a “Mãe de Deus”: Manaus, Amazonas

Ponta Negra, Zona Oeste (*).

Por Maurílio Mendes, O Mensageiro

Publicado em 3 de outubro de 2010 

Relato de minha viagem a Manaus, setembro de 2010.

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Meu trabalho como ‘Mensageiro’ começou justamente em 2010 (até 2015 só por emeio). A viagem pro Amazonas foi a 1ª em que eu fiz uma reportagem.

Por ter sido a pioneira, o material produzido foi pequeno, eu ainda estava pegando o jeito.

Há apenas esse texto, e não uma série como ocorre de 2011 em diante. As imagens também são esparsas, 11 que eu tirei pessoalmente

Palafitas sobre o Rio no bairro Educandos, Zona Central. Veja quanta casa de madeira.

Dessas sendo só 9 de Manaus mesmo, e mais 2 de Cuiabá-MT que captei de dentro do avião.

Eu informo na legenda as que são de minha autoria com um (*), como visto acima.

Pra compensar há mais algumas fotos puxadas da rede.  Se não disser nada é esse caso, créditos mantidos sempre que impressos nas tomadas. E quando possível passo a ligação pras fontes.

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O Porto no Centro é na prática a rodoviária da cidade, por onde as pessoas chegam e saem (*).

Comecemos pelos nomes. Como é sabido, as amazonas, na mitologia grega, eram uma tribo guerreira composta exclusivamente por mulheres.

Se encontravam com homens apenas uma vez por ano, pra fins de procriação, mas só mantinham os bebês do sexo feminino.

Os meninos eram assassinados ou devolvidos ao pai, as fontes divergem nesse ponto.

Panorâmica do bairro da Ponta Negra.

Elas tinham exímio sobre as artes de guerrear (chegavam a amputar um de seus seios pra poderem manejar melhor o arco e flecha).

Bem como pra cavalgar – até por isso, o feminino de ‘cavaleiro’ é amazona, mulher que anda a cavalo.

Os especialistas discutem se há base real pra essa lenda. E onde o Brasil entra nisso?

Segundo se conta, quando os primeiros europeus chegaram a região, viram índios homens cavalgando.

Adrianópolis, Zona Central.

Acontece que por eles terem os cabelos compridos e soltos, os brancos a primeira vista imaginaram tratar-se de mulheres, as amazonas da mitologia.

Assim foi batizado o rio, e por consequência, o estado. Melhor dizendo, os estados, pois além do Brasil, Venezuela, Peru e Colômbia têm estados chamados ‘Amazonas’.

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Sagrado Grande Rio Amazonas, nesse ponto ainda chamado ‘Rio Negro’. Foto na Ponta Negra (*).

Já Manaus é corruptela de Manaós, grupo indígena que povoava a região.

A palavra que originou o nome da tribo é Manôa, que significa ‘Mãe de Deus’ em sua língua.

Há uma vila chamada ‘Conjunto Manoa’ na Cidade Nova, Zona Norte. Manaus só tem as Zonas Central, Leste, Oeste e Norte.

Não há Zona Sul na cidade, pois esta é o rio.  Digo, lá se fala em ‘Zona Centro-Sul’ pra região do bairro Educandos e entorno. 

encontro-Negro-e-Solimões-Manaus

Encontro do Rio Negro e Solimões.

Eu respeito os costumes locais, e por isso estou registrando essa informação.

A questão é que, como eu disse no texto sobre Belo Horizonte-MG, eu só divido as cidades em Zonas Central, Leste, Sul, Oeste e Norte.

Não há ‘Zona Noroeste’ nem ‘Centro-Sul’ em meu léxico. Assim a Zona Centro-Sul de Manaus será referida aqui como ‘Zona Central’.

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Teatro Amazonas.

A parte mais aburguesada é a Zona Oeste. No extremo oeste da cidade, fora dela propriamente dita, está a Ponta Negra.

A semelhança com a Barra da Tijuca carioca ou com o ‘Ecoville’ curitibano é óbvia, e proposital.

Um bairro fora da cidade, a oeste dela, planejado pra abrigar os melhores prédios. No Rio, tudo isso a beira-mar, e em Manaus, a beira-rio.

