa Pátria Amada é careta e bi-trem, ambos ao mesmo tempo. Ou seja: cavalo-mecânico, 1º engate, um compartimento grande de carga, 2º engate, outro compartimento grande de carga.

O LIXO DA FRANÇA É O LUXO DA ARGENTINA: É comum vermos nas ruas argentinas essas peruas (Citroën, Renault ou Fiat) fabricadas nos anos 60. Mas essa é ainda mais antiga, dos anos 50 (era nessa que Mafalda andava, veja um pouco abaixo).

Em outras palavras, são duas carretas grandes puxadas por um cavalo. Portanto 2 engates. Na Argentina é diferente: é somente 1 engate sempre, 2 não existe.

Os caminhões são carreta ou bi-trem, jamais ambos ao mesmo tempo.

Lá ou é carreta normal, cavalo, um engate mais um somente compartimento grande de carga;

Ou então um caminhão pitoco, curto, um engate, e mais um compartimento de carga.

Carreta sem ser bi-trem, ou bi-trem sem ser carreta. É preciso escolher. No Brasil é ‘tudo ao mesmo tempo agora’, carreta/bi-trem.

Sim, os caminhões da Argentina são pequenos em relação aos do Brasil.

No entanto, os caminhões do Brasil, Argentina e todo o planeta são minúsculos em relação aos “Rodo-Trens” que circulam na Austrália, são verdadeiros trens sobre pneus – mas essa história já contei outro dia.

…………

Como dito na legenda um pouco acima e é notório: o Ford Falcão foi o ‘carro do terror’ da ditadura argentina.

É comum nas periferias da Argentina vermos carros amarrados, pra que não se desmanchem.

Ele não tinha ‘caçapa’, ou seja, não havia espaço pra presos.

Os infelizes que eram apanhados pela polícia política argentina iam pra delegacia (ou pro local de desova, se já estivessem mortos) no porta-malas.

Alias era por isso que o Falcão foi escolhido. Os militares diziam que ‘apertando cabiam 5 no porta-malas’.

Pensa que é brincadeira? Então segura aí.

Cruel? Evidente que sim. A ditadura argentina foi indescritivelmente cruel, muito, mas muito pior que a brasileira.

Tanto que lá houveram formas de tortura desconhecidas aqui, por isso Videla foi alcunhado ‘Pol Pot na América’. Desse período macabro já nos ocupamos outro dia.

Esse (na Zona Sul de Buenos Aires) botou até cadeado! Sempre é bom garantir . . . No México, um da mesma idade pôs cadeado no tanque, pra não roubarem o dísel.

Aqui o foco é o ramo do transporte. Ford é a marca-ícone da Argentina, a mais vendida da história.

Seu carro-chefe (literalmente) era o Falcão, que lá foi produzido por décadas, pelo menos dos anos 50 aos 70, e quem sabe até os 80.

Portanto o Falcão já era popular antes do golpe de estado de 1976. E permanece querido até hoje, apesar de ter sido impregnado com o estigma da repressão.

Bem, pra quem é de direita o Falcão é popular exatamente por ter sido o carro da ditadura, e não ‘apesar’ disso.

colapso: a frota da argentina parece a de cuba!!!!

o lixo da frança é mesmo o luxo da argentina: caros velhos e batidos circulando, outros apodrecendo na via pública

A Argentina empobreceu muito nessas últimas décadas, e sua frota reflete isso.

Os pais da Mafalda (ícone argentino) tinham uma peruinha Citroën 2CV, veja ao lado.

Agora pense nisso: esse desenho é dos anos 80, e o carro já era velho na época.

Colagem mostra o estado da frota argentina. Achei outros com a placa antiga, já aposentada a 2 décadas.

Alguns deles continuam na ativa hoje, 30 anos depois (veja o farol saltado, igual aquele vermelho que está um pouco acima a direita).

Mas atenção: a Argentina hoje é um país extremamente desigual.

Vão longe os tempos em que ela tinha o 2º menor Índice de Gini (que mede a concentração de renda) da América Latina, só acima do Uruguai.

Hoje a Argentina é tão desigual quanto Brasil e Colômbia:

Alguns multi-milionários de um lado, uma multidão que sobrevive apenas, e uma massa considerável de miseráveis, que nem isso conseguem.

Exemplo perfeito é o Porto Madeiro, o mais novo bairro de Buenos Aires, que surgiu na virada do milênio.

Falarei melhor dele em outro texto, mas aqui, pra dar uma adiantada, falo que um fato pouco conhecido é a favela que existe na ponta da ilha.

Precariedade: em Córdoba, pessoas sem proteção viajando na caçamba.

Atrás daqueles arranha-céus dos riquíssimos existe uma aglomeração de barracos miserável, sem saneamento básico.

Quase ninguém vê, e menos gente ainda se importa.

Isso reflete como está o país como um todo. Na dimensão automotiva o mesmo se manifesta, uma extrema desigualdade.

Muitos fazem o turismo ‘convencional’ da classe-média, indo apenas nos bairros chiques.

O Fiat 147 lá se chamou ‘Spazio’. Mais uma vez amarrado pra não cair o para-choques. Veja que na 2ª imagem da tomada do outro lado da rua há mais carros Fiat velhos.

Oscilando somente entre o aeroporto, hotel de luxo, centros de compras, museus, e restaurantes e ‘baladas’ caros.

Eu não julgo ninguém, e não estou criticando. Cada um faça o que quiser. Mas aí evidente que não verá o que estou apontando.

Pois na burguesia a frota argentina não difere da brasileira, em idade e estado de conservação.

Entretanto na periferia são brutalmente diferentes. Sim, claro que existem carros velhos no Brasil. Mas o nosso ‘velho’ são 20 e poucos anos, veículos produzidos nos anos 90.

São raros em nossas ruas automóveis dos anos 80, dos 70 já são são ‘elefantes brancos’ que vemos um a cada vários meses.

E não existem rodando no Brasil carros fabricados nos anos 60 e muito menos 50 – exceto nas mãos de colecionadores, aí são caríssimos, geralmente até com chapa preta.

Na Argentina, os carros ‘velhos’ tem o dobro dos nossos, ou mais: 40, 50 ou mesmo 60 anos. Sim, é isso.

Antigo e moderno: Dodge nas ruas de Porto Madeiro.

Nessa vizinha nação automóvel dos anos 80 já é relativamente novo nas periferias mais depauperadas, os dos anos 70 são o padrão, ainda são extremamente comuns os dos anos 60.

Não estou brincando nem exagerando. Já havia constatado isso assim que o ‘Google Mapas’ levantou a Argentina pro modo ‘visão de rua’.

Aí dei extensas voltas por lá, na época virtualmente, na tela do computador.

E então já escrevi-lhes um emeio com esse título, “Colapso, a frota da Argentina parece a de Cuba”, com muitas imagens.

Agora ‘in loco’ comprovei que de fato é assim, então aquele emeio será eliminado, não vou subí-lo pra página. Pois não é mais necessário, tirei as fotos ao vivo. 

Essa foto é no continente, com Porto Madeiro ao fundo. Mercedes e Scania. A frota argentina de caminhões é similar a brasileira, só no geral bem mais velha.

Não para por aí: levantei pro ar uma comparação entre Europa Ocidental e América do Sul em outra postagem.

Lá, eu mostrei que ‘o lixo da França é o luxo da Colômbia‘.

Peruas Citroën e Renault dos anos 60 e 70, que na França literalmente foram partidas ao meio e servem apenas como decoração na Colômbia ainda rodam.

Pois bem. Nas periferias das cidades da Argentina essas mesmas peruas produzidas nas décadas de 60 ainda são o meio de transporte de várias famílias proletárias.

Tanto as duas marcas francesas citadas logo acima quanto uma italiana, Fiat. A esquerda uma Citroën (a foto está nomeada ‘Renault’ por ignorância minha, um colega retificou, vide os ‘comentários’ abaixo).

Os traços da Fiat eram mais arredondados e somente com 2 portas.

Em casos extremos carros até dos anos 50 igualmente ainda estão na rua. Cara, isso você não vê no Brasil, nem em sonhos. Fatos são fatos,  e aqui corroborados pelas fotos. Fiquei menos de duas semanas da Argentina.

E nesse curto intervalo fotografei várias peruinhas com mais de 50 anos ainda em circulação, agrupei algumas numa colagem ao lado

Repito, isso no Brasil não existe. Mesmo! Não custa enfatizar ainda mais uma vez:

Na Argentina as vezes vemos ainda veículos dos anos 50 – e não nas mãos de colecionadores burgueses, mas do povão, como meio de transporte.

Mais: como já dito nas legendas, na Argentina é comum simplesmente abandonarem na via pública os automóveis que não servem mais.

Seja porque enfim decidiram que está velho demais – aleluia! – ou porque sofreram P.T. (perda total) num acidente feio.

É tão corriqueiro que o dono de um carro antigo que estava na oficina na periferia da Zona Sul de Buenos Aires colocou um aviso no para-brisas (ao lado):

“Esse automóvel não está abandonado, está sendo consertado”, seguido de seu endereço e telefone, se alguém precisasse entrar em contato.

Frota velha e batida, como na República Dominicana. E como em Cuba os bichões com décadas e décadas de estrada, que em qualquer outro país estariam no museu, na Argentina seguem na pista.

Definitivamente, o lixo da França é o luxo da América do Sul, da Vila Buenos Aires em Medelím/Colômbia a Buenos Aires original no Delta do Prata.

Fisicamente nossa vizinha, um dia a Argentina parecia mais europeia que americana. Esse tempo já se foi há muito.

A Argentina literalmente despencou do sonho europeu, aterrizando de cara na realidade americana.

Bem-vinda Argentina querida, estávamos te esperando.

Como eu já disse antes: definitivamente, agora estamos todos no mesmo barco.

Deus quis assim.

……..

O texto encerrou, mas como fechamento ainda tem duas galerias de fotos. Começo ainda na Argentina, 4 caminhões brancos de modelos que também existiram no Brasil:

Como prometido, sobrou uma palhinha pro Uruguai (que vemos que vibra na mesma frequência que seu vizinho maior, a Argentina). Nunca estive nesse país, mas uma colega enviou as fotos diretamente de lá.

Montevidéu: jardineira, ônibus encarroçados sobre chassi de caminhão. Um dia, foram dominantes em toda América Hispânica. Na Colômbia, México, Panamá (e toda América Central), Paraguai, Peru, etc., ainda eram comuns até o meio da década de 10 desse século 21. A foto é antiga, Chile, Argentina e Uruguai foram os primeiros a substituir as jardineiras pelos ônibus normais, iguais aos que vemos no Brasil e resto do mundo.

Ao lado ‘jardineira’ da Cutcsa, a ‘Cia. Uruguaia de Transporte Coletivo S.A.’, a maior viação de Montevidéu (pertencente ao sítio Buses Urbanos Chile).

Cuja frota ostenta essa configuração em azul-&-vermelho.

Pouca gente sabe, mas essas são as cores nacionais também do Uruguai.

Sim, a bandeira atual, civil, do Uruguai é apenas azul e branca espelhando a argentina.

Entretanto a bandeira de guerra uruguaia, com a qual ele se tornou independente do Brasil, é tricolor, incluía o vermelho.

Todos os movimentos nacionalistas uruguaios, sejam de direita ou esquerda, ostenta a cor rubra em sua parafernália exatamente por isso.

CHARRÚA” – publicado em 30 de julho de 2016. Na foto a seguir o letreiro completo, a linha de prédios ao fundo.

É pela mesma razão que o Nacional é tricolor e inclui o vermelho.

No desenho o rapaz toma um chimarrão na orla da capital uruguaia com a camisa desse time.

Trata-se do primeiro clube ‘crioulo’ da América. Daí seu nome, o ‘Nacional do Uruguai’.  Foi fundado por uruguaios.

E não por espanhóis (ou ingleses, ou italianos, ou alemães) que morassem no Uruguai.

Ou seja o 1º que foi fundado por americanos aqui nascidos, e não por europeus colonos.

(‘Americanos’ se refere, sempre, ao continente América – o que é natural dos EUA é ‘ianque’ ou ‘estadunidense’.)

Deus proverá.

‘Pol Pot na América’: o Genocídio Argentino, com suas ‘Escolas’ e ‘Voos da Morte’

A esquerda e os movimentos sociais querem que a ditadura militar argentina seja reconhecida oficialmente como um ‘genocídio’.

Por Maurílio Mendes, O Mensageiro

Publicado em 20 de julho de 2017

Maioria das tomadas de minha autoria. O que for puxado da internet eu identifico com um (r) de ‘rede, como visto abaixo.

No intervalo de um mês, fui a Argentina e a África do Sul. Assim vamos alternando as séries sobre esses países.

Escrevi recentemente sobre o ‘Apartheid’ sul-africano. Hoje, mantendo-nos na mesma frequência, vamos falar sobre os ‘anos de chumbo’ da Argentina (1976-83).

Vamos ser bem claros aqui: não há qualquer comparação possível entre as ditaduras brasileira e argentina.

A deles foi infinitamente mais cruel. Infinitamente. Muito mais curta, somente 7 anos, contra 21 da nossa.

Os Encapuzados” (r): escultura de metal em frente a Esma (o ‘Dops argentino’) revela forma de tortura. Como explicado, todas as tomadas com ‘(r)’ são baixadas da internet.

No entanto o regime de Rafael Videla foi muito, mas muito pior que o de Médici e seus companheiros, tanto em termos de quantidade quanto de qualidade, se podemos colocar assim.

A definição é: o Brasil viveu um regime autoritário, mas a Argentina passou por um genocídio.

Estima-se que a ‘guerra suja’ brasileira tenha deixado perto de mil vítimas fatais.

A maioria mortos pelos militares, mas as guerrilhas que os combatiam também assassinavam friamente seus oponentes.

Entretanto, pondere que em apenas 7 anos foram mortas 30 mil pessoas na Argentina.

Como a população deles é 4 vezes menor que a nossa, isso equivaleria a 120 mil pessoas no Brasil.

No Brasil o ‘carro do terror’ era a Veraneio. Na República Dominicana o ‘Fuscão Preto’. Na Argentina foi o Ford Falcão (r). Apesar disso, ele é muito popular e querido até hoje.

Portanto um simples cálculo nos mostra que a ditadura argentina foi nada menos que 120 vezes mais letal que a brasileira.

Não há a necessidade de se argumentar além disso, já que só idiotas discutem com números.

Da Esma (escola técnica da marinha transformada no ‘Dops argentino’) partiam os famosos ‘Voos da Morte’:

Os presos eram dopados pra ficarem inconscientes, embarcados em aviões e desmaiados atirados sobre o Delta do Rio da Prata ou sobre o mar.

Praça de Maio, epicentro político da Argentina no Centro de B. Aires.

Dezenas de corpos acabaram aparecendo boiando nas praias da Argentina e Uruguai.

Os que acabaram na costa argentina os ditadores recolheram e deram fim nos cadáveres.

Acontece que os mortos argentinos que foram pro Uruguai foram preservados. Posteriormente identificados, serviram como provas nos processos contra os militares.

Muitos milhares mais desapareceram pra todo sempre, dissolvidos na água e devorados por animais marinhos.

Noturna do Obelisco da 9 de Julho em B. Aires, cartão-postal-mor argentino.

De todos os que foram presos na Esma, apenas 150 foram soltos ainda vivos. Mais de 5 mil foram chacinados.

A minúscula proporção entre libertados com vida e executados nos autoriza igualar o regime de Videla ao de Pol Pot.

5 mil mortos apenas e tão somente num único centro de detenção. No país inteiro foram 30 mil.

……...

Por outro lado, se lá a repressão foi muito pior, em compensação os militares foram julgados e presos.

Menen reverteu os processos, a gestão de Nestor Kirchner os reabriu. O ditador-ícone, Jorge Rafael Videla, morreu na prisão, em 2013.

Próximas 2 (via ‘Google Mapas’): favela Vila 51, bairro de Vila Lugano, Zona Oeste, município de Buenos Aires. Também chamada ‘Cidade Oculta‘.

Já falamos do pós-ditadura. Primeiro vamos ver como foi a matança.

Não são apenas números, e só eles já são impressionantes. Mas fica pior. Muito pior.

Primeiro, o massacre foi centrado contra a juventude de classe média, especialmente na capital.

O regime militar tornou essa geração acéfala. Faça as contas. 30 mil foram sumariamente executados.

Na ditadura, Videla mandou murar a Vila 51, pra que ela ficasse oculta as vistas de quem passava pela avenida em frente, aí surgiu o apelido usado até hoje, décadas depois da queda do ‘muro da vergonha’.

Conte aí as muitas dezenas de milhares mais que foram torturados, exilados, ficaram viúvas (o), órfãos, etc.

Os ditadores eliminaram, ou no mínimo prejudicaram severamente, toda uma geração daquela que hoje é a classe dirigente nacional.

Daí nada mais natural a confusão multidimensional que engolfou a Argentina.

Primeiro, na Argentina houve o rapto sistemático dos bebês das presas políticas.

Próximas 3: estação de trem (de subúrbio) Rivadávia, bairro de Nunhez, onde fica a Esma, daí os murais lembrando a ditadura.

O que nunca ocorreu no Brasil, certamente não em escala industrial como aconteceu lá.

Segundo, após a Segunda Guerra mundial, a Argentina acolheu diversos oficiais da Alemanha nazista.

Com novos documentos, alguns desses alemães prestaram ‘consultoria’ aos militares argentinos, se é que se pode colocar assim.

Por isso as torturas infligidas aos presos políticos na Esma e outros ‘Centros Clandestinos de Detenção’ espelhou as experiências nazistas nos campos de concentração:

Não visavam somente confissões, não visavam somente infligir dor num ato de sadismo.

Isso é universal, existiu na ditadura brasileira (e ainda existe em nossas delegacias hoje contra presos ‘comuns’).

As torturas na Argentina, como em Auschwitz antes disso, visavam também desumanizar o adversário.

Retirar dele qualquer réstia de dignidade, pra que ele preferisse a morte a continuar pelo suplício.

Só que o ‘tiro de misericórdia’ era negado, o tormento prosseguia, num ‘1984’ puro.

………..

A esquerda abaixo a Praça de Maio, Centro de Buenos Aires. Ao fundo a Casa Rosada, palácio presidencial.

Pintado no chão o lenço que é o símbolo das ‘Mães da Praça de Maio‘.

Grupo que montou a resistência mais efetiva a ditadura protestando nesse exato local.

Nem Videla teve coragem de prender e torturar senhoras idosas, que pacificamente apenas pediam pra saber onde estavam seus filhos.

E elas tinham bastante razão de estarem preocupadas:

Na Argentina houve formas de torturas desconhecidas no Brasil, só praticadas nos regimes mais opressores da Ásia na época, que descreverei mais abaixo.

Cartaz na Praça de Maio conta a história do epicentro político da nação.

No ‘consciente coletivo’ brasileiro, o nome do chileno Augusto Pinochet é o símbolo dos ditadores sul-americanos.

A maioria dos brasileiros nunca ouviu falar de Jorge Rafael Videla, que cumpriu esse papel na Argentina. Mesmo o paraguaio Stroessner é mais conhecido aqui que Videla.

Um dos motivos é que quando a Argentina era ditadura o Brasil também, assim nossa mídia preferia não tocar não tocar muito nesse tema.

Fundos da Casa Rosada. Em 1º plano o Escudo Nacional que há na grade.

Pois a imprensa era censurada, e ademais a maior rede de TV era a relações-públicas dos militares.

Portanto era melhor não atirar pedras nos outros quando seu próprio telhado era de vidro.

A Argentina voltou ao regime civil em 83, o Brasil logo após em 85. O Paraguai, entretanto, só em 89, e o Chile em 90.

Centro de Buenos Aires.

O governo de Sarney, a segunda metade dos anos 80, foi uma era bem confusa no Brasil, como quem tem mais de 30 lembra perfeitamente. E natural.

Afinal recém reconquistámos os direitos de expressão e associação, mas o caos econômico e político foi total.

Assim, nesse período de catarse, a mídia exorcizava o período que esteve amarrada falando intensamente dos ditadores Pinochet e Stroessner.

Mapa das favelas na Grande Buenos Aires: a direita no município (cap. federal). Aquela favela maior isolada na parte de cima é a Vila 31, bem no Centro. Aqueles prédios vistos na foto anterior ficam bem em frente a ela. Altíssima concentração de renda, as duas pontas do extrato social lado-a-lado. A esquerda, e esse é novidade, as favelas na região metropolitana de Bs. Aires.

Videla foi poupado dessa propaganda negativa.

Pois quando ele governava com mão de ferro seus colegas faziam o mesmo no Brasil.

Já que o departamento de censura militar é quem determinava as manchetes dos jornais.

que o regime argentino foi ainda mais letal que o chileno.

E muito, mas muito mais letal que o paraguaio.

Na ditadura Pinochet morreram cerca de 3 mil chilenos.

Esse mural também está na Estação Rivadavia em Nunhez, no ‘Memorial da Ditadura‘. As mulheres desse país adoram cachecóis e echarpes, tanto que o detalhe foi retratado aqui nesse ‘arquétipo’.

Dez vezes menos que na Argentina, sendo que a população do Chile é 2,5 vezes menor que a desse seu vizinho trans-andino.

‘Dom’ Alfredo Stroessner torturou e exilou muita gente no Paraguai, é certo.

Todavia em termos de vítimas fatais, calcula-se em 400 o número de desaparecidos e executados por seu regime.

A população paraguaia é 30 vezes menor que a nossa, e houve pouco menos da metade dos mortos.

Não é difícil ver que a taxa de letalidade é de 10 a 15 vezes maior que a nossa.

Somos Argentinas” – já que tocamos nesse ponto, resumi no desenho o que observei nas mulheres de lá, além do cachecol, claro: em Bs. Aires as amigas andam de braços dados pelas ruas; é comum elas usarem pulseiras e braceletes nos dois pulsos, simultaneamente; adoram inventar penteados e acessórios pra ressaltar seus cabelos, prendem eles em ‘maria-chiquinha’, mesmo depois de adultas. Também muito laços, e fios enfeitados com bolinhas coloridas; as argentinas não gostam de ser baixinhas. Usam salto-alto e ainda plataformas gigantes, tudo no mesmo sapato. Assim elas se sentem por cima, por isso o desenho se chamou ‘No Topo do Mundo’ – publicado em 30 de março de 2017.

Portanto a ditadura Stroessner, arredondando por alto a proporção de mortos em relação a população total, é bem mais violenta que a brasileira.

Ainda assim menos que chilena, e incomparavelmente menos que a argentina.

Oras, em 2013 eu passei pelas ruínas de um supermercado que  9 anos antes pegou fogo na Zona Norte de Assunção, onde morreram igualmente 400 pessoas.

Porque mesmo com as chamas consumindo o local os donos teriam mandado fechar as portas pra “impedir que as pessoas saíssem com produtos sem pagar”.

Oras, sendo isso verdade num único dia, por ganância pra não ter prejuízos materiais, o dono dessa rede de mercados matou tanta gente quanto o governo Stroessner em 35 anos.

É evidente que nenhum ser humano deveria ser assassinado, e um dia vamos chegar lá.

Convenhamos, entretanto, que outros ditadores foram bem mais sanguinários que ‘Dom’ Alfredo. Stroessner rebatizou com seu nome o que na época era uma distante e não tão importante cidade nos confins do interior, é certo.

As famosas “Águas Vermelhas” da praça principal de Mendonça.

Vamos falar do mais sanguinário de todos. O que dizer então do dominicano Rafael Trujillo?

Que afinal mudou o nome da capital (e na verdade única cidade grande da pátria) em sua própria homenagem??

A ditadura mais sangrenta da América certamente foram os 31 anos (1930-61) em que Trujillo comandou com mão-de-ferro, alias mão-de-aço, a Rep. Dominicana.

Foram eliminados 50 mil pessoas, 30 mil haitianos e 20 mil dominicanos. Trujillo matou mais de 1% da população dominicana. Digo, em termos de matança Trujillo está ao lado (fisicamente e na questão dos números) de ‘Papa Doc’, no vizinho Haiti.

A Argentina, ao lado do México, é entre os países que já visitei o que mais têm capelinhas nas ruas. Paradoxo: entre a classe média argentina predomina o materialismo (ateísmo). Mas o povo é bastante religioso. Essa é em Mendonça e traz ao lado da bandeira nacional as do Peru e Chile.

Seu governo exterminou entre 30 a 60 mil pessoas, o que também dá mais de 1% da população haitiana eliminada pelo ‘Papa’.

A Argentina ficou em aproximadamente 0,1%, na primeira casa decimal.

Chile e Paraguai oscilam entre 0,02 e 0,04%, enquanto que no Brasil a taxa é de 0,001%.

Os números são aproximados, apenas pra termos uma noção, e não seguem rigor estatístico. Mas são válidos pra compararmos.

IRONIA DA VIDA:

VIDELA RECLAMA DE ‘MAUS-TRATOS’ NA PRISÃO –

Em compensação, de todos esses países a Argentina foi o único que a justiça funcionou, e os ditadores acabaram passando um tempo atrás das grades.

Aqui em Porto Madeiro, um novo bairro de alta burguesia a beira d’água que foi feito no Centro de Buenos Aires (na Cidade do Cabo/África do Sul um projeto idêntico está em implantação).

Na República Dominicana, a CIA estadunidense pôs e manteve Trujillo no poder. Mas quando não foi mais interessante, a CIA descartou-o, como ela sempre faz.

Assim Trujillo morreu no cargo, assassinado numa emboscada com armas fornecidas pela própria CIA.

No Brasil no fim de seu regime os militares passaram a ‘Anistia’, pra aqueles quem eles perseguiam, e também pra si mesmos.

Resultando que ninguém respondeu por violações de direitos humanos em nossa pátria.

Stroessner foi deposto em golpe militar, o mesmo instrumento que ele usara pra vestir a faixa presidencial foi usado contra pra retirar dele esse símbolo do poder presidencial.

Feitiço contra o feiticeiro. Mas quem assumiu no seu lugar achou que geraria menos problemas políticos exilar Stroessner que julgá-lo e aprisioná-lo.

Assim o ex-ditador paraguaio se mudou pro Brasil onde viveu seus últimos 17 anos numa vida bucólica em nossa capital, sem se incomodar com a justiça.

Nas favelas de B. Aires, a ‘cultura da laje’ (prédios artesanais que o próprio morador vai erguendo um andar por vez, sem qualquer tipo de alvará) está tão consolidada quanto no Sudeste do Brasil e Salvador/BA. Aqui vemos a favela Vila 21 (em Bs. As. elas são numeradas, como em Medelím/ Colômbia). Zona Sul, ainda no município da capital mas divisa com Avellaneda.

Pinochet foi acusado pelo juiz espanhol Baltazar Garzón pelos crimes que cometeu, e chegou a ficar 1 ano e meio em prisão domiciliar na Inglaterra.

Acontece que não houve como extraditá-lo pra ser julgado na Espanha por crimes de ‘lesa-humanidade’, como queria a acusação.

Resultando que em 2000 ele foi liberado pela justiça inglesa, e voltou ao Chile como um homem livre.

Em dezembro de 2004, quando haviam pendentes contra ele mais de 300 acusações, foi posto em prisão domiciliar.

Assim viveu mais 2 anos. Em dezembro de 2006 deixou esse plano material, sem ter sido preso ou condenado.

Na Argentina, entretanto, foi diferente. Após a volta do regime civil com Raul Alfonsín em 83 houve uma primeira tentativa de julgar os militares.

Mas na periferia de Buenos Aires fora das favelas, e no interior dentro e fora das favelas há poucas lajes. Agora que essa cultura começa a germinar. Flagrei essa na periferia de Córdoba.

Alfonsín revogou a auto-anistia que os ditadores se concederam no apagar das luzes de seu mandato, e houveram condenações na justiça.

