Por Maurílio Mendes, “O Mensageiro”
Publicado em 16 de outubro de 2014
Quase todas as fotos de minha autoria. As que forem baixadas da internet identifico com um (r) de ‘rede’.
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Uma radiografia dos bairros Alto Boqueirão e Sítio Cercado, na Zona Sul de Curitiba.
O Sítio Cercado, ao lado do Tatuquara, são os bairros-arquétipo da Zona Sul, seu Coração.
A Z/S é a parte mais periférica da cidade, é onde “Curitiba é diferente”.
Ou seja, é onde Curitiba não é nada europeia, e se parece com a periferia das demais metrópoles brasileiras.
Não por outro motivo na divisão eu pintei a Sul de vermelho.
De fato, o Bairro Novo, no Sítio Cercado, é a região de Curitiba que mais parece com a periferia de São Paulo, ao lado de alguns pedaços da Cidade Industrial (Zona Oeste).
Isso por terem várias vilas serem formados com inúmeros sobrados artesanais, em que o cara vai enchendo lajes e sobe andares.
Sem alvará, sem arquiteto, sem nada.
No Boqueirão e Xaxim, bairros também da Z/S e também periféricos, os sobrados artesanais são raros, exceto em algumas vilas.
No Bairro Novo é o contrário, lá eles predominam. É a própria “Cidade da Laje”.
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Começo falando do Alto Boqueirão.
Veja mais pra baixo na matéria a imagem do rio que divide o Alto Boqueirão (onde estou quando cliquei) do Sítio Cercado que vêem ao fundo.
ALTO BOQUEIRÃO, ZONA SUL:
TERRA DE BICHOS ESTRANHOS –
O Alto Boqueirão tem uma fauna diversa e por vezes surreal. Pra começar, o Zoológico de Curitiba é lá.
A direita acima a foto, em frente a ele o ponto final do buso de mesmo nome.
E ao lado a jaula dos ‘hipos’. Você vê a grade na imagem. Porém nem todos os bichos que moram no Alto Boqueirão estão enjaulados.
Uma de suas vilas, a Pantanal, surgiu dentro de um Parque Nacional, o do Iguaçu.
Assim, margeando-a há ainda grande área preservada, onde existem umas lagoas artificiais, as cavas.
E por isso sei que na Pantanal vivem alguns jacarés – e não estou falando dos Scanias antigos não. E sim bichos mesmo, em estado silvestre, soltos.
Há (ou pelo menos houve num passado recente) uma placa que alerta pra você tomar “cuidado com o jacaré”.
Lembrando mesmo o Pantanal Mato-Grossense. Mas tem mais.
Você conhece o “Inri Cristo”? Trata-se de um cara que diz ser o próprio Jesus Cristo re-encarnado.
Peraí! “O próprio Jesus Cristo re-encarnado???” Você não leu errado.
Então galera, e o Inri Cristo é daqui de Curitiba, e é do Alto Boqueirão.
Nascido em Santa Catarina, e desde 2006 morando em Brasília-DF.
Porém foi na capital do Paraná que ele decolou sua carreira e se tornou famoso.
Mais especificamente no Jardim Paranaense, Alto Boqueirão.
Tudo começou no Alto Boqueirão, portanto. Tá bom pra ti?
Ainda estou só no aquecimento. Sabem quem é um dos candidatos a vereador em Curitiba?
O “Animal”. Não estou brincando, veja a foto a direita (via ‘Google’ Mapas).
E a base eleitoral dele é . . ., bem, o Jardim Paranaense, Alto Boqueirão.
Tudo pulsa na mesma frequência. No bairro que abriga o zoológico, por que não votar num ‘Animal’??
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A parte desses detalhe, vêem nas imagens o Jardim Paranaense e a vizinha Vila Santa Inês.
Ambos vilas do Alto Boqueirão. Notam uma favela, um cavalo que pasta bem guardado por um amigo cão.
Vemos igualmente algumas araucárias, árvore-símbolo do Paraná.
Tudo adornado por muitas flores. Como alguém definiu, “o Jardim Paranaense é mesmo um jardim…”
O MUNDO É DIFERENTE DA PONTE PRA CÁ:
SÍTIO CERCADO, CARAMBA!!! –
Chegamos ao rio que divide Santa Inês do Bairro Novo ou se preferir uma dimensão acima separa o Alto Boqueirão do Sítio Cercado (dir.).
