Por Maurílio Mendes, O Mensageiro
Publicado em 20 de julho de 2012
Segue a série sobre o México. Vamos comentar mais alguns detalhes que observei enquanto estive por lá.
As fotos da cidades (as favelas, mansões e prédios, flores, bomba d’água, o altarzinho no meio da calçada) eu tirei pessoalmente.
A do cartaz de Santa Morte no ônibus de Acapulco também.
Já as demais imagens de Santa Morte foram puxadas da internet.
Vamos fazer assim: as que foram baixadas da internet serão identificadas por um (r), de ‘rede’, como visto ao lado.
Aí fica nítido o que é de minha autoria, sem essa marca, ou via internet, com.
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Disse que a influência ianque é muito grande, e de fato assim é. Começa pelo nome oficial do México, que é esse que está no título: Estados Unidos Mexicanos. É mole?
Como é de domínio público, o Brasil também já foi “Estados Unidos do Brasil”. Mas desde 1969 nosso nome mudou pra ‘República Federativa’.
Retificação: anteriormente eu escrevi erroneamente que fora Getúlio Vargas quem alterara a nomenclatura.
Não foi assim que se deu, o câmbio ocorreu 15 anos após o desencarne de GV, já no regime militar. Seja como for, o México ainda não conseguiu dar esse passo.
Alias, em muitos campos nosso país está muito a frente do México, nas dimensões física (em termos de infra-estrutura) e “espirituais”, digamos assim.
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Outro exemplo em que o México lembra o que o Brasil um dia foi: por lá ainda há o ‘caminhão do gás’, sabia?
Os que tem idade o suficiente vão se lembrar que até os anos 80 pras casas se abastecerem com esse produto era bem diferente que agora.
Atualmente há as distribuidoras de gás, que você liga e eles entregam o botijão na sua porta, na hora que você quiser.
Até algumas décadas atrás, tudo era bem diferente. Vamos fazer uma seção retrô:
Só se comprava gás do caminhão. E ele tinha uma escala pra passar na sua rua.
Cada casa tinha na geladeira colado o papel que dizia que dias ele vinha. Era digamos a cada duas sextas-feiras, por exemplo. É certo, se perdesse aquele, o do concorrente passava no outro dia.
A questão é que era preciso alguém estar em casa na hora certa, ou então precisava pedir pra vizinha comprar e depois pegar na casa dela.
O caminhão passava buzinando – nos últimos tempos cada distribuidora tinha uma musiquinha característica, menos irritante que a buzina.
E aí o consumidor, geralmente a dona-de-casa ou a empregada, saía a rua e acenava pro bichão encostar.
Hoje tudo isso parece jurássico, não? Mas durante muito tempo foi assim que funcionou. E no México ainda é dessa forma. Já havia visto pela internet antes de viajar, e lá testemunhei.
Passeava eu pelas ruas da Zona Norte da Cidade do México quando passou o caminhão do gás – tocando a musiquinha característica, evidente.
Em muitos aspectos ir ao México é entrar numa máquina do tempo, algumas coisas lá ainda estão como um dia foram no Brasil, digo de novo.
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A Eurocopa de futebol no México atraiu muito mais a atenção que no Brasil.
Bares e restaurantes tanto de classe média quanto do povão anunciavam a transmissão, e a galera até se uniformizava pra acompanhar as partidas.
Vi uma turma de laranja, torcendo pra Holanda, claro. E olhe que no México não há muitos descendentes de Holandeses não. É que a Eurocopa faz mesmo mais sucesso lá que aqui.
Atualização escrita em 2015. As coisas estão mudando rapidamente, no Brasil também. Em 2012, apenas 3 anos atrás, o futebol europeu despertava bem menos interesse que atualmente.
Os fiascos e problemas do futebol brasileiro se acumulam em cadeia:
– 7×1 pra Alemanha no Mineirão, na Copa de 14 ;
– Cultura da retranca que faz com que a maioria dos jogos termine em 1×0;
– Ingresso caríssimo em média 100 reais – no Chile é R$ 20, e no Paraguai [que nos eliminou na Copa América] é R$10;
– Jogos as 10 da noite que encerram quando não há mais ônibus pra voltar pra casa, ou as 11 da manhã sob 43º;
– Corrupção generalizada;
– Arbitragens suspeitas;
– Medalhões que já deveriam estar aposentados há muito ainda recebendo uma fortuna pra jogarem mal vivendo só da fama;
– Violência de torcidas organizadas;
– Repetidas viradas de mesa pra que certos times não caiam pra 2ª, etc.), tudo isso tem feito o interesse por futebol declinar em muito em nosso país, e bastante rapidamente.
