Por Maurílio Mendes, O Mensageiro
Dois emeios, publicados em 21 e 26 de junho de 2013
Maioria das fotos feitas pessoalmente por mim. As que foram baixadas da internet eu identifico com um (r) de ‘rede’. Foram mantidos os créditos, sempre que eles estavam impressos nas imagens.
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Sigamos a falar da capital do Pará. Acima da manchete já vemos um aperitivo do que é a Terra Firme.
Começamos pelo emeio que seguiu em 26/06/13:
Terra Firme é um bairro de Belém, na periferia da Zona Sul.
Fui a pé do Centro até lá, margeando toda a Costa do Rio Guamá, a região dos “Portos”.
Ao lado da Cidade Nova (Ananindeua, Zona Leste metropolitana) são dois dos mais emblemáticos bairros da periferia de Belém.
Ambos eu já conhecia por nome antes de ir lá.
A Cidade Nova é um conjunto planejado construído no fim do regime militar.
Pra tentar ordenar a periferia belenense.
Então, a Terra Firme e imediações são bairros não-planejados.
Resultado de enormes invasões que surgiram a beira dos muitos igarapés que desaguam no Guamá.
Veja: casas construídas em estacas sobre um lodo, sem coleta de lixo e esgoto.
Não é difícil imaginar o que acontece quando chove forte.
E em Belém chove forte todos os dias, de janeiro a janeiro sem falhar nenhum.
É incrível a quantia de pessoas que moram em palafitas na Grande Belém.
São dezenas de milhares (quem sabe centenas), é a moradia típica das favelas do Norte.
Vê também que a madeira é o material mais utilizado. No Norte do Brasil, há tantas casas de madeira quanto no outro extremo, no Sul.
Vendo essas imagens entende o título da mensagem: nas quebradas de Belém a beira dos rios, a Terra só é “Firme” no nome, e talvez em sonhos.
Belém é uma metrópole com taxa de criminalidade elevada.
Já estive em um bocado de cidades, em todas as partes do Brasil e da América.
E Belém está entre as que têm a maior proporção de comércios atendendo gradeados, a esquerda vemos mais um exemplo.
Na mesma proporção da Colômbia, a seguir o México e a seguir Santiago do Chile.
Entendam os amigos do Norte que eu não falo isso por racismo ou por achar que o Sul é melhor.
Exatamente ao contrário, a cidade que eu vivo, Curitiba, é igualmente extremamente violenta.
Especialmente no quesito de assassinatos, que é a forma mais extrema de violência contra alguém.
Curitiba tem também elevada quantia de roubos.
Agora, ainda assim com raríssimas exceções as vendinhas e mercearias do subúrbio curitibano não atendem atrás de grades.
Já em Belém é relativamente comum.
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NO TOPO DO MUNDO, MAIS COMPLEXO NINGUÉM FAZ: É A PICHAÇÃO EM BELÉM –
Há um ramo da atividade humana que Belém atingiu o maior nível de complexidade de todo o planeta Terra:
É a pichação de muros. Nas laterais vamos vendo exemplos.
Esse é um assunto que entendo a fundo, até porque fui pichador.
E além disso estudo desde sempre.
Portanto tenho conhecimento tanto empírico quanto teórico.
E lhes afirmo isso, em nenhum lugar do globo as letras do ‘alfabeto pichador’ atingiram tal desenvolvimento quanto lá.
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Pra começar, Belém tem letra própria de pichação.
Em nosso país, só São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, além de Belém, criaram seu próprio estilo.
As demais cidades copiaram.
Veja: a pichação em Curitiba, Porto Alegre e todo o interior e litoral do estado de SP é cópia exata da capital paulista.
Goiânia xeroca Brasília, que é ali perto. Belo Horizonte imita tanto o Rio quanto São Paulo.
Em Fortaleza se picha como no Rio de Janeiro. No Recife já volta a ser similar ao que ocorre em SP.
Já em Manaus você todos os estilos, do Rio, São Paulo e Brasília, mas nada inventado localmente.
Belém, dizendo de novo, não apenas inventou seu próprio estilo, como ele é o mais complexo do Brasil e do mundo:
Guarda alguma semelhança com São Paulo, de onde se originou.
Mas a seguir foi desdobrado ao infinito em termos de elaboração.
O aluno superou o mestre, em muito.
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Veja as imagens:
Em Belém o tempo todo se insere na pichação desenhos e símbolos.
Rostos, asteriscos, animais, o emblema do ‘Batman’, passa o boi passa a boiada:
O que você imaginar eles já tornaram realidade nos muros do Pará.
São Paulo criou isso, mas em Belém essa manifestação atingiu seu zênite.
Belém, número 1 do planeta na pichação de muros. É a realidade.
É claro, em Belém também se picha tudo que é possível, do teto ao chão.
Como qualquer metrópole que a pichação se pretenda ser levada a sério
Veja como ficou a cobertura do prédio do jornal ‘O Liberal’, bem no Centro.
Os manos re-estilizaram a fachada. “O Cara tá Flutuando”, parece que criou asas pra subir tão lá em cima.
E não foi pouco tempo que eles passaram nas alturas, na imagem a seguir em outra escala a “arte”.
Costuma-se também informar o bairro em que a gangue está sediada.
Técnica usada por vezes em outras cidades, mas lá muito mais.
Veja que em duas nas fotos está escrito CN6, iniciais da Cidade Nova 6, Ananindeua, Zona Leste metropolitana.
Em outra imagem está grafado o numeral ’40’, referindo-se ao bairro 40 Horas, também em Ananindeua.
Outra característica típica belenense: o cara riscou sua parafernália característica e a seguir numerou a obra como ‘1ª via’.
Indicando que era sua estreia naquele muro, pra a seguir ameaçar: “Se pintar eu volto”. E eles voltam mesmo, picham o exato mesmo local, e tiram sarro: “2ª via. Eu avisei”.
Ligação externa, um sítio especializado sobre a pichação em Belém:
Pra quem curte um rabisco nos muros – e telhados!! – na Amazônia é assim que se faz.
DUBAI BRASILEIRA: BELÉM ENTRA EM NOVO CICLO DE PROGRESSO –
Como é sabido, desde a virada do milênio a economia de nosso país passa por um processo de descentralização.
