“Coração da América”: Assunção, Paraguai

por-do-Sol Centro

Anoitece no Centro de Assunção.

Por Maurílio Mendes, “O Mensageiro”

Publicado em 16 de maio de 2013

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Vamos fazer uma série Assunção, a capital do Paraguai.

Essa é a abertura. No fim da matéria vou ancorar todas as outras matérias sobre o tema.

Palácio Presidencial

É a mesma bandeira, aqui vemos o Palácio Presidencial as margens do Rio Paraguai.

Quando eu falar em “Assunção”, entenda-se a Grande Assunção, toda a área urbana incluindo os subúrbios metropolitanos, e não somente o município-núcleo.

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Todo o Paraguai tem 6,4 milhões de habitantes. A Grande Assunção concentra 1,6 milhão destes.

Sendo meio milhão no município sede e os demais 1,1 nos subúrbios metropolitanos.

A margem do rio, com o sol se pondo lá no fundo. Estou no mesmo lugar que na imagem a direita acima, apenas virei de lado.

O Paraguai é dividido em “departamentos”, como o Brasil é dividido em estados. O município de Assunção é o Distrito Federal deles, lá chamado Departamento Capital (D.C.).

A Grande Assunção está no Departamento Central, que circunda o D.C. .

A segunda maior cidade do Paraguai é a região metropolitana da Cidade do Leste (departamento de Alto Paraná, na fronteira com Foz do Iguaçu-Brasil).

Que tem 330 mil moradores, sendo 230 no município-sede e mais 50 mil em cada um de seus dois subúrbios, Presidente Franco e Hernandárias (nesse município está a parte paraguaia da usina de Itaipu).

Nenhuma outra cidade da vizinha nação atinge os 100 mil habitantes.

As duas maiores cidades paraguaias ficam ambas ao lado de grandes rios, só que em lados opostos da nação.

Assunção está na extremidade ocidental, as margens do Rio Paraguai.

Por isso, Assunção não tem Zona Oeste, já que mais a oeste do Centro de Assunção já adentramos em território argentino.

Assunção a Cidade-Jardim

Muitas árvores, muito verde: Assunção é uma Cidade-Jardim.

Já a Cidade do Leste, como o nome indica, é o ponto mais oriental da pátria, as margens do Rio Paraná. 330 km separam uma da outra.

7 municípios do Paraguai tem mais de 100 mil moradores, e destes 6 fazem parte da Grande Assunção.

O Distrito Capital (município de Assunção) tem mais de meio milhão, disparado o município mais povoado.

o Centro do alto do morro

Essa foto e a da esquerda foram tiradas no Monte Lambaré, Zona Sul da capital, quase fronteira com a Argentina.

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Logo a seguir é a Cidade do Leste.

Como os mais velhos se lembram, na época de Alfredo Ströessner a cidade se chamava Presidente Stroessner.

Em outra mensagem falamos mais desse período. Agora o que importa é que depois da queda do ditador, em 1989, a Cidade do Leste adotou seu nome atual.

Voltando a falar de como a população se distribui no Paraguai, depois desses dois maiores os oito municípios mais povoados do Paraguai ficam no Departamento Central.

Olímpia

Sede do Olímpia, tri-campeão da Libertadores (79-90-02) e campeão mundial em 1979. Confira como é o futebol nesse país.

E são todos subúrbios da cidade que é a Grande Assunção, como se fossem bairros da mesma, sendo conectados ao Centro da metrópole por extensa rede de transportes. 

Dos 10 municípios mais populosos do Paraguai, 9 estão na Grande Assunção. Os que tem mais de cem habitantes são os que se seguem:

– São Lourenço (Zona Leste), 204 mil

– Luque (Zona Norte), 170 mil

nas horas boas e ruins - Cerro

Mural da torcida “Praça e Comando” do arqui-rival Cerro Portenho, Comando São Lourenço – Zona Leste

– Capiatá (Zona Leste), 154 mil

– Lambaré (Zona Sul), 119 mil, e

– Fernando de la Mora (Zona Leste), 113 mil.

De todos estes acima nomeados eu só não estive em Capiatá, que é o mais afastado.

Nessa vez não passei por Cidade do Leste, pois viajei de avião, mas já fui lá várias vezes. 

patriota é a minha boceta

“Patriota é minha vulva”: pichação no Centro de Assunção retrata o conflito entre grupos políticos de esquerda e direita. A história do país é conturbada e violenta, e essa agressividade reflete isso.

De forma que eu já estive nas duas maiores cidades do Paraguai, em seus 4 municípios mais populosos, e por fim, em 6 de seus 7 municípios mais habitados.

Assim pode-se dizer que conheço razoavelmente bem esse vizinho país, não?

