Onde Tudo Começou: Salvador da Bahia

salvador é o sol: com 80 km de praias, o sol nasce e se põe dentro do mar

1500: Portugal “descobre” o Brasil, chegando pela Bahia (quadro do museu Palácio da Sé, no Pelourinho-Salvador).

Por Maurílio Mendes, o Mensageiro

Publicado em 22 de Abril de 2021 – aniversário de 521 anos do ‘Descobrimento’ do Brasil, que ocorreu na Bahia.

Mensagem-portal da viagem a Salvador. No fim da matéria ancoro as demais reportagens da série.

Maioria das imagens de minha autoria. As que forem baixadas da internet identifico com um ‘(r)’, de ‘rede’.

Salvador é peculiar, por muitos motivos: é uma cidade muito antiga, foi a primeira e por enquanto mais longeva capital do Brasil.

Salvador foi fundada em 1549 (5 anos antes de SP e 16 antes do Rio), quase meio século após o “descobrimento”, pra sediar a administração portuguesa no então nascente Brasil. A esq. o 1° bispo do Brasil, instalado em Salvador. Nota: eu não sou católico. Apenas em seus primeiros tempos a história de nosso país esteve muito atrelada a Igreja.

Com 80% de sua população afro-descendente, é a metrópole mais negra do Brasil – e uma das mais negras do mundo fora da África.

Espremida entre a Baía de Todos os Santos e o Oceano Atlântico, tem 80 km de praias. Seu litoral é maior que o do estado do Piauí.

Com uma orla com essa grande extensão e bastante recortada, o Sol nasce e se põe no mar:

Situação creio que única no mundo, ao menos entre as cidades dessa porte.

Salvador é uma península (tem a forma de um dedo, se quiser visualizar assim).

Isso faz dela uma cidade muito densa, com pouca área verde e muita verticalização, inclusive nas áreas mais humildes.

Some-se a isso uma grande desigualdade social, que também ocorre nas outras metrópoles do Brasil e do mundo.

Resultando que há favelas em quase todos os bairros, mesmo na Zona Central e nas partes mais abastadas da Orla.

Como as favelas são em morros e com muitos prédios artesanais, em que as lajes vão sendo enchidas e os andares vão subindo sem muita fiscalização, a imagem é bastante impressionante.

Andar pela capital baiana, mesmo perto do Centro e das praias, é parecido com andar na periferia de São Paulo.

O subúrbio soteropolitano (o gentílico da cidade se alguém não sabe) é bastante denso e verticalizado, repetindo.

BEM-VINDO A SALVADOR“: favela em morro ao lado de prédios de padrão mais elevado; eis uma das 1ªs imagens que vi da cidade, ainda dentro do moderníssimo metrô que me levou do aeroporto ao Centro.

Mais parecido com os subúrbios do Sudeste que com os das outras capitais nordestinas.

Salvador é a ligação entre o Sudeste e o Nordeste em termos Espirituais, assim como Curitiba é a ligação entre Sudeste e Sul.

……

É notório que o Brasil já teve 3 capitais em sua história: Salvador, o Rio de Janeiro e atualmente – desde 1960 – Brasília-DF.

Aqui e sobre a manchete: Elevador Lacerda, o cartão-postal mais famoso soteropolitano. Nos detalhes ampliada a estátua da praça (na frente da Candelária, no Rio, há uma parecida), e o valor da tarifa, somente 15 centavos – nov. de 2020, quando o ônibus na cidade custava R$ 4,20.

Salvador, além de ter sido a vanguardista, foi a cidade que ocupou o posto por mais tempo, acima de 2 séculos:

A atual capital da Bahia foi capital do Brasil por 214 anos, de 1549 quando foi fundada a 1763.

O Rio quase chegou a 2 séculos, foram 197 anos sendo mais exato (1763-1960);

E Brasília completou 61 anos um dia antes (21/04/21) da publicação desse texto pra rede.

Salvador foi fundada exatamente pra esse fim, já nasceu capital, como Brasília ela veio ao mundo pra isso.

Esse é o lema da cidade, seu orgulho, repetido em todos os brasões da prefeitura: “Primeira capital do Brasilconfira na foto ao lado.

Ruas estreitas do Centro Histórico.

Então vamos nesse texto falar um pouco da pioneira e por enquanto mais longeva sede administrativa de nossa nação:

São Salvador da Bahia de Todos os Santos, Salvador da Bahia, ou simplesmente ‘Salvador’.

Não é segredo pra ninguém que essa é uma cidade muito antiga. Seu Centro é praticamente um enorme museu a céu aberto (dir.).

O Brasil como conhecemos começou no Nordeste, mais especificamente na Bahia.

Todos sabem, foi em Porto Seguro, no sul do estado, que Pedro Álvares Cabral aportou, em 22 de abril de 1500.

Farol da Barra, onde Salvador começou. De certa forma, o Brasil também começou ali.

Obviamente o Brasil não foi “descoberto” na ocasião, pois aqui já moravam seres humanos logo a região já estava descoberta a tempos, milênios no caso.

De forma que não houve qualquer “descobrimento” pouco mais de 5 séculos atrás, e se houve foi apenas pros europeus.

Seja como for, a terra já era habitada, e o era, mas não se pode negar que era por uma civilização completamente diferente da que temos agora.

Aqui e a esq.: ladeiras do Pelourinho (essas duas tomadas foram clicadas por uma colega, no ano de 2015).

Como entendemos o termo, a América começou na República Dominicana. O Brasil teve sua gênese na Bahia.

E ali foi travada a primeira das duas batalhas decisivas que repeliram a invasão holandesa.

(Falo melhor disso numa mensagem sobre o Recife-PE, pois essa era ‘Mauriciópolis, a capital da ‘Nova Holanda‘.)

Se o Brasil é essa nação-continente, é graças também a Salvador.

Nome apropriado. A cidade que realmente salvou o Brasil. Onde tudo começou.

. ………….

3° MUNICÍPIO MAIS POVOADO DO BRASIL, PORÉM SUA 8ª CIDADE: A CAPITAL É BEM POPULOSA MAS A REGIÃO METROPOLITANA NÃO TANTO –

O município de Salvador tinha 2,8 milhões de habitantes no Censo de 2010 (o último realizado no Brasil).

São Paulo contava, na mesma contagem, com 11,1 milhões, o Rio de Janeiro 6,7, e Brasília 2,9.

Só que esta última é obviamente o Distrito Federal, e não um município.

Mercado-Modelo, aos pés do Elevador Lacerda (ao fundo a esquerda na imagem).

Assim, considerando apenas a divisão administrativa, Salvador é o 3° município mais populoso do Brasil, atrás apenas das capitais paulista e carioca.

No entanto, as pessoas vivem em cidades, não em municípios. Cidade’ e ‘município’ são conceitos diferentes, como já escrevi muitas vezes.

Uma cidade pode ser composta de somente um município ou de vários.

Lojas na parte interna do mesmo Mercado.

Olhando por esse ângulo, a Grande Salvador é a 8ª cidade do Brasil, com seus 3 milhões e meio de moradores.

[As 7 primeiras em milhões incluindo Região Metropolitana: 1) SP, 19,7; 2) RJ, 11,8; 3) BH-MG, 5,4; 4) P. Alegre-RS, 3,9; 5) DF/Entorno em GO, 3,7; 6) Recife, 3,690; 7) Fortaleza-CE, 3,619.]

