INTEGRA A “ENCICLOPÉDIA DO TRANSPORTE URBANO BRASILEIRO“
Por Maurílio Mendes, O Mensageiro.
Publicado em 22/04/22.
Maioria das fotos baixadas da internet. Créditos mantidos sempre que impressos nas mesmas.
As que forem de minha autoria identifico com um asterisco ‘(*)’, como visto abaixo a esquerda.
Salvador passa por um renascimento, como alias já comentei nas matérias anteriores da série.
No transporte coletivo o mesmo se dá, é o exemplo da retomada da cidade ao destaque que merece.
Na primeira parte do texto falaremos desse re-erguimento digno de uma fênix.
A seguir contaremos um pouco da história do transporte soteropolitano no século, relembrando detalhes pouco conhecidos.
PARTE 1: SALVADOR, CIDADE-MODELO DO TRANSPORTE BRASILEIRO –
Óbvio que muita coisa há ainda por ser feita. Evidente que sim.
Ainda assim, comparando como era a pouquíssimos anos atrás (escrevo em 22) não há como negar que houve avanços significativos.
Pela maior parte do século 20 e início do 21 a mobilidade urbana soteropolitana era bastante precária.
Isso pra dizer o mínimo. A foto em preto-&-branco acima resume bem a situação.
Quando estive lá em 2020 o quadro já era bem diferente, após a inauguração de 2 linhas de metrô e a revolução no sistema de ônibus do ‘Integra Salvador’.
Ambos os movimentos são parte de um único processo, já que com uma passagem você pode usar 1 vez o metrô e 2 o ônibus.
E isso inclui a Grande Salvador. Podem ser 2 viagens municipais da capital, ou um municipal e um inter-municipal.
Ou seja, não importa onde você mora, se no município de Salvador ou num subúrbio metropolitano.
Com uma só passagem você chega da sua casa a estação de metrô, faz o grosso do deslocamento no modal sobre trilhos, e aí pega mais um busão pra chegar ao trabalho.
Tudo isso pagando somente uma vez, e a mesma tarifa que já pagaria num único deslocamento de ônibus.
Além disso, diversos terminais foram construídos nas estações de metrô.
As linhas de ônibus seccionadas ali pra que a população migre pro modal sobre trilhos.
O que faz todo sentido em termos de trânsito e poluição.
Vai ficar melhor ainda. A linha 1 do metrô ainda ganhará mais 2 estações, até Cajazeiras.
Uma medida que assim que concluída melhorará bastante a mobilidade do subúrbio, tanto municipal quanto metropolitano.
As linhas serão seccionadas ali, se tornando alimentadoras do metrô.
Só que além disso a Rodoviária sairá da Zona Central e também será transferida pra um novo prédio ao lado da estação de metrô.
Num processo idêntico ao que ocorreu em Brasília-DF e outros lugares.
Com isso mais algumas centenas de ônibus por dia (nesse caso os rodoviários) não mais adentrarão os bairros centrais.
Gerando menos congestionamento e queima de dísel na cidade.
Se tudo fosse pouco, o antigo trem suburbano foi desativado pra dar lugar ao VLT.
E transversalmente as linhas de metrô e (futuro) VLT virão os corredores de BRT, que serão operados por articulados.
Formando uma malha de dar inveja, ao menos pras cidades de mesmo porte fora da Europa e Ásia.
………
Salvador é uma península. Uma geografia bem peculiar.
O que faz com que os subúrbios da Grande Salvador sejam muito distantes do polo de empregos, que evidentemente é a parte turística mais central.
A massa de terra que a cidade ocupa é comprida no sentido norte-sul e curta no sentido leste-oeste.
Comprida e estreita, resumindo. Muito mais gente viaja do norte pro sul de manhã (vice-versa a tarde) que entre o leste e o oeste.
Então. Já existem 2 linhas de metrô, e breve virá a de VLT.
3 ramais sobre trilhos, correndo paralelamente entre si, da periferia pra área central, que concentra maior demanda.
Atendendo todas as ‘zonas’ de Salvador: Subúrbio Ferroviário, Miolo e Orla.
E inter-ligando as orlas, do Atlântico e da Baía, em breve o BRT – cumprindo o sentido leste-oeste.
Perfeito. Sobre trilhos a demanda principal, sobre pneus como alimentador do sistema de trilhos.
Antes do metrô ir de Lauro de Freitas ou Simões Filho até a Orla diariamente numa migração pendular laboral era bem complicado.
De Camaçari ainda mais, e daí pra frente o sacrifício se torna cada vez maior.
Bem caro esse deslocamento, se o meio escolhido for automóvel próprio – que muitos trabalhadores braçais nem sequer possuem.
De ônibus sai mais em conta, mas é preciso enfrentar uma viagem desconfortável e demorada.
Agora, desde 2014, Salvador conta com metrô, o que facilitou e muito a vida de quem utiliza transporte coletivo.
Sua mobilidade urbana melhorou bastante na última década (texto de 2022).
Em junho de 2014, sendo mais específico, Salvador se tornou a 3ª cidade do Nordeste a contar com metrô, após o Recife-PE (1985) e Fortaleza-CE (2012).
Voltando a Bahia, a inauguração foi bem a tempo pra Copa do Mundo de 2014 – a qual Salvador foi uma das sedes.
Logo antes dos jogos começou a operar a 1ª linha do metrô de Salvador, com 4 estações.
Pelo próximo ano e meio, até o fim de 2015, a Linha 1 foi aumentada até atingir seu atual trajeto, que conta com 8 paradas.
Ainda será ampliada em mais alguns quilômetros em direção ao subúrbio.
Em dezembro de 2016 veio a linha 2, próxima a Orla, cujo ponto final por enquanto é no Aeroporto 2 de Julho (o chamo por seu nome antigo).
E em breve a linha de trem suburbano que corria na margem da Baía de Todos os Santos será modernizada pra VLT – Veículo Leve sobre Trilhos, o ‘metrô leve’.
Esse trem foi desativado em fevereiro de 2021, pra dar lugar as obras dos trilhos e estações do VLT.
Não era sem tempo, o trem funcionava de forma bastante precária.
Tanto que a tarifa no seu encerramento de atividades era apenas R$ 0,50 (sim, cinquenta centavos), senão ninguém utilizava.
Quando o VLT estiver pronto, aí sim a cidade contará com 3 linhas ferroviárias paralelas de qualidade:
Uma na Baía, outra no Miolo e mais uma na Orla. Vai ficar bom.
A rede de ônibus também foi e continua sendo bastante modernizada. Então nos basta ter isso em mente:
Do meio da década de 10 pra cá a situação da mobilidade urbana em Salvador se modernizou bastante, processo que ainda prossegue.
No entanto, por todo século 20 e também na primeira década do novo milênio o transporte coletivo da capital baiana deixava a desejar, pra dizer o mínimo.
Então some tudo: a cidade é estreita e é uma das maiores metrópoles do Brasil a décadas.
Tem pouco terreno disponível pra novo loteamentos, especialmente de padrão popular.
A região metropolitana é distante, e até pouco tempo atrás o deslocamento entre as cidades-dormitório e os polos mais abastados era bastante difícil.
Resultando que as pessoas preferem morar no município de Salvador mesmo.
A periferia municipal já é distante da Orla e do Centro, onde estão os empregos.
A periferia metropolitana, então, é ainda mais distante. A preferência é morar na capital.
nos seus primeiros séculos a Costa Atlântica era um local distante, pouco povoada.
Salvador se desenvolvia em volta da Baía da Todos os Santos.
Até fins do século 19 e começo do 20, a Praia da Ribeira, ali localizada, era o reduto da elite e alta burguesia da capital baiana.
Até hoje vemos imponentes casarões na beira-mar da Ribeira que atestam esse passado de luxo.
Porém o século 20 trouxe grande progresso material ao planeta, como todos sabem.
A chegada do automóvel e a construção e melhoria das vias públicas possibilitou que a cidade se expandisse cada vez mais rumo a costa de mar aberto.
Além disso, a pirataria deixou de ser um problema como fora em tempos anteriores.
Assim, os moradores mais abastados foram deixando a orla ocidental soteropolitana, a da Baía, e se instalando na orla oriental, a Atlântica.
