Por Maurílio Mendes, o Mensageiro
Matéria reformulada pra incluir vários bairros de Colombo em 13 de fevereiro de 2019.
Publicada originalmente (o anoitecer no Jardim Monza) em 10 de dezembro de 2016.
Colombo é um município que fica na Zona Norte da Grande Curitiba.
212 mil habitantes foram contados no Censo de 2010.
Hoje (2019) deve estar bem perto de 230 mil moradores.
Trata-se, é notório, da periferia da metrópole.
Um subúrbio proletário da Região Metropolitana da capital.
Nota: eu não falo da ‘periferia’ com preconceito ou o descaso típicos das pessoas esnobes da burguesia.
Exatamente ao contrário é verdadeiro, eu gosto de periferia.
Leia mais abaixo esclarecimento completo. Isso posto, sigamos.
Falaremos um pouco exatamente dessa capital do estado, o município de Curitiba.
Pra depois voltarmos a Colombo, aí ficará nítido o que quero dizer.
No município de Curitiba, a Zona Norte é mais aburguesada.
Ela tem poucas vilas de periferia mesmo (aquelas de predominância das classes D e E).
Há, claro, partes na Zona Norte dentro do território da capital que são vilas bem populares:
Com loteamentos, cohabs e mesmo algumas favelas.
Especialmente nos bairros de Santa Cândida, Cachoeira, Abranches e Pilarzinho, inclusive com algumas favelas em morro.
Mas no geral a Zona Norte é mais arborizada e de padrão mais elevado, predominando a alta e média burguesias.
Ao lado da Zona Oeste (excetuando o CIC nesse caso) forma a ‘Cidade Verde’, a região aburguesada da capital do estado.
Não por outro motivo, a Linha Turismo concentra 95% de seu itinerário nas Zonas Norte e Oeste, além do Centro.
Pois a Linha Turismo mostra obviamente as partes mais turísticas, portanto as mais bonitas da cidade
(E por isso é bem cara, quando atualizo a matéria [fev.19] a tarifa é R$ 45, mais de 10 vezes mais a tarifa convencional, que está R$ 4,25.)
Pelo Centro e imediações é óbvio que a Linha Turismo tem que passar.
Pois foi ali que a cidade começou, então ali estão boa parte de seus prédios históricos.
Porém, por que além da Zona Central a Linha Turismo se concentra nas Zonas Oeste e Norte?
Por isso, porque as partes ocidental e setentrional da cidade são as mais aburguesadas.
São as que concentram os parques e os bairros de classe média-alta.
Pela Zona Leste a Linha Turismo só faz uma incursão muito rapidamente pra mostrar o Jardim Botânico.
E pela Zona Sul ela nem sequer adentra, nem mesmo em sua porção mais central.
Pois, como é notório, a Zona Sul concentra a periferia de Curitiba.
A Z/S concentra o grosso dos subúrbios proletários, repetindo, ao lado dos bairros Cidade Industrial (Zona Oeste) e Uberaba e Cajuru (ambos na Zona Leste).
Todos esses últimos 3 são relativamente próximos a Zona Sul.
Ou seja, no geral os mais humildes residem a Leste e Sul do Centro, os mais ricos a Oeste e Norte.
Há exceções, claro. O Jardim Social fica na Zona Leste, e é o 2º bairro de renda mais alta da cidade (só atrás do Batel que fica na Zona Central, a Oeste do Centro pois o Oeste é mais rico).
E a Cid. Industrial, que concentra 20% das favelas de Curitiba, está na sua maior parte na Z/O (e uma pequena porção na Zona Sul).
Além disso, na Z/O e Z/N mesmo nos e ao lado dos bairros mais prósperos há algumas favelas.
Uma vez que estamos no Brasil e América Latina, afinal.
…….
Existem exceções? Evidente. Mas no geral funciona assim dentro do município de Curitiba:
As Zonas Oeste (excetuando o CIC) e Norte – além da Central – concentram os bairros de classe média-alta da cidade.
Isso já disse, e todos que conhecem a cidade sabem.
Agora vamos enfim pra nosso tema de hoje, Colombo.
Inversamente e como uma compensação, a parte metropolitana da Zona Norte é a mais proletária, a mais suburbana.
Por isso, os municípios de Colombo, Almirante Tamandaré, Rio Branco do Sul, Itaperuçu e Campo Magro algumas vezes são conhecidos coletivamente como a “Baixada Paranaense”.
A referência ao Rio de Janeiro e sua ‘Baixada Fluminense’ é óbvia demais pra que necessite ser explicitada.
No entanto, a “Baixada Paranaense” não é uma baixada, pois ela não é uma planície.
Ao contrário, é a região da Grande Curitiba que mais tem morros, inclusive favelas em morros.
