Soteropolitano

salvador é américa! e como é!!!

Corredor da Vitória: bairro de Salvador que tem o m2 mais caro do Nordeste e Norte do Brasil. Alguns prédios têm teleférico e clube particular. Porém logo ao lado, na mesma encosta, está a favela da Gamboa. A favela é sempre feita de moradias improvisadas, essa é sua definição mesmo. Mas na “comunidade” da Gamboa essa ‘maleabilidade’ é levada a um ponto extremo, as casas se espremem entre a avenida e o mar.

Por Maurílio Mendes, O Mensageiro

Publicado em várias etapas, em 2015 e 2017; atualizado em 2021.

Originalmente essa postagem foi feita pra mostrar alguns desenhos. Em 2021 modifiquei o formato, pra torná-la uma reportagem.

Maioria das imagens puxadas da internet. As que forem de minha autoria identifico com um asterisco ‘(*)’.

Então iniciemos por um emeio que circulou em 4 de setembro de 2015 (5 anos antes de eu ir pessoalmente a Bahia, portanto):

PUXADINHO NO PRÉDIO, GENTE NAS CAÇAMBAS, GARAGENS NA VIA PÚBLICA:

SALVADOR TAMBÉM É (ÁFRICA NA) AMÉRICA

Salvador tem muito orgulho de ter sido a “Primeira Capital do Brasil“.

Vejamos então outras situações de improviso pela cidade: Costa Azul, orla da capital baiana – como o nome do bairro indica. Alguns prédios populares da rua não têm garagem. E o que os moradores fizeram? Simples: instalaram coberturas na via pública e transformaram ela de estacionamento pros seus carros. Alguns botaram até correntes pra delimitar que o uso é particular. A galera se adonou do espaço que deveria ser de todos, privatizaram a calçada por sua conta própria. Essa foto e outras na matéria são via ‘Visão de Rua do Google Mapas’  (você percebe pelo homenzinho andando pelo mapa), mas eu vi pessoalmente a mesma coisa no Chile. Esse país trans-andino, que entre a burguesia pode ser famoso por seus vinhos e estações de esqui, nas periferias também é tão ‘flexível’ com as regras quanto o resto da América Latina, ou ainda mais ‘flexível’ sendo mais franco.

80% de seus moradores são afro-descendentes, é uma das metrópoles mais negras do mundo fora da África.

De forma que nem precisa explicar, a cidade – como o Caribe – é a ‘África na América’.

Além disso, diz uma música que “não existe pecado do lado de baixo do Equador“.

O chamado ‘Sul Global’ é “diferente” – quem tiver ouvidos que ouça . . .

Na América Latina, África e boa parte da Ásia as regras são mais “flexíveis”, se quiser chamar assim.

As fotos ao lado e abaixo deixam nítido o que quero dizer.

Veja bem: não estou falando em tom de julgamento, que fique claro.

Sou Americano. “Sou Louco por ti, América”. Continente América.

Somos Americanos. Aqui, as vezes a legislação ‘não pega’. Fazer o que? É o que somos.

salvador1

Próximas 2: Perambués, Salvador, América. O prédio já estava pronto, mas alguém resolveu construir mais um andar, por conta (a dir. a mesma imagem, vista mais de perto). Será que algum engenheiro assinou a reforma??? Além de boa parte da América Latina essa situação é o padrão também no mundo árabe – Jordânia, Palestina e Líbano já foram filmados pelo ‘Visão de Rua’.

Não estou criticando, repito. Apenas constatando. Isto posto, sigamos.

Debatemos em outra mensagem o fenômeno do “puxadinho no prédio” no Chile.

E anteriormente na República Dominicana,  apelidada justamente assim, a “África na América”.

O ponto é que não estou falando de puxadinho em casa, nem em “prédio artesanal” (‘enchendo laje’), quando sobem um andar por vez.

Isso existe em toda América Latina e boa parte de Ásia e África.

E sim quando há um prédio, legalmente construído, com alvará e tudo. salvador

Sem alvará alguém sobe mais um andar por sua conta.

