Por Maurílio Mendes, O Mensageiro
Levantado pra rede em 31 de maio de 2016.
Publicado (em emeios) em junho de 2011.
A maioria das fotos foi batidas por mim ou meus familiares. Quando for puxada da internet eu identifico com um ‘(r)’ de ‘rede’, como visto ao lado. Os créditos foram mantidos sempre que estivessem impressos nas imagens.
Seguindo a série sobre a Colômbia, vou sintetizar aqui dois emeios. O primeiro teve o mesmo título da mensagem, ‘Sinais antes do fim’, e foi publicado em 3 de junho de 2011.
Vou descrever um pouco sobre Medelím, a maior cidade do interior do pais.
É a capital do estado de Antioquia. Como é notório, a Antioquia original é uma cidade na atual Turquia, citada na Bíblia.
Alias os “Sinais antes do Fim” também são relativos a essa Escritura, abaixo explico a relação.
Já o nome da cidade é uma homenagem a cidade homônima que há na Espanha.
Por conta disso, também há Medellíns no México e nas Filipinas – embora muitos não se deem conta, esse país asiático também era colônia espanhola.
Até que foi arrebatado pelos EUA na guerra hispano-estadunidense, na virada dos séculos 19 pro 20. Também butim do mesmo conflito foram Cuba, Porto Rico e outras possessões menores.
Mesmo por terra, a sensação é de estar no avião –
Voltemos a Colômbia. Medelím foi fundada em 1675 e originalmente se chamava Vila Nossa Senhora da Candelária de Medelím.
Como sempre, os colonizadores ibéricos misturavam um nome católico com um pagão.
Um detalhe muito curioso em Medelím é que você chega na cidade pelo alto, ainda que venha por via terrestre, de carro ou ônibus.
A primeira visão que alguém tem de Medelím é similar a que teria se chegasse de avião, pois a estrada está no alto da montanha, e a cidade lá embaixo, no fundo do vale.
Chegamos a noite, e vimos as luzes da metrópole iluminada, como se a estivéssemos sobrevoando (a última foto dessa matéria, no pé da página, mostra a cena).
Falar em aviação, eu cheguei de ônibus e deixei Medelím de avião. Isso rende uma outra história:
Se alguma vez na sua vida você chegar ou sair de Medelím por seu aeroporto internacional (o José María Cordova), como eu fiz, nunca mais irá reclamar da distância do aeroporto de sua cidade.
Explico. O José María está a 50 km de Medelím. Dá quase uma hora e meia de estrada, uma viagem antes de empreender outra viagem.
Tem o nome de um general que lutou ao lado de Bolívar na guerra de independência contra a Espanha, que lá foi longa e sangrenta, ao contrário do Brasil.
Homenagens patrióticas a parte, pra chegar ao aeroporto você pega a linha de ônibus no Centro.
E o busão vai, primeiro tem que vencer os congestionamentos.
Aí ele chega numa avenida chamada Las Palmas, que corta o bairro mais rico da cidade:
Cheio de condomínios fechados, parece ‘Beverlly Hills’, as mansões no morro. Eu já havia estado lá antes (em Las Palmas, não em ‘Beverlly Hills’), depois eu conto.
Enfim, nesse bairro você vê novamente Medelím do alto, parece que já está no avião.
Afinal Las Palmas está simplesmente situado entre 600 metros a quase 1 km acima do Centro da cidade, em suas porções mais remotas.
É um subúrbio típico estadunidense, só mansões, a beira da rodovia, bem distante da área central, todos vão trabalhar de carro.
E por estar no morro lembra muito o bairro dos milionários de Los Angeles (EUA). Mas pra chegar no aeroporto ainda tem muito chão. Primeiro a rodovia de pista dupla se torna de pista única.
Aí você passa por pequenas cidades, por áreas rurais onde vacas pastam tranquilamente, pelo pedágio, e o negócio não chega.
Uma hora e pouco ali dentro, e enfim, o ônibus estaciona em frente o terminal, já no município de Rio Negro (xará da cidade do PR).
Há um outro aeroporto bem no Centro de Medelím, mas só é usado por aeronaves menores em voos mais curtos.
Inchada pela guerra –
Atualmente a cidade tem uma população de 2,6 milhões apenas no município e de 3,7 milhões se incluirmos os subúrbios da Grande Medelím.
