Neobus: o “Espírito Monobloco” está vivo

Mono na Grande Goiânia, (desenhei esse buso, confirma minha versão) anos 70.

INTEGRA A “ENCICLOPÉDIA DO TRANSPORTE URBANO BRASILEIRO

Por Maurílio Mendes, “O Mensageiro”

Publicado em 17 de fevereiro, 2012

Eu mantive os créditos sempre que eles estavam impressos nas fotos.

Eu Sou busólogo. Cada busólogo tem seu ônibus preferido. O meu é o Monobloco Mercedes Benz.

Neobus-Curitiba

Mega na Grande Curitiba, 2011.

Esse modelo é pros ônibus o que o 1113 é pros caminhões, o Fusca pros carros, e Kombi pras peruas.

É o desbravador. Simplesmente o Brasil só existe porque existiram esses veículos acima citados.

O Monobloco morreu em 1994, quando a Mercedes fabricou sua última carroceria na fábrica de Campinas-SP.

neobus interior de são paulo

Mega no interior de SP, foto atual.

Quer dizer, o Monobloco original, na dimensão material, não existe mais.

Só que o Espírito Monobloco está vivo, e muito vivo. Essa é nossa pauta de hoje.

Pois a Neobus de Caxias do Sul-RS (na verdade pertence 40% a Marcopolo, da mesma cidade) lançou o modelo “Mega”, que é incrivelmente parecido com o Monobloco.

Tanto que arrisco a dizer que é o próprio, ressuscitado em Glória. Foi-se a carne, o Espírito permanece. Ou re-encarnado.

Porto Alegre buso monob carris livre laranja verde branco

Porto Alegre-RS. Viação estatal Carris, ainda na pintura livre dos anos 70 – antes do padrão R.U. portanto. Veja outros da Carris, e um da Trevo no R.U. Outro detalhe: a placa está (um pouco) acima do para-choques.

Quem conhece os dois modelos sabe bem o que estou dizendo.

O diferencial do Monobloco era ser redondo. Bem, o Mega é redondo, por dentro e por fora.

Andando em um Mega, por vezes tenho a sensação que os bons tempos voltaram.

Se é busólogo, já entendeu o que eu disse, e se não é, nunca irá entender.

Ao longo da mensagem, vou emparelhando fotos do Monobloco Mercedes fabricado nos anos 70.

São Paulo

Mono CMTC-SP, nos confins da Zona Sul, região da Represa, Marsilac, 3ª Balsa, etc. . O bichão rodava. Foto dos anos 80.

Ao lado do Mega Neobus produzido atualmente, e assim, de forma visual, sem que seja preciso explicar nada.

Ficará claro que trata-se do mesmo Espírito em duas formas de carne, ou melhor de ferro, diferentes.

Comentaremos algumas delas mais detalhadamente. Lembre-se, essas postagens anteriormente foram emeios, que têm formato distinto.

Assim nem sempre a descrição corresponde a imagem que está mais próxima. Identifique pelas legendas, que estão corretas.

A direita: Um da mesma safra que o visto a esquerda porém na pintura anterior, adotada nos anos 70.

Porém ela adentrou e vigorou na maior parte da década de 80 também.

Também na Z/S, mas bem mais próximo ao Centro, indo pro recém-inaugurado (na época, essa tomada tem 40 anos) Metrô Jabaquara, Zona Sul.

Espalhados pela mensagem:

Alguns Monoblocos redondões, fabricados nos anos 70 e rodando nessa década e na seguinte:

Primeiro, Empresa São José de Ribamar, a única que se recusou por décadas a aderir a padronização da pintura em Fortaleza-CE.

(Conto melhor essa história aqui, e nessa outra matéria específica sobre o transporte no Ceará repito com fotos.)

Os outros são de São Paulo.

A esquerda acima Viação Santa Cecília ainda na pintura livre (ou seja, pré Saia-e-Blusa), o que indica que essa foto foi feita antes de 1978.

neobus santiago

Mega brasileiro operando em Santiago, foto atual. Os ônibus brasileiros dominam o Chile. Alguns já até viraram varal de roupas!!!

Alias ela foi colorizada artificialmente. Com capelinha!!!

Em outra postagem explico o que isso significa, pra quem não é busólogo e nem conheceu o Sudeste e a cidade de Porto Alegre-RS nos anos 70 e 80.

Voltando ao tema de hoje, na garagem da CMTC um ‘Vermelhão Jânio’, copiado de Londres.