Motins militares e a ameaça aberta de novo golpe de estado forçaram seu recuo. Seu sucessor Carlos Menen novamente anistiou os militares ditadores.

Depois de Menen veio Fernando de la Rúa, que foi obrigado a renunciar numa rebelião popular em dezembro de 2001.

Quando a Argentina re-assumiu a ordem constitucional, a partir de 2003  presidente foi Nestor Kirchner.

Nestor, e sua esposa Cristina que o sucedeu no cargo em 2007 e ficou até 2015, reverteram mais uma vez o rumo dos acontecimentos.

A infra-estrutura urbana na Argentina é precária. É muito comum vermos esgoto correndo a céu aberto. Aqui estou na Zona Sul do município de Buenos Aires.

Em novo giro de 180º, os ditadores foram levados mais uma vez a juízo. Rafael Videla cumpria prisão domiciliar, como ocorrera com Pinochet no Chile.

Ainda assim em 2008 VIdela foi pro presídio, a princípio militar, depois civil. E seus advogados e família reclamaram de ‘maus-tratos’ e ‘negligência’.

Ironia, não? Uma das pessoas que mas encarcerou e torturou em todo planeta se queixar que as condições da cadeia são muito duras.

Não teve jeito. Quando já estava a 4 anos e meio encarcerado, Videla sofreu mal súbito, e morreu em março de 2013.

Periferia de Córdoba, mesma cena.

Como dito, os ditadores argentinos foram os mais cruéis do continente, excetuando Trujillo e ‘Papa Doc’. Mas a justiça de seu país também foi implacável com eles.

“ESCOLAS DO TERROR”: A ESTRANHA FIXAÇÃO DOS TORTURADORES ARGENTINOS COM A ‘EDUCAÇÃO’ –

O maior centro de tortura argentino funcionou numa antiga escola técnica militar. Como é sabido, o ‘Dops argentino’ era na Esma, ‘Escola de Mecânica da Marinha’.

Hoje, funciona ali o Museu dos Direitos Humanos. A ex-Esma fica no bairro de Nunhez, Zona Norte, a porção rica de Buenos Aires.

Pra falarmos de uma coisa leve, os refris na Argentina. Lá ainda existem 7Up (ao fundo um buso no bairro Palermo), Crush e Mirinda. Passo de los Toros é uma marca local que também fotografei no Paraguai. Voltando a Argentina, Talca é um clone local da Pepsi. A lata da Coca é ‘caçula’ (250 ml), mas a garrafa é maior (350 ml, contra 290 ou 300 aqui). Já no Chile a garrafa (de todas as marcas) é menor que no Brasil. A fábrica da Coca na Argentina exporta também pro Paraguai e Uruguai. Nosso Guaraná Antarctica faz sucesso na Argentina, mas no verso tem uma explicação que é um fruto exótico” da Selva Amazônica. É fabricado pela Quilmes (cerveja mais popular da Argentina) e exportado também pra Bolívia e Uruguai.

A poucas quadras dali está o ‘Monumental de Nunhez‘, pertencente ao River Plate, maior estádio do país e por isso a casa oficial da seleção argentina.

Do futebol já falamos em mensagem a parte, ricamente ilustrada. Aqui o tema é a política. Ou melhor, nesse caso o futebol interfere na política.

O golpe militar foi em março de 76. Mesmo antes dele, ainda no regime civil da primeira presidente Mulher da história da Humanidade (‘Isabelita Perón’), já estavam ocorrendo ‘desaparições’ políticas.

Só que depois que os militares assumiram o poder de fato (embora não de direito) a coisa piorou muito.

Se a Argentina já não estava calma de 68 a 76, a 2ª metade dos anos 70 foi um banho de sangue.

E, vejam vocês, quando do golpe já estava definido que o país sediaria a próxima Copa do Mundo. Na final da Mundial de 78 o Monumental explodia em alegria pela vitória da seleção local.

A Argentina está mudando o emplacamento. A direita modelo antigo (ainda predominante em março.17), 3 letras e 3 dígitos. A esquerda o novo (há rumores que será implantado em todo Merco-Sul, Brasil incluído), com 2 letras, 3 dígitos e mais 2 letras.

E, bem perto dali, centenas de argentinos gritavam também, mas de dor nas câmaras de tortura.

Pra felicidade dos ditadores, a ‘alvi-celeste’ venceu sua primeira Copa jogando em casa (a segunda e última foi 8 anos depois, em 1986 com um Maradona endiabrado).

Voltemos a 78. Essa ‘Dieguito’ não jogou pois era muito jovem. Ainda assim a Argentina foi campeã, batendo a Holanda na final.

O êxtase que tomou conta da pátria abafou a questão política, tirando o foco e permitindo que as atrocidades seguissem.

Próx. 2: Porto Madeiro, Centro de Bs. Aires. Atrações turísticas construídas no antigo cais do porto.

Os gritos de ‘gol’ foram mais fortes que os que vinham dos porões dos Centros Clandestinos de Detenção, sendo que o principal deles estava bem ao lado.

O estádio do River Plate fica na verdade no vizinho Belgrano, mas é na divisa dos bairros, por isso o ‘Monumental de Nunhez’ na boca do povo.

Na capital o maior centro de detenção e tortura ficava em um de seus bairros mais  caros.

Local elitizado, moram muitos artistas. Um deles fez essa escultura, ‘derreteu’ a base dos postes de luz.

Entretanto, na principal cidade do interior a cadeia ficava próxima mas já totalmente fora da cidade: bem-vindo a “Pérola de Córdoba”.

Se é que alguém pode ser bem-vindo a um lugar macabro desses. As margens da rodovia que leva a Carlos Paz ficava o presídio chamado de ‘A Pérola’.

Com a virada da maré e volta da democracia as prisões da ditadura foram renomeadas ‘Centro Clandestino de Detenção’ – CCD.

Tenha o título que tiver, na “Pérola” ficaram boa parte dos presos políticos do Norte do país.

Pros íntimos, Pérola era chamada de  “Universidade do Terror”. Curioso esse apelido, não? Fora o fato que a Esma era numa escola. 

Como se tortura e assassinatos fossem matérias educativas.

Fica pior. Notam a direita a placa da rodovia que indica a entrada pra ‘Pérola’ (imagens baixadas da rede) alguém escreveu ‘Volta Videla’.

E desenhou mas logo a seguir riscou o lenço das Mães da Pça. de Maio, que viram em foto mais pra cima na matéria.

Aeroparque, o aeroporto central de B. Aires. ‘Austral’ é a marca pra curtas distâncias da Aerolineas Argentinas.

É. Ainda tem gente saudosa dos ‘Voos da Morte’, e das ‘Escolas do Terror’ dos Anos de Chumbo.

…..

Disse acima que Nestor Kirchner e sua esposa Cristina são heróis da esquerda argentina.

Pois revogaram várias anistias que haviam sido auto-concedidas e depois re-concedidas por Menen aos militares por crimes na ditadura.

Após 3 mandatos dos Kirchner (1 dele e 2 dela), a direita voltou ao poder. E almejam o sonho de ver Cristina atrás das grades (dir.)

Não há como prender o marido porque Nestor já desencarnou em 2010. Mas se possível eles colocarão uma ‘esposa’ na esposa.

(Quem não conhece o idioma espanhol não entendeu o trocadilho. Nessa língua a palavra ‘esposa’ tem duplo significado.

É sinônimo de ‘cônjuge’, como em português. Mas ‘esposa’ signifca também ‘algemas’. Estar ‘esposado’ é estar algemado.)

Alguns auxiliares de primeiro escalão dela já estão ‘esposados’. Lemos no jornal em março de 2017 que Cesar Milani, ex-comandante-geral do Exército no governo de Cristina, foi pro presídio.

E não apenas isso, ele está num presídio feminino. Em Ezeiza, na região metropolitana da capital (onde fica o aeroporto de mesmo nome).

A justificativa é no xadrez masculino ele seria morto. Como ele já está no pavilhão das mulheres, o sonho da direita é que sua ex-chefe Cristina fique na cela ao lado.

Ir pra Argentina em muitos aspectos é como viajar ao passado. Vejam a chave do hotel que nos hospedamos em Córdoba. Sim, de metal.

…..

Na Argentina os presos políticos sofreram todas as formas de suplício aplicadas no Brasil (pau-de-arara, afogamento, choque elétrico). Mas muito pior que isso.

Lá houveram técnicas de tortura que não foram usadas aqui:

Os infelizes detidos em alguns pavilhões na macabra Esma eram conhecidos como ‘Os Encapuzados’.

E eis a portaria do prédio que ficamos no Centro de Buenos Aires. Na Argentina todos os interfones são desse modelo, como era o Brasil 20 anos atrás. Tem que ter uma tecla pra cada apê, se forem dois blocos o aparelho é o dobro desse. Não existe ainda interfone com teclado, em que você simplesmente digita o nº do apartamento.

O nome se deve a que eles ficavam o dia todo acorrentados na posição fetal, com grilhões nas mãos e pés, e com toucas ou vendas cobrindo-lhes os olhos.

É isso. não podiam ver nada, e nem sequer se mexerem. Reveja a segunda foto da matéria, no alto da página, que ficara claro.

Os presos ficavam em baias individuais, pra não conversarem entre si.

Eles eram libertados uns poucos minutos por dia, apenas pra ir ao banheiro, onde eram acompanhados por seus captores.

As mulheres precisavam sentar ao vaso e banhar-se sob as vistas de seus torturadores do sexo oposto.

Afora esses poucos minutos de ‘liberdade vigiada’, vários dos homens e mulheres detidos na Esma passavam o dia inteiro acorrentados e encapuzados.

A ‘liberdade’ é relativa, eles apenas podiam andar um pouco por dentro da prisão, e vigiados por soldados fortemente armados.

Pelo menos nessa hora podiam ver e movimentar seu corpo, era o melhor momento do dia.

Eu disse que os militares argentinos usaram padrões de crueldade asiáticos, desconhecidos na América

Centro de Córdoba: bandeiras nacional e estadual nesse belo fim-de-tarde..

Na Ásia (já veremos exemplos) é corrente esse prática de manter os detentos imobilizados por longo período.

Nada nem remotamente parecido jamais existiu no Brasil. Voltemos a descrever os tormentos dos ‘encapuzados’ na Esma:

Eles permaneciam vendados mesmo na hora das refeições. Ali o marinheiro soltava brevemente os braços – mas não tirava o capuz do prisioneiro.

Ele só sabia qual era o cardápio quando punha o alimento na boca. Isso era uma tortura em si mesmo, a desumanização extrema do inimigo.

Mafalda também passa na TV, não é só quadrinhos. Um ícone na capital argentina.

Pois assim o cativo estava completamente batido.

Não tinha sequer o direito de saber o que comia, exceto quando a gororoba já descia pela goela.

Se isso te parece uma forma de punição aplicada num campo de concentração nazista, é porque é exatamente isso:

A Argentina (e também em menor escala a Bolívia e o Paraguai) recebeu centenas de oficiais e soldados da tropa da SS, fugidos da Alemanha pra escapar do Julgamento de Nuremberg.

Mais 2 da favela Vila 31, a mais famosa de Buenos Aires, bem no Centrão.

Vários desses alemães, com documentos falsos, prestaram ‘consultoria’ aos militares argentinos, como também ocorreu nos EUA.

De volta a Argentina, basta lembrar que Adolf Eichmann vivia em Buenos Aires e trabalhava na fábrica da Ford.

De um subúrbio da capital argentina ele foi sequestrado pelo Mossad pra ser julgado em Israel.

Josef Mengele também viveu na clandestinidade na Argentina no pós-guerra.

Enfim, foquemos na Esma. Nem todos os presos eram ‘encapuzados’. Alguns mais afortunados trabalhavam pros militares.

Tinham que falsificar documentos (passaportes, etc) que eram usados em novas capturas de militantes.

Ou então escrever matérias pra imprensa dizendo que os exatos abusos que eles estavam sofrendo na verdade “não ocorriam, era ‘intriga da oposição’ “.

Ironia, não? Presos políticos eram obrigados a escrever que não havia presos políticos em território argentino.

Numa espécie de tortura psicológica, precisavam negar sua própria existência. Bom, ainda assim era muito melhor que ficar sem visão e acorrentado ao solo. Qualquer coisa era melhor.

……….

Na Argentina cada estado (lá chamado ‘província’) tem uma ‘embaixada no Centro da Capital Federal. Essa é a ‘embaixada’ do estado das Missões, onde há muitas casas de madeira – como no Brasil mas ao contrário das grandes metrópoles argentinas.

Alias o único fugitivo da Esma era exatamente um desses presos que trabalhavam.

Horácio Maggio, apelidado ‘Nariz‘, foi sequestrado pela Marinha Argentina em 1977.

Passou um ano e um mês na Esma. Inteligente, foi cordato com seus captores, pra ganhar a confiança deles.

Assim ele era um dos que trabalhavam. Mais que isso, de vez em quando ele ou outros presos faziam serviços externos.

Sempre acompanhados por um marinheiro armado, claro. Numa dessas saídas, Horácio ‘Nariz’ se tornou a única pessoa a fugir da Esma.

As versões variam, e ele não viveu muito tempo pra contar sua história.

Córdoba: pessoas sem proteção na caçamba, cena digna da África e das partes mais pobres da América Latina.

Segundo uma das versões, ele entrou numa loja pra comprar material de escritório.

O guarda ficou na porta, pois pensou que era suficiente, não haveria como o prisioneiro escapar pois teria que passar por ali fatalmente.

O que o guarda não sabia é que a papelaria tinha outra saída do lado oposto, pra rua dos fundos.

Horácio teria se evadido por ali, se tornando então um dos homens mais procurados da Argentina.

Tropas de elite da Marinha e outros setores das forças de segurança faziam uma caçada humana frenética recapturá-lo.

Cosquín, interior de Córdoba: família na moto, todos sem nenhum tipo de proteção.

Horácio Maggio não deixou por menos. Ao invés de sair do país, preservando assim sua vida, optou por continuar lutando contra a ditadura:

Pôs-se a escrever cartas e telefonar pra imprensa e ONG’s estrangeiras (pois as nacionais eram censuradas).

Pra denunciar a repressão argentina, que oficialmente não existia.

Nos noticiários de TV e jornais, os militares apenas combatiam dentro da lei os guerrilheiros ‘pra evitar a revolução comunista’.

Calçadão no Centro de Mendonça.

A questão é que os relatos de Horácio, em primeira pessoa, geraram uma repercussão negativa ao governo, afora o fato que ele já havia dado um drible nos seus carcereiros ao fugir.

‘Nariz’ resolveu mesmo ser a ‘pedra no sapato’ da Esma. De orelhões ele ligava pro centro de torturas e discutia com os marinheiros.

Dizendo que breve eles seriam julgados ‘como os nazistas foram em Nuremberg’.

Centro de Córdoba: semáforo em que o pedestre (na verdade a pedestre) é uma mulher de vestido e cabelos compridos.

Aí se tornou questão de honra ser capturado ‘vivo ou morto’.

O regime não poupou esforços pra localizá-lo. Em outubro de 1978, sete meses depois de sua fuga, a saga de Horácio ‘Nariz’ Maggio chegou ao fim:

Um pelotão do Exército o encontrou, e cercou-o na rua. Em desespero ele pulou o muro pra uma obra.

Dali, atirava tijolos nos soldados, na tentativa de ter mais alguns minutos de vida.

A resposta veio com muitas saraivadas de metralhadoras.

Horácio tombou sem vida. Terminara a epopeia do único foragido da temida Esma.

Seu cadáver crivado de projéteis foi caravaneado pelas celas do centro de torturas.

“Macri Gato”, o mantra oni-presente da Argentina. Maurício Macri é um ‘neo-liberal’, e suas políticas concentram renda, é fato. Mas foi eleito democraticamente, e hoje não há censura, presos políticos nem ‘desaparecidos’ na Argentina. Ainda assim, a esquerda iniciou uma insurreição civil pra derrubá-lo.

……….

O número de 30 mil desaparecidos e executados pelo regime é repetido o tempo inteiro por vários movimentos sociais na Argentina.

Como até os cartazes nas ruas deixam claro. Mas, é óbvio, não deixa de ser controverso. Os setores da direita insistem que foram “apenas” 9 mil mortos.

Eu estive na Argentina em março de 2017, quando o país enfrentava uma insurreição (civil) que visa derrubar o presidente (eleito democraticamente) Maurício Macri.

O país estava em caos, como descrevi com muitas fotos na mensagem de abertura da série.

A nação está em turbilhão, a um passo de decretação do estado de emergência, veja a manchete do jornal.

A situação persiste uns meses depois, quando produzo e levanto esse texto (julho.17). Por hora voltemos a março:

Passeatas exigiam o reconhecimento consciencial do ‘Genocídio Argentino’, com a oficialização da cifra dos 30 mil cadáveres.

Questionado sobre o tema, Macri declarou: “não sei se foram 9 ou 30 mil, mas é fato que morreu muita gente”.

“Vamos virar a mesa”, eis o lema dos insurgentes. Veja, em março somando passeatas e greves gerais foram 21 protestos, quase um por dia.

Ele é político, então obviamente ficou em cima do muro, não definiu publicamente qual dos dois números ele crê ser verdade.

Maurício Macri pretende agradar a todos, ou no mínimo não desagradar nenhuma corrente, como é habitual entre as pessoas que dependem de votos pra terem emprego.

O que quero apontar aqui é que essa declaração, de um presidente no exercício do cargo, sintetiza o quão sangrenta foi a ditadura argentina.

Disparada a mais letal da América do Sul, como apontado bem acima da chilena, brasileira e paraguaia.

Uma vez que é evidente que mesmo o número otimista de 9 mil já seria 3 vezes pior que Pinochet no absoluto.

E olhe que Pinochet não matou pouca gente.

Vamos pra uma panorâmica. Tenha em mente que eu não fotografei todos os cartazes. Mesmo assim a coisa é assombrosa. Não perca a conta: 6 e 7/3.

O oposto sendo verdadeiro. Sua ‘Dina’ (‘Dep. de Inteligência Nacional’, a temida polícia política da repressão chilena) não era famosa por economizar munição.

Muitas vezes eles exterminavam famílias inteiras, como ocorreu no célebre caso da ‘Rinconada de Maipú, na Zona Oeste de Santiago.

E mesmo assim a Argentina matou 10 vezes mais gente no absoluto, e proporcionalmente de 3 a 4 vezes mais, se aceitarmos a cifra de 30 mil.

Que eu acredito ser verdadeira, afinal apenas e somente na Esma foram mais de 5 mortos.

7/3.

…….

Não foram apenas os assassinatos em maior número, na Argentina, repito, ocorrerem barbaridades que não se repetiram em outras partes, certamente não no Brasil.

Já falamos das formas de torturas trazidas de Auschwitz, de impedir a pessoas de ver, falar e se mexer em tempo integral.

Outro ponto doloroso, que igualmente não existiu em nossa pátria, foi o sequestro deliberado de centenas de bebês das presas pelos generais torturadores.

Muito mais de uma centena de milhares de pessoas passaram pelos cárceres políticos argentinos nesse período.

14/3.

Embora a imensa maioria fosse de homens, muito mais de uma dezena de milhares de mulheres argentinas sofreram o mesmo martírio, ou na verdade um martírio ainda maior.

Me refiro ao fato óbvio que boa parte delas senão quase todas as presas políticas foram estupradas por seus captores.

Isso ocorreu também no Brasil, não tapo sol com a peneira. Mas hoje nosso tema é a Argentina, então bora de volta pra lá, pois fica ainda pior.

Algumas centenas de argentinas estiveram atrás das grades quando grávidas. A maioria delas já estava ‘de barriga’ quando capturadas.

20, 21 e 22/3. Colado em cima de um cartaz que chamava pra manifestação em 24/3 (o que abre a reportagem, no topo da página).

Mas algumas tiveram a infelicidade de gerar um filho de seus torturadores/estupradores. Isso, repito, foi igual no Brasil. A diferença vem quando o bebê veio ao mundo.

Caso o recém-nascido fosse branquinho e saudável, no país vizinho muitos generais roubaram essas crianças e as registraram em seu nome.

A seguir rapidamente assassinaram a presa, pra que ela não delatasse o rapto. Foram centenas desses casos. E esse sequestro coletivo não encontra paralelo no Brasil.

21 e 22/3.

Muitos oficiais das forças armadas argentinas não tinham filhos, por eles mesmos ou suas esposas serem estéreis.

Lembre-se, nos anos 70 a medicina nem de longe tinha o poder que possui hoje pra modificar essa condição.

Então ocorreram muitos sequestros de bebês, após o parto a mãe era sumariamente eliminada (muitas vezes atiradas no mar num ‘voo da morte’).

21 a 22 ou 23/3, ficou pequeno e não dá pra ler com toda certeza.

E generais e almirantes registravam esses filhos como se fossem legítimos deles. Por isso ONG’s hoje auxiliam as pessoas que no papel são filhas de militares.

Mas que no fundo de sua Alma têm uma ‘pulga atrás da orelha’, uma dúvida se aqueles são mesmos seus pais ou se elas nasceram em cárcere de outras mães raptadas.

Em Córdoba vi um mural na rua: “Se você nasceu entre 1975 e 1984 e tem dúvidas quanto sua origem, procure-nos”.

Assinado pelas “Avós da Praça de Maio“, organização-espelho das famosas “Mães da Praça de Maio”.

Apenas as “Avós” obviamente é formada por mulheres mais velhas, que tiveram seus netos sequestrados, ao invés de seus filhos.

Epa! Peraí!!! Como assim, “1975”? “Se a ditadura militar se iniciou em 29 de março de 1976”???, alguém perguntaria com toda razão. Porém infelizmente é verdade.

24/3.

A violência na Argentina foi tão áspera que os desaparecimentos e execuções políticas por agentes do estado começaram 2 anos antes do golpe militar, ainda em 1974.

Isso estou falando de sequestros e execuções perpetrados pelas forças armadas oficiais. Pois desde 1968 a Argentina vivia uma conflito armado.

De um lado, forças da extrema direita (o grupo “Aliança Anti-comunista Argentinta”, o “Triplo A”, equivalente ao “Triplo C” brasileiro, o ‘Comando de Caça aos Comunistas’.

Do outro, a extrema esquerda, representada no início somente pelos ‘Montoneros‘, mais tarde surgiu a guerrilha “Exército Popular Revolucionário” – ERP.

Sem data.

Ambos os lados praticavam atrocidades, com sequestros e execuções sumárias.

De 1968 até antes do golpe, em março de 1976, estima-se que 1,3 mil argentinos tenham sido mortos pelos dois lados.

Em 1974 desencarnou João Perón, figura-ícone argentina. Morreu ocupando a faixa presidencial. Sua vice era a esposa, Isabel Perón.

Com a morte do marido, ela assumiu o cargo, sendo assim a primeira mulher presidente do todo o planeta Terra, repetindo.

Com a morte do homem-forte Perón, os grupos armados aumentaram o escopo de suas ações violentas. Isso tanto a esquerda quanto a direita.

Porém a eminência-parda de Isabelita Perón era José Lopes Rega, líder do “Triplo A”, a ‘Aliança Anti-comunista’.

Rapaz desaparecido. Teria sido sequestrado e/ou executado por algum grupo armado? Não sei te dizer, apenas registrei o protesto.

Apenas entre 73 e 74 o ‘Triplo A’ é suspeito de cometer 300 assassinatos.

Mas seu líder é quem dá muitas das ordens no governo de Isabel.

Assim ela, já em setembro de 1974, assina a ‘Lei Anti-Terrorismo’, que dá carta branca aos militares pra eliminar as guerrilhas de esquerda.

Em novembro desse ano as guerrilhas assassinam o chefe de polícia de Buenos Aires, assim Isabel decreta estado de sítio.

Que suspende o ‘habeas-corpus’ entre outras medidas drásticas de igual calibre.

Em fevereiro de 75 o estado parte pra ofensiva total, denominada ‘Operação Independência’.

Protesto sem data. Cartaz colado sobre o do garoto desaparecido.

Os vizinhos Chile e Brasil estão no auge da violência política, esses sob ditadura. A Argentina ainda não passou pelo golpe militar.

Ainda assim o regime civil de Isabel Perón pra ir aquecendo as máquinas já autoriza o exército a ‘desaparecer’ com os militantes que incomodam.

Mas essa ‘liberdade’ ainda era pouca pros que eram da ‘linha-dura.’ Em março de 76, como todos sabem, eles afastam a presidente Isabel Perón do poder.

Pra poderem agir como quiserem, sem freios de qualquer tipo. Portanto evidente que o golpe amplifica e muito o processo. Mas não é a gênese dele.

Repetindo, por 1 ano e 1 mês (fev.75-mar.76), ainda sob regime civil constitucional, centenas de pessoas já havia ‘desaparecido’ nas mãos do estado.

Mendonça, 21/03/17: fotografei um dos protestos, o dos funcionários públicos municipais (no Chile, que é pertinho, eu cliquei uma greve aeroportuária).

Claro, em 7 anos de regime os militares executaram mais 30 mil, então piorou e muito. Mas a prática de sumir gente é anterior a seu governo. Tá bom pra ti ou quer mais?

UMA PÁTRIA DIVIDIDA, UNANIMIDADES SÓ A SELEÇÃO E AS MALVINAS –

A coisa foi feia. Assim, os militares e a direita em geral precisam  tirar o foco da matança na ‘Guerra Suja’ interna.

Por isso, os militares argentinos gostam muito de lembrar a guerra externa contra a Inglaterra pela posse das ilhas.

Pichação em Córdoba protesta contra arrocho econômico. ‘Despidos’ significa ‘despedidos‘, e não ‘pelados, como muitos pensariam.

Que as Malvinas deveriam pertencer a Argentina é um dos pouquíssimos temas de consenso nesse conflitado país.

Pois de resto ele está aguerridamente dividido entre esquerda e direita em quase todos os assuntos.

Mas se o desejo que as Malvinas pertencessem a nação é consenso na Argentina, a Guerra das Malvinas não é.

Zona Sul da capital: ‘Buitre’ é ‘abutre’, ‘urubu’. “Nem mais um dia com Macri, ou seremos colônia dos abutres, seremos devorados por eles”, é o que quer dizer.

Muitos a viram como uma estupidez, um excesso de orgulho da Marinha Argentina. Sim, eles rapidamente venceram a o conflito interno. Não foi tão difícil, né?

A oposição militante era formada por civis, uns poucos estavam levemente armados nas guerrilhas dos Montoneros e ERP. Mas a imensa maioria sequer portava armas.

Após torturar selvagemente homens e mesmo mulheres civis, sem armas (com poucas exceções), e executar dezenas de milhares deles, o comando militar se entusiasmou.

Jornais na banca retratam a confusão do país. Os dois de cima são de esquerda, incluso o Página 12 é um clássico da imprensa mundial, um jornal da grande mídia mas de tendência esquerdista. Era curioso parar na banca e ler a cobertura da confusão política que engolfou a Argentina nos 3 maiores jornais da capital: o ‘Clarín’ e o ‘La Nación’ iam por um lado, o ‘Página 12’ sempre divergia, fazia o contra-ponto. O de baixo, Diário Popular, é mídia tradicional, mas um periódico menor, de circulação mais restrita ao subúrbio da Zona Sul da Grande Buenos Aires.

E levou uma surra da Real Marinha Britânica, os combates não duraram 2 meses e meio.

Bem, se a vitória na Copa de 78, inédita e logo em casa, deu um gás pra ditadura na sua gênese, a desastrada derrota fulminante  nas Malvinas foi seu ocaso:

A guerra foi em 82, já no ano seguinte os militares se viram obrigados a abandonar a Casa Rosada e retornar aos quartéis.

Alguns veem a pancada levada dos ingleses – com a dor psicológica e muito mais física dos marinheiros, pois guerra é sempre guerra – como uma ‘auto-expiação’ de culpa da Marinha.