Depois vem Limpio (73 mil), Ñemby (71 mil) e Mariano Roque Alonzo (65 mil), igualmente subúrbios da capital, mas nesses não deu pra eu ir.

Os dados dos municípios são de 2002, os mais recentes que tenho.

Já os do país como um todo, dos departamentos e do município de Assunção (que é um departamento) são de 2010. A fonte é essa:http://citypopulation.de/

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bilingüe

No aeroporto vemos anúncio em guarani: o Paraguai é bilíngue. Note na foto abaixo do Km 9 outra frase em guarani.

Feitas essas considerações estatísticas, podemos começar a filosofar sobre o que observei nas ruas.

Farei comparações frequentes com os dois países americanos que visitei recentemente (México e Colômbia).

Bem como com nossa pátria amada e outros lugares que estudei por outras fontes.

Como estou jogando no ar em 2015, dá pra comparar também com o Chile, de onde acabo de vir. De vez em quando dou umas pinceladas atualizando.

UM POVO MESTIÇO DE PELE CLARA 

três bandeiras muito comum

Amizade: é muito comum caminhões e ônibus com as bandeiras dos irmãos Brasil e Argentina ao lado da paraguaia.

Os paraguaios são majoritariamente brancos, bem diferente do México, Colômbia, Chile, Bolívia, etc.

Há muitos indígenas no Paraguai, mas não chegam a ser maioria. 

Os negros descendentes de africanos são praticamente inexistentes.

Agora, os ‘brancos’ do Paraguai pertencem a Raça Americana, e não a raça normanda (norte-europeia, que predomina também nos EUA, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Israel).

apóie o que é paraguaio

O Paraguai é pobre: tudo que tem capital nacional se orgulha e pede o apoio da população. Caminhão da Copetrol, a cia. petroleira pede: “É paraguaio, apoie”.

Pois os espanhóis que colonizaram o Paraguai são latinos (sul-europeus), povo que lá na Europa mesmo já não é tão branco assim pela mistura com outras raças morenas como os mouros.

E chegando aqui na América houve ampla miscigenação com os índios, de forma que os sangue branco puro se perdeu há muito, ainda que a tez seja clara.

Já escrevi muitas vezes. Nós da Raça Americana não somos brancos. Pois independente do fenótipo físico temos outra cultura, outro modo de ver o mundo.

Como é cultura quem faz a raça e não melanina, somos outra raça.

O Paraguai tem maioria branca sim. E por isso um povo fechado e relativamente muito frio, muito parecido com o curitibano

Mais branco que a Argentina (pois o interior desse país, e mesmo o subúrbio da capital, são muito mais mestiços que a classe média de sua capital Buenos Aires).

Petrobrás dominou SL

Expansão verde-amarela: Petrobrás dominou o Paraguai. Posto em S. Lourenço, Z/L.

Em toda América Latina apenas o Uruguai tem menor participação indígena no total populacional.

Ainda assim, o Paraguai obviamente é latino, é Americano. Nós Americanos não somos brancos, repetirei quantas vezes seja necessário.

Pois ‘branco’ pressupões cultura europeia – os estadunidenses, canadenses, neo-zelandeses, australianos, israelenses e mesmo os sul-africanos caucasianos são europeus, nós não somos.

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Km 9 da Rodovia 2

Km 9 da Rodovia Nacional nº 2: a quilometragem da estrada nomeia também os bairros as suas margens. Na Rep. Dominicana também.

E os indígenas são muito numerosos, algo como 30 a 40% do povo, mas ainda minoria.

Por conta da grande miscigenação, os indígenas paraguaios tem quase todos a pele bem clara, mesmo quando ostentam olhos levemente puxados e cabelo bem preto e liso.

Estou radiografando as maiores cidades, a capital Assunção e Cidade do Leste. No interiorzão é capaz dos índios serem até maioria, mas ali eu não pude conhecer.

E tampouco tenho dados estatísticos pra afirmar nem prum lado nem pro outro. Falo do que vi nas ruas, empiricamente.

táxi padronizado amarelo

No Paraguai todos os táxis são amarelos, no país inteiro. Na Colômbia idem.

Comparemos com outras capitais: em Bogotá-Colômbia, os indígenas (em diferentes graus de mestiçagem) são 70%, os brancos 20% e há uns 10% de negros.

O bogotano típico tem olhos puxados e pele morena, nem muito clara nem muito escura.

A elite é quase 100% branca, a classe média majoritariamente branca e o povão majoritariamente indígena.

Isso eu me refiro a capital, que é no centro do país. Mais ao norte há mais afro-descendentes, tanto que em Medelím eles já são 1/4 da população. No litoral colombiano caribenho os negros são maioria.

