Por Maurílio Mendes, O Mensageiro
Publicado em 22 de abril de 2014
Maioria das imagens de mina autoria. As que forem baixadas da internet identifico com um ‘(r)’, de ‘rede’. Créditos mantidos sempre que impressos nas mesmas.
Vamos falar de Ponta Grossa (abreviada ‘P.G.’)., maior cidade da região Central do Paraná – os “Campos Gerais“, daí o título.
E também 4ª maior cidade do estado, atrás da capital, Londrina e Maringá.
Diria que sua característica mais marcante é sua topografia. Vários bairros de P. Grossa são em ladeiras.
Situação comum em outras partes do Brasil (como SC, o Sudeste e o Nordeste) mas rara aqui no Paraná.
É certamente a cidade mais íngreme do estado, falando das mais populosas.
Também é a cidade mais branca do Paraná, e uma das mais brancas do Brasil entre as com mais de 300 mil moradores.
No censo de 2010 (até o momento que atualizo essa matéria em 2022 ainda o último realizado no Brasil) 79% dos ponta-grossenses se declararam euro-descendentes (4 em cada 5), e somente 2% como negros (1 a cada 50 pessoas).
Ponta Grossa concentra uma grande colônia russa, tanto que até um de seus 4 terminais de.ônibus se chama ‘Nova Rússia‘ (falo melhor do transporte abaixo).
É preciso dizer que a periferia de P.G. tem diversos problemas de infra-estrutura.
Sendo entre as maiores cidades do estado a que tem a maior concentração de casas ainda sem sanitário. E também a maior proporção de ruas ainda de terra.
………
Tudo somado, o título original dessa mensagem era mais uma “Vida no Morro”.
Foi assim que ela circulou por ‘emeio’ (modal pioneiro desse canal de comunicação, de 2010 a 2015).
Com esse nome ela subiu pra página, em 2015, esse ainda é o endereço eletrônico da postagem.
Em 2022 reformulei a postagem e alterei pra ‘Capital dos Campos Gerais’.
Uma das grandes viações de ônibus do Brasil é sediada em Ponta Grossa.
Obviamente só posso estar me referindo a ‘Princesa dos Campos‘.
Que além de atuar em todo o estado do Paraná também faz linhas no Vale da Ribeira no estado de SP.
Já que falamos do estado vizinho: Campinas, a maior cidade paulista após a capital, é conhecida como “Princesa do Interior“.
Por isso o estádio do Guarani se chama “Brinco de Ouro da Princesa”.
Então. A viação de ônibus ‘pegou carona’ nesse termo e elegeu Ponta Grossa a ‘Princesa’ dos Campos Gerais.
Voltando agora a essa questão dos morros, Ponta Grossa foi construída em boa parte nas encostas de uma serra. Uma entre tantas cidades íngremes, não é mesmo?
Acabei mudando afinal o título dessa postagem porque a página já tem duas matérias chamadas “Vida no Morro”: Belo Horizonte-MG e igualmente Valparaíso-Chile.
No tempo do ‘emeio’ houve ainda mais uma, sobre Rio Branco do Sul, município que fica na Zona Norte da Grande Curitiba, como é notório.
Na hora de subir para página essa mensagem sobre Rio Branco acabou intitulada “Baixada Paranaense”.
Em Ponta Grossa é comum ter que subir e descer as ladeiras.
É certamente a cidade mais íngreme do Paraná, no mesmo nível de Campos do Jordão-SP, Teresópolis e Petrópolis-RJ ou Blumenau-SC, se as conhece.
Podemos também elevar a comparação pra patamares internacionais:
Em PG eu me sinto novamente em Medelím-Colômbia e Acapulco-México, ambas já visitei pessoalmente.
Ou ainda em Vinha do Mar/Valparaíso-Chile, que só conheço pelo ‘Google’ Mapas (atualização: o texto é de 2014. Em 2015 fui a Vinha/Valparaíso).
Como sempre, o termo “morro” adquire dupla conotação, tanto topográfica quanto antropológica, “casa” a geografia física com a humana.
Ponta Grossa é uma cidade curiosa, de inúmeros contrastes.
Tem o número de seus habitantes vivendo em favelas mais alto que a média do Paraná.
Das maiores cidades do estado Curitiba, Maringá, Londrina e Cascavel são as que têm menos favelas.