Antes de falar deles, uma observação: escrevi anteriormente que o município de Medelím tinha uma população similar a de Curitiba, ou seja perto de 1,8 milhão.
É o que eu havia lido. Agora me deparei com esse dado de 2,6. Talvez 1,8 fosse em 2000. O número maior é de 2010.
Ao contrário das grandes cidades brasileiras do Centro-Sul, que atualmente pouco crescem, creio que as cidades da Colômbia ainda têm crescimento elevado.
Até porque a guerra civil permanece ativa no interior, empurrando todo ano dezenas de milhares de pessoas pras cidades.
……….
É conhecida como “a cidade da eterna primavera”, por suas flores e clima suave. A cor de Medelím é verde, assim como Curitiba. Por isso o Clube Atlético Nacional tem essa cor.
Do futebol já falei em outra parte, aqui quis apenas dizer que o Nacional é verde porque Medelím é verde.
A cidade está no vale do Rio Medelím, que cruza a área urbana de sul a norte. Mais apropriadamente diríamos que a cidade é quem se instalou ao redor do rio.
O fato é que o rio, que nomeia a cidade, é também sua espinha dorsal, em todos os sentidos.
O metrô de Medelím, símbolo maior do renascimento da cidade, corre sobre seu eixo, por vezes a sua margem e por vezes literalmente sobre ele.
Infelizmente o rio está morto, como estão os rios que cortam as grandes cidades brasileiras.
Enfim, ao redor do poluído Rio Medelím se acha a cidade. A Grande Medelím muitas vezes é chamada “Vale do Aburrá”, assim como a Grande Santos (SP) é mais conhecida como “Baixada Santista”.
Voltando a Colômbia, as cidades que compõe a Grande Medelím são Estrela, Itagüi (o idioma espanhol não aboliu o trema ainda), Sabaneta, Envigado, Medelím, Belo e Copacabana.
Comecei a partir do sul, seguindo a corrente do rio que originou tudo isso.
Há outros municípios oficialmente considerados Grande Medelím, mas que não o são na prática, como ocorre no Brasil também.
Os que estão umbilicalmente ligados ao núcleo, que tem suas áreas urbanas fundidas, são os que citei.
Desses, eu só não estive em Estrela e Copacabana, porque não são servidos pelo metrô.
Por serem os mais distantes, os extremos meridional e setentrional do Vale do Aburrá. Há planos de expansão da linha.
Atualização: em 2016 o metrô vai até o subúrbio de Estrela. Portanto se minha viagem fosse agora eu teria conhecido ali também. Infelizmente não deu.
Riqueza na Zona Sul e favelas na Norte –
A Zona Sul de Medelím é a mais rica, exatamente ao contrário da capital Bogotá.
Então Sabaneta, Envigado e Itagüi, que ficam na Zona Sul da metrópole, são mais ricas que Belo e Copacabana, que ficam na Zona Norte.
Algumas das maiores favelas da área metropolitana estão em Belo, e são em morro. Estive lá, evidentemente.
O crescimento demográfico é altíssimo, tornando tudo difícil.
Do outro lado, principalmente em Envigado, há bairros não apenas de classe média mas também de alta renda, também passeei por lá. Desci na estação de metrô no Centro do município e fui subindo o morro.
Nessa parte a encosta não é favelizada. Na região ainda mais plana há muitos bairros de sobradinhos geminados.
Mas quanto mais sobe a altura em relação ao nível do mar mais sobe a renda igualmente – isso nessa região da cidade, em outras partes é o inverso: quanto mais alto mais pobre.
Voltando a falar de Envigado, fui subindo a encosta, em direção ao leste. Mas também fui indo em direção ao norte, ou seja, ao município de Medelím.
Assim que cheguei a um planalto, já bem mais elevado que em relação ao núcleo em torno do rio, atingi um bairro de classe média-alta.
Ainda estava no município de Envigado. Ao cruzar a divisa, adentrando no município-sede da metrópole, a renda aumentou ainda mais.
Aí passei a subir cada vez mais o morro. Essa região já não é mais de classe média-alta, é de classe altíssima, “AA” mesmo, só pra milionários.
O Morumbi colombiano –
Aqui chegamos aquela região que já descrevi pra vocês, é o Morumbi do país vizinho.
Ali onde estava é na encosta, com pequenas ruas exclusivamente residenciais, e os prédios de altíssimo padrão.