Assunção Capital Verde

Assunção, capital verde. Outra foto do alto do Monte Lambaré.

Na Cidade do México, os indígenas são 90%, os brancos 10%, e não há negros.

A elite é novamentequase 100% branca, a classe média é bastante miscigenada e nos morros e subúrbios é praticamente 100% indígena.

O mexicano típico tem olhos puxados e pele dourada, já vários tons mais escuros que na Colômbia.

Chegando ao Paraguai, digamos que os indígenas são 40%, os brancos os demais 60% e novamente não há negros.

A elite é 100% branca, a classe média quase toda igualmente branca, e nas quebradas digamos que metade é branco e metade índio. O paraguaio típico é bem claro, talvez com os olhos levemente puxados.

bruxaria brasileira

Astróloga brasileira anuncia seus serviços num poste de Assunção: “Especialista em unir casais“.

No Centro da Cidade do México, parece que você desembarcou por engano em Jacarta-Indonésia.

É um mar de gente de olhinhos puxados e pele bem escura, os raríssimos brancos chamam a atenção quando aparecem. Já em Assunção parece que você está aqui em Curitiba.

Fechando essa parte racial, além dos espanhóis e índios guaranis (os povos-formadores do país), as etnias por lá presentes são os alemães e sírio-libaneses. cigarro chileno

Não há muitos chineses em Assunção por enquanto, mas esse quadro começa a mudar. Igualmente, brasileiros estão por lá se estabelecendo, exercendo diversas atividades (detalhamos melhor abaixo).

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Quase nada do que é consumido no Paraguai é fabricado localmente. Os cigarros vêm da Argentina e Chile.

cigarro argentino

UMA NAÇÃO BILÍNGUE 

Vejam vocês como é a vida. Se os indígenas não tiveram ‘massa crítica’ de energia pra ser maioria da população, por outro lado eles deixaram sua marca em outro aspecto:

o Paraguai é um país bilíngue. O espanhol é universal, mas o idioma guarani também é amplamente utilizado, especialmente entre as classes populares e no interior.

Como veem nas imagens, no aeroporto há uma placa de boas vindas em guarani. Alguém pode alegar que essa é uma jogada publicitária, e de fato o é.

Mas outros aspectos indicam que realmente parte representativa do povo paraguaio tem o guarani como língua materna:

esquadra da marinha protege a cidade

Pôr-do-sol no rio. A Marinha Paraguaia guarda a capital.

Quando fui a Cidade do Leste em 2002 comprei uma fita cassete (os mais jovens não sabem o que é isso….rs) com música popular daquele país.

Metade das músicas era em espanhol, e a outra metade em guarani.

Outro exemplo. Uns anos atrás, a federação paraguaia de futebol contratou um técnico espanhol pra dirigir a seleção.

Sabe-se lá porque, os jogadores não aprovaram seus métodos, e se uniram em conspiração pra derrubá-lo.

Coisa de boleiro. Quem acompanha futebol sabe o que estou dizendo.

brasileiros em Assunção

Brasileiros no Paraguai: o ramo de alimentação é um dos preferidos pelos patrícios que emigram pra lá.

E nesse caso específico, a tática dos atletas foi bem simples: eles passaram a só conversar entre si em guarani, pra que o técnico espanhol de forma simbólica perdesse o poder de comando. 

Deu certo. Pouco tempo depois, ele foi demitido, fez as malas e regressou a Europa.

E pra que tenha dado certo, era necessário que todos os atletas dominassem o guarani. Eles dominavam, e por isso aplicaram essa estratagema.

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Centrão trilhos do bonde desativado

Centro de Assunção. Veja os trilhos onde um dia passou bonde. Fotografei a mesma cena em Belém-PA.

Nas ruas, eu por vezes ouvi relance os trabalhadores mais humildes (pedreiros, cozinheiras) conversando em guarani.

Além disso, as cédulas do dinheiro paraguaio são bilíngues, majoritariamente em espanhol, mas trazem o valor delas na língua indígena também.

Como curiosidade, dia desses, vi uma nota de yuan, a moeda chinesa: essa era multilíngue, trazia no verso seu valor em 4 ou 5 idiomas. No Paraguai 2 bastam.

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Mais alguns detalhes do espanhol utilizado localmente:

Jardineira, o “Ônibus Americano“: ainda muito comuns no Paraguai. América é um continente, não um país, como você bem sabe.

Copiando o que ocorre na Argentina, no Paraguai se usa a palavra vós na segunda pessoa do singular, e não do plural.

Por exemplo, em Assunção e Buenos Aires “vos sos brasilero” significa você é brasileiro, e não vocês são brasileiros, como poderia dar a entender.