Proporcionalmente falando em relação ao total da população.
E aqui me referindo só aos municípios-núcleo, ou seja, excluindo subúrbios metropolitanos.
Ou mesmo nenhuma favela no caso de Maringá e Cascavel.
(Nota: Maringá realmente não tem barracos dentro do município.
Um caso raríssimo no Brasil e América Latina pra um município com mais de 300 mil pessoas.
Teve favelas até os anos 70, mas então as erradicou, e não permitiu mais seu surgimento
Quanto a Cascavel, na verdade há controvérsias. É fato que essa cidade tinha favelas até pouco tempo atrás.
Até a virada do milênio com certeza, mesmo que numa proporção menor que em outras cidade de mesmo porte.
Na primeira década do século 21 foi divulgado que Cascavel erradicou seus últimos bolsões de miséria, como Maringá o fizera 30 anos anos antes.
Mais recentemente, entretanto, há relatos que as favelas voltaram a ressurgir em Cascavel.
Seja como for, mesmo assim numa proporção bem menor que nas demais metrópoles paranaenses).
Já Ponta Grossa, Paranaguá, Foz do Iguaçu e Guarapuava tem muitos bairros bastante humildes em suas periferias.
Contando todas elas com um índice mais alto de favelas. Há alguns dados que vão exemplificar bem a questão:
Ponta Grossa tem cerca de 14% de seus moradores pertencendo a classe ‘E’, a última do extrato social.
Em Maringá esse índice é de 7%, portanto a metade, e em Curitiba 8%, pouco mais da metade sendo que a população é quase 6 vezes maior.
Em Paranaguá são 25%, índice mais elevado do estado entre as cidades com mais de 100 mil pessoas.
Foz do Iguaçu (no Oeste do estado) está bem perto, com 24%, índice aferido numa época que o desemprego estava bem alto na Fronteira.
(O texto é de 2014, e alguns desses dados são da primeira década do século 21.
Os números podem ter mudado um pouco, tenha isso em mente.
Ainda assim é válido como um parâmetro, pois boa parte do que foi relatado se mantém.)
Isto posto, sigamos. Ponta Grossa vem a seguir, por volta de 14%, dizendo de novo.
Em Londrina (no Norte) são 12%, e em Curitiba (que fica no Leste do PR), ainda mais baixo, 8%.
Maringá (também no Norte) é a entre as maiores cidades paranaenses que se sai melhor.
Apenas 7% de seus habitantes são da classe E. Não consegui achar esse dado pra Cascavel.
Refletindo a divisão por classes sociais, vamos classificar as cidades conforme um critério que reflete bem sua infra-estrura urbana (ou falta dela):
O número de casas que não dispõem de banheiro em cada uma delas.
(As informações são as oficiais do censo de 2010 do IBGE.)
Na ocasião Paranaguá tinha 277 casas sem banheiro.
Ou seja, barracos sem qualquer infra-estrutura. Com 140 mil pessoas é a pior proporção do estado.
A capital lidera em números absolutos, são 404 domicílios nessa triste condição, entretanto Curitiba tinha 1,751 milhão de moradores.
Ponta Grossa, que é nosso foco de hoje, também tem um desempenho ruim nesse quesito, são 395 casas sem banheiro entre 311 mil moradores.
Quase empata com Curitiba no absoluto, sendo a situação então 5 vezes mais crítica proporcionalmente.
Em Foz do Iguaçu eram 94 moradias assim pra 256 mil pessoas, razoavelmente elevado.
Em Londrina os números são 121 casas pra 503 mil residentes, e Cascavel 58 pra 286 mil.
Maringá é quem tem o índice mais aceitável, foram contadas somente 27 moradias assim, a população era de 357 mil.
Portanto uma em cada 4,3 mil casas maringaenses não tem banheiro.
A seguir, a partir da melhor proporção, temos: Cascavel (1 pra 1,5 mil), Curitiba (1 pra 1,4 mil) e Londrina (1 pra 1,3 mil), as 3 relativamente próximas. Em Foz já é um pra 841.
Em Ponta Grossa, nosso tema de hoje, piora bastante pra 1 por 240.
E Paranaguá fecha a lista: um a cada 146 domicílios parnanguaras não dispõe de sanitário.