Por que isso acontece? Simples. Como dito na ‘gravata’ (sub-título) logo acima, o município-núcleo de Salvador é extremamente denso e povoado.

Agora invertido: estou na Cidade Alta, o Elevador em 1° plano; ao fundo a Baía de Todos os Santo com sua marina e o Forte do Mar (‘S. Marcelo’); a dir. o Mercado-Modelo.

Todavia em seus subúrbios metropolitanos a história é outra.

Se a capital conta com 2,8 milhões de moradores, a Grande Salvador não acompanha o ritmo

Camaçari tem 234 mil, Lauro de Freitas 163 mil e Simões Filho 105 mil, pra citarmos os 3 maiores e mais próximos do núcleo.

A causa é o formato do pedaço de terra que abriga Salvador.

Sendo uma península, se parece com um dedo esticado pra baixo, se quiser comparar assim.

A capital baiana é muito fina, literalmente, falando em termos físicos.

Aqui e a dir.: Elevador Lacerda visto da Cidade Baixa (sem os detalhes da tarifa e da praça; a seguir de próprio punho).

O que faz com que os subúrbios da Grande Salvador sejam muito distantes do polo de empregos, que é a parte turística mais central.

Ir de Lauro de Freitas ou Simões Filho até a Orla diariamente numa migração pendular laboral é complicado.

De Camaçari ainda mais, e daí pra frente o sacrifício se torna cada vez maior.

Bem caro esse deslocamento, se o meio escolhido for automóvel próprio – que muitos trabalhadores braçais nem sequer possuem.

De ônibus sai mais em conta, mas é preciso enfrentar uma viagem desconfortável e demorada.

Agora, desde 2014, Salvador conta com metrô, o que facilitou e muito a vida de quem utiliza transporte coletivo.

Sua mobilidade urbana melhorou bastante na última década (escrevo em 21).

Em junho de 2014, sendo mais específico, Salvador se tornou a 3ª cidade do Nordeste a contar com metrô, após o Recife (1985) e Fortaleza-CE (2012).

Famosa Praia do Farol da Barra, por onde passam os trios elétricos no Carnaval (a direita a minha versão da cena).

Voltando a Bahia, a inauguração foi bem a tempo pra Copa do Mundo de 2014 – a qual Salvador foi uma das sedes.

Logo antes dos jogos começou a operar a 1ª linha do metrô de Salvador, com 4 estações.

Pelo próximo ano e meio, até o fim de 2015, a Linha 1 foi aumentada até atingir seu atual trajeto, que conta com 8 paradas.

Ainda será ampliada em mais alguns quilômetros em direção ao subúrbio.

Em dezembro de 2016 veio a linha 2, próxima a Orla, cujo ponto final por enquanto é no Aeroporto 2 de Julho (o chamo por seu nome antigo).

E em breve a linha de trem suburbano que corria na margem da Baía de Todos os Santos será modernizada pra VLT – Veículo Leve sobre Trilhos, o ‘metrô leve’.

Estou no mesmo local da tomada anterior (o alto do Morro do Cristo), apenas virei a câmera em direção a Ondinacomo em todas as colagens que faço, você percebe a emenda. A intenção não é enganar ninguém, e se fosse eu não teria os recursos e técnica pra tanto; viso apenas mostrar um ângulo maior que seria possível em uma única foto.

Esse trem foi desativado em fevereiro de 2021, pra dar lugar as obras dos trilhos e estações do VLT. 

Não era sem tempo, o trem funcionava de forma bastante precária.

Tanto que a tarifa no seu encerramento de atividades era apenas R$ 0,50 (sim, cinquenta centavos), senão ninguém utilizava.

Quando o VLT estiver pronto, aí sim a cidade contará com 3 linhas ferroviárias paralelas de qualidade:

Uma na Baía, outra no Miolo e mais uma na Orla. Vai ficar bom.

A rede de ônibus também foi e continua sendo bastante modernizada.

Outra colagem mostra a Praia da Ribeira, na Baía de Todos os Santos. Não tem ondas, pois não é mar aberto. É frequentada pela classe trabalhadora.

Publiquei matéria específica sobre o tema, com muitas fotos., onde analisamos em detalhes todos os modais, dos anos 70 até hoje.

Por hora, o foco é na cidade como um todo. Então nos basta ter isso em mente: 

Do meio da década de 10 pra cá a situação da mobilidade urbana em Salvador se modernizou bastante, processo que ainda prossegue.

Praia de Ondina, após a Barrao litoral de Salvador é recortado, muitas reentrâncias, tornando a vista mais espetacular. No detalhe os pescadores nas pedras, avaliando o que tiraram do mar naquele dia.

No entanto, por todo século 20 e também na primeira década do novo milênio o transporte coletivo da capital baiana deixava a desejar, pra dizer o mínimo.

Então some tudo: a cidade é estreita e é uma das maiores metrópoles do Brasil a décadas.

Tem pouco terreno disponível pra novo loteamentos, especialmente de padrão popular.

A região metropolitana é distante, e até pouco tempo atrás o deslocamento entre as cidades-dormitório e os polos mais abastados era bastante difícil.

Praia de Piatã/PlacaFor (o nome é porque havia uma placa da Ford, anunciando os carros da montadora): na costa do Atlântico, mas aqui estamos na periferia da cidade.

Resultando que as pessoas preferem morar no município de Salvador mesmo.

A periferia municipal já é distante da Orla e do Centro, onde estão os empregos.

A periferia metropolitana, então, é ainda mais distante. A preferência é morar na capital.

Veja: Camaçari tem 200 e poucos mil habitantes, Lauro de Freitas e Simões Filho ainda não chegam a 2 centenas de milhar

Vizinha a Piatã está a Praia de Itapuã (“é bom passar uma tarde em Itapuã”, como diz a música). O público de ambas são as pessoas do povo, trabalhadores braçais.

O Grande Recife e a Grande Belo Horizonte contam cada uma com um município com mais de 600 mil moradores:

Jaboatão dos Guararapes e Contagem, respectivamente. E vários acima dos 300 mil: Olinda e Paulista (PE), e Betim (MG).

A Grande Vitória tem 2 subúrbios metropolitanos com mais de 400 mil pessoas (Vila Velha e Serra) e um acima de 300 (Cariacica, 337 mil sendo mais preciso).

Também em Itapuã, a Famosa Lagoa de Abaeté, com sua areia branca e água escura.

Sim, a capital do Espírito Santo é um caso bastante atípico dentro da realidade brasileira.

O município da capital é pequeno, então Vitória, com 327 mil, é apenas o 4° município mais povoado da Grande Vitória.

Tanto Ananindeua, na Grande Belém do  Pará, quanto Aparecida de Goiânia (que como o nome indica é um subúrbio da capital de Goiás) têm mais de 400 mil habitantes, e Canoas na Grande Porto Alegre mais de 300 mil.

Panorâmica da cidade (r): até na Orla regiões de classe média-alta (mais verticalizadas) convivem com bairros periféricos – por exemplo aquele em 2º plano na imagem, atrás da 1ª concentração de prédios altos.

Nem vou falar dos subúrbios da Grande SP e Grande Rio, pois essas cidades são bem maiores que a Grande Salvador.

Me restringi a capitais de porte similar. Vocês me entenderam.

Próx. 3: “Corredor da Vitória”, onde estão os prédios mais caros da capital baiana. Trata-se de um trecho de 1 km da Av. 7 de Setembro, na descida do Centro pra Barra.