Todos cercados evidentemente por muros altíssimos guarnecidos em seu topo por arame farpado e/ou cerca elétrica – nada diferente do que estamos habituados aqui.
Por exemplo, eu passava na hora da saída da escola. As vans que carregam os alunos não os deixam na frente do prédio, como no Brasil.
Em Medelím há mais precauções, o porteiro abre o portão, o veículo entra, o portão se fecha, e só aí a criança/adolescente desce. Afinal, os sequestros diminuíram 90% na Colômbia, mas não acabaram.
Deixando essa parte de lado, é um bairro muito bonito, totalmente arborizado, com pouco trânsito, o que dá um clima de tranquilidade único na cidade.
É entre 100 a 300 metros mais alto que o Centro, e a altitude somada aos grandes bosques tornam o clima mais ameno, quase temperado.
Repetindo, vi esquilos caminhando nas ruas, como vemos frequentemente em Nova Iorque, seja nos filmes ou pessoalmente pra quem teve a oportunidade de ir até lá.
O bairro, que se chama El Poblado, é um verdadeiro parque. Excelente pra caminhar e se esquecer dos problemas, pena que quase ninguém aproveite tamanha beleza.
Os ricos têm medo da violência, e a região é de difícil acesso para moradores de outras partes da cidade. Então as calçadas ficam desertas de pedestres, eu andava praticamente sozinho.
Nas ruas, entretanto, muitos carros e de vez em quando ônibus passavam, não é uma cidade-fantasma obviamente.
No entanto parecia. Caminhava por vezes mais de uma hora sem ver uma alma viva sequer nas calçadas (6 anos depois passei pela mesma experiência na África do Sul). Isso quando o tempo estava agradável.
Depois começou a chover, aí que eu fiquei com as calçadas só para mim.
Continuei meu roteiro, encharcado mas em paz, feliz por estar tendo essa oportunidade.
As partes intermediárias do bairro estão ocupadas por prédios. Por isso me refiro a faixa situada entre 100 a 300 metros mais alta que o Centro.
Lembra muito o Morumbi, em São Paulo, como já disse. Foi a parte que percorri a pé.
Acima disso a cidade continua, mas a partir daí só há casas. Mansões, na verdade.
É aquela parte que descrevi acima contando o trajeto pro aeroporto, que parece Beverlly Hills, e onde a altura em relação ao Centro chega a quase 1 km.
Pra não deixar dúvidas: o Centro de Medelím já está a 1,5 mil metros acima do nível do mar, quase tão alta quanto a mais alta cidade brasileira, Campos do Jordão-SP que está a 1,6 mil metros.
Alguns subúrbios de Medelím estão a 800 ou mesmo quase mil metros acima do Centro, porto a 2,3 ou mesmo 2,5 km acima do Oceano.
Volto a narrar minha subida no morro. Fui da estação de metrô na região metropolitana até o fim da parte em que ainda há prédios.
A partir daí não prossegui. Estava já andando há muitas horas, em subida, e na última hora embaixo de uma tempestade.
Vi lá debaixo os prédios no alto da montanha e me propus a ir até ali. E assim o fiz. Vencida essa etapa, quando vi o ponto final de uma jardineira (aqueles ônibus com motor saliente, como se fosse um caminhão), fiquei por ali mesmo.
Afinal ainda não havia andado em jardineiras na Colômbia, e queria ter essa experiência também.
Cansado e encharcado, e tendo feito o que me propus, peguei o ônibus e retornei ao Centro.
Após ter descansado no trajeto, ao descer do ônibus ainda fui a pé para o hotel, e nisso foram mais umas duas horas de caminhada, boa parte delas embaixo de chuva também.
Nesse dia andei umas cinco horas a pé pelas ruas de Medelím, sendo perto da metade disso sob chuva muito forte.
Mas valeu a pena. Dentro da mesma cidade, vi partes que se parecem com os bairros mais ricos do Brasil e dos EUA.
E outras favelas enormes que se parecem com as partes mais degradadas do Afeganistão, do Brasil e da Somália.
Como alias já havia feito na capital Bogotá, porém lá sem chuva. A Zona Sul de Bogotá também lembra muito o Afeganistão.
Enquanto partes da Zona Norte se parecem com o Jardim Social aqui em Curitiba, ou com os Jardins em SP.