Cais do Porto (*). O barco que está no meio do rio, no alto a esquerda na imagem, é um posto de gasolina. Sim, um posto flutuante. Bandeira Petrobrás.

Mesmo além da Ponta Negra, a Zona Oeste é a parte mais rica da cidade.

O que não impede que até esse pedaço de Manaus tenha grandes bolsões de pobreza.

Como pode se ver por exemplo nas piores partes dos bairros Compensa, Lírio do Vale e Redenção.

Só que como tudo tem que ser posto em perspectiva, as Zonas Leste e Norte são bem mais depauperadas.

Na Zona Central também há alguns bairros de classe média e até de classe alta. Exemplo dessa última categoria é o bairro de Adrianópolis:

O transporte em Manaus se modernizou muito essa década. Padronizaram a pintura, houve intensa renovação da frota, chegaram centenas de ônibus novos incluindo dezenas de articulados – como abordamos os busos, essa matéria integra a ENCICLOPÉDIA DO TRANSPORTE URBANO BRASILEIRO.

Uma parte mais alta, próxima ao Centro, extremamente desenvolvida, escolhida pela elite que prefere morar próximo ao núcleo da cidade.

Vemos várias tomadas dele, puxadas da net.

Seja como for, a cidade no geral é muito pobre, quase metade da população mora em favelas ou em vilas bem degradadas.

Há favelas de todos os tipos: em morros, em fundo de vale e muitas palafitas sobre os riachos – em alguns casos os 3 tipos são vistos no mesmo local.

Hotel em construção na Ponta Negra (*).

Como comparação, 10% da população do município de Curitiba mora em favelas.

Percentual que sobe pra 15% na Grande Curitiba, pois os municípios satélites são bem mais pobres que o núcleo, como é notório.

Manaus por sua vez não tem região metropolitana. E mesmo na sua área central há muitas favelas, mas estas estão sendo urbanizadas, em um ritmo intenso.

Dezenas de milhares de famílias foram retiradas das margens dos rios e transferidas pra novos conjuntos habitacionais.

Adrianópolis, um bairro verticalizado e de padrão elevado na Zona Central.

Até a copa (Manaus é uma das sedes, se alguém não sabe), o anel mais próximo ao Centro da cidade estará isento de favelas.

Na periferia a coisa está bem feia, e nesse ritmo se levariam bem uns 50 anos pra urbanizar tudo.

Mas como os turistas não vão nos bairros que eu fui, não irão notar isso.

Lembre-se que o texto é de 2010. Não sei como avançou a urbanização das favelas de lá pra cá. Relato o que vi na ocasião.

Linha de prédios da Ponta Negra (*).

Alias nisso como em tudo meu olhar é sempre forasteiro e superficial, resultado do pouquíssimo tempo que fiquei lá, apenas 4 dias.

Se alguém que conheça melhor Manaus tiver uma retificação ou ampliação a fazer escreva nos comentários ou por emeio.

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Ponta Negra. Na seca do rio forma-se grande faixa de areia na praia.

O sistema de transporte é relativamente bem planejado, há 5 terminais que cobrem toda a cidade.

Embora os ônibus estejam de fato caindo aos pedaços.

(Nota essa era a realidade em 2010. De lá pra cá houve intensa modernização, como já indiquei na legenda da foto acima.

Continuo com o relato do que observei a época, depois atualizamos):

O Rio no bairro Educandos.

Creio que uns 10 a 20% no máximo da frota de lá seria liberado pra rodar pelo padrão aplicado em Curitiba ou em São Paulo).

Além disso há integração no cartão, você desce de um busão e pega outro sem pagar de novo, no meio da rua, não precisa terminal. 

Em Manaus de qualquer parte a qualquer parte a cidade só se paga uma passagem.

O que é realidade igualmente em São Paulo (e todas as outras cidades em haja integração no cartão, como Fortaleza-CE). 

Ainda Ponta Negra (*). Clique pra ampliar e verá uma ponte em construção lá no fundo. Isso em 2010. Agora já está funcionando.

E também Curitiba, porém ressalvando que aqui não há integração no cartão, então há ‘zonas de sombra’, a principal delas o bairro do Pilarzinho, Zona Norte.

Mas não é em Porto Alegre-RS e no Rio de Janeiro, por exemplo.