Uma busca tardia pela redenção na Consciência Coletiva Argentina. De certa forma funciona, dá algum alento.

Já que embora muitos discordem da decisão de atacar a Inglaterra militarmente, quase todos entendem a que a Inglaterra usurpa o que não lhe pertence – visão que compartilho.

Manifestantes acampados na Pç. de Maio. São veteranos da Guerra das Malvinas.

Só a seleção de futebol e esse arquipélago é que são unanimidade na Argentina.

São os únicos 2 assuntos que você pode puxar numa roda de desconhecidos sem que a conversa descambe pra ofensas.

Repetindo, a nação está agudamente partida, esquerda e direita nutrem mutuamente um ódio recíproco que não se ameniza, só aumenta.

Proibido esquecer as Ilhas Malvinas. Não é negociável”: cartaz no Centro de Córdoba.

Exemplifico pelo o desejo de encarcerar Cristina Kirchner, o que é absurdo. Mas não pense que a esquerda é menos intransigente, porque é tão egocêntrica quanto.

Daí os cartazes e pichações por Buenos Aires que dizem “Reconciliação e perdão jamais”. Tudo bem, os ditadores torturaram e mataram muita gente.

Ainda assim a esquerda quer derrubar um presidente eleito democraticamente, que não decretou estado de sítio ou exceção, e que não desapareceu com ninguém.

Concordo que as política neo-liberais de Macri aumentam a exclusão social, porém a esquerda fala abertamente em ‘virar a mesa. Isso também não é golpe?

Eu não tomo partido, não sou nem de esquerda nem de direita, eu não voto (isto é, anulo, digito ‘zero-zero e confirma’). Apenas relato o conflito, sem ser parte dele.

Monumento as Malvinas em Vic. Lopes, subúrbio metropolitano da capital que mostrarei mais abaixo. Tanto a escultura quanto o prédio em construção atrás pertencem a um quartel da Marinha, que abriga também uma escola técnica (como era o caso da Esma, como agora a Esma é um museu as classes foram transferidas pra outras sedes da ‘Armada’).

Agora, o que vi na Argentina é: os ânimos estão muito exaltados, dos dois lados. Todo mundo quer impor o que pensa.

Seja sobre Macri, ditadura, religião, aborto, qualquer assunto, direita e esquerda não aceitam divergências, e querem eliminar quem pensa diferente. 

O Brasil é um país que o povo é bastante despolitizado, e isso de certa forma é bom. Sim, agora aqui os ânimos também estão bastante exaltados, não nego.

Entretanto muito menos que na Argentina e Chile, sem comparação possível. Na nossa pátria, as diferenças de visão política acabam em discussão. Na Argentina e Chile, acabam em atos de violência.

Temos nossas divergências políticas, mas isso não paralisa o país. Digo, a violência urbana aqui é elevadíssima, muito mais que na Argentina e Chile, não nego. E o Rio de Janeiro está realmente em situação muitíssimo complicada há 2 décadas, que persiste em 2017.

Ainda assim, Rio de Janeiro a parte, nosso país convive com altos índices de chacinas (nas periferias) e assaltos (em toda parte) sim, mas com guerrilhas e insurreições políticas definitivamente não.

Periferia de Buenos Aires (município de Avellaneda, Zona Sul metropolitana).

Na Argentina a esquerda quer reverter a eleição a força, inclusive com apedrejamentos, numa tensão que lembra a África do Sul do ‘Apartheid’. Mas não há qualquer ‘apartheid‘ na Argentina.

E o Chile ainda tem uma guerrilha ativa, anarquista, que além de com frequência promover incêndios e saques, em 2014 bombardeou o metrô de Santiago.

……

Muita politização sem compaixão leva a intolerância, que leva a ofensas a quem pensa distintamente. Isso estamos vivenciando no Brasil. Porém a Argentina e Chile estão um passo adiante, ou melhor atrás. Lá a intolerância leva a violência política. Daí você entende a ferocidade das ditaduras Pinochet e Videla, que brotaram nesse exato campo.

Mas, voltando o foco somente a Argentina de novo, não são só os números, repetindo. É uma questão conceitual.

O metrô de Buenos Aires é o mais antigo da América Latina, de todo Hemisfério Sul, e de toda língua espanhola. Veio só 9 anos depois do de Nova Iorque/EUA, e 6 anos antes do de Madri/Espanha.

O regime ditatorial brasileiro queria apenas se manter no poder. Ou seja, precisava apenas conter a oposição, mas não almejava eliminá-la.

O regime argentino, muito diferentemente, pretendia eliminar fisicamente qualquer um que contestasse sua legitimidade.

Como Pol Pot fazia ao mesmo tempo na Ásia e Hitler fizera antes na Europa.

Por exemplo, na 2ª Grande Guerra um comandante do Exército Alemão foi morto num ataque-surpresa na pequena cidade de Lídice, na atual República Checa.

Manifestações típicas argentinas: o plátano (árvore do frio que já cliquei também no Chile e na África do Sul) e a frota muito velha. Foto em Cosquín, interior de Córdoba.

A SS então foi ao local com grande regimento e matou todos os homens adultos, e encarcerou todas as mulheres em campos de concentração, fora as que também foram executadas.

Hitler a seguir dinamitou todas as casas da cidadezinha, limpou o local e plantou árvores. E mandou que o nome ‘Lídice’ fosse eliminado de todos os mapas.

Ou seja, por ter perdido ali um de seus oficiais o regime nazista pretendeu fazer com que a cidade não apenas deixasse de existir – isso ele conseguiu.

Acontece que ele pretendia também fazer com que nunca tivesse existido, por isso acabou com todas as casas e limpou o terreno de entulhos.

Literalmente Hitler riscou Lídice do mapa. Era proibido até a pronúncia desse nome. Ele quis mudar inclusive o passado.

Falemos num detalhe da linguística: no espanhol pratense (falado na Argentina e seus vizinhos Paraguai e Uruguai) usa-se a palavra vós como 2ª pessoa do singular, ou seja, como sinônimo de ‘você’ (sem o ‘s’) ou ‘tu’. Leia anúncio no Centro de Mendonça: “junto a vós“, “de tu vida”. Repito, ‘vós’ significa ‘tu’, por isso ‘tua vida’ e não ‘vossas vidas’.

Pra resistir, os casais nomearam ‘Lídice’ as meninas que nasceram logo a seguir a esse triste episódio.

Há centenas de mulheres checas de 70 e poucos anos com esse nome, e a causa é essa:

Se Hitler acabou com uma cidade e pretendeu eliminar mesmo a palavra, a República Checa não permite registrando suas filhas assim.

Na Rodoviária de Córdoba, outro exemplo. “Vós te vás”. Sujeito (aparentemente) no plural, mas pela preposição vemos que é singular.

Pouco depois, na Ásia, outro ditador, Pol Pot, tentou o mesmo, fazer com que a oposição a ele nunca tivesse existido.

Os ‘Campos da Morte’ cambojanos, os temidos centros de concentração do Khmer Vermelho, não intentavam manter as pessoas detidas ali indefinidamente. Não.

Os presídios políticos do Camboja visavam reter ali as pessoas apenas o tempo necessário pra providenciar sua execução e desaparecimento em massa.

Os prisioneiros eram levados de caminhão pro interior, e ali eliminados primeiro a tiros.

Outra noturna do Centro de Buenos Aires.

Depois passaram a matar muita gente e começou a faltar balas (não é modo de falar, é literal), então decidiram usar machadadas e golpes de facão.

O mais famoso dos centros de detenção do Camboja funcionou numa antiga escola de 1º e 2º graus na capital Phon Phen. Hoje o local é o Museu do Holocausto Cambojano.

Bom, Pol Pot era professor antes de se tornar revolucionário.

Voltando a Argentina, seu mais famoso campo de concentração (a Esma) também era numa escola, e hoje também é museu.

Ainda no Centro de B. Aires, o ‘Imperialismo Verde-&-Amarelo‘: o Itaú (e a Petrobrás) estão engolfando a América do Sul, já cliquei o banco também no Paraguai e Chile.

A prisão ‘Pérola’ era chamada ‘Universidade’.

No Camboja, um professor se tornou genocida. Na Argentina, os genocidas se criam professores…..

……….

Hitler e Pol Pot almejaram fazer desaparecer toda e qualquer pessoas que lhes contestasse.

Entre muitos outros que vibravam na mesma frequência, claro.

Mao na China, Stalin na URSS, Franco na Espanha, os exemplos são múltiplos, não ficam tão atrás.

Então. Em menor escala, Videla também nutria semelhante anseio.

Zona Sul de Buenos Aires: periferia típica argentina, casas de alvenaria com porta direto pra rua. No Chile e no Nordeste Brasileiro é assim também.

Claro que não com tanta ferocidade pois isso não lhes era possível.

Porém a junta ditatorial argentina pretendeu se não eliminar de forma plena todos os que lhe contra-disseram, ao menos desumanizar (não é modo de dizer) aqueles que eles capturassem.

A intenção das torturas sofridas na Esma, na ‘Pérola’ e nos outros centros clandestinos era fazer com que o militante se arrependesse.

E não apenas de ter resistido a ditadura, mas que chegasse ao ponto em que ele se arrependesse mesmo de ter nascido.

……..

Os ditadores brasileiros empregavam força bruta contra seus oponentes, é óbvio.

Em Mendonça, de novo as portas na calçada. Mas com um detalhe extra, os canais pra escoar água que desce dos Andes. Isso só há em Mendonça e alguns bairros de Santiago do Chile.

Nossa ditadura torturou e matou sem piedade muita gente.

Só que ela empregava a força apenas que achava necessária pra não ser derrubada.

Não pretendia, digo de novo, eliminar fisicamente toda e qualquer oposição.

Tanto que vários presos políticos foram julgados pelo tribunal militar.

Evidente que sendo o juiz e o promotor militares, a condenação era quase sempre certa. Mas em alguns poucos casos houve absolvições.

E o mais importante, a ditadura brasileira quis manter essa réstia de legalidade. O que trouxe uma vantagem:

Após ser julgado num tribunal militar, o preso político ficava detido injustamente, e era torturado, é certo. Mas ele não podia mais ser executado sumariamente, uma vez que havia a ficha dele nos arquivos da justiça militar.

Próximas 2: Vicente Lopes. A estação Rivadávia vista acima fica ainda no município de Buenos Aires (‘capital federal’). Mas cruzando o viaduto muda-se de município e de estado, entramos em Vic. Lopes, subúrbio metropolitano abastado. Natural, pois também é Zona Norte, a parte rica da cidade. Aqui vemos ao pôr-do-sol a av. principal de Vic. Lopes, a esquerda uma rua mais calma numa tomada já noturna.

Assim se ele simplesmente desaparecesse, juridicamente os próprios militares se acusariam por genocídio.

Esse detalhe, se não evitou prisões arbitrárias e torturas, certamente impediu execuções em massa.

É importante dimensionarmos isso muito claramente.

Pois na Argentina não funcionou dessa forma. Lá não houveram esses mecanismos ‘legalistas’.

A ditadura argentina não usou simplesmente a força necessária pra frear a oposição.

Lá, ao contrário daqui, os ditadores almejavam eliminar fisicamente toda e qualquer oposição.

O regime argentino se assemelha mais ao de Pol Pot, no distante Camboja, que ao de Médici no Brasil que está a seu lado.

Assim embora curioso é natural que o seu ‘QG do Terror’ tenha funcionado numa escola. Hoje o local é um museu.

Isso é mais um ponto que une os regimes do Camboja e da Argentina.

O ‘QG do Terror’ argentino também era numa escola (mostrada acima da manchete), embora nesse caso uma escola militar.

Indo diametralmente pro outro lado da metrópole: também num fim-de-tarde, o Centro de Avellaneda (sede do Racing e do Independente); igualmente região metropolitana, mas agora Zona Sul.

A Esma (Escola de Mecânica da Marinha) era equivalente ao ‘Dops’ argentino, como já dito e é de domínio público.

Quero apontar o seguinte. No Brasil, os presos políticos ficavam detidos injustamente e eram torturados, sim.

Porém executados em massa não. No Camboja, e também na Argentina, a intenção era mais macabra.

Pretendia-se, se possível, aniquilar fisicamente todo e qualquer opositor.

Assim os presos ficavam nos respectivos ‘QG’s do Terror’ apenas o tempo necessário pra se arranjarem os procedimentos necessários pra sua execução.

Córdoba. Na traseira de um ônibus urbano vemos 2 detalhes: 1º, a inscrição “As Malvinas são argentinas“, pra ver a popularidade do mantra; 2º, esse buso é municipal (da capital estadual), só tem 1 placa. Já entenderá porque digo isso.

Pouca gente escapou com vida das ‘Escolas do Terror’ do Camboja.

Na Esma, literalmente a ‘Escola do Terror’ argentina, o mesmo se repetiu.

Enfatizando de novo, somente 150 presos foram libertados vivos.

Provavelmente eram o que estavam ali quando a ditadura acabou, não houve tempo de matá-los. 

Mais de 5 mil foram chacinados apenas na Esma.

Só os mortos nesse local já configuraria a ditadura argentina 5 vezes pior que a brasileira em números absolutos, 20 vezes em termos proporcionais.

Como já explicado a Esma só teve uma única fuga em todo tempo que operou, e o fugitivo foi morto poucos meses depois.

Também Córdoba, e também um buso urbano. Mas tem 2 chapas. E por que? No estado (‘província’) de Córdoba, todos os veículos comerciais (os que aqui no Brasil teriam placa vermelha) necessitam ostentar uma segunda chapa com o registro estadual. Os ônibus municipais estão dispensados, mas os inter-municipais (tanto metropolitanos, esse caso, quanto de viagem) têm que ter.

Seu cadáver foi exibido como troféu pelos militares num cortejo macabro pelas dependências do centro de tortura.

Por que não houve mais fugas na Esma? Era impossível fugir. De segurança além da máxima pois o epi-centro mesmo da repressão. Além de trancafiados em celas vários prisioneiros ficavam acorrentados nas mãos e pés.

Um conceito oriental. Na China e boa parte da Ásia (Japão, Coreia e povos Malaios) a visão é bem mais dura contra os presos.

No Oriente se diz que o objetivo das cadeias não é apenas prender o corpo, mas também a Alma dos prisioneiros.

Os asiáticos entendem que os presídios ocidentais são muito suaves.

Táxi em Córdoba. Com as duas chapas.

Por deixarem o preso privado da liberdade física, mas permitindo a conversa, raciocínio, associação e ócio dos presos.

Não é segredo pra ninguém que as cadeias da China e Coreia do Norte são campos de trabalho forçados.

Em que os detentos trabalham 14 horas por dia ou mais, 365 dias por ano e 366 nos bi-sextos.

Essa é a pintura padronizada estadual do transporte escolar em Córdoba. Com as 2 placas dos veículos comerciais (no Chile, Colômbia e Peru não há a 2ª chapa, mas eles precisam pintar a principal na lateral).

E sem poderem conversar entre si, sem sequer ser permitido desviar o olhar.

Fato menos conhecido é que no rico e civilizado Japão não é tão diferente:

Os presídios também empregam legalmente instrumentos de correção que em quase todos os países do mundo seriam considerados tortura.

Por exemplo, no Japão um preso que comete uma infração disciplinar grave é atado a uma cadeira por 3 dias, até seu pescoço, punhos e tornozelos são  imobilizados.

Nos outros estados não há 2ª chapa. Essa é a padronização dos escolares em Buenos Aires (local dessa tomada) e Mendonça. Eu disse ‘vermelho’, o taxista me corrigiu pra ‘laranja’. Seja como for, é a 1ª vez que vejo um ‘Escolar’ que não é amarelo, tom que ostentam no Brasil, EUA, Chile, entre outros.

A alimentação é por soro intravenoso, e outros tubos dão conta das necessidades fisiológicas.

Em nações ocidentais, se recorre a ‘solitária’ nesses casos.

O cara fica isolado numa cela escura sem falar com ninguém, mas sem estar impedido de movimentar seu corpo.

Pois bem. No Japão, como visto, o conceito é mais amplo:

O preso fica atado completamente imobilizado, literalmente os únicos músculos que ele consegue mexer são os olhos, a boca e os dedos e nada mais.

E isso não é um castigo infligido no porão ilegalmente por um carcereiro particularmente cruel, mas sim um recurso legal aplicado a luz do dia por todos os agentes da lei.

Boliche em Córdoba. Esse esporte é muito mais popular na Argentina que no Brasil. Inclusive ‘ir ao boliche’ na periferia das grandes cidades desse vizinho país significa ‘ir pra balada’, pois nas mesmas casas noturnas que oferecem pistas de boliche também há outras opções de lazer: sinuca, caraoquê, música ao vivo, pista de dança, barzinho. Vi na Argentina um garoto brincando de boliche sozinho na calçada, em plena via pública. Ele arrumava os pinos e a seguir arremessava uma bola de tênis neles, pelo ar mesmo e não ao nível do chão. Suficiente pra provar a popularidade da modalidade. Na República Dominicana vi meninos fazendo uma pelada de beisebol, e agora isso.

Citei essa punição exemplar, que é certo é usada somente em casos extremos mas ainda assim é a lei da terra.

Pra mostrar que o oriental vê a correção dos presos de forma completamente diferente do ocidental.

Na Ásia, o conceito é tirar a liberdade não só física como mental.

Não basta estar trancado entre muros, mas existe ‘a prisão dentro da prisão’, o detido não pode sequer movimentar seu corpo a vontade, incluindo a fala e a visão.

 …….

Entendendo isso, vê-se o porque escolhi nomear essa matéria como ‘Pol Pot na América’. Não é exagero, infelizmente.

Digo, é óbvio que em termos de quantidade o Camboja foi infinitamente pior.

Pois o regime de Pol Pot foi o maior banho de sangue da história da humanidade, em termos proporcionais a população do país.

Próximas 3: Jd. Botânico de B. Aires, na parte rica da cidade, entre Palermo e Recoleta. Aqui a estátua-símbolo de Roma/Itália, os gêmeos Remo e Rômulo mamando na loba.

Em apenas 16 anos (1963-1979) a ditadura do Khmer Vermelho eliminou nada menos que 25% da população cambojana.

(Nisso contando os combates pra que ela assumisse o poder, ali se mantivesse, e depois a invasão vietnamita pra derrubá-la.) 

Pol Pot e seus asseclas simplesmente dizimaram o Camboja. Dizimaram.

Óbvio que a ditadura argentina de Videla e seus colegas não passou nem perto disso, eles mataram “apenas” 0,1% da população argentina. Ainda assim 0,1% em somente 7 anos não é pouco.

Se os generais, almirantes e brigadeiros argentinos tivessem ficado os mesmos 16 anos de Pol Pot mantendo o mesmo ritmo de execuções, eles teriam matado nada menos que 0,25% da população total argentina.

100 vezes menos que Pol Pot? Sim. Mas bicho, ter 1% da letalidade do mais sangrento regime da humanidade já é sangrento o bastante.

Em outras palavras, mesmo 1% do pior genocídio da história do Planeta Terra já configura um genocídio em si mesmo.

Em 21 anos a ditadura brasileira eliminou a vida de 0,001% dos brasileiros.

Portanto faremos uma comparação grosseira entre o número de cadáveres e os anos em que estiveram no poder.

Assim, diríamos que se fossem os mesmos 16 anos de Pol Pot, a taxa no Brasil seria 0,0008%.

Resultando, arredondado grosseiramente pros 16 anos do Khmer Vermelho no Camboja, ou seja dobrando o período da ditadura argentina e reduzindo a brasileira pro mesmo tempo, mas em ambos os casos mantendo a taxa de letalidade:

Vão longe os tempos que a Argentina tinha pouca pobreza. Aqui e a direita, pessoas revirando as latas de lixo de Buenos Aires em busca de algo pra vender. Fotografei mais, a cena é bem comum, até descartei outras imagens. Essa tomada foi feita próxima a São Telmo, na Zona Central.

– Camboja, 25%

– Argentina, 0,25%

– Brasil, 0,0008%.

Já reconheci acima e enfatizo de novo, obviamente trata-se de um arredondamento grosseiro.

Toda hipótese é especulativa por natureza, o que nunca aconteceu só pode ser imaginado, o que sempre torna a comparação imperfeita. 

Feita essa ressalva, o emparelhamento dos números é útil pra deixar nítido como o regime ditatorial argentino esteve mais próximo do cambojano que do brasileiro.

E aqui em plena Recoleta, Zona Norte.

…….

Veja bem, não estou argumentando que a ditadura brasileira foi suave ou gentil.

Evidente que em nosso país os generais também deram um golpe pra assumir um poder que não lhes pertencia.

E depois reprimiram ferozmente quem lhes negava a legitimidade, seja por métodos pacíficos ou de insurreição. 

É um fato, e renomear o processo como ‘Revolução’ ou mesmo ‘Contra-Revolução’ não altera a realidade.

Contraste social agudo: na mesma região de Palermo e Recoleta, perto de onde o rapaz revira o latão, lojas chiques e caras com nomes em inglês.

E a realidade é a de que eles derrubaram um presidente que havia sido ratificado pela vontade popular não apenas uma mas duas vezes:

A 1ª quando eleito, pois na época o vice-presidente era eleito diretamente. Era diferente de hoje.

Atualmente, a chapa é ‘casada’, você vota só pra presidente, o vice vem junto no ‘pacote’.

Portanto agora o povo só elege o presidente, o vice é o partido ou coligação quem escolhem. Mas antigamente não era assim, entendamos bem a diferença.

A classe média argentina adora cães. Pode ser que os dois bichos sejam desse rapaz; mas lá existe a profissão de ‘passeador de cachorros’, o cara ganha pra levar os animais darem uma volta, é mole? Avellaneda, Z/S metropolitana de B. Aires.

Antes você votava separadamente pro cargo de presidente, e depois pro de vice. Portanto eles podiam ser de partidos diferentes.

Resultando que, se o titular se afastasse, o vice havia sido escolhido diretamente por sufrágio democrático pra governar a nação, tanto quanto aquele que ele substituiu.

Assim João Goulart (‘Jango’) havia sido eleito diretamente pelo povo brasileiro pra ser vice, e caso necessário o presidente. Mas tem mais.

No plebiscito de 63, o presidencialismo ganhou por ampla maioria, referendando mais uma vez o mandato dele como presidente legítimo.

Próximas 2: Vila Carlos Paz, uma espécie de ‘Campos do Jordão Argentina’, bem próxima a Córdoba. Uma cidade muito bonita, quem pode bancar tem casa na orla do lago.

Obviamente a implantação do parlamentarismo em 61 já havia sido um ‘golpe branco’ na presidência de Jango.

Com a revogação dele em 63, no fatídico dia 31/03/64 veio o golpe aberto.

Portanto não estou de forma alguma negando o golpe e a ditadura brasileiras.

Não concordo com muitas coisas que a esquerda prega.

Ainda assim tampouco compactuo com a prática da direita de mascarar um golpe com ‘aforismos’ diversos.

Numa praça no Centro,  caça da Força Aérea.

Então a ditadura brasileira foi exatamente isso, uma ditadura militar.

Generais que subiram ao poder ilegitimamente atropelando a Constituição, e derrubando um presidente duas vezes votado pela maioria da população brasileira.

Vocês já sabem de tudo isso, provavelmente até melhor do que eu. Estou colocando isso aqui pra fazermos o paralelo com a Argentina.

E pra mostrar pra imensa maioria que não estudou o processo em nosso vizinho como lá foi infinitamente pior que aqui.

A ditadura brasileira era uma ditadura mesmo. Ainda assim, o regime brasileiro tentou manter uma réstia, uma casca de legalidade.

Aqui e a direita: as margens da estrada que liga Córdoba a Carlos Paz. As colônias de veraneio entre o lago e a montanha.

Tanto que manteve o congresso, ainda que fantoche pois expurgado de qualquer oposição verdadeira.

Entretanto, Pinochet no Chile não teve sequer essa preocupação. Nos anos que ele foi presidente (1973-90) simplesmente dispensou o Congresso.

Mesmo como fachada, mesmo como encenação, nem assim existiu.

Por 17 anos o Chile não teve poder legislativo, caso raro senão único na história.

O que o generalíssimo determinava era a automaticamente lei.

Não precisando de um crivo legalista nem mesmo encenado.

Como curiosidade pra fecharmos o Chile que não é nosso tópico de hoje, até 1973, no golpe, o Congresso era em Santiago, então a única capital do país.

“O Brasil te espera!”, diz anúncio em Córdoba.

Quando o Congresso foi reaberto com a volta da democracia em 1990, foi transferido pra outra cidade, Valparaíso.

Assim hoje o Chile tem mais de uma capital, como também ocorre na Bolívia e África do Sul, por exemplo.

Portanto aqui já temos o exemplo de um regime ditatorial sul-americano que foi muito mais severo que o nosso. Mas o argentino foi hours-concours na América do Sul.

E em toda a América, talvez só menos pior que os da Ilha Espanhola (Trujillo na República Dominicana e Papa Doc no vizinho Haiti).

Esses executaram cada um mais de 1% da população de seus países.

Bem, a massa ali é formada por negros e mulatos. Aí os militares descarregaram munição sem dó nem piedade.

Centro de Buenos Aires, Obelisco ao fundo.

Tirando esses casos extremos, Videla e seus almirantes e generais são os recordistas. Realmente implantaram a própria ‘Escola do Terror’.

Pol Pot na América. Não é modo de falar.

…….

Que Deus Ilumine a Argentina e a toda humanidade.

Deus proverá

“Voka” x “Riber”: no futebol da Argentina, a guerra invadiu a linguística

“RiBer Plate”???? É assim que o Boca se refere ao inimigo, com ‘B‘ gigante, desde que ele disputou a série B em 2012. A torcida do River risca a letra ‘B’, óbvio. Pra devolver o favor eles grafam Boca como ‘Voka’, a pronúncia é a mesma. Abaixo falo melhor desses ‘câmbios consonantais’.

Por Maurílio Mendes, O Mensageiro

Publicado em 17 de abril de 2017

Maioria das fotos de minha autoria. As que foram baixadas da internet eu identifico com um (r) de ‘rede’.

Como abri a série dizendo (e é notório), a Argentina foi  riquíssima pela maior parte do século 20, até algumas décadas depois da segunda guerra mundial.

Essa não é mais a realidade, agora ela é um país plenamente latino-americano, com tudo que isso representa.

Isso porque nos últimos 40 ou 50 anos houve uma decadência severa, e multi-dimensional: em termos econômicos, políticos, sociais e mesmo culturais.

Agora, existe um ponto que a Argentina não decaiu nem um pouco, o futebol. Ao contrário, nesse campo (literalmente) essa nação continua sendo a potência que sempre foi.

No alambrado: na Argentina é assim que os cabeças da barra-brava (torcida organizada) veem o jogo, sempre trepados nas grades. A cidade de Buenos Aires, incluindo os subúrbios, ganhou nada menos que 25 Libertadores – nesse caso, atualizado em 2019; em outras partes do texto uso dados de 2017, quando fiz a matéria. Pra sentir a Alma Portenha, fui ver São Lourenço x Atlético Paranaense por essa competição. Não sou torcedor do CAP, esclareço. Apenas esse foi o jogo que deu certo eu ir.

Argentina É futebol, eu disse na em outra mensagem. Assim de fato a coisa se manifesta:

Das 59 Libertadores eles ganharam 25 (atualizado em 2019).

E esse fluxo vencedor de títulos se mantém constante, desde que a competição começou em 1960.

Não é difícil entender as razões. A primeira é que realmente os caras sabem jogar bola.

E a segunda é que a Argentina é um país bem menor que o Brasil, não tem campeonato estadual.

Terceiro, com o futebol concentrado desproporcionalmente na capital e seus subúrbios.