Cruzamos a ponte, e estamos no Sítio, seja bem-vindo.
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Antes de seguirmos vou enxertar aqui um outro emeio, de quase dois anos antes, porque também trata do Sítio Cercado.
o ‘trem-bala’ já está pronto
Publicado em 10 de janeiro de 2013
Qual é rapá. Na mídia tão falando muito no projeto do trem-bala que vai ligar São Paulo ao Rio de Janeiro.
Só que ainda tá no planejamento, a coisa vai longe (nota: escrevi isso em 2013. No fim o projeto do trem-bala Rio-SP nunca saiu do papel, ao menos essa era realidade até 2021, quando atualizo a matéria. Volta o texto original).
Na Zona Sul de Curitiba, entretanto, é bem diferente:
Olha aí. O Trem-Bala aqui da Sul já tá pronto, e se preparando pra zarpar rumo a mais um pega.
A Zona Leste da mesma forma tem seu “trem-bala“.
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Segue agora a mensagem de outubro de 14. Comentemos as imagens, nem todas estão ao lado da descrição, busque pela legenda.
Alguns detalhes clicados no Bairro Novo dignos de nota: Casa de madeira (esquerda): Sul do Brasil, afinal.
Várias tomadas (clique sobre que elas aumentam, o mesmo vale pra todas) foram feitas na Rua Cidade de Palmas, via secundária, local, no Bairro Novo ‘A’, e nas esquinas com suas transversais.
Outras, incluindo o Pavilhão Pátrio, na Rua São José dos Pinhais, a principal do mesmo local.
Sobrados artesanais, marca da periferia de São Paulo, Rio e Salvador-BA, e, graças ao Bairro Novo, agora também de Curitiba. Já falo mais disso.
Corcel 1 fabricado nos anos 70 (abaixo). Ainda na pista em 2014.
Ponto de ônibus maior, com 3 casinhas (o padrão são 2):
Sinal que muita gente usa busão por ali, o ponto normal usado nos outros bairros não dá conta. Veja o mesmo na Vila Sabará, CIC, Zona Oeste.
Alguns não sabem que o Bairro Novo não é um bairro, mas uma vila. O bairro é o Sítio Cercado, a quem o Bairro Novo pertence.
O Sítio tem cerca de 120 mil habitantes, é o segundo bairro mais populoso de Curitiba.
Só atrás da Cidade Industrial, que tem perto de 180 mil. Nenhum outro vira a marca dos 100 mil (censo de 2010).
O Sítio Cercado tem esse nome porque é quase uma ilha pois praticamente todo circundado por rios, um dia foi uma fazenda cercada por águas.
Alias repete na micro-escala o que ocorre com o município de Curitiba mesmo, que é 95% uma ilha, tem apenas uma divisa seca.
Antes de adotar a atual denominação, o bairro foi chamado de ‘Boa Vista’, e assim consta num mapa de 1953.
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Avançamos na linha do tempo e chegamos ao começo dos anos 90.
Até pouco mais de duas décadas atrás (texto de 14), o Sítio Cercado tinha uma parte antiga já com muitas vilas formadas:
Parigot de Souza, Vila Xapinhal e imediações, além do começo da Vila Osternack. Ainda assim, boa parte de de seu território era área rural.
Pra lá de sua atual rua principal, a Isaac Ferreira da Cruz, quase não havia urbanização.
Numa atualização de junho de 2023, vamos adicionar algumas fotos raras do início do Bairro Novo.
Tiradas, no meio da década de 90 (a foto abaixo e as 3 da sequência horizontal a seguir são puxadas da internet).
Ao lado imagem de 1994: ruas de terra, há alguns sobrados mas no geral casas quase todas térreas, a maioria de madeira.
O Alimentador é amarelo porque ainda não havia dado tempo de repintar esse veículo.
Pois ainda na 1ª metade dos anos 90 os Alimentadores passaram a ser laranjas (como vemos nas fotos mais pro alto).
A partir de 2018 os Convencionais também, extinguindo a cor amarela do transporte curitibano.
Retornando ao que dizíamos acima do impacto do surgimento do Bairro Novo: até a virada dos anos 90, Curitiba era um pouco mais europeizada.
Em 1992 a cidade já tinha periferia, tinha várias favelas.
E alguns bairros eram formados por um grande número de moradias humildes, mesmo fora das favelas.