Está se tornando mais justa, regiões antes esquecidas estão enfim tendo direito de participar um pouco mais do desenvolvimento.
Lembre-se, escrevi bem antes da recessão que se instalou em 2015.
Então esses apontamentos ainda se referem ao final do ciclo de prosperidade que houve no país até o meio da decada de 10.
O Nordeste é o exemplo mais conhecido, inclusive já escrevi sobre isso.
Já há algum tempo, indústrias do Centro-Sul passaram a abrir filiais no Nordeste. Com a intensificação desse processo, começa a haver inversão:
Algumas corporações estão fechando as antigas matrizes no Sul e Sudeste e transferindo toda a produção ‘lá pra cima’.
Tenho com frequência comprado produtos fabricados em Pernambuco e na Bahia.
E isso há poucas décadas era impensável.
A indústria calçadista gaúcha fechou quase todas as suas fábricas no Vale dos Sinos, Zona Norte da Grande Porto Alegre.
E agora produz no Ceará.
No Rio Grande do Sul ficaram só os escritórios comerciais, jurídicos, de desenho.
Enfim, o colarinho branco. A linha de produção mesmo não está mais ali.
Hoje, mais gente se muda de São Paulo pro Nordeste que na mão inversa, numa reversão histórica do que predominou por todo século 20.
Assim as capitais nordestinas vem passando por grande surto desenvolvimentista.
E essa onda de prosperidade se espalhou por todo Nordeste, e também pelo Norte.
Estive na capital do Pará em 1989. Ela multiplicou por 10 o número de arranha-céus nesse período.
Veja as fotos. A Zona Central de Belém eu nomeei “Dubai Brasileira”:
São novos edifícios por tudo que é parte, sempre altos, no número de andares e no padrão financeiro.
Há quadras que você vê 5 ou 6 prédios sendo erguidos simultaneamente.
Vários em obras, e vários recém-inaugurados.
Andando pelas ruas do Centro e bairros próximos dele em Belém, se vê uma quantia grande de edifícios, 90% deles erguidos já nesse milênio.
Com décadas de atraso a Zona Central de Belém está ficando verticalizada e com um número grande de pessoas de classe média-alta como ocorre há muito no Centro-Sul do país.
Pense no bairro Água Verde aqui em Curitiba, ou o Tatuapé em São Paulo.
Se tornaram um celeiro de espigões já 3 décadas atrás. Até que enfim está se materializando um equivalente em Belém. E não só no Centro.
A periferia de Belém, um lugar onde tudo é difícil como lhes mostrei e é notório, também passa por grande surto de verticalização e enriquecimento.
Claro que ali os apartamentos tem padrão bem mais modesto. Não importa.
A proporção da transformação que vem ocorrendo é a mesma.
Ananindeua é um subúrbio-dormitório pobre de uma metrópole que já é ela mesma na periferia econômica e política do país.
Ainda assim estão fazendo grande centro comercial, cujo complexo abrigará 3 torres comerciais altas, supermercado e centros de lazer.
Sinal que nas imediações o povo está ganhando mais, pra poder arcar e bancar tudo isso.
Note quantos espigões brotando do solo. Verdade, eles não tem piscina, como os da Zona Central.
Ainda assim, são a prova de como Belém está mudando.
A mudança virá pra melhor. Eu tenho Fé.
Pela Lei dos Ciclos, vai chegar a vez do Norte brilhar mais intensamente nessa dimensão também.
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Comentemos as fotos. Lembre-se, anteriormente essas postagens foram emeios, que têm dinâmica bem distinta.
Portanto nem sempre o texto corresponde a imagem que está mais perto. Busque pelas legendas, que estão corretas. Vemos no decorrer da página:
– O busão que vai pra Terra Firme. Roxo, pois serve a Zona Sul. Com o emblema de Belém bem no centro.
Os ônibus municipais trazem o escudo da cidade, e nessa foto fica nítido;
– Bandeira do Atlético Mineiro pendurada na janela de um prédio. A torcida do Galo está com a corda toda, mesmo na distante e tórrida Belém.
O texto é de junho de 13, pouco tempo depois o time foi campeão de Libertadores.
Eu não torço pro Atlético-MG – alias quando estive em Minas fui no jogo do arqui-rival Cruzeiro.
Tampouco torço pra qualquer outro time, apenas retrato o que vi. As pichações já decodificamos;
– Breve Belém terá um corredor com pistas exclusivas pra ônibus, operada por articulados. Os tubos, iguais aos de Curitiba, já estão instalados.
Como acabo de dizer, essa era a situação em 13. Agora o Ligeirão de Belém já está operando;
– Vemos a BR-316, saída de Belém. Vai até Maceió-AL.
Só que bem antes disso, na parte urbana da Grande Belém, ela liga a Zona Central aos subúrbios metropolitanos da Zona Leste.
Por isso, as ‘galeras’ (de torcidas de futebol e patotas de rua) que moram na Z/L em Belém se denominam “Comando BR”, pois pra atingir o Centro é inevitavelmente pela BR-316.
Em Porto Alegre-RS, o equivalente é o “Comando Trem”, visto que os que moram na Zona Norte metropolitana (Canoas e o Vale dos Sinos) vão de trem urbano pro Centro da capital.
De volta a BR-316, Zona Leste da Grande Belém. Mais alguns detalhes dignos de nota: mesmo no sábado, tudo parado.
O desenvolvimento econômico chegou a Belém como um todo, e a Ananindeua em particular.
Veja quantos prédios altos surgindo. As palmeiras, símbolo de Belém, estão por toda parte;
– Um ônibus acaba de deixar a rodoviária de Belém, e segue viagem rumo a Picos, no Piauí. Foto ao lado. Escrito ‘Picos/Belém’ porque não se deram ao trabalho de inverter o letreiro. Nesse dia ele fazia o sentido Belém/Picos.
O dia está muito quente, e em Ananindeua ele encosta pra quem começa a viagem ali poder embarcar.
Enquanto isso, os passageiros que já estão dentro descem pra tomar uma agüinha, pois o calor tá de lascar.
Esse veículo um dia pertenceu a Viação Itapemirim, mas não mais. Foi vendido pra uma empresa menor, local;
– Outro ponto curioso nessa mesma foto: note que uma placa indica “pousada”. Cuidado que não é o que aparenta.