Com isso, as duas costas de Salvador passaram a expressar uma dicotomia cada vez mais aguda.
A parte aburguesada no oceano, a porção da baía foi se tornando cada vez mais a periferia da cidade.
Por quase 5 anos, de 2016 a 2021, esse contraste podia ser visto até no transporte:
Na Costa Atlântica existe um moderno metrô, construído sobre a Avenida Paralela.
Enquanto que a outra costa, a da Baía, contava até pouco tempo atrás com um trem de subúrbio que funcionava em estado, digamos, longe do ideal.
Por isso os bairros as margens dessas praias são conhecidos em Salvador como “Subúrbio Ferroviário”.
Em fevereiro de 2021 esse trem foi aposentado pra dar lugar a um moderno VLT. Aí sim!
Quando o VLT estiver pronto os bairros do ‘Subúrbio’ terão acesso a um transporte de qualidade, já disponível no Miolo e Orla com as 2 linhas de metrô.
Os primeiros vagões, fabricados na China, tem previsão de chegada ao Brasil em abril de 21.
Veremos quando serão concluídas as obras dos trilhos e estações do VLT – as do metrô atrasaram bastante.
Seja como for, em algum momento dessa década de 20 que se inicia (publicado em 2022, lembrando) o VLT estará em funcionamento. Que assim seja!
Porque olhe, o pessoal do ‘Subúrbio Ferroviário’ merece um transporte de qualidade.
O trem suburbano que o nomeia era totalmente precário, deixava a desejar em muito.
Tive a oportunidade de andar nele num de seus últimos meses de funcionamento.
Basta dizer que a tarifa era irrisória, somente R$ 0,50. Sim, cinquenta centavos.
E mesmo assim ainda tinha o benefício de meia-passagem pra estudantes!
Era cobrado algum valor apenas pra não dizerem que era de graça.
E mesmo com todo o subsídio pra cobrar esse preço simbólico, que obviamente não cobre os custos, o movimento era baixíssimo.
O trem era sub-utilizado, exatamente porque a qualidade dos serviços era precária
Pra você ter uma ideia, o intervalo entre as viagens era de 40 a 45 minutos.]
Só pegavam trem os que quase não têm recurso e não podiam arcar com o ônibus.
(Em 2021, quando escrevi esse texto, a tarifa em Salvador custava R$ 4,20 – como comparação em Curitiba é 4,50, e em SP 4,40;
Em 2022 o ônibus em Curitiba foi pra 5,50, e em Salvador agora é 4,40.
Mesmo valor de SP, onde não houve aumento até o momento que publico a mensagem.)
Então, como dito, na 2ª metade dos anos 10 o contraste entre as costas da cidade era expresso até nos modais sobre trilhos, que não poderiam ser mais distintos:
Na Orla (e também no Miolo) metrô com ar-condicionado, de domingo a domingo.
Intervalo entre as viagens de cerca de 6 minutos no meio do dia (3 no pico).
Com a imensa vantagem que as estações e trens são seguros, bem policiados.
Sim, a tarifa custa 4,40. Mas pagando com cartão dá direito a uma viagem de metrô e duas de ônibus, municipais ou metropolitanos.
Se fosse somente de ônibus, o usuário já pagaria os mesmos 4,40.
Ou seja, pega um ônibus perto de casa até a estação do metrô.
Dali percorre de forma rápida, segura e relativamente confortável o trecho mais longo.
E ao descer na estação pega outro buso que o deixa no trabalho.
No Subúrbio Ferroviário a situação era diametralmente oposta:
A única vantagem do antigo meio de transporte era o preço, praticamente gratuito.
Sabe aquele ditado ‘não paga, mas também não leva’? Com o trem suburbano de Salvador era o mesmo.
Pagava-se muito pouco pela tarifa, verdade. Com uma moeda de R$ 1 você ia e voltava.
Em compensação, não tinha integração com ônibus nem metrô.
Se precisasse mais uma condução pagava de novo – e a maioria precisava.
Difícil quem more e também trabalhe ao lado da estação, aí o trem já saía mais caro que o metrô/ônibus.
Mesmo quem usava só o trem, o custo era baixo mais a qualidade do serviço idem.
40 minutos de espera entre as viagens, ou mais. Veja ao lado:
Há até cartazes na estação indicando quando sai o próximo trem.
Assim as pessoas podem dar uma volta, tomar um sorvete, e voltar dentro de meia-hora em muitos casos.
(Passei pessoalmente por isso em João Pessoa-PB em 2013.
Iria retornar a capital do subúrbio de Santa Rita na Zona Oeste.
Li então no aviso que ainda faltava praticamente uma hora.
Andei um pouco pela cidade, tirei mais fotos, pra só depois voltar a bilheteria.)
Voltando a Salvador. Longa espera. Pra embarcar num vagão sem ar-condicionado – é sabido que a capital baiana é bem quente.
Pra não falar que da insegurança, assaltos e apedrejamentos eram frequentes.
No começo dos anos 90 o trem já havia deixado de operar aos domingos justamente porque a população que voltava das praias depredava as composições e estações.
O movimento era muito baixo. Apenas os que não podiam arcar com o ônibus, iam de trem. Quem podia preferia viajar de busão.
Se o modal sobre trilhos, mesmo sendo quase gratuito e mais rápido que o sobre pneus, não consegue competir com este último algo está errado.
É porque o serviço deixa a desejar. No trem suburbano de Salvador era de fato assim.
Só que quase ninguém usa, exceto aqueles pra quem até uma moeda faz falta, todos os demais vão de van (preferencialmente) ou de ônibus pro trabalho.
Voltando ao próprio Nordeste, já disse acima que andei nos trens suburbanos de João Pessoa (2013); e também no de Fortaleza (2011).
Idem: barato, mas operando de hora em hora praticamente, bastante sub-utilizado.
A capital do Ceará tinha duas linhas nessas situação. A Linha Oeste, que vai pro Conjunto Ceará e a seguir Caucaia, continua dessa forma.
No entanto a Linha Sul, que passa por Maracanaú e tem o ponto final em Pacatuba, foi transformada em metrô.
Isso uma década antes de Salvador fazer o mesmo movimento. Como dito e todos saem, o metrô fortalezense é de 2012.
Estive no Ceará em agosto de 2011, um pouco antes. O metrô estava em fase final de obras, não pude utilizá-lo.
Fui de trem até Caucaia, entretanto. Cheguei sábado de manhã a Estação Central.
Se na bilheteria havia algum cartaz avisando o horário da viagem eu não reparei, paguei a passagem e entrei.
A composição acabara de partir. Tive que esperar uma hora pela próxima viagem.
Sendo que a maior parte do tempo fiquei praticamente sozinho na estação, acompanhado apenas pelo segurança.
Espero que essa linha pra Caucaia também seja melhorada pra metrô, em breve.
PARTE 2, SÉCULO 20:
TREM DE SUBÚRBIO, TRÓLEIBUS, VIAÇÃO ESTATAL, Nº DA LINHA EM VERMELHO, “PADRONIZAÇÃO BRANCA”;
E AS 1ªs TENTATIVAS DE PADRONIZAÇÃO E HIERARQUIZAÇÃO DAS LINHAS –
O trem suburbano de Salvador foi inaugurado em 1860. Foi a 5ª ferrovia do Brasil. Operou por 160 anos, até o começo de 2021.
O projeto é de 1853, a obra começou em 1856 e o trecho urbano, que já passou a servir o subúrbio, foi inaugurado em 1860, como dito.
Em 1896 chegou a Juazeiro, no interior da Bahia e divisa com Petrolina/Pernambuco.
Entre 1937 e 53 foi duplicada, permitindo dessa forma viagens com maior frequência, pois as composições poderiam então se cruzar vindo em sentidos opostos.
A linha de trem foi eletrificada em 1948, melhoramento que ajudou os bairros do entorno, que até então não contavam com luz elétrica.
O mais curioso é que o trem de subúrbio soteropolitano já pertenceu a todas esferas administrativas: federal, estadual e municipal.
Em 1957 passou a ser parte da malha da RFFSA (Rede Ferroviária Federal S.A).