Não divulgo esses dados simplesmente pra criticar, apenas pra reportar.
A realidade é como é, e ‘pensamento positivo’ não ajuda a entender a entender o problema e muito menos solucioná-lo.
……..
Outro dado que também reflete as condições de urbanização da periferia:
Por volta da virada do milênio, os municípios de Curitiba e Londrina tinham cada um 90% de suas ruas asfaltadas.
Novamente, aqui sem contar a Região Metropolitana na estatística.
Em Ponta Grossa o percentual era muitíssimo inferior, apenas 50%.
Sim, essa estatística é antiga e certamente está desatualizada.
Ainda assim é útil porque a proporção se mantém. Escrevi em 2014, no texto original (a seguir atualizo):
“ P.G. deve ter índice de calçamento de 80%, talvez, em suas vias.
Só que em Curitiba e Londrina é 98%. Praticamente não existem mais ruas de terra batida no município de Curitiba.
Tanto que quanto eu acho alguma fotografo, de tão raras.
Veja aqui os ensaios que fiz no Tatuquara, na extremidade da Zona Sul, e também no Pilarzinho, Zona Norte.
Em ambas ainda há umas poucas vilas com vias sem calçamento.
Só que são a exceção, raríssimas de achar, enfatizo de novo.
Quase toda Curitiba já foi de fato coberta com asfalto.
Em Londrina se dá o mesmo, praticamente tudo foi pavimentado.
Já em Ponta Grossa as ruas de terra ainda são comuns no subúrbio.
Embora claro tenha melhorado significativamente desde a época em que apenas metade de suas vias tinha asfalto. ”
Melhorou ainda mais. Em 2022 constato via ‘Google Mapas’ que P.G. investiu bastante nesse ponto na última década.
Agora podemos dizer que chegou a 90% das ruas asfaltadas.
Ainda está atrás de Curitiba, que em 22 deve ter mais de 99% das suas vias oficiais já pavimentadas.
Sim, excetuando as invasões recentes creio que quase que podemos decretar a extinção das ruas de terra na capital do estado.
Ponta Grossa é montanhosa, e sua periferia ainda tem muitas ruas de terra e favelas.
Lembra um pouco uma versão Sul-Brasileira da capital baiana Salvador.
Fazendo uma comparação não muito exata, é evidente. Por isso eu disse “um pouco”.
A composição étnica dos povos é diametralmente oposta. E a arquitetura das casas também difere abruptamente.
Em P.G. os terrenos são bem grandes, muitas casas de madeira
Quase não há ‘sobrados artesanais’ (onde o morador ‘enche a laje’ por conta’) e muitas vezes os muros são baixos, ou mesmo sem muros.
Tudo isso se repete em todas as partes do interior do estados da porção austral de nossa nação, em menor medida também nas capitais.
A periferia de Salvador, inversamente, lembra muito a do Sudeste:
Tudo isso registrado, a questão dos morros ainda é marcante.
Urbanisticamente falando, Ponta Grossa é América de corpo e alma.
Pois ter cidades com periferias em morro é a característica do nosso continente.
É sabido que o Sul do Brasil é a parte mais europeizada da Pátria Amada. Então.
Por seu relevo e condições sociais, Ponta Grossa é a América na “Europa” Brasileira.
Ao mesmo tempo, Ponta Grossa é a cidade mais branca do estado, uma das mais brancas do Brasil, como todos sabem.
Vemos em várias imagens calçamento de ruas nessas pedras irregulares.
Trata-se, creio eu, de algo típico do Centro-Leste da Europa, pois em todos os lugares que há imigração alemã isso aparece.
É muito comum em todo interior do Sul do Brasil, nas cidades médias e pequenas.
Na Grande Curitiba não há vias cobertas com pedras irregulares, apenas regulares (paralelepídos), e mesmo assim bem raras.
Porém no interior do PR, SC e RS é infinitamente comum, o exemplo típico.
Vou citar outro caso, bem menos conhecido: não sei se você já esteve em Assunção?
Se sim, irá se lembrar que a imensa maioria das ruas da capital paraguaia são nessa configuração.
Apenas as grandes avenidas tem asfalto, mas mesmo nos bairros centrais e aburguesados as ruas mais calmas são revestidas dessa forma.
No Paraguai há grande colônia germânica, se alguém não sabe.