‘Pousada’ em Belém é motel de alta rotatividade na zona ‘da luz vermelha’;
– Observe que traz um cartaz anunciando ‘amarração pro amor’, imagem a esquerda.
“Faço querer quem não te quer” promete, como se isso fosse possível mas deixa pra lá.
Eis uma manifestação universal, também já fotografei em Belo Horizonte e no Paraguai.
Aqui quero chamar a atenção pra outro detalhe:
Oferecerem ‘garrafadas’, remédios caseiros com ervas. Já falei – inclusive com fotos – bem melhor disso na matéria sobre a República Dominicana;
– Bem no Centro de Belém, um prédio do Inamps. Espera aí….Inamps?? Essa é velha, hein? E bota velha nisso.
Todos conhecem o INSS, Instituto Nacional de Seguridade Social.
Mas só os mais velhos, de 30 e poucos anos pra cima, é que estão na matéria o tempo suficiente pra saber que o Inamps (Instituto Nacional de Previdência Social) é seu predecessor.
O Inamps encerrou as atividades no já distante ano de 1990 (quando Collor era presidente), e acabou juridicamente 3 anos depois.
Acontece que no Centro de Belém, ele ainda está na fachada, a vista de todos numa das principais avenidas da cidade, em pleno 2013;
– Ao lado: o igarapé Val-de-Cans, que divide o bairro de mesmo nome (onde está o Aeroporto Internacional) do Maracangalha, Zona Norte de Belém.
Na primeira mensagem da série seguiu essa foto em outra escala, e viram que urubus e garças dividem o espaço no riacho. É Belém em Preto & Branco.
– Em Belém, a maioria dos postos de gasolina da periferia não tem lojas de conveniência, como podem ver a direita.
Pra quem mora no Centro-Sul é uma cena inusitadíssima. Afinal a gente se acostumou a ver todo tipo de comércio nos postos:
Lanchonetes, farmácias, lojas de conveniência, caixa eletrônico, lavanderias, e muito mais.
Olhe, é um centro comercial tão amplo que vende até combustível, sabia?
Assim nos é estranho ver um posto pelado, onde só se vendem dois produtos: gasolina e álcool, e nada mais.
Não dá pra comprar salgadinhos nem bebidas, não dá pra sacar dinheiro, não dá pra fazer um lanche, não dá pra comprar remédio, só dá pra abastecer mesmo.
Os postos maiores na Zona Central, onde a renda é mais alta, e uns pouquíssimos na periferia, esses tem sim loja de conveniência e caixas eletrônicos, como é no resto do Brasil.
Mas a maioria é como observam (e esse é Petrobrás e numa avenida movimentada, de pista dupla), só tem as bombas mesmo e nada mais.
Como um dia foi no planeta inteiro, décadas atrás.
Aliás: nesse mesmo ano de 2013 constatei que na República Dominicana exatamente o mesmo se dá, loja de conveniência só nos bairros mais ricos.
Bem vindos a Belém, “Portal da Amazônia” e nesse caso também um “Portal do Tempo”;
– 6 fotos da Terra Firme, Zona Sul (que puxei da rede), e 3 clicadas por mim na Vila Esperança, Centro de Ananindeua, Zona Leste metropolitana.
AMÉRICA QUERIDA, AMOR MAIOR: A SAGA DE DESBRAVAR SOZINHO E A PÉ AS ENTRANHAS DE UM CONTINENTE, E DEPOIS RELATAR
Nesse emeio publicado em 21 de junho de 2013 falaremos, entre outros temas, da rede de ônibus.
Em verdade boa parte das informações já foi sintetizada na legenda das fotos.
Vamo aí. Em Belém não há metrô, trens e muito menos bondes modernos. Tampouco há articulados e pistas exclusivas pra ônibus.
Qualquer modal ferroviário está completamente fora dos planos, por ora.
No entanto em breve haverão articulados em pistas exclusivas, um corredor está sendo feito – com tubos exatamente iguais aos daqui de Curitiba – e a primeira fase já está quase pronta.
Nota: escrevi o que era realidade quando lá estive, por isso ressaltei a data muitas vezes.
Como já atualizado acima, o Ligeirão já está operando. Sabendo disso, volta o texto original.
Então logo Belém dará um salto de qualidade, desesperadamente necessário.
Porque por enquanto só operam lá ônibus convencionais, micro-ônibus e vans.
Exatamente igual a Assunção, Paraguai, onde eu havia estado um mês antes.
A capital do Pará é a única cidade do Brasil, creio eu, em que ainda há transporte clandestino, ou seja vans que operam sem qualquer controle ou fiscalização.
………………
No Sul do Brasil nunca houve transporte clandestino.
Os que moram aqui e viajam pouco pra outras partes do país sequer sabem o que é isso.
Entretanto, em outros estados a partir dos anos 90 surgiram vans e kombis, operadas pelos próprios donos, concorrendo com o sistema regular.
Isso se tornou onipresente em todas as capitais e cidades maiores do interior, em todo Sudeste, Nordeste, Centro-Oeste e Norte.
Cheguei a usar esse modal em São Paulo, inclusive as kombis.
Era um problema seríssimo. Esses veículos não tinham manutenção adequada nem treinamento por parte dos proprietários/motoristas. Não cumpriam horário nem itinerários fixos.
E como precisavam fugir da fiscalização muitas vezes dirigiam de forma perigosa, entrando em vias paralelas de menor movimento pra escapar dos fiscais.
Diversos acidentes ocorriam, inclusive com mortes. O sistema reprimia, mas o problema não terminava, e nem poderia acabar somente pela repressão, pois havia demanda.
Em bairros da periferia simplesmente não havia outra opção, então as pessoas utilizavam transporte irregular, mesmo sendo perigoso.
Por ser uma opção mais barata e em alguns casos a única.
Na última década, todas as cidades regularizaram o transporte clandestino, inserindo-o no sistema.
Em todo Brasil exceto no Sul (onde nunca houve) ele continua a existir, mas não é mais clandestino.
Os motoristas foram obrigados a formar cooperativas, e as cooperativas respondem perante o sistema como se fossem uma empresa.