Em 1988 foi transferida pra CBTU (permaneceu na mesma esfera, pois essa é outra estatal da União).
Em 2005 foi municipalizada, mudando pra CTS – Cia. de Trens de Salvador, da prefeitura.
Enquanto que em 2013 se tornou responsabilidade da CTB – Cia. de Trens da Bahia, do governo do estado.
Uma gloriosa história. Que terá continuidade com a inauguração do VLT.
(Nota: não confunda a CBTU com a EBTU. A 1ª é a Cia. Brasileira de Trens Urbanos.
Ainda existe, e como o nome indica opera somente o modal ferroviário.
É responsável pelos trens de subúrbio [as vezes chamados de ‘metrô] em Belo Horizonte-MG, Recife, João Pessoa [esses 3 já tive a oportunidade de andar], Natal-RN e Maceió-AL.
Enquanto que a EBTU era outra estatal da união, a Empresa Brasileira de Transportes Urbanos.
Existiu de 1975 a 1991, já extinta a muito portanto. Nos anos 80 a EBTU investiu muito em sistemas de trens, tróleibus e ônibus a dísel no Brasil.
Por isso seu logo aparecia ao lado do da RFFSA não apenas em Salvador mas também no Rio.
E nos ônibus de Salvador, Brasília, Porto Alegre-RS, Recife, Santos e Ribeirão Preto (SP), entre muitas outras cidades.)
…………..
Vamos falar agora de outros modais, contando algumas peculiaridades do sistema de ônibus.
ELEVADORES –
Como todos sabem, o Centro é composto pela Cidade Baixa e Cidade Alta, unidas pelo famoso ‘Elevador Lacerda’, cartão-postal mais famoso de Salvador.
Bem, além dele há cumprindo a mesma função outro elevador tradicional e 3 ‘funiculares’ ou ‘planos elevados’ – nesse caso trata-se de um elevador que opera na diagonal.
No total são 5 elevadores, sejam na posição clássica vertical ou na diagonal.
Alguns são gratuitos, e outros cobram a tarifa simbólica de R$ 0,15 – sim, quinze centavos, em 2020.
O Elevador Lacerda é usado tanto pela população local quanto os turistas.
Tanto que ele leva quase um milhão de passageiros por mês, uma média de 28 mil/dia.
Já os ‘funiculares’ são pouco conhecidos dos turistas e eu diria mesmo da burguesia baiana, servem mais a classe trabalhadora.
O Elevador do Taboão foi reinaugurado em 2021, após décadas fechado.
Os 3 ‘funiculares’ se chamam Gonçalves, Pilar e Liberdade/Calçada.
Transportam cada um deles de algumas centenas a poucos milhares de passageiros por dia.
Andei no Elevador Lacerda, óbvio, quem vai a Salvador e não faz isso? Além dele utilizei também o plano inclinado Gonçalves.
STEC, OS “AMARELINHOS” –
Na periferia de Salvador circulam os micrões do STEC, o Sub-sistema de Transporte Especial Complementar.
Trata-se do antigo transporte clandestino, que em 1997 foi integrado ao sistema regular de transporte (no mesmo ano a viação estatal Transur foi extinta; falo dela abaixo)
São padronizados nessa pintura que vê a esquerda, brancos com a frente e faixa vertical amarela, daí serem conhecidos popularmente como ‘amarelinhos’.
Em 2020 eles passaram a ser plenamente integrados ao metrô.
Com uma passagem você pode usar o metrô e 2 ônibus – e a partir dessa data uma dessas viagens pode ser nos micrões ‘complementares’.
Não era sem tempo. O metrô é de 2014, e desde 2015 tem uma malha razoável de linhas.
Ainda assim, por mais de 4 anos as linhas do STEC não eram integradas, nem com o metrô nem com os ônibus das viações oficias.
Agora finalmente o são. Ainda bem, já que o transporte alternativo foi regularizado e regulamentado, também precisa ter integração tarifária aos demais modais.
Alias, esses ‘amarelinhos’ só fazem linhas nos bairros periféricos, pra não concorrer com os ônibus oficiais.
Num aparente paradoxo, a partir de certo ponto eles podem andar até pela beira-mar, alias na tomada a esquerda é exatamente esse caso.
É que a orla de Salvador é muito grande, são nada menos que 80 km de litoral.
Assim, as praias mais distantes do Centro são frequentadas basicamente pela classe trabalhadora, com pouca presença de turistas ou da burguesia local.
Por isso a prefeitura liberou a presença dos micrões “complementares” nessas regiões.
CACHORROS DENTRO DO ÔNIBUS: ESSA EU NUNCA HAVIA VISTO – Aceitei o convite musical, e fui “passar a tarde em Itapoã” no meu último dia na cidade.
Foi bem interessante, até pra fazer o contraste com as Praias de Ondina e da Barra, perto das quais fiquei hospedado.
Já contei como foi em outra oportunidade, com muitas fotos. Aqui nosso tema é o transporte.
Quando a tarde começou a caminhar pro final, pra fechar a visita ao Nordeste com chave-de-ouro fui conhecer a famosa Lagoa de Abaeté (no mesmo bairro) e o parque que há em volta dela.
Fiz o trajeto Itapuã/Abaeté usando o STEC. O mais curioso é que um usuário levou junto seu cão de estimação.
Essa realmente me uma experiência inédita. Sou “O Caminhante”, e há um motivo pra essa alcunha.
Além do mais sou busólogo, estudo os sistemas de transporte ao redor do mundo.
Tudo somado, já fui a milhares de favelas e periferias, nas 5 regiões do Brasil.
Em 7 países da América (EUA, Colômbia, México, Paraguai, República Dominicana, Chile e Argentina). E dei até um pega na África (do Sul).
Sempre de transporte coletivo, misturado ao povo dos subúrbios. Usei praticamente todos os modais que as cidades que visitei oferecem.
De Kombis e vans clandestinas ou legalizadas aquelas jardineiras coloridas da América Latina.
Fora muitos trens de subúrbio, alguns deles considerados bastante perigosos.
Agora, gente transportando animais eu jamais presenciara antes. Tudo tem uma primeira vez.
VANS –
Na Cidade Baixa pude constatar que Salvador ainda tem vans.
Bem, cada lugar tem sua realidade. Na capital da Bahia esse modal permanece ativo.
Infelizmente eu não pude usar as vans, por falta de tempo.
O detalhe curioso cliquei atrás de uma delas (a foto está mais pro alto na página, busque pela legenda).
Além da linha – escrita a mão com giz, tradição soteropolitana que falo melhor a seguir – vinha a inscrição ‘Papito 100%‘.
TRÓLEIBUS EM SALVADOR –
A capital baiana contou com ônibus elétricos por 9 anos, de 1959 a 1968.
A operação era por conta da SMTC – Serviço Municipal de Transporte Coletivo, viação estatal da prefeitura.
Eram 50 veículos, importados da Itália, e 23 km de rede elétrica, fabricada na Suíça.
Foi a 1ª cidade do Nordeste a ter tróleibus, antes do Recife e Fortaleza.
Entretanto no metrô as capitais de Pernambuco e Ceará deram o troco, e contaram antes com esse modal, mas essa já é outra história.
De volta aos tróleis que é nosso tema de hoje, Salvador foi a 6ª cidade brasileira a implantá-los, antes do Rio de Janeiro e Porto Alegre.
Entretanto no início o regime militar não quis investir em ônibus elétricos.
Entre 1967 e 1972 acabaram nada menos que 7 redes de tróleibus foram desativadas. Salvador foi uma delas.
Passados os “anos de chumbo”, pouco tempo depois o regime militar reverteu o curso.
Em 1975 foi criada a EBTU, como já dito acima e é notório.
Em sua última década, de 1975 a 1985, o governo federal investiu bastante em transporte.
Em diversos modais: tróleibus, corredores, terminais, trens, metrôs, articulados e também ônibus a dísel ‘pitocos’.
Tanto que duas cidades do interior de São Paulo, Ribeirão Preto e Rio Claro, implantaram seus tóleibus já nos anos 80, em 1980 e 86 respectivamente.