Assim, ganhar o campeonato argentino é quase como ganhar aqui o campeonato estadual:

Os times que brigam pela taça são praticamente todos da mesma cidade. No máximo de cidades tão próximas que você vai de ônibus urbano ao estádio adversário.

Rei de Copas“: apenas o Independente de Avellaneda, também chamado “Diabo Rubro”, levou 7 Libertadores (sei que no espanhol é ‘Independiente’ – é que eu traduzo tudo pro português).

Por isso, desde que a Libertadores começou eles dão a vida pra ganhá-la.

Nas 3 primeiras décadas, o Brasil desprezou essa competição, que então ficou restrita a uma disputa entre Argentina e Uruguai.

Com uma população que é 20% da nossa, os argentinos ganharam 50% a mais de Copas Libertadores de clubes que o Brasil (24 x 17, os dados são de abril.2017, quando faço o texto).

E quase 100% a mais de Copas América de seleções (14 x 8, embora nesse quesito específico eles estejam em jejum desde 1993, enquanto nesse período o Brasil levantou 4 canecos).

Claro, faça-se o adendo que na competição máxima de seleções que é a Copa do Mundo o Brasil é hegemônico não apenas continental como globalmente, foi campeão 5 vezes

Contra 2 do vizinho paíso último título deles foi no México em 1986, quando Maradona marcou até gol de mão (abaixo).”

ORAS, MAS QUE DIABO!!!” – então aqui está, um torcedor do Independente a caráter e sentado no alambrado. Desenho publicado em 9 de setembro de 2016, antes de eu ir a Argentina portanto.

……….

Ainda assim na América o domínio alvi-celeste é incontestável. Que os argentinos sabem jogar é auto-explicativo. Falemos então da concentração na capital.

No Paraguai, Chile (nesses 2 já fiz matérias específicas sobre o tópico), Peru e Uruguai o modelo é exatamente o mesmo.

Se você fizer uma disputa metropolitana da capital mais alguns subúrbios, na prática eis o campeonato nacional.

Alias por um tempo houve na Argentina esse campeonato chamado ‘metropolitano’, e ele tinha a mesma importância do nacional.

Esse país já teve muitas formas de disputa em seu certame nacional, abaixo faremos um resumo das diversas fórmulas que já foram usadas.

Mão de Deus“: nosso foco são as disputas entre clubes. Mas dando uma pincelada nas seleções, contra a Inglaterra em 1986 Maradona fez 2 gols épicos, um esse que vocês estão presenciando, só o juiz não viu. Como esse jogo foi no México, eu falo dele na postagem sobre o futebol mexicano.

Aqui, o que quero ressaltar é que na Argentina e várias outras pátrias acima citadas o futebol basicamente se resume a capital. Mas isso está longe de ser universal.

Na Colômbia e México o super-clássico nacional opõe capital x interior (repetindo o modelo europeu), como descrevi com detalhes em outras oportunidades.

Alias os 3 títulos da Libertadores colombianos foram ganhos pelo interior.

No Equador, alguns dizem que o super-clássico nacional nem envolve a capital, é Barcelona x Emelec, ambos de Guayaquil – mas a única Libertadores equatoriana foi ganha pela capital Quito.

Enquanto na Bolívia a capital La Paz é o polo principal, os dois maiores vencedores são dali, mas o interior é muito forte também – por exemplo o único tetra-campeão boliviano é de Cochabamba.

Meu ingresso pra ver São Lourenço x “Paranaense”: como sabem, o CAP aqui em Curitiba é conhecido como “Atlético“, e nacionalmente “Atlético Paranaense” pra diferenciar do Atlético Mineiro. Mas na Argentina e por consequência nos demais países hispânicos, o CAP é o “Paranaense”. Não é difícil entender o porque, já que na Argentina quase todos os times se chamam ‘Clube Atlético’: Clube Atlético River Plate, Clube Atlético Boca Jrs., Clube Atlético Independente, Clube Atlético São Lourenço de Almagro, Clube Atlético Belgrano, Clube Atlético Talleres, etc. Dos 30 times na 1ª atualmente (2017), nada menos que 21 são ‘Clube Atlético’, que assim é um prefixo, e não o nome do time. Aplicando a mesma lógica ao CAP, ficou como “Paranaense”.

…….

De volta a nosso foco de hoje. Citei esses países acima pra pôr no contexto, fazendo o contraste. Na Argentina, entretanto, esse esporte basicamente se resume a Buenos Aires e imediações.

Dos 30 participantes da 1ª divisão em 2017, 60% são da Grande Buenos Aires (“Bs. As.”) e da cidade de La Plata.

Leve em conta que em 2015 o campeonato argentino passou por massiva ampliação, exatamente pra aumentar a presença do interior.

Nesse ano de 20 passaram a ser 30 participantes. Logo, de 2 turnos reduziu pra turno único. Apenas os maiores clássicos de cada região se repetem pra inverter o mando.

Os clubes foram emparelhados em duplas contra seu maior rival: Boca x River, Independente x Racing, Rosário Central x Newell’s, etc; nas oportunidades em que não há um clássico da cidade aí vai contra o time da cidade mais perto.

Quando eram 20 times, quase 80% deles eram da capital, região metropolitana e La Plata, que não é região metropolitana mas quase. Exemplifico nos mapas.

Observe os mapas (confira a fonte deles aqui): quando eram apenas 20 times, quase 80% eram da capital. Pegamos o ano de 2008 como exemplo que é típico: apenas 6 do interior enfrentando 14 times de Buenos Aires  no campeonato ‘argentino’. Ou seria melhor dizer ‘campeonato portenho‘?

Um adendo. Como explicado na postagem anterior e é notório, o município de Bs. As. fica dentro da província de Buenos Aires, mas não pertence a ela.

Assim como quando o Rio era nossa capital até 1960 o município do Rio de Janeiro (então nosso D.F.) ficava dentro do estado do Rio de Janeiro mas não pertencia a ele.

Então. E La Plata é a capital da província (pra nós seria chamado ‘estado’) de Buenos Aires. Dista apenas 55 km da capital federal.

Não faz parte da área urbana da Grande Buenos Aires, mas está muito próxima, é um subúrbio estendido. La Plata tem com Buenos Aires mais ou menos a mesma relação que Jundiaí tem com São Paulo, se quiser ver assim.

Nesse texto sobre futebol quando eu falar “Buenos Aires” ou “capital” isso inclui a região metropolitana e mais a cidade de La Plata, que não é região metropolitana mas falta muito pouco pra isso. Esclarecido, vamos lá.

Em 2015 passaram a ser 30 times. Aí a capital ficou com ‘apenas’ 60% deles.

Entre os campeões a supremacia da capital é ainda mais pronunciada. Depois que iniciou-se o profissionalismo (de 1931 pra cá, muitas vezes eram 2 campeonatos no mesmo ano) foram 131 troféus.

121 deles conquistados por Buenos Aires, mais de 91% portanto. De cada 10 edições, 9 taças ficam na vizinhança.

Está claro: ganhar o campeonato argentino pros clubes da capital é como ganhar o paulista ou carioca pros clubes brasileiros. Logo é preciso alçar voos mais altos pra coisa ter alguma graça.

E qual é essa esfera mais alta? A Libertadores, evidente. Resultado: o Independente de Avellaneda tem 7, o Boca 6, Estudantes de La Plata 4, River Plate 3, pra citar somente os multi-campeões.

1960-1988: disputa particular uruguai x argentina
1989-presente: a decadência uruguaia sim; argentina não

Mural do Belgrano em Córdoba: manifestação oni-presente no vizinho Chile, comum em Córdoba já numa proporção menor e inexistente em Buenos Aires e demais cidades argentinas. Ou há muitos poucos, vejo na internet, mas ao vivo não presenciei, e rodei 4 dias na capital argentina.

O domínio já foi ainda mais acentuado. A Libertadores da América se divide em 2 períodos, 1960-1988; e 1989-presente.

Explico. Até o fim dos anos 80, Libertadores significava na prática “Campeão do Rio da Prata”.

Já que ela era pouco mais que uma ‘recopa’ entre argentinos e uruguaios.

Como se sabe, nas 3 primeiras décadas o Brasil desprezou a Liberta. Por exemplo, o Santos de Pelé venceu a 3ª e a 4ª edição da competição, sendo bi em 1962/63.

Postes pintados, também em Córdoba e também pela torcida do Belgrano. Em relação aos postes, repete-se o que falei dos murais na legenda anterior: no Chile em toda parte, em Córdoba um pouco, em Buenos Aires não há – nesse caso não vi sequer pela internet.

Mas depois o clube, numa decisão que se arrende amargamente até hoje, achou que era mais lucro excursionar pela Europa.

Resultando que preferiu não mais disputar esse campeonato, ou pelo menos não com o time principal.

Tivesse centrado forças no torneio continental americano, o Santos fatalmente seria tetra, penta e quem sabe até hexa campeão da Libertadores.

Não foi assim que ocorreu.

O alvi-negro praiano e todos os outros times brasileiros voltaram as costas pro principal certame do continente.

Argentinos e uruguaios agradeceram, e o transformam numa disputa particular deles.

Idem, ibidem. Mural e poste na mesma cena.

Em 1988, de 29 taças a Argentina tinha 15 (mais da metade!!!), o Uruguai (que é uma nação muito pequena) nada menos que 8 (5 do Penharol e 3 do Nacional). 

O Brasil somente 5 (um terço da Argentina e bem menos que o Uruguai), o Paraguai 1, nenhum outro país havia vencido.

A coisa era tão aberta que por 12 anos seguidos (1964-75) a taça ficou alternando entre Buenos Aires e Montevidéu somente.

Próximas 2: pichações nas ruas de Córdoba.

O Independente foi tetra seguido (72-75), o Estudantes de La Plata foi tri (68-70), sendo que em 1969/70 foi bi-campeão invicto. Todas essas façanhas permanecem inigualadas até hoje.

Porém, em 1989 a trajetória da Libertadores fez uma curva, que afetou o Uruguai negativamente e Brasil e mais 4 nações positivamente.

Em 1988, o Uruguai tinha 8 taças, o Brasil 5. Mais que isso: Brasil, Paraguai, Colômbia, Chile e Equador somados tinham apenas 6.

Aqui vemos homenagens aos dois clubes. ‘Yuta’ – que o torcedor do Belgrano deseja matar – significa ‘polícia’. No Chile o termo é o mesmo, e também do outro lado dos Andes alguns gostariam de eliminá-la.

De lá pra cá o Uruguai não ganhou mais nenhuma – já se vão 29 anos de jejum. Somados, esses 5 países acima deram 19 voltas olímpicas nesse espaço de tempo.

O Brasil venceu 12, é o maior campeão do período (a Argentina levou mais 9). Colômbia 3, Paraguai 2, Chile e Equador 1 cada.

……..

Portanto: o Brasil, depois que voltou os olhos pra Libertadores, foi o vencedor dessas quase 3 décadas, 12 taças contra 9 da Argentina. Como a diferença era de 3/1, a distância diminuiu muito mas eles seguem com larga vantagem.

Estádio Olímpico Mario Kempes, Zona Oeste de Córdoba, 2º maior do país, construído pra Copa de 78, da qual hospedou 8 partidas. Recebeu também 2 Copas América, de 1987 e 2011. Tudo isso entre seleções. Também foi nele a decisão da Copa Sul-Americana de 2020 entre clubes (desde 2019 a final tem jogo único, em sede pré-determinada antes do início da disputa). No dia que fiz o texto – Domingo de Páscoa/17 – se enfrentaram ali Talleres x Belgrano pela 1ª divisão, o que não ocorria há 15 anos.

O Raio se espalhou pelo continente. Essas 4 outras nações que somadas só haviam vestido a faixa uma única vez o fizeram mais 7 vezes, dessa forma multiplicando por 8 seu quinhão de conquistas.

O Uruguai parou no tempo. Entrou numa decadência cruel.

Por outro lado, a Argentina não decaiu (ao menos no futebol), é isso que quero apontar.

Os anos 90 e 10 (até 17, quando escrevo) foram de preponderância brasileira, é certo.

Entretanto a primeira década do século foi novamente argentina com 5 títulos, sendo 4 só do Boca.

Quando Boca e River (ou ‘Voka’ e ‘Riber’, já falo dessa parte) disputam mais um super-clássico, estão em campo nada menos que 9 Libertadores.

Sede do Talleres (se pronuncia “Tachéres”) no Centro de Córdoba.’Taller’ significa ‘oficina’. Oficina de qualquer coisa, pode ser desde oficina mecânica até oficina de artesanato. No caso, são as oficinas de trens, pois o clube foi fundado pelos trabalhadores que operavam e consertavam as locomotivas. Da mesma forma, em Ponta Grossa-PR há o Operário Ferroviário, cujo estádio fica no bairro Oficinas (da ex-RFFSA), na Zona Sul.

Avellaneda é um subúrbio da Zona Sul da Grande Buenos Aires, que sedia dois clubes, Independente e Racing. Pois bem.

Os dois já deram a volta olímpica no torneio máximo continental, o Independente nada menos que 7 vezes, ainda é o ‘Rei de Copas’. Até o ‘clássico suburbano’ opõe ambos times campeões da América. Isso é Buenos Aires, amigo.

……….

Agora, o futebol argentino não mingou com a virada pros anos 90. Mas seu maior campeão da Libertadores sim, esse murchou. O Independente tem 7 taças – mas a última foi no já distante ano de 1984.

Nesse ano, em que logrou sua sétima vitória, o River era virgem, nunca tinha ganho. O Boca tinha 2 taças.

Quando o novo milênio adentrou os dois maiores clubes argentinos estavam empatados, 2 pra cada.

Voltando a Buenos Aires, aqui está a sede do Racing no Centro de Avellaneda. Como o rival Independente jogava no dia e os estádios são a poucas centenas de metros dali, uma viatura da polícia faz a guarda, pra evitar problemas.

Aí veio a impressionante década de 2000. O Boca foi campeão 4 vezes, totalizando 6, bi em 2000/01, e de novo 03 e 07.

E com isso está nos calcanhares do Independente. O River, após quase 20 anos de jejum, levou de novo em 2015, e agora tem 3, ainda metade de seu arqui-rival.

……..

Em relação aos títulos nacionais, aí a vantagem é do River, que venceu 35 vezes, 10 a mais que o Boca que vem logo atrás. O Independente tem 14, São Lourenço 12, e o Vélez Sarsfield 10.

São os únicos que atingem os 2 dígitos. São Lourenço e Vélez ganharam a Libertadores uma vez, em 2014 e 1994 respectivamente.

Por ter sido mais vezes campeão argentino, o River Plate se diz “o maior da Argentina, muito longe dos outros”. Cada um diz o que quer, não necessariamente sendo verdade.

Pouco antes de clicar a imagem acima, eu passei em frente aos estádios. Aqui a multidão faz fila pra adentrar as arquibancadas do campo do Independente.

Na Argentina, o que conta é Libertadores, que o Boca tem o dobro. O certame nacional é chamado pejorativamente por lá de “navegação de cabotagem”.

Eu não tenho qualquer preferência pelo Boca, exatamente ao contrário, o time que tenho alguma simpatia na Argentina é o Independente.

Não gosto do Boca Juniors, nem um pouco, ressalto de novo. Só que números são números. ‘Só idiotas discutem com números’, diz o ditado.

A torcida do Boca é disparado a maior, com 30% dos argentinos sendo ‘xeneizes’, o apelido deles – é uma corrutela de ‘genoveses’.

Dando uns passos pra frente, não vemos mais o estádio do Independente, vermelho como o clube. Mas está óbvio que estamos na frente dele, pois ainda vemos a mesma galera na fila. Agora há o do rival Racing ao fundo, também nas cores do clube, nesse caso azul-claro.

O River vem logo a seguir com 20% da preferência nacional. A alcunha do River é ‘Milionário’.

São os dois gigantes, contra eles não há competição possível em termos de torcida. O 3º clube mais popular da Argentina é o Independente (o ‘Diabo Rubro’), escolha de 5% dos argentinos. 

Esse número já foi muito maior, a decadência do clube tem cobrado um alto preço, como é natural.

Repito, em 1984 o Diabo tinha 7 Libertadores, contra 2 do Boca e River somados. De lá pra cá não ganhou mais, e viu o Boca levar 4, o River mais 3.

O River não por acaso se auto-define como ‘o Milionário’. Foi fundado no bairro da Boca, o mesmo de seu arqui-rival.

Invertendo as posições: agora estou defronte o campo do Racing, ao fundo o do Independente, como as cores de cada um deixam claro.

A questão é que a muitas décadas se transferiu pra Zona Norte, que é a parte aburguesada de Buenos Aires. O Boca é da Zona Sul, a porção proletária da cidade.

A Zona Norte, no município de Buenos Aires (ou seja, sem incluir região metropolitana), simplesmente não tem nenhuma favela.

Nenhuma. Buenos Aires está coalhada da favelas, e elas assustadoramente triplicaram nesse milênio. Todas nas Zonas Sul, Oeste e Central – Bs. As. não tem Zona Leste.

Camaradagem: o Racing abriu sua bilheteria pra torcida do rival Independente.

Abordei o assunto da miséria na capital argentina na outra postagem, com fotos, gráficos e mapas. Aqui só volto ao tema pra dizer que de fato o Boca é ‘time do povo’.

Enquanto o River domina entre os que tem mais acesso a renda e educação, e a localização dos estádios reflete isso.

Claro que a correspondência não é 100%. Muita gente prefere o River na periferia, e outros torcem pelo Boca mesmo sendo da elite e alta-burguesia. Não é 100%. Mesmo assim, nas favelas o Boca domina amplamente, alias de várias das enormes favelas da capital e região metropolitana dá pra ir a pé a ‘Bombonera’.

Os estádios são a 400 metros um do outro. E Avellaneda está inteira decorada com o ‘fantasminha vermelho da B‘, a torcida do Racing comemora o recente rebaixamento do Independente.

Essa preferência da massa, dos descamisados, se reflete nas demais quebradas e periferias pelo resto do país, independente da distância física pro estádio, é claro.

Já o ‘Monumental de Nunhez’ está incrustrado nos bairros mais elegantes e arborizados da cidade (na verdade fica no vizinho bairro de Belgrano, mas como é divisa com Nunhez, o nome pegou assim).

E esse extrato social elevado é o único em que o River tem maioria. Outra coisa: entre os mais velhos (acima de 60 anos) e entre as Mulheres o River também ganha. Quanto mais jovem e pobre, maior a distância a favor do Boca.

Ou seja: você está numa favela. Vem um garoto, de boné na cabeça. Ele usa uma camisa de futebol. A chance que seja do Boca ou do River é na proporção de 4 pra 1 a favor do Boca.

Mesmo recado na pichação: a “Guarda Imperial” Zona Oeste do Racing desenha o ‘B’ de chifres e escarlate, o Diabo caiu afinal.

………

A capital (com seus subúrbios) domina amplamente o futebol argentino. Levou todas as Libertadores do país, e 121 dos 131 títulos nacionais. Isso já disse.

O que quero adicionar aqui é que o interior da Argentina, em relação ao futebol, praticamente se resuma a uma única cidade: Rosário.

O interior ganhou 10 vezes, e todas as 10 por Rosário, 6 pelo Newell’s Old Boys e 4 pelo seu arqui-rival Rosário Central.

River x Boca (r), o ‘Super-Clássico‘ que para um país (esse aqui não se sabe se é de futebol ou polo aquático). Como dito na abertura, as tomadas com o ‘(r)’ são baixadas da internet.

Rosário também a única cidade do interior que chegou a final da Libertadores. 2 vezes (1988 e 92), ambas com o Newell’s. Perdeu ambas.

Ainda assim, essas façanhas são mais que suficiente pra colocar o Newell’s como maior time do interior da Argentina, disparado.

E Rosário como a maior cidade do interior, ao menos quando o quesito é esse esporte.       

Novamente: não tenho qualquer preferência pelo Newell’s, apenas analiso os números. Por outro lado, o Rosário Central venceu a Copa Conmebol de 1995.

Como se lembra quem tem idade pra tanto, esse era um torneio secundário, uma espécie de 2ª divisão da Libertadores, precursor da atual Copa Sul-Americana que cumpre esse papel hoje.

Das 131 taças do certame nacional, Boca e River levaram juntos 60, quase 45% somente pra 2 times. O campeonato argentino não é apenas concentrado na capital, mas é concentrado nesse clássico.

A Argentina ganhou 3 vezes a Conmebol, e sempre com clubes menores, fora do circuito.

O Talleres de Córdoba e o Lanús da Grande Buenos Aires também contam com essa façanha no currículo.

………

Córdoba é a maior cidade do interior, em termos de população. Rosário é a segunda, pouco atrás, e na sequência vem Mendonça.

Visitei Córdoba e Mendonça, infelizmente Rosário não deu pra ir. Mas pro futebol Córdoba e Mendonça são praticamente irrelevantes, alias todo o interior é irrelevante exceto Rosário.

Esse ano (2017) Córdoba terá seu clássico Talleres x Belgrano pela primeirona nacional. Fato raríssimo, faziam 15 anos que não ocorria.

Drones sobre o estádio no dia do jogo (r), . . . .

Esse times disputaram a 1ª divisão em 21 e 17 oportunidades respectivamente, mas em poucos anos os dois ao mesmo tempo.

O clássico foi disputado no dia que escrevo essas linhas, Domingo de Páscoa/17. Acabou empatado em 1×1, o que manteve o Belgrano em 29º e penúltimo lugar.

Pra completar o circo dos horrores pro clube, a torcida do Belgrano cometeu um crime monstruoso na arquibancada, atirou pelo vão da escada um rapaz de 26 anos, tudo foi filmado e as cenas correram o mundo.

Ele sofreu traumatismo craniano e acabou desencarnando no hospital. Pra piorar, depois descobriram que ele torcedor do próprio Belgrano, e não do rival Talleres como pensaram na hora. A briga não era por futebol, quem disse que o rapaz era da torcida inimiga mentiu por uma rixa antiga. Sem saber disso a ‘barra-brava’ do Belgrano assassinou um dos seus. ‘Fogo amigo’.

. . . um cara com a letra ‘B‘ na camisa na arquibancada (r), . . .

Bem, a violência nos estádios é universal na América Latina, quando estive na Colômbia vi cenas similares pela TV nos clássicos de Cali e Medelím.

E aqui no Brasil os cadáveres perecidos em guerras de torcidas se contam as centenas nessas últimas 3 décadas, numa realidade amaríssima.

Voltemos a Argentina. O Talleres subiu de novo somente esse ano, depois de 12 anos na 2ª e mesmo 3ª divisões.

Seu arqui-rival Belgrano está na 6ª temporada no torneio principal do país, mas deve cair esse ano. Quando eu estava na Argentina, vi pela TV o Belgrano vencer em casa o Racing de Avellaneda por 2×0. Era a sétima rodada, e foi somente a 1ª vitória do time cordobês.

. . . e infinitas pichações pela cidade: o Boca não cansa de relembrar ao River seu rebaixamento.

Até então eram 3 empates e 3 derrotas, estava em último.

Com o triunfo subiu pra penúltimo, o que não ajuda muito. 4 semanas depois, se mantinha no mesmo lugar.

Na Grande Mendonça é ainda pior, só há um clube na primeira, o Godoy Cruz. Há muito a cidade não vê um clássico local pela série A argentina

Se serve de consolo, como dito acima o Talleres de Córdoba já venceu um torneio internacional, a Copa Conmebol de 1999.

A final, vejam vocês, foi contra o CSA de Alagoas. Também chegaram a semifinal o Desportivo Concepção do Chile e o São Raimundo do Amazonas. Foi a última edição da Copa Conmebol.

‘voka’ x ‘riber’; rosário ‘bentral’; e o ‘paranaense’ de ‘curitiva’

No idioma espanhol, como se sabe, não há a pronúncia da letra ‘v’. Se escrevendo com essa letra ou com ‘b’, pronuncia-se tudo como se fosse ‘b’.

Veja ao lado: nossa bagagem não chegou conosco a Buenos Aires, só 2 dias depois. Eis a reclamação no guichê da Gol feita no aeroporto central de Bs. As., o Aero-Parque.

A viação aérea é brasileira, mas essa ficha foi preenchida na Argentina, por um funcionário argentino da empresa.

Quando eu estava na Argentina, esse país enfrentou o Chile pelas eliminatórias no Monumental de Nunhez. O time da casa jogou muito mal, e venceu por 1×0 graças a um pênalti duvidoso (diz a própria imprensa local) aos 16 do 1º. Sete minutos antes anularam um gol do Chile. Vi pela TV em Córdoba.

Perguntou que cidade morávamos, e respondemos ‘Curitiba’. O rapaz não teve dúvidas: mandou ver ‘Curitivano papel, porque pra ele a pronúncia é idêntica.

Isto posto, podemos entender porque a briga das torcidas nesse país vizinho invadiu a linguística:

Além de mais títulos na Libertadores e maior número de fãs, o Boca é o único clube que nunca foi rebaixado, que sempre disputou a 1ª divisão do profissional.

O River lhe fazia companhia até 2011. Mas nesse ano caiu, e teve que jogar a série B.

Resultado: desde então a torcida do Boca só grafa o River como ‘Riber’ Plate.

O que obviamente os ‘milionários’ odeiam. Volte ao topo da página e observe a primeira imagem, logo abaixo da manchete. Alguém do Boca grafou ‘RiBer’ no muro, propositadamente exagerando no ‘B’, que ficou gigante óbvio, pois é esse o ponto nevrálgico que enerva o inimigo. 

Córdoba: um torcedor do Talleres pintou o símbolo do clube sob a palavra ‘loucura’. Um rival do Belgrano profanou, dizendo ‘loucura de galinhas’. Na América Hispânica, é essa pecha que as torcidas tentam impôr sobre os adversários. Por isso o ‘T’ virou ‘G’, de ‘Galleres’, soma de ‘Talleres’ com ‘Gallinas’. ‘Peito Frio‘ também é uma expressão castelhana que quer dizer que o jogador não tem sangue quente, a camisa ‘não esquenta’ no peito, aí tanto faz ganhar ou perder.

Enervou mesmo. Algum torcedor do River foi lá e tentou com todas as suas forças riscar a letra ‘B’, como se sua vida – ou ao menos sua honra – dependesse de ocultar esse símbolo gráfico.

Não adianta nada, claro. Os boquenses continuam a proliferar o mantra ‘Riber’ por todas as partes da cidade, um pouco mais pra cima a esquerda mais um exemplo: “River vende fumo, você foi pra (série) B’, é o que está escrito nessa porta de loja.

Pra compensar, a torcida ‘milionária’ do River grafa o rival como ‘Voka’. A pronúncia é a mesma de ‘Boca’.

Nesse caso não há correlações com rebaixamentos, já que infelizmente pro River o Boca jamais foi rebaixado.

Simplesmente se paga na mesma moeda. ‘Vocês distorcem a grafia do nosso time, nós distorcemos do seu’, é a lógica de quem criou e espalha o termo ‘Voka’.

Na Argentina, a briga futebolística definitivamente descambou pra dimensão da linguística. O combate é pra mudar as letras no nome do adversário. Os gramados, arquibancadas, ‘adesivos’ na internet (“memes”) e muros se tornaram muito pouco . . . .

Próximas 12: vamos ver mais algumas cenas que eu captei no Novo Gasômetro, estádio do São Lourenço na Z/Sul de B. Aires. Aqui a bateria da ‘Gloriosa’ no aquecimento. Por enquanto sem os saxofonistas.

……….

Não é só no Super-Clássico que essa situação acontece. Andava eu esses dias (dessa vez via Visão de Rua ‘Google Mapas’) pela Zona Norte da Gde. Bs. Aires.

Num muro, pichações do Independente e do Racing (que são da Zona Sul, como todos sabem) duelavam. A torcida do Independente grafava assim o rival: “Rasin”. A pronúncia é a mesma de “Racing”, ‘s’ em espanhol sempre tem som de ‘s’, nunca de ‘z’, e o ‘g’ final é mudo.