Pra copa Manaus planeja construir um bonde moderno, pelo menos entre o Centro e o aeroporto – o trajeto passa em frente ao estádio onde serão os jogos.

Atualização. De fato em 2010 a situação dos ônibus de Manaus era catastrófica. 

Mauazinho

Bairro Mauazinho, periferia da Zona Leste, depois do Distr. Industrial (ex-‘Zona Franca’).

Mas desde então houve grande modernização e renovação. Chegaram centenas de busos, sendo dezenas de articulados.

A pintura foi padronizada, o que não era quando fui lá.

Já o bonde moderno não saiu do papel. Outra  coisa:

Bairro Educandos – essa imagem capta bem o ciclo que Manaus vem passando na década de 10: ainda há muita miséria, mas estão fazendo um esforço hercúleo de urbanização.

O Rio e Porto Alegre também investiram na melhoria do transporte. Na capital gaúcha agora há integração no cartão, portanto se pega dois ônibus com uma passagem.

No Rio também houve esse avanço, e muitos outros:

Padronizaram a pintura, construíram uma extensa rede de corredores exclusivos operados por articulados com embarque em nível.

Enfim, o Rio e Manaus foram duas das cidades que mais avançaram nessa última meia década. Volta agora o texto original de 2010:

Bar pra turistas na Ponta Negra (*). Ao fundo o hotel em obras, melhor retratado em tomada acima.

Anteriormente houve transporte clandestino em Manaus.

Situação que se repetia em todas as capitais e grandes cidades do Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte de nosso país.

Apenas aqui na região Sul não houve esse fenômeno.

Mas agora, em Manaus e em diversas outras cidades, isso foi regularizado.

Os transportadores clandestinos formaram cooperativas. Continuam trabalhando, e agora inseridos no sistema.

Outra da praia fluvial da P. Negra.

Precisam fazer manutenção de seus veículos, aceitar o cartão eletrônico de vale-transporte e cumprir horários e trajetos pré-estabelecidos, exatamente como as empresas de ônibus.

…………

Andando pelo cidade tive a impressão que a grande maioria dos manauaras são evangélicos tamanha é a quantia de igrejas e adereços aluzindo a isso.

Há diversos comércios espalhados pela cidade com o nome de “Jesus Me Deu”.

De tão comum, virou até uma vila e nome de uma linha de ônibus.

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No futebol, a religião da maioria de lá é definitivamente o Flamengo.

Essa foi baixada da internet.

Aparentemente, andando pelas ruas alguém conclui que cerca de 50% da cidade é flamenguista, número maior que no Rio, proporcionalmente.

Fui em um dos bairros da periferia mais afastada no sábado a tarde, chamado Mauazinho, no extremo da Zona Leste, já fora da cidade. O Flamengo estava jogando.

Era verdadeiramente impressionante a concentração de pessoas nos bares, pra verem o jogo pela TV.

Educandos, uma síntese perfeita da periferia de Manaus.

No trajeto de volta ao Centro, passei por bairros mais abastados, onde também era muito grande a multidão em frente a TV.

O segundo time no coração do Amazonas é seu arqui-rival, o Vasco.

Em ciclos anteriores, Manaus era um satélite futebolístico do Rio de Janeiro, quando então as 4 maiores torcidas de lá eram os 4 do Rio.

anoitecer-no-rio-negro

Anoitecer no Rio Negro, com a ponte já mostrada acima.

Essa já não é mais a realidade. Flamengo e Vasco continuam sendo os 2 times mais populares, sem dúvida.

A questão é que Corinthians, São Paulo e Palmeiras hoje tem bem mais torcida por lá que Fluminense e Botafogo.

Claro que ainda há muitos seguidores desses dois cariocas, mas já menos que os grandes paulistas.

Agora solto 3 de Adrianópolis.

Comprovei isso na prática. E na 4ª feira, no dia que cheguei, o São Paulo venceu o time ‘da casa’, o Flamengo.

(Campeonato Brasileiro de 2010. A partida não foi em Manaus, e sim no Sudeste.

O ‘da casa’ se refere a que eu estava no Amazonas, e a maioria dos amazonenses é flamenguista.)