Vejam vocês, até os torneios de futebol dos EUA e da China – nações que têm os 2 maiores PIB’s do mundo, mas não se interessavam por esse esporte até muito recentemente – estão tendo média de público acima do campeonato brasileiro.
Tudo somado: sim, em 2012 o Brasil não acompanhava tanto futebol europeu, o interesse pela Eurocopa aqui era bem menor que no México.
Porém com tantos problemas muitos brasileiros estão deixando de acompanhar os times locais, e voltando a atenção pra Europa.
De forma que nessa dimensão inverteu a polaridade: o México é quem já estava num ponto que o Brasil atingiria depois.
Creio que a Eurocopa do ano que vem – 2016 – atrairá bastante atenção do público, aqui no Brasil também. Enquanto nossos clubes rumam a passos largos pra falência.
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(Volta o texto original, de 2012) A reciclagem está sendo implantada na Cidade do México. E de um modo curioso: muitas pessoas não separam o orgânico do reciclável. Aí os próprios lixeiros o fazem.
É isso mesmo. Eles abrem os sacos, e vão despejando o orgânico dentro da caçamba. O que pode reciclar é colocado em outros sacos, e jogado por cima do teto de caminhão.
Um cara viaja lá, sobre o veículo (isso é muito comum no México), e ele vai acondicionando o material de forma mais apropriada.
Creio que seria muito mais fácil conscientizar as pessoas pra separem em suas casas. Um dia eles chegarão a essa conclusão também.
Disse a vocês que na Colômbia os caminhões próprios pra coleta de lixo ainda são raros.
Vi com meus próprios olhos o lixo sendo recolhido num bairro de milionários em Medelím em caminhões normais, com caçamba aberta.
Vou ser mais específico, porque é surreal mas é real: o lixo era recolhido com caminhões fabricados pra se carregar areia ou pedra, caçamba aberta e basculante.
Com pás, os lixeiros arremessavam os dejetos pro alto, pra eles caírem no compartimento de carga.
Então. No México há caminhões específicos pra coleta de lixo, iguais aos que são usados no Brasil. Entretanto, ainda não são universais.
Parte do lixo ainda se recolhe em caminhões com caçamba aberta. Vi isso na internet e também pessoalmente.
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Vou relatar mais um detalhe do dia que fui no Bosque de Chapultepec, a ‘menina dos olhos’ da Cidade do México, o parque da elite, o Ibirapuera ou Parque Central deles, na Zona Oeste, que é a região mais rica da metrópole.
Mais especificamente, um episódio que ocorreu quando saí do parque. Dei de cara com um pelotão do exército, soldados uniformizados e com metralhadoras em punho. Tentei ir pra esquerda, na calçada que contorna o parque.
O soldado me disse de modo educado mas firme “ei, por aí não passa. É proibido”. Perguntou onde eu queria ir.
Respondi “até as Colinas” (Lomas no original em espanhol). Trata-se de uma região de altíssima renda, também Zona Oeste, onde fica Eldorado.
Ele me indicou a direção oposta: “então atravesse a rua e vá por ali, por aqui não pode passar”. Agradeci e me afastei dali o mais depressa possível.
Pensei: “nossa, aqui deve morar um figurão muito importante”. É proibido andar a pé na calçada, em frente a casa do cara.
Depois passei de ônibus pela mesma avenida, e de fato, toda a calçada é interditada a pedestres, só se pode passar de carro pela avenida.
Há um pelotão do exército em cada lado da quadra, e ninguém entra. Deve ser residência do presidente da república.
Porque, olhe, no Centro está todo o aparato do governo: palácio, senado, tribunal, etc. Claro que todos muito bem guardados por tropas do exército, mas você pelo menos pode passar na frente.
Se ali naquela casa dentro do parque nem isso era permitido, deve ser alguém muito importante mesmo. Por isso tanto cuidado.
Em Bogotá, na Colômbia, vi algo similar. Num bairro de milionários da Zona Norte, numa rua sem saída, a última mansão era guardada por um pelotão do exército. Mas não nos impediram de passar pela calçada.
Como o México está em guerra – infelizmente não é modo de falar – a coisa é ainda mais complicada que na Colômbia.
Sabedor desse contexto, eu segui as ordens do soldado e me afastei dali rapidamente.
