Por Maurílio Mendes, “O Mensageiro”
Publicado (em emeios) em 12 e 18 de fevereiro, 2012
Quase todas as imagens baixadas da internet. As que forem de minha autoria identifico com um asterisco ‘(*)’.
Hoje praticamente não há casas de madeira no Sudeste e Nordeste brasileiros, nem em boa parte do Centro-Oeste.
Não sei quanto ao Nordeste. Nas outras duas regiões citadas elas foram comuns até os anos 60 e 70, nas periferias.
Depois desapareceram, só sobrando um resquício dessa manifestação em algumas cidades:
– Vitória do Espírito Santo;
– Santos, Marília e Campos do Jordão no estado de São Paulo (essas e mais a capital capixaba no Sudeste, evidentemente);
– E Cuiabá-MT no Centro-Oeste.
Joguei no ar outra mensagem em que abordo esse assunto com mais profundidade.
Incluso com muitas fotos e mapas mostrando onde existem casas de madeira na América, e onde não.
Por hora adianto que no Nordeste eu nunca vi casa de madeira, nem mesmo em fotos antigas.
Talvez por lá isso nem sequer tenha mesmo manifestado.
No Nordeste, é sabido, no passado as casas eram de taipa (pau-a-pique).
Ainda há alguns últimos exemplares de casas de taipa, especialmente no interior, mas de vez em quando achamos até na periferia das metrópoles.
Agora, casa de madeira no Nordeste, digo de novo, não sei se um dia existiu, hoje não existe nada, zero mesmo.
Mesmo no Sudeste e Centro-Oeste, nas cidades acima citadas elas existem mas são minoria, é preciso caminhar um pouco pra achar.
Entretanto, um colega me informou que até os anos 60 era diferente. Haviam casas de madeira ao montes.
Não sei se ele se referiu a Santos apenas ou ao estado de São Paulo em geral.
O fato é que elas estavam presentes. Transcrevo literalmente o que ele escreveu:
“Elas eram comuns em minha infância, eram denominadas de bangalôs…”.
Usa-se também o termo ‘chalé’.
Essa matéria que estão lendo foi publicada também num outro sítio.
E lá, nos comentários, alguém que assinou como ‘Santista’ acrescentou:
” Para quem tem curiosidade, só na Rua Comendador Alfaia Rodrigues, no bairro do Macuco há pelo menos uns 15 Chalés da década de 1960.
Quase todos eles bem conservados. Busquem no Visão de Rua do ‘Google’.
A construção de casas em madeira no Brasil e naquela época era uma alternativa da classe pobre em obter sua moradia com mais rapidez e custo baixo.
Enquanto os ricos e mais abastados construiam em alvenaria. As casas em madeira são melhores, que digam os estadunidenses. ”
(Nota: eu corrigi o gentílico, pois América é um continente, não um país.
E traduzi pro português os termos que por vício de linguagem foram grafados em inglês. Segue o texto original.)
Aí eu estive concatenando os fatos. Nas imagens antigas das favelas do Rio de Janeiro, é comum igualmente verem-se casas de madeira.
Casas mesmo ainda que simples, não me refiro a barracos feitos de compensado e restos de construção.
Podemos dizer que nos anos 60 a madeira é quem marcava a favela no Rio.
O mesmo se dava em Brasília. Veja essa sequência de imagens da construção e primeiros tempos da nova Capital Federal.
Foram tiradas do finzinho dos anos 50 até o começo dos 70.
Quase todas no atual Núcleo Bandeirante, então a ‘Cidade Livre’ dos operários candangos.
Mesmo as igrejas (esq.) e hospitais (abaixo) da época eram de madeira.
As tomadas comprovam isso de forma claríssima, indelével:
Definitivamente Brasília começou na madeira. Ao menos na moradia dos operários com certeza, mas vai além, até mesmo nos templos e centros de saúde.
Já os retratos cariocas (espalhados pela mensagem) são de 2 morros da Zona Sul:
O Morro da Catacumba, na Lagoa, que se foi em 1970, e o Morro do Pasmado, Botafogo, que deixou de existir em 1964.
Em ambos os casos, claro, quando digo o ‘morro deixou de existir’, me refiro não a saliência topográfica óbvio. Essa não foi terraplanada.
E sim a favela que existia nas encostas, cujas casas foram removidas pra conjuntos habitacionais no subúrbio.
Como Cidade de Deus, Vila Aliança e Vila Kennedy, que foram construídos especificamente pra desfavelizar a Zona Sul.
O fato é: até o começo dos anos 70, pelo menos, existiam casas de madeira no Rio de Janeiro e Brasília também. Veja as imagens, que falam por si só.