Portanto a analogia se refere ao nível social, geografia humana, e não topográfico, geografia física.
Quero dizer com isso o seguinte: a Baixada Fluminense se refere a uma série de municípios ao Norte da capital que são sua periferia, um subúrbio metropolitano.
No entanto, a origem do termo ‘Baixada’ quer dizer um lugar plano.
E é exatamente isso que a Baixada Fluminense é, uma planície.
A capital, o município do Rio de Janeiro, tem relevo muito acidentado.
Em outras palavras, tem muitos morros, vários deles favelizados, como todos sabem.
A Baixada Fluminense tem esse nome porque inversamente tem menos morros. Tem muitas favelas, sim.
Só que poucas nas encostas. A maioria de suas favelas e periferias são planas.
Aqui no Paraná é o contrário, topograficamente falando.
O município de Curitiba é no geral bastante plano.
Evidente, há ladeiras (algumas inclusive favelizadas), mas são poucas.
Já a Zona Norte metropolitana é, inversamente, a que mais tem morros, como já dito e é notório.
O analogia ao termo ‘Baixada’ se refere somente ao subúrbio, e não a planície.
Colombo tem o relevo mais escarpado que o município de Curitiba, mas menos que os de seus vizinhos da ‘Baixada’.
Em Colombo há muitas ladeiras sim, mas gente morando em encosta da serra não.
Já em Tamandaré, Rio Branco do Sul, Itaperuçu e Campo Magro é diferente.
Em todos eles há vilas e favelas nas encostas das montanhas mesmo.
Digo, em Itaperuçu, como em Colombo, não são tão acentuados os aclives. Entretanto nos outros 3 citados acima há algumas ruas que o carro não sobe em 2ª marcha.
Apenas em 1ª, e mesmo em casos mais extremos existem ruas que não se sobe de carro, especialmente se a pista estiver molhada.
É comum a todos eles, em determinados bairros a aguda inclinação do terreno e mesmo assim densamente ocupado. Mas muito mais comum em Tamandaré.
Afinal Tamandaré é bem maior que Rio Branco, Itaperuçu e C. Magro (tem mais de 100 mil habitantes, enquanto os outros oscilam entre 20 e 30 mil).
Assim fica fácil entender: Colombo é cheia de ladeiras, em certas partes da cidade se você se locomove a pé por lá dispensa academia, pois é sobe-e-desce o tempo todo.
Porém não há ocupações em encosta de serra, ao menos.
Em Colombo você sobe todas as ruas eu diria que na 3ª marcha, não é preciso nem pôr 2ª, e muito menos 1ª como há casos nos vizinhos.
……….
O município ainda conta com muitas ruas de terra, como vê nas fotos.
Em boa parte da Grande Curitiba isso já está se tornando raro.
Escrevi em 2016 que no município de Curitiba, até uma década atrás (portanto por volta de 2005, 2006) as vias com pavimentação natural eram comuns.
No entanto as coisas mudam, hoje são praticamente inexistentes.
Diversos outros municípios da RM igualmente estão quase totalmente asfaltados.
Por exemplo: Araucária, São José dos Pinhais, Fazenda Rio Grande, Pinhais.
Nesses, eu repito, quase não há mais ruas de terra.
Mas em Colombo, como notam, elas ainda existem em grande número.
……….
Já que estamos falando da malha viária, Colombo tem 3 estradas:
– a BR-116, nesse trecho chamada ‘Régis Bittencourt’.
Eis a principal rodovia brasileira, que liga o Sul ao Sudeste e depois ao Nordeste;
– A Estrada da Ribeira, que é a BR-476, antiga ligação entre PR e SP antes de construírem a Régis.
É na Ribeira que estão os terminais Alto Maracanã e Guaraituba;
– E a “Estrada Nova de Colombo” ou “Rodovia da Uva” (PR-417)
Que liga a capital ao Centro do município. Na Estrada Nova fica o Terminal Roça Grande.
E seguindo pela Estrada Nova chegamos ao Centro de Colombo.
O termo se refere ao bairro ‘Centro’, ao centro político do município.
Pois em Colombo o Centro é afastado da região que mora a maior parte da população do município.
Não é difícil entender o porque. Eu já disse muitas vezes, ‘cidade’ e ‘município’ são conceitos diferentes.
‘Município’ é a divisão política, pra quem as pessoas pagam seu IPTU. Já cidade é a mancha urbana, onde as pessoas vivem de fato.
Assim, uma cidade pode ser formada por um único município, ou por vários.
Exemplificando ficará mais mais fácil de entender.
A cidade é a Grande Curitiba. E ela é formada por diversos municípios.
A Grande Curitiba, urbanisticamente falando, é uma massa de Energia só, em termos econômicos, culturais, etc.