Tampouco se restringe a capital. Estive na Vila Carlos Paz, no interior da província de Córdoba. A uma hora de ônibus da capital estadual, é uma espécie de ‘Campos do Jordão (SP)’ argentina. Na verdade Carlos Paz é ainda mais bela que C. do Jordão, pois nessa cidade argentina além das montanhas há um rio que vira um lago bem no Centro.

Havia um bom público, especialmente porque choveu muito o dia todo.

Em Carlos Paz eu me senti na Suíça, se quer saber. Confira as fotos que tirei por lá. Aqui nosso tema é futebol.

A Vila Carlos Paz está a 40 km do Centro de Córdoba, você faz um bate-volta, sai cedo e volta a noite se quiser.

De Rosário a distância decuplica, ou seja são 400 km. Então é preciso pernoitar. Mesmo assim, muitos rosarinos visitam Carlos Paz. Comprovei isso pelas pichações nos muros, a guerra entre as torcidas do Rosário Central e Newell’s Old Boys (sigla ‘N.O.B.’ nos pichos).

Pois bem. Exatamente na orla, na parte mais bonita da cidade, estava grafado Rosário “B”entral, com o ‘B’ bem grande e destacado. Aí não tem a ver com a linguística. Simplesmente um torcedor do Newell’s ressaltava o recente rebaixamento do rival.

O Rosário já caiu 4 vezes, mas a última é bem recente, já em 2010, e ele levou 3 anos na série B.

Poucos minutos antes da bola rolar, a banda vai pra arquibancada. No destaque mais um rapaz agarrado a grade, eles ficam o jogo inteiro ali, e não somente pra pôr as faixas como alguém poderia pensar.

O Newell’s também já foi pra segundona, mas está ininterruptamente na primeira desde 1964.

……….

No Clássico Suburbano de Avellaneda o mesmo se repete.

O Boca é o único que nunca caiu, repetindo. Até 2011, River e Independente de Avellaneda lhe faziam companhia.

O River teve que disputar a segundona em 2012. No ano que ele retornou pra primeira divisão, em 2013, foi a vez do Independente ser rebaixado. Agora todos caíram, exceto o Boca Juniors. 

Os famosos guarda-sóis não iriam mesmo faltar, nada é mais argentino que isso!

Em Avellaneda os dois rivais já estiveram na série B. O Racing foi rebaixado em 1983, e ficou 3 anos antes de voltar.

Os torcedores do Diabo Rubro até hoje comemoram essa data, vi camisetas alusivas a esse fato, dizendo “Proibido Esquecer”.

Porém agora a maré virou. Nessa década de 10 foi a vez do Independente jogar a segunda. Conseguiu subir no 1º ano.

Ainda assim, a torcida azul do Racing não perdoa, evidente. Avellaneda está inteira pichada com um fantasminha em vermelho com a letra ‘B‘.

A foto acima da manchete.

Agora um detalhe curioso: a rivalidade entre Racing e Independente é acirradíssima dentro de campo.

E as pichações nos muros, camisetas e cânticos deixam claro. Mas fora dele os clubes se ajudam.

Os estádios são na mesma quadra, de um você vê o outro. Fui pra Zona Sul de Buenos Aires num sábado a tarde.

Conheci os bairros de Parque Patrícios, Nova Pompéia e Barracas, rumo a famosa favela da Vila 21.

Portão da ‘Cidade Esportiva‘ do S. Lourenço. Chovia muito, veja as capas amarelas.

Cruzei o Riachuelo, mudando de estado e município, do Distrito Federal pra Avellaneda, na província de Buenos Aires.

Chegando ao Centro de Avellaneda, vi uma multidão caminhando com camisas vermelhas, e logo concluí que iam ao jogo do Independente.

Resolvi acompanhá-los até o portão do estádio, embora eu não poderia entrar porque não tinha dinheiro suficiente.

Ainda assim me imiscuí entre a rapaziada e fui, pra pelo menos sentir o clima. Chegamos as imediações do ‘Estádio Libertadores da América’. Sim, esse é o nome oficial da praça desportiva, pra lembrar a todos quem é o ‘Rei de Copas’.

dentro do complexo, em 1º plano um campo de treinamento, ao fundo o estádio.

Mesmo não podendo passar pra arquibancada, foi bom estar ali. Camelôs e bares vendiam churrasco, sanduíches e cerveja.

A banda fazia o aquecimento, com seus bumbos e saxofones característicos. A galera bradava seus gritos de guerra.

Vi os ônibus que trouxeram os comboios do interior. Eram veículos na configuração urbana, com 2 (ou 3) portas e bancos fixos de acrílico.

Próximas 2: quando adentrei o estádio, 1 hora antes do jogo, por isso está vazio. Quando a bola rolou, as retas encheram. A curva oposta continuou vazia. Choveu muito, Buenos Aires tinha diversas vias sitiadas por protestos e na rodada anterior o São Lourenço levou 4×0 do Flamengo no Rio. Tudo isso afastou o público.

Imagine ficar horas e horas sentado naqueles tocos duros, haja paixão!

No Brasil, os comboios das torcidas são em ônibus de viagem, em que o banco é maior, estofado e reclina, um pouquinho que seja.

Como disse acima: os estádios são vizinhos. Eu estava ali, entre a massa vermelha, que adentrava os portões do campo do Independente.

Como pano de fundo da cena estava o estádio do Racing, que é maior.

Saí dali, me dirigindo ao Centro de Avellaneda. Já anoitecia, e como não poderia mesmo ir pra arquibancada queria aproveitar os últimos raios de Sol pra conhecer um pouco mais da cidade.

Repare nas barreiras na arquibancada, pra impedir a ‘avalanche’, comemoração do gol em que tudo mundo corria em direção ao alambrado, causando esmagamento.

Antes passei exatamente em frente o campo do rival Racing.

Os torcedores do Independente faziam o mesmo trajeto, mas no sentido oposto.

Pois bem. A bilheteria do Racing estava aberta. . . porém a serviço do ‘inimigo’.

Eram os torcedores do Independente quem compravam ingressos pra ver seu time.

Pois o Racing jogava fora na rodada, e não no mesmo dia, tudo pra evitar encontros das torcidas adversárias. 

Com a bola rolando. O São Lourenço, mandante, jogou com o uniforme titular escuro. O CAP, visitante, veio de branco.

O que ocorre é o seguinte. A polícia isolou várias quadras ao redor do estádio do Independente, só passava pela barreira quem já tinha ingresso em mãos.

Eu pude conhecer o estádio ao menos por fora porque eu vim mais cedo e por um acesso secundário, onde a polícia ainda não havia fechado.

Porém na avenida principal, a que vinha do Centro, estava interditado exceto pra quem já tinha o bilhete adquirido.

Tive que pedir licença pro policial, ele abriu pra mim a porta dos deficientes, pra que eu pudesse sair enquanto a multidão entrava. Como eu estava saindo, obviamente não houve complicações. Mas ninguém podia entrar sem ingresso.

Torcida do Atlético-PR presente em Buenos Aires. Eles levaram 2 bandeiras do Brasil, infelizmente essas fotos desfocaram.

E quem não havia comprado não mais podia fazê-lo no estádio do Independente, já que a bilheteria fica dentro da zona fechada. Então como fazê-lo?

O Racing deu uma mãozinha, e abriu as suas próprias bilheterias aos que deixaram pra última hora. Uma camaradagem interessante, inimigos dentro das 4 linhas, parceiros fora delas.

……….

Fechamos (por hora) a sequência dentro do estádio do São Lourenço. São os saxofonistas, agora a orquestra está completa.

Qual o povo mais fanático por futebol no mundo? O argentino? Não, é o chileno.

Digo, na arquibancada são iguais. O torcedor argentino é passional, e suas ‘hinchadas’ são famosas por nunca pararem de cantar. De fato assim é.

Veja a prova: a própria torcida do São Lourenço levanta pra rede um vídeo de uma final que eles perderam por 3×0. O resultado dentro de campo importa menos, o fundamental é que o ‘alento’ na arquibancada nunca pare.

Fui ver São Lourenço x Atlético Paranaense pela Libertadores, 3 dias antes desse sábado em Avellaneda. Já eu conto melhor. Aqui é só pra dizer que chovia a cântaros, o São Lourenço perdeu em casa, e passou o jogo inteiro perdendo, já que o gol do CAP foi logo aos 3 do primeiro.

Aqui e a direita: Zona Sul de Buenos Aires: a torcida do Furacão (esse é o nome do time, não é apelido) homenageia um de seus ídolos.

Ainda assim, a torcida do São Lourenço não parou um minuto de pular e cantar, a plenos pulmões.

Voltando a pergunta que eu fiz, dentro do estádio não há diferença, fato. Mas nas ruas o chileno faz questão de se manifestar de forma mais expressiva.

Como eu já contei com muitas fotos quando retornei de lá, no Chile a guerra de torcidas é poste-a-poste. No Centro das cidades não porque a burguesia não se interessa por isso.

Porém assim que você entra nos bairros mais humildes – mesmo aqueles bem centrais, em que você pode ir a pé do Centrão e comprovei isso pessoalmente – e muito mais nas quebradas distantes do subúrbio, todos os postes do bairro são pintados com as cores de algum time.

Todos os postes, todos os bairros, todo o subúrbio e também a parte mais proletária da Zona Central. Além disso, são famosos mundialmente os ‘murais’ chilenos:

Furacão Capo” (chefão da máfia, e por analogia aqui o dono do bairro), e “São Silêncio de Amargo”, provocação ao vizinho São Lourenço de Almagro. Pelo futebol argentino ser muito centrado na Grade Buenos Aires, as rivalidades dos bairros ou municípios suburbanos vizinhos são as mais fortes. O Furacão é próprio time suburbano, como o Olaria, Bangu ou América no Rio. A torcida do Furacão tem birra com quem está mais perto, que é o São Lourenço, fazem ‘o clássico da Zona Sul’. Os fãs do Furacão pouco se importam com o Vélez Sarsfield, por exemplo, já que esse está distante, na Z/Oeste.

Grafites em que as torcidas expressam sua paixão com muitas cores, alguns obras de arte, outros bem toscos, mas todas as pinturas de muro inteiro servindo ao propósito de mostrar quem é ‘o dono’ daquele bairro.

Em Santiago e Valparaíso, os murais e postes decorados estão por toda parte, obras de todas as torcidas. Pois bem. Na Argentina não é assim. 

Em Buenos Aires e Mendonça há bastante pichações de futebol sim, como no Brasil. Mas murais e postes decorados não há.

Como informei na legenda acima: vejo fotos na internet dos murais de futebol em Buenos Aires. Então eles existem, sim. Mas em número reduzidíssimo.

Fiquei 4 dias em Buenos Aires, e o tempo todo circulando pela metrópole, Centro, burguesia e periferia. Não vi nenhum mural, nem mesmo perto dos estádios do São Lourenço e dos dois em Avellaneda.

Fiquei os mesmo 4 dias em Santiago, vi centenas de murais em diversos bairros, tantos que perdi a conta. Fotografei dezenas, ainda pude me dar ao luxo de excluir boa parte e só publicar os mais gráficos.

Rivalidade em Córdoba (r): o Estádio Mário Kempes (em tomadas do mesmo ângulo) ocupado pelas torcidas do Belgrano e Talleres, respectivamente.

Em apenas um dia e meio na Grande Valparaíso (esse município mais Vinha do Mar) vi mais murais que em nos 4 dias em Buenos Aires.

Então eles existem na capital argentina? Sim. Mas pouquíssimos. Os murais que eu fotografei do São Lourenço são dentro do estádio, sob a arquibancada. Na rua não existem.

Em Córdoba já muito mais que na capital. Em vários bairros há postes pintados e murais. Lembra mais o Chile, mas bem em proporção bem menor que do outro lado dos Andes.

Dentro desse mesmo campo, Talleres de camisa listrada, Belgrano com a mais clara.

Andei por vários bairros da periferia cordobesa, especialmente na Zona Oeste, inclusive passei exatamente em frente ao Estádio Olímpico de Córdoba ‘Mário Kempes’ que vemos nas 2 fotos a esquerda.

Que é o segundo maior da Argentina só após o Monumental de Nunhez do River Plate. E mesmo ali e nos bairros vizinhos não haviam grafites ou postes decorados.

Em vários outros lugares o mesmo se repetia, pichações certamente em abundância, mas outras manifestações mais elaboradas existentes mas bem mais raras.

Córdoba lembra um pouco a gana do Chile já de forma diluída, e nas outras cidades argentinas há muita pichação mas nada (ou quase nada) além disso.

……..

Zona Sul de Buenos Aires, mas no muro há pichação do Desportivo Cali da Colômbia. Isso é comum na América Hispânica, ver emblemas de times de outros países.

Como o mapa já informou: o campeonato profissional começou em 1931. Até 1938 apenas com times da Grande Buenos Aires e de La Plata, que dista apenas 55 km da capital, enfatizando de novo.

Em 39 é admitida a participação de equipes do interior da província de Buenos Aires, e também da província de Rosário, que é vizinha.

Ou seja, a importância de Rosário no futebol nacional é histórica, data de muitas décadas.

Em 1967 enfim é criado o torneio nacional, aberto a todos. A partir daí passam a ser dois campeonatos por ano.

O nacional e um outro chamado ‘metropolitano’, que continua a ser disputado somente pelos times de Buenos Aires (capital e interior) e Rosário.

Mas muito mais das equipes locais, é claro. Avellaneda, Zona Sul. As torcidas do Racing e Independente disputam quem comanda a distante Zona Oeste. Disse que os times pequenos têm rivalidades apenas locais, e assim é. Mas esses dois são grandes, logo têm torcida na cidade inteira, e também no interior. Por isso os clubes de Avellaneda discutem quem domina um outro município da região metropolitana, que fica a 22 km dali.

Como o futebol na Argentina é grosseiramente concentrado nessas praças na prática os dois torneios tinham a mesma importância.

Repetindo, Buenos Aires e Rosário detém 100% dos títulos, mesmo depois que a disputa foi aberta a outras cidades, o que já data de 1967 num campeonato e 1980 em ambos. 

Isso porque em 1980 o metropolitano passa a incluir 3 times de Córdoba, Talleres, Racing (o local, e não o de Buenos Aires óbvio) e Instituto.

Assim vai até 1985. Portanto, repetindo, no período 1967-85 são dois campeões por ano.

Na temporada 1985/86 é extinto o metropolitano, e tudo unificado no novo campeonato nacional, agora aberto a todos os clubes.

Próximas 5, ainda pelas ruas de Avellaneda. A pichação em letra clara é de futebol. C.A.I. (Independente) é quem assina, e ameaça: “Racing puto, aqui no bairro mando eu”. Em primeiro plano, em letra escura, outro conflito não relacionado ao futebol, alguém pede “Menos La Beriso, mais rock!”. ‘La Beriso’ é uma banda de música romântica que é dali de Avellaneda.

Por 6 anos, até 1991, houve apenas uma disputa por ano. De 1991/92 até 2012 voltam a ser duas disputas por ano, a ‘Abertura’ e ‘Fechamento’ (modelo que ainda é usado na maioria dos países sul-americanos).

Porém agora não há mais discriminação, os dois campeonatos são abertos a todos os times do país. A partir de 2014 volta a ser um torneio por ano, pra igualar o calendário europeu.

……….

Fecho a matéria contando como comecei minha visita ao país. No Chile ir ao jogo foi a última coisa que fiz no estrangeiro, na Argentina inverteu, foi a primeira.

“no bico do corvo”: ‘ciclone’ x ‘furacão’ no ‘templo divino’.

Chegamos a Buenos Aires uma quarta já do meio pro fim-da-tarde. Estávamos num inferno astral.

Estádio do Racing. Repare no esgoto que corre a céu aberto, a infra-estrutura na Argentina está precária, bem precária.

Nosso voo foi mudado em São Paulo, assim nossa bagagem não foi pra Argentina, como dito acima.

Tudo atrasou bastante, o próprio avião já pousou mais tarde, perdemos muito tempo na fila do câmbio e registrando a queixas das malas.

Pra piorar, a cidade estava em caos. Chovia adoidado, e a Argentina passa por uma rebelião (por enquanto basicamente pacífica, os episódios de violência existem mas nesse início de movimento não são fatais) que tenta derrubar o governo.

Na primeira matéria da série já demos uma geral, nas matérias específicas sobre a crise política (“Pol Pot”) e sobre Buenos Aires (“O Número da Besta”) me aprofundo mais. 

Escudos do Independente: na parede . . .

Pro que nos importa aqui, haviam protestos fechando o tráfego pela cidade inteira. Tudo somado, entramos no apartamento que ficamos hospedados no Centrão já 5 da tarde, quando era pra ter sido logo depois do almoço.

Havia planejado ver São Lourenço x Atlético Paranaense. Não sou torcedor do CAP nem de qualquer outro clube, já disse muitas vezes.

Foi apenas o jogo que se abriu, que ocorreu enquanto eu estava lá, então fui. Assim como, pra equilibrar talvez, também já vi o Coxa em outra cidade, no Independência em Belo Horizonte-MG, 2012.

Outra coisa: na Argentina e toda América Hispânica o CAP não é chamado de ‘Atlético’, mas de ‘Paranaense’. Já expliquei o porque na legenda da foto do ingresso, no alto da página.

. . . e num velho caminhão. Colapso! A frota da Argentina parece a de Cuba. Nessa matéria dezenas de fotos.

De volta a Buenos Aires. O São Lourenço é um clube médio, já campeão da América, e tem mais de 10 títulos ‘de cabotagem’ (nacionais).

Mais ou menos no mesmo nível do Veléz Sarsfielda da Zona Oeste, e dos dois clubes de Avellaneda na Zona Sul.

Ou seja, a muitas léguas de River e Boca. Mas estava de bom tamanho. Se o São Lourenço não é gigante, também não é pequeno, então dava pra pegar o espírito.

Além disso, eu sendo de Curitiba seria interessante ver uma partida do Atlético em outro país, mesmo sem ser torcedor desse time. 

Caixa d’água no Centro de Avellaneda tem o nome de todos os times da cidade, desde os pequenos até os 2 grandes lado-a-lado. Os torcedores do Racing e Independente reciprocamente se auto-denominam ‘capo’ e seus rivais de ‘puto‘. E por que ‘Racing’, ‘Newell’s Old Boys’, ‘River Plate’, ou seja, tantos times com nome em inglês? É simples, já contei quando fui ao Chile, a imigração britânica foi infinitamente maior na Argentina e Chile que no Brasil. E os britânicos foram quem fundaram vários clubes nesses países.

Então lá fui eu rumo ao Gasômetro. Planejava chegar cedo ao apê, comer, trocar de roupa e com calma estudar o roteiro e ir ao estádio de transporte coletivo ou mesmo a pé.

Sou acostumado a caminhar muitas horas seguidas, então não só isso não seria um problema como seria uma solução, eu já ia conhecendo a cidade.

Deu tudo errado, e o planejamento foi literalmente por água abaixo. Estava só com uma camiseta, sem nenhum casaco. Sem almoço.

Pelo horário avançado, chuva pesada, horário de pico e mais a cidade estando sitiada pelos piqueteiros, tudo somado a meu desconhecimento das linhas de ônibus e metrô, não dava mais pra ir por conta própria.

Tive que pegar um táxi que cobrou bem caro, nada menos que 100 reais do Centro ao estádio, que não é tão distante assim, na Zona Sul da capital. 

Mas não desisti, persisti ‘contra tudo e contra todos‘: estava sem almoçar, só comera um sanduichinho minúsculo no avião. Eu como bastante, peso pouco mais de 100 kg.

Então praticamente em jejum há 12 horas, estava com fome mesmo. E muito, muito frio. Saí do Brasil apenas de camiseta, pois estava quente.

Buenos Aires esfria muito no fim-de-tarde no outono, todo mundo veste casacos, mas eu não tinha com o que me abrigar pois a mala não veio. Chovia demais. Então lá estava eu, com fome, roupa encharcada que o vento frio me dava a sensação de estar no Polo Sul (ou quem sabe no Polo Norte?).

Ufa!!! São Lourenço campeão da Libertadores/2014. Acabou a piada mais antiga do futebol da Argentina. As iniciais do Clube Atlético São Lourenço de Almagro são ‘C.A.S.L.A.’. Como ele era o único grande sem esse título, os rivais diziam que a sigla era de ‘Clube Ainda Sem Libertadores da América’. Agora não mais, informa o mural no estádio.

Se tudo fosse pouco, o entorno do estádio é uma parte bastante perigosa da cidade. Bem em frente há uma enorme favela, uma das maiores da capital, o que já ajuda compor o cenário. Todos recomendaram não andar pelas ruas sob risco iminente de ser roubado.

Assim, enfrentando fome, frio, chuva, possibilidade de assaltos e uma cidade paralisada por protestos, cheguei ao Novo Gasômetro, o estádio do São Lourenço. Fica no bairro portenho de Flores.

Alias falando em roubos, o estádio anterior era na época simplesmente ‘o Gasômetro’, mas o terreno foi confiscado pela ditadura militar, e hoje abriga um supermercado Carrefour.

Passei em frente, o taxista me mostrou o local e contou a história. O clube até hoje não perdoa a ‘mão-grande’, e quem perdoaria? Há um movimento muito forte pra que o espaço seja devolvido ao São Lourenço, e ali se erga novamente o estádio. “Voltaremos a Boedo”, é o mantra mais forte de sua torcida.

Ao lado uma imagem que resume a luta, um menino com a camisa do time no estacionamento do mercado. Quando seu pai tinha a mesma idade, nesse exato local era a entrada do estádio, veja o vídeo.

O time foi fundado em 1908, e sua antiga sede ficava no bairro de Almagro, daí o nome. Mas depois o bairro de Boedo foi seccionado de Almagro, por isso o São Lourenço de Almagro quer voltar a Boedo. Incluso já é lei municipal. Veremos se será cumprida.

Mais um grafite: São Lourenço é ‘o Corvo’. Também é conhecido como ‘Ciclone‘. Seu rival da Z/Sul é o Furacão, daí o clássico ‘Ciclone x Furacão’. Quando o CAP – que também é o ‘Furacão’ – jogou lá, o emparelhamento se repetiu. Em tempo: o Cerro Portenho de Assunção tem as mesmas cores, mesmo escudo e mesmo apelido de Ciclone, ‘clonou’ o S. Lourenço, prática comum no Paraguai.

Deixemos a história pra lá e falemos de 2017, quando fui ao Novo Gasômetro. Ainda precisava providenciar o ingresso. Bem, essa parte foi mais fácil que eu esperava.

Assim que entrei no complexo esportivo de propriedade do clube (que inclui também ginásio, piscinas, quadras de tênis e diversos outros campos usado pra treino) fui abordado por vários cambistas.

Como chovia muito – e portanto a audiência seria muito abaixo da esperada – eles desovavam as entradas pelo preço de custo. O que não era barato. Pra não-sócios (lá o termo é ‘convidado’) a entrada custa 400 pesos, ou seja 80 reais.

Fui a jogos no Chile e Paraguai, paguei o equivalente a 20 e 10 reais respectivamente.  Tudo bem que já passou um tempinho, fazem 2 anos que estive no Estádio da Praia Grande em Valparaíso e 4 no Defensores do Chaco em Assunção.

Voltando a Argentina, o jogo do Independente era ainda mais salgado, 50 reais pra não-sócios. O futebol na Argentina está todo voltado pra que apenas sócios frequentem as canchas. Pra você ser sócio do São Lourenço custa apenas 330 pesos ou 66 reais por mês, ou seja menos que um ingresso unitário pros não-sócios.

A mesma ave no ponto em frente ao estádio do ramal sudoeste do sistema de ônibus Metro-Bus. Nessa mensagem mostro em detalhes o transporte na Argentina.

Um detalhe importante: no Brasil, vários campos de futebol passaram pro um processo de modernização. E em muitos casos parecem teatros, com amplos estacionamentos, butiques, praças de alimentação e em alguns casos banheiros com mármore.

O exemplo é o Maracanã, que abrigou 200 mil pessoas, e hoje tem capacidade pra um terço disso, eliminaram a famosa geral que era onde ficava o povão, a massa folclórica de descamisados que vinha de trem.

Na América Hispânica, esse está longe de ser o caso. Os estádios não foram reformados, e ainda contam com a mesma parca estrutura de décadas atrás. No Gasômetro do São Lourenço o aquecimento da torcida é no vão embaixo da arquibancada, que está cheia de goteiras.

De volta a Avellaneda. Se o tema é transporte coletivo, agora segura essa: a massa do ‘Diabo Rubro’ chega ao estádio. Ao fundo o trem suburbano.

Pra se alimentar, há uma tosca lanchonete em que você se espreme num balcão de concreto pra comprar pão com bife ou linguiça, comida altamente calórica e gordurosa. E pra beber? Copos de plástico com Coca-Cola.

Cheguei ali ensopado, com frio e fome, como já expliquei. Não podia comer nada pois não tinha dinheiro.

A “Gloriosa”, a ‘barra-brava’ (torcida organizada) do São Lourenço, estava se agrupando, faltava hora e pouco pra bola rolar.

A princípio havia um forte cheiro de carne de segunda sendo assada, pois estávamos ao lado da lanchonete. Quando a rapaziada da Gloriosa formou a roda, o odor dominante foi substituído pelo de maconha.

Também em frente do campo do Independente.

A bateria começou a tocar. Os bumbos e pratos são no mesmo instrumento, ou seja um tambor com um prato colado acima.

O cara fica com um bastão na direita e outro prato na esquerda, e toca os dois ao mesmo tempo.

Poucos minutos antes do apito inicial, passamos pra arquibancada. Aí adentraram os saxofones. Toda torcida da Argentina conta com uma orquestra de saxofonistas.

Aqui e a esquerda: Racing x Independente, o ‘Clássico de Avellaneda’, ‘Clássico Suburbano‘, e também o ‘Clássico da Zona Sul’ – o metropolitano da Z/S, o municipal é São Lourenço x Furacão como dito acima.

Logo aos 3 minutos o time brasileiro abriu o placar, por ironia o tento foi marcado por um argentino (Lucho González), de cabeça.

Eu fotografava a torcida e não vi o gol, que acabou sendo o único da partida. No segundo tempo o time da casa bateu um pênalti pra fora.

Como dito acima, a torcida do São Lourenço cantou, pulou e batucou o tempo inteiro, mesmo numa noite fria e chuvosa, mesmo perdendo desde o começo.

Já havia passado pelo mesmo na Colômbia e Chile (no Paraguai fui ver um time pequeno, e o gigante Defensores do Chaco estava deserto. Além disso, nesse caso fiquei no lado oposto ao da torcida organizada).

Ainda assim, faltava vivê-lo na Argentina, em Buenos Aires, cidade que contando com os subúrbios concentra nada menos que 24 Libertadores. Valeu a pena enfrentar todas as dificuldades materiais.

Sempre um clima tenso. Jogadores de ambas as equipes se enfrentam ‘olho-no-olho‘ (r).

É uma experiência de arrepiar. De arrepiar, mano. Lágrimas de emoção escorriam dos olhos, e todos os pelos do corpo se eriçavam (veja o vídeo ligado mais pro alto na página pra saber como é a festa da torcida).

Eu ali, no ‘Templo Divino’ – me refiro a que o Papa é torcedor declarado do São Lourenço, há murais relativos a esse fato. ‘Contra tudo e contra todos’, eu chegara ali.

Frio, chuva, fome, forte cheiro de linguiça barata e de erva – ainda mais barata – no ar. Olhando pro lado, via os ‘prédios artesanais’ da favela em frente, que já atingem o 3º ou 4º andar.

No meio daquela massa que pulava e cantava, especialmente quando entoavam os cânticos relativos a conquista da Libertadores, sonho centenário do time enfim realizado. A bateria batendo forte.