Têm que cumprir horário, itinerário e valor da tarifa fixos. Os veículos tem que passar por manutenção, e os funcionários por treinamento.
Além disso, em muitas cidades não há mais vans ou kombis, só micro-ônibus.
Que são menores que os veículos convencionais, mas pelo menos você pode ficar de pé dentro deles.
Assim, as cooperativas não mais concorrem com as empresas regulares. Os dois modais agora se complementam, os ônibus maiores das empresas fazem as linhas-tronco, centro-periferia.
E os micros das cooperativas se encarregam das linhas locais, partindo dos terminais e avenidas principais da periferia até os pontos mais distantes, nas vilas, favelas e morros.
Vi pessoalmente essa situação, o antigo transporte clandestino agora inserido no sistema e com qualidade, em dezenas de cidades.
Como São Paulo capital, Campinas-SP, Santos-SP, Brasília-DF, Goiânia-GO, Cuiabá-MT, Manaus-AM, Belo Horizonte-MG, Recife-PE e Fortaleza-CE, pra citar apenas algumas.
No Rio de Janeiro ainda há vans, andei nelas no mesmo ano de 2013. Nas avenidas principais da capital carioca circulam as que já esão legalizadas.
Nos fundões da Ilha do Governador vi ainda transporte que me pareceu entretanto não-legalizado, ou seja clandestino.
Se assim for, o Rio resolveu em parte o problema das lotações ilegais, mas não de todo.
Entretanto, dizendo de novo, Belém ainda está por dar esse passo.
Lá ainda operam vans e kombis ‘como dá na telha’, sem qualquer tipo de controle ou fiscalização.
Digo, algumas que vão pra Região Metropolitana são cinzas e numeradas, o que indica que há pelo menos algum cadastramento junto aos órgãos responsáveis.
Mas as que operam dentro do município de Belém, e algumas que também são metropolitanas, são completamente brancas.
Sem nada que indique que qualquer pessoa ou órgão tenha alguma jurisdição sobre elas.
Um dia, pra ir de Icoaraci (Zona Norte) pro Centro eu utilizei esse modal, é claro, pois quando visito uma cidade sempre faço uma imersão total.
Vou pra ver como vivem seus habitantes, especialmente os da periferia.
Cara, é horrível andar nessas vans, e não por outro motivo na maioria das cidades elas foram proibidas.
Você mal fica de pé, não há espaço pra circulação no interior do veículo – quando alguém lá de trás precisa descer é um horror, como não é difícil imaginar.
E tudo foi repetido ‘ipsis literis’. Bem, no México e Colômbia também andei de Kombi e van, respectivamente, e a situação não foi muito melhor não.
Voltando a Belém, cheguei a ver Kombis em que se abre janela de trás, e duas pessoas iam sentadas sobre o motor, com as pernas pra fora do veículo.
Numa situação calamitosa, mas ninguém parece se importar.
………………
Enfim, seja como for, veja as vans operando em Belém. Em duas tomadas (uma delas a esq.) é um único veículo, pela manhã, bem no Centro, perto do Ver-o-Peso.
Repare na outra foto (mais pra cima na pág.) que ainda vemos os trilhos dos bondes, que um dia ali fizeram seu ponto final, mas que já se retiraram de cena a décadas (em Assunção-Paraguai captei a exata mesma cena).
E também a fila de vans no bairro do São Braz, Zona Central. Nesse local é o terminal metropolitano, em frente a Rodoviária.
Outro detalhe. Veja nessa imagem logo acima a placa do Pálio verde. Tem as bandeiras do Pará e do Brasil.
Como disse na postagem anterior, essa é uma característica impressionante de Belém: voluntariamente, sem que nada obrigue, cerca de metade da frota tem suas placas adornadas assim.
Voltemos ao transporte coletivo. Lhes disse que apenas Ananindeua e Marituba estão conurbadas com Belém, e por isso formam com ela uma única cidade, região metropolitana da fato e direito.
Assim os ônibus regulares pra essas cidades vão até o Centrão de Belém, até seu marco zero, as “docas” (o porto pra navios de grande calado) e o Ver-o-Peso.
Os ônibus pras demais cidades, mais distantes e ainda não de todo integradas a Belém, saem do São Braz, que é próximo ao Centro mas já fora dele.
O ponto final das linhas é de dentro da rodoviária mesmo (quando são ônibus de viagem) ou na praça em frente a mesma (ônibus urbanos e vans).
E as vans pra região metropolitana e cidades próximas (nesse modal incluindo as que vão pra Ananindeua e Marituba), tudo sai desse mesmo local, no São Braz.
Então aqui vê o fim da tarde, a fila de vans aguardando os passageiros, que iniciarão longa viagem pela BR-316 rumo a suas casas, que ficam em distantes subúrbios a leste da capital.
O ponto final do Ligeirão é ali também.
Na imagem há também vários táxis, já matamos esse coelho também com a mesma paulada: na Grande Belém os táxis são brancos, em todos os seus 3 municípios.
……………..
Há também um modal de micro-ônibus, que é bem melhor que vans e kombis. Esse modal é como é no resto do Brasil.
Vários na foto ao lado, na BR-316. São municipais de Ananindeua (na mesma tomada os busos grandes azuis são metropolitanos).
Pequenas empresas e cooperativas operam linhas menores, mas nesse caso com fiscalização, horário e itinerários regulares.
Clicamos diversos micro-ônibus de linhas municipais de Ananindeua, Zona Leste metropolitana – um deles serve ao bairro Jibóia Branca (é isso mesmo),
Quase todos os micro-ônibus das cooperativas já regularizadas e as vans ainda clandestinas foram trazidas usadas de outros estados, a maioria do Rio e São Paulo.
Muitas vezes sequer fora re-emplacado no Pará ainda.
E cheguei a ver alguns desses veículos em que no letreiro ainda constava a linha que um dia eles cumpriram no Sudeste do Brasil.
Presenciei o mesmo no Paraguai e Rep. Dominicana, e lhes relatei inclusive com fotos.
O trajeto atualmente operado no Norte era indicado por uma plaquinha no vidro.
Ou mesmo informado verbalmente pelo cobrador quando encosta no ponto: “Castanheira via BR, tá saindo agora”.