Mas essa única cidade é dividida em diversos municípios, dos quais Colombo é um deles.
(E o 3º mais populoso, só atrás da capital e de São José dos Pinhais.)
As pessoas moram em cidades. No caso dos que têm sua residência em Colombo, o que isso quer dizer:
O Centro de Colombo é o local histórico onde a povoação do município começou.
Isso há mais de um século atrás (em 2019 são 129 anos desde a fundação, sendo exato).
Só que Colombo obviamente é um subúrbio da Grande Curitiba.
E as pessoas, em sua maioria, querem morar o mais perto de Curitiba possível.
Posto que boa parte dos colombenses trabalha na capital.
E portanto migram pendularmente todos os dias a ela por motivos profissionais.
Assim, os bairros mais populosos de Colombo se concentram próximos a divisa com Curitiba.
Ali está o núcleo econômico, populacional e cultural de Colombo.
Pra chegar ao Centro político do município, é preciso pegar uma estrada.
E essa estrada é justamente a Rodovia da Uva que falamos.
A imensa maioria dos colombenses nunca ou praticamente nunca vai ao Centro político – a chamada “Sede” do município.
A não ser que eventualmente tenham que resolver alguma questão na prefeitura.
Resultando isso, o Centro político de Colombo é afastado da cidade, fora dela, é preciso pegar estrada pra chegar até lá.
Em Almirante Tamandaré, Campina Grande do Sul e Piraquara (essas duas últimas na Zona Leste da Gde. Curitiba) ocorre o mesmo, e pelo exato mesmo motivo:
Sendo esses 4 subúrbios metropolitanos em que o local de fundação do município é distante da capital, poucas pessoas moram nele, pois elas preferem residir próximo a capital.
Isso não é uma crítica, OK? Não estou depreciando o Centro de Colombo, ao contrário, trata-se de um bairro bastante agradável, apesar da distância pra Curitiba.
Mas se você não precisa se deslocar a capital todos os dias, o Centro de Colombo é muito aprazível como local de residência.
……….
Isto posto, posso descrever minha volta por Colombo empreendida no final de agosto de 2018:
Eu desci no Terminal da Roça Grande, que como dito fica na Rodovia da Uva. Dali segui a pé até a Estrada da Ribeira, passando pelos bairros:
Roça Grande, Jardim Osasco, Campo Pequeno, Rio Verde, Fátima, até as proximidades do Alto Maracanã.
Foram 2 horas de caminhada, subindo e descendo ladeiras muitas vezes. O resultado é esse ensaio fotográfico que estão vendo.
………
Antes de prosseguirmos, duas sequências com imagens. Primeiro panorâmicas da cidade:
E uma com as bandeiras da Pátria Amada e ônibus beges da Viação Colombo.
Agora vamos complementar nota que coloquei na abertura do texto:
Eu não falo da ‘periferia’ com desprezo ou preconceito, vejam vocês.
Não me prendo aos valores burgueses de equiparar a riqueza material a ‘sucesso na vida‘.
Ao contrário, eu gosto de periferia. Não por outro motivo morei 15 anos numa favela da Zona Sul de Curitiba, o Canal Belém, no Boqueirão.
Com o fim do casamento, retornei temporariamente a Zona Central (bairro Juvevê, já na “Nascente da Zona Norte”, na verdade).
“Assim que for possível voltarei a morar no subúrbio da cidade. Quem sabe até na Região Metropolitana, e talvez mesmo em Colombo”, escrevi em 2019.
Atualizando, um ano e pouco depois de fazer essa matéria de fato eu voltei pro subúrbio. Moro agora no Jd. Aliança, Stª Cândida.
Ainda no município de Curitiba, mas na divisa com Tamandaré e Colombo – a profecia de certa forma se cumpriu.
Você pode ler na seção de ‘comentários’ abaixo que eu conheço por dentro todas as favelas do município de Curitiba, e são mais de 300.
Bem, morei numa delas por uma década e meia, na Zona Sul.
Além disso, conheço milhares de favelas que visitei pessoalmente nas 5 regiões do Brasil, em boa parte da América e até na África.
Então, voltando, não falo com desprezo ou preconceito da periferia.
Fato são fatos, pouco adianta tapar o Sol com peneira embora muitos se apeteçam com isso.
Queiram ou não, Colombo e boa parte da Zona Norte metropolitana são o subúrbio da metrópole, com todas as questões que isso acarreta.
Alias, dos municípios que citei acima na ‘Baixada Paranaense’, Colombo, Tamandaré, Rio Branco e Itaperuçu são Z/N mesmo.
Campo Magro é Zona Oeste mas próximo da Z/N, afinal se separou de Tamandaré.
