Por Maurílio Mendes, O Mensageiro
Publicado em 25 de janeiro de 2023 (aniversário de São Paulo)
Maioria das imagens baixadas da internet, créditos mantidos sempre que impressos nas mesmas. As que forem de minha autoria identifico com um asterisco ‘(*)’.
Vamos falar dos ônibus 2-andares – tornados ícones do imaginário popular global por causa de Londres, evidente. Onde são todo vermelhos.
São ao lado da torre do relógio Big-Ben a imagem mais conhecida da capital inglesa (esq.).
Presentes também – atualmente ou num passado recente – por toda a Inglaterra e nas ex-colônias britânicas (abaixo falaremos melhor dessa parte).
Pois bem. O Brasil da mesma forma já teve 2-andares no transporte urbano regular, nos anos 80 e 90.
E, pegando carona na simbologia londrina, em SP eles também eram inteiro em vermelhos – em Goiânia idem.
Foi um experimento interessante, mas ao fim não deu certo, ônibus 2-andares não é adequado pro transporte de massa.
Hoje diversas cidades contam com esse tipo de veículo nas chamadas “Linhas-Turismo” – onde aí sim eles se adaptam perfeitamente as necessidades do público.
Além disso, respeito a quem merece, o Rio de Janeiro foi a primeira cidade brasileira que contou com 2-andares em linhas urbanas. No distante ano de 1928!
Na sequência mostraremos as origens e como funciona atualmente desse modal, em nosso país e pelo mundo.
Agora falemos do foco principal da matéria, os anos 80 e 90, quando esses bichões operaram transporte urbano regular em terras ‘brasucas‘.
PARTE 1: BRASIL, FINAL DO SÉCULO 20 –
A Grande São Paulo foi a gênese e o epicentro dessa manifestação. Ali houveram dezenas de exemplares dessa curiosa forma de transgenia automobilística.
Mais especificamente na cidade circularam 31 ônibus 2-andares, 27 pela Cia. Municipal de Transporte Coletivo (‘CMTC’) da capital e mais 4 pela CMTO de Osasco.
Goiânia teve três exemplares rodando pela Transurb, e a CTU do Recife-PE mais um.
Portanto sempre por viações estatais. Além disso, todos os 2-andares brasileiros dessa época eram carroceria Thamco e motor Scania, do modelo que foi apelidado ‘Fofão‘.
Houveram 2-andares também em Uberlândia-MG, mas não achei muitas informações na internet. Se um dia aparecerem imagens ou mais dados atualizo a matéria.
No andar de cima só se podia viajar sentado (pelo menos na capital paulista era assim, não sei nas outras cidades), até porque o teto era bem baixo, 1,70m.
No blogue eu produzi, de fevereiro a julho de 2019, uma série sobre esse tipo peculiar de busão. Reproduzo abaixo, acrescido de novos apontamentos. Vamos nessa.
SÃO PAULO CAPITAL
(publicado em 13 de março de 2019) –
Na maior metrópole do país os 2-andares operaram de 1987 a 1992.
De todos as cidades que tiveram O.D.A. (Ônibus Dois Andares) apenas a CMTC os teve em larga escala, algumas dezenas. 27 sendo mais exato.
As outras viações possuíram de 1 a 4 exemplares, dizendo de novo.
Não para por aí. Os técnicos da CMTC inclusive auxiliaram no projeto do ‘Fofão‘.
(Bem, a viação estatal paulistana tem longa tradição em ajudar a desenvolver novos modais de ônibus.
Os engenheiros e mecânicos da CMTC participaram da construção dos primeiros tróleibus do Brasil, por exemplo.)
Leia o letreiro das fotos ao lado e logo abaixo, os ‘monstros de metal’ puxam a linha 5111.
Na época Terminal Santo Amaro/Praça da Sé, via Brigadeiro Luís Antônio.
Em 1985 começaram as obras do Terminal e Corredor Santo Amaro, na Zona Sul.
O corredor já ia sendo usado conforme os trechos ficavam prontos; a inauguração oficial foi em 1987, com a entrada em operação do terminal.
A linha-tronco era e ainda é a 6500-Terminal Santo Amaro Praça da Bandeira.
Feita na época pela CMTC com ônibus ‘padron‘ (alongados, com 3 portas e motor central/traseiro), a dísel e tróleibus.
Saindo do Terminal Santo Amaro pega a Av. Adolfo Pinheiro, e logo a seguir toda a Av. Santo Amaro, até o cruzamento com a Av. Juscelino Kubitschek (‘JK’) no Itaim-Bibi.
Após a trincheira sob a Pça. Dom Gastão Liberal Pinto a linha pega a Av. São Gabriel, e ao chegar na 9 de Julho vai por essa até a Bandeira.
Em 1987 chegam os 2-andares, e eles foram a princípio pra 5111-Term. Stº. Amaro/Pça. da Sé, então criada pra acolhê-los.
O trajeto é o mesmo do Terminal até a o final da Av. Santo Amaro. No Itaim há a bifurcação:
Enquanto a 6500 utiliza as Avs. S. Gabriel e 9 de Julho, a 5111 sobe a Brigadeiro (Luís Antônio).
Nos anos 80 a numeração das linhas era diferente, não havia os sufixos que há hoje.
Então a 6500 é a linha-tronco do Corredor Stº. Amaro dizendo de novo, a paradora, que encosta em todos os pontos do trajeto.
Os ‘ramais’ naquele tempo tinham outro número. São linhas que auxiliam a tronco com um trajeto similar mas não idêntico. Havia duas opções:
Ou itinerário era o mesmo mas com menos paradas (pra quem precisa ir direto do Centro pro terminal); ou o ramal compartilhava com a linha-tronco seu trecho mais movimentado mas era seccionado bem antes do ponto final da linha original.
