Sul do Brasil

“porto união da vitória”: 1 cidade, 2 estados (sc/pr)

Centro de União da Vitória (e a ponte sobre o Rio Iguaçu) vistos do alto do Morro do Cristo.

Por Maurílio Mendes, “O Mensageiro”

Publicado originalmente (um desenho, via emeio) em 15 de dezembro de 2014

Reformulado em 5 de julho de 2018, pra se tornar uma reportagem (as imagens da cidade são de autoria de um colega)

Vamos falar das “Cidades-Gêmeas” de União da Vitória-PR/Porto União-SC (que visitei em outubro de 2014).

Quem conhece o Norte do Paraná sabe que União da Vitória’ é o nome de uma antiga favela (agora urbanizada) na Zona Sul de Londrina. Na sequência mostraremos esse bairro londrinense.

Aqui e acima da manchete: um pé lá, outro cá a linha do trem divide SC do PR, assim você pode pisar nos dois estados simultaneamente.

Por enquanto mantemos nosso foco na União da Vitória original, no Sul do Paraná, e sua co-irmã Porto União, no Norte de Santa Catarina.

Como o sub-título indicou (no jargão jornalístico isso se chama ‘gravata’):

Porto União e União da Vitória na prática formam uma e a mesma cidade.

Embora politicamente divididos em 2 municípios que pertencem a 2 estados distintos.

Exatamente na divisa, um monumento a guerra que partiu a cidade ao meio (destaquei o ‘Bem-vindo a Porto União-SC‘ e seu Terminal Urbano, abaixo falo do transporte).

Ainda assim, em termos urbanísticos, sociais e culturais “Porto União da Vitória” é uma urbe apenas.

Tão umbilicalmente ligadas que estão, isso não tem como separar.

A divisa entre o Paraná e Santa Catarina tem outro caso idêntico:

Trata-se obviamente de “Rio-Mafra”, a cidade formada pela união de Rio Negro (PR) e Mafra (SC).

Tanto “Porto União da Vitória” quanto “Rio/Mafra” no passado não eram partidas em estados e municípios diferentes.

Foram fracionadas como espólio da “Guerra do Contestado” (1912-1916).

Que tem esse nome porque justamente contestou o limite divisório entre estados de Paraná e Santa Catarina.

Vide o mapa a direita (essa foto foi feita no Centro de Curitiba, e de minha autoria).

Mais especificamente na Pça. Generoso Marques há essa relíquia da época da ‘Guerra do Contestado’:

O território do Paraná encostando no Rio Grande do Sul??? Como assim?

Presenciei a cena: casa de madeira (com as toras na horizontal), 3 irmãs brincando no quintal. Naquele dia todas estavamao menos parcialmente – de cor-de-rosa.

Por isso houve a guerra, pois todo o atual Oeste de SC e Sul do PR foi ‘contestado’ pelas armas.

No fim Santa Catarina logrou manter sua porção ocidental, chegando até a Argentina. O Paraná não conseguiu ser limítrofe ao RS, ficou só na intenção.

Observe igualmente o monumento que está a esquerda acima. Foi colocado exatamente na fronteira estadual criada pelo confronto militar.

Há dois grandes blocos de concreto, claramente separados.

De cada um dos lados, os exércitos se combatem, forçando a divisão.

(Os índios tomaram parte nos conflitos, como está mostrado na escultura).

Antes disso, a cidade era uma só, inclusive politicamente. E se chamava, vejam vocês, ‘Porto União da Vitória’.

Depois, foi fracionada em Porto União-SC e União da Vitória-PR, como é domínio público.

Em outra parte ‘contestada’ entre PR e SC a mesma história de novo se repete, uma cidade que foi dividida entre 2 estados por causa dessa guerra.

Mafra anteriormente pertencia a Rio Negro, era um bairro rio-negrense conhecido como a “Margem Esquerda“.

Aqui e a direita, a capela que há no alto desse Morro do Cristo. Nota: eu não sou católico. Respeito todas as formas de Fé, mas que fique claro que retrato essa atração turística de U. da Vitória sem que isso signifique endossar a doutrina da Igreja Apostólica Romana.

Hoje, entretanto, se inverteu a polaridade: Mafra se tornou maior que Rio Negro, tanto em termos populacionais quanto econômicos.

Dos 80 mil habitantes de ‘Rio/Mafra’, 50 mil estão em solo catarinense (Mafra).

Enquanto os outros 30 mil em território paranaense (Rio Negro).

Por isso o DDD de Rio Negro também é 47, que é o código do Norte de Santa Catarina.

Rio Negro e Mafra são umbilicalmente ligadas, porém são claramente separadas pelo Rio Negro.

Não há como confundir a divisa, não há como não saber se está em uma ou em outra.

De como é em Rio Negro e Mafra já relatei detalhadamente em matéria específica.

Aqui nosso foco é a outra “cidade-gêmea PR/SC”. Falei de “Rio/Mafra” só pra pôr no contexto.

Em “Porto União da Vitória” não é o Rio quem separa o Centro dos dois municípios.

E sim a linha de trem é quem limita Porto União de União da Vitória (vista em várias fotos pela matéria).

Ponte velha clicada do alto do mesmo pico.

Uma divisa seca, em outras palavras. Portanto pode acontecer algo bem curioso:

É possível você não saber se está fisicamente em Santa Catarina ou Paraná.

Ou mesmo pode estar em ambos ao mesmo tempo, um pé de cada lado.

Daí o marco divisório que vimos acima da manchete e também na segunda tomada da postagem.