No México, Rep. Dominicana e Colômbia, também há vans e kombis operando de maneira absolutamente precária
Mas pelo menos lá com alguma fiscalização, não são clandestinas.
Repetindo, no Paraguai, por outro lado, não há vans ou kombis, só ônibus e micro-ônibus, em que você pode ficar em pé e circular dentro deles com algum conforto.
……………..
Agora os ônibus regulares. Em Belém a pintura é padronizada e única, tanto pros municipais quanto pros metropolitanos.
Até onde sei, só há mais 4 cidades do Brasil em que isso ocorre: Curitiba, Goiânia-GO, Vitória-ES e Recife-PE.
Mas atenção. Nas outras 4, é a mesma pintura e o mesmo sistema, integrado. Ou seja, quem vem da região metropolitana tem acesso aos municipais da capital sem pagar de novo.
Em Belém, apenas a pintura é unificada. Não há integração de qualquer tipo, nem municipal nem metropolitana.
Não existem terminais de ônibus no Pará, e o cartão, ainda em fase de implantação, não dá desconto e muito menos isenção numa segunda viagem.
Desceu de um veículo, seja ônibus, micro ou van, paga valor integral pra usar outro.
Mais uma vez, relato o que presenciei ‘in loco’ em junho de 13. De lá pra cá foi implantada integração no cartão, embora não sei te dizer se em todas as linhas ou só em algumas. Se algum leitor tiver essa informação repasse que eu publico.
Pelo menos a tarifa é barata, R$ 2,20. É só esse valor mesmo, seja municipal de Belém ou pros seus subúrbios metropolitanos mais distantes.
Isso pros ônibus grandes, das empresas. Nos micro-ônibus das cooperativas e nas vans que são operadas pelos próprios donos, é ainda menos:
R$ 2,00, mesmo pra viagens bem longas que ligam municípios afastados de Belém ao terminal (não-integrado) do São Braz.
…………..
Em Assunção também é assim, uma tarifa relativamente barata e única, seja pros municipais ou metropolitanos.
E tanto faz se o metropolitano entra no município de Assunção (“Departamento Capital”, no jargão local) num trajeto radial, ou se, inversamente, liga municípios suburbanos entre si sem entrar na capital propriamente dita, num roteiro transversal.
Há muitos outros pontos em comum entre as capitais do Paraguai e do Pará. Ambas são cidades:
– planas, sem morros;
– como acabei de dizer, com tarifa única de ônibus, mesmo metropolitanas;
– em que não há integração na rede de transportes, mas ambas irão fazer corredores exclusivos pra articulados, onde será adotado sistema de alimentadores.
Em Belém a primeira fase será inaugurada logo, no Paraguai está em projeto;
– bem pobres, América Latina de fato e direito, ainda aguardando sua vez de entrar na onda de progresso que beneficia parte da região;
– a margem de grandes rios, e tem neles sua razão de existir;
– com portos fluviais guardadas por esquadras da marinha;
– estão construindo portentosa Avenida Beira-Rio dotadas de parques e demais áreas de lazer, aprofundando sua ligação emocional com a Mãe-Água; e
– possuem miseráveis favelas as margens de seus cursos d’água, em que alguns de seus habitantes extraem do rio parte de sua alimentação, pescando.
De forma que foi interessante fazer essas duas viagens em sequência, com menos de um mês de intervalo.
Na verdade eu fui pra Assunção por causa de Belém.
Explico: eu iria pro Pará em fevereiro, a passagem já estava até comprada, nunca havia sequer cogitado ir ao Paraguai.
Mas não deu certo viajar a Belém quando previsto, houveram incidentes que forçaram o cancelamento.
Então eu programei a viagem a Assunção como uma forma de compensar pela outra não ter vingado.
Foi muito legal, adorei conhecer essa nação vizinha a nossa, um ‘irmão menor’ do Brasil, nossas pátrias estão umbilicalmente ligadas, como já escrevi com mais detalhes.
Ainda assim, não desisti de ir a Belém. E no fim pude conhecer ambas, pelo que agradeço muito a Grande Vida.
E produzir essas séries, assim repartindo com vocês um pouco dessa Vibração, é uma forma de devolver ao Universo a Energia que Ele-Ela me permitiu entrar em contato.
……………….
Deixemos o Paraguai pra lá, afinal ele já foi minuciosamente relatado, e voltemos a falar da cidade de Belém.
Foi fundada na confluência da Baía do Guajará (que é o Delta do Rio Tocantins, engrossado pelo Rio Araguaia que nele desaguou) com o Rio Guamá.
A baía está a oeste de Belém, o Guamá a sul. Por isso, Belém não tem Zona Oeste, sendo esta o Grande Rio.
Nele está o Porto de Belém (as “docas”), pra navios de grande calado trans-atlânticos, cargueiros e ocasionalmente de passageiros.
E a seguir o Ver-o Peso. A partir daí, há um pequeno cabo, e depois dele entramos no Guamá, que tem nesse ponto sua foz.
Seguindo rio acima, há a região dos “portos”, onde ancoram embarcações menores, usadas pro transporte intra-amazônico, de carga e passageiros.
Entre o Centro e o Rio Guamá, fica a Zona Sul de Belém. Ela é pequena, por ser limitada fisicamente pelo rio, mas existe.
E justamente por ser mais próxima ao núcleo original da cidade, cresceu antes que as Zonas Norte e Leste.
………….
Até o começo dos anos 60 não se chegava a Belém por via terrestre.
Quando o presidente JK “O Egípcio”, o Visionário, construiu a capital Brasília e no mesmo embalo a Rodovia Belém-Brasília.
Enfim o Pará estava integrado a nação, quebrando um isolamento secular. Em outro texto falei mais da história de Belém.
Verão ali que essa relativa alienação do resto do Brasil quase que desconectou o Pará de nossa pátria amada.
Aqui, o tema é a geografia. Houve a inauguração da Belém-Brasília no início dos anos 60, ligando o Pará ao Centro-Oeste, e por consequência ao Sudeste e Sul do Brasil.
Uma década depois, o regime militar concluiu a BR-316, que tem um de seus extremos justamente em Belém. Rumo a leste, ela passa pelo interior do Pará e Maranhão, chegando a Teresina-PI.