X” no Paraguai (e outros países também) é abreviatura de “por”. Exemplificando é mais fácil entender. No para-brisa dos ônibus, há cartazes que dizem “ X Hospital de Clínicas” “ X Marechal Lopéz”.

Quer dizer que a linha faz seu trajeto “por Hospital de Clínicas e por Av. Mal. Lopéz”, ou seja, via esses referidos locais.

Na foto a direita veem que está pichado num muro “juicio político al parlamento – ya X favor”. Agora vocês já sabem, o autor pede que os deputados e senadores sejam julgados. X = por

No caso, pelo golpe civil que deram contra o presidente anterior. Em outro texto abordamos melhor a questão política. Aqui o tema é a linguística.

A pichação pede que o congresso preste contas. E “já, por favor”.

No Chile é assim também. “Mi vida X los colores”, eis um dos lemas da torcida do Universidade do Chile pichado por toda Santiago, dizendo de modo dramático que os torcedores se preciso dão sua própria vida por as cores do clube.

Atualizações: em 15 visitei o Chile, e em 17 a Argentina, e comprovei que de fato em outras nações também se usa o ‘X’ pra abreviar a palavra ‘por’. Mas não tanto quanto no Paraguai.

lá ainda tem Mirinda e Teem

Cartaz na vendinha. A mesma empresa que produz a Pepsi lá ainda fabrica Mirinda e Teem, e algumas marcas locais.

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Agora outra peculiaridade do espanhol que constatei no Paraguai mesmo, e depois igualmente confirmei em outros países: 

O imperativo é feito se acentuando a última letra do verbo. Veja a foto de um anúncio que diz “ahorrá dinero, viví mejor”. 

Economize dinheiro e viva melhor. O acento, repetindo, denota o modo imperativo. 

Pela gramática, quando aprendi na escola men ensinaram que essa ênfase seria feita com um ponto de exclamação (que em espanhol também é usado no início da frase): “!Ahorra dinero! !Vive mejor!”

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Cerro pichação

Mais um mural da torcida do Cerro. São Lourenço, Z/ Leste.

Pra ir fechando, vamos comentando as fotos (nem todas estão ao lado da descrição, busque pelas legendas).

Fim de tarde no Centro da cidade, retratado em vários locais: o Palácio Presidencial, a seguir o Porto (são vizinhos, eu apenas me virei), além de outras tomadas em partes não-especificadas.

Jardineira (chassi e motor de caminhão encarroçado pra levar gente), o mais americano dos ônibus, na ativa na Grande Assunção, onde são infinitamente comuns.

O 2º foi tirado no Distrito Capital, e o outro na região metropolitana. 

Nesse, o primeiro e mais velho, veem escrito “interno” no para-brisas. Significa que ele é interno daquele município, ou seja não é inter-municipal.

Na Grande São Paulo esse fenômeno se repete, apenas é “municipal” que está escrito nos veículos. Falo bem mais da rede de transportes da capital paraguaia futuramente.

Todos os táxis do Paraguai são amarelos, é padronizado. Na lateral vem escrito o município pelo qual ele opera. 

Isso é exatamente igual na Colômbia (país que já fiz radiografia completa do transporte nessa mensagem). No Brasil, México e nos EUA, de forma inversa cada cidade pinta seus veículos com o padrão que achar melhor.

imperativo

Propaganda em Assunção. O imperativo é diferente do que me ensinaram na escola.

Tapeguahe porãite”: no aeroporto, a placa lhe dá boas vindas em guarani. É um país bilíngue.

Pichações contra o golpe do congresso que destituiu um presidente eleito pelo povo, tema ao qual voltaremos. Por hora, esclareço que “La Jota” é a “Juventude Comunista” do Partido Comunista Paraguaio.

E quero comentar a imagem que mostra uma pichação em duas cores, preto e vermelho. Anteriormente, algum político havia feito uma pichação de propaganda sobre si mesmo:

“Fulano é patriota”. Algum grupo que se opõe a ele retificou: “Patriota é minha vulva‘. Uma boceta nacionalista (??????)”…. Bem-vindos ao Paraguai.

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Abaixo: Em plena Assunção, flagrei pichações do 1) Milionários da Colômbia; 2) Nacional do Uruguai; 3) Torcida Camisa 12 do Boca Júniors argentino.

Vimos acima a sede do Olímpia, na Zona Central da cidade, clube que foi campeão mundial em 1979, e tri-campeão da Libertadores (79-90-02).

aérea

Aqui e a direita, abaixo, vemos fotos tiradas ainda dentro do avião

Na cidade de São Lourenço (Zona Leste metropolitana), pichação da torcida organizada (chamada “La Plaza”) de seu arqui-rival, o Cerro Porteño. 