Esse ‘renascimento’ pra Salvador veio tarde, ao menos pro modal de ônibus elétricos.
A rede foi desativada em 1968, pra nunca mais ser retomada.
Ainda assim, a EBTU investiu nos ônibus a dísel na capital baiana.
Por isso vemos eles ostentando o logotipo desse órgão federal em algumas fotos feitas em 1981.
SMTC/TRANSUR: A “FROTA PÚBLICA” SOTEROPOLITANA –
Como muitas capitais brasileiras, Salvador também teve uma viação estatal.
Era chamada SMTC, foi criada em 1955 e durou até 1980. Nesse ano mudou de nome pra Transur, que rodou até 1997, quando foi privatizada.
Repetindo, os tróleibus de Salvador foram importados da Itália e eram operados pela SMTC.
Curiosamente em Santos (SP) foi exatamente da mesma maneira, seus busos elétricos vieram igualmente da Itália.
E a cidade do Litoral Paulista também tinha uma viação estatal chamada SMTC.
Ali os tróleibus ainda rodam. Santos e a Grande São Paulo são os únicos lugares do Brasil onde há tróleibus atualmente (2022).
No entanto, a SMTC santista deixou de existir em 1976, sendo substituída pela CSTC (Cia. Santista de Transportes Coletivos), outra viação estatal, que também acabou privatizada nos anos 90.
Falei dos paralelos com Santos pra voltar a Salvador. Na capital da BA os tróleibus duraram pouco, somente até 1968.
A SMTC baiana então passou a operar ônibus a dísel.
Até 1980, quando assim como sua xará paulista ela também foi renomeada, nesse caso como Transur.
Em 1997 foi privatizada, dando assim por encerrado 42 anos de história de ‘Frota Pública‘ na cidade.
Bem, na década de 90 quase todas as viações estatais foram vendidas a iniciativa privada.
Entre as capitais só restaram a Carris de Porto Alegre e a TCB de Brasília, sendo que a TCB só opera uma única linha.
………
Já seguimos com o texto. Antes uma galeria de fotos.
Relembrando o tempo da “padronização branca” informal que atingiu Salvador da virada do milênio a 2015.
“DEU BRANCO”:
A PADRONIZAÇÂO INFORMAL DOS ÔNIBUS –
Como todos sabem, Salvador padronizou pela 1ª vez os ônibus em 2015, quando a cidade já tinha até metrô.
(Obviamente a partir daí todas as viações terão mesmo que pintar sua frota de maneira igual, como determinado pela prefeitura, dentro do estilo ‘Integra Salvador’.)
Só que não é da padronização oficial que quero falar. Em sim do que ocorreu antes dela.
Desde uma década e meia antes, de perto da virada do milênio até 2015, houve na capital da Bahia uma padronização de fato, embora não de direito:
Quase todas as empresas pintavam os ‘carros’ de branco. O povo apelidou esse movimento de “brancão”.
Em algumas era inteiro alvo mesmo. Outras colocavam pequenos detalhes coloridos nos para-choque e rodas.
Ou faziam bem visíveis seus emblemas, pra personalizar. E haviam as viações que adicionavam uma faixinha colorida, bem discreta.
Só que o corpo do veículo era sempre majoritariamente alvo. E as viações não eram obrigadas então a fazê-lo.
Vamos enfatizar de novo, pros que não conhecem a capital baiana:
Agora sim houve padronização da pintura, compulsória, a “Integra”. Não confunda, da virada do milênio a Copa do Mundo de 2014 não havia.
Mesmo assim quase todas as empresas, por vontade própria, pintaram os ônibus num mesmo padrão, nesse caso sem cor no veículo.
Não todas, mas quase todas [a B.T.U. foi uma das principais exceções].
Se dizia por lá “em terra de gente negra, os busões são brancos”. Uma “padronização branca”.
E a palavra ‘branca’ nesse caso tem duplo sentido, tanto significando ‘informal’ quanto descrevendo fisicamente como ficaram os ‘carros’.
(Na década de 90, antes de embranquecer de vez muitas viações já estavam ‘ensaiando’:
Era comum uma ‘saia’ [metade inferior da lataria] colorida e a ‘blusa’ [parte superior, sob as janelas] colorida.)
Depois até essa ‘sutileza’ se foi. Ficou tudo descolorido mesmo.
Bom, nada é por acaso. Salvador é também a “África na América”.
Deus permitiu, e em 2017 pude conhecer um pouco da África.
Onde constatei que nesse continente, ao menos na parte austral dele, as vans de transporte coletivo são (quase sempre) alvas.
No país inteiro. Estive em Joanesburgo, Cidade do Cabo, Pretória e Durbã.
Não há qualquer padronização de pintura no caso das vans. Até porque elas são operadas pelo próprio dono.
Cada um pode comprar da cor que quiser. No entanto, 99% dessas vans são bancas, ou pelo menos 95%.
Do outro lado do oceano o mesmo espírito se manifestou na Boa Terra, acho que podemos resumir assim.
………
Curiosamente há um paralelo da capital da Bahia na virada do milênio com a capital do Paraná nos anos 70.
Explico: Curitiba também teve uma ‘padronização informal’ mesmo quando vigorava pintura livre. Na década de 70 cada viação daqui (Ctba.) ainda podia pintar sua frota como queria.
Acontece que quase todas adotaram decorações parecidas, sempre usando as cores verde e amarelo – em várias delas com detalhes em cinza.
Curioso, não? Curitiba e Salvador são cidades completamente opostas, em muitos sentidos.
Pra conversa começar uma é a capital mais branca do Brasil, e a outra exatamente ao contrário a mais negra.
(Nota: não estou fazendo um julgamento, nem pra lado da direita que cultua os euro-descendentes nem pra esquerda que cultua os afro-descendentes.
Não é um juízo de valor, repito. Não estou dizendo que uma é melhor e a outra é pior. Apenas que são diferentes.
E diferentes uma da outra é o que CWB e SSA são, isso você pode ter certeza.)
Cidades tão distintas, mas com algo em comum: suas viações voluntariamente caracterizaram sua frota de forma similar entre si, primeiro aqui, depois no Nordeste.
Registrado esse paralelo, voltemos com toda carga a nosso foco de hoje.
“INTEGRA SALVADOR”:
EM 2015, AÍ SIM, VEIO A PADRONIZAÇÃO OFICIAL –
A “padronização informal” durou até 2015, quando veio a padronização formal, obviamente me refiro a “Integra Salvador“.
Como é domínio público, a cidade foi dividida em 3 faixas: Orla, Miolo e Subúrbio.
O fundo do veículo é branco, com detalhes na cor de cada região, respectivamente em azul, verde e amarelo.
A entrada também foi invertida pela frente, uma das últimas capitais do Brasil a fazê-lo.
Até os anos 70 todas as cidades brasileiras tinham pintura livre e entrada por trás.
Curitiba foi a primeira cidade a padronizar e mudar o embarque pra dianteira.
Em 1974, quando surgiu o modal que foi chamado “Expresso” [hoje preferem usar a sigla em inglês ‘BRT’].
Nas demais linhas – Convencionais, Inter-Bairros, Alimentadores, etc – a princípio permaneceram a pintura livre [digo, mais ou menos, como detalhei acima] e entrando por trás.
Até que na virada pros anos 80 toda a frota municipal ficou unicolor, e sempre subindo pela frente.
As demais cidades do Brasil a partir dos anos 80 foram seguindo esse exemplo.
Hoje é quase universal a entrada dianteira e pintura padronizada.
Sei que tem gente que não gosta. Paciência. Como já escrevi na matéria sobre o transporte carioca:
“ Das 27 capitais do Brasil em apenas em 4 cada viação faz o que quer na sua frota.
Em 23 os ônibus têm pintura uniforme, sendo que em 21 há padronização oficial:
– Todas as do Sul (Porto Alegre, Florianópolis-SC e Curitiba);
– Todas as do sudeste exceto o Rio (São Paulo, Belo Horizonte e Vitória-ES)
– Também todas as do Centro-Oeste (Brasília, Goiânia-GO, Cuiabá-MT e Campo Grande-MS);
– 7 das 9 capitais do Nordeste (Salvador, Aracajú-SE, Maceió, Recife, Fortaleza, Teresina-PI, e São Luís-MA);
– No Norte, Belém, Manaus-AM, Rio Branco-AC e Palmas-TO igualmente.