Continua a rasgar o sertão nordestino, e tem sua outra extremidade em Maceió-AL. Pronto, agora enfim o Norte estava também conectado ao Nordeste.
Assim a economia se desenvolveu, o que fez com que Belém inchasse descontroladamente. Aí, surgiram grandes favelas na Zona Sul, mais centrais
E os distantes subúrbios das Zonas Leste e Norte assumiram colossal proporção, rapidamente chácaras deram lugar a vilas, loteamentos e invasões.
A maioria sem nenhuma infra-estrutura, caos que apenas agora principia a ser amainado. E reforce-se o “principia”.
Os subúrbios da Zona Norte, alguns muito, muito distantes, estão dentro do município de Belém mesmo. Já a Zona Leste de Belém se configura nos subúrbios metropolitanos dos municípios de Ananindeua e Marituba.
Veja o mapa no meio da matéria, mais pra cima: a Grande Belém foi dividida em 5 regiões, cada uma com um cor característica, pintada na lataria dos ônibus:
– Roxo: Zona Sul, e parte da Zona Central, dentro do município de Belém;
– Azul: Zona Leste, quase toda ela metropolitana, nos municípios de Ananindeua e Marituba;
– Verde: um 1º anel na Zona Norte, mais central, no município de Belém;
– Laranja: um 2º anel na Zona Norte, intermediário, também no município de Belém;
– e por fim Amarelo: um 3º anel na Zona Norte, periférico, ainda mais uma vez pegando somente o município de Belém.
……………
Essa divisão não é exata. Talvez os bairros do Marco, Castanheira, Marambaia e Mangueirão (nesse último está o estádio de mesmo nome) pudessem ser classificados como Zona Leste, e eles todos pertencem ao município de Belém.
Mas na hora de dividir não se levou isso em conta, e e todos eles ficaram dentro da região Verde, que é majoritariamente Zona Norte.
Além disso, observe: em preto estão as divisas de município, a linha mais grossa indica o município de Belém, e a mais fina são as fronteiras de Ananindeua e Marituba.
Veja que abaixo, bem no centro do mapa (a direita de onde está escrito ‘Curió-Utinga’ e abaixo de onde está grafado ‘Ananindeua’) há uma parte que pertence ao município de Belém, mas é azul.
É o bairro Águas Lindas. Embora de fato ele pertença a Belém, não há ligação direta dentro do município da capital. É preciso passar por Ananindeua.
Você está em Belém, entra em Ananindeua na BR-316, e ao virar a direita no acesso a Águas Lindas, retorna a Belém.
Por isso, os ônibus que vão até lá são azuis, e operados pelas empresas de Ananindeua.
Por toda a Zona Leste – e toda a Região Metropolitana, o que em Belém dá no mesmo – ser azul, essa é a cor mais comum de ônibus por lá.
A seguir, o amarelo, que cobre a parte mais populosa e distante da Zona Norte.
Os menos comuns são o verde e o laranja, que cobrem partes intermediárias, menos extensas e menos populosas, da Zona Norte.
E como pode ver, na lataria vem pintado o nome do bairro (ou município) que a linha serve. É o bairro, não a vila. Logo, o ônibus pode fazer outra linha, desde que seja pra uma vila vizinha, no mesmo bairro ou município, que não fica errado.
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Agora, não pense que essa divisão por cores é rigorosamente respeitada não, porque não é.
A mesma empresa por vezes tem linhas que cobrem regiões distintas. Assim, por vezes é preciso fazer remanejamento na logística dos veículos.
Então você ônibus laranjas atendendo a região amarela, pra citar apenas um exemplo. Várias combinações são possíveis, obviamente.
Bem, isso de a empresa nem sempre pôr o ônibus de cor certa naquela linha ocorre em todas as cidades que há alguma padronização e a mesma empresa tem linhas de cores diferentes.
Em todas, sem falhar nenhuma.
Já vi ônibus operando com a cor errada praquela linha centenas de vezes aqui em Curitiba.
E também em São Paulo, Joinville-SC (quando lá tinha diferença por cor, agora não mais, é cor única pra todas as linhas), Blumenau-SC, Belo Horizonte.
Enfim é universal, a viação precisa remanejar os carros pra outra linha, então eles circulam mesmo quebrando o padrão. Acontece.
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Outro detalhe: em Belém, por muitas e muitas décadas a linha vinha pintada no para-brisas. Logo, o veículo só pode operar naquela linha.
Em Belo Horizonte é igual, lembram que relatei com fotos essa situação quando lá estive em novembro de 12.
E só nessas duas cidades é que é assim. Isso no Brasil. Porque na América Latina, esse é o padrão.
Do México a Argentina, em absolutamente todos os países a linha vem pintada no veículo, que portanto não pode se separar dela.
Quer dizer, em Belém e Belo Horizonte era assim.
Porque com o advento do letreiro eletrônico, a linha pode ser alterada literalmente com alguns cliques num teclado.
De forma que as capitais mineira e paraense vem se igualando ao resto do país, perdendo essa característica hispano-americana que era própria delas.
Com a renovação da frota, que é um processo permanente, logo todos os ônibus dessas duas cidades terão letreiro eletrônico.
A esquerda logo acima o ‘paradouro’ no ponto final das linhas do Jdim. Europa, Zona Norte e daí os bichões laranjas.
Alguns ainda com linha pintada, outros já eletrônicos.
Fotografei “carros” (o jargão do meio pra ônibus, obviamente) modernos, que podem alternar entre qualquer linha da empresa num clique.
Em duas tomadas (uma logo acima) cliquei a transição, juntos estão veículos tanto do padrão antigo (“americano”) quanto do novo (“brasileiro”).
Agora, pode alternar de linha desde que seja pra uma vila vizinha, como expliquei acima. Pois o bairro ainda vem pintado na lataria.
Quando é preciso remanejar pra outra região da cidade, por vezes se cola um adesivo com o nome do novo destino contemplado. Ilustro esse fenômeno ao lado:
Antes, esse ‘carro’ servia ao bairro Tapanã, na Zona Norte. Foi remanejado pra região do Icoaraci, que também é Z/N mas bem mais pra frente.