Assim, dia seguinte vi uma multidão de pessoas com a camisa do São Paulo, além de uma quantia enorme do Flamengo.

Embora ele tenha sido derrotado nesse jogo, mas pra paixão popular pouco importa.

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A maioria da população de Manaus é indígena.

O tipo médio é bem escuro, mas não o sangue africano predominante em Salvador-BA. Ainda assim, há muitos afro-descendentes em Manaus, e também bastante brancos.

Muitas pessoas do Nordeste emigraram pra lá, bem como de diversas outras partes do Brasil.

Pelo nome dos comércios na periferia, é nítido que há muitos goianos morando em Manaus, e bastante gente do Sul também.

Ponta Negra na época das cheias. A água subiu e submergiu a faixa de areia.

Nesse último caso, os sulistas, em sua maioria, não foram diretamente. Quando deixaram nossa região, foram abrir a fronteira agrícola.

No Mato Grosso e Rondônia. Na época, anos 70 e 80, precisava-se de muita mão de obra braçal.

Hoje, porém, por lá predominam enormes latifúndios de soja e de gado.

Palafitas no Educandos na época das secas. Quando eu fui estava assim. Mas a foto não é minha, puxei da rede.

Então muitos sulistas que ajudaram nosso país na ‘corrida por Oeste’ perderam seu sustento no campo.

Centenas de milhares deles moram agora nas cidades, e uma parte deles em Manaus.

Por exemplo, há uma rede de farmácias ‘Curitiba’, vi 3 filiais, sempre em bairros mais humildes.

O que comprova a presença de paranaenses por lá. 

educandos1

Agora veja o mesmo bairro na cheia do Rio. A água sobe todos aqueles metros que estão estacados na areia.

Exemplifica esse último movimento migratório (Sul-Amazonas via Rondônia) a empresa de ônibus União Cascavel (Eucatur). 

Que é uma das maiores do transporte urbano de Manaus (mais abaixo há foto de seus ônibus).

A origem é em Cascavel-PR como o nome indica, mas hoje a sede é em Rondônia.

Há uma filial que opera transporte urbano na capital do Amazonas, como acabei de dizer.

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Vamos agora fazer uma brevíssima recapitulação da história do transporte em Manaus. Quando fui lá (2010) ainda era pintura livre, cada viação decorava sua frota como quisesse. Esse aqui é da Eucatur (União Cascavel), empresa que teve seu início no Sul do Brasil (em Cascavel-PR como o nome entrega) mas hoje formou uma base muito forte no Norte.

Há muitas casas de madeira na periferia de Manaus.

No Norte de nossa Pátria Amada esse modal é tão usado quanto no Sul.

Já escrevi diversas vezes: com poucas exceções, quase não há casas de madeira no Sudeste, no Nordeste e nem em boa parte do Centro-Oeste (Goiás e Brasília). 

Fiz radiografia completa do tema a nível continental, confira. 

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Depois a pintura foi padronizada assim, muda a cor mas sempre nesse desenho e com o ‘M’ no fundo. Volvo com motor dianteiro, uma novidade. Bons tempos em que “Volvo era Volvo”…

Falando em América: na composição racial como em muitas outras coisas, Manaus lembra muito o Peru.

Não fosse o português o idioma, eu pensaria que aterrissei por engano no Aeroporto Internacional Jorge Chávez, em Lima.

São duas cidades americanas por excelência, bem menos europeizadas que Curitiba, São Paulo, Porto Alegre e outras do Centro-Sul.

Manaus, por sua semelhança racial e cultural com os irmãos que falam espanhol, é o coração da nossa querida América. Nem preciso lembrar que América é um continente, e não um país. 

E o que acha desse Volvo??? A Amazônia também teve ‘Camelo’!!! Manaus foi a última cidade do Brasil que aposentou os ‘Papa-Filas’. Trata-se, claro, de uma carreta que ao invés de cargas tem uma carroceria de ônibus atrás do reboque. São Paulo, Rio e Brasília contaram com eles nos anos 50 a 70, ali era chamado ‘Papa-Fila’. Em Cuba o nome é ‘Camelo’, e por décadas foram o ícone do transporte urbano em Havana (agora eles ainda existem mas só puxam linhas menores no interior). Embora bem mais raros, existiram também nos EUA, em Los Angeles. Voltando ao Brasil, ainda há esse modelo em Santa Catarina, mas é bem menor e só faz a ‘Linha Turismo’ de Baln. Camboriú, a que vai pela Beira-Mar. Em linhas normais foi extinto no resto do Brasil nos anos 70. Manaus contou com esse modal nos anos 80 e quem sabe começo dos 90.