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No México há bem menos evangélicos que no Brasil. Dentre as igrejas protestantes que atuam em território mexicano, a brasileira Universal é uma das maiores.
Tudo isso, ‘ipsis literis’, é verdade na Colômbia também. Mas agora comparemos com o Brasil. Já estive em milhares de favelas em todas as partes de nossa pátria, de Campos do Jordão-SP a Manaus-AM, de Fortaleza-CE a Florianópolis-SC.
É sempre a mesma cena, muitas igrejas evangélicas próximas, numa densidade tão grande quanto a de moradores. Então, no México e na Colômbia (e estive em muitas favelas desses dois países também) há incomparavelmente menos igrejas. Elas existem, claro, mas nem dá pra começar a comparar com aqui.
Atualização. Depois que escrevi isso, estive na República Dominicana, Chile e Paraguai também. Nessa pequena ilha do Caribe há tantas igrejas evangélicas quanto no Brasil. Já no Chile e Paraguai é como México e Colômbia:
Há vários templos evangélicos, mas muitos menos que em nossa Pátria Amada. No Chile, somente lá, a maioria da população ainda é católica praticante.
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Os mexicanos tem muita fé. Por toda Cidade do México, Centrão e subúrbio, você vê homenagens a santos pras pessoas expressarem sua devoção, como mostra a imagem a esquerda.
Não sei se eles são católicos praticantes, mas que tem muita, muita fé nos santos, é certeza. E um deles, alias o que eles depositam o maior quinhão de suas orações, é desconhecido no Brasil:
É a Santa Morte. É isso mesmo, e não é brincadeira.
Veja a imagem de um cartaz pedindo proteção a Santa Morte que achei num ônibus de Acapulco.
No Centro do México DF havia um desses altares a santos na calçada, só que o santo era um esqueleto. Mesmo dentro de igrejas há esqueletos nos altares.
Já disse, não é brincadeira, nem culto satânico ou nada desse tipo. Bem, jamais haveria culto satânico dentro da igreja católica, não é mesmo?
Vou ser bem enfático aqui porque algo precisa ficar claríssimo: se você digitar ‘Santa Morte’ nos sítios de buscas, aparecerá um monte de lixo escrito por euro-ianques.
Seres arrogantes que nada entendem do México, e nada entendem de fé, e por isso repetem seus dogmas que aprendem nas universidades.
Esses brancos, que sequer têm fé no Criador e são materialistas, difundem seus preconceitos acadêmicos, e dizem que o culto a ‘Santa Morte’ é ritual da magia negra, ou pior, a protetora de bandidos e delinquentes.
Nada poderia ser mais distante da Realidade, como é muitas vezes o caso em que os ‘cultos’ se manifestam sobre o que não entendem.
Pessoas comuns, o povão mexicano que tem Fé de Verdade em seus corações simples, cultuam Santa Morte. E por isso até nos ônibus se pedem orações a ela, se fazem procissões e esse ‘esqueleto sagrado’ está em diversas igrejas católicas mexicanas.
Digo e repito, igrejas católicas, e não somente em terreiros de macumba e vudu – embora ali ele também seja encontrado.
Simplesmente no México a religião católica se mesclou com a religião asteca (como na Bahia o catolicismo se sincretizou com a umbanda).
E os astecas veem a morte de um modo completamente distinto dos arianos.
Por isso Santa Morte ao lado da Virgem de Guadalupe, pois ambas protegem o México.
Décadas atrás, até o meio do século 20, realmente o culto a Santa Morte era tabu entre os católicos. Não é mais assim, e não o é a décadas. Repetir hoje algo que foi verdade há muito, muito tempo atrás mas já não é mais não deixa de constituir falsidade, intencional ou não.
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Eu não pertenço a igreja católica, e nem a religião organizada alguma.
Não estou falando que o modo que os mexicanos veem é a Verdade Final.
Apenas estou contextualizando. Pros Aztecas, é assim que funciona, e esse modo de explicar o mundo é tão válido quanto qualquer outro, seja ele ‘religioso’ ou ‘científico‘.
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Pra cristãos, judeus e muçulmanos, a morte é uma passagem sem volta. Nessas doutrinas, após deixar a matéria sua alma continua viva, é certo, mas jamais re-encarna.
Os materialistas – corrente que vem se tornando majoritária entre a classe média dos EUA, Europa e América Latina – sequer creem na Alma. Você está vivo enquanto está no corpo, ponto final. Assim obviamente é que não reencarna, segundo essa visão.