Em Porto Velho-RO e Boa Vista-RR há uma ‘padronização informal’: só há uma viação em cada, então na prática toda a frota tem a mesma pintura.
(Em Boa Vista com exceção dos articulados e o bi-articulado.)
P. Alegre, Curitiba, SP, BH, Vitória, Goiânia, Belém e São Luís têm padronização incluso nas linhas metropolitanas.
Somente no Rio, João Pessoa, Natal e Macapá-AP nem mesmo os municipais contam com esse avanço. Veja bem, não quero dizer que a maioria está sempre certa.
Ao contrário, muitas vezes a massa age como rebanho e não reflete, repete o que está na moda.
Ainda assim é um fato que quase todas as capitais entendem que padronizar a pintura é melhor.
23 x 4 é um placar que dispensa quaisquer outras argumentações. ”
Isto posto, sigamos. Há 3 formas de padronizar a frota de uma cidade.
1) A mais simples é simplesmente pintar todas as linhas de uma única cor.
Na sua 2ª padronização, de 2014, Florianópolis adotou esse modelo. Há muitos outros casos Brasil e mundo afora.
2) Ou então se padroniza por categoria de linha (Expressos/Troncais/Radiais de uma cor, Alimentadores de outra, Circulares/Transversais/Inter-Bairros/Inter-Terminais ainda de outra, etc).
Além de Curitiba que o criou, fizeram da mesma forma entre outras:
Belo Horizonte, Recife (SEI), Fortaleza, Londrina e Ponta Grossa-PR, Sorocaba e Piracicaba-SP, Joinville e Blumenau-SC, Guaiaquil-Equador, Los Angeles-EUA (em algumas delas já descontinuado).
3) E pode-se também diferenciar conforme a região da cidade que a linha serve.
Assim o fizeram as duas maiores metrópoles brasileiras, São Paulo e Rio (nesse caso enquanto durou), e capital Brasília.
Bem como Porto Alegre, Brasília, Florianópolis (1ª padronização, não a atual), Campinas-SP, Belém, Recife (padronização dos Consórcios), Santiago do Chile, pra falar apenas algumas.
Salvador adotou esse esquema também, o de identificar o busão conforme a parte da cidade que ele vai.
……….
“TABELA TROCADA” – Uma breve pausa pra vermos outro improviso: na galeria abaixo ônibus de outras capitais operando em Salvador com a pintura original. Segura essa agora.
ARATU, A “CIFERAL DA BAHIA” –
Quem conhece um pouco da história do transporte no Rio de Janeiro sabe a importância que as encarroçadoras Metropolitana e Ciferal tiveram pra cidade.
A primeira nos anos 60 e 70, e a outra já mais pro fim do século 20. Ambas eram ‘carioquíssimas da gema’, se podemos dizer assim.
Tanto que a Metropolitana batizou dois de seus modelos com o nome das praias cariocas mais famosas, ‘Copacabana’ e ‘Ipanema‘ (na ocasião que ela adquiriu a Cermava).
Pois bem. Menos conhecida – ao menos fora da Bahia – é a encarroçadora de ônibus Aratu.
A Aratu era o orgulho da Bahia, e tinha muito orgulho da Bahia.
Seus ônibus eram chamados ‘Amaralina’, ‘Piatã’, ‘Itapuã’, ‘Ondina’, ‘Itaparica‘ e ‘Abaeté’.
Obviamente as 5 primeiras são praias de Salvador e região, sendo 4 no município da capital e Itaparica na região metropolitana. E Abaeté é uma lagoa e parque, próximo a Praia de Itapuã.
Como detalhe, o Aratu ‘Amaralina’ era muito parecido com o Caio Amélia, na opinião quase que unânime dos busólogos.
Se você confundiu o Amaralina da Vibemsa visto um pouco mais pro alto na página com um Amélia, não tem problema. Eu também confundi.
“DE VOLTA PRO FUTURO”:
30 ANOS DEPOIS ANDEI NUM ÔNIBUS COM “CHIQUERINHO” –
Com exceção de Curitiba que já havia mudado o embarque pra frente, creio que nos anos 80 em todas as demais capitais o embarque ainda era por trás.
Muita gente simplesmente descia pela porta traseira, sem passar pela roleta e portanto sem pagar.
Além do problema de evasão de tarifa, havia outro: os caloteiros ainda atrapalhavam quem tentava subir no ônibus.
Então, deixa eu contar pra quem não é dessa época. Em diversas capitais do Sudeste e Nordeste havia na ocasião o chamado “chiqueirinho”:
Quando você entrava pela porta traseira, um corredor formado por grades obrigava a passar direto na catraca, imediatamente.
Somente após a passagem estar paga é que você podia ocupar outros lugares no salão interno do busão.
‘Chiqueirinho’ é o termo paulista, não sei como esse apetrecho era conhecido nas demais capitais.
Na Cidade de São Paulo, na década de 80 funcionava assim: as linhas mais centrais, e portanto mais usadas pela classe-média, não tinham o “chiqueirinho‘.
Havia então gente que descia sem pagar, mas creio que as empresas preferiam perder um pouco de dinheiro a dar esse desconforto aos usuários.
No entanto, nas linhas que serviam os morros e distantes loteamentos do subúrbio havia essa espécie de ‘curral metálico‘.
Dando um exemplo na Zona Sul, nos alimentadores que saíam do Terminal Santo Amaro rumo ao Jardim Ângela.
Cheguei a pegar ônibus com ‘chiqueirinho’ em SP, quando eu era criança.
O tempo passou, nos anos 90 a capital paulista também adotou a entrada pela frente, e esse curioso equipamento. Pensei que nem existisse mais.
Ledo engano. Em Salvador em algumas linha metropolitanas ainda se entra por trás.
Peguei em Ondina um ônibus da viação Costa Verde – que apesar do nome é unicolor branco, normal se falamos da ‘Boa Terra’.
Nomenclatura a parte, o embarque era pela traseira. E… tinha o chiqueirinho! 30 anos depois, lá estava eu de novo, passando pela mesma experiência. Foi “uma volta no tempo“, como no filme “De Volta pro Futuro”.
Vivi de novo uma experiência que eu julgava já ter se extinguido da face da Terra. Extinguiu nada. Definitivamente, tudo vai e depois retorna. Tudo que tem que acontecer de fato acontece.
(Como um último detalhe nesse tópico, me informaram que algumas linhas metropolitanas de Belo Horizonte também reintroduziram o ‘chiqueirinho’.)
NOS ANOS 80 O ‘GRANDE CIRCULAR’ E ‘TMS’: PRIMEIRAS TENTATIVAS DE PADRONIZAÇÃO E HIERARQUIZAÇÃO DAS LINHAS –
No século 20 os ônibus de Salvador tinham pintura livre e não havia qualquer forma de integração.
Ou seja, se você precisasse usar duas conduções tinha que pagar de novo a tarifa cheia.
Uma vez que não havia hierarquização das linhas. O que isso significa?
É simples: Simplesmente todas as linhas eram o que aqui em Ctba. se chamam ‘Convencionais’: ligam um bairro a outro, sem se conectarem entre si.
Nos anos 70 a capital do Paraná criou o conceito da ‘Rede Integrada de Transportes‘, hoje copiado em milhares de cidades do mundo.
Pra isso é necessário ‘hierarquizar’ as linhas, ou seja, dividi-las em troncais e alimentadoras.
As avenidas principais se tornam ‘corredores‘, de preferência com pista exclusiva pro transporte coletivo.
Pelos corredores as linhas-tronco ligam os principais polos de empregos (o Centro ou onde é o caso a orla) a terminais começo da periferia.
Dali as linhas alimentadoras levam as pessoas pros bairros mais distantes.
Pra complementar, linhas circulares/transversais/inter-bairros conectam os terminais, pra quem precisa ir de uma parte da cidade a outra sem passar pela Zona Central.
Tudo isso pagando apenas uma passagem. Por isso uma “rede integrada“. E essa passagem geralmente é marcada pela padronização da pintura.