Ou no caso chileno faz mais um cômodo suspenso. Isso eu só tinha visto nesses dois países.

salvador-2

Ainda em Salvador. Uma freada forte ou uma curva fechada e o rapaz pode ir pro chão. Vi pessoalmente o mesmo, muitas vezes, em diversas partes da América Latina, e pela internet até em Atlanta-EUA. Bons tempos eram os do 11-13, quando os Mercedes tinham o motor saltado a frente.

Porém acabo de presenciar – virtualmente – o mesmo em nossa Pátria Amada (2 fotos acima):

Bairro Perambués, na periferia de Salvador da Bahia.

Depois, indo pra outros bairros, constatei que a situação é a mesma na cidade inteira, ao menos na periferia.

Que beleza!!! Salvador é América, óbvio. E como é. A própria essência Americana desdobrada na matéria.

………

Vivendo um Sonho de Metal, pra se Sentir Total” na Boa Terra. O desenho do buso da BTU nos lembra de 2 coisas que não existem mais: carroceria Busscar e o transporte de Salvador com pintura livre.

Atualização de 2017: em julho de 2016, quase um ano depois do emeio reproduzido aqui, fui a Aparecida-SP (“Aparecida do Norte”).

Lá também é comum adicionarem mais andares em prédios já prontos.

Embora no caso paulista como inclusive no Centro aí creio que a maioria dos prédios tem alvará pra reforma.

Pode ser. Ainda assim, a impressão que passa é a mesma.

Na ‘vida real’ agora, 2 Busscar da ‘B.T.U., iniciais de ‘Bahia Transportes Urbanos (a fonte é o portal Ônibus Brasil). Ela fazia linhas municipais e metropolitanas em Salvador. Aqui um municipal, mais novo, do último modelo fabricado pela Busscar. Pelo visto a viação era grande cliente dessa finada montadora de Joinville-SC.

Veja a matéria sobre a “Cidade da Fé”, fotografei a situação que acabei de relatar.

Deixando o interior paulista pra lá, vamos continuando pela Bahia. . . Pois o melhor estava por vir.

Seguindo pela mesma rua em Perambués, olhe o que eu vi, a esquerda acima:

Pessoas andando sem nenhuma proteção na caçamba de caminhões.

E, ressalto, não foi a única vez em Salvador que presencio isso.

Exatamente como aconteceu na Argentina, África do Sul, República Dominicana, México e Colômbia. 

Em tomada antiga (prov. dos anos 90), BTU puxando linha metropolitana, pra Lauro de Freitas. Em Salvador a linha vinha escrita inteira no vidro, em letras garrafais, característica que perdurou até pouco depois da virada do milênioem Belém-PA um pouco mais, adentrou a década de 10 do novo século. No Rio os busos também faziam isso, mas lá foi bem antes, nos anos 50 e 60 do século 20.

Ah, América querida (e o mesmo vale pra África querida) . . . . Por que você é assim???

…….

Veja o desenho do busão sendo ultrapassado pela moto (é um Busscar da Bahia Transportes Urbanos – B.T.U.). Mostra algumas características da busologia baiana.

Um dia farei uma mensagem com dezenas de fotos, por hora serve de aperitivo. Vou relembrar um tempo que já se foi, da era pré-padronização de pintura e pré-letreiro eletrônico.

Num passado não muito distante, em Salvador, os ônibus tinham:

Tarde em Itapuã” – na 2ª metade da década de 10 veio a padronização ‘Integra Salvador‘, que dividiu a cidade em 3 faixas, cada uma operada por um consórcio (*). A BTU entrou na faixa da Orla, azul, participando do consórcio Salvador Norte. Assim ficou sua frota nas linhas municipais (foto na beira-mar, na divisa entre Itapuã/Piatã/PlacaFor). Fiz matéria específica sobre transporte, detalhando todos os modais com muitas fotos.

1) pintura livre; 2) entrada traseira e saída dianteira; 3) o letreiro menor, onde vinha o n° da linha, era vermelho.

Portanto não é porque esse ônibus é vermelho que o letreiro do número é da mesma cor, isso valia pra todas as empresas.