O Cerro nunca ganhou um título internacional, pelo que é alvo de infinita pecha dos olimpianos. Falo mais do futebol paraguaio em mensagem específica.

Aqui em Curitiba, 80% do mercado de cigarros é dominado por indústrias paraguaias.

Explico o porque. Antigamente as fábricas tabagistas brasileiras produziam (aqui no Brasil obviamente) cigarros pra serem exportados pro Paraguai, que por um acordo eram isentos de impostos brasileiros. Até aqui tudo era legal.

aérea1

Assunção é muito arborizada, tanto quanto Curitiba e João Pessoa-PB. Já a Cidade do México é o exato oposto. Veja as aéreas que eu tirei chegando a capital mexicana.

O problema é que ao chegar ao país vizinho esses cigarros eram clandestinamente re-exportados pro Brasil, o que aí sim era irregular.

Pra resolver isso, o governo brasileiro deixou de isentar de impostos o cigarro brasileiro pra exportação.

O que aconteceu então? Empresas paraguaias passaram a produzir esse produto lá, em solo paraguaio.

Por conta disso, repetindo, o cigarro paraguaio, agora fabricado mesmo no Paraguai, continua sendo contrabandeado pro Brasil.

Dominando o mercado curitibano, e abocanhando significativa parcela em outras cidades.

Como é sabido, o Paraguai é um país pouco industrializado, importa quase tudo que consome. 

Quando fui tomar café da manhã, a manteiga era argentina, o adoçante peruano. Assim é em todos os ramos, quase tudo vem de fora, especialmente (pela ordem) da Argentina, Brasil e Chile, mas parte também da Europa, EUA, Ásia e outros países americanos.

Aqui e ao lado: no cruzamento com a Avenida Solano López a Avenida (Juscelino) Kubitschek se torna a Avenida Brasília.

Só que como vimos pelo Brasil ter acabado com a isenção do cigarro que acabava voltando pra cá, o Paraguai desenvolveu uma indústria tabagista. 

Assim, pensei que os cigarros fossem produzidos por lá, que pelo menos nesse setor o Paraguai fosse auto-suficiente. Que nada.

Como podem ver, mesmo o que os paraguaios fumam vem de fora. Vi carteiras argentinas (grande maioria), chilenas e até europeias.

Av. JK x Av. Mal. Solano Lopez ZC

Bela homenagem a nossa capital e seu fundador. Note que as placas são exatamente iguais as do Chile.

Justamente por ser pobre e desindustrializado, importando quase tudo que consome (o que o torna cada vez mais pobre), o pouco que é produzido no Paraguai recebe grande alarde.

Vejam o caminhão da Copetrol: “é paraguaio, apoie”. 

O mesmo se dá em todos os ramos. De carrocerias de caminhão a alimentos, tudo que é fabricado lá mesmo vem escrito “fabricado orgulhosamente no Paraguai”.

A Copetrol tem motivos pra apelar ao patriotismo paraguaio. A Petrobrás dominou esse vizinho país, é a maior rede de lá.

O mesmo se dá na Colômbia. No México não porque por monopólio constitucional apenas a estatal Pemex pode comercializar petróleo em território mexicano.

Atualização: a Petrobrás está dominando o Chile e Argentina, igualmente. É o ‘Imperialismo Verde-&-Amarelo’. Logo estará pichado nos muros de Assunção, Santiago, Buenos Aires e Bogotá ” ¡ ¡ Brazucas, que se vayan, yá !! “.

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pichação política

Aqui e as 2 próximas: pichações políticas em Assunção.

Assunção é muito, muito arborizada. Uma verdadeira Cidade-Jardim.

Há árvores por todos os bairros, dos mais ricos e centrais aos mais afastados e pobres subúrbios metropolitanos. 

Isso ameniza e muito o calor, que por lá é forte pela cidade estar num grande vale, a Planície Central Sul-Americana.

Entre a Serra do Mar a leste (em território brasileiro) e os Andes a oeste.

Podem ver nas imagens que mal dá pra ver as casas e ruas em meio a um oceano de árvores. Por isso o lema de Assunção é a “Capital Verde”. 

Agora que falei isso, retorne as fotos anteriores, batidas em diversos bairros ricos e pobres, centrais e metropolitanos. Em quase todas você vê árvores.

pichação política - anti-golpe

O Centrão está coalhado desses lemas políticos pintados em seus muros e paredes.

Veja as que eu tirei do alto de um morro, o Monte Lambaré, um parque muito bonito que há na Zona Sul, a beira-rio, dentro do Distrito Capital mas quase na divisa com a região metropolitana.