Veja que mesmo o Rio de Janeiro, tão avesso a essa medida, tem pintura padronizada no seu sistema de BRT.
Então. Essa é a questão. Na Salvador dos anos 80 nada disso existia. Foi quando começou o movimento no sentido de hierarquizar e organizar melhor a rede de ônibus.
O sistema ‘Grande Circular’ foi o pioneiro com pintura padronizada.
Os busões dessas linhas tinham a parte de baixo em vermelho, o meio branco com o rosa ao redor das janelas (ao lado).
Além disso os veículos eram do tipo ‘padrão’, alongado (‘padron’ no original. Eu traduzo tudo pro português).
Geralmente Volvo, quando a Volvo só fazia ônibus ”padrão’. Era “Padrão Volvo” de qualidade.
O Grande Circular era operado por 3 empresas: a estatal municipal Transur e as particulares Vibemsa (Viação Beira-Mar S.A.) e Vitral (Violeta Transportes Limitada).
Foi assim nas décadas de 80 e 90. Após a virada do milênio o Gde. Circular primeiro perdeu a pintura própria, e depois foi extinto.
Curiosamente Brasília na mesma época também tinha uma linha chamada ‘Grande Circular’, que da mesma forma não existe mais.
Em 1988 surgiu o projeto ‘TMS’ – Transporte de Massa de Salvador.
Tem esse nome porque as linhas mais carregadas seriam feitas por ônibus pesados (articulados e ‘padrão’ alongados) com pintura padronizada.
Que é essa vista ao lado: ‘saia’ vermelha e ‘blusa’ cinza. Esse buso ainda está na fábrica da Ciferal no RJ, foto de 1989.
Foi nessa oportunidade, no ano de 1988, que chegaram os primeiros articulados de Salvador. Eram Ciferal Alvorada Volvo.
O pioneiro mesmo, o primeiro “sanfonado” que rodou na cidade, foi comprado usado do Rio de Janeiro pela Vibemsa. Recebeu a decoração padronizada do TMS.
Os busos do TMS eram identificados, além de pintura óbvio, pelo logo, que era a letra “S” estilizada, formando duas flechas em sentido opostos.
No começo esse articulado não tinha nem sequer a linha escrita no letreiro.
Ali estava pintado ‘TMS – Transporte de Massa de Salvador’. A linha, ‘Itapoan-Lapa’, vinha numa placa no vidro.
Esse buso foi repassado pra viação Ogunjá. Em 1989, apenas um ano depois de iniciado, o TMS foi abandonado.
A antiga pintura padronizada deveria ser de todas as empresas que fizessem linhas do TMS (a exemplo do que ocorria com o Gde. Circular).
Não foi assim que aconteceu. As outras viações rapidamente a descartaram.
Essa decoração acabou virando a pintura livre da Ogunjá – em todas as suas linhas, independente de fazerem parte do TMS original ou não. Isso ainda nos anos 80.
Na década seguinte, a de 90, isso de um padrão compulsório de pintura se tornar a escolha voluntaria de uma empresa após não ser mais obrigatório também ocorreu em Florianópolis e no Rio.
A capital de SC, por volta da metade dos anos 90, abandonou a padronização EBTU, que lá valia pros municipais e metropolitanos.
Todas as viações a descartaram, imediatamente. Exceto uma, que é a viação Biguaçu.
A Biguaçu manteve sua frota no antigo padrão EBTU (buso branco, faixa menor negra e acima dela uma faixa maior colorida, nesse caso azul-escura).
No Rio de Janeiro na mesma época foi implantado o “Projeto Canarinho“, primeira tentativa de padronizar os ônibus na cidade, que como a segunda de 2010 também fracassou.
No ‘Canarinho’ eram apenas algumas algumas linhas a terem decoração idêntica, as ‘Expressas’ (com menos paradas) pras Zonas Oeste e Sul.
O desenho escolhido foi o mesmo de Santiago do Chile (que em 1991 implantou a 1ª padronização de pintura de toda América Hispânica):
Corpo do busão amarelo, e branco ao redor das janelas – por sua vez a pintura chilena, que inspirou a carioca, da mesma maneira já havia sido copiada da viação estatal peruana Enatru, que atuava na capital Lima.
Seja como for, a padronização ‘Canarinho’, ainda que restrita, ‘não pegou’ no Rio de Janeiro.
Todas as viações voltaram a pintura livre. A Real, entretanto, gostou tanto que manteve sua frota amarelada.
Alias em 2018, quando caiu a segunda padronização carioca, todas as viações voltaram mais uma vez a pintura livre.
Ainda assim, a uma pintura livre sempre diferente da que era usada até 2010.
A Real, entretanto, mais uma vez destoou. Foi a única que re-adotou sua pintura livre usada até 2010.
Que é exatamente a ‘Canarinho‘, compulsória nos anos 90 mas sua escolha desde então.
Feito esse adendo, de volta a Bahia. O TMS não vingou, e assim virou apenas a pintura livre da Ogunjá.
Ainda assim, serviu pra introduzir os articulados na ‘Boa Terra’.
Diversas viações passaram então a contar com esse modal, e assim foi nos anos 90.
Após a virada do milênio entretanto todas elas foram deixando de usar ônibus ‘sanfonados’ em SSA.
A que resistiu mais tempo foi a BTU – que, o sabem, foi uma das poucas que também resistiu a pintura “brancão”.
O último articulado da capital da BA foi um Busscar da BTU, que rodou até 2012.
Deixaram saudades. Já se completou uma longa década de ausência (no momento que a matéria sobe pro ar, em 2022).
Se serve de consolo, o mesmo ocorreu em várias partes.
Capitais importantes como o Rio, Belo Horizonte, Fortaleza e Belém também haviam tido articulados no século 20.
No entanto em algum momento no novo milênio deixaram de tê-los.
Desde então as capitais do RJ, MG, CE e PA já voltaram a contar com esses veículos maiores, de 2 vagões.
Falta Salvador. Mas assim que ocorrer a inauguração do BRT eles retornarão. Enquanto isso relembremos o tempo que esses bichões rasgavam as ruas da capital da Bahia.
ENSAIO PRO ‘INTEGRA SALVADOR’, QUASE 2 ANOS DEPOIS –
Ao lado um belo Vitória Scania da ITT, fazendo a linha Lapa/Barra. Está na pintura livre, evidente.
Pois então. No começo de 2014 a prefeitura instituiu uma pintura padronizada pras linhas do roteiro Lapa/Barra.
Somente pra elas. Todas as demais, nesse momento, seguiram na decoração preferida de cada empresa (muitas delas unicolor branco).
Trata-se exatamente das duas próximas fotos: buso branco com faixa laranja.
Além disso vinham identificados com a sigla ‘LB’, justamente as iniciais de ‘Lapa’ e ‘Barra’, evidente.
Lembra um pouco a decoração dos micrões ‘Amarelinhos’ do SETC.
Não confunda, entretanto. São coisas diferentes. Ao lado e logo acima são veículos de tamanho normal.
E de propriedade das viações oficias, note o logo da BTU na traseira nesse a esquerda, e da Verdemar no da direita.
Alias a imagem do BTU está datada, foi feita em janeiro de 2015.
O sistema ‘Integra Salvador’ só entrou em vigor alguns meses depois, no fim de 2015.
A padronização do corredor Lapa/Barra serviu de ensaio pra padronização geral, que veio logo a seguir.
Pra ‘aquecer as máquinas’ digamos assim. Visando ver como a população reagia, depois de tantas décadas na pintura livre.
Foi um caso de pintura exclusiva pra somente uma linha (ou um corredor de linhas no caso). No século 20 tinha sido assim com o ‘Grande Circular‘, e décadas depois a mesma ideia retornou.
……………
Pra seguirmos relembrando a Salvador de antigamente, outra sessão de municipais na pintura livre:
DA “ESTAÇÃO” PRO “TERMINAL”
UMA VIAGEM NO TEMPO –
No Sul do Brasil, no eixo Rio-SP e também em Pernambuco usamos o termo ‘terminal’ pra indicar onde param muitas linhas de ônibus.