Muito mais gente mora ao redor de BH, Recife, Vitória, Goiânia, Belém e Porto Alegre que ao redor de Salvador.

Além dos subúrbios da Grande Salvador serem menores que seus colegas de outras capitais, há outra consequência dos baianos preferirem residir na capital:

Os morros soteropolitanos estão hiper-povoados, pra compensar a região metropolitana menos habitada.

Em praticamente todos os bairros de Salvador, mesmo no Centro e na parte mais cara da Orla, grandes favelas cercam as planícies litorâneas e os planaltos de classe média e média-alta.

Em Ondina, onde fiquei hospedado. Próximo ao Corredor da Vitória, que tem o m2 mais caro do Norte/Nordeste. As margens do Dique do Tororó (em frente ao estádio da Fonte Nova).

Salvador é a capital do Brasil mais ligada a Espanha – a bandeira espanhola está por toda parte, como nessa escola.

Nas proximidades da Avenida Paralela (por onde corre o metrô), que como o nome indica é paralela a praia, e bem próxima dela.

Enfim, em toda parte. Morros favelizados são a mais soteropolitana das cenas, andar por Salvador é se deparar com essa realidade o tempo todo.

Nota: eu não falo em ‘favela’ com desprezo burguês. Curitiba tem cerca de 300 favelas (em diferentes graus de urbanização).

Conheço todas e cada uma, por dentro, andando em suas ruas e becos.

O Corredor da Vitória é o único bairro de padrão elevado as margens da Baía de Todos os Santos (r). Note que vários prédios têm suas marinas particulares, com teleféricos de uso exclusivo a moradores e seus convidados.

Morei 15 anos numa delas, o Canal Belém as margens do Rio de mesmo nome, no bairro do Boqueirão, Zona Sul.

Já documentei em diversas matérias que Curitiba também tem aguda desigualdade social:

No Tatuquara, Caximba [Z/S], CIC, São Miguel e Augusta [Z/O], Cachoeira [Z/N], Parolin [Z/C], pra citar alguns exemplos

Fiz o mesmo em São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza, Belém, Florianópolis-SC, Santos-SP, etc.

Dique do Tororó, famoso parque as margens da lagoa. Olhando pra um lado vemos o Estádio da Fonte Nova (esq. na imagem).

E também no México, Argentina, Colômbia, Chile, Republica Dominicana, Paraguai e África do Sul,

Pesquisando pela internet até mesmo nos EUA e Europa, porque a coisa lá também está ficando complicada.

Então sei que a desigualdade social não é um problema exclusivo da Bahia ou mesmo do Nordeste.

No entanto, em Salvador essa situação é muito gráfica, pois quase oni-presente. Parecido com o que vemos no Rio de Janeiro.

De novo a Fonte Nova – no detalhe a loja do E. C. Bahia, anexa; não torço pro Tricolor Baiano, se tivesse visto a loja, a sede do clube ou alguma torcida organizada do E. C. Vitória teria clicado também. Portanto não inicie uma discussão clubística porque aqui não é o espaço pra tanto.

No Recife mesmo os bairros de Boa Viagem e Pina, na Zona Sul, têm várias favelas, a mais famosa delas, Brasília Teimosa, a beira-mar.

Só que em Pernambuco as favelas são planas e não têm tantas lajes. Então elas não são tão visíveis quanto.

Na Bahia os morros favelizados estão por toda parte, e suas casas já nem são casas e sim prédios artesanais.

Com 3, 4 ou mesmo 5 andares, mesma situação do Sudeste.

Ainda no mesmo local, próximo ao estádio; virei a câmera pra direita: além das Baianas Orixás (alusão as religiões afro-brasileiras da Umbanda/Candomblê), vemos que enormes porções da cidade têm morros favelizados – isso que aqui estamos perto do Centro e dos bairros e praias de padrão mais elevado.

Repito, sei que todo lugar tem desigualdade social, mesmo o que se conhece por “1o mundo”.

E eu gosto de periferia, gosto de favelas. Não por outro motivo morei em uma.

Ainda assim, não sejamos hipócritas nem tentemos tapar o sol com peneira grossa.

A proliferação descontrolada de favelas é um problema gravíssimo social em si mesmo.

E gera diversos outros problemas, não o menor deles a violência urbana, que no Brasil as vezes atinge contornos de conflitos bélicos.

Ainda as margens do Dique do Tororó. Vimos acima o ‘lado A’ de Salvador, sua parte turística: Elevador Lacerda, Pelourinho, praias, o parque e estádio ao redor da lagoa. Agora vamos ao ‘lado b’, a dura realidade de como vive boa parte do povo, suas classes mais humildes. As favelas em morro estão praticamente em todos os bairros. Aqui, repetindo, ao lado do Tororó, Zona Central.

É muito impressionante andar por Salvador e ver essa situação.

Não sou de direita, e por isso não rotulo as favelas e periferias como “reduto de bandidos”.

Exatamente o oposto sendo verdadeiro. Gosto do subúrbio.

Sei, inclusive na prática, que a imensa maioria de seus moradores são honestos, e trabalham duro pra sustentarem suas famílias.

Entretanto, as coisas são como são. Nenhum discurso da esquerda de que “somos todos iguais” pode mudar essa realidade.

Corredor da Vitória (r). Destaquei o teleférico e clube particular de um prédio. Ao lado a favela da Gamboa, entre a avenida e o mar.

Voltando ao aeroporto de metrô, comentei com minha esposa que a capital baiana é muito parecida com a periferia paulistana, que conheço muito bem.

Aí disse a ela: “mas essa é a diferença. Em SP, a cidade é assim nos arrebaldes. E aqui, por toda parte”.

É Salvador, irmão. Seja bem-vindo.

……..

Gamboa, Salvador, em escala maior (r) .

Veja a imagem a esquerda, o Corredor da Vitória. O bairro tem esse nome porque nele se deram as comemorações da Independência da Bahia em relação a Portugal.

Afinal, a Coroa Portuguesa tentou manter a Bahia sob seu tacão, não reconhecendo a adesão dela a Independência do Brasil em 1822. Uma breve guerra se seguiu.

O Império Brasileiro sitiou Salvador por mar, com ajuda de mercenários ingleses contratados pra esse fim.

Foto tirada do Largo da Vitória: a esquerda os prédios luxuosos da Avenida Sete. Logo abaixo a favela chamada Vila Brandão. No meio da imagem o Iate Clube da Bahia (eles ainda preferem a grafia inglesa, ‘Yatch’), notamos o azul-clarinho de suas piscinas – pra amenizar um pouco tanta disparidade social, o ‘Yatch’ Clube promove na vizinha V. Brandão aulas de futsal e capoeira no projeto ‘Vila dos Esportes’; por fim, na pedra atrás da Igreja de Santo Antônio da Barra há mais uma favela, uma vila de pescadores que aparentemente não conta sequer com água corrente, luz elétrica ou saneamento.

Sem conseguir receber suprimento, os portugueses amealharam tudo que puderam carregar e fugiram, na madrugada de 1° pra 2 de Julho de 1823.

Em 2 de Julho, por ali marcharam vitoriosas as tropas que derrotaram Portugal, expulsando a antiga metrópole e incorporando a Bahia ao Brasil.

A Avenida 7 de Setembro, popularmente apelidada “Avenida Sete”, vai do Centro a Barra.