E também as que registrei do avião ao pousar. Essa foi minha primeira cena e impressão da capital paraguaia: “quanto verde, é uma Cidade-Jardim”.

Cenas do Centro de Assunção: veem que numa delas ainda se pode ver os trilhos do bonde que um dia passou por ali. Esse modal foi desativado há muito.

Assunção não tem bonde, trem ou metrô, só ônibus. Alias, o Paraguai inteiro não tem uma linha de trem sequer ainda ativa, nem de passageiros (seja de longa distância ou suburbano) nem de carga. Logo detalhamos melhor.

pichação política - juventude comunista

Situação que só se agravou com o golpe que derrubou o presidente Fernando Lugo em 2012.

Placas que o governo colocou nos pontos de ônibus indicando o itinerário das linhas que por ali passam. Só nas avenidas principais, é claro.

Parada “Km 9”. No Paraguai, a quilometragem das estradas que saem de Assunção se torna o nome dos bairros que margeiam as rodovias.

As pessoas dizem “eu moro no cá-eme 9”, como eu digo “moro no Boqueirão”.

Na República Dominicana é assim também.

tapete verde

Tirada do cume do Monte Lambaré.

Não há dois povos tão diferentes no mundo quanto o paraguaio e o dominicano, pra começar no Paraguai quase não há negros, na RD entre o povão quase não há outra raça exceto negros.

E essa diametralidade se repete em todas as dimensões: o paraguaio é frio e introspectivo, se recolhe cedo e pouco fala com estranhos.

Depois das duas da tarde de sábado (ou “sávado“) o Centrão de Assunção vira um deserto, não há ninguém nas ruas muito menos ouvindo música em volume alto.

O dominicano, exatamente ao oposto, é quente e expansivo, adora conversar nas ruas, praças e mesmo nas escadas da cohab, e todos são bem-vindos a roda.  Nos fins-de-semana o barulho no Centrão de S. Domingo é infernal você mal consegue dormir, é som no talo, gritos de euforia e gargalhadas até o Sol nascer.

flor paraguai (11)

Flores em São Lourenço.

O paraguaio ama o futebol, é a paixão nacional. Na RD esse esporte sequer é praticado.

O Paraguai é um país sem contato com o oceano, a Rep. Dominicana uma pequena ilha onde todas as grandes cidades estão na costa mesmo, ou a poucos quilômetros dela, e os dominicanos amam o mar.

Não estou fazendo juízo de valor, dizendo qual seria melhor ou pior. Cada um é como é. Apenas estou dizendo isso, são tão diferentes em tudo.

Mas nisso iguais, a quilometragem da estrada denomina também as vilas que ficam a sua margem. “Eu moro no Km 9”, se diz em Assunção, e em Santo Domingo idem (leia muito mais sobre a República Dominicana, já está no ar a série que fiz sobre essa ilha caribenha).

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campanha Lambaré ZS

Aqui e a esquerda: o Paraguai acabara de passar por eleições . . .

Essas postagens anteriormente foram emeios, daí a data de publicação logo na abertura.

Um dos emeios que fez muito sucesso foi o que eu relembrei como eram os refrigerantes no Brasil nos anos 80. Então aqui vai:

Como os mais velhos se lembram, até 3 décadas atrás a filial brasileira da Pepsi produziu aqui a Crush e Mirinda (laranja) e Teem e 7-Up (limão).

Depois, por razões mercadológicas essas marcas foram extintas. Agora segura: no Paraguai a Mirinda e Teem ainda existem, e vão muito bem, obrigado. Não consegui fotografar a Teem.

Mas a Mirinda taí (desculpe o trocadilho…rs). Podem ver que engarrafador local da Pepsi produz também uma marca argentina, ‘Paso de los Toros’. A Coca-Cola também é muito forte no país.

No Chile são a Crush e a 7-Up que ainda existem. Na Argentina, vi várias dessas marcas: Crush, Mirinda, 7-Up, ‘Paso de los Toros’, Coca e Pepsi (óbvio) e até Guaraná Antarctica!

campanha política

. . . e a propaganda eleitoral ainda estava nas ruas

De volta ao Paraguai: além das duas gigantes estadunidenses, há também alguns refrigerantes locais.

Tomei um deles, uma imitação da Pepsi bem gostosa por sinal.

Já comentei da propaganda que diz “Ahorrá dinero”. Uma coisa curiosa de Assunção:

Pela cidade há diversas pichações de torcidas de futebol de outros países sul-americanos.

Assim que desci do ônibus que me levou do aeroporto ao Centro, a primeira pichação que vi foi a do Millionários de Bogotá-Colômbia.