A linha 6500, por ser bem carregada, teve pelo menos três ramais ‘Expressos’, hoje extintos: 6501-Expresso Joaquim Nabuco, 6502-Expresso Brooklin e 6504-Expresso 9 de Julho.
A 6502 também era chamada Terminal Santo Amaro/Parada Juscelino. Saía desse terminal e seguia pela avenida homônima.
Como o nome indica, antes de pegar a Av. São Gabriel, no cruzamento com a J.K., fazia o retorno pro bairro.
O que nos interessa aqui são os ODA. Então. Posteriormente alguns deles foram deslocados pra esses ramais.
Há 2 fotos deles (uma delas a dir. acima) na linha 6502, quando ela já se chamava ‘Expresso Brooklin’.
Já a linha 5111, criada especialmente quando esse tipo de veículo chegou em 87, hoje a linha é a 5111-10. Foi esticada até o Terminal Pq. Dom Pedro, e é feita por articulados de somente 1 andar.
Nos anos 90 vieram esses sufixos, e hoje são eles que mostram se a linha é tronco ou ramal (variante).
A maioria das linhas só tem o sufixo ’10’, que indica o tronco, pois elas não têm ramais.
No entanto as linhas mais carregadas têm ramais. Exemplificando é mais fácil entender.
A linha-tronco que liga os terminais Capelinha e João Dias (na Zona Sul) ao Centro é a 5119-10-Term. Capelinha/Lgo. São Francisco (entra no Term. J. Dias, que fica no caminho).
Nos horários de pico da manhã somente há o ramal 5119-22, que parte do João Dias pro Centro, a partir desse ponto com itinerário idêntico ao da linha-mãe.
E nesse mesmo Term. João Dias existe o alimentador circular 5119-23, chamado “Instituto Lucy Montoro”.
Percorre o bairro do Morumbi. Compartilha o prefixo 5119 porque percorre o primeiro trecho da Av. Giovanni Gronchi, o número indica isso.
A esquerda a última pintura que a CMTC usou (tanto pro ‘Fofão’ quanto pro resto da frota de 1-andar), já que a companhia foi privatizada em 1994.
Vamos falar um pouco da carroceria. Havia a fabricante Ciferal (Comércio e Indústria de Ferro e Alumínio), cuja sede era no Rio de Janeiro.
Alias nos últimos tempos ela funcionava no mesmo barracão que um dia sediou a saudosa F.N.M. (Fábrica Nacional de Motores), em Duque de Caxias, no Grande Rio.
Na década de 70 a Ciferal abre uma filial em São Paulo, que se chamava ‘Ciferal Paulista‘.
Na virada dos anos 70 pra 80, um antigo gerente da ‘Ciferal Paulista‘ a compra e a desmembra da matriz carioca.
A nova fábrica passa a se chamar Condor. Só que a Condor tem vida curta, e em 1985 abre falência.
O empresário Thamer Butros compra a Condor, e a renomeia ‘Thamco‘, sendo o ‘Tham’ de seu nome e ‘Co’ de Condor.
A fábrica da Thamco era em Guarulhos, na Grande São Paulo.
Dizendo de novo, os primeiros 2-andares brasileiros nos anos 80 são todos Thamco.
Hoje, os 2-andares brasileiros são Busscar e Marcopolo – isso os veículos fabricados até 2012.
Após a falência da montadora Busscar (de Joinville-SC) ficou 100% Marcopolo, não há mais concorrência.
(Sim, a Busscar voltou em 2018, mas somente pro segmento rodoviário.
Ela, ao menos por hora, não produz mais ônibus urbanos, que é nosso foco nessa matéria especificamente, e na página de modo geral.)
Detalhe. Nos anos 90 a Thamco também já havia ido a pique.
A massa falida foi renomeada ‘Neobus’. Ainda operou alguns meses no galpão na região metropolitana da capital paulista (em Guarulhos, repito).
A seguir, ela se relocou pra Caxias do Sul-RS, mesma cidade da Marcopolo. Hoje a Marcopolo é dona de 40% da Neobus.
A Ciferal foi outra que também faliu – e foi comprada, adivinhe, pela Marcopolo.
……….
Embora, como é domínio público, a imagem dos 2-andares esteja muito associada a Inglaterra – especialmente a sua capital Londres -, a Alemanha gosta desse modal tanto quanto.
Os ônibus com escada começaram quase que simultaneamente nesses dois países europeus, logo no início do século 20.
Abaixo falaremos melhor do exterior, inclusive com muitas fotos. Por hora voltemos ao Brasil.
Em 1986/87 a CMTC resolveu aderir ao estilo ‘retrô’ e readotou a pintura vermelha em seus ônibus, que já havia sido usada nos anos 50 e 60.
Apenas no primeiro ciclo havia uma pequena diferença: no meio do século 20, o corpo do veículo era da mesma maneira rubro, só que bege ao redor das janelas.
Enquanto que no fim desse mesmo século a frota ficou unicolor em vermelho.
No fim de 87, quando chegaram os 2-andares, eles ficaram então um xerox dos de Londres, que serviram de inspiração.
Entretanto agora eles não puxam mais linhas regulares, só operam na Linha Turismo.
Ônibus 2-andares é ideal pra esses roteiros turísticos, quando são poucos passageiros que estão passeando, sem ter que bater o cartão-ponto na porta da firma.
Aí só vai gente sentada, reduzindo bastante os problemas de circulação.
Ônibus 2-andares não são adequados pro transporte de massas, os trajetos carregados usados de maneira pendular e diária pela classe trabalhadora.
Pra essas linhas é preciso articulados, que não têm escada, aí você dinamiza o fluxo no interior do veículo:
Os passageiros entram pela frente e vão se dirigindo pra trás, onde há muito espaço pra se acomodar e várias opções pra sair.
Pois num 2-andares a escada toma boa parte do espaço do salão interior, onde é feito o embarque/desembarque e cobrança de passagem.