Só que era uma periferia diferente do resto do Brasil. Em qualquer parte a vida na periferia é uma vida de luta árdua, evidente
Ainda assim, urbanisticamente falando, a periferia do Sul era distinta de boa parte do Brasil, diferiam na forma como se materializam.
Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste: tudo de alvenaria, mesmo nas favelas e bairros mais suburbanos.
Norte e Sul do Brasil: casas de madeira, com quintais amplos (dava pra fazer um campinho de futebol), e sem muro, como já falamos tantas vezes e é notório.
Veja como ainda hoje é a periferia de Guarapuava, Sul do Paraná, Sul do Brasil, e verá como Curitiba era até o começo dos 90.
Bem diferente portanto do Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste Brasileiros.
Essas regiões que um dia usaram extensamente o modal da madeira.
Entretanto, com pequenas exceções, não o fazem mais desde os anos 70, pelo menos.
O Centro do país – por isso me refiro as 3 regiões listadas acima – tomou um rumo arquitetônico. Suas pontas – o Sul e o Norte – tomaram outro.
Só que com a chegada do Bairro Novo, Curitiba começou a se tornar mais parecida com São Paulo, com o Sudeste em geral e mais Salvador.
Já que a capital baiana arquitetonicamente – pelo menos no subúrbio – é um pedaço do Sudeste dentro do Nordeste. Se preferir de outra forma:
Na periferia de Salvador predominam os sobrados artesanais “Cidade da Laje”, como no RJ, SP, Vitória e BH.
Pois bem. Com o advento do B. Novo, Curitiba também passou a surfar na mesma onda.
Claro que aqui ainda é Sul, mesmo na arquitetura. Ainda há centenas de milhares de casas de madeira, inclusive quando fiz esse texto eu morava numa delas.
Em todos os ensaios que faço veem muitas casas de madeira, mesmo nos bairros mais centrais.
Porém, partes de Curitiba hoje dão a nítida impressão que você está nas capitais do Sudeste, ou da Bahia.
E o B. Novo é o epicentro dessa frequência, com certeza. Ele mudou Curitiba.
Se Salvador é ponte entre Sudeste e Nordeste, agora Curitiba é a ponte entre Sudeste e Sul. Tá bom assim?
Com o processo simbolizado pelo Bairro Novo, Curitiba se estratificou em termos culturais. Criaram-se novos polos. As metrópoles são assim.
Até a virada dos 80 pros 90, embora já tivesse bem mais de uma milhão de habitantes, em termos espirituais Curitiba ainda parecia de interior:
Todos os bairros gravitando culturalmente em torno do Centro. A partir dos anos 90, isso mudou.
A cidade se tornou metrópole, e o Bairro Novo, embora não o único, é um dos principais dos novos polos culturais que tiraram o monopólio do Centro.
Pra começar a conversa, ele mudou Curitiba em termos arquitetônicos.
Éramos uma cidade essencialmente sulista, com a periferia inteira de casas de madeira sem muros e com quintais enormes.
Agora somos meio do Sul, meio do Sudeste nessa dimensão.
O Boqueirão se parece com o que a Vila Hauer foi um dia. Já o Alto Boqueirão lembra o que o Boqueirão foi no passado.
Pois a cidade ia crescendo linearmente, abria um bairro, a seguir outro, imagem e semelhança dos que vieram antes. E sempre tendo o Centro como referência.
O Bairro Novo quebrou esse paradigma: nunca foi parecido com o Boqueirão, e nunca o será.
A Energia agora não vai mais por ondas lineares. Não. O Bairro Novo não se parece com o Boqueirão, e nem quer se parecer.
O Bairro Novo não olha pro Centro, entenda isso. O Bairro Novo olha pra ele mesmo. É sua própria referência.
O Bairro Novo é Zona Sul, em corpo e Espírito. É o Coração da Z/S, e se sente muito bem assim.
A “Grande Planície Curitibana”. Nasceu diferente do resto de Curitiba, e tornou Curitiba diferente do que ela era.
Cidade da Laje, Cidade do ‘Funk’, Cidade Vermelha.
Bairro Novo, Sítio Cercado, Zona Sul, irmão. Muito prazer. Estamos aí.
“SÍTIO DAS FLORES”: ao lado aparece até um ponto de ônibus no Bairro Novo. Na galeria abaixo mais cenas da porção austral de Curitiba:
“Deus proverá”