O Afeganistão e Beverlly Hills dentro da mesma cidade, as vezes inclusive próximos fisicamente, embora em termos sociais vivendo em galáxias diferentes.
Assim é a Colômbia, coração de nosso continente americano.
E mais acentuadamente ainda assim é Medelím, sua cidade mais emblemática, com seus conflitos e seu renascimento, símbolo de nossa querida América.
…………..
Aqui encerra o primeiro emeio. Emendamos mais um publicado 2 dias depois, portanto em 5 de junho de 2011.
É de fato notável o Renascimento da cidade de Medelím e da Colômbia em geral.
Que tem na integração das periferias pelo transporte coletivo sua espinha dorsal, aliado claro a um melhor policiamento.
Tanto que 1991 foi o ano mais violento da história de Medelím:
Mais de 5 mil pessoas foram assassinadas, uma situação catastrófica.
Em 2008 o números se reduziu pra 500, dez vezes menos portanto.
Em 2010 (dados mais recentes que tenho, o texto é de 2011 como sabem) a violência voltou a crescer:
Perto de mil homens e mulheres foram mortos intencionalmente nas mãos de outras pessoas.
Ainda assim é uma queda de 80% em relação ao auge da gurra.
Alguns desses problemas ainda permanecem, claro, mas a situação mudou da água pro vinho.
A primeira medida concreta foi a inauguração do metrô de Medelím, em 1995.
Primeiramente só havia uma linha, cortando a cidade de sul a norte, seguindo o trajeto do Rio Medelím.
Lembra muito a Marginal Pinheiros, em São Paulo, o trem as margens de um rio poluído, e ao lado de ambos uma grande avenida, com tráfego pesado inclusive de caminhões.
Voltando a Medelím, o trajeto dessa linha liga a Zona Sul (de padrão mais alto, polo de empregos) a Zona Norte (região-dormitório), e ambas ao Centro.
Ela foi sendo ampliada até que em 1998 chegou a Região Metropolitana, servindo a quase todas as cidades da Grande Medelím.
Depois se inaugurou uma segunda linha, ligando o Centro a Zona Oeste.
Medelím tem tanto Zona Oeste quanto Leste, embora ambas sejam menores que as Zona Norte e Sul, pelo fato de estarem limitadas pelas montanhas.
A Zona Oeste medellinense –
Então, a Zona Oeste, onde ficamos, é uma região majoritariamente de classe média. Por isso me refiro a sua parte plana.
Porque nas encostas há várias favelas, diversos os morros de Medelím estão ocupados por invasões, em graus variáveis de antiguidade e consequentemente de urbanização.
Seja na Zona Sul, Oeste, Leste, Norte e mesmo no Centro, pois dos 2,6 milhões de habitantes do município creio que metade ou mais mora nos morros.
As únicas encostas que não são favelizadas ficam em parte da Zona Sul, tanto a leste quanto a oeste do rio.
Ali bem ao contrário é a região dos milionários que já lhes descrevi.
Voltando, a parte plana da Zona Oeste é tipicamente de classe média-alta.
Não há prédios de altíssimo luxo, mas tampouco invasões ou bairros operários.
Vou fazer um apêndice, pra falar de um detalhe curioso. Aqui no Brasil, os estádios são conhecidos pelo nome do bairro que se localizam.
Os exemplos são diversos, desde o Alto da Glória e Vila Capanema aqui em Curitiba ao Morumbi, Itaquera e Pacaembu em São Paulo, Vila Belmiro em Santos, bem como o Maracanã, Engenhão e Laranjeiras no Rio, entre muitos outros.
Porém em Medelím é o estádio que nomeia o bairro. A região ao redor do complexo esportivo Atanasio Girardot se chama, bem, Bairro Estádio.
É ali que está localizado o quartel da 4ª brigada do exército, bem localizado numa parte da cidade tão bonita, calma, plana e arborizada. Da segurança falei melhor em outro texto.
Aqui o que importa é que a porção plana da Zona Oeste é uma região tipicamente de classe média. E a segunda linha do metrô foi ali construída.
De metrô mesmo, com trilhos e trens, por enquanto só existem essas duas linhas, a Zona Leste ainda aguarda o dia em que será contemplada.
A revolução do Metrô-Cabo –
Porém foram feitas mais duas linhas com bondinhos, integrando a maior parte da cidade. Funciona da seguinte forma: em duas estações do metrô normal é possível fazer conexão gratuita com o bondinho.