O trecho de mais ou menos um km a partir do Largo da Vitória é conhecido assim, o “Corredor da Vitória”, como é notório.

Ali se localizamos prédios mais caros da Bahia, e de todo Norte/Nordeste.

Alguns dispõem de teleférico e clube (marina e restaurante) exclusivo.

No entanto, logo ao lado, espremida no barranco entre a avenida e o mar está a favela da Gamboa.

Ondina, olhando pra Barra (um dos cartões-postais mais famosos de Salvador, porque ali o Sol se põe no mar ao lado daquele edifício maior a esq., como veremos logo a seguir); porém foque nos prédios mais baixos, sem elevador, ao lado da árvore, a dir. na cena.

É certamente a imagem que resume os contrastes em nosso país.

Casas simples se comprimem contra o barranco que logo ao lado alguns descem de teleférico particular.

UMA COSTA ENTRECORTADA, FÍSICA E SOCIALMENTE –

Salvador é uma península de relevo acidentado. Muitos morros entre as costas, as vezes formando pequenos planaltos.

Então claro que há regiões de classe média-alta, algumas bastante verticalizadas, no estreito planalto e (relativamente) longe das praias.

Entretanto, no geral a maior parte dos bairros de alta-burguesia e elite se concentram nas planícies a beira-mar.

Vistos mais de perto os prédios que acabei de citar na legenda anterior.

A capital baiana tem duas costas, a da Baía e a do Atlântico, como todos sabem.

O Centro fica as margens da Baía. Apesar disso a maior parte das regiões mais caras estão do outro lado, no Atlântico.

Ou talvez exatamente por isso, já que o Centro é um dos bairros mais violentos da cidade.

A orla da Baía é a periferia da cidade, o chamado ‘Subúrbio Ferroviário. Mas há uma exceção:

Aproximando ainda mais a câmera, vemos uma das favelas de Ondina.

O bairro que tem os prédios de padrão mais elevado de Salvador é o Corredor da Vitória, que está do lado da Baía.

Depois dele há o cabo, ou seja a península acaba, há o encontro das águas fechadas da Baía com o mar aberto.

Vizinha a Vitória está a Barra, e a seguir Ondina. Na sequência Rio Vermelho, Amaralina, Pituba e a Costa Azul.

O litoral soteropolitano é entrecortado, nas dimensões física e social.

Próximas 4: Centro, próximo a Estação Central de trens. Colagem da avenida que corta a Cidade Baixa, e o morro que a separa da Cidade Alta ao fundo. Vou mostrar em detalhes tanto o barranco atrás da igreja a esq. na tomada (prox. cena) quanto sobre o barracão a dir., ao lado do ônibus azul (a seguir).

Quanto ao terreno, são muitas falésias, pequenos cabos e penínsulas.

Em relação as pessoas, a forma como vivem os homens, também há uma grande oscilação.

Alguns pedaços da costa são bastante verticalizadas e aburguesadas.

No Corredor da Vitória não há praia, pois o mar encontra o continente numa falésia (penhasco).

Da Barra pra frente, ao contrário, o que não faltam são belas praias. Aí que notamos aquela heterogeneidade tão marcante de Salvador:

Favela na encosta – em pleno Centro!

Na Barra especialmente, mas em menor medida também em Ondina e Rio Vermelho, há muitos edifícios de padrão elevado, embora em meio a alguns morros favelizados.

Já na vizinha Amaralina a situação não poderia ser mais distinta. Quase não há prédios.

E mesmo a poucas quadras da  beira-mar predomina um perfil mais de periferia, sobrados artesanais onde se “enche laje” sem muita fiscalização do poder público.

O barracão um dia foi usado como estação ou garagem de trens – trilhos desativados ainda estão na via; acima dele temos mais uma síntese de como vive o povo em Salvador.

Quando se entra em Pituba, mais uma vez a realidade se altera em 180°.

Trata-se de uma das regiões mais verticalizadas da capital baiana.

A Costa Azul, que fica a seu lado (mesmo nome do bairro que me hospedei em Acapulco-México), vai no mesmo embalo. Vocês entenderam.

Regiões abastadas (algumas com mais prédios, quando nos afastamos do Centro há outras de condomínios horizontais) convivem com bairros de classe trabalhadora, e isso na orla.

Composição aguarda partida na estação Central de trens (operou até fev.21), no bairro da Calçada, que também é parte do Centrão. Veja atrás o morro favelizado, e isso em pleno Centro da cidade, não custa enfatizar de novo. Imagine como são os bairros as margens dos trilhos dali pra frente. Por isso a orla da Baía de Todos os Santos é chamada de ‘Subúrbio Ferroviário‘.

O SOL NASCE E SE PÕE NO MAR: PRIVILÉGIO SOTEROPOLITANO –

A capital baiana é uma península entre o Oceano Atlântico e a Baía de Todos os Santos, dizendo mais uma vez.

São nada menos que 80 quilômetros de orla, apenas no município.

O litoral de Salvador é maior que o do estado inteiro do Piauí!

Tá certo, dos 17 estados brasileiros que são banhados pelo Atlântico, o Piauí foi o menos agraciado pelo contato com o mar, são apenas 66 km.

Próximas 3: mesmo perto das praias do Atlântico a situação as vezes é difícil. Tirei essa foto de dentro do metrô, alias está visível a grade de proteção do mesmo.

Porém a capital baiana sozinha não fica muito atrás do litoral do Paraná, que tem 100 km, 2° menor do país.

Além de bem grande, a orla soteropolitana é bastante recortada.

Tudo isso aumenta sua extensão, claro. Mas produz um outro efeito:

Na maior parte das cidades brasileiras litorâneas, o sol nasce no mar.

Há esperança: perto do aeroporto (o avião já se prepara pro pouso). De novo, note o gradil do metrô – a melhoria dos transportes levando progresso pra periferia, tornando de classe-média partes antes depauperadas; vi exatamente a mesma cena em Santos-SP..

Algumas têm o privilégio de ver ele se pôr no oceano (ou pelo menos num belo lago).

Porém creio que apenas Salvador pode ver o nascente e o poente do Astro-Rei no mar.

Salvador e o sol. Salvador é o sol, pras religiões ameríndias que o Cultuam de forma mística.

…………

Voltemos a descrever o que presenciei na cidade em 2020.

VÁRIOS HOTÉIS FECHADOS:

SITUAÇÃO BEM DIFÍCIL –

A síntese: estação de metrô em 1° plano, a periferia (ao fundo) está enfim recebendo melhores cuidados – parecido com o que vi em Medelím/Colômbia.

A coisa já é complicada por si mesmo, não é segredo pra ninguém que os índices sociais do Nordeste não são tão robustos quanto no Centro-Sul.

A economia de Salvador tem no turismo uma de suas principais fontes de empregos e receitas (impostos).

Porém desde a 2ª metade da década de 10 – do século 21, evidente – a economia brasileira desacelerou.

Próximas 3 imagens: hotéis fechados, cena comum em Salvador, situação preocupante pois o turismo é uma das bases da economia local. Esse na Barra. A seguir na Avenida 7 de Setembro, o “Corredor da Vitória“.

Situação ruim que foi tornada catastrófica com a epidemia de Corona-Vírus que eclodiu em 2020.

Essa doença é um assunto altamente polêmico, como não poderia deixar de ser, e não vamos aqui debater as causas.

Vamos falar apenas de uma das consequências, no que toca a Salvador,que é nosso foco:

Vários hotéis estão fechando, boa parte deles em definitivo. Cliquei exemplos no corredor da Vitória, Barra e Ondina. 