Exatamente o mesmo ocorre em Belo Horizonte, e pelo mesmo motivo, porque vem pintado na lataria o destino.
E lá igualmente, quando é preciso mudar, se recorrem a adesivos, por vezes afixados de maneira completamente tosca e mambebe, só pra quebrar um galho mesmo.
Quem diria hein, cidades diametralmente tão diferentes em quase tudo: BH é bem mais rica; BH é montanhosa, Belém na planície;
BH é no centro político e econômico do país, meio caminho entre Brasília de um lado e São Paulo e Rio de outro, já Belém é na periferia econômica e política da nação;
BH é longe da praia e sem grandes rios, alias um dos traços mais marcantes de Minas é ser alijada do litoral, já Belém é a “Filha das Águas”, mais ligada ao Grande Rio, impossível.
Mas nesse quesito, de ter a linha dos ônibus fixa na lataria e sofrer pra modificar, Belém e Belô se encontram. A Vida as vezes é curiosa, não?
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Como já coloquei, breve Belém terá grande salto de qualidade no transporte. As partes mais pobres e populosas, que portanto mais usam ônibus, são as Zonas Leste e Norte.
Pois bem. Pra se chegar a ambas a partir do Centro se usa a Avenida Almirante Barroso. Há outras, mas esse é o eixo mais carregado, a maioria das linhas de ônibus vai por ela.
Então, e do Centro até o bairro da Castanheira (Zona Leste, ainda no município de Belém) está quase pronto uma canaleta exclusiva pra ônibus, que será operada por articulados.
Terá tubos exatamente iguais aos de Curitiba, em que se abrirão 3 portas. Eles farão o tronco, e vai ficar bom.
Em Castanheira haverá um terminal, e os ônibus normais, que hoje vão até o Centro, partirão dali.
Com isso, também será possível ir de uma vila a outra sem passar pelo Centro e sem pagar de novo.
O que hoje é impossível, exceto que haja uma linha específica, o que é raro, tudo é planejado pra levar as pessoas da periferia pro Centro e não intra-periferia.
Numa segunda etapa, o corredor será estendido até Icoroaci, na Zona Norte. Mas vai demorar, e bota ‘demorar’ nisso. Icoroaci é longe, bem longe, e as obras sequer começaram. Bem, até a Castanheira já é alguma coisa, melhor que nada.
Atualização. Ainda mais uma vez, o Ligeirão já está ativo, e há alguma integração no cartão.
Não sei se o Terminal da Castanheira ficou pronto, relatei qual era o projeto mas ignoro em que grau foi efetivamente implantado.
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Ao contrário das vans e micros, os ônibus grandes que circulam em Belém foram comprados novos.
Quase todos tem a placa começando com ‘J’, os mais antigos, e ‘O’ os mais novos, o que indica que foram emplacados zero km já no Pará.
A pintura é padronizada pra toda Grande Belém, independente se o busão é municipal ou metropolitano.
Então como diferenciar? Há duas formas, a primeira é a cor: azul é Zona Leste, e portanto inter-municipal.
E qual a outra maneira de você saber se a linha é interna do município de Belém ou se vai pra Ananindeua, Marituba ou mesmo Benevides?
É simples: pelo desenho que vem entre o bairro e a empresa, no meio do veículo.
Os municipais de Belém vem escrito “Cidade de Belém”, e acima disso com o escudo da cidade.
Os que, por outro lado, saem do Centro de Belém e fazem ponto final em Ananindeua tem uma árvore desenhada.
Como notam em várias fotos incluso ao lado.
Já os que percorrem maior trajeto, indo até Marituba, tem analogamente símbolos do município em sua lataria:
Em alguns, o prédio da prefeitura, em outros aquela estátua de braços abertos que está na BR, ícone maior de Marituba.
Alias, cliquei a estátua mesma, não em carne e osso, mas em pedra e ferro.
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Marituba é um subúrbio distante e empobrecido. Belém já é por si mesmo uma cidade pobre.
Quando ela inchou, transbordou seu subúrbio pra Ananindeua, que é ainda mais pobre.
Quando Ananindeua igualmente explodiu em crescimento demográfico, transbordou seu subúrbio pra Marituba, que posto dessa forma não é difícil de ver, é periferia da periferia.
Embora nos bairros mais depauperados, e são muitos, do município de Belém a situação seja bastante similar. Cheguei a ver um casa – casa é elogio, uma tapera de madeira caindo aos pedaços – que não tinha fogão, nem a lenha e muito menos a gás.
A dona de casa improvisou uma grelha, e com lenha recolhida nas imediações aquecia a janta da família. Isso no bairro Cabanagem, Zona Norte de Belém.
Voltando a Marituba, lá estava eu, andando sozinho, sob um sol de quase 40º, no bairro Nova Marituba, que como o nome indica é mais recente, e portanto ainda mais pobre.
Caminhava pela Avenida Pirelli, quando me deparei com o ponto final de várias linhas de ônibus, 4 bichões juntos esperando a hora de zarpar. Já lhes disse isso muitas vezes antes:
Curitiba é a exceção, mas de resto essa é uma cena típica de nossa querida América, que já presenciei em dezenas de cidades de 4 países e das 5 regiões do Brasil.
Inclusive já fotografei em B.H., no México (capital e litoral), São Paulo, Santiago, Assunção e até na Grande Curitiba.
Fiquei filosofando então sobre minha missão, que é percorrer sozinho, sempre a pé ou de transporte coletivo, os 4 cantos desse continente, e depois relatar.
Suas partes turísticas e os piores subúrbios e favelas, igualmente. Se tivesse que dizer algo, seria o seguinte:
“América querida, só quem te conhece por dentro pode te compreender, e te Amar.
Eu te conheço, em suas entranhas. No Preto & no Branco, estou contigo.
Por isso te compreendo, e te Amo. Acima de tudo e abaixo de nada”.
Desbravar esse Continente é minha Razão de Viver.
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Passado esse momento místico, minha Consciência começou a regressar a matéria, digamos assim. Continuei então minha caminhada rumo a BR-316. Ali chegando, tomei a condução pra Ananindeua.
Fui de micro-ônibus de cooperativa, de forma que utilizei todos os modais de transportes disponíveis em Belém, que é o que faço em todas as cidades que visito, sempre que possível.