Ademais, a própria escada já é um gargalo de circulação, se alguém está subindo e outro vem descendo, quem sobe tem que recuar.
Imagina o cenário: dia útil, perto das 6 da tarde. Centro da cidade, nos pontos filas gigantescas dos trabalhadores.
Que esperam a condução pra se dirigir a seus distantes subúrbios. Encosta o busão 2-andares.
O vagão de baixo é minúsculo, o motorista a frente, a escada no meio e o motor atrás, quase não sobra espaço pros passageiros. Pra respirar um pouco você vai lá pra cima.
Chega a hora de descer e você tem que ir se espremendo no corredor e na escada.
Tem gente sentada nos degraus, o vagão de baixo está lotado até o limite, não cabe mais uma pessoas sequer.
Você tem que ir achando um espacinho, pedindo licença, empurrando. Quando pisa na rua … ufa!!! … que alívio!
A vida dos trabalhadores braçais não é nada fácil, não estou contando nenhum segredo aqui.
No mínimo eles merecem um pouco de conforto no deslocamento entre os subúrbios-dormitório e os pólos de emprego.
Andar em ônibus 2-andares em linhas de grande demanda não é nada bom. Nem precisei imaginar na verdade.
Passei recentemente (2017) pela experiência na África do Sul, e foi um sufoco. Digo, eu estava apenas passeando, conhecendo Joanesburgo, então foi interessante.
Porque foi algo opcional, que fiz uma vez na vida. Além do mais só fiquei 15 minutos. Pequei no ponto final central e desci 3 pontos depois. Assim vale a pena, ganhei uma história pra contar.
Já os trabalhadores sul-africanos (quase todos negros, evidente), que precisam enfrentar isso todo dia mais de uma hora na ida e o mesmo tempo na volta, não acham lúdico ou engraçado.
Quando eu era criança cheguei a andar algumas vezes no 2-andares paulistanos.
Igualmente, pra um menino busólogo e de férias tudo é festa, mas pra quem depende dessa condução pra ir ganhar seu pão não é nada divertido.
Simplesmente esse modal não é projetado pra isso.
São Paulo e mais 3 cidades (o subúrbio metropolitano de Osasco, na Zona Oeste da Grande São Paulo, Goiânia e Recife) fizeram o teste, repetindo.
Agora, por outro lado em 2015 pra ir do Centro ao Aeroporto de Santiago/Chile eu fui de 2-andares.
Trata-se de um serviço diferenciado, um nicho de maior poder aquisitivo. Aí sem problemas, o público está de acordo com a capacidade de assentos.
Ninguém se espreme no corredor, você sobe e desce com calma a escada, e circula no salão sem atropelar ninguém nem ser atropelado.
O mesmo vale pras diversas ‘LinhasTurismo’, já andei várias vezes nesses 2-andares aqui em Curitiba, e em 2012 também na Cidade do México.
O veredito: pra Linha Turismo ônibus de duplo pavimento é o ideal, um atrativo em si mesmo.
Por outro lado, pra transporte urbano regular, nem pensar. Hoje, o Brasil entendeu isso, felizmente.
…………
Como visto e é notório, a volta dos 2-andares no Brasil foi impulsionada pela CMTC da capital paulista.
Por conta disso publico essa matéria em 25/01/23, aniversário de 469 anos da Cidade de São Paulo. Fica como homenagem.
OSASCO, GRANDE SP
(Publicado em 15 de maio de 2019) –
Nesse subúrbio da Zona Oeste metropolitana da capital paulista os 2-andares começaram a rodar em 1990.
Foram 4 busões desse tipo, de propriedade da viação estatal CMTO.
Sigla da “Cia. Municipal de Transportes de Osasco”, que acabou sendo privatizada em 2006.
No pouco tempo que circularam tiveram a decoração unicolor branca que a CMTO utilizava então.
GOIÂNIA
(Publicado em 27 de março de 2019) –
A capital goiana teve 3 busões desse tipo, pela viação estatal estadual Transurb.
Foi a 2ª cidade do Brasil a contar com eles, em 1988; apenas alguns meses depois de SP (já que ali os primeiros ‘Fofões’ chegaram em novembro de 1987).
Os da Transurb eram inteiro vermelhos, como em Londres e Sampa.
Apenas pra diferenciar nesses da Transurb havia um contorno amarelo em torno das janelas.
Todos os 2-andares brasileiros operaram por viações estatais, isso já disse.
A CMTC-SP, a CMTO (Osasco) e a CTU-Recife foram privatizadas, ao lado de muitas outras que não tiveram 2-andares na frota.
Das mostradas nessa matéria apenas a Transurb goiana permanece estatal – só que se chama Metrobus desde 1997.
‘Metrobus’, alias, é um dos nomes mais comuns pra viações e sistemas de transporte no mundo. Já vimos uma foto, e abaixo mostrarei outras, do 2-andares Metrobus em Joanesburgo/África do Sul.
Independente do número de andares, há ‘Metrobus’ também na Cidade do México, Caracas/Venezuela, Havana/Cuba, Istambul/Turquia, Cuala Lumpur/Malásia, no Sul da Ingaterra, na capital Washington D.C. e também em St. Louis/Missouri nos EUA, entre outras cidades.
Em Buenos Aires/Argentina o sistema de corredores de ônibus igualmente se chama ‘MetroBus’, mas esse nome não aparece nos ônibus, só nas estações (não-integradas – ao menos não eram em 2017).
A Metrobus de Goiânia opera também bi-articulados, já que essa é uma das 4 cidades brasileiras que contam com esse modal em larga escala (as outras são Curitiba, SP Capital e Campinas-SP).
RECIFE (Publicado em 16 de abril de 2019) –
A capital pernambucana teve apenas um veículo 2-andares. Recebeu o número 090 na frota da CTU (Cia. de Transportes Urbanos, estatal municipal).