Nacional Uruguai montevidéu escudo emblema futebol símbolo tricolor

Nacional do Uruguai, o original.

A seguir, uma do Nacional de Montevidéu-Uruguai, com seu apelido característico, “Bolso”. Lembre-se, em espanhol essa palavra não significa o mesmo que em português. Nosso bolso de calça em castelhano é “bolsillo”.

Outra coisa: há um Nacional paraguaio, alias é uma cópia do uruguaio, com o mesmo emblema. O Nacional local vai ser campeão do Paraguai esse ano.

(Me refiro a 2013, quando estive lá e fiz esse texto. De fato o Nacional foi mesmo campeão, e inclusive confirmando a boa fase foi vice-campeão da Libertadores em 2014).

Fui num jogo deles no sábado, no Estádio Defensores do Chaco. Em outra postagem falo mais de minha ida a esse que é um dos mais lendários palcos do futebol americano e mundial.

assunção Nacional Paraguai escudo emblema futebol símbolo tricolor cópia uruguai montevidéu xerox falsificado

Nacional do Paraguai, xerocado do outro.

Entretanto, essa pichação é do Nacional do Uruguai, e não de sua cópia paraguaia. 

Tenho certeza disso porque o autor pichou a quadra inteira, e nos grafites seguintes ele deixou bem claro que se trata do clube de Montevidéu.

Em Vinha do Mar (Grande Valparaíso), Chile, na Avenida Peru que é a Beira-Mar local (e seu pedaço mais caro, diga-se de passagem), também vi uma pichação do Nacional de Montevidéu.

Fotografei, no entanto a imagem não saiu boa. Mas se quiserem crer na minha palavra, estava lá. Curioso, não? Já vi grafites do ‘Bolso’ em 2 países que nem sequer fazem fronteira com o Uruguai.

De volta ao Paraguai: essas duas imagens descritas acima (os grafites dos times colombiano e uruguaio) foram tomadas na Zona Central de Assunção.

Encerrando esse tema, no muro rosa a torcida Camisa 12 do Boca Juniors (iniciais C.A.B.J. abaixo) de Buenos Aires-Argentina mostra que também está presente em Assunção. Essa cena é de São Lourenço, Zona Leste metropolitana.

Paraguai

Pavilhão Nacional.

As torcidas dos times de Assunção também picham a cidade, e como picham. Mandei a dos times de fora primeiro porque é mais pitoresco. Mas a capital paraguaia é inteira riscada com os símbolos, lemas e siglas dos clubes locais.

O Brasil é muito admirado no Paraguai. Essa cena da bandeira do Paraguai escoltada pelos seus irmãos Brasil e Argentina é muito comum por lá, em caminhões e também em ônibus. 

Alguém poderia alegar que esse caminhoneiro entra no Brasil em suas viagens, por isso gosta de nosso país. Pode ser. Mas vários ônibus urbanos de Assunção trazem igualmente essas 3 bandeiras, e eles não passam nem remotamente perto do Brasil.

E são só as bandeiras do Brasil e da Argentina que são reproduzidas espontaneamente pelo povo paraguaio. Ninguém ostenta a bandeira da Bolívia, por exemplo, e Bolívia e Paraguai são igualmente vizinhos. 

Centro1

Daqui pra baixo todas as fotos são do Centro de Assunção, várias delas no fim-de-tarde.

Na verdade a Bolívia é odiada no Paraguai, já que os dois países travaram a “Guerra do Chaco”, na década de 30 do século 20.

Por isso o Estádio “Defensores do Chaco”. Novamente, em outros textos me aprofundo.

Por hora, suficiente saber que apenas Brasil e Argentina são admirados, também não há bandeiras do Chile, Uruguai, nem de qualquer outra parte.

Observem: no Paraguai carros, caminhões e ônibus tem placa de 3 letras e 3 números, nessa ordem. Nas motos se inverte, 3 números antes seguidos de 3 letras. As placas dizem apenas “Paraguai”, sem especificar a cidade.

Na Argentina, Chile, Uruguai é o mesmo, apenas o país é identificado e todas as cidades seguem obelo entardecer Centro mesmo padrão. Na Colômbia é como no Brasil, a placa é padronizada e diz o nome da cidade.

No México é como nos EUA, as placas não são padronizadas, cada estado faz as suas na cor que quiser, e pode inclusive haver variação na quantia de letras e algarismos.

Já que toquei nesse ponto das placas, mais um detalhe. Até o fim do milênio passado, as placas de carro paraguaias precisavam ser trocadas todo ano. 