“Agante Boca”, no Centro de Buenos Aires. Na verdade o autor quis dizer ‘aguante’, literalmente ‘aguente’, mas no léxico esportivo castelhano significa ‘torcida’. ‘No tienes aguante’ quer dizer ‘teu time não tem torcida’. Um rival adicionou o clássico ‘puto’.

É Transcendental. Buenos Aires É futebol. Naquele momento, eu tive uma espécie de ‘Samadhi’, se você sabe o que é isso. 

Captava a Essência da Alma Argentina, de seu Logos. E (por alguns momentos que fosse) eu era parte dela, era Um com essa Vibração. 

Se no dia seguinte cedo eu tivesse pegado um avião e voltado pro Brasil sem ter visto mais nada da Argentina, a viagem (com todos os seus inúmeros problemas até ali) já teria valido a pena.

…………

Que Deus Ilumine a Todos.

“Deus proverá

“Ascensão & Queda”: a Argentina vista por dentro

Obelisco da 9 de Julho, Centro de Buenos Aires, principal cartão-postal do país.

Por Maurílio Mendes, O Mensageiro

Publicado em 9 de abril de 2017

Mensagem-Portal sobre a Argentina. Ao fim do texto ancoro as outras mensagens da série.

No fim do século 19, e por toda a primeira metade do 20, a Argentina era um país de primeiríssimo mundo.

Um verdadeiro pedaço da Europa em plena América.

Muito, mas muito acima de seus vizinhos latino-americanos com exceção do Uruguai (que é uma nação muito pequena, e portanto muito mais homogênea).

Ops, mas veja atrás dele: sem-tetos dormem em plena luz do dia. Imagem que sintetiza a crise social que a Argentina atravessa.

A ascensão foi intensa e notória. Porém, as coisas mudam.

Num processo que se iniciou após a 2ª guerra mundial e se acentuou rapidamente nas últimas décadas, a Argentina empobreceu visivelmente.

Hoje não há nada de europeu nela. É exatamente o mesmo padrão de toda América Latina, com tudo que isso representa.

Maior o voo, maior a queda, como dizem. A decadência também tem sido intensa e notória.

………..

Antes que os mais apressados corram pra corrigir o que eu não disse, eu não estou afirmando que a Argentina está mais pobre que o Brasil.

Há uma matéria do jornal ‘La Nación’ que é de se assustar (essa imagem e a próxima vieram dali). Em 2000, 100 mil pessoas moravam em favelas no município de Bs. As. . No censo de 2010 já se contabilizaram 160 mil, e as estimativas são que em 2017 já são 275 mil. Quase triplicou somente nesse milênio, portanto. Acima da manchete está a favela Vila 31, bem no Centrão da capital, aparecem os prédios chiques ao fundo.  Imagem que vale por mil palavras: a Vila 31 em 2001, e apenas 12 anos depois em 2013 com o quíntuplo do tamanho.

As duas nações estão mais ou menos no mesmo nível. A questão é que até 1970, digamos, a Argentina era 10 vezes mais rica que o Brasil.

Era notório o exemplo que os peões dos prédios que eram construídos em Buenos Aires comiam nas horas de almoço churrasco só com carne de primeira (alcatra, picanha, etc).

Tudo assado no próprio canteiro de obras, posto que a Argentina era e é grande produtora de gado, o que também barateava a matéria-prima.

Porém o principal é que a classe proletária de lá ganhava muito, mas infinitamente muito mais que a daqui na mesma época.

Já que então os operários da construção civil do Rio e SP moravam em barracos de papelão nas inúmeras favelas dessas cidades, e comiam geralmente arroz-&-feijão engrossado com muita farinha.

Precisa dizer mais??

Um ovo frito ou bife de carne de segunda já era um luxo que nem todos podiam dispôr.

Portanto a Argentina estava a anos-luz do Brasil, Colômbia, e muito a frente mesmo do Chile. Isso na primeira metade do século 20 e até as duas ou três décadas posteriores a segunda grande guerra.

Um exemplo vai selar a questão em definitivo: o metrô de Buenos Aires (abreviada ‘Bs. As.’) é de 1913. Um dos mais antigos do mundo.

O de Londres-Inglaterra foi eletrificado (e portanto a partir daí considerado metrô) em 1890. O de Paris-França é de 1900, Nova Iorque-EUA inaugurou o seu em 1904.

Vamos também mostrar as partes bonitas da Argentina, é óbvio. Aqui e a direita, a região dos bairros Palermo e Recoleta, Zona Norte, a porção rica de Buenos Aires.

Portanto o metrô da capital argentina é apenas 13 anos mais novo que o da capital francesa, e veio menos de uma década depois da principal cidade estadunidense. 

Mais: o metrô de Buenos Aires (lá chamado ‘subte’, diminutivo de ‘subterrâneo’) foi o 1º de todo Hemisfério Sul, o 1º de toda América Latina.

E, se tudo fosse pouco, o 1º de um país de língua espanhola, pois mesmo o de Madri-Espanha chegou 6 anos depois dele.

O metrô de Lisboa-Portugal, que também é Europa Ocidental, só foi rodar em 1959.

Hoje a China tem os dois maiores sistemas de metrô do mundo, nas suas capitais política e econômica Pequim e Xangai.

Entretanto o metrô de Pequim é de 1965, e o de Xangai ainda mais novo, entrou em operação bem recentemente, em 1993. Já que estamos na Ásia, Tóquio-Japão fez o seu em 1927, e o de Seul-Coreia do Sul é de 1974.

Hoje esses dois sistemas são infinitamente maiores que os de Buenos Aires, mas os portenhos contaram com esse conforto 14 anos antes que os japoneses, e 61 anos antes dos coreanos.

Todas as cidades argentinas são bastante arborizadas, não tanto no Paraguai, ainda assim abundante. Seja na alta burguesia (esse caso aqui) quanto na periferia.

Somente no mesmo ano de 1974 o Brasil passou a contar com esse modal, quando São Paulo inaugurou sua primeira linha. No Rio de Janeiro foi em 1979.

Enquanto que o do México D.F. é de 1969, pouquíssimo antes de SP e muitíssimo depois de Bs. As. . O primeiro e até agora único metrô da Colômbia, o de Medelím, data de apenas 1995.

Assim fica evidente o passado glorioso da Argentina. Muito próxima na Linha do Tempo de Londres, Nova Iorque e Paris, e a frente mesmo de Madri (a ex-colônia superou sua antiga metrópole).

E décadas e décadas a frente de Portugal, Brasil, México, China e Colômbia. No entanto essa não é mais a situação do país, exatamente o oposto sendo verdadeiro.

Argentina É futebol. Das 57 Libertadores, os caras ganharam nada menos que 24, ou seja, quase metade das taças ficou por lá. Pra sentir essa frequência, fui ao Novo Gasômetro conferir São Lourenço (o time do Papa e campeão de 2014) x Atlético Paranaense por esse torneio. Eu sou de Curitiba mas não sou torcedor do CAP, foi apenas o jogo que deu certo de eu ir, assim como já vi o Coxa fora de casa, em Belo Horizonte-MG, 2012.

Hoje Brasil e Argentina estão num nível parecido de ‘desfuncionalidade’ e de desigualdade social – isto é, muito elevado.

Antes não era assim. No passado o Brasil era ainda mais pobre e injusto, portanto houve uma melhora.

Não estou justificando o nível de desigualdade social em nosso país.

Alias em várias partes, de Fortaleza-CE a Florianópolis-SC e também aqui em Curitiba, já retratei bastante vezes o quão agudo é esse contraste.

Ainda assim, houve significativa redução da miséria em nosso país nas últimas duas décadas. Embora obviamente haja muito por fazer, diversas das favelas mais feias foram removidas/urbanizadas.

Quem conhece São Paulo, por exemplo, vai se lembrar que até o começo dos anos 2000 haviam diversas favelas miseráveis nas ilhas da Marginal Tietê (‘ilhas’ dos viadutos, e não do rio), por exemplo.

“Passeador de Cachorros”, outra cena que sintetiza a Alma Argentina. Provavelmente esse garoto não é o dono de todos esses animais, ao contrário, ele ganha dinheiro das madames pra dar um volta no parque com os bichinhos. Foto na Z/N da capital.

Essas pessoas foram transferidas pra apartamentos no estilo ‘Cingapura’, o que é uma melhora inegável.

Então ainda há seríssimos problemas, mas é fato que a situação se amenizou um pouco ultimamente no Brasil.

A Argentina vai na mão oposta, isso é que quero apontar.

Essa nação, que um dia foi muito rica e olhava toda a América Latina de cima (com exceção de seu pequeno vizinho Uruguai) hoje não tem mais esse privilégio.

Então a Argentina é mais pobre que o Brasil? Não, não é. Mas num passado recente, ela foi muitíssimo mais rica, e agora não é mais.

A Argentina é o pior país da América Latina em termos de estrutura social? Obviamente não. Porém um dia ela foi disparado o melhor, tanto que era pensada como a ‘Europa na América’.

E hoje ela está no mesmo nível dos vizinhos, a frente dos mais miseráveis é certo, mas não acima do Brasil, Chile, México e Colômbia, pra citar somente alguns.

E aqui mais uma: performance pública de tango na Feira de Artesanato de São Telmo, Centro Velho de Buenos Aires.

A queda é real, e absolutamente palpável. Só que ‘quem foi rei nunca perde a majestade’.

Houve esse processo de câmbio, de uma nação rica e homogênea europeizada pra uma realidade totalmente latino-americana.

Com tudo que isso representa, tem sido difícil de ser digerido pelos argentinos.

Resultado: a Argentina está numa convulsão social gravíssima, em múltiplas dimensões.

Chegamos lá, no meio de março.17, numa Buenos Aires em caos.

Chovia a cântaros, essa foi a contribuição da Mãe-Natureza.

Mas além do clima, e essa é a parte feita pelas mãos do Homem e da Mulher, a capital estava coalhada de protestos.

Com todo o Centro sitiado, diversas avenidas interrompidas por manifestações. Foram esss as ‘boas-vindas’ que recebemos. 

A confusão foi a noite inteira. Quase 10 da noite, quando retornei do estádio, a Praça de Maio continuava ocupada pelos manifestantes, com suas vias de acesso fechadas.

A direita exatamente a primeira cena que vimos no país, piqueteiros fechavam o tráfego na Avenida Nove de Julho, umas principais da cidade.

Na hora de irmos embora, na última noite esperávamos nosso ônibus na Rodoviária de Córdoba.

E nada dele chegar, já iam 45 minutos de atraso, estávamos preocupados pois no dia seguinte seria o voo pro Brasil saindo de Bs. As. . Quando o veículo afinal encostou na plataforma, os funcionários explicaram:

No dia seguinte, todo o Centro de Bs. As. permanecia sitiado, avisos pela cidade alertavam os motoristas pra evitarem as zonas de confronto. Pouco antes de eu tirar essa foto, 5 policiais me cercaram, revistaram minha câmera e exigiram que eu apagasse algumas imagens. Isso é estado de direito ou anarquia??

O ônibus havia sido apedrejado ao passar perto de um protesto.

Felizmente estava vazio e ninguém se feriu. E assim foi a despedida.

Da chegada a partida, uma síntese da crise que assola a Argentina.

E que não irá terminar tão cedo, pois é um processo estrutural, que já dura décadas.

Houve meteórica ascensão que fez a capital argentina ter metrô antes que sua antiga (e orgulhosa) metrópole.

Como já havia acontecido nos anos 80, a Argentina voltou a ter hiper-inflação na década de 10. Veja, flagrei um açougue em Buenos Aires via visão de rua do ‘Google Mapas’: em apenas 3 anos o preço dos alimentos mais que dobrou em alguns casos. Aí natural que o pais tenha explodido em revolta.

Agora veio a ressaca: a readequação a realidade latino-americana, que será perene nesse século 21.

Não, a Argentina não retornará ao 1º mundo. E está vivendo ‘as dores do parto’ dessa nova frequência.

Bem-vinda a América, agora de corpo & alma, Argentina querida.

Nós estávamos te aguardando, e a hora finalmente chegou.

Agora que a ‘ilusão europeia’ se dissipou, definitivamente estamos todos no mesmo barco.

………..

A série ainda vai longe, essa é apenas uma pequena introdução.

Vimos as causas, agora vejam as consequências. Foi detonada insurreição: diversos grupos promovem um levante que visa ‘derrotar’ (derrubar) o presidente Maurício Macri. No mês seguinte (abril.17, quando produzo o texto) o caos continuava, com mais greves-gerais nacionais. Nem sempre os protestos são pacíficos, esse é o perigo.

Em outra mensagem falamos melhor da conturbada situação política argentina, passado e pressente.

Começando pela ‘guerra suja’ de Videla com suas ‘escolas’ e cidades ‘ocultas’.

E chegando até o presente momento, em que Macri implantou uma política neo-liberal, soltando um ‘tarifaço‘ e arrocho nos salários.

Assim os movimentos sociais vem fazendo um movimento de insurreição pra derrubá-lo, como a imagem ao lado deixa nítido.

Fazendo uma leve pincelada no passado, a ditadura argentina foi crudelíssima, infinitamente pior que no Brasil.

Infinitamente, quem não estudou a fundo não tem noção do que ocorreu por lá.

Em apenas 7 anos o regime desapareceu nada menos que 30 mil pessoas.

No Brasil, calcula-se que tenham morrido no auge da repressão perto de mil pessoas.

A prova: em Córdoba, o trem suburbano passava dentro de um ‘assentamento’, a “Vila de Nylon” (ou ‘Náilon’ na pronúncia latinizada). Os comboios estavam sendo apedrejados com frequência, obrigando a suspender o serviço no trecho conturbado, agora ele opera da Estação Rodrigues do Busto (que já é na saída da cidade) até Cosquín no interior da província, evitando assim a parte mais problemática dentro da cidade de Córdoba.

Sendo que  nem todos foram mortos pelos militares, pois as guerrilhas também assassinaram gente em atos que eles denominavam ‘justiçamentos’.

Pois bem. Considere que a população argentina é um quinto da brasileira. Portanto os 30 mil mortos de lá equivaleriam a 150 mil aqui.

Resultando que a ditadura argentina foi 150 vezes mais letal que a brasileira, ou, ainda tirando 50% de brinde, nada menos que 100 vezes pior.

O regime de Videla se assemelha mais ao de Pol Pot que ao de Médici.

Na Argentina os presos enfrentaram torturas inimagináveis aos brasileiros, que descrevo nesse texto.

……….

Por hora, falemos um pouco mais sobre como é o país em termos gerais. A Argentina tem 44 milhões de habitantes. Como eu já disse quando retornei da Colômbia:

Infelizmente apedrejamentos do transporte coletivo são comuns em Córdoba e toda Argentina. Na estação dessa cidade, flagrei um trem que tem o para-brisas gradeado. No auge dos ‘problemas’ do ‘Apartheid’ na África do Sul  os ônibus e trens eram assim, mas hoje não mais. Por aí você vê como está a Argentina atualmente. Logo ao lado eu vi uma locomotiva que não tinha proteção, e o vidro estava inteiro perfurado por pedras. Não deu pra fotografar porque a composição que eu estava já se encontrava em movimento.

Muitos brasileiros de classe média pensam erroneamente que a Argentina é o 2º país sul-americano em população, logo após o Brasil.

Pela Argentina ser mais próxima física e culturalmente do Centro-Sul Brasileiro.

Nada poderia ser mais distante da realidade, entretanto.

A Colômbia é quem ocupa esse posto, com 48 milhões de pessoas, 10% a mais que a Argentina portanto.

Voltando ao nosso vizinho a sudoeste. Na capital Buenos Aires (no ‘conurbado’, núcleo mais subúrbios metropolitanos) residem 14 milhões de argentinos.

Apenas no município de Buenos Aires (que no Brasil e México seria o ‘Distrito Federal‘, lá antes chamado ‘Capital Federal’, agora ”Cidade Autônoma de Bs. As.”) são 3 milhões.

Portanto outros 11 milhões vivem na mesma cidade que é a Grande Buenos Aires mas nos municípios da região metropolitana, que ficam em outro estado, a Província de Buenos Aires.

A todos os problemas políticos, some-se a criminalidade comum , que também está elevada. Em 2 semanas, houve 5 sequestros na Zona Oeste de Buenos Aires. Suspeita-se que todos cometidos pela mesma quadrilha, sediada no conjunto ‘Forte Apache‘ – sim, é onde Tévez foi criado. A onda de raptos não se resume a capital, nos jornais de Mendonça as notícias são as mesmas, como veremos em postagem futura. Uma “Terra em Convulsão”, sem dúvidas. . .

Já eu falo mais da divisão política da capital, da distinção entre a ‘Cidade Autônoma’ (C.A.B.A.) e os subúrbios metropolitanos da ‘Província’ (A.M.B.A.).

Por hora, vamos ao interior. A segunda maior cidade argentina é Córdoba – também se escreve ‘Córdova’, a pronúncia é a mesma.

Linguística a parte, a Grande Córdoba tem 1,5 milhão de pessoas, sendo quase todos (1,4 milhão) no município de Córdoba mesmo. Visitei essa cidade, fiz matéria específica sobre ela.

Depois vem Rosário, que conta com 1,3 milhão de Homens e Mulheres. Ali não tive oportunidade de ir. 

E a seguir Mendonça, que acaba de ultrapassar 1 milhão. Nessa também fui, nessa reportagem falamos com muito mais detalhes, ricamente ilustrado.

São as únicas 4 cidades argentinas que abrigam mais de 1 milhão de habitantes.

………

Córdoba, como acabo de dizer, quase não tem região metropolitana. Dos 1,5 milhão de pessoas, 1,4 moram no núcleo, o município de Córdoba mesmo. Repito a informação pra fazer o contraste com Mendonça, onde a situação é diametralmente oposta.

Dos 1 milhão de argentinos que moram na cidade que é a Grande Mendonça, apenas 119 mil vivem no município de Mendonça, pouco mais de 10% portanto.

É que o município de Mendonça é minúsculo em área, como o mapa deixa claro. 

Abrange apenas o Centrão e uma parte da Zona Oeste (onde ficam o estádio e a universidade) e outra da Zona Norte.

Mafalda é uma deusa neo-pagã em B. Aires, seu rosto está por toda parte, há quase uma relação de culto em relação a ela na cidade. Aqui na Feira de São Telmo. No interior não é assim, fora da capital ela é uma menina personagem de quadrinhos que muitas pessoas curtem, mas não um ícone a ser idolatrado.

Quase toda a área urbana da cidade fica em outros municípios. A capital estadual é apenas o 6º município mais populoso da Grande Mendonça, você acredita nisso?

Pois é a realidade. O município mais povoado da Grande Mendonça é Guaymallén, com 320 mil. Pega quase toda a Zona Leste da cidade.

Como acabo de dizer e é notório, o município da capital da província é muito pequeno.

Você está no marco zero de Mendonça, a ‘Praça de Armas’ da cidade do tempo da colonização espanhola (no México o ‘Zócalo’), ou seja em seu núcleo mesmo, onde há aquela fonte com a bandeira argentina.

Pois bem. Caminhe 9 quadras pra leste. Apenas nove quadras o que dá menos de 1 quilômetro, quinze minutos a pé.

Você ainda está na Zona Central da Grande Mendonça, mas não mais no município de Mendonça, e sim em Guaymallén. 

O plátano é uma árvore típica de lugares frios. Símbolo-mor do Canadá, estampa inclusive sua bandeira, e também representa Campos do Jordão-SP, a cidade mais alta do Brasil. Pois bem. Na Argentina ela também é muito comum, essa está no Centro de Bs. As., perto da Casa Rosada e Porto Madeiro.

Depois vem Las Heras, com 227 mil, que corresponde a maior parte da Zona Norte.

A seguir Godoy Cruz, 203 mil. Se espraia entre as Zonas Oeste e Sul de Mendonça.

Seu vizinho em área e número de habitantes é Maipú, onde vivem 193 mil pessoas. Parte da Zona Sul e a parte da Zona Leste.

O extremo da Zona Sul já fica em Luján de Cuyo, moradia de mais 137 mendoncinos.

Parece incrível mas é isso mesmo, o município de Mendonça é apenas o 6º mais populoso da cidade que é Mendonça.

No Brasil, temos um paralelo com essa situação no Espírito Santo.

Já que falamos nela, eis a Casa Rosada na Praça de Maio, sede da presidência da nação.

Pois o município de Vitória, capital do estado, é apenas o 4º mais populoso da Grande Vitória, atrás de Serra, Vila Velha e Cariacica.

……….

Agora vamos pra capital. Pra quem não conhece o sistema político argentino, é um pouco complicado definir ‘Buenos Aires’, pois isso pode se referir a 3 coisas distintas

O município de Buenos Aires. Equivalente ao nosso ‘Distrito Federal’;

A província de Buenos Aires. Como todos sabem, as ‘províncias’ seriam chamadas de ‘estados’ no Brasil, México e EUA, entre outros países;

Congresso Argentino, em outra parte do Centro. Até que o efeito da chuva ficou legal, não?

E a cidade que é a Grande Buenos Aires, o ‘Conurbado’.

O município de Buenos Aires é circundado pela província de Buenos Aires mas não faz parte dela, como o D.F. brasileiro está dentro de Goiás mas não pertence a esse estado.

No México ocorre, o mesmo, expliquei em detalhes quando voltei de lá, com o agravante que o termo ‘México’ designa 4 esferas diferentes:

A nação; o município da capital que é o Distrito Federal; o estado que o circunda mas de quem o DF não faz parte;

Continuando na mesma frequência, a Assembleia Legislativa do estado (‘província’) de Córdoba.

E por fim a cidade que é Grande México, núcleo mais subúrbios, que incluem todos os que moram no DF e parte dos que moram no ‘Estado do México’.

Pra gente entender, ajuda muito relembrar como era a situação no Brasil até 20 de abril de 1960, ou seja, quando o Rio era nossa capital.

Havia o município do Rio de Janeiro, o ‘Distrito Federal’. Havia o estado do Rio de Janeiro, que circundava o DF mas não o abrangia, a capital era Niterói como sabem.

E por fim havia a cidade que era o Grande Rio, que compreendia núcleo mais subúrbios.

Esse incluía todo o DF (município do Rio de Janeiro) mais alguns subúrbios que ficavam no Estado do Rio de Janeiro, como Duque de Caxias, a própria Niterói e vários outros.

Quem morava nesses municípios obviamente vivia na mesma aglomeração urbana que os habitantes do Distrito Federal, malgrado a divisa estadual. Agora, havia também o interior do Estado do Rio.

O Rio Suquía corta toda cidade de Córdoba. Vemos nos postes a bandeira argentina.

Certamente os habitantes de Campos, Angra dos Reis, Volta Redonda, Petrópolis, entre muitas outras cidades, vivem no Estado do Rio de Janeiro, mas não no Grande Rio.

Voltando a Argentina, lá essa ainda é a realidade até hoje. Há o que moram no núcleo, o município de Buenos Aires.

Há os que moram em outro estado, a Província de Buenos Aires (ou simplesmente ‘a Província’ na linguagem popular) mas na mesma cidade que é a Grande Buenos Aires, nos subúrbios metropolitanos conurbados.

E há os que moram na Província de Buenos Aires mas não na Grande Buenos Aires, em cidades menores afastadas da capital ou mesmo no interior.

Jardim Botânico de Buenos Aires.

……

Repetindo, antigamente o município de Buenos Aires era conhecido como a ‘Capital Federal’, e hoje é a ‘Cidade Autônoma de Buenos Aires’.

O termo ‘autônoma’ se refere exatamente a que esse município não pertence a nenhum estado.

Já que tem autonomia em relação a essa esfera administrativa, situação exclusiva nessa pátria justamente por ser a capital dela.

A abreviação é ‘C.A.B.A.’, formada pelas iniciais, e esse termo é amplamente usado lá, mesmo no dia-a-dia sem conotação técnica, pra designar a capital. Exemplo numa pizzaria ao lado.

Na C.A.B.A. moram perto de 3 milhões de pessoas, número que se mantém mais ou menos estável há quase 50 anos, desde o censo de 1970.

Mas a cidade que é a Grande Buenos Aires tem hoje 14 milhões, portanto 11 vivem na ‘Província’. Aí é que está.

Anoitecer no Centro de Avellaneda, município na Zona Sul da Grande Buenos Aires, que sedia o Independente e o Racing – ambos já ganharam a Libertadores, portanto em Bs. As. até o ‘clássico suburbano’ envolve dois campeões dessa competição máxima da América.

Em 1970, esse número era de também mais ou menos 3 milhões, resultando que foi multiplicado em quase 4 vezes nas últimas 5 décadas.

Oras, coloquemos no contexto histórico e geográfico. Obviamente a Zona Central, o núcleo, o Distrito Federal de uma capital tem o padrão de vida muito mais elevado que sua periferia.

Em 1970, a Argentina vivia os últimos espasmos de sua fase gloriosa anterior como integrante do 1º mundo.

Então os portenhos já tinham metrô a quase 6 décadas, enquanto nenhuma cidade brasileira contava com essa benfeitoria.

E nesse ano a divisão da Grande Buenos Aires era praticamente meio-a-meio: metade no núcleo, a Capital Federal. E metade nos subúrbios metropolitanos que ficam em outro estado.

Próximas 2: outro Pôr-do-Sol também na Região Metropolitana de Buenos Aires, mas agora do outro lado da metrópole: município de Vicente Lopes, Zona Norte.

Assim, não é difícil de ver que a capital argentina era, como suas equivalentes europeias, uma cidade majoritariamente de classe média.

Onde mesmo os peões de obra comiam picanha diariamente, evidenciando que já haviam adentrado a classe média-baixa.

Hoje a proporção núcleo/subúrbio inter-estadual se alterou pra uma proporção de mais de 4 pra 1 a favor do último. Óbvio que nem todos os que moram na ‘Província’ são pobres.

Óbvio. Exatamente ao contrário, há subúrbios de altíssimo padrão, especialmente na Zona Norte mas também a Oeste e Sul. Acabamos de ver imagens do Centro de Vic. Lopes e Avellaneda.

Parque a beira-mar em Vicente Lopes, muito frequentado pela burguesia pra fazer exercícios.

Vicente Lopes é divisa com  a parte mais rica do município de Buenos Aires (a Z/N, de Recoleta a Nunhes [‘Nuñez’] passando por Palermo, é a parte ‘dourada’ da capital).

Vic. Lopes é colada a Nunhes, então claro que a prosperidade transborda a fronteira, o padrão social é praticamente o mesmo.

E a economia da Argentina está desproporcionalmente concentrada na capital e entorno.

Portanto evidente que em outras direções (Oeste e Sul, e mais distante na Norte) também há subúrbios metropolitanos em que pelo menos o Centro concentra uma grande classe-média.

“Trabalho em negro” significa “sem carteira assinada”. Em Córdoba mais de um terço dos trabalhadores está nessa condição de sub-emprego. Em algumas cidades chega quase a metade. Ainda assim, os índices oficiais de des/e sub-emprego baixaram em março. Os sindicatos dizem que as estatísticas foram fraudadas.

Avellaneda é um desses casos na parte meridional da urbe, há outros. Publiquei matéria específica sobre Buenos Aires, onde detalho melhor a cidade, inclusive com muito mais fotos

Assim, repetindo, na divisa com a capital (mais eventualmente mesmo já nem tão colado a divisa) na Z/S, Z/O, e especialmente na Z/N existem vários municípios da Grande Buenos Aires com um padrão de vida similar ao da capital.

Entretanto, também é óbvio que quando mais você se afastando do Centro, mais difícil a coisa vai ficando.

E como o subúrbio está inchando descontroladamente, natural que a pobreza esteja aumentando em níveis alarmantes.

Uma pequena parte desse aumento é de uma classe afluente, sim, mas o grosso é do povão, da classe proletária.