Falando particularmente do Rio, elas haviam nos morros da Zona Sul, é um fato indisputável.
Assim certamente haviam igualmente nos subúrbios planos, que se espalham pelos arrebaldes das Zonas Norte e Oeste e também na Baixada Fluminense.
………..
Vivendo e aprendendo. Elas já foram abundantes nessa região do Brasil, como ainda são no Sul e no Norte.
Em Curitiba, dizendo de novo, ainda as há casas de madeira aos borbotões.
Hoje já não são mais maioria na periferia, como foram até os anos 90.
Ainda assim há centenas de milhares delas na Grande Curitiba.
Eu mesmo morei 15 anos em uma, de onde escrevi essas linhas (texto de 2012).
Igual ocorre em todas as cidades do Sul do país, grandes e pequenas.
De Porto Alegre-RS a Salto do Itararé-PR, de Joinville-SC a Santa Maria-RS a Guarapuava e Rio Negro (ambas no Sul do Paraná), esse tipo de moradia é o que mais tem nessa parte do Brasil.
No Norte do Brasil, na Floresta Amazônica, ocorre de forma idêntica.
Por isso, são razoavelmente comuns também em Cuiabá, que é Centro-Oeste mas perto da Amazônia.
Por algum motivo esse tipo de moradia foi extinto em boa parte do país.
É notório que em São Paulo, capital e interior, até nas favelas as casas são alvenaria.
Situação que se repete em todo Sudeste, Nordeste, Brasília e Goiânia
………….
Bem, as casas de madeira estão diminuindo significativamente aqui no Sul também.
Até o começo dos anos 90, as casas de madeira eram maioria na periferia da Grande Curitiba.
Surgia um loteamento no subúrbio, a maior parte das residências que brotavam era assim.
Era bem mais barato, numa época de menos recursos financeiros.
Agora não mais. Mesmo nos bairros mais humildes, a alvenaria, pela primeira vez na história de Curitiba, está predominando.
O Sudeste e Centro-Oeste um dia começaram assim também, e hoje com poucas exceções extinguiram esse modal.
Talvez o Sul vá no mesmo caminho. De 2005 pra cá são bem poucas residências novas de madeira, mesmo na porção austral da Pátria Amada.
Pois atualmente há pouquíssima gente disposta a construir por conta.
A madeira dominava quando o cara comprava barato um lote num bairro afastado e geralmente ele mesmo fazia sua moradia, as vezes em mutirão com os vizinhos.
A coisa mudou muito, hoje mesmo nos subúrbios os lotes são caros, é preciso financiar no banco.
Aí os casais estão optando por comprar a casa já pronta.
Ao invés de ter o trabalho de contratar pedreiro, aquela incomodação toda que dá pra construir.
Resultado: 90% das novas moradias são conjuntos entregues prontos.
Sejam horizontais ou verticais, o fato é que são feitos de tijolo evidentemente.
De modo que se até o começo dos anos 90 a maioria das novas casas (na periferia certamente) era de madeira, nos últimos 20 anos houve um equilíbrio.
E nos últimos 5 a 7 anos pendeu infinitamente mais pro tijolo – isso quando escrevi, em 2012.
Quando a atualizo em 2019, a transição pra alvenaria está consolidada.
Ainda se fazem novas moradias em madeira na Grande Curitiba, sim. Mas a imensa maioria é de tijolo.
A própria casa de madeira em que eu morava quando fiz essa matéria em 2017 foi posta abaixo, em seu lugar surgiu uma de tijolos.
E essa micro-escala reflete bem uma tendência maior da cidade.
Veja mais postagens sobre a periferia de Curitiba, onde esse movimento de migração da madeira pro concreto está bem retratada:
Uberaba, na Zona Leste, Parolin na Zona Central e Xaxim na Zona Sul.
E inclusive uma da divisa entre as Zonas Norte e Central, que já não é mais periferia há décadas, mas no meio do século passado foi.
Em todas essas matérias eu registro amplamente o ciclo antigo da madeira sendo solapado pelo contemporâneo do cimento.
Após predominar na periferia do Sudeste, a madeira chegou quase ao fim por lá. O Sul vai no mesmo rumo.
É bom ou ruim? Não sei. É o que está acontecendo, isso sei. Não me cabe julgar.
Sou comunicador. Eu relato o fato. Cada um que chegue a suas próprias conclusões.
………
Fechamos com essa galeria, algumas fotos atuais de Brasília:
“Deus proverá”
Foram tombados como patrimônio histórico alguns chalés na cidade de santos , causou um pouco d polêmica com os donos .
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