O ‘Fofão’ ali deixou saudades, mas sua passagem apesar de marcante foi breve.
Alegando altos custos de manutenção, a CTU o retirou de operação em poucos meses.
Ainda assim, nesse curtíssimo período ele chegou a ostentar duas cores distintas.
Durante sua história a CTU teve inúmeras pinturas diferentes.
Pois cada prefeito queria imprimir sua marca, e uma das formas era essa, mudando a padronização dos ônibus.
Por isso, quando o 2-andares chegou, em 1990, foi pintado de amarelo, a decoração existente então – vide foto acima.
Em 1991, entretanto, foi decretado que os ônibus da CTU deveriam ostentar sempre a cor azul.
No seu ‘apagar das luzes’ o bichão ficou dessa forma. Não apenas ele, claro.
E sim todos os veículos da CTU na última década de vida da viação (privatizada em 2000, conservou o nome até 2001).
Nesse tom estão os bichões na garagem, como comprovamos a direita.
Natural, né? Como várias outras ‘frotas públicas’ espalhadas pelo Brasil (CMTC de SP, CTC do Rio, TCB de Brasília-DF), a CTU também se consagrou em celeste.
Esse, repito, foi o único 2-andares do Recife. Mais, foi o único O.D.A. de todo Nordeste Brasileiro.
Bem, o Sul e o Norte do Brasil nunca contaram com esse modal pra transporte urbano regular.
(Em compensação, se serve de consolo, o Sul e o Norte são quem concentram as casas de madeira em nossa Pátria Amada. Mas essa já outra história, que nada tem a ver com a busologia.)
PARTE 2:
CHOPE-DUPLO, 1º DOIS-ANDARES BRASILEIRO
(Publicado em 27 de julho de 2019) –
Rio de Janeiro, 1928. Começa a circular o “Chope-Duplo”, o pioneiro ônibus brasileiro com 2 pavimentos.
Além de tudo são ‘Tribus’ (trucados, com 3 eixos). A escada era por fora – abaixo vemos bem esse detalhe.
Foram importados 14 deles, produzidos na Inglaterra pela na matriz da companhia ‘Light‘.
Rodaram pela Viação Excelsior, que pertencia a própria ‘Light‘. Sim, é isso.
A corporação transnacional que cuidava da iluminação pública – e também do serviço de bondes – no Rio e em São Paulo foi quem fabricou esses veículos.
E adivinhe? O nome da viação vinha numa bola pintada na lataria (a esq., no andar superior sobre a escada).
Esse foi um traço típico do RJ por todo século 20, que perdurou até os anos 80.
O Chope-Duplo começou a circular, dizendo ainda mais uma vez, em 1928.
Portanto ainda antes da ‘Quebra de 1929’ da bolsa de Nova Iorque-EUA, que ocasionou uma recessão global que perdurou quase toda década de 30.
Alias, nessa exata década de 1930 a ‘Cia. Light’ acabou encampando como parte do patrimônio nacional.
Voltemos a falar dos busões 2-andares, que ligavam o Centro a então distante Zona Sul carioca.
Poucos anos depois, entretanto, foram ‘pitoqueados’:
Cortaram o andar de cima, continuaram circulando como ônibus normais, de somente um pavimento.
O Rio na época era o Distrito Federal pois capital brasileira.
Como sabem, Brasília só foi inaugurada em 1960. Portanto na época dessas imagens estava correto dizer ‘Rio de Janeiro-DF’.
O Rio de Janeiro como vemos aqui foi o pioneiro dos pioneiros no início do século 20.
Entretanto não participou da nova leva de 2-andares que ocorreu no final do mesmo século que é o tema dessa matéria.
Tá bom. Afinal, tudo começou ali. E você, sabia que o Brasil teve 2-andares quase 100 anos atrás (escrevo em 2023)?
PARTE 3: ILHAS BRITÂNICAS –
Começando essa seção, obviamente, pela capital.
LONDRES, A CIDADE DOS 2-ANDARES POR EXCELÊNCIA
(Publicado em 21 de fevereiro de 2019) –
Como já dito, os ônibus 2-andares começaram mais ao menos ao mesmo tempo em Londres e Berlim, logo nos primeiros anos do século 20.
Até hoje eles são populares na capital da Alemanha, como mostramos acima. Mas quase ninguém sabe disso.
Só quem visitou Berlim e usou o transporte coletivo, ou então é um busólogo muito aficionado.
No entanto, praticamente todo sabe que em Londres há esse tipo de busão, e que eles são inteiro vermelhos.
Posto que a capital inglesa está no imaginário popular intrinsecamente ligada aos 2-andares, e os 2-andares a Londres.
Se alguém falar “Londres”, você imagina o Big-Ben, a monarquia e seus rituais, e o transporte coletivo com seus veículos com escada.
Inversamente, se disserem “ônibus com 2 andares”, você lembra deles exatamente vermelhos na capital inglesa.
De umas décadas pra cá Curitiba também ficou bem famosa pelo seus ônibus.
Todos os turistas reparam nas estações-tubo, muitos tiram fotos em frente a elas (já vi algumas vezes essa cena).
Então. Londres é famosa por seus 2-andares desde sempre.
Ou pelo menos desde que começou a comunicação em massa, no meio do século 20.
Tem mais: por toda a segunda metade desse século 20 todos os busões com duplo pavimento londrinos eram do mesmo modelo, invariavelmente.
Fabricados pela ‘Routemaster’, acrescentando ainda mais magia ao mito.
Vejamos a primeira foto dessa matéria, no topo da página.
Um Routemaster cruza a ponte com a torre do Big-Ben ao fundo. Numa imagem os 2 maiores ícones da capital inglesa.
O relógio ainda está lá e os ônibus londrinos seguem vermelhos e com 2 -andares.
Porém esse lendário modelo Routemaster foi aposentado das linhas regulares em 2005.