“Estação’ aqui é só estação de trem, metrô, ou as ‘estações-tubo‘ curitibanas.
Em Minas e parte do Nordeste, entretanto, inversamente fala-se ‘estação‘ mesmo pro modal de ônibus normais. Notei isso quando estive em Belo Horizonte, em 2012. O letreiro diz ‘Estação Vilarinho’, pra dar um exemplo.
Pro que nos interessa aqui, na Bahia historicamente também o termo mais comum era ‘estação‘.
‘Estação da Lapa’, ‘Estação Pirajá’, ‘Estação Mussurunga’, eis alguns dos terminais – não-integrados na época – mais antigos e famosos da cidade
(A exceção parece ser o Terminal da França, igualmente não-integrado. As linhas cujo ponto final eram nele vinham como ‘T. França‘.)
Aí veio a revolução do meio dos anos 10 desse novo século 21.
Chegou o metrô, e o sistema de ônibus foi totalmente re-estruturado pra ficar como alimentador do modal sobre trilhos.
Com isso, foram construídos ou reformados mais de uma dezena de terminais de ônibus, vários deles anexos as estações de metrô.
A mudança de patamar não foi apenas física, mas envolveu também a linguística.
Ao invés de ‘estação’, vários ônibus agora usam a palavra ‘terminal‘.
Vimos exemplos acima, a foto em preto-&-branco do Monobloco da Transur indo pra ‘Estação da Lapa’ mostra como sempre foi.
E a esquerda o vermelho e branco da ATP já diz ‘Terminal Aeroporto’. Sinal de uma nova era.
Fotografei pessoalmente um Torino ‘5’ da Costa Verde em Ondina que usa os dois termos:
‘Estação’ adesivado no vidro, e ‘Terminal’ no letreiro de lona.
O busão vai da “Estação Aeroporto” pro Terminal Aeroporto”, sem sair do lugar, já que são um e o mesmo. É então mais uma viagem no tempo..
Falando nisso, seja chamado ‘Estação’ ou ‘Terminal, o fato é que o Terminal Aeroporto fica exatamente na divisa entre Salvador e Lauro de Freitas (‘LDF’), na região metropolitana.
Pois bem. Por conta disso ele é multi-modal. Abriga metrô, linhas de ônibus municipais da capital e de LDF, e também inter-municipais.
Se fosse pouco, ainda há uma linha especial pro Aeroporto mesmo, pra quem embarca/desembarca dos aviões.
………
Já que o tema é esse, voltando ainda mais no passado vou relembrar uma era que já se foi, da pré-padronização de pintura e pré-letreiro eletrônico.
Num tempo não muito distante, em Salvador, os ônibus tinham pintura livre e entrada traseira e saída dianteira.
Bem, um dia foi assim em toda parte. Vamos então falar de alguns traços que eram tipicamente soteropolitanos.
CÓDIGO DA LINHA EM VERMELHO –
O letreiro menor, onde vinha o número da linha, era na cor rubra.
Portanto não é porque esse ônibus é vermelho que o letreiro do número é da mesma cor.
Valia pra todas as empresas, como as diversas imagens não deixam dúvidas.
Isso começou nos anos 80, porque foi a partir daí que os fabricantes de ônibus passaram a fazer o letreiro maior.
Assim adicionando um sub-letreiro a esquerda do principal pro código numérico.
Até a década de 70 os letreiros eram menores, e não havia essa divisão.
Alias por isso os busos no Rio, São Paulo e algumas outras cidades tinham a ‘capelinha‘, pra ´poder dar destaque ao número.
Salvador não teve capelinha, então não nos alongaremos nisso agora.
Na capital da Bahia, a partir da década de 80, a forma achada pra destacar o nº era escrevê-lo sobre fundo vermelho.
E foi adotado depois que os ônibus passaram a vir de fábrica com um espaço próprio pra isso.
No entanto, há casos de ônibus mais antigos, como o Monobloco ‘2’ (0-364) em que o letreiro ainda era mais estreito, sem o espaço separado a esquerda.
Aí a lona foi repintada, pro número ficar destacado em outra cor, mesmo ele vindo junto do nome da linha.
A esquerda vemos um Monobloco da TSS, ilustrando o que acabei de falar.
Também há exemplos do buso ter o sub-letreiro específico a esquerda mas este não estar sendo usado.
O número da mesma forma vir junto do nome da linha – também a esquerda um pouco mais pro alto mais um TSS dessa forma.
Igualmente vinha em vermelho. Vocês entenderam perfeitamente.
Em Salvador, nas décadas de 80 e 90, o numeral da linha era sempre nessa cor.
Perto da virada do milênio as viações foram abandonando esse costume, e hoje com o letreiro eletrônico é só uma lembrança.
Isso no municipal. Em 2020 nas linhas inter-municipais ainda vi – e fotografei – ônibus usando letreiro de lona.
E algumas viações metropolitanas mantiveram por mais tempo vivo o costume do número ficar destacado em vermelho.
TODO ITINERÁRIO NO PARA-BRISAS:
ANTIGAMENTE FEITO A MÃO –
Até pouco tempo atrás quase todo o itinerário vinha no para-brisas, em épocas mais remotas complementado a mão com giz.
Mais recentemente melhor organizado numa grande placa ou adesivo, mas ainda bem grande, visível de longe no vidro.
No desenho que fiz pegamos a transição, há a placa mais organizada mas pra garantir escreveram ‘Paripe’ e ‘Lapa’ a mão.
Esse traço também existiu no Rio de Janeiro e Belém do Pará. No Rio antes, nos anos 50 e 60.
(Algumas viações cariocas levaram o costume um pouco adiante, mas a imensa maioria a partir da década de 70 já não mais.)
Na capaital paraense bem mais recentemente, até os anos 10 do novo século. Ali alias era adesivado, o veículo tinha que ficar fixo na linha.
Em Belém apenas com a implantação do letreiro eletrônico, já na virada pra década de 20, é que os busos deixaram de trazer todo itinerário no vidro.
IMPROVISO:
LETREIRO VAZIO, LINHA NO PARA-BRISAS –
Paralelo ao que acabei de citar, e na verdade se somando a isso, vemos que era frequente simplesmente a linha nem vir no letreiro. Exemplificado nas 4 fotos acima a direita.
Onde deveria estar a linha vinha escrito ‘Especial’, ou com o nome do fabricante da carroceria (‘Caio’, ‘Marcopolo’, etc) ou mesmo ficava em branco.
A linha estava no para-brisas, a mão com giz e/ou numa placa.
Evidente que a situação – que em São Paulo se chama ‘Paese’ – de um busão ter que fazer outra linha que não vem escrita na sua lona, e aí é preciso improvisar, aconteceu em todas as cidades.
Eu mesmo vi isso inúmeras vezes aqui em Curitiba. A questão é que, ao menos julgando pelas imagens que circulam na internet, em Salvador isso era mais comum que nas demais capitais.
Estivesse o letreiro ou não funcionando, o fato é que na capital da BA o giz era usado pra complementar o letreiro ou mesmo substituí-lo, se fosse o caso.
Em Campos-RJ é assim também (ao menos o foi até pouco tempo atrás).
Quem tem idade suficiente se lembra que antigamente nos ônibus de viagem o horário – e as vezes a plataforma – vinha escrita assim, a mão no para-brisas.
Exemplificando pela linha que liga as capitais de SP e PR, que utilizei muitas dezenas de vezes em minha vida (quando era feita pela Cometa e Itapemirim).
Essa informação, “Curitiba/São Paulo”, vinha no letreiro principal.
A questão é que saíam vários ônibus da mesma linha no intervalo de poucos minutos.
E quando eles paravam no meio do caminho pra pausa do lanche, como os passageiros re-embarcam no ônibus certo?
É simples. Vinha com giz no vidro “10:05”, por exemplo.
Se você também presenciou a situação que descrevi… não tem jeito amigo, estamos ficando velhos. Que coisa, né?
EM QUAL PONTO O ÔNIBUS PARA?
CONFIRA PELA LETRA –
Em várias fotos existe uma letra bem grande no vidro dos ônibus, seja ‘A’, ‘B’, ‘C’ ou ‘D‘, adesivada ou numa placa.