É isso mesmo, as placas é que eram o comprovante do pagamento do IPVA. Traziam o ano impressas, de forma que você precisava re-emplacar seu veículo todos os anos, sem exceção.

começa a anoitecer CentroÉ claro que não funcionava. Num país que chegou a ter 80% da frota importada de maneira irregular, a obrigação de re-emplacar todo e cada veículo automotor a cada 12 meses era um maná pra irregularidades e corrupção.

Fora que no interiorzão, e nas quebradas das cidades grandes, muita gente simplesmente ignorava por completo a regra, aumentando a confusão.

Por conta disso, enfim na virada do milênio o Paraguai entendeu que não era lógico re-emplacar 100% da frota todo ano, e tornou a placa permanente, como é em todo planeta.

Agora o comprovante do IPVA é um adesivo colado no vidro. Menos mal.Centro3

Uma churrascaria de propriedade de um brasileiro, como a bandeira e nome indicam. Na frente um carro Mercedes-Benz, paixão paraguaia, em outra mensagem explico.

Por hora, já falei demais de carros. Agora voltemos aos negócios estabelecidos por brasileiros no país vizinho. 

Restaurantes e lanchonetes é um dos ramos preferidos dos brasucas quando emigram ao Paraguai. Vi várias churrascarias de posse do nossos patrícios, e uma rede de lanchonetes se chama “Gordinho”, assim em português. Em espanhol seria “gordito”, obviamente.

Centro20O Paraguai acaba de passar por eleição presidencial, realizada no fim de abril. O material da campanha não foi ainda limpo das ruas. Voltamos ao tema.

A saga da construção de Brasília e seu mentor Juscelino Kubitzchek são muito admirados por toda América Latina.

Veja: na Avenida Marechal Lopéz, a principal de Assunção (sim, se refere a Solano Lopéz), a Avenida Brasília muda de nome pra Avenida JK.

Na Colômbia há a Viação Brasília, uma das empresas de ônibus mais importantes do país, e no México essas homenagens igualmente são comuns.

A jardineira (ônibus urbano) se dirige ao subúrbio metropolitano de Limpio, na Zona Norte.Centro23

As placas de rua na Grande Assunção são padronizadas nesse modelo marrom que observa.

No Chile são exatamente iguais, veja você. É um padrão que se repete em diversos de nossos vizinhos.

Fechando com chave de ouro: o Paraguai não tem mar, mas tem marinha.

É uma marinha fluvial, na verdade, pois sua área de atuação é o Rio Paraguai. Assunção está na fronteira, e por isso vulnerável a ataque estrangeiro. 

Centro2Claro, a Argentina, que é quem está do outro lado da margem, não tem qualquer plano de bombardear/invadir o Paraguai.

Ainda assim, é bom garantir. O epicentro político paraguaio (o congresso e o palácio presidencial) está justamente as margens do rio.

Por isso vê uma esquadra da marinha paraguaia guardando os centros do poder do país.

Atrás de seu quartel-general, no Centro de Assunção, há uma pequena favela, o Morro São Jerônimo. Fechamos com o pôr-do-sol, fotografado entre as grades de um quartel do Exército Paraguaio.

………….

É isso aí, galera. Concluímos a série sobre o Paraguai. Tudo publicado em maio de 2013:

– “Ao lado do Congresso a Chacarita: Bem-vindo aos Banhados de Assunção“:

As periferias e favelas de Assunção – nesse vizinho país ‘favela’ se denomina ‘banhado’, porque as favelas se concentram na margem do Rio Paraguai. Há dois complexos, dois aglomerados (como diriam cariocas e mineiros) grandes de favelas na capital paraguaia, o ‘Banhado Norte’ e o ‘Banhado Sul.

A maior e mais famosa favela é a Chacarita, é bem no Centrão da cidade, começa logo atrás do Congresso Nacional – na foto ao lado estou exatamente na praça que sedia o parlamento.

“As guerras do Paraguai”:

Os períodos violentos do país, o conflito contra Brasil e Argentina – o Uruguai só fez número (1864-70); o confronto contra a Bolívia pelo Chaco (1932-35); e a ‘guerra suja’ de “dom” Alfredo Stroessner contra o próprio povo paraguaio (1954-1989).

– Até o jogo é falsificado. Pode isso? Pode ! É o Futebol no Paraguai

flor paraguai

A capital da nação toda florida.

Laranjas no chão de pedra, a Cumbia, o “Cinema de Cachorro” – só quem conheceu suas entranhas pode descrever o país nessa profundidade.

– Assunção, “Cidade Mãe de Cidades”Você sabia que Buenos Aires-Argentina e Assunção uma fundou a outra, reciprocamente? Como esse paradoxo? Nesse texto eu explico.

– Não tem metrô, nem trem, nem articulado, nem integração. Mas tem jardineira: o transporte no Paraguai.

Deus proverá”

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