Após nada menos que praticamente 5 décadas de serviços ininterruptos (49 anos sendo mais exato), pois os primeiros exemplares foram fabricados em 1956.
Aposentados das linhas regulares. Pois eles continuam fazendo uma ‘Linha-Turismo’.
Que leva o código H15 (sendo que o ‘H’ indica a condição especial – a tarifa é mais cara e não aceita cartão-transporte).
Escrevo em 2023, então os ‘carros’ da H15 já têm mais de 60 anos rodando – estão quase empatando com os tróleibus do Chile, onde alguns exemplares alcançaram o impressionante recorde de 70 anos na pista! Haja fôlego…
Tróleibus no Brasil e a América Latina são notoriamente longevos, muitas vezes servindo mesmo de ‘museus vivos’.
Em São Paulo, Santos e Araraquara (todas no estado de SP, evidente) e também no Recife-PE aconteceu isso.
Velhos tróleis, fabricados nos anos 50 e começo dos 60, rodaram até a virada do milênio. Portanto igualmente puxaram quase 50 anos sem pedir arrego alguns deles, outros quase 40.
E mesmo atualmente (se refere a 2019, quando publiquei a série no blogue) na Grande São Paulo e em Santos há tróleis com 30 anos ainda em uso – do modelo Marcopolo Torino ‘1’ (Torino ‘1983’) e Mafersa, respectivamente.
Hoje nosso foco são os 2-andares, então voltemos aos ‘Routemaster’ de Londres.
Quase cinco décadas servindo uma metrópole de 10 milhões de habitantes. Impressionante.
Até os anos 80 e começo dos 90 só havia Routemaster nas ruas, eles eram 100% da frota, mesmo já sendo bem veteranos.
Perto da virada do milênio começou a transição, 2-andares mais novos foram chegando, por alguns anos ambas as gerações conviveram.
Circulavam lado-a-lado os pioneiros – já com perto de 40 anos de uso – junto com os novinhos em folha de letreiro eletrônico e duas portas, ainda cheirando a fábrica.
Em 2005, dizendo mais uma vez, os Routemaster fabricados nos anos 50 enfim foram retirados de todas as linhas, exceto duas.
Em 2014 uma das linhas que ainda contava com esses bichões foi eliminada, restou a H15.
Em 2021 a H15 também foi extinta, parecia que os ‘Routemaster’ iriam sair de cena em definitivo.
Só parecia. O ‘clamor popular’ foi mais forte, e em 2022 a H15 voltou, operada pelos mesmos saudosos veículos dessa marca.
Em Londres a passagem de ônibus custa £ 1,65, e pagando com cartão-transporte há integração.
(Me refiro as linhas convencionais agora, dados de 2023; obviamente ‘£’ é o símbolo da Libra Inglesa.)
Você pode usar outras conduções sem pagar de novo no prazo de uma hora a partir do primeiro embarque.
Na linha H15 a tarifa é mais cara, £ 5,00. E não pode ser usado cartão-transporte, logo não há integração.
Porém pense bem. 5 pilas pra andar num museu vivo. É uma pechincha, convenhamos.
E mesmo nas demais linhas veio a modernidade mas a tradição se manteve:
Os busões londrinos ainda são unicolores em vermelho, e ainda são de 2 andares.
Dizendo melhor, ao contrário do que alguém poderia supor, não são todos os ônibus da cidade que têm 2 andares. Há muitos com somente 1 andar.
Por 10 anos a cidade contou com articulados, abaixo falo melhor disso. E, óbvio, todos esses têm pavimento único.
Além deles existem muitos veículos de tamanho normal (não-articulados) sem escadas.
No entanto evidente que os 2-andares são mais icônicos. Agora eles têm 2 portas.
Os Routemaster só tinham 1 porta, na traseira. Era parte de seu charme, é certo, mas dificultava – ainda mais – a circulação.
Essa era uma característica britânica indelével, que ainda gera frutos ao redor do globo.
Estive na África do Sul em 2017, país de colonização anglo-holandesa como todos sabem.
Pois bem. Até hoje a imensa maioria dos ônibus sul-africanos – tanto de um quanto dois andares – conta com somente uma porta (na sequência mostro as fotos).
Há uns poucos veículos com 2 portas. Não há ônibus com 3 portas no território sul-africano, exceto articulados.
Na África a imensa maioria dos busos ainda honram a tradição britânica, e só têm 1 porta.
E olhe que na própria capital da Inglaterra esse arcaico costume foi abandonado:
Os ônibus modernos de Londres – novamente, tanto de 1 quanto 2 andares – contam com 2 portas.
Agora enfim os ingleses se igualaram ao que já é feito em todo planeta nesse quesito.
Você entra no coletivo por uma porta e sai por outra, facilitando imensamente a vida dos passageiros no salão do veículo. Bem melhor.
Sendo mais específico, em Londres de fato os 2-andares agora têm realmente espaços separados pro embarque e desembarque.
A questão é que o interior da Inglaterra ainda não deu esse passo, descobri isso agora.
Ainda há veículos novos com 2-andares e somente 1 porta.
Moderníssimos, em alguns casos elétricos, emissão zero de carbono.
No entanto o veículo tem mais andar que porta! Vai entender o ser humano…
Por outro lado, no Chile existiram ônibus pitocos (não-articulados) com 4 portas!!! Sim, é verdade. Nem precisa tanto.
Em se tratando de veículos não-articulados, 1 é pouquíssimo, 2 é pouco, 3 é o ideal, e 4 já é muito, acho que todos concordam.
Voltando mais uma vez a Inglaterra, os Routemaster londrinos eram cobertos de propaganda; essa tradição se manteve até hoje.
Por uma década no começo do novo milênio, de 2001 a 2011, Londres teve articulados (lá chamados ‘bendy-bus’, algo como ‘ônibus-que-dobra’).