Foto feita, portanto, no fim dos anos 80, quase virada pros 90.

Esse bichão captado em primeiro plano, repito, foi feito nos anos 70.

fortaleza

Fortaleza.

Logo já estava em seus últimos dias quando foi retratado.

Ao fundo há outro Monobloco na mesma pintura, porém bem mais novo, estava zerado nesse dia.

Veja tróleibus nessa mesma pintura.

Clique sobre as cenas que elas aumentam, o mesmo vale pra todas.

Curitiba

Zona Sul de Curitiba, adaptado pra receber a 3ª porta, de fábrica eram 2. Esse é Redentor. Veja os da Carmo (original com 2 portas), empresa que também opera na Z/S.

……….

Abrindo a mensagem, viram um Monobloco original Mercedes na Grande Goiânia-GO nos anos 70. 

E, perto de 4 décadas depois, um Mega da Neobus, um “Neo-Monobloco”, na Grande Curitiba.

Agora vou descrever a sequência horizontal abaixo:

Brasília, Distrito Federal, 1975. Monobloco da TCB na pintura ‘Normalista‘. Veja as demais pinturas da viação estatal, sempre em azul.

Mega Neobus, fotos atuais. Começamos pelo Paraná, dois Megas articulados, primeiro Curitiba.

Depois Ponta Grossa, que em sua última mudança de pintura adotou quase o mesmo padrão da capital, como está evidente.

Fiz matéria específica sobre a cidade, onde você pode conferir várias fotos de ônibus:

A pintura antiga e todas as cores da nova: verde, amarelo, laranja – esses 3 nos exatos mesmos de Ctba. – e azul, que agora existe na capital, mas em P.G. é um pouco mais claro que aqui.

Garagem da CMTC: dois Monos vermelhões (de duas gerações, em 1º plano um ‘Mono 1‘ fabricado nos anos 70, ao fundo um ‘Mono 3‘, a última safra produzida já nos anos 90), no tom introduzido por Jânioele também trouxe os Ônibus 2-andares e reativou o logotipo usado nos anos 60 e 70.

Conexão direta Paraná-Pará: em laranja e branco, o novíssimo Sistema Expresso de Belém. 

Quando estive lá em junho/13 estava em fase final de obras, já joguei no ar a postagem com essas fotos.

Agora está operando. O ponto final dele é no bairro São Braz, na Zona Central. 

Onde existe um terminal (não-integrado) de onde partem vários ônibus metropolitanos. Alias é em frente a rodoviária.

E por fim vemos um articulado em frente ao Teatro Amazonas, em Manaus, capital desse estado.

Rio de Janeiro

Rio de Janeiro. CTC com capelinha. Veja uma foto clássica, tróleibus da CTC carioca.

Detalhe que a origem da Neobus é também o estado de São Paulo, onde eram fabricadas as carrocerias Mercedes.

Existia outra fábrica de carrocerias, chamada Thamco, que ficava em Guarulhos, na Grande São Paulo.

Curiosamente ela cessou a produção no mesmo ano da Mercedes, 1994 – me refiro só a carrocerias.

neobus rj

Mega no Rio, na brevíssima pintura padronizada (2010-2018).

A Mercedes continua fabricando chassis e motores de ônibus na fábrica de Campinas até hoje.

Bem, a Thamco nunca fez chassi ou motor, só carroceria. E fechou. Aí reabriu como Neobus.

Logo a seguir, mudou sua sede pra cidade de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, a mesma da Marcopolo – hoje a Marcopolo é dona de 40% da Neobus.

CMTC-SP em pintura ‘ovelha negra‘, diferente da normal mostrada no topo da matéria.

(Nota escrita em 2015. O que quer dizer o termo “Monobloco”?

[Lembremo-nos que esse é o nome popular dos ônibus que tinham carroceria Mercedes.

Pois esse fabricante os nomeava de uma forma mais técnica, com número.

Pra Mercedes, o certo é “0-362”, “0-371”, etc. Mas na boca do povo, simplesmente “Monobloco”].)

(E por quê? Ônibus são feitos em etapas distintas, em fábricas distintas.

Esse fui eu que fiz.

Uma empresa produz o chassi e motor, e outra monta sobre ele a carroceria.

Peguemos o modelo mais comum do Brasil: a Mercedes faz chassi e motor no estado de São Paulo.

A seguir eles vão ‘pelados’, sem cobertura, até as fábricas da Marcopolo no Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, onde são cobertos.)