Fora que mesmo na parte riquíssima da Capital Federal as favelas têm se multiplicado como cogumelos após a chuva. Resultado: a muito Buenos Aires não é mais majoritariamente de classe média.

Houve nova greve geral no começo de abril.17. O índice oficial caiu. Foram criados mais postos de trabalho, e mais gente está trabalhando? Não, exatamente ao contrário. Há cada vez menos empregos com carteira assinada, assim simplesmente as pessoas pararam de procurar ocupação formal. Foram trabalhar por conta, muitos como como camelôs ou flanelinhas.

Há muito isso virou passado, um sonho distante, que os mais velhos se lembram com agoniosa nostalgia, e os mais jovens não chegaram a vivenciar.

A Argentina de hoje, especialmente sua capital, tem pirâmide de concentração de renda exatamente igual a qualquer país da América Latina:

Alguns obscenamente ricos, uma pequena classe-média que está cada vez mais encolhendo, e uma massa de despossuídos, que apenas sobrevive ou as vezes nem isso.

‘mad max em mendonça’; e risco de vida triplo em buenos aires.

Catador de papel em Buenos Aires . . .

Obviamente fui conferir de perto essa transição, que não tem sido nada suave. Voltei a pé do Novas Quintas, o bairro mais ocidental de Mendonça, a pé até o Centro.

Deu quase 20 km, mais ou menos 4 horas de caminhada. Em outra mensagem conto melhor essa aventura.

Apenas como aperitivo, os bairros mais a Oeste da cidade estão a mais de 300 metros e nesse ponto extremo cerca de 400 metros mais altos que o Centro, logo você vê a metrópole inteira lá de cima.

Aqui o que nos importa é: atrás do Aero-Clube há uma nem tão pequena favela. As margens de um enorme canal, que nessa época do ano fica quase vazio, um mero riachinho, mas na primavera se torna um potente rio caudaloso.

. . . e flanelinhas em Mendonça. Oficialmente, essas pessoas não estão desempregadas, pois elas não buscam um emprego com carteira que sabem que não existe. Em tempos de crise, é assim que as estatísticas de desemprego baixam, na Argentina e toda parte.

Presenciei a mesma situação em Santiago do Chile, e o motivo é o mesmo: no verão, apenas os picos mais altos dos Andes se mantém nevados.

No outono a neve começa a se acumular na cadeia de montanhas.

No inverno toda a Cordilheira fica branca de neve, tão abundante a ponto de propiciar inclusive muitas estações de esqui como é notório.

E na primavera a neve derrete, escorre pra cidade, onde a água é usada pro consumo humano.

Duas cenas da favela na Zona Oeste de Menonça que eu passei ao lado. As fotos foram puxadas via ‘Google Mapas’ porque minha máquina ficou sem bateria.

Toda Mendonça é cortada por pequenos canais, pra levar pras casas a água resultante do desgelo dos Andes na primavera. Toda ela, Centro, classe média e subúrbios.

Em Santiago isso também ocorre mas apenas em pequenas partes da Zona Leste, no resto da cidade não.

Santiago e Mendonça ficam em países distintos, mas são muito próximas, física e principalmente culturalmente.

Natural, pois elas estão bem pertinho, uma em cada margem da montanha. Depois nós falamos disso mais detalhadamente.

Repare no esgoto correndo a céu aberto.

Aqui o que nos importa é: tanto Santiago quanto muito mais Mendonça têm rios intermitentes, isso é, que só existem em determinadas épocas do ano.

Na primavera, com toneladas de neve derretida descendo da Cordilheiras, esses cursos d’água se tornam colossais.

Se você cair neles será fatalmente arrastado pela correnteza e caso não seja exímio nadador não sobreviverá.

Também via ‘Google’, eis o canal do rio em Mendonça, que fica seco do verão ao outono. Em compensação, quase não tem água mas tem muito lixo, toneladas dele, formando um aterro sanitário clandestino.

Porém, do verão ao outono, são pequenos regatos d’água que até uma criança atravessa a pé sem qualquer risco.

Aqui voltamos a nossa narrativa. Eu desci as montanhas que cercam Mendonça a oeste. Saí atrás do Aero-Clube.

Atravessei um terreno baldio, cheio de cactos – por ser ao lado da montanha, o clima de Mendonça é semi-árido, parecido com o do Chile mas ainda mais pronunciado. Cheguei no canal concretado do rio.

Ou eu teria que voltar, ou pra seguir pro Centro teria que ir pelo canal. Como estive lá no outono não havia rio de fato, só um pequeno fiozinho de líquido.

Você conhece o Rio Los Angeles, que nomeia essa que é a segunda maior cidade ianque? ‘Hollywood adora filmar ali.

No texto ao lado sigo falando de Mendonça. Mas daqui pra baixo as fotos são todas na capital e de minha autoria. Nessa e a direita: Vila 21, na Zona Sul. Ainda no município de B. Aires, mas na extremidade de sua periferia.

Por exemplo, busque na internet a famosa cena de perseguição do filme ‘O Exterminador do Futuro’, estrelada por Schwarzenegger, que depois foi governador da Califórnia.

Pro que nos interessa aqui, mostra o canal concretado de um rio que está quase seco, e portanto dá para andar ou dirigir pelo que deveria ser o leito do curso aquático.

Então, em Mendonça a cena é a mesma: há uma enorme canaleta de concreto, que enche na primavera e esvazia no resto do ano. Como estava vazia, fui por ela.

Ao lado uma favela, uma das maiores da cidade – no resto da Argentina as concentrações de miséria são bem menores que na capital. 

Outra da Vila 21. Essa favela fica na margem do Riachuelo, que divide a Capital Federal de Avellaneda, município que como já dito fica em outro estado, a ‘Província’ de B. Aires.

As favelas de Buenos Aires são gigantescas, tanto em extensão quanto em densidade.

No interior a coisa é bem mais amena. Bem mais. Essa favela seria pequena na capital. Mas em Mendonça é uma das maiores senão mesmo a maior. 

Ali estava eu. Caminhando pelo leito cimentado do rio quase seco. De um lado um enorme muro, do Aero-Clube.

Do outro a favela. Mas o mais impressionante estava no chão e nas encostas de concreto:

Muito lixo, que é simplesmente descartado no rio. Cachorros furavam os sacos procurando comida, crianças brincavam como se aquilo fosse um lindo parque.

Não confunda: a partir de agora e até o final veremos a Vila 31, que fica no Centrão, atrás do porto, das estações rodoviária e ferroviária, e não muito longe do aeroporto. A logística dos transportes é excelente, não (risos…)? Pena que a infra-estrutura na favela seja péssima.

E nas margens os precários barracos de papelão que são a moradia desses meninos e meninas e seus pais e mães.

Uma cena surreal, mas real. ‘Mad Max na Argentina’, como o episódio foi batizado. 

Estado inexistente, cada um toma sua sobrevivência e de sua família nas suas próprias mãos, da melhor forma que puder.

……….

Ainda bem que eu já estava escolado e curtido pelo que passara na capital, uns dias antes. Em Buenos Aires (como em Medelím, Colômbia) as favelas são numeradas. As duas mais famosas são as Vilas 21 e 31. Vimos a Vila 21 pelo decorrer da matéria, busque pelas legendas.

Clique pra ampliar que a imagem é muito comprida. A Vila 31 foi invadida no pátio ferroviário, como temos casos também em Curitiba e Fortaleza-CE, entre muitas outras. Nessa outra postagem a mesma cena com ângulo mais aberto, o Tetra-Modal: numa única tomada enquadramos trem, avião, rodovia e porto de navios.

É igualmente enorme e pavorosa, mas fica na periferia, Zona Sul, já na divisa de município – que lá também é divisa de estado.

Já a Favela Vila 31, retratada acima da manchete e depois em outras tomadas espalhadas pela página, fica exatamente no Centro de Buenos Aires.

Alias veem a linha de prédios da alta burguesia ao fundo de algumas tomadas.

Agora de mais perto, as casas da Vila avançando sobre o estacionamento de trens.

Esse agudo contraste traz uma situação de tensão social explícita, evidentemente.

………

Corri um risco tri-dimensional pra captar essas imagens, enfrentando tráfico, tráfego e a polícia.

O país estava em convulsão exatamente naquele dia que eu estava ali.

Simplesmente a Argentina passa por uma revolução que tenta derrubar a governo.

Situação explosiva (de fato vem explodindo): quem tem muito e quem não tem quase nada lado-a-lado, vendo um ao outro, nem sempre com pensamentos de amor e fraternidade óbvio, e isso vale pras duas mãos. Eis a imagem acima da manchete.

Não sabemos ainda se terão sucesso ou não mas estão tentando.

Logo a nação está em caos e as forças de segurança, consequentemente, estão em alerta máximo.

Pouco antes fui cercado por 5 policiais que revistaram minha câmera e exigiram que eu apagasse algumas imagens, como contei acima.

Ademais, eu tirei as fotos de cima de um viaduto, onde é proibido entrar caminhando, só permitido de carro.

A laje das favelas de B. Aires já atingiu o 5º ou 6º andar, são idênticas as do Rio e SP. A 1ª vez que eu vi na internet fotos de B. Aires tive que conferir a digitação, porque a princípio me pareceram cenas cariocas.

Assim sequer há espaço pra pedestres, só pista pra veículos, que como estão numa auto-estrada vem em alta velocidade.

Mesmo sendo ilegal e perigosíssimo eu fui a pé, me esquivando do fluxo de carros, caminhões e motos na auto-estrada mais movimentada do país.

Por aí vocês entendem porque desafiei a polícia e o tráfego.

Quanto ao tráfico, não é preciso explicar. Esse comércio ilegal tem grande movimento na Vila 31.

Uma vez que a vila está cercada do público consumidor de maior poder aquisitivo.

O pequeno espaço que eu me espremi pra poder fotografar a favela. Veja que os carros avançam sobre a faixa o tempo todo, pois é proibido passar a pé ali.

Com isso a venda de entorpecentes atrai grande número de jovens. Eles não permitem serem fotografados, por motivos óbvios.

Apesar de tudo isso eu estava lá. Contra tudo e contra todos. Sozinho, a pé, sem celular, só eu e Deus na ‘zona de perigo’.

Contra, reitero, a polícia, os traficantes de drogas e os carros e motos que passavam voando a pouquíssimos centímetros de minha humilde pessoa.

VLT em Mendonça.

O barato é louco e arrepia na hora.

Valeu a pena. Missão é Missão, e vamos até o final.

Eu Sou O Mensageiro.

………..

Outras mensagens da série:

Córdoba.

“Desse Lado do Morro”: Mendonça, a Cidade do Vinho (03/19):

Mendonça é muito ligada ao Chile, com quem é quase na fronteira.

Daí o título da matéria, fazendo referência a série sobre o Chile, que se chamou “Do Outro Lado do Morro”.

Próx. 3 imagens: a frota da Argentina é muito velha, bem mais que no Brasil.

Patcha-Mama, Patcha-Papa: Córdoba É América (11/18):

Sobre a maior cidade do interior, Córdoba evidente.

Que é bem distinta da capital, em múltiplas dimensões.

Tanto que quase que podemos falar em duas Argentinas diferentes.

O Número da Besta (03/18): Onde eu falo mais detalhadamente da capital Buenos Aires.

O título é o nome de uma música do ‘Iron Maiden’, como sabem.

No fim da matéria explico o porque da associação com a cidade.

O Transporte na Argentina (11/17):

Os ‘micros’ coloridos com todo o itinerário na lataria;

3 cidades com tróleibus, recorde latino-americano:

Catedral de Córdoba ao anoitecer.

Rosário, Mendonça e Córdoba, sendo que nessa última somente com mulheres ao volante;

Bonde moderno em Mendonça; excelente rede de trens e bom metrô na capital;

Poucos articulados e corredores, sem terminais ou integração;

E mais: devido a grande crise econômica do país, na periferia a frota de automóveis argentina lembra a de Cuba – de caminhões então muito mais.

Não é maneira de falar, e as cenas acima já dão um pequeno aperitivo.

Vila Carlos Paz, bonita cidade a 40 km de Córdoba. Espremida entre as montanhas e um lago, lembra a Suíça. Se você preferir, a versão argentina de Campos do Jordão-SP.

Abordamos também o novo emplacamento (embora eu tenha visto carros andarem com emplacamento já extinto há décadas).

No fim sobrou até uma palhinha pro Uruguai. Tudo ilustrado com uma centena e meia de fotos.

“Pol Pot na América” (07/17): os ‘anos de chumbo’, o Genocídio Argentino que deixou 30 mil mortos em apenas 7 anos de ditadura militar.

“Voka” versus “Riber”????? (03/17): o futebol na Argentina. Eis uma dimensão que essa nação não decaiu, ao contrário das outras.

Voka” e “Riber” se enfrentando sob muita chuva. Foto baixada da internet.

Dentro dos gramados os caras continuam no auge, comandando a Libertadores.

E eu fui ao estádio num jogo da Liberta, pra sentir o modo portenho de viver.

Detalhe: a briga das torcidas invadiu a linguística, daí a grafia ‘alternativa’ dos 2 arqui-rivais.

“Deus proverá”

Vielas da Vila Maria, Deusa-Lua, Primavera Eterna, Afeganistão ao lado de ‘Beverly Hills’: assim é a Colômbia.

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Aqui e acima da manchete: Chía, a Deusa-Lua, Grande Mãe, o Lado Feminino de Deus Pai e Mãe. Homenageada com uma cidade em seu nome na Grande Bogotá, onde eu estive.

Por Maurílio Mendes, O Mensageiro

Subido pra rede em 23 de agosto de 2016

Publicado (em emeios) em 20 e 30 de abril de 2011.

Nessa mensagem nenhuma foto é de minha autoria. As de Cartagena (Litoral) foram clicadas por meus familiares, o resto puxei da rede.

Fechando a Série sobre a Colômbia, solto 2 emeios. O 1º se chamou “Nas Vielas da Vila Maria, Bogotá”, e é de 20-04-11:

Vamos lá retratar mais alguns aspectos da Colômbia, esse vizinho tão fascinante e tão pouco conhecido de nós brasileiros.

Talvez muitos nem tenham se atentado pro fato que a Colômbia é um país do Hemisfério Norte:

cartagena colômbia água oceano praia prédios classe média alta elite burguesia beira-mar orla litoral céu azul limpo linha prédios

Passeio de barco por Cartagena, Litoral da Colômbia. De um lado espigões de luxo onde vivem os muito ricos.

Apenas uma pequena parte do país é ao sul do Equador, e não há nenhuma cidade grande ou média ali. 90% do território e 99% da população colombiana fica ao norte dessa linha que divide a Terra no meio. 

………….

Há igrejas evangélicas nas favelas e periferias de Bogotá e Medelím, é claro. Mas numa proporção infinitamente menor que aqui.

Nos subúrbios aqui no Brasil você chega a ver 3 ou 4 igrejas evangélicas na mesma quadra, as vezes parede a parede, ou frente a frente.

Lá nem de longe o fenômeno atinge essa proporção. Diria que há uma igreja a cada 3 quadras.

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Mesmo canal em Cartagena: só olhar pro lado e verá pavorosas favelas em palafitas abrigando os que nada têm.

Nota: fui a Colômbia em 2011. Na sequência, em 12 ao México, 13 Paraguai e República Dominicana, 15 ao Chile e em 2017 Argentina.

Apenas na Rep. Dominicana a proporção de igrejas neo-pentencostais atinge a mesma proporção que aqui.

Nos demais países bem menos. Bom, no Chile a imensa maioria da população ainda é católica praticante, como foi no Brasil até os anos 80.

Na Argentina entre os chamados “intelectuais” há muitos materialistas (ateus), mas na classe trabalhadora o catolicismo igualmente ainda é bem forte.

Voltando a Colômbia, há templos evangélicos, mas numa proporção menor que no Brasil. Dentre as igrejas que lá estão a brasileira Universal é uma das mais fortes.

Assim se vê que as duas maiores empresas brasileiras (Petrobrás e Universal) estão bem fincadas em solo colombiano (da Petrobrás já falei melhor em outra mensagem).

cartagena colômbia água oceano praia prédios classe média alta elite burguesia beira-mar orla litoral céu azul limpo linha prédios marinha navio barco porto base naval

Nas próximas 2 mais um pouco do agudo contraste em Cartagena: milionários

………..

Discorrendo agora sobre algo completamente distinto, nem toda Colômbia aderiu ainda aos caminhões de lixo na forma como conhecemos aqui:

Onde o veículo é feito especialmente pra esse fim, portanto tem um compactador que vai comprimindo o que é jogado dentro.

Estou falando do caminhão de lixo comum, que todos conhecem. Há alguns deles na Colômbia, os vi.

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ao lado dos miseráveis. Na Colômbia o Afeganistão está ao lado de ‘Beverly Hills‘ (como também ocorre no Brasil, Chile, Rep. Dominicana e várias partes do mundo)

Mas não em toda parte. Andava num bairro de elite em Medelím, pra milionários mesmo.

E o lixo estava sendo recolhido com um caminhão comum (!!!). Sim, estou me referindo aqueles com caçamba, abertos em cima.

Um cara jogava os sacos, e outro, em cima do caminhão, ia amassando o volume com os pés e com uma pá. Chovia, ainda por cima.

Parece inacreditável, mas presenciei. Já vi a mesma cena em Cancun, no México – nesse caso pela internet via Visão de Rua do ‘Google’ Mapas.

………..

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Próximas 3: na cidade de mesmo nome na Grande Bogotá, a estátua de Chía, a Deusa-Lua, a Grande-Mãe da Humanidade. Segundo a Mitologia Americana, Chía foi um Grande Espírito que encarnou como mulher pra pregar a Palavra de Deus na Terra. Passada essa fase material de sua missão, ela Ascendeu aos Céus, e hoje na forma da Lua continua a Iluminar os homens e mulheres.

FRANGO, MILHO E FEIJÃO, A BASE DA CULINÁRIAFoi difícil pra mim me alimentar na Colômbia. Eu não como carne, de nenhum tipo. E esse povo é extremamente carnívoro.

Digo, quando estava com minha família, parávamos pra almoçar em restaurantes, aí não havia problema, pedíamos os pratos e do meu eu simplesmente cedia a carne pra eles.

Porém muitos dias estava sozinho, eles iam ver outras coisas e eu subir os morros e favelas.

Pelo tempo ser curto, não parava pra comer, tentava fazê-lo na rua. Aqui no Brasil me viro bem, sempre há uma pastelaria onde como pastel de queijo.

Lá entretanto, não há salgados sem carne. Alguns dias tive que almoçar bolinhos doces.

Assim é culinária colombiana, sempre com muita carne. Preferem o frango, mas a carne de boi também é muito popular, seguida pela do porco.

Quase não se come peixe em Bogotá e Medelím. Pois estão no alto dos Andes, onde não há como pescar, e o transporte é caro e difícil.

Na Amazônia Colombiana a situação deve ser diferente, a julgar pelo que vi na Amazônia Brasileira. Estive em Manaus em setembro de 2010, onde o peixe (que eu também não como) é a base da alimentação. Com certeza do lado colombiano da selva funciona igual.

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Como vê, Chía está bem na frente da Catedral. Duas formas distintas de ver o Criador, e ambas são igualmente válidas.

No litoral da Colômbia o peixe também deve ser mais frequente. Não pude ir até lá, tive que voltar antes.

Minha família foi a Cartagena, como já informado na legenda das fotos, clicadas por eles.

Entre os cereais, a base da alimentação é o milho e o feijão. Se faz tudo com milho por lá, farinha, bolinhos, o que imaginar.

E como aqui o feijão é prato nacional. Isso é América, e nós americanos comemos feijão. Sendo a Colômbia coração e essência da cultura americana, lá se come todos os dias.

Arroz nem tanto. Eles gostam também, mas é pedido separado, pois alguns comem feijão com milho (em forma de farinha ou bolinhos), dispensando então o arroz.chia

Seja como for, com milho, arroz ou puro, o feijão é a paixão colombiana. Só que é diferente do que comemos aqui. Os grãos são muito maiores, o triplo do nosso.

O feijão da Colômbia é do mesmo tamanho ou até maior que o ‘feijão cavalo’, aquele servido no Brasil como salada.

Só que lá eles comem quente esses feijões gigantes. Maior e mais forte, é avermelhado, e tem um gosto mais pronunciado.

Talvez porque lá se coma mais pimenta. Um povo de sangue quente, indígena, pouco europeizado – me refiro ao povo mesmo, a elite é bem europeizada, como em toda a parte.

MÚSICA, SÓ EM ESPANHOLO povo colombiano quase não ouve ‘rock’, nem qualquer música que não seja em espanhol. Eles praticamente não ouvem música em inglês.

Acima o feijão consumido na Colômbia, abaixo o tipo mais comum no Brasil. A imagem é auto-explicativa, o feijão de lá é do tamanho do ‘feijão-cavalo’ nosso, mas não é salada, é cozido e comido com arroz, como aqui. Só muda – bastante! – a dimensão.

O ritmo preferido deles é aquele bem latino mesmo, parecido com o que é chamado ‘cumbia’ na Argentina.

Sabe aquela música que vemos nos filmes sobre Cuba? É por aí que a coisa vai, uma música caribenha, de corpo e alma americana.

A parte instrumental é essa música caribenha, as letras são iguais ao nosso sertanejo, ‘chorei tanto quando me deixou’, e por aí vai.

Nas quebradas, se ouve muito ‘rap’ também, mas sempre ‘rap’ em espanhol.

………

Mesmo os que têm mais renda e acesso a estudo também dão preferência a música no seu próprio idioma.

Em Bogotá, estávamos no bairro universitário, reduto cultural burguês. Saímos eu sexta a noite para curtir um pouco do ar fresco da noite bogotana.

cartagena mar barco água palafita barcos cais marina colômbia favela pobreza quebrada subúrbio periferia

Próximas 12 tomadas: vamos ver muitas fotos de Cartagena. As duas primeiras são ainda das favelas no mangue. Depois várias do Centro Histórico, que era murado pra evitar ataques de piratas.

Fomos a uma praça onde haviam vários bares, parecida com o Largo da Ordem no Centro de Curitiba ou com a Vila Madalena na Zona Oeste de São Paulo e a Lapa no Rio.

Pois bem. Até os bares destinados a jovens de classe média tocavam música em espanhol. Menos um. Mas esse tinha umas dez bandeiras da Inglaterra na fachada, se assumia nitidamente como um ‘pub’:

Esse era seu diferencial, exatamente pra concentrar o não muito numeroso público colombiano que aprecia música em outras línguas.

Ou seja, pra tocar música em inglês, tem que ser notadamente inglês. Já no caminho pro hotel, paramos em um bar menor, quase um mercadinho. Estava tocando ‘rap’ – em espanhol, óbvio. 

Mais uma atualização: a Colômbia é assim, e eu diria que a República Dominicana também. Nesses países quase não se ouve roque, nem música em inglês em geral. cartagena mar barco água palafita barcos cais marina colômbia favela pobreza quebrada subúrbio periferia

Mas no México e Chile é totalmente diferente. Nessas duas últimas nações já curtem bastante o roque e outros ritmos populares nos EUA/Europa (como a música eletrônica), exatamente como no Brasil.

…………

E PRÉDIOS TAMBÉM Os prédios na Colômbia são todos em espanhol, de todas as classes sociais. Não há por lá edifícios chamados dream life”, “queen elizabeth”, “hyde park” ou “hudson river”.

cartagena colômbia lagoa água palácio linha prédios elite burguesia classe média altaOs nomes dos conuntos são todos pomposos, mas sempre em seu idioma:

Jardines de la reina (jardins da rainha)”, “cerro rico (morro bonito)”, “lomas (colinas) verdes”, “portal del bosque”, e assim por diante. E o que aqui chamamos “shopping center”, lá é, bem, ‘centro comercial’.

No México, vi nas viagens seguintes, é assim também. Já no Paraguai é como no Brasil, há sim em Assunção prédios com nomes em inglês.

…….cartagena colômbia muralha Colonial forte fortaleza murado prédio trânsito avenida

Claro que também se copia muito os EUA na Colômbia.

Algumas lojas nos bairros caros tem um neon escrito ‘open’, assim, em inglês, e numa periferia, havia um brexó com roupas usadas vindas dos EUA, e isso era propagandeado como se fosse enorme vantagem.

AS RUAS NUMERADASHá outras influências estadunidenses no país. A capital se chama Bogotá D.C., imitando Washington D.C..

cartagena colômbia palácio torre construção prédio antigoMais abaixo desenvolvemos mais esse tema. Por hora falaremos de outra questão: as ruas numeradas.

É um sistema similar ao de Nova Iorque. Na maior cidade estadunidense, como é notório, há as ruas e avenidas, ambas identificadas por números.

As ruas cortam a cidade no sentido leste-oeste, e a numeração começa logo acima do Centro, que é no extremo sul da ilha de Manhattan. cartagena colômbia muralha Colonial forte fortaleza murado prédio igreja

As avenidas cortam a cidade no sentido sul-norte, e a numeração começa no leste.

Voltemos a Colômbia. Falei um pouco sobre o sistema numerado das ruas de Nova Iorque porque foi copiado pelas cidades colombianas:

cartagena colômbia casa centro histórico colonial sobrado construção antiga sacada varanda céu azul limpo torre igrejaAs ruas cortam a cidade de leste a oeste. Como se sabe, se chamam “calles” em espanhol. Bem no Centro de Bogotá há a rua (calle) 1.

A sua primeira paralela ao norte se chama rua 2. Ao sul eles acrescentam o ‘s’ pra diferenciar, a primeira paralela ao sul é a rua 1-S.

O que em Nova Iorque seriam as avenidas na Colômbia são as “Carreras”, que cortam a cidade de sul a norte. A numeração começa no Centro.

cartagena colômbia Colonial estátua torre igreja sobrado casa antiga

Ainda estamos vendo Cartagena.

Como em Bogotá o Centro é no pé da montanha, só há cidade a oeste dele, e não a leste (por essa impossibilidade física, Bogotá não tem Zona Leste).

Então só é carrera 1, carrera 2, não há carrera 1-L, porque não é preciso. E as as ruas transversais são chamadas assim mesmo, ‘transversais’.

Algumas vias mais importantes têm nome, mas não deixam de ter número. A (já citada em outra mensagem) Avenida Chile, onde fica a bolsa de valores, é a calle 72.

A Avenida Caracas, por onde passa o principal eixo do Transmilênio, é a Carrera 14. Note que na Colômbia as vias numeradas se chamam ‘calles’ (sul-norte), ‘carreras’ (leste-oeste) ou ‘transversais’ (diagonais).

cartagena colômbia Colonial prédio construção antiga galeria comercial comércio canteiro planta lojasO nome avenida‘ não guarda relação com a posição e portanto com esse nomenclatura oficial.

Resultando que uma ‘avenida’ pode ser tanto uma calle quanto uma carrera, dependendo se são no sentido oeste-leste ou sul-norte.

O sistema é quadriculado, simples e fácil de aprender. Pois em condições normais nunca uma calle cruza com outra calle, nem carrera com carrera.cartagena colômbia Colonial ponte táxi taxi amarelo árvore palmeira trânsito avenida

O ideal e mais comum é que toda esquina seja de uma carrera com uma calle, ou de uma delas ou ambas com uma transversal.

Claro, as vezes uma via faz uma curva, aí complica. Então as vezes a carrera 30 cruza a carrera 29, o que não deveria acontecer, mas acontece. São exceções, porém.

cartagena colômbia Colonial estátua ponte trânsito avenidaE quando surge uma nova rua entre duas já existentes? Aí vira a rua 56-A, por exemplo. Se surge mais uma paralela entre a 56 e a 57, vira 56-B, e assim por diante.

Se for ao sul do Centro, entre a 56-S e a 57-S, vira a 56-S-A.