Foto em ‘P. União da Vitória’, mas o guerreiro Fordão foi emplacado na Grande Curitiba, em Araucária (perto da Caximba no extremo da Zona Sul da capital, onde eu cliquei vários ‘rivais’ Chevrolets contemporâneos).

No Amapá e também em Quito/Equador você pode pisar nos dois hemisférios da Terra ao mesmo tempo, um pé em cada.

No Sul do Brasil é brincadeira é mais modesta, evidentemente.

Você está dentro do mesmo hemisfério e país, pode apenas pôr um pé em cada estado. Já é alguma coisa, concorda?

Voltando ao que dizíamos antes: como ‘Rio-Mafra’, Porto União e União da Vitória eram um só município antes da guerra.

Aqui e a dir.: Bis-Bus, o revolucionário ‘Ônibus-Trem‘ que um dia ligou União de Vitória e Porto União (as cenas dos ônibus puxei da internet. Créditos mantidos, sempre que possível eu atribuo a fonte nas legendas).

Que se chamava exatamente, todos sabem, ‘Porto União da Vitória’.

Foram separadas politicamente, mas em termos urbanísticos, econômicos, sociais, culturais, etc, permanecem uma só cidade.

Eis o motivo dessa exata denominação ainda ser usada, ao menos ‘na boca do povo’.

E como ‘Rio/Mafra’, ‘Porto União da Vitória’ também tem por volta de 80 mil habitantes.

Porém nesse caso inverte, União da Vitória (PR) é quem tem mais de 50 mil moradores, e Porto União (SC) com pouco mais de 30 mil.

Aí inverte também no DDD, agora é Porto União que em território catarinense tem código 42, que é do Centro e Sul do Paraná.

“ABRIU O BAÚ”

Aproveitando o embalo, vamos relembrar os tempos da Viação União.

Ela quem operava o curioso Bis-Bus visto acima e ao lado. Era veículo bi-modal, rodo-ferroviário.

Ao lado um velho Nimbus TR-3, nos anos 80/90, usando a pintura de Curitiba, o que diga-se de passagem é bastante frequente em Stª Catarina.

Com propaganda na lateral, muito comum no Brasil a época. Hoje isso foi extinto em todo país praticamente, exceto em SC mesmo.

Abaixo em 3 cores diferentes o mesmo modelo, um Urbanus Nielson/Busscar (fotos baixadas dos portais EgonBus e SFS Ônibus).

Nas próximas 2 imagens – pertencentes ao sítio IMP Ônibusos ônibus atuais de ‘Porto União da Vitória‘.

Esse ao lado em Porto União/SC, (prov.) no Term. Urbano registrado junto com o monumento do Contestado. Logo abaixo em União da Vitória/PR.

A pintura é a mesma do municipal de Campo Largo, município que fica na Zona Oeste da região metropolitana da capital paranaense.

Pois são da Viação Piedade (ali sediada, pertence ao grupo das viações C. Largo/Tamandaré).

Ela quem opera em ‘Porto União da Vitória’, e também em ‘Rio-Mafra‘. Mas a entrada dela em SC não se limita a divisa com o PR.

Desde 2017 a Piedade atua em Itajaí, no Litoral Norte Catarinense e mais recentemente também na Grande Blumenau.

UNIÃO DA VITÓRIA, LONDRINA: A MAIOR “COMUNIDADE” DO NORTE DO PARANÁ HOMENAGEIA O SUL DO MESMO ESTADO – Como acabo de dizer, vemos o Jardim União da Vitória, em Londrina. 460 km separam a cidade de União da Vitória (no Sul do PR e divisa com SC) de Londrina, maior cidade do interior do PR (no Norte do estado e não muito longe da divisa com SP). A vila tem esse nome pois certamente da União da Vitória original chegaram os primeiros habitantes que ocuparam essa periferia londrinense. Como todos sabem, uma antiga favela na Zona Sul. Agora ela foi urbanizada, se tornando um bairro normal. Não apenas isso, União da Vitória era a maior favela da cidade, segundo li uma vez contava com 7 expansões, assim haveria o Jardim União da Vitória do 1 ao 8 – consegui confirmar que existem pelo menos os Jds. União da Vitória 1 ao 5. Agora urbanizada repito, ainda assim um bairro de periferia, distante, em encosta de morro. Uma ‘comunidade’, no termo que alguns acham mais apropriado – ou, se fosse na Bahia, o “extrato diferenciado” (essa imagem também foi puxada da internet).

Em todos os casos sempre com a pintura da Gde. Curitiba (um clone, uma “Tabela Trocada“).

…………….

Mostrei cruzando a ponte o Bis-Bus, transgenia automotiva e busófila interessantíssima. Bi-modal, na pista era um ônibus a dísel com pneus, normal.

Quando subiu num trilho de trem, entretanto, o motorista acionava uma alavanca, e ele virava uma litorina (tipo de trem em que o único vagão é sua própria locomotiva).

Infelizmente porém esse belo projeto ficou só nesse protótipo. O Bis-Bus foi descartado e hoje se decompõe em meio a Natureza, nas cercanias da cidade.

Muitas vezes os sonhos acabam dessa forma. Uma pena

…….

Nessa viagem não levei câmera, portanto não fotografei. Todavia um colega que me acompanhou no passeio foi mais prevenido.

Mexendo aqui no computador descobri esse arquivo com as imagens que ele captou. Propositadamente, por motivo artísticos, ele tirou várias delas em preto-&-branco.

Deus proverá

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.