Nos dois da Central, ao lado e logo abaixo, vemos que é um ‘B‘.
Enquanto que no outro Apache da Praia Grande logo a seguir (amarelo e branco) consta o ‘A‘.
Isso da mesma forma ocorre em outras metrópoles como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre-RS.
É que nas grandes avenidas passam dezenas de linhas de ônibus, então é preciso dividir elas por pontos diferentes:
E até a letra ‘D’ existe nos corredores mais carregados. As vezes são números, a função é a mesma.
LETREIRO EM 2 CAMADAS:
COM A DE CIMA FORMANDO UM ARCO SOBRE A OUTRA –
Vimos exemplos em várias imagens: era algo típico do Rio de Janeiro nos anos 80.
Que se repetiu também no nordeste, especialmente Salvador e João Pessoa.
A linha vinha escrita em 2 camadas, sendo que a superior envolvia a inferior, formando um arco sobre ela.
Na foto a direita acima mais um caso: o ‘Lapa’ acima ‘abraça’ as palavras ‘Rodov. Bonocô’ que estão sob ela.
Tem mais: a linha inferior (justo onde está escrito ‘Rodov. Bonocô’, repetindo) está sobre fundo vermelho – como era o código da linha anteriormente.
Isso acabou virando uma marca registrada dos ônibus baianos.
Mesmo quando caiu o costume da palavra de cima formar o arco sobre a de baixo, a inferior ainda continuou sendo escrito no vermelho. Ao lado o exemplo nesse da Boa Viagem.
Enquanto perdurou a lona nos busões nos municipais. Nos metropolitanos ainda é a realidade no começo da década de 2020.
………..
Voltando ainda mais no tempo, em 1972 a prefeitura determinou que 6 viações acrescentassem uma letra após o número do ônibus, pra evitar numerações repetidas. Poderia ser ‘A’ ou ‘B‘, conforme a tabela abaixo.
Nº / Letra | A | B |
4.000 | CAB Autoviária | Joevanza |
5.000 | Liberdade | ITT |
6.000 | Campo Grande | Sul-América |
Com isso os busões soteropolitanos ficaram com um sufixo. Me lembrei de Goiânia e São José dos Campos-SP.
Essas duas cidades nos anos 90 também tinham um sufixo diferenciado do resto da numeração – mas nesse caso era numérico.
Não para por aí. Curitiba, desde 1992 e até hoje (escrevo em 2022) também tem numeração alfa-numérica de sua frota.
Apenas nos ‘latões’ curitibanos as letras são a frente dos números.
Seja como for, é mais um paralelo na busologia das capitais baiana e paranaense.
A exemplo das ‘padronizações informais’ que ocorreram em ambas precedendo a padronização oficial.
BTU: “HERÓIS DA RESITÊNCIA”-
Vou recapitular algumas informações já grafadas acima, e que ademais são de domínio público.
Usando de exemplo a ‘B.T.U., iniciais de ‘Bahia Transportes Urbanos.
Que tinha uma das pinturas mais bonitas de Salvador, azul e vermelho, as cores da bandeira baiana que a nomeia.
Seus busões nunca foram brancos, preferiu manter seu estilo tradicional.
Nem mesmo a parte de cima (‘blusa’) ficou alva, como já estava em voga nos anos 90.
Muito menos inteiro descoloridos, que se tornou quase universal logo a seguir.
Pois a BTU não adotou a “padronização branca” voluntária do começo desse milênio (exceto com alguns poucos veículos).
Seus busões, na imensa maioria da frota, continuaram multi-coloridos enquanto foi permitido por lei.
Depois veio – pouco após da Copa de futebol, como dito – a padronização denominada ‘Integra Salvador’, a 1ª da cidade.
Aí a BTU entrou porque foi compulsória, imposta pela prefeitura.
A cidade foi dividida em 3 faixas, cada uma operada por um consórcio.
A BTU faz parte da faixa da Orla, azul. A viação agora é parte do consórcio Salvador Norte, ao menos a parte da sua frota que fazia linhas municipais.
Digo isso porque ela fazia linhas municipais e metropolitanas em Salvador, enquanto foi permitido com a mesma pintura, vermelho embaixo e azul acima.
As viações metropolitanas não entraram no ‘Integra Salvador’, que é uma padronização municipal.
As empresas que fazem linhas inter-municipais continuam em pintura livre.
Pra operar as linhas da BTU que ligam a capital a Lauro de Freitas e a ora de Camaçari foi criada outra empresa, a BTM – Bahia Transportes Metropolitanos.
E ela, já falamos acima, adotou uma pintura idêntica ao ‘Integra Salvador’, apenas usando a cor vermelha, que não existe no sistema municipal.
O fez por que quis, numa homenagem, e não por ter sido obrigada, pois repito as viações metropolitanas ainda podem decorar sua frota como quiserem.
Há um caso igual em Fortaleza, onde empresas que fazem linhas inter-municipais igualmente ainda escolher como decorar sua frota.
A ViaMetro (que atende o subúrbio metropolitano de Maracanaú, na Zona Sul) da mesma maneira adotou uma pintura igual ao que na época era a padronização da capital, somente mudando o azul-claro pelo amarelo.
………….
Enfim, meus amigos. Eis um resumo da história do transporte soteropolitano, dos anos 70 até hoje.
Há muito o que melhorar, sem dúvidas. Mas é indiscutível que em relação ao século 20 e início do 21 houveram muitos avanços no transporte de Salvador.
Um colega, que só esteve na cidade uma vez e há muito tempo, não teve a melhor impressão do que viu.
Respondi a ele na seção de ‘comentários’ da abertura da Série sobre a Bahia:
“ Então eu diria que vale sim uma segunda visita sua. Você vai gostar do que vai ver.
Alias, se possível espere até a inauguração do VLT (composições também chinesas, como a ponte que está sendo feita pra Ilha de Itaparica, a qual ele aludiu) e corredores de BRT. Aí o transporte em Salvador será de primeiro mundo:
3 linhas férreas de qualidade uma ao lado da outra (VLT na Avenida Suburbana, 2 de metrô na BR-324 e Av. Paralela), como um ‘tridente do bem’.
E modernos corredores com estações de embarque pré-pago e articulados correndo transversalmente ao modal ferroviário, interligando suas linhas. Vai ficar bom!
Se Deus quiser assim, certamente irei de novo a Salvador ainda nessa vida. Daí a gente se encontra lá, e come um acarajé no Mercado-Modelo.
Na sequência vamos de VLT pra Paripe, e quem sabe até Camaçari. Na volta, não chegamos até o Centro.
Descemos no meio do caminho e pegamos um moderno articulado até a orla, pra ‘passar uma tarde em Itapuã‘! Oxalá seja assim!!! ”
Feito esse convite, podemos arrematar: Deus permitiu, esse trabalho de retratar o que presenciei em Salvador se iniciou em 22 de abril de 2021.
(Aniversário do descobrimento do Brasil, que ocorreu na Bahia como todos sabem.)
E hoje, 22 de abril de 22, exatamente um ano depois, concluo a missão. A todos os leitores, meu “muito obrigado”.
Toda Glória e Louvor ao Criador.
Assim É.
Deus proverá
E o mensageiro se supera mais uma vez. Simplesmente uma referência importantíssima para os estudiosos da mobilidade e do transporte, um compêndio de informações descentralizadas e e com um olhar que pouquíssimas vezes é levado em conta, que é afinal o do usuário. Relatos feitos à moda antiga: palmilhando e desbravando, não do conforto de um ar condicionado em uma redação acética, com letras descoladas da realidade e distantes, em perspectiva. Não custa reiterar. Uma referência inestimável – fonte de primeira linha, em primeira mão.
CurtirCurtir
Valeu meu irmão. Deus abençoe.
CurtirCurtir
Salvado uma cidade de quarto mundo mas o transporte e de primeiro mundo
CurtirCurtir
Verdade. A cidade tem graves questões, como de resto todas as metrópoles brasileiras. Mas o transporte se moderniza a passos largos.
Especialmente o metrô. Como curitibano … só pude invejar!
É a vida …
CurtirCurtir