Na parte plana da cidade, há alguns casos que fogem a norma, como citei acima, mas tudo funciona bem. cartagena colômbia casa centro histórico colonial sobrado plantas construção antiga bandeira

O caldo engrossa mesmo nas favelas, na numeração das ruas como em diversos outros aspectos.

O sistema foi bolado em Nova Iorque afinal, que tem guetos bem feios, mas não tem favelas com ruas irregulares e muito menos morros.

Já a Colômbia tem favelas. São muitas, e são na encosta da montanha, tanto em Medelím e Bogotá como também em Cali (onde não fui), entre outras cidades.

Se na cidade plana as vezes existe a rua 15-A e mais raramente 15-B, nas favelas é comum a 15-H, 15-J, as vezes são becos de uma quadra, mas a numeração é seguida.

O problema é que no morro, além de surgirem muitas ruas sem controle como cogumelos após a chuva, elas são muito sinuosas, fazem curvas.

vila maria

Próximas 4: Vila Maria, perto da divisa entre as Zonas Norte e Oeste de Bogotá (via ‘Google’ Mapas).

Até porque precisam se adaptar a topografia irregular do lugar. Só que a numeração quadriculada, que é regular, tenta então se adaptar a esse caos.

Não dá certo, claro, daí com frequência calle cruza calle, carrera cruza carrera, a carrera 70 (que deveria estar entre as carreras 69 e 71) está entre a 72-E e a calle 18-J, a confusão é geral.

Bem, favela é favela, na Colômbia ou em toda parte.

AS PERIFERIAS PLANASAlém dos morros, também há na Colômbia periferias planas.vila maria1 

Fora não haver risco de desabamento – o que já uma tremenda vantagem, claro – não se diferenciam tanto assim das favelas nas encostas.

O governo fez por todo país enormes conjuntos residenciais, de casas geminadas, pra população de baixa renda.

Muitos nem sequer tem garagem ou mesmo ruas, tampouco há quintal ou muro, as portas saem na via pública.

vila maria2Em algumas dessas vilas se chega a porta das casas por passagens onde só se entra a pé ou no máximo de moto.

Em outras cohabs há sim ruas. Mas são muito estreitas.

E cada morador modificou a vontade sua residência, pondo por conta própria novas lajes e erguendo tanto mais andares quanto o tamanho da família exigiu e orçamento permitiu. As imagens são auto-explicativas: Estamos na América, afinal.

Tudo somado, os conjuntos ganharam aspecto de favelas, e erradicar as favelas era exatamente o que eles pretendiam, tendo porém o efeito oposto na prática.  vila maria3   

Se você passa de carro na frente pensa que é uma invasão, pois é o que aparentam ser.

Porque as ruas são mais estreitas e as casas geminadas, muito mais próximas.

cartagena colômbia Colonial sobrado igreja

Próxima 7: voltamos a Cartagena.

Me embrenhei nas vielas de vários desses conjuntos favelizados pra ver como é por dentro essa ‘zonaproibida’.

Um deles é a Vila Maria, na Zona Norte de Bogotá, que nomeou a mensagem.

………….

Emendamos outro emeio, que se chamou “Da Deusa-Lua a Primavera Eterna”.

Foi publicado 10 dias depois, em 30 de abril de 2011.

Já demos uma pincelada antes, agora falemos melhor do sotaque.

Pra quem não é versado em linguística, o idioma castelão (espanhol) se divide basicamente em 3 vertentes conforme a pronúncia:cartagena colômbia Colonial estátua ponte

– O espanhol ‘europeu’, usado onde ele surgiu, a Espanha obviamente;

– O espanhol ‘pratense’, na Argentina, Uruguai e Paraguai;

– E o espanhol ‘andino’, falado no Chile, Colômbia, Peru, Equador, Venezuela, América Central e México.

cartagena colômbia casa centro histórico colonial sobrado grades flores construção antigaAs letras “j” e “g”, na Colômbia e em toda parte, são pronunciadas como nosso “r”.

Cartagena se lê Cartarrena. ‘Joven’ se diz ven, ‘mujer’ se pronuncia murrér, e assim vai. É universal, nas 3 vertentes é o mesmo.

O que o espanhol andino (o corrente na Colômbia) tem de distinto dos outros dois é que os dois ‘eles’ se pronunciam como jota. E o ‘ypsilion’ seguido de vogal também.

Exemplificando fica mais fácil entender. Peguemos as palavras Barranquilla e Medellín (cidades do litoral e dos Andes colombianos) e ‘ayer’, ‘ontem’ em português:

– No castelão europeu se fala o ‘ll’ como nosso ‘lh’, e o ‘y’ como nosso ‘i’. Assim, um cidadão espanhol leria “Barranquilha”, Medelhin” e ”aier”;cartagena colômbia muralha Colonial murado igreja

– Na região da bacia do Rio da Prata (Uruguai, Argentina e mais o Paraguai), ambos têm som do nosso “ch”. Assim eles diriam “Barranquicha”, “Medechin” e “acher”;

Na Colômbia, entretanto, se diz “Barranquija”, “Medejin” e “ajer”.

Há uma avenida em Bogotá chamada Boyacá. Homenageia uma batalha decisiva da guerra de independência, que foi longa e cruel.

Ao contrário do Brasil, em que Dom Pedro I decretou a separação quase em consenso com Portugal. Lá não, o negócio foi tenso. Como é sabido, o venezuelano Simão Bolívar é um dos grandes ‘Libertadores da América’:

cartagena colômbia prédio grades luminária antiga colonial bandeiraHerói da independência da Colômbia, Venezuela, Bolívia, Peru, Equador e Panamá (este último pertencia a Colômbia, até virem os ianques e separarem pra poderem dominar o Canal).

Então, em Boyacá suas tropas impuseram uma derrota definitiva aos soldados da coroa espanhola. Batalha essa que foi homenageada pela avenida.

E como eu dizia acima, se fosse em Madri essa avenida seria pronunciada Boiacá. Se fosse em Montevidéu, Bochacá.

Mas como ela fica em Bogotá, a gravação do Transmilênio, numa marcante voz feminina anuncia: “próxima parada, Abenida Bojacá”.

Se alguém não sabe, o espanhol não tem o som de ‘v‘. E isso não só na Colômbia, em toda parte. Tanto cartagena colômbia sacada centro histórico colonial sobrado grades flores construção antiga casase escreva com ‘v’ ou com ‘b’, se pronuncia ‘b’.

Na Zona Sul de Santiago do Chile há um bairro que homenageia as capitais brasileiras. Há as ruas Maceió, Bello Horizonte, e também a rua Curitiva, com ‘v’.

Na verdade oficialmente é com ‘b’, mas o povão muitas vezes troca pelo ‘v’, pois dá no mesmo.

Avenida se escreve com ‘v’ em espanhol, mas se fala ‘abenida’. O libertador americano também se pronuncia Simón Bolibar.

Os espanhol não têm vários sons que temos em português: ‘z’, se fala sempre como se fosse dois “s”, por isso os micro-ônibus se escrevem ‘busetas’ mas se pronuncia ‘bucetas’, trocadilho que já foi explicado em outra mensagem;

cartagena colômbia prédio banco arcos antiga colonial bandeira‘V’ se fala como ‘b’, por isso avenida se diz ‘a benda’ quando algo está com placa de venda; ‘j’ e ‘g’ se pronuncia como dois “r”, assim júnior é “rúnior”. Tudo isso em todos os países que falam espanhol.

E no espanhol andino “ll” e “y” antes de vogal se pronuncia como nosso “j”. Tudo somado, Abenida Bojacá, como a gravação informa.

Da linguística a geografia, acrescento que tanto Bogotá quanto Medelím têm bairros chamados “Brasília”, em homenagem a nossa capital federal.

Mapa da Grande Bogotá. Veja em vermelho que a capital e Soacha uniram suas áreas urbanas, ou seja a cidade é a mesma embora mude o estado. Em azul subúrbios menores da Grande Bogotá.

………..

Falemos mais de Bogotá, cujo nome oficial é Bogotá D.C., por influência estadunidense, óbvio. Isso é o que debateremos agora.

DE SANTAFÉ A D.C.Até 20 anos atrás (quando fiz o texto, agora em 2016 já são 25) a cidade se chamava Santafé de Bogotá.

Não houve erro de digitação, ‘Santafé’ era uma palavra só. Seguindo o padrão de colonização ibérica.

Quando uma cidade era fundada, colocavam primeiro um nome católico (geralmente o santo do dia) seguido de um nome indígena, ou pelo menos um nome não católico.

A cidade de São Paulo, por exemplo, foi fundada em 25 de janeiro de 1554, sendo nomeada São Paulo de Piratininga, unindo o nome pelo qual os indígenas conheciam o local com o patrono católico daquela data.

O Rio de Janeiro se chamava São Sebastião do Rio de Janeiro (pois os portugueses chegaram em janeiro, e pensaram que a Baía da Guanabara era um rio, como é domínio público);

Salvador era São Salvador da Bahia, Curitiba era a Vila Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. E Bariloche, a famosa estância turística argentina, se chamava São Carlos de Bariloche. Entre muitíssimos outros exemplos. Santafé de Bogotá segue esse padrão.

chia3

Aqui e a esquerda: na cidade de mesmo nome, Chía, a Deusa que se materializou como Mulher e depois como a Lua. Em suas duas representações, de pedra como uma humana protegendo sua cria (que são todos os Homens e Mulheres da Humanidade) e no Espaço Sideral, numa escala Maior ainda fazendo o o mesmo gesto, abraçando a Terra, a Humanidade.

Na época colonial, a cidade foi mais conhecida como Santafé. Pois Bogotá, nome indígena da região, era como era chamada uma das cidades da região metropolitana, atualmente nomeada Funza.

Na Colômbia, os estados são denominados ‘departamentos’, assim como na Argentina e na França são ‘províncias’.

Até 1991, Santafé de Bogotá pertencia do estado (departamento) de Cundinamarca, do qual era capital, concomitante com a função de ser capital federal.

A cidade de Bogotá era um “distrito especial” de Cundinamarca, e não um município comum como todos os outros, por abrigar a sede da União.

Mas, repetindo, ainda que com esse ‘status’ diferenciado, pertencia a Cundinamrca, era inclusive sua capital.

Na Constituição Colombiana de 1991, o “distrito especial” foi elevado a “Distrito Capital”, e este ganhou autonomia em relação a Cundinamarca. Entretanto permanece sendo sua capital.

chia2Se você achou o negócio confuso (Bogotá ainda é capital da Cundinamarca mesmo sendo autônoma a ela), eu também achei, mas é assim que funciona. Alguém definiu assim (em espanhol no original):

“    La relación entre Bogotá y Cundinamarca es compleja pues aunque el primero es capital del segundo, sólo comparten los Tribunales de justicia de Bogotá y Cundinamarca.

Por el contrario, ni el gobernador ni la asamblea departamental tienen jurisdicción sobre Bogotá ni son elegidos por los bogotanos.    ”

cartagena colômbia casa centro histórico colonial sobrado grades flores construção antiga

Próximas 15: voltamos a ver o Centro Histórico de Cartagena.

Ou seja: o poder judiciário é unificado, comum a Bogotá e a Cundinamarca.

Porém os poderes executivo e legislativo de Cundinamarca se situam em Bogotá, entretanto não são eleitos nem tem jurisdição sobre os habitantes de Bogotá (????).

É como se Brasília além de capital federal fosse capital do estado de Goiás, mesmo sem pertencer a ele.

………..

Tumulto administrativo a parte, vamos prosseguir. Resolveram criar o Distrito Federal. No Brasil e no México, ele tem esse nome.

Na Colômbia, entretanto, ele se chama Distrito Capital, abreviado D.C., parafraseando a capital estadunidense, Washington D.C.

cartagena colômbia casa centro histórico colonial sobrado igreja construção antiga calçadão poça pombas aves pássaros reflexo águaO fato é que há vinte anos (quando o texto foi feito) o antigo município de Santafé de Bogotá virou o distrito federal, renomeado Bogotá D.C., e ganhou autonomia em relação ao estado de Cundinamarca.

Mas sua região metropolitana não.

As cidades-dormitório nos subúrbios da metrópole não entraram pro Distrito Capital, continuam na Cundinamarca.cartagena colômbia casa centro histórico colonial sobrado construção antiga luminária grade flor árvore primavera rosa

O que resulta que centenas de milhares de trabalhadores moram em uma unidade da federação e trabalham em outra.

Bogotá é uma metrópole bi-estadual, como tantas outras ao redor do globo.

O núcleo, o município de Bogotá, é o Distrito Capital. Os subúrbios metropolitanos pertencem a outra unidade da federação.

cartagena colômbia Colonial construção antiga arcosA cidade é a mesma, em termos urbanísticos, econômicos e culturais. Mas politicamente são esferas de governo separadas.

Todos os subúrbios estão a oeste do Distrito Capital. Pois a leste é montanha. Bogotá não tem Zona Leste nem sequer municipal, muito menos metropolitana.

Então as cidades satélites formam um arco, do sudoeste ao noroeste do núcleo. A maior delas é Soacha. Essa é a única que já uniu sua área urbana ao do núcleo (vide mapa).

Ou seja, você muda de município (e até de estado) mas não sai da área urbana da cidade que é a Grande Bogotá. Se não ler as placas não percebe a divisa. cartagena colômbia Colonial torre igreja construção antiga

Soacha é parte integrante da Zona Sul bogotana, que é a mais pobre e violenta. Eu fui até lá, é claro.

Um ramal do Transmilênio (linhas de ônibus articulados que vão por corredores exclusivos) está sendo construído, que vai enfim integrar esse município pobre a rede de transporte da capital.

Atualização: embora com muito atraso, enfim o Transmilênio chegou a Soacha. Abordamos melhor esse assunto, com muitas fotos, em outra mensagem.

Só isso já está levando muito progresso a Soacha, diversos prédios de classe média estão sendo erguidos ao lado da estrada por onde vão passar os articulados vermelhos.

cartagena colômbia estátua escultura arte metal ferro costureira colonial pombas aves pássaros

Dentro do (murado) Centro Histórico de Cartagena, duas esculturas homenageando os trabalhadores: aqui, a costureira…

É uma situação universal, onde se implantam grandes eixos de transporte coletivo a terra valoriza demais.

Veja os espigões que estão pipocando ao lado do bonde moderno da Baixada (em Santos mesmo e no vizinho São Vicente).

De volta a Bogotá, outra vantagem é que os alimentadores são gratuitos.

Assim o pessoal da periferia de Soacha que quiser ir apenas até o Centro da cidade (sem continuar até Bogotá, é o que quero dizer) poderá ir e voltar sem pagar nada, o que fortalecerá o comércio dessa região tão carente.

……….

cartagena colômbia estátua escultura arte metal ferro ambulante camelô vendedor bicicleta costureira colonial pombas aves pássaros

…e agora o vendedor ambulante.

As outras cidades da Grande Bogotá são menores, e não são conurbadas com a capital.

Ou seja, nesse caso você vê nitidamente que está mudando de cidade, tem que pegar estrada e passa por áreas verdes até chegar ao outro núcleo urbano.

É uma viagem perigosa. Como passa por rodovias, em áreas ainda rurais, o micro-ônibus (as ‘bucetas’, e isso quer dizer exatamente ‘micro-ônibus’) pega tranquilamente 80 ou 90 km/h.

Porém as vezes ele simplesmente não fecha a porta. Enfia o pé, e a porta aberta.

cartagena colômbia táxi taxi amarelo prédio ambulante camelô vendedor comidas alimento

Seguimos nas próximas 8 vendo o Centro de Cartagena. Aqui a parte mais moderna, fora da muralha. Na Colômbia todos os táxis são amarelos, em todas as cidades – no Paraguai também!!!

Se alguém cair nessa velocidade é fatal. Segurança não é prioridade na Colômbia. Por vezes, você precisa embarcar e desembarcar do ônibus com ele em movimento.

O mesmo já havia presenciado na Cidade do Leste, Paraguai.

Deixa eu voltar a falar da Grande Bogotá. Eu estive, além de Soacha, nas cidades de Zipaquirá e Chía, e sem descer do ônibus também conheci Cota, Facatativá, Mosquera e Madri.

Zipaquirá (popularmente ‘Zipa’, e fala-se ‘Sipa’, pois espanhol não tem som de ‘z’) está a 50 km da capital, a norte dela.

A Zona Norte é a mais rica de Bogotá, então na estrada que liga essas duas cidades estão surgindo inúmeros condomínios fechados de alta renda.

Chegando em Zipa, ela tem um Centro colonial, de ruas estreitas, uma parte plana mais moderna, com prédios de classe média, e do outro lado do Centro uma enorme favela subindo a encosta do morro. cartagena colômbia prédio grades luminária antiga

Nessa cidade há uma mina abandonada, que virou museu. Dentro dela, embaixo da terra, há uma catedral feita inteira de sal.

Não estive na mina, dei uma volta pela cidade e regressei a Bogotá. Meus familiares entraram.

CHÍA, A DEUSA LUAChía e Cota são menores, mais calmas e mais próximas da capital. São regiões bem de classe média.

Por isso quero dizer que são subúrbios proletários: sem alta burguesia, mas também sem muitas favelas.

Existem também ainda muitas chácaras (lembram muito a Vila Alemã, subúrbio de Valparaíso, que visitei em 2015).

cartagena colômbia prédio colonial antigo sacada varanda céu azulEm Cota não desci do ônibus, então falarei um pouco de Chía.

Embora pertencente a Grande Bogotá, por ser um pouco afastada da área urbana da capital Chía lembra uma cidade do interior da Colômbia.

Pacata, cheia de conjuntinhos habitacionais, sem extremos, ou seja, não possui milionários nem miseráveis, um centrinho com comércio popular.

Um ótimo lugar para morar, se você tiver emprego ali mesmo.

Porque se deslocar para Bogotá todos os dias é difícil, pela distância e trânsito pesado. Enfim, vida de subúrbio afastado, tão comum em nossa pátria também.cartagena colômbia Colonial prédio construção antiga sobrado

Chía significa a Deusa-Lua na cultura indígena americana. É a parte feminina de Deus, tão negligenciada pela teologia tradicional.

Chía é uma enviada do Todo Poderoso, projeção Dele-Dela, que desceu a Terra materializada como uma linda Mulher.

Pra ensinar nossa humanidade tão ignorante a elevar um pouco seu pensamento.

Uma Profeta Feminina, como Jesus, Buda, Zoroastro, Maomé, Moisés e tantos outros encarnaram em corpo de Homem para Iluminar a massa. Só que Chia encarnou em corpo de Mulher.

Cumprida sua missão entre nós, ela ascendeu aos Céus novamente, e se materializou na forma da Lua, e assim é cultuada pela simbologia americana.

A Lua representa a metade Feminina de Deus, assim como o Sol representa a metade Masculina. Na simbologia, ambos tem igual valor, as metades se completam pra que o Universo possa existir.

cartagena colômbia casa centro histórico colonial sobrado igreja construção antigaPra finalizar, voltando a falar das cidades suburbanas de Bogotá, já rumando pra Medelím, passei nas cidades de Mosquera, Madri e Facatativá (carinhosamente Faca).

É uma parte pobre. Mesmo os bairros planos a margem da rodovia são humildes, muitos são invasões. E assim como em Zipa, em Faca há uma enorme favela subindo a montanha.

Bem, favelas em morro e em todos os lugares é que não falta na Colômbia.

Em Bogotá, fiquei no bairro Chapinero, numa região de classe média pra média-alta, na Zona Norte, que é a parte mais rica da cidade. Mesmo assim a duas quadras de onde estava há uma favela.

Já lhes contei minhas voltas por lá. Agora é só pra relatar um detalhe curioso. Parte da favela do Chapinero ocupava os vãos e gramados abaixo e ao lado de um complexo de viadutos que há no local.

cartagena colômbia baianas mulheres negras vendedoras frutas comida melancia ambulante barraquinha banquinha rua vestidos coloridos lenços

Não é só Salvador que tem ‘baianas‘. Óbvio que em Cartagena elas não são baianas no sentido gentílico, pois são caribenhas. Mas  falando em termos de cultura, veja como a manifestação é semelhante.

Então. Um cara invadiu a ilha do viaduto. Área pública, obviamente. Mas mesmo assim ele colocou uma placa no “seu” terreno: “não entre, propriedade particular”. É mole?

…………..

OS DEPARTAMENTOSAgora falemos um pouco dos estados (departamentos) da Colômbia. Me aterei aqueles pelos quais passei.

Bogotá é o Distrito Capital, está dentro do estado de Cundinamarca, sendo sua capital mesmo sendo autônoma a ele (?). Já disse que não entendi também, mas é assim.

A Grande Bogotá está em Cundinamarca, aí de fato e direito. Bogotá está a 250 km apenas de Medelím, em linha reta, mas a viagem de ônibus leva 10 horas.

Medelím e Bogotá estão no alto dos Andes, mas ir por via terrestre é preciso descer e depois tornar a subir a montanha. Porque se cruza o vale do Rio Madalena.

cartagena colômbia casa centro histórico colonial sobrado grades flores construção antigaEsse é o “rio de integração nacional”. A Colômbia só existe como país unificado por causa dele:

Pois na época da colonização se formaram dois núcleos distintos:

Um no alto dos Andes (cujas cidades principais formam o triângulo Bogotá-Medelím-Cali), que vivia da mineração;

E outro no litoral – as maiores cidades são Cartagena (a ‘pequena Cartago’), e Barranquilla – , que se sustentava mais com agricultura e comércio marítimo, inclusive comércio de escravos.

Se não houvesse o Rio Madalena a ligá-las, na época da descolonização (princípios do século 19) essas duas partes teriam se separado em pequenos países independentes, como ocorreu na América Central.cartagena colômbia centro histórico colonial pássaros pombas poça água reflexo prédio construção antiga

……..

Então. Feito esse registro histórico do rio, conto meu trajeto aquele dia que fui de ônibus entre a capital e a maior cidade do interior da Colômbia.

Saímos da rodoviária de Bogotá. Cruzando o Rio Bogotá que a nomeia, deixamos o Distrito Capital pra entrarmos em Cundinamarca.

Aí começa descer. É tão íngreme que o ônibus vai a uma média de 30 km/h. Lembra a Estrada da Graciosa, aqui no Paraná, ou a Serra do Rio do Rastro, em Santa Catarina.

bogotá colômbia luzes montanha serra panorâmica noite noturna céu mata árvore monserrate monte serra igreja iluminada

A partir daqui todas as imagens baixadas da rede: essa é uma noturna de Bogotá.

Com a diferença fundamental que aqui no Brasil estas são vias turísticas, e lá é simplesmente a principal rodovia do país, que conecta suas duas maiores cidades.

Já imaginou a Via Dutra com velocidade média de 30 km/h, com a viagem entre São Paulo e Rio levando 10 horas? É a realidade deles.

Bogotá e Medelím distam 250 km em linha reta. De avião dá 45 minutos de voo. Mas por tanta curva, a estrada tem 400 km.

medelím medellín colômbia panorâmica morros encosta metrô transporte elevado trem prédios classe média alta

Medelím.

Que levam um dia inteiro, de manhãzinha até quase o anoitecer, para serem vencidos.

Como observamos, boa parte dos veículos de carga eram caminhões-tanque, ou seja, que carregam combustível. Isso porque em boa parte do interior não há refinarias de petróleo, o que torna tudo difícil.

Precisam ir buscar gasolina na capital, só que viajando nesse passo de tartaruga.

meu-cabo serra montanha periferia cali colômbia panorâmica morros encosta ladeira favela pobreza quebrada subúrbio teleférico bondinho transporte duplex sem acabamento pintura tijolo alimentador ônibus

Cali.

Ademais os trechos sinuosos no meio da selva, onde os caminhões precisam quase parar pra fazer as curvas, são ideais pra tocaias das guerrilhas que se escondem na mata.

O risco é pra todos os caminhões e não apenas pros que carregam gasolina. Por isso o exército está presente em vários pontos da estrada.

Antigamente era bem pior, haviam bem mais ataques, e carros caros também eram alvo, seus donos sequestrados. Aa virada do milênio ninguém da elite e classe média viajava por via terrestre, só de avião.

Hoje a coisa amainou muito, e durante a luz do dia é seguro viajar por terra na Colômbia.

Mama Quilla-Luna

Dessa até o fim: Chía, a Deusa-Lua.

CRUZANDO 3 VEZES O MADALENAE aí fomos descendo, serpenteando os Andes. Cruzamos pela primeira vez o Rio Madalena, entrando no estado de Tolima.

Esse estado nomeia o time de mesmo nome, que ficou conhecido no Brasil por em 2011 ter eliminado o Corinthians na pré-Libertadores.

Quando eu estive na Colômbia, isso tinha recém-acontecido.

………….

Voltando a viagem, cruzamos o rio e entramos na cidade de Honda, Tolima.

Toda a região é muito quente. aquario

Bogotá e Medelím têm ambas uma temperatura agradável o ano todo, por serem muito altas.

Bogotá, mais de 2.600 metros acima do nível do mar, é a terceira capital mais alta do mundo:

Só perde pras capitais da Bolívia (La Paz) e Equador (Quito).

diosa-chiaMas o vale do Rio Madalena é baixo, e por ser emparedado entre os Andes esquenta ainda mais.

Tanto que os restaurantes de beira de estrada simplesmente não têm paredes.

É isso mesmo, só tem o teto e colunas sutentando-o, é tudo aberto.

Paramos pra comer já depois das 4 da tarde. Fazia perto de 35º, tudo mundo suava em bicas.

Prossigamos. Dentro do estado de Tolima, seguimos paralelo ao rio.

Ao cruzarmos um outro curso fluvial, menor, entramos no estado de Caldas.

DIOSA CHIAJá esse estado sedia o Once Caldas, que em 2004 venceu a Libertadores, eliminando o São Paulo na semi e o Boca Juniors na final. 

As outras duas Libertadores da Colômbia são do Nacional de Medelím, de 1989 e de 2016, ano que essa matéria subiu pro ar.

Voltando ao texto original de 2011, o Once Caldas era o então campeão nacional (desde 2002 a Colômbia têm dois campeões por ano), e em 2011 disputava de novo a Libertadores.

……………lua

Falar em cursos fluviais, vi algo muito triste na Colômbia, que me preocupou muito: 

Vários riachos estão secando. Passamos por várias pontes que cruzavam leitos secos, cadáveres de rios.

Em plena Amazônia, e olhe que agora é a estação das chuvas por lá.

Tanto que estão ocorrendo desabamentos nas favelas nas encostas de morros das grandes cidades.

Agora voltemos narrar a viagem. Estamos no estado de Caldas. Após a cidade de La Dorada, cruzamos novamente o Rio Madalena.Chia6

E retornamos pro estado de Cundinamarca, muitas horas de temos deixado-o. 

Ao transpor um outro rio menor, entramos no estado de Boyacá, onde Bolívar derrotou as tropas espanholas.

Seguindo sempre ao norte, viramos a esquerda e passamos pela terceira vez sobre o Madalena.

Ali é proibido tirar fotos ou filmar as pontes e o rio, pois é zona militar de combates ativos entre exército e manifestaras guerrilhas da Farc.

Dos dois lados haviam soldados com metralhadoras.

Então ao cruzar pela 3ª e derradeira vez o Madalena, entramos no estado de Antioquia, cuja capital é Medelím.

O nome é em homenagem a cidade de Antioquia que fica na atual Turquia, fundada em 300 a.C., citada na Bíblia.

Aí foi só subir a serra de novo que lá pelas 9 da noite chegamos a Medelím, a cidade da eterna primavera, como é conhecida.

DeusaHá outros apelidos, não tão sublimes. Mas essa parte relato em outro texto. 

……………

A Série sobre a Colômbia acaba de ser toda levantada para rede. Trabalho encerrado com sucesso.

Graças a Deus Pai e Mãe que permitiu, está feito.

Que Deus ilumine a todos.

Deus proverá”