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Voltando a periferia de Manaus, é preciso reconhecer que está sendo feito algum esforço pra se urbanizar também o subúrbio.

Quase toda a cidade foi asfaltada, é difícil ver ruas de terra, mesmo nos arrebaldes mais distantes.

Só que não foi feita a rede de esgoto, o que ocasiona dois problemas:

1) é extremamente comum ver esgoto a céu aberto correndo nas ruas agora asfaltadas.

2) em alguns lugares, quando a rede de esgoto foi feita após o asfaltamento, não se recapeou o asfalto.

E como lá a vegetação cresce muito rapidamente, vi muitas ruas em que há asfalto em meia pista.

Por onde os carros se espremem pra passar, enquanto a outra está tomada por buracos ou mesmo por um matagal.

Assim deixando o aspecto muito pior de quando não havia asfalto.

Em Manaus houve transporte clandestino. Depois os perueiros foram legalizados como cooperativas. Aí criaram-se duas categorias pros micros: o ‘Alternativo’ (acima) e o ‘Executivo‘.

Infelizmente, devo dizer que as pessoas ainda jogam muito lixo nas ruas.

No Porto no Rio Amazonas, e nos riachos do subúrbio, por vezes há bastante dejetos.     

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A cidade é muito quente, embora quando eu fui havia uma onda de frio – padrão amazonense, é claro.

Assim, a temperatura estava por volta dos 35º. Fora isso, a temperatura supera tranquilamente os 40º.

Os micros foram inseridos no sistema mas ao contrário de SP não há integração. Pra não concorrer diretamente com as viações, as linhas ‘alternativas’ (que custam o mesmo que os ônibus grandes) não podem entrar na área central.

Manaus está no meio da floresta amazônica.

Tanto em bairros ricos quanto pobres, as vezes a cidade acaba e você se vê no meio da maior floresta do mundo.

Talvez por conta disso o peixe é a base da alimentação local, o consumo per capita é o maior do Brasil.

Já que é mais fácil e barato pescar que importar carne bovina.

A Região Norte de nosso país está passando por uma seca gravíssima esse ano (2010).

Já os micros da categoria ‘Executivo’ vão até o Centro, como vê no letreiro adesivado no vidro. Mas, novamente pra não tirar o mercado das viações regulares, nesse caso a tarifa é bem mais alta que a dos ônibus (em Campinas-SP foi assim também um dia, não sei se permanece).

O Rio Amazonas está em níveis recordes negativos, como devem estar vendo as manchetes pela imprensa.

……….

Vamos agora discorrer sobre algumas fotos. Você sabe, nem sempre a descrição corresponde a imagem que está ao lado.

Busque pelas legendas, que estão corretas. Vemos espalhado pela página:

A Ponta Negra, bairro mais rico da cidade e uma de suas grandes atrações turísticas.

Veja os prédios na Estrada da Ponta Negra, a avenida que margeia a orla. Vamos agora girar a câmera e foca-la na praia.

Quando estive em Manaus (2010) a cidade tinha articulados. Não era pouca coisa, na época cidades maiores e mais ricas como Rio, Belo Horizonte, Salvador e Fortaleza-CE não tinham articulados (hoje voltaram a ter). Mas quase todos, senão todos mesmo, os articulados manauaras da época eram de segunda mão (ou mesmo terceira e quarta mãos), chegaram usados de outras cidades. Esse Busscar verde, por exemplo, antes de ir pra Manaus (onde foi feita essa imagem) rodou em 3 cidades do Paraná: Curitiba, Londrina e Maringá. Ou seja, é de 4ª mão.

Aí vão fotos do rio em si, outras da praia (ao fundo a construção de uma ponte, agora já inaugurada).

E então vemos uma imagem de um hotel de luxo, situado no ponto mais ocidental da área urbanizada de Manaus.