Não mais. Foram retirados de circulação. Não tem jeito…
Nessa ilha eles curtem mesmo busão de 2 andares – o mesmo aconteceu em outras cidades do interior inglês.
2-ANDARES NAS 6 MAIORES CIDADES BRITÂNICAS –
A capital Londres é disparado a maior cidade da Inglaterra e do Reino Unido.
Ali vivem 10,5 milhões de pessoas segundo o Censo de 2021.
Mostramos seus busões logo no topo da matéria, afinal os primeiros 2-andares brasileiros, da CMTC-SP, foram inspirados nos londrinos, até a pintura é idêntica .
(O número de habitantes inclui sempre a região metropolitana; se fôssemos contabilizar somente o município-núcleo a ordem das maiores cidades seria diferente.)
Vamos ver agora, como o título já entregou, o mais britânico dos ônibus nas 5 maiores cidades do interior da Grã-Bretanha.
2ª MAIOR CIDADE BRITÂNICA:
MANCHESTER, 2,7 MILHÕES DE MORADORES –
Por todo o século 20 e até recentemente a pintura dos ônibus girava em torno do laranja. Unicolor, um pouco parecido com os de Londres, ou com detalhes em branco.
(Na foto acima a esquerda vemos as duas decorações, com os bichões parados no terminal, um dos muitos dias chuvosos na Inglaterra.)
Mais recentemente surgiram ônibus verdes, pra marcar que são elétricos:
3) BIRMINGHAM, 2,5 MILHÕES:
4) LEEDS, 1,8 MILHÃO (até aqui todas na Inglaterra, logo a ordem é a mesma tanto pras maiores cidades britânicas quanto inglesas):
5) GLASGOW, 1 MILHÃO (maior cidade da Escócia e 5ª maior do Reino Unido):
6) LIVERPOOL, 895 MIL (6ª maior cidade do Reino Unido, 5ª maior da Inglaterra):
Além de ônibus, várias cidades britânicas tiveram também bonde de 2 andares, inclusive Londres.
Tanto no Reino Unido mesmo e igualmente as então colônias em outros continentes.
Ao lado em Liverpool. Na mesma pintura que um dia decorou os ônibus da cidade que deu ao mundo uma banda bastante famosa, digamos assim.
Fechando a Inglaterra, a direita uma dupla de 2-andares na cidade litorânea de Bristol. Idêntico padrão visual de Liverpool, verdade.
Só que não há confusão, é em Bristol mesmo. Primeiro porque está escrito na lataria, e segundo porque a posição da porta é diferente.
IRLANDA –
A Irlanda, toda ela, fez parte do Reino Unido até depois da 1ª Guerra Mundial.
Em 1919 eclodiu uma violenta insurreição que após algum tempo acabou por conseguir a independência da maior parte da ilha; em 1921 surgiu a ‘República da Irlanda‘.
Separada politicamente, mas geograficamente a Irlanda é uma das chamadas ‘Ilhas Britânicas’.
Além disso muito próxima culturalmente, tanto que os 2-andares são tão comuns em Dublim, a capital irlandesa, quanto em Londres:
IRLANDA DO NORTE:
DOS “PROBLEMAS” AOS ÔNIBUS ROSAS –
Escrevi acima que a República da Irlanda surgiu “quando uma violenta insurreição acabou por conseguir a independência da maior parte da ilha“. A maior parte, não toda.
Ao fim dos combates os ingleses conseguiram manter os 6 condados em torno de Belfast onde eles eram maioria.
Esse pedaço que após a independência irlandesa ficou sob domínio do Reino Unido é chamado de Irlanda do Norte ou então Ulster, como é domínio público.
O tempo passa, e algumas décadas depois surge nova insurreição.
Tentando separar a Irlanda do Norte do Reino Unido e uni-la a República da Irlanda.
É o período que entrou pra história como “os Problemas“. Durou mais ou menos 30 anos, do fim dos anos 60 a 1998, sendo que o auge foram os anos 70.
Aqui nosso tema é a busologia. Estou falando disso porque, basta ver as fotos, está relacionado a nossa pauta:
Na época dos “Problemas” era muito comum grupos paramilitares sequestrarem ônibus e a seguir incendiá-los.
Pra transformar as sucatas incineradas em barricadas, trancando as ruas (como visto ao lado).
Assim retardando a entrada da polícia e do exército em áreas rebeldes quando os insurgentes faziam suas operações.
Durante as 3 décadas desse conflito armado foram incendiados nada menos que 1,5 mil ônibus, vários deles de 2 andares.
Os dois azuis que vemos a esquerda um pouco mais pra cima foram fabricados em 1957. Fotografados nos anos 70, o período mais difícil dos “Problemas”
Como a legenda ao lado já informou, Belfast decidiu encerrar a compra de veiculos com 2-andares em 1971. Então por que manteve esses veteranos em circulação?
É simples: na ocasião as viações mantinham na frota vários ônibus bem velhos, com décadas de uso (tanto de 2 como somente 1 andar).
Eram deslocados pra fazerem as linhas dos bairros que eram os bastiões dos rebeldes. Assim se fossem incendiados o prejuízo era menor.
Depois do “Acordo da Sexta-Feira Santa” de 1998 a coisa se acalmou bastante nesse milênio. Bastante mesmo, repito. Agora esse tipo de situação acontece infinitamente menos que nos anos 70 e 80.
Ainda assim, permanece relativamente comum grupos armados incendiarem ônibus em Belfast. Exatamente igual ao Brasil e demais países da América Latina.
Só que aqui estamos falando da Europa. É um fato, esse tipo de situação também acontece no “Velho Continente”.
Pesquisando rapidamente na internet, constatei esses tristes acontecimentos em 2013, 2015 e 2018. Além de vários episódios em 2021, nesse caso em duas violentas ondas de protestos em abril e novembro.
Os distúrbios de 21 levaram até a suspensão temporária do transporte coletivo no período noturno.