Fechamos as fotos de ônibus como abrimos: 1ª padronização dos ônibus de Goiânia, Goiás, virada dos 70 pros 80. Tempo bom . . . .

(Ou seja, ônibus são produzidos em dois blocos distintos, que depois são soldados um ao outro.

Pois, repito, uma empresa faz o chassi, outra a carroceria.

E suas unidades fabris são separadas, as vezes por vários estados da nação.

Entretanto, a Mercedes fazia ambas, no mesmo barracão.

Assim, chassi e carroceria era produzidos juntos, num único bloco: um Mono-Bloco”.)

Interior de um Monobloco em Sorocaba-SP talvez da Vima: cobrador segura um bolo de notas de ‘Barão’, mil cruzeiros antigos, daquela safra que podia ser vista de ponta-cabeça sem alterar a imagem.

(Foi assim até 94, não é mais. A Mercedes deixou de produzir carrocerias pra se centrar só em motor e chassi.

O Monobloco não existe mais. Mas não dá nada. Alguém honrou e perpetuou seu legado. Agora retorno a mensagem original de 2012)

O fato é que a Neobus lançou o Mega. A semelhança é inegável, tem que ser proposital.

Uma excelente homenagem ao busão pioneiro que colonizou esse país, de Norte a Sul.

(Mais uma nota de 2015:

O Mega é o “herdeiro do Monobloco” porque é redondo

Quem gosta de ônibus redondo, meu caso certamente, não pode deixar de se emocionar.

Acontece que o Mega não é um mono-bloco, evidentemente.

A profissão de cobrador de ônibus está sendo extinta (atualizo em 2022). No último ciclo em Curitiba foi dominada pelas mulheres: de 2015 mais ou menos até acabar esse tipo de trabalho, cerca de 80% dos cobradores eram do sexo feminino (publicado em maio de 2012).

Seu chassi e carroceria são blocos separados produzidos por empresas diferentes e depois acoplados, como todos os ônibus feitos no Brasil pós-1994.

É uma analogia carinhosa, de imagem, e não técnica.)

Mais ilustrações: vimos mais pro alto um Mega Neobus do Rio, já na pintura padronizada.

Pra que percebam que os dois modelos são ‘pai e filho’.

E logo a seguir o Mega caioca o clássico dos clássicos, em minha opinião, um Monobloco CMTC (SP) azul. O ônibus-arquétipo.

O cobrador na catraca não deixa de ser um caixa. Então insiro mais 2 desenhos que tratam do mesmo tema, moças nessa profissão. Essa é de janeiro de 2017.

………….

Mostrei também um Monobloco CMTC azul feito por mim.

Eu sei, a foto não é das melhores. Mas pessoalmente ele não tá tão feio quanto parece.

Na verdade até que ficou bem legal, e quem viu já comprovou.

É todo detalhado: fiz os bancos, portas que abrem, cordinha pra descer, catraca.  Tudo custou 1 mês de trabalho.

Não esqueci nem do adesivo informando o valor da passagem (típico de SP, tentaram implantar aqui em Curitiba mas não pegou), etc.

Espalhados pela matéria estão os Monoblocos em ação em diversas capitais brasileiras, em seu ápice, anos 70 e 80.

SÃO DEZENOVE REAIS E OITENTA CENTAVOS” – num mercado, de uniforme e tudo (publicado em 31 de março de 2012).

Então aí está, pra apreciação pública. Vamos ver no que dá.

O Espírito Monobloco está vivo. Quem não sabia, agora sabe.

………….

Veja mais páginas sobre arqueologia busófila. Os anos 80 voltaram:

Rodoviária de Curitiba;

Romeu-&-Julieta, o pai do articulado;

Circular Centro Caio Carolina na Cristo Rei;

– No Brasil Monobloco é nostalgia. No Peru não. Lá eles ainda estão na ativa.

Encerro com essa imagem de um Monobloco em Lima/Peru, em 2013.

“Deus proverá”

Um comentário sobre “Neobus: o “Espírito Monobloco” está vivo

  1. Shalon Melo disse:

    ???…isso eu sei amigo,

    Bom eu também sou busólogo,e a THAMCO era o quintal da minha casa,quem conheceu o Sergio Mitsouka ocupava o cargo de secretario presidente da Thamco,depois fui fazer um curso de encarroçamento em AMBATO no Equador,onde é o maior pólo encarroçador do mundo…hj eu tenho uma infinita e vasta pasta de material técnicao e até projeto de carrocerias para onibus…..

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