Onde me hospedei o padrão era beeem mais modesto, pode ter certeza. Eu fiquei no Centro;

– Por fim, um bar, um dos muitos que existem entre a avenida e a barranca do rio.

Um detalhe é que os amazônidas não têm o costume de comer batata-frita, que por isso dificilmente é servida no Centro.

Nesses bares a beira-rio, como vão muitos turistas, o prato é oferecido, mas por um valor bem elevado. Descobri isso na prática nesse dia.

…………..

Há algumas fotos do porto, no Centro da cidade. Não do porto de navios de grande porte, como há em Santos-SP, Paranaguá-PR,  e tantas outras cidades.

Esse sanfonado Marcopolo clicado em Manaus também é oriundo da capital do Paraná (“de Ctba. pro Mundo”).

Há um desses também em Manaus, mas não o visitei.

As cenas são do local onde atracam embarcações pequenas e médias.

O Amazonas ainda está no estágio de civilização fluvial. O estado quase não tem estradas.

Pra se chegar em Manaus de carro a partir de qualquer outra parte do Brasil que não seja Roraima precisa ser via Porto Velho.

A BR-319 é asfaltada e transitável todo ano até a capital de Rondônia.

Renovação: cruzando a balsa pra adentrar com pompa e circunstância em Manaus, leva de articulados 0km, sem placa. Agora sim!

De Porto Velho a Manaus, no entanto, a via é de chão batido.

E só pode ser percorrida nos meses de seca, e ainda assim com muitas dificuldades.

Pra cruzar o Rio, já chegando em Manaus, é por balsa, como vemos ao lado.

Não há, digo de novo, estradas pro interior do Amazonas, com exceção das cidades mais próximas da capital.

Um desses articulados Neobus em frente ao Terminal 5 (‘T5’) em Manaus.

Em Manaus, alias, vivem mais de 50% dos amazonenses.

A comunicação com o interior é fluvial. O porto é a verdadeira rodoviária da cidade.

Talvez não dê pra ler, mas nos barcos há cartazes indicando o destino.

Por exemplo “Boca do Acre, sai hoje”, ou “parte amanhã pra Belém”.

Articulado comprado 0km por Manaus. Mas antes de ir ao Amazonas, rodou em testespor uns dias em Salvador, onde foi feito esse registro. Já está com a pintura de Manaus, inclusive com o ‘M’. Na busologia isso se chama ‘Tabela Trocada’.

Além das pessoas, todas as cargas entre o interior e a capital vão e vem de barco.

Não por acaso, o mercado municipal é em frente ao porto.

Os barcos que sobem ou descem o Amazonas e/ou seus afluentes levam a carga em baixo, de todos os tipos:

Alimento, cimento, roupas e em um caso vi até um carro no porão do navio.

Em cima vão as pessoas. Os que podem pagar dormem em quartos, com ar-condicionado e banheiro privativo.

Os outros vão em redes no convés, com banheiro coletivo e a brisa fluvial pra amainar o tórrido calor equatorial amazônico.

Mais um bichão dessa mesma leva, em frente ao Teatro Amazonas. Note que em Manaus o prefixo do ônibus é em cor diferente: é a ‘Costa Norte Brasileira’.

O consolo é que em Manaus não há pernilongos.

O ph da água impede a procriação desse inseto, o que é uma benção de Deus.

Pois a imensa maioria dos manauaras não podem se dar ao luxo de ter ar-condicionado em casa.

Sendo então humanamente impossível dormir com as janelas fechadas.

Voltemos a atenção pra um detalhe curiosíssimo numa foto no alto da matéria:

Mais do que articulado, Manaus tinha bi-articulados. Só mais 4 cidades do Brasil tinham esse privilégio: Curitiba, São Paulo, Campinas e Goiânia-GO. Mas os bi-articulados de Manaus da época vieram todos usados, veja que esse nem foi re-emplacado, a chapa ainda diz “SP-São Paulo“. Outro detalhe: era característica de Manaus (antes do letreiro eletrônico) o letreiro menor, onde viria o nº da linha, ficar vazio. O nº então era espremido no letreiro principal, ao lado do nome da linha.

Aquele barco atrás dos que estão ancorados é um posto de gasolina.

É isso mesmo, os postos ficam no meio do rio.