Como já disse, o metrô-cabo de Medelím não guarda qualquer semelhança com o bondinho que leva ao alto do Monserrate, em Bogotá.
Esse último é caro e turístico, e só tem dois vagões operando, enquanto um sobe, o outro desce, logo o tempo de espera é grande.
No metrô-cabo, ao contrário, há dezenas de pequenos vagões.
Então não há tempo de espera, o intervalo entre um e outro é de cerca de 15 a 30 segundos. É assim que operam:
Como podem ver pela foto, há uma distância de cerca de 10 metros entre eles quando estão no ar.
Ao chegar na estação reduzem em muito a velocidade, mas não param.
Então eles se enfileiram na plataforma, sem parar mas indo bem devagar, de forma que até um idoso ou deficiente pode embarcar com todo conforto e segurança.
Há funcionários orientando e auxiliando os que precisam. Cada carrinho tem capacidade pra 10 pessoas, 4 sentadas em cada fileira de bancos e 2 em pé no meio.
O metrô-cabo é metrô. Faz parte da rede, é integrado gratuitamente as estações onde operam os trens.
E custa o mesmo preço, tanto faz embarcar nas estações onde só operam trens, onde só operam o bondinho ou nas duas em que os modais se encontram.
Alguns mapas, erroneamente, ao retratar o metrô de Medelím, excluem as linhas de cabo.
É um erro de fato e de direito. Talvez por não terem utilizado, as pessoas que desenharam pensam que o cabo é turístico, opcional, e que leva ao um parque ou algo assim. Nada poderia ser mais distante da realidade.
O cabo é transporte de massa, barato, e liga as piores favelas ao metrô, e consequentemente a cidade toda.
Tanto que os ramais do cabo são linhas regulares do metrô, recebendo os códigos J e K.
A linha Sul-Norte (via Centro) é a linha A, enquanto a Centro-Oeste é a linha B.
Digo, há uma linha de metrô-cabo que realmente é turística, leva a um parque fora da cidade, e por isso opera em horários diferenciados.
Mas as outras duas são transporte de massa, parte da rede de metrô de fato e direito.
Claro, há algumas desvantagens. Em caso de tempestades com ventos fortes o sistema é interrompido.
Além disso, uma vez por ano o cabo precisa parar duas semanas pra manutenção. Quando estava lá, a linha K (que fica na Zona Norte) estava fechada.
Só andei na linha J, que fica na Zona Oeste, ligando algumas de suas enormes favelas a região de classe média.
Mando o mapa, onde podem ver também a expansão que está sendo construída na Zona Sul, chegando ao município de Estrela. Isso quando fiz o texto, em 2011. Agora já está operando essa ampliação.
Falando nisso, um apêndice: estou falando em Zonas Oeste, Sul, Leste e Norte porque utilizo o jargão brasileiro, e também argentino.
As cidades brasileiras, bem como Buenos Aires, é que se dividem com essa nomenclatura.
Na Colômbia é diferente. Norte e Sul são Norte e Sul mesmo, mas Leste e Oeste são Oriente e Ocidente. E não se usa o termo ‘zona’ nem qualquer outro equivalente.
Então quando digo “na Zona Sul da cidade”, eles dizem apenas “no Sul da cidade”, e “na Zona Oeste de Medelím” é “no Ocidente de Medelím”.
Enfim, agora quanto as vantagens. É muito mais rápido e barato de se construir que o metrô convencional, de trilhos.
Nem sei se seria possível fazer o metrô subir o morro, pois o ângulo de inclinação é muito elevado.
Alguns bairros de Medelím estão a mais de 300 (ou mesmo mais de 500) metros acima da região central. É isso mesmo.
Fui na parte rica da Zona Sul. Até o clima é diferente, mais fresco, esquilos andam pelas ruas pois a região é forrada de bosques.
Mas esse, como dito, é o único morro habitado pela elite, as outras encostas estão pesadamente favelizadas.
Dessa forma, mesmo que fosse viável fisicamente seria inviável financeiramente fazer o metrô normal chegar nos bairros mais pobres, pois o gasto seria astronômico.
Então esse metrô-cabo foi uma verdadeira revolução. Como é notório, liga as piores favelas ao metrô convencional, ou seja, a cidade inteira. Sem custos extras pros moradores.