Assim, resumindo, no município de Curitiba a Zona Norte tem pouca periferia.
Em compensação, a Zona Norte metropolitana é a mais periférica.
Tudo somado: Colombo é a “Periferia Boreal” da Grande Curitiba.
Evidente, há ricos e alta burguesia em Colombo também. Afinal são bem mais de 200 mil habitantes.
No entanto, no geral predominam bairros com casas simples de gente trabalhadora.
……….
MAIS UM “ANOITECE NA ZONA NORTE” JARDIM MONZA, COLOMBO –
Já estamos vendo as fotos do Monza. Vamos agora ao texto da mensagem original. Foi publicada em 10 de dezembro de 2016.
Fui ao bairro Jardim Monza. Fotografei o pôr-do-sol. Mais um na Z/N, como já foram vários.
Quanto ao Monza, as imagens deixam claro o perfil do bairro:
Moradias humildes, de madeira, sem muro. Ou as vezes de alvenaria, mas sem garagem, como visto a esquerda logo acima.
………
Agora olhe a foto mais pra cima a direita, a que diz ‘madeira, sem muro, bananeiras no quintal‘.
Fiz minha versão em desenho dela. Continuando o giro pelo bairro, a direita: casa acima do comércio.
Repare na porta no canto da imagem. Está gradeada, ou seja, há uma segunda porta de ferro por sobre a de madeira.
Significa que a região tem arrombamentos frequentes. Bem, isso não é privilégio da Grande Curitiba.
Já fotografei a mesma cena em diversas partes da América:
Muitas vezes em Fortaleza-CE, em uma favela em João Pessoa-PB, no Centrão de Belém-PA e S. Domingo-Rep. Dominicana.
E também no Chile, nesse caso tanto na periferia como em bairros de classe alta.
…………
Por hora de volta a Colombo. Continuamos a ver o Jd. Monza.
Na tomada a direita, mais um sobrado ‘artesanal’: antes era uma casa térrea. Quando a família juntou o troquinho, tirou o telhado e ‘subiu a laje’.
Agora repare nas próximas duas fotos, ao lado e abaixo:
Começam a subir alguns prédios no Jardim Monza.
Sinal que a região vem se aburguesando um pouco.
Claro, nesse caso é a uma pequena burguesia, classe média-baixa e média-média.
Como eu já fotografei também no vizinho município de Almirante Tamandaré.
Voltamos a Colombo, a tomada logo abaixo resume a situação:
Rua ainda sem asfalto, casa simples de madeira sem muro.
Ainda assim um pombal de classe média já faz parte da paisagem, bem no cantinho da cena.
Mais imagens do Monza (clique sobre pra ampliar):
Em duas fotos da sequência acima (a 5ª e a 6ª) vemos pichação do Comando Norte da Império Alviverde.
Eu não torço pelo Coritiba. Apenas relato o que vi.
Se tivesse flagrado pichações dos Fanáticos ou da Fúria, fotografaria também.
Como no rolê de Tamandaré eu fotografei bandeiras do Atlético e do Coxa.
Em Belo Horizonte pichações e cartazes do Galo e do Cruzeiro.
E em Belém bandeiras e pichações do Remo e do Paysandu.
Também do Atlético Mineiro – em plena Amazônia!!
Enfim, vocês entenderam.
Deixando o futebol de lado, cheguei ao Monza pela Estrada da Ribeira.
Ao lado: Lojas Coppel do Alto Maracanã, na referida estrada.
Essa cadeia de lojas aportou poucos anos atrás no Brasil e tomou conta da Grande Curitiba.
(Atualização: em 2016 quando escrevi de fato era assim.
A Coppel havia aberto de uma tacada filiais em diversos bairros da Região Metropolitana.
Pouco tempo depois, entretanto, ela encerrou as atividades no Brasil.
Hoje [2019] todos os barracões que abrigavam lojas Coppel estão fechados e a venda.)
Voltemos ao texto original, quando a Coppel ainda estava ativa.
Eu dizia acima, ela havia chegado pouco antes e ‘tomado conta’ da cidade.
(Por isso ela faliu, quis abocanhar uma fatia do mercado muito grande de uma só vez.)
Seja como for, no auge da marca eu me impressionava com seu poderio.
Só que não sabia sua origem. Quando fui ao México, vi por lá também, e estranhei.
Aí que me informaram: a cadeia de Lojas Coppel é mexicana.
Nessa postagem eu fotografei uma Coppel na matriz, na Cidade do México.
…….
Pra fechar, ao lado: Rio Verde, Colombo, 2013. É em outro bairro, e foi feita como indicado 3 anos antes.
Ainda assim, como também mostra o entardecer em Colombo, insiro aqui também.
Que o Criador Ilumine a todos.
Deus proverá