Alias em Ondina haviam 2 grandes hotéis um em frente ao outro com as portas lacradas, não irão reabrir tão cedo se é que algum dia.

Diversos desses estabelecimentos estão até murados, como precaução pra evitar invasões de sem-teto.

Nesse do Corredor da Vitória visto ao lado o prédio que abrigava o estabelecimento inclusive já está sendo demolido.

Aí como vai ficar? Quem vai sustentar essas famílias dos funcionários mandados embora? Responda quem puder a essa pergunta.

Pior que não se restringe a Bahia: no Rio de Janeiro presenciei (e fotografei, breve publico) a mesma cena. Que Deus nos ajude!!!

Ondina. Do outro lado da rua estava também fechado – e este em definitivo – o Hotel Othon, que operou em Salvador por mais de 4 décadas (1975-2018), e tinha um dos maiores centros de convenções da cidade, com capacidade pra 3 mil pessoas. Me lembrei do Centro de Joanesburgo, África do Sul.

METRÔ NA ORLA , SUBÚRBIO FERROVIÁRIO NA BAÍA: O ‘LADO A’ E ‘LADO B’ DE SALVADOR –

A cidade começou as margens da Baía de Todos os Santos.

Daí o nome do estado, obviamente, antigamente a grafia era diferente, se escrevia ‘bahia’ com ‘h’.

(A Grande Acapulco no México é até hoje conhecida por ‘Bahía’, pois em espanhol ainda é assim.)

Da linguística desse idioma-irmão ao nosso luso falamos outro dia. Aqui, o tema é Salvador.

A princípio, no início do século 16, tentaram construir a cidade na Barra, que é o ponto de encontro da Baía com o Oceano.

Salvador, lado ‘A’, lado ‘B‘: na costa da Baía circulou, até 2021, um trem de subúrbio em condições precárias (quando estive lá, em 2020 estava nos últimos meses de vida). Antes gerido pela CBTU, nos derradeiros tempos foi operado pela CTB, estatal estadual que significa ‘Cia. de Transportes da Bahia’.

Tanto que o forte de Santo Antônio da Barra data de 1534. Se havia um forte, é porque já haviam construções portuguesas a serem protegidas.

Foi na Barra que Salvador foi oficialmente fundada, em 1549.

No entanto a região era vulnerável a ataques, tanto de estrangeiros europeus quanto dos nativos da terra.

No fim do século 16 Inglaterra e Holanda intensificam suas tentativas de tomar posse das possessões portuguesas na América.

Em 1605 Portugal decide levar a sede da capital de sua colônia pra costa interna, as margens da Baía, tirando-a da costa Atlântica.

Em compensação, desde 2014 a cidade conta com metrô, que além de facilitar o transporte vem levando progresso a periferia.

Natural, uma povoação as margens de uma baía é muito mais fácil de defender de ataques de piratas que em mar aberto, por motivos óbvios.

Em 1605 (ou 1608, as fontes divergem) inicia-se o planejamento de um forte na Baía.

Em 1623 Portugal inaugura o Forte de São Marcelo, também conhecido como Forte do Mar ou de Nossa Senhora do Pópulo.

Em João Pessoa-PB ocorreu o mesmo: a cidade começou ao lado do mar. Só que a povoação foi atacada.

Por isso transferida pra um local de mais fácil defesa contra invasores.

No caso o forte foi construído numa colina as margens do Rio Paraíba (acessível aos navios amigos, inacessível aos inimigos).

Voltando a Bahia e sua capital, nos seus primeiros séculos a Costa Atlântica era um local distante, pouco povoada.

Salvador se desenvolvia em volta da Baía da Todos os Santos.

Próx. 3 imagens: Pelourinho e imediações. Aqui uma típica Baiana, ao fundo o casario antigo, também visto nas tomadas a seguir.

Até fins do século 19 e começo do 20, a Praia da Ribeira, ali localizada, era o reduto da elite e alta burguesia da capital baiana.

Até hoje vemos imponentes casarões na beira-mar da Ribeira que atestam esse passado de luxo.

Porém o século 20 trouxe grande progresso material ao planeta, como todos sabem.

A chegada do automóvel e a construção e melhoria das vias públicas possibilitou que a cidade se expandisse cada vez mais rumo a costa de mar aberto.

Além disso, a pirataria deixou de ser um problema como fora em tempos anteriores.

Assim, os moradores mais abastados foram deixando a orla ocidental soteropolitana, a da Baía, e se instalando na orla oriental, a Atlântica.

Com isso, as duas costas de Salvador passaram a expressar uma dicotomia cada vez mais aguda.

A parte aburguesada no Oceano, a porção da baía foi se tornando cada vez mais a periferia da cidade.

Praça da Sé sob chuva.

Por quase 5 anos, de 2016 a 2021, esse contraste podia ser visto até no transporte:

Na Costa Atlântica existe um moderno metrô, construído sobre a Avenida Paralela.

Enquanto que a outra costa, a da Baía, contava até pouco tempo atrás com um trem de subúrbio que funcionava em péssimo estado.

Entrada da Cidade Alta do Elevador Lacerda, ao lado da praça da tomada anterior.

Por isso os bairros as margens dessas praias são conhecidos em Salvador como “Subúrbio Ferroviário”.

Em fevereiro de 2021 esse trem foi aposentado pra dar lugar a um moderno VLT. Aí sim!

Quando o VLT estiver pronto os bairros do ‘Subúrbio’ terão acesso a um transporte de qualidade, já disponível no Miolo e Orla com as 2 linhas de metrô.

Praia de Ondina: na praça lembrei de novo do Centro de Medelím, na Colômbia, que tem estátuas parecidas; nos detalhes as bicicletas de aluguel disponibilizadas por um banco e a rua com o lema da Aeronáutica, ‘Senta a Púa‘.

Os primeiros vagões, fabricados na China, tem previsão de chegada ao Brasil em abril de 21.

Veremos quando serão concluídas as obras dos trilhos e estações do VLT – as do metrô atrasaram bastante.

Seja como for, em algum momento dessa década de 20 que se inicia (escrevo em 21) o VLT estará em funcionamento. Oxalá, assim seja!

Porque olhe, o pessoal do ‘Subúrbio Ferroviário’ merece um transporte de qualidade.

O trem suburbano que o nomeia era totalmente precário, deixava a desejar em muito.

Foto de dentro do Elevador Lacerda: Cidade Alta a esq., Baía de Todos os Santos a dir. com sua marina, e Corredor da Vitória ao fundo (essa é de autoria de um colega).

Tive a oportunidade de andar nele num de seus últimos meses de funcionamento.

como dito, na matéria específica sobre o transporte, onde relato tudo em detalhes.

Aqui, basta dizer que a tarifa era irrisória, somente R$ 0,50.

Sim, cinquenta centavos – e ainda tinha meia-passagem pra estudantes!

Era cobrado algum valor apenas pra não dizerem que era de graça.

Avenida beira-mar. O ônibus azul ao fundo é municipal, da padronização Integra Salvador. O vermelho é metropolitano, copiou a pintura numa homenagem.

E mesmo nesse preço simbólico, que obviamente não cobre, os custos o movimento era baixíssimo.

O trem era sub-utilizado, exatamente porque a qualidade dos serviços era péssima.

Pra você ter uma ideia, o intervalo entre as viagens era de 40 a 45 minutos.