Foi a partir da instalação do metrô, seja na versão de cabo ou de trem, que a periferia de Medelím começou a se acalmar, resultando que hoje ela não é diferente das cidades brasileiras em termos de violência urbana.
Eternit já é luxo –
A cidade tem muita favela, e são miseráveis, em morro. Há partes em que simplesmente não se chega de carro, só de moto (e olhe lá) ou a pé. Bem, as imagens dizem tudo.
Um detalhe interessante é que aqui no Centro-Sul do Brasil e até a Bahia, como é sabido, a maioria das casas em periferia, tanto nas favelas quanto nos loteamentos regulares, tem o telhado de eternit.
Bem, na Colômbia não, o teto de muitos dos barracos é de zinco, um metal. Isso torna as casas insuportavelmente quentes no verão e insuportavelmente geladas no inverno.
Na África do Sul as favelas também são de zinco, com o agravante que lá mesmo as paredes são desse material, alias por isso as essas periferias sul-africanas são chamadas ‘cidades de lata’.
Na Colômbia ao menos é só telhado que é de latão. As paredes são de alvenaria, madeira ou papelão, conforme a renda da família. As favelas da Colômbia, como as do Brasil e toda parte, também têm alto grau de estratificação social dentro delas.
As partes mais antigas são asfaltadas, com sobrados de alvenaria, é possível ter carro, passa ônibus perto, enfim um bairro minimamente civilizado embora os serviços públicos sejam precários.
Já as bordas da favela são ‘a periferia da periferia’, áreas recém-invadidas onde vivem mesmo aqueles que não têm nada.
É impressionante sobrevoar esses locais, há casas que estão no meio da mata, numa encosta muito inclinada, onde só se chega a pé. Felizmente agora há a estação de metrô-cabo, o que ao menos minorou a caminhada.
Sinais antes do fim –
Com mais ou menos estrutura, o fato é que as favelas abrigam perto da metade da população medellinense. O metrô-cabo foi uma medida importante, mas muito ainda há por fazer.
Coleta de lixo e rede de saneamento básico nessas áreas então, nem pensar. Um cenário de destruição, parece o apocalipse.
Aí me deparei com uma cena muito curiosa. O teleférico sobrevoa um riacho, no meio da montanha. Numa de suas pedras alguém pintou o título “Sinais antes do fim, Lucas 21-7”.
Escreveu em letras garrafais, dá para ler nitidamente lá de cima, o contraste entre o mineral negro e os escritos em branco.
Fui ler o versículo. Trata-se do que irá ocorrer indicando que essa civilização está o fim, na visão dos que assim creem.
Diz que “aparecerão os falsos profetas, e os que creem de verdade serão castigados pelos poderosos por sua fé. Aparecerão doenças e guerras, e por toda parte haverá destruição.
E por fim, quando chegar a hora final, as cidades serão arrasadas, devendo por isso quem estiver no campo ali permanecer, e os que ainda estiverem nas cidades que a deixem o quanto antes”.
Citei o sentido do que está escrito na Bíblia, sem me preocupar em transcrever as palavras ‘ipsis-litteris’. Quem fez essa pintura teve uma ideia genial.
Mesmo que alguém não acredite no “fim do mundo” na conotação religiosa não pode negar que o que está vendo ali é uma cena apocalíptica:
Que prenuncia uma grande mudança em nosso modo de vida e em como nos relacionamos uns com os outros e com o planeta.
Esse Renascimento, da Colômbia em geral, e de Medelím em particular, é parte disso. É parte da ‘Nova Terra‘ que está surgindo. Como eu escrevi em outra parte:
” Medelím é feroz! Ontem, um poder incrível usado pra destruir, exemplo mundial de cidade em que tudo dava errado.
Hoje, usa o mesmo poder pra construir, e se torna cidade-modelo pra América e pro mundo como lugar que as coisas dão certo. Eu tiro meu chapéu. Respeito a quem merece . . . . “
Assim É. Civilização: América.
O Novo Homem está surgindo. E ele será pacífico. Priorizará o diálogo ao invés da agressão.
A Pacificação de Medelím já é um ensaio desse Processo Maior.
Do Chumbo a Era Dourada. Alquimia é isso e não há outro.
A Raça Americana Surgiu. Não há mais como parar esses despertar.
Vamos em Frente, Sempre.
E Deus proverá.