……….

Aqui fecha o primeiro emeio. Agora vou adicionar as partes mais relevantes de um outro, publicado em 7 de março de 2013.

Repetindo, o nome ‘Manaus’ vem de Manôa, “A Mãe de Deus”, ou “Deus-Mãe”, Deus em sua forma feminina na língua indígena local.

Por lá é quente o ano inteiro. De janeiro a janeiro é 40º fácil, fácil.

Assim as estações do ano são só duas, e não se referem a variação de temperatura – inexistente – mas de precipitação – essa bem aguda

Aqui pegamos a transição, os ônibus azuis ainda na pintura livre, os majoritariamente brancos já na padronizada. O número da linha linha vir bem grande num adesivo no para-brisas é outro traço típico de Manaus, mas esse foi copiado de Belo Horizonte.

A Amazônia é uma civilização fluvial, não de todo integrada a civilização ariana, que é terrestre.

Quase toda cidade tem um rio. Em Manaus, entretanto, é o Rio quem tem a cidade.

Pois a Consciência Amazônica vê o mundo de forma distinta da ariana. Assim até a delimitação das estações do ano tem como base o Rio.

O primeiro semestre é as estação das chuvas, quando o curso fluvial está cheio.

O segundo, por oposição, é a época da seca, quando o Rio Amazonas (nesse ponto ainda chamado Rio Negro) baixa.

Alias, falando nisso, o Sul do Brasil também tem seu Rio Negro.

Transição dupla: o buso laranja já em pintura padronizada e letreiro eletrônico. Os demais na pintura livre ainda. Repetindo, no número da linha no ônibus de frente azul notamos essas duas peculiaridades manauaras: o letreiro menor a esquerda, que seria do nº, está vazio. Este esmaga o nome da linha no letreiro maior. E esse mesmo número é repetido em adesivo no vidro, xerocando B.H. .

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De volta ao Norte: Manaus é uma cidade única, pois só tem praia de maneira sazonal.

Isso que estão vendo ali, pessoas na areia, só é possível de julho a novembro.

Nos outros meses o Rio enche e tudo fica embaixo d’água. Aí só há a margem do rio, como em qualquer margem de rio, sem faixa de areia, sem praia.

Como estive ali em setembro, pude me banhar nas Águas Sagradas do Rio Negro/Amazonas.

Gosto de rios, e não por outro motivo morei 15 anos na margem do maior rio curitibano (de 2002 a 2017; portanto vivia perto do Belém quando fiz essa viagem e reportagem, em 2010).

Por isso me foi um auto-batismo entrar no Amazonas, maior Rio da América e 2º de toda Terra. Essa praia, repetindo, fica no bairro da Ponta Negra, o mais aburguesado da cidade, no extremo da Zona Oeste.

Agora duas fotos da Grande Cuiabá. Sim, óbvio que nada tem a ver com o Amazonas. Mas foi a mesma viagem, o avião fez escala ali, cliquei, e como não há uma postagem mais específica sobre o Mato Grosso fica aqui. Acima a linha de prédios da Zona Central, e a seguir um bairro periférico próximo ao Aeroporto, que já fica no vizinho município de Várzea Grande.

No Centro ficam os portos, descritos mais pro alto da matéria. Logo ao lado, após a barra (foz) de mais um rio, chegamos ao bairro Educandos, Zona Central de Manaus.

É o que estão vendo, enormes favelas, a parte menos miserável ao menos é em terra firme

Já os mais despossuídos residem nas palafitas nas barrancas do Rio e mesmo já dentro dele

(Atualização: repito, nessa década de 10 está havendo hercúleo esforço de urbanização, e muito já mudou. Mas muito ainda falta mudar.)

Veem imagens tomadas tanto na época das cheias quanto das secas, pra comparar.

Quando fui pessoalmente as favelas do Educandos, a água estava 6 metros mais baixa do as casas. Então as moradias estavam suspensas através de estacas sobre um lodo. Quando o Rio sobe chega a porta das delas.

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Das palafitas de Educandos e Mauazinho aos edifícios luxuosos Ponta Negra e Adrianópolis.

“Mãe de Deus”, Coração da América. Manaus, Amazonas.

Deus proverá”

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