Até que as forças de segurança pudessem garantir um mínimo de estabilidade nos trechos mais conturbados.
Novamente, exatamente igual ocorre aqui na América Latina.
PARTE 4: ÁFRICA DO SUL –
Começo a seção sobre as ex-colônias do Império Britânico por aqui por dois motivos.
Primeiro, é o único país fora da América que visitei, e segundo, Joanesbugo é a única cidade que andei de 2-andares em linhas urbanas (também em SP, mas nesse caso eu era criança).
Quando a África do Sul se tornou independente da Coroa Britânica? Foram preciso nada menos que 3 datas:
Em 1909 o Parlamento em Londres decreta independência formal sul-africana. Acontece que não era pra valer, foi literalmente “pra inglês ver”.
Em 1931 enfim vem a independência de verdade. Mas a África do Sul segue parte da “Comunidade das Nações Britânica“, a ‘Commonwealth’.
(Uma situação similar a Austrália e Nova Zelândia atuais, são autônomas mas a bandeira do Reino Unido está presente em seus próprios pavilhões nacionais.)
Em 1960 é decretada a “República Sul-Africana“, quando enfim a Rainha Elizabete deixou de ser a chefe de estado da África do Sul.
Como a maioria dos lugares colonizados por ingleses, a África do Sul curte ônibus de 2 andares.
No passado eles existiram nas 5 maiores cidades do país: Joanesburgo, Cidade do Cabo, Durbã, a capital (administrativa) Pretória e Porto Elizabete.
Atualmente não existem mais 2-andares em Durbã e no Cabo, isso posso afirmar pois visitei esses lugares. Não fui a P. Elizabete, mas pesquisando pela internet percebe-se que eles foram extintos ali também.
Cabo, Durbã e Porto Elizabete são metrópoles litorâneas, sendo esses 3 dos 4 maiores portos da África do Sul (alias no último caso até o nome indica essa condição).
Onde então permanece na ativa esse tipo de busão na África do Sul? No estado de Gauteng, que é longe da praia. Joanesburgo e Pretória ainda contam com esse modal pra linhas urbanas.
Gauteng é o menor estado (lá eles dizem “província”, na verdade) do país em território, mas o mais populoso e de PIB mais alto.
Em Gauteng está a maior cidade sul-africana, que é Joanesburgo evidente.
Epicentro populacional, comercial e político na nação, por isso auto-denominada “Metrópole Global Africana”.
Um pouco a norte, quase como um subúrbio de ‘Joburgo’, está Pretória, que sedia o Palácio Presidencial.
E nessas duas cidades, repito, ainda há ônibus 2-andares. Bem menos que no passado, entretanto.
Hoje restam algumas linhas atendidas por eles, no caso de Joanesburgo a cargo da viação Metrobus (que também conta com ônibus convencionais, de 1 andar, na frota).
Partem do terminal central (não-integrado) que há na Praça Gandhi.
Detalhe: tirando os articulados quase todos os ônibus da África do Sul só têm 1 porta, independente do número de andares.
Se já é difícil a circulação interna nos veículos de pavimento único, nos 2-andares é ainda pior, com todo mundo tendo que entrar e sair pelo mesmo local.
Como já contei, peguei um 2-andares Metrobus em Joanesburgo no horário de pico da tarde, e foi um sufoco.
Felizmente era turista, e só andei 2 ou 3 pontos, assim foi divertido. Mas pra quem usa todo dia não é nada engraçado, enfatizando ainda mais uma vez.
Passei um dia em Pretória, e vi um único 2-andares na cidade, um velho Mercedes-Benz.
Da viação estatal municipal “Tshwane Serviços de Transporte”.
(Duas notas: “Bus Service” no original, eu traduzo tudo pro português quando possível;
E ‘Tshwane’ é como os negros chamam ‘Pretória’. A prefeitura adotou a nomenclatura deles pra compensar os graves excessos cometido na era do ‘apartheid’.)
Pela internet achei imagem de outro 2-andares da mesma viação (acima), dessa vez um Man – ou seja, Volkswagen.
(Curiosamente a tomada foi feita no mesmo mês que estive lá, maio de de 2017.)
Pro que nos importa aqui que é o transporte, fora esses últimos “heróis da resistência” os 2-andares estão quase extintos em Pretória também.
Alias como já especificado estou relatando aqui a realidade que constatei em 2017.
Como os bichões já eram bem veteranos na época, pode ser que esse modal já até tenha sido eliminado em Pretória.
No Cabo, dizendo de novo, não restam dúvidas que foram aposentados das linhas regulares. Não faz muito tempo.
A principal viação da cidade se chama “Flecha Dourada” (‘Golden Arrow’ no original). No século 20, as imagens mostram, a pintura da Flecha Dourada era . . . . dourada – abaixo.
Essa foi a época áurea dos 2-andares no Cabo. Eram tão comuns quanto na Austrália da mesma época, digamos assim.
Agora no século 21 foi a pintura da ‘Flecha Dourada’ foi mudada pra branco com uma ‘saia‘ (parte inferior da lataria) verde.
Então. A direita na sequência imagem de um 2-andares da Flecha Dourada já na nova decoração, em 2006.
Eram os últimos dias desse tipo de ônibus no Cabo, pouco tempo depois foram aposentados das linhas regulares.
Tudo um dia chega ao fim. Na Cid. do Cabo e em Durbã o modal com escada só existe na lembrança.
Esses bichões resistem em larga escala somente em Joanesburgo, e num fio de esperança na capital Pretória.
Então vejamos cenas do Centro de Joanesburgo, final do século 20 – quando eles eram muito mais comuns:
Cidade do Cabo:
PARTE 5:
EX-COLÔNIAS INGLESAS NA ÁFRICA E ÁSIA –
Atenção: não pretendo retratar todos os países que foram antigas possessões da Coroa Britânica que têm (ou tiveram) ônibus de 2 andares. Nem sequer todas as cidades dentro dos países mostrados.