Já os astecas, por serem herdeiros da tradição Atlante, consideram que a Morte é uma porta que abre caminhos, e não que fecha.
Os astecas creem na Vida Eterna, com diversos ciclos na matéria, em conformidade com o budismo, hinduísmo, espiritismo (tanto kardecista quanto a umbanda) e diversas outras Escolas ao redor do globo.
Pra Visão Oriental (onde um dia habitou o povo que originou os Aztecas Mexicanos) Vida e Morte não são antônimos, mas complementos.
Diferentes fases do mesmo processo, numa roda que sempre gira, como o Dia sucede a Noite apenas pra depois ser novamente sucedido por ela, até a Ascensão Final.
Oras, não importa quão alva seja sua tez, não importa o quanto de dinheiro e diplomas universitários você acumule. Não importa o teu quinhão de poder material, resumindo. Um dia fatalmente você terá que deixar o plano físico-denso.
Então por quê não pedir desde já que essa viagem seja o mais tranquila possível?, já que se configura inevitável.
Essa é a mentalidade Azteca, que veio da Velha Atlântida, é que é compartilhada por boa parte do mundo.
Não tem absolutamente nada a ver, digo de novo e quantas vezes se fizerem preciso, com desejar mal aos outros.
E muito menos com fazer trabalhos de magia negra ou pior, ir diretamente com uma arma eliminar a encarnação alheia.
Ao dizer que a ‘Santa Morte’ é algo satânico ou de delinquentes, bem, os euro-ianques mentem.
Além de demonstrar seu desconhecimento da Alma Mexicana, creio que os euro-ianques “cultos” – entre muitas aspas – estejam mais é revelando suas reais intenções.
Quando você fala dos outros, fala de si mesmo. Deixe eles falarem.
Os cães ladram e a caravana não para. Na Índia é assim que o povo vê. Em boa parte da Ásia e América também.
No México igualmente: Vida e Morte são Um e o Mesmo.
Assim É.
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Comentemos as imagens, espalhadas pela matéria. Lembre-se, nem sempre a descrição corresponde a que está mais perto, busque pelas legendas. Veem no decorrer da página:
O bairro Eldorado, na Zona Oeste metropolitana, ou seja, já no estado do México.
É um morro, porém não está favelizado, exatamente ao contrário, ocupado por mansões. Observem que há uma estação de rebombeio de água.
Falta muita água no México, especialmente na capital, que cresceu de forma absolutamente sem controle.
Enquanto na elite esse líquido é usado pra adornar e encher piscinas, jardins e fontes, na periferia muitas vezes não há nem mesmo pra beber, tomar banho, cozinhar e lavar roupas.
Como o Brasil, o México é uma sociedade extremamente desigual.
Subi em diversos morros do México DF e Acapulco, e a única estação de rebombeio que vi foi essa, justamente no único morro que abriga a elite.
Afora esse agudo desnível de classes sociais, Eldorado é um lugar muito bonito. Subi o morro a pé.
Estava bem quente nesse dia. A estação é mais ou menos no meio da ladeira. Sentei um pouco na calçada pra descansar.
Estava rodeado de árvores, flores e passarinhos que cantavam, dando um ar bucólico ao bairro.
Em diversas outras imagens continuamos na Zona Oeste, mas bem longe dali. Voltamos a estar dentro do Distrito Federal, perto do bairro Porta Grande.
Observem como a Cidade do México é densa, nas favelas e mesmo na classe média.
Estava eu numa rua que serpenteia um despenhadeiro. Lá embaixo corria um reguinho de água, outro local bucólico e muito bonito.
Pena que as duas barrancas, de ambos os lados, estavam ocupadas por favelas, e mesmo onde não é favela ainda assim parece, pelo menos no que diz respeito a habitantes por metro quadrado.
A favela do lado que eu estava é bem pequena, umas poucas dezenas de casas. Mas a do outro lado é enorme, gigantesca mesmo.
Centenas de casas, talvez milhares. Nas partes mais baixas dela, acima do rio, não se chega de carro. Bem ao lado prédios e casas de classe mais elevada.
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Fechamos mais essa mensagem como já encerrei outros. Com flores. São a parte mais bonita do México. Em meio ao caos, as Primaveras florescem.
Em meio ao cinza, o Violeta desponta, mostrando que apesar de tudo Deus ainda acredita na Humanidade.
Ainda bem.
Que essa Força Infinita abençoe ao México e a todos os homens desse planeta.
“Deus proverá”