Desci em Ananindeua. Nesse município está o bairro Cidade Nova, ícone da periferia belenense, que conheço de nome desde sempre, e agora a Vida me deu a chance de pisar fisicamente ali.
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Como já disse várias vezes e é notório, no seu apagar das luzes o regime militar fez pesados investimentos na área social, especialmente nos ramos de transporte urbano e habitação.
Das melhorias na rede de transportes urbanos já falamos muitas vezes, inclusive com fotos.
Aqui, quero lembrar que o governo federal incentivou, financiou e planejou enormes conjuntos habitacionais, de Norte a Sul do Brasil.
A Cidade de Deus na Zona Oeste do Rio talvez seja o exemplo mais famoso, mas poderíamos falar também da:
Cidade Tiradentes (Zona Leste de SP), do Atenas/Augusta na Cidade Industrial (Zona Oeste de Curitiba), do Rubem Berta na Zona Norte de Porto Alegre ou do Conjunto Jereissatti na Zona Sul da Grande Fortaleza, além de muitos outros.
Então, em Belém o cartão de visitas do programa foi a Cidade Nova, Ananindeua. Com crescimento explosivo, chegou na 8ª expansão (Cidade Nova 8).
Vários outros se seguiram, um é o Conjunto PAAR, também em Ananindeua, cuja sigla homenageia os 4 estados mais setentrionais do Brasil.
Os únicos que tem parte do território no Hemisfério Norte acima do Esquador: Pará, Amapá, Amazonas e Roraima.
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Comentemos as fotos desse segundo emeio, valem as mesmas advertências do primeiro, quando não estiver ao lado do texto busque pela legenda:
“A CORRIDA DE 62 MILHÕES” –
– Fotografei o ônibus azul que vai pra Cidade Nova, Zona Leste metropolitana, ícone maior da periferia belenense. Em duas tomadas mais pra cima na página ele sozinho, e a direita atrás do roxo que vai pra Z/S.
Estava na Avenida Presidente Vargas, Centro de Belém. Passei a pé em frente a um ponto de táxi.
Os taxistas tiravam sarro do quanto esse subúrbio é afastado. Um deles contava que um possível passageiro perguntou quanto daria a corrida pra Cidade Nova.
O taxista disse que seria realmente muito caro, melhor deixar pra lá. A seguir, disparou “daqui pra Cidade Nova, dá mais ou menos R$ 62 milhões”.
E todos explodiram em gargalhadas. Diante desse quadro, melhor mesmo é optar pelos azulzinhos da Viação Forte, não é mesmo?
Demora bem mais, mas pelo menos você só desembolsa R$ 2,20 (valor de 2013, não sei o atual);
– O interior de um ônibus, com o para-brisas decorado, costume local e de boa parte da América, no passado foi mais ainda.
Como podem ver, o cobrador fica a esquerda, pra quem olha do fundo. Volto a esse último tema em outra mensagem;
– Quando os ônibus azuis começam a predominar, você sabe que saiu do município de Belém, e está na Zona Leste, que fica nos subúrbios metropolitanos;
– O ponto final do Jardim Europa, na Zona Norte. Em Belo Horizonte, também estive no Jardim Europa, que também é um bairro de periferia, e igualmente fica na Zona Norte. Que coisa, né?
– Reparem na linha, Belém-Mosqueiro. Volto ao tema em outra mensagem, que já levantei aqui pra página;
– Ônibus da Viação Barata. Não é brincadeira ou trocadilho. Jacob Barata é um paraense que vive no Rio, e ali formou um império do transporte urbano.
Acontece que o Rio era pouco pra Barata. Ele ‘voltou pra casa’ e formou um conglomerado em Belém também.
Além da Viação Barata, há também a Belém-Rio, e outras. Só que ainda era pouco : a seguir Barata começou a investir pesado também em Fortaleza;
– Icoaraci-Cidade Nova: uma linha trans-suburbana, ligando dois bairros do subúrbio (respectivamente um na Zona Norte, no município de Belém mesmo, e outro na Zona Leste em Ananindeua) sem passar pelo Centro;
– A cena que via de minha janela, ao acordar: amanhecendo em Belém, e pouco depois já dia claro;
– Há muitas casas de madeira em Belém, são tão comuns quanto aqui em Curitiba.
Só existe esse modal de construção em grande escala em nosso país no Sul, no Norte e no Mato Grosso.
Em quase todo o Sudeste, Nordeste e o eixo Brasília-Goiânia (com poucas exceções) são quase inexistentes – embora no passado tenha sido diferente;
Na foto que aparece uma solitária casinha de madeira lilás, vi no local que o cara invadiu uma barranca de rio atrás do muro de uma empresa.
Pra chegar em seu lar, há precaríssima passarela sobre o lodo, quase caindo na enxurrada, como de resto toda residência.
Porém a antena da TV por assinatura está lá, como observam. O ser humano realmente por vezes é bem contraditório;
– Recentemente uma novela das 6 da Globo tinham um núcleo paraense.
Digo, a trama se passava no Rio de Janeiro. Mas o personagem principal era da Ilha do Marajó, logo ao lado de Belém.
Se mudou pro Sudeste pois era herdeiro de uma ricaça, que já adulto ele veio a saber que erasua mãe. Atrás dele se mudaram pro Rio vários de seus amigos e parentes marajoaras.
Assim, as gírias típicas do Pará foram mostradas em horário nobre, pra todo Brasil.
Uma das que fez mais sucesso era “Égua!!!!”, que significa no jargão local “meu Deus, que coisa boa”.
Há a versão maior, “Pai da Égua”, que significa o mesmo. Como é obvio, o BMW é “o” símbolo de ‘status’, um ícone auto-explicativo de luxúria e conforto.
Agora dimensione: um cartaz dizendo “Égua!!! Eu posso ter uma BMW”? Só poderia ser no Pará;
– A Igreja de Nazaré, outro símbolo de Belém, que nomeia a avenida e o bairro em que se localiza.
…………….
Raio Vermelho. E como seria outro????
É Belém, caramba.
América querida, eu moro em você, e você em mim.
“A corrente tá fechada, como meus punhos”.
Vamos até o final.
É nóis aí.
“Deus proverá”