Só pegavam trem aqueles que realmente não podiam arcar com o ônibus – que custa R$ 4,20 quando escrevo (como comparação em Curitiba é 4,50, e em SP 4,40).

Pituba, um dos bairros mais verticalizados da orla.

Então, como dito, na 2ª metade dos anos 10 o contraste entre as costas da cidade era expresso até nos modais sobre trilhos, que não poderiam ser mais distintos:

Na Orla (e também no Miolo) metrô com ar-condicionado, de domingo a domingo.

Intervalo entre as viagens de cerca de 6 minutos no meio do dia (3 no pico). Estações e trens seguros, policiados.

Sim, a tarifa custa 4,20. Mas pagando com cartão dá direito a uma viagem de metrô e duas de ônibus, municipais ou metropolitanos.

Se fosse somente de ônibus, o usuário já pagaria os mesmos 4,20. Ou seja, pega um ônibus perto de casa até a estação do metrô.

Dali percorre de forma rápida, segura e relativamente confortável o trecho mais longo. E ao descer na estação pega outro buso que o deixa no trabalho. 

ÁFRICA NA AMÉRICA” – Família aproveita o domingo na Praia de Ondina, sintetizando o povo de Salvador, que é uma das metrópoles mais negras do mundo fora da África: 80% de seus moradores são afro-descendentes.

No Subúrbio Ferroviário a situação era diametralmente oposta: a única vantagem do antigo meio de transporte era o preço, praticamente gratuito.

Sabe aquele ditado ‘não paga, mas também não leva’? Com o trem suburbano de Salvador era o mesmo. 

Pagava-se muito pouco pela tarifa, verdade. Com uma moeda de R$ 1 você ia e voltava. Em compensação, não tinha integração com ônibus nem metrô.

Se precisasse mais uma condução pagava de novoe a maioria precisava, difícil quem more e também trabalhe ao lado da estação, aí o trem já saía mais caro que o metrô/ônibus.

Mesmo quem usava só o trem, o custo era baixo mais a qualidade do serviço idem. 40 minutos de espera entre as viagens, ou mais.

Essa e as próximas 4 fotos são no mesmo local da anterior, e mostram o pôr-do-Sol na Praia de Ondina. Há um muro entre areia e avenida. Várias praias de Salvador têm esse desnível pra rua, você tem que descer por rampas ou escadas. Só na Cidade do Cabo/África do Sul presenciei esse fenômeno na mesma magnitude.

Num vagão sem ar-condicionado (é sabido que a capital baiana é bem quente).

Pra não falar que da insegurança, assaltos e apedrejamentos eram frequentes.

No começo dos anos 90 o trem já havia deixado de operar aos domingos justamente porque a população que voltava das praias depredava as composições e estações.

O movimento era muito baixo. Apenas os que não podiam arcar com o ônibus, iam de trem. Quem podia preferia viajar de busão.

Se o modal sobre trilhos, mesmo sendo quase gratuito e mais rápido que o sobre pneus, não consegue competir com este último algo está errado.

De lado o mesmo prédio que será visto 3 vezes (em outro ângulo) na sequência abaixo. Destaquei o comércio no térreo.

É porque o serviço é ruim. No trem suburbano de Salvador era de fato precário.

Presenciei o mesmo na África do Sul – as grandes cidades desse país têm uma extensa rede de trens urbanos, chamada ‘MetroRail’.

Só que quase ninguém usa, exceto os os que não têm mesmo outra opção por falta de recursos financeiros, todos os demais vão de van (preferencialmente) ou de ônibus pro trabalho.

O SOL SE PÕE NO MAR – Já seguimos com o texto. Antes um carrosel de imagens mostrando o astro-rei adentrando o oceano, em Ondina, e o começo da noite.

Domingo de sol na Praia de Itapuã, na periferia da cidade – a dir. em escala maior: 90% das pessoas são negros ou mulatos.

O “DIA DE ZUMBI” NÃO É FERIADO: É SALVADOR EM PRETO-&-BRANCO –

Não sou de direita nem de esquerda, porque não concordo com muitas coisas que os dois lados falam. Eu nem sequer voto.

Vou apenas relatar o que vi na cidade, independente de ideologia.

Salvador é a capital mais negra do Brasil, de cada 5 de seus moradores nada menos que 4 são afro-descendentes.

Conhece obviamente a música que diz “É bom passar uma tarde em Itapuã, ao Sol que arde em Itapuã”.

Pois bem, aceitei o convite. Fui passar uma tarde de domingo na Praia de Itapuã.

Aqui e a dir.: Morro do Cristo, na Barra. Muita gente curtia no parque esse mesmo fim-de-semana de tempo bom, depois de uma semana bem chuvosa. Nessa imagem vemos a Praia do Gaban, entre Barra e Ondina.

Os banhistas ali presentes são as pessoas mais humildes (2 fotos acima, na verdade a mesma em diferentes escalas).

Cerca de 90 a 95% deles eram negros ou mulatos naquele belo dia ensolarado.

Inversamente, na Barra e imediações, como o parque no Morro do Cristo (esq.), a imensa maioria – 70%, estimando por alto – eram brancos.

Há brancos na periferia soteropolitana? Sim, claro que há. Mas são minoria.

Inversamente, há negros nas classes média-alta e alta? Sim. Igualmente também uma minoria na alta burguesia, na elite ainda mais raros.

Os brancos são imensa maioria dos frequentadores. A Cavalaria da PM está a postos, tanto ali quanto nas praias da periferia.

Nosso Brasil é realmente um país imerso em contradições.

Muitas vezes as classes trabalhadores passam por dificuldades, de norte a sul desse país-continente.

Porém em Salvador esse contraste se expressa mais nitidamente em termos raciais que nas outras capitais.

Isso se refletia nas pessoas que frequentavam esses espaços de lazer. Em Itapuã os brancos eram raros.

Calçadão da Barra, ao lado: mesma situação, os de pele alva predominando (no prédio espelhado fica o consulado da Espanha).

Não chegava ao ponto da República Dominicana (onde na periferia não há caucasianos), mas ficava próximo disso.

Nas regiões mais caras da cidade, ao contrário, os negros eram minoria.

Eu faço um tipo peculiar de turismo, sempre procuro conhecer os bairros mais caros e também os mais distantes, pra fazer o contraste.

Por isso vi, com meus próprios olhos, o quanto em Salvador a questão de classe está ligada a raça das pessoas.

Na mesma Praia do Gaban vista um pouco mais pra cima na página, o Clube Espanhol – quadras de vôlei-de-praia vazias porque o Sol está no pico, no fim-de-tarde deve bombar.

O alinhamento é 100%? Não. Há brancos nos morros e subúrbios, e negros morando nos prédios mais elegantes. Afinal, no Brasil não há ‘apartheid‘.

Existem exceções. Mas minoria de parte a parte. Na maior porção das vezes, digamos em 70 a 80% dos casos, haverá o alinhamento.

Presenciei isso ao frequentar os dois lados da cidade. Porém poucos fazem o que eu fiz.

Quase todas as pessoas preferem um turismo mais convencional:

Essa e a seguir: parque do Morro do Cristo, olhando a Praia do Farol da Barra ao fundo.

Se restringem aos pontos turísticos mais conhecidos.

Como Elevador Lacerda, Mercado-Modelo, Pelourinho, Corredor da Vitória, praias, restaurantes badalados, ‘shoppings’, etc.