Vou apenas dar alguns exemplos mais significativos. Comecemos por Hong Kong, que foi colônia até 1997, quando foi devolvida a China.
A esquerda um ‘Routemaster’. A foto a direita é bem mais recente, de 2009. A linha tem ponto final na balsa pra Macau (como sabem, possessão portuguesa até 1999, ano em seguindo o exemplo de HK igualmente foi devolvida a China).
A balsa ainda está ativa. Porém em 2018 foi inaugurada moderníssima ponte unindo HK a Macau, que encurtou a viagem de 3 horas pra 40 minutos.
Agora que as duas cidades são chinesas novamente o governo central as conectou com uma ampla auto-pista sobre o mar. Vamos a mais 2-andares de Hong Kong:
Singapura, cidade-estado que é atualmente é um país bastante desenvolvido; tem grande porcentagem de sua população de origem chinesa.
Como na África do Sul, precisou de 3 datas até atingir a autonomia plena. A separação de Singapura da Inglaterra foi em 2 etapas: em 1959 se torna ‘estado autônomo’ dentro da Comunidade Britânica de Nações.
Quatro anos depois, em 1963, cortou em definitivo os laços com Londres, se unindo a Malásia; em 1965 enfim se torna um país soberano, a ‘República de Singapura‘.
Sidnei, Austrália (antes chamada “Australasia”, ou seja, “Ásia Austral” ou “Sul da Ásia”. Depois preferiram oficializar “Oceania” como um novo continente).
País formado em 1901, mas se tornou autônomo em 1942. Ainda parte da “Comunidade Britânica”, daí a bandeira da Grã-Bretanha dentro da australiana.
Na maior cidade australiana os 2-andares acabaram, mas voltaram em 2016 (ao lado e abaixo):
Índia (que decretou sua república independente em 1947).
Com uma população de 1,3 bilhão de pessoas – com ‘b’ -, está quase alcançando a China, que tem 1,4 bilhão (dados de 2020).
Como a natalidade indiana é maior, ela deve se tornar o país mais populoso da Terra até 2030. Suas 3 maiores cidades têm mais de 10 milhões (os nºs incluem sempre a região metropolitana). São elas:
1) Bombaim, 18 milhões, oeste da Índia (agora chamada ‘Mumbai’ refletindo a pronúncia local):
2) Delhi, 16 milhões, a capital, no norte do país.
3) Estado de Bengala Ocidental, cuja capital é Calcutá, que tem 14 milhões de habitantes, leste indiano.
Bangladesh, que pertencia a Índia, que por sua vez era colônia britânica até 1947, nessa data foram criadas as nações independentes da Índia e Paquistão – Bangladesh ficou como parte do Paquistão.
Em 1971 após novo conflito surge a República Popular de Bangladesh. Bem próximo a Calcutá; alias na divisão de 47 alguns queriam que Calcutá fizesse parte de Bangladesh.
Não rolou. Ficou pra Índia mesmo. A distância entre Calcutá e Daca, capital de Bangladesh, é de apenas 330 km. Vamos ver os 2-andares de Daca.
Bagdá, capital do Iraque (que se separou da Inglaterra em 1932, ao menos formalmente):
Egito (cuja independência foi em 1922). Trata-se de um país árabe e muçulmano no Norte da África, evidente.
Alexandria, sua segunda maior cidade e principal porto, foi fundada por Alexandre “o Grande“.
Abrigou no passado a famosa Biblioteca, destruída num incêndio no século 3 d.C. .
BONDE DE 2 ANDARES –
Já que estamos falando de Alexandria, essa cidade tem – ou teve até recentemente – bonde com duplo pavimento (dir.).
Esse modal foi comum na Inglaterra, onde existiu em várias cidades.
Nas antigas colônias do Império, no Egito e em Hong Kong:
Mais algumas imagens de quando eles faziam linhas urbanas no Brasil, nos anos 80/90:
PARTE 6:
‘LINHA-TURISMO’, BRASIL E EXTERIOR –
Então como vimos em várias cidades ao redor do mundo os ônibus de 2 andares ainda operam em linhas urbanas, inclusive em algumas foi (re-) introduzido recentemente.
Porém no Brasil e em muitos países eles agora rodam em roteiros ‘opcionais’: Linhas-Turismo ou Conexão Aeroporto (esse no Chile).
Vejamos alguns exemplos, em nossa nação e alhures.
Curiosamente, muitas vezes são vermelhos; como o ‘Circular Turismo’ paulistano (acima).
Pera lá. São Paulo/Capital teve 2-andares rubros nos anos 80 e 90.
E agora conta com eles de novo – é fato, tudo vai e volta!
A direita: essa é a Linha-Turismo da Cidade do Cabo. Do outro lado do oceano a mesma cena, inclusive de cor idêntica.
E agora segura essa: a Linha-Turismo de Córdoba/Argentina é feita por um antigo Routemaster ex-Londres (a esquerda).
Mantido na pintura original, apenas adaptaram a porta pra perto do motorista.
(Ou talvez ele seja de outra cidade e a porta seja original; nesse caso pintaram assim pra remeter a Londres.)
Curitiba, entretanto, optou por esse tom de verde que vemos ao lado – pois verrnelhos aqui são os Expressos.
Mais alguns 2-andares nesse modal, onde eles funcionam bem melhor que nas linhas urbanas de massa:
Fechando com chave de ouro, filma a esquerda esse achado:
Campina Grande/Paraíba. O Sertão Nordestino também tem ônibus de 2 andares, pelo visto . . .
Sério isso? Vejamos a explicação no detalhe, colado no vidro da façanha:
“Quando Deus Quer É Assim”. De fato. Sua Vontade é Oni-Potente. Então aqui está.
“Deus proverá”