4) Quase todo o itinerário vinha no para-brisas, em épocas mais remotas pintado a mão com giz.

Mais recentemente mais organizado numa grande placa ou adesivo, mas ainda bem grande, visível de longe no vidro.

Nesse desenho pegamos a transição, há a placa mais organizada mas pra garantir escreveram ‘Paripe’ e ‘Lapa’ a mão.

Outra foto na beira-mar, mas essa mais perto do Centro. A frente um buso metropolitano da BTM, em vermelho, xerocando o municipal azul que vem atrás do consórcio Salvador Norte (*). As viações metropolitanas não entraram no ‘Integra Salvador’, que é uma padronização municipal. As inter-municipais continuam em pintura livre. Pra operar as linhas da BTU que ligam a capital a Lauro de Freitas foi criada outra empresa, a BTM – Bahia Transportes Metropolitanos. E ela adotou uma pintura idêntica ao ‘Integra Salvador’, apenas usando a cor vermelha, que não existe no sistema municipal. O fez por que quis, numa homenagem, e não por ter sido obrigada, pois repito as viações metropolitanas ainda podem decorar sua frota como quiserem.

E 5) existe uma letra (‘B’, nesse caso) também adesivada bem grande no vidro. 

Isso da mesma forma ocorre em outras metrópoles como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre-RS.

É que nas grandes avenidas passam dezenas de linhas de ônibus, então é preciso dividir elas por pontos diferentes:

Algumas param no ponto ‘A’, outras no ‘B’, se tiver mesmo muitas abre-se o ‘C’.

E até a letra ‘D’ existe nos corredores mais carregados. As vezes são números, a função é a mesma.

Tem mais. Uma vez que falamos da cor dos bichões da BTU.

Essa foi uma das poucas viações que não adotou a “padronização branca” voluntária do começo desse milênio. 

Explico. Até o meio da década de 10, ainda era pintura livre na capital da Bahia.

Salvador, a foto foi feita de dentro do Elevador Lacerda (autoria de um colega).

Só padronizou oficialmente um pouco depois da Copa do Mundo-14.

No entanto perto da virada do milênio houve uma “padronização informal” na cor branca.

A maioria das viações adotou uma pintura em que o branco era majoritário, embora houvesse detalhes em outras cores

Foi voluntário, um acordo entre as viações talvez pra facilitar o remanejamento da frota entre elas.

Não foi imposto pelo poder público. Logo, aderia quem quisesse. A maioria quis, e ficou sem cor nos seus veículos.

Elevador Lacerda, cartão-postal da cidade (*).

(Antes de embranquecer de vez era comum uma ‘saia’ [metade inferior da lataria] colorida e a ‘blusa’ [parte superior, sob as janelas] colorida, em muitas viações – nessa outra postagem vemos um exemplo da BarraMar.)

Na época se comentava “em terra de gente negra, o ônibus é branco”.

Bom, nada é por acaso. Salvador é também a “África na América”.

E na África as vans de transporte coletivo são (quase sempre) alvas.

Do outro lado do Oceano o mesmo espírito se manifestou na Boa Terra.

Pois bem. A BTU não quis participar, preferiu manter sua pintura tradicional. Não aderiu a “padronização branca” informal (exceto com alguns poucos veículos).

“SOBE” – encerro com outro desenho, uma ascensorista. Numa cidade mundialmente famosa por um elevador, nada mais justo (publicado em 3 de agosto de 2016).

Seus busões, na imensa maioria da frota, continuaram multi-coloridos enquanto foi permitido por lei.

Depois veio – pouco antes da Copa de futebol, como dito – a padronização  denominada ‘Integra Salvador’, a 1ª da cidade. 

Aí a BTU entrou porque foi compulsória, imposta pela prefeitura.

Como dito na legenda, a cidade foi dividida em 3 faixas, cada uma operada por um consórcio.

A BTU agora é parte do consórcio Salvador Norte, que pinta seus veículos em azul.

A ‘Integra’ também inverteu a entrada pra frente, em todas as viações obviamente.

“Deus proverá”

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