Esses visitantes verão muitos negros na capital baiana certamente, no entanto talvez nem se deem conta que ali eles são não apenas maioria, mas amplíssima maioria.

Pois na Barra e no Morro do Cristo era o contrário, os descendentes de europeus quem eram majoritários no local.

Sim, claro. Muitos dos brancos ali eram turistas, vieram de outros estados.

Entretanto muitos eram soteropolitanos da gema, nascidos e criados em Salvador, apenas geralmente em seus bairros mais caros.

Ruas antigas do Centro, na Cidade Alta (nem têm postes, a iluminação é fixada nas casas).

Ou pelo menos imigrantes, oriundos de outras partes mas já muito bem estabelecidos na capital baiana, e obviamente da mesma forma nas regiões abastadas.

Além disso, na sexta-feira, dia 20 de novembro, eu havia planejado andar no trem de subúrbio que até então corria paralelo a orla da Baía de Todos os Santos.

Ele a tempos não funcionava domingos e feriados, porque quando o fazia até a virada pros anos 90 era depredado com frequência. Ao chegar no Centro achei que não conseguiria andar de trem, pois 20/11 é o Dia da Consciência Negra.

Praia da Ribeira, na periferia – nem sempre foi assim, entretanto: todos esses casarões nos lembram que até o começo do século 20 ali era a beira-mar mais cara da cidade.

(Em comemoração a morte de Zumbi no Quilombo dos Palmares, que ficava no atual estado de Alagoas, pertinho da Bahia.)

Portanto, cri, seria feriado e o modal não estaria operando.

No entanto, pra minha surpresa ao chegar na Estação Central ela funcionava normalmente. Fui e voltei a Paripe, no Subúrbio. Óbvio, dia 20 de novembro não é feriado em Salvador.

Ao lado do Cemitério Inglês, o ‘Yatch’ Clube, na Avenida Sete. Um utilitário ‘Jeep’ custa perto de R$ 100 mil (até 150 mil se 0km a dísel; isso quando US$ 1 = R$ 5,50). Dele desembarcou uma criança loira pra se entreter no clube.

Achei curioso. Pois é feriado municipal nas duas principais metrópoles brasileiras, Rio e São Paulo.

Alias é feriado não apenas na capital mas em todo Estado do Rio de Janeiro.

Também é feriado estadual no Amazonas (1° estado brasileiro a abolir a escravidão, bem antes da Lei Áurea), Mato Grosso, Alagoas, Amapá e Roraima.

E foi oficializado igualmente em milhares de municípios do Brasil. Entre as capitais fora as já citadas em Belém do Pará e São Luís do Maranhão

Enquanto isso, no subúrbio: saída da Estação Paripe do trem. Imagem auto-explicativa, após a catraca feira improvisada, negros e mulatos se dirigem a suas casas no morro (ampliado no detalhe). É Salvador em Preto-&-Branco.

Porém em Salvador, que é a capital mais negra do Brasil, não é o caso. É dia normal de trabalho.

Assim é Salvador. Suas belezas, seus contrastes. Nossa viagem está apenas começando.

…….

Está concluída a Série sobre a Bahia:

É BOM PASSAR UMA TARDE EM ITAPUÃ: É DIA DE DOMINGO EM SÃO SALVADOR (publicado em novembro de 2021)

Comecei meu último dia no Nordeste na Barra, que é o único lugar de Salvador que os brancos são maioria na rua. Portanto uma região de elite.

Praia de Itapuã.

E, como diz a música, fui “passar a tarde em Itapuã” – uma praia da periferia, onde exatamente ao inverso 95% das pessoas eram negras ou mulatas.

A trilha sonora só poderia ser o ‘pancadão’ do ‘funk’. Daquele jeito.

Falo do renascimento do Salvador pros turistas: uma cidade acolhedora, limpa e segura.

Por outro lado, as ofertas dos guias e vendedores no Pelourinho extrapola pra insistência desrespeitosa e mesmo pra uma extorsão velada.

Pichação em Salvador, com seu estilo inconfundível (no destaque bicicletas que um banco disponibiliza pra aluguel em Ondina).

Abordo também da pichação em muros, que tem ‘alfabeto’ e regras próprias.

Além de vários aspectos soteropolitanos: da origem desse gentílico, que remonta ao grego;  até o gosto pelo churrasco, compartilhado com o Sul do Brasil.

2 LINHAS DE METRÔ, SISTEMA DE ÔNIBUS RENOVADO, ELEVADORES, E BREVE VLT, CORREDORES E ARTICULADOS: O TRANSPORTE EM SALVADOR – Todos os modais, dos anos 70 até hoje e os planos pro futuro:

Metrô impulsionando o desenvolvimento (r).

Padronização Integra Salvador, o metrô que foi inaugurado em 2014 e já tem 2 linhas, o trem suburbano que operou por 160 anos, o futuro VLT que entrará em seu lugar;

O “Brancão” do começo desse novo milênio (abaixo), quando quase todas as viações adotaram uma “padronização informal” embranquecendo a frota – mas nem todas, a BTU foi uma das que resistiu;

Deu Branco“: a ‘padronização informal’ de Salvador, antes da padronização oficial (*).

O tróleibus que existiu nos anos 60, a viação estatal Transur, as primeiras tentativas de padronização (‘Grande Circular’ e TMS), os articulados – que acabaram mas logo voltarão com o BRT, os elevadores que conectam a Cidade Baixa a Cidade Alta.

SOTEROPOLITANO –  Publicado em janeiro de 2017, antes de eu ter ido pessoalmente, portanto:

PUXADINHO NO PRÉDIO, GENTE NAS CAÇAMBAS, GARAGENS NA VIA PÚBLICA:

SALVADOR TAMBÉM É AMÉRICA! E COMO É!!!

Em algumas fotos puxadas do ‘Google Mapas’, mostramos cenas da periferia da cidade.

Ao lado “puxadinho no prédio“:  há um edifício, legalmente construído, com alvará e tudo.

E aí sem alvará alguém sobe mais um andar por conta.

Orla de Salvador: buso municipal em azul, o vermelho metropolitano imita a pintura.

Essa é no bairro de Perambués, mas é situação comum por todo subúrbio soteropolitano.

Flagrei também pessoas viajando sem proteção nas carrocerias de caminhões, calçadas das vias públicas que foram transformadas em estacionamentos pros prédios em frente, e por aí vai.

América Latina, né? Fazer o que?

Deus proverá

6 comentários sobre “Onde Tudo Começou: Salvador da Bahia

  1. Fábio Abreu disse:

    De fato, meu irmão. Já lá se vão vários pares de ano desta minha breve passagem por lá. Imagino que Salvador estava em meio a uma mutação, pois lembro de ter visto a cidade praticamente em obras em todo o caminho do aeroporto até onde fiquei temporariamente “instalado”. E de fato, pode ser que eu acabe voltando, pois há muitas grandes obras a serem feitas por lá, entre elas uma em que tenho especial interesse de ver, e será um marco arquitetônico importante também para a engenharia brasileira – na capital do estado de onde saíram dois dos maiores engenheiros que o país já viu, os “irmãos Rebouças” – que é a ponte Salvador – Itaparica, que deverá ser tocada por uma empresa Chinesa (China Communications Construction Company) e está sendo projetada por uma empresa que eu conheço (a mesma projetista da Octavio Frias de Oliveira, em São Paulo, por sinal). Daí certamente eu devo enterrar de vez essa “memória olfativa”. E claro, não duvido, nem nunca duvidei, que Salvador é muito mais do que o pouquíssimo que vi.

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    • omensageiro77 disse:

      Salvador deve ter sido uma cidade mal-cuidada no passado, pois tinha essa fama. Mas está muito diferente. Por exemplo, nos quase 5 dias que passei lá só vi um sem-teto, e isso que andei extensamente pelo Centro e razoavelmente pela periferia. Enquanto no Recife, e também em Curitiba, São Paulo, Rio e outras cidades esse problema é epidêmico, chega a ser catastrófico.

      Evidente, não estou dizendo que a questão de moradores de rua seja irrelevante na capital da Bahia. Significa apenas 2 coisas: 1) Sim, é nítido que minha amostragem, como a sua, foi pequena. Claro que se eu passasse mais tempo lá presenciaria essa situação pois ela é fato. Ainda assim, 2), Salvador está melhor cuidada. Se a situação existe, e existe, não é tão grave quanto nas demais capitais, pois isso é algo que reparo atentamente onde vou, e você vê que capto muitos detalhes das cidades.

      Então eu diria que vale sim uma segunda visita sua. Você vai gostar do que vai ver. Alias, se possível espere até a inauguração do VLT (composições também chinesas, como a ponte) e corredores de Expresso (hoje se usa a sigla em inglês BRT, como é notório). Aí o transporte em Salvador vai ficar de primeiro mundo, com 3 linhas férreas de qualidade uma ao lado da outra (VLT na Avenida Suburbana, 2 de metrô na BR-324 e Av. Paralela), como um ‘tridente do bem’. E modernos corredores com estações de embarque pré-pago e articulados correndo transversalmente ao modal ferroviário, interligando suas linhas. Vai ficar bom!

      Se Deus permitir, certamente irei de novo a Salvador ainda nessa encarnação. Daí a gente se encontra lá, e come um acarajé no Mercado-Modelo. Na sequência vamos de VLT pra Paripe, e quem sabe até Camaçari. Na volta, não chegamos até o Centro. Descemos no meio do caminho e pegamos um moderno articulado até a orla, pra “passar uma tarde em Itapuã” ! Oxalá seja assim!!!

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  2. helio coelho neto disse:

    Há muito não visito Salvador, mas na década de 80 estives lá muitas vezes…. ficava muito em um hotel em Amaralina.
    O texto – merece um livro – é bem detalhista e mostra muitas sensações que tive naquela época. A cidade é muito bonita, pois o mar e o Sol estão muito presentes. O povo realmente é pobre, mas há um detalhe importante: é povo mais acolhedor que eu conheço.

    Parabéns, precisarei reler para captar mais detalhes.

    Hélio Coelho

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    • omensageiro77 disse:

      Valeu irmão por compartilhar suas lembranças.

      A princípio eu teria ido ao Nordeste em abril/20. E havia reservado um hotel justamente em Amaralina. Com a epidemia (assunto polêmico que não irei discutir nessa página) a viagem original foi cancelada e remarcada pra novembro/20, que foi de fato quando se realizou. Aí acabei optando por Ondina. Gostei do lugar, praia muito bonita, perto da Barra. Mas se tivesse me hospedado também em Amaralina poderíamos comparar melhor nossas impressões de Salvador, pois teríamos ficado no mesmo bairro. Deus não quis assim.

      Bem, Ele permitiu e a viagem saiu. Glória ao Criador.

      Abraços, Deus abençoe.

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  3. Fábio Abreu disse:

    Fui uma única vez à Salvador. À negócios, fazer uma apresentação nas Docas entre uma conexão e outra, para voltar à Brasília. Tive por tanto, perto de 4 horas na cidade, em que percorri o caminho do aeroporto às proximidades do mercado e a região portuária, com seus barracões. De lá me marcaram muito a hospitalidade e presteza dos soteropolitanos (eu estava com notebook e outras tralhas, que tiveram que ficar em uma venda perto do mercado para que eu pudesse mandar imprimir uns cartões). No meu “share of mind” Salvador é a única cidade da qual me lembro pelo cheiro: forte, de urina, sob um sol escaldante. Eu de terno, sapatos, optei por caminhar até o escritório onde havia sido marcada a apresentação – subestimei a distância – (uns 3 Km) e a alta temperatura, portanto. E assim descobri que a cada 15 metros, na longa calçada vazia sob o sol do meio dia, os postes tinham sido usados como mictórios… TODOS eles. Como em um vídeo game da vida real, fui pulando aquilo, de quando em quando, até ser abraçado e salvo pelo ar condicionado da antessala do encontro. Também que descobri que basta estar de paletó e sapatos para ser “doutor” por lá. No mais, me pareceu o lugar que é, com uma grande aptidão ao sincretismo e algo ecumênica, pois consegue conciliar sagrado e profano, moderno e antigo com grande harmonia. Fiz juras e mais juras de lá voltar, mas acabei passando mais tempo (bem mais tempo) na região do agreste, que é simplesmente encantadora. Então, é absolutamente compreensível que João Gilberto tenha cantado suas “saudades da Bahia”. Entoar esses versos da bossa nova desde, então ganharam um sentido novo para mim.

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    • omensageiro77 disse:

      Firmeza total irmão, valeu pelo apontamento. Me diz uma coisa: faz quanto tempo que você passou por essa experiência?

      Falo isso porque ao contrário de ti Salvador me surpreendeu positivamente nesse quesito. Me deu a impressão que no passado a cidade era mais degradada, daí a fama um pouco negativa, mas que se recuperou nos últimos tempos, justamente por ter entendido plenamente o papel fundamental que o turismo tem na geração de empregos e receitas.

      Andamos pelo Centro, inclusive pelas docas, e pela periferia – embora nesse último caso não tanto quanto eu gostaria. Mas fui com minha esposa a Praia da Ribeira, a Lauro de Freitas e a Itapuã, a Praia e a Lagoa de Abaeté. Sozinho fui novamente a região da Ribeira, o ônibus deu uma grande volta nos bairros Roma e Uruguai, etc. Andei bastante pelo Centro, um pouco pela Cidade Alta e mais extensamente pela Cidade Baixa. E peguei o trem suburbano (agora desativado pra dar lugar ao VLT) pra Paripe. Claro que em alguns lugares havia um pouco de lixo pelas ruas, mas isso há em todas as cidades que já conheci, Curitiba inclusive e principalmente. Alias, acrescento, no Rio de Janeiro sim passamos por essa exata situação que você relatou, e tanto na capital quanto em Niterói.

      Repito, Salvador me surpreendeu positivamente, achei uma cidade bastante limpa. Então se puder recomendaria que você cumprisse a promessa que fez a si mesmo e volte a capital baiana pra tirar a prova real, pra (provavelmente) retificar ou (quem sabe, na pior das hipóteses) ratificar essa sensação.

      Não passei por nenhuma experiência negativa em Salvador, olfativa ou em qualquer outra dimensão – exceto talvez a malandragem de alguns vendedores e guias na região do Pelourinho. Mas faz parte. Soubemos lidar com eles e não tivemos nenhum prejuízo.

      Salvador é encantadora. As favelas em morro estão por toda parte, verdade. Mas, você sabe, eu gosto das favelas. Pra mim elas apenas apenas aumentam o charme da “Primeira Capital do Brasil”.

      Abraços irmão, Deus Abençoe.

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