O próprio Stroessner era filho de alemão, como o nome indica.
Votemos a Ponta Grossa, pra onde também foram enormes levas de imigrantes europeus, eslavos (entre os quais russos) especialmente.
Em Curitiba há, como em P.G., muitos descendentes de alemães, poloneses e ucranianos.
Só que em Curitiba não há praticamente descendentes de russos.
Já em Ponta Grossa eles são tão numerosos que um bairro da Zona Oeste da cidade se chama, acertadamente, Nova Rússia.
Novamente, um exemplo selará a questão. Em todas as partes do Brasil que já almocei em restaurantes populares o prato feito sempre consiste em arroz-feijão, carne, salada e uma mistura.
Fiz essa experiência em muitas dezenas de cidades, grandes e pequenas.
Do Sul, Sudeste, Nordeste, Centro-Oeste e Norte, ou seja toda parte.
Esse último item, a mistura, é variável. Em muitas partes é batata-frita.
Entretanto no Pará vem macarrão no lugar (posto que batata é bem cara na Amazônia).
Porém, o que nos interessa aqui é que em todos os lugares que almocei a salada sempre contém alface.
Parece que essa verdura é uma preferência nacional tanto quanto o arroz-com-feijão.
Sempre presente, de Belo Horizonte a Manaus, de São Paulo a Foz do Iguaçu.
Digo, exceto em Ponta Grossa. Lá, o prato feito veio com repolho, pois essa verdura é muito popular no Leste da Europa.
É a “Nova Rússia”, pombas. Mesmo com tantos morros, P.G. é de certa forma um pedaço da Europa na América.
Uma multidão de pessoas de olhos e cabelos claros morando em muitos casos em casas precárias nas encostas da serra.
Combinação raríssima, mas foi exatamente o que aconteceu.
Definitivamente, “Deus é um cara gozador e adora brincadeiras”.
………..
Ponta Grossa é uma cidade tem no agro-negócio uma de suas principais fontes de renda.
Não por outro motivo a região Centro-Leste do Paraná, da qual ela é o epicentro, se chama “Campos Gerais”.
É cercada por latifúndios, muitas vezes dá pra ver as fazendas até dos bairros mais centrais da cidade.
Inclusive parte da população urbana pertence a mão-de-obra rural.
Trabalham em fazendas no entorno, situação que me é inédita nas cidades maiores.
Não estou falando por achismo. Trabalhei mais de uma década como pesquisador por diversos institutos, públicos e privados.
Batendo nas casas e nos comércios e realizando diversos tipos de pesquisas, eleitorais, econômicas, e outras.
Olhe que minha base de amostra não é pequena, fiz pesquisas por todo Paraná.
E (embora não na mesma profundidade) também nos estados de São Paulo, Santa Catarina e Mato Grosso.
Pra Ponta Grossa eu fui diversas vezes. E lá me deparei com essa situação:
Nas casas da periferia urbana nos bairros mais afastados ponta-grossenses, pais e mães de família por vezes viviam da agricultura.
Isso é infinitamente comum em cidades pequenas e médias, mas em municípios com mais de 100 mil habitantes eu só vi em P.G. .
E rodei uma parcela razoável do Brasil nessa profissão, repito.
Colonizada por europeus e posteriormente por gaúchos que transformaram essa cidade em importante polo agrícola.
Tanto que abriga unidades de transformação da soja de duas grandes corporações trans-nacionais (Cargill e Bunge).
Por tudo isso, o setor de transportes também tem importância fundamental. Você sabe, onde há gaúchos há caminhões.
Depois de colonizar todo Sul do Brasil, os nativos do RS (a chamada “A Raça Guerreira”) foram abrir a ‘Fronteira Oeste’, e agora desbravam o Centro-Oeste.
Na última safra (a de 2013, escrevi em 14, dizendo mais uma vez), pela primeira vez essa região desbancou o Sul como maior produtora de grãos.
Entretanto note que uma parte da soja plantada no Mato Grosso, Goiás e Tocantins ainda passa por Ponta Grossa pra ser escoada até o porto.
Pois sai do Brasil por Paranaguá, e esse é o maior porto graneleiro do Brasil.
(Nota: claro que hoje Tocantins pertence ao Norte mas foi desmembrado não há muito tempo de Goiás, e portanto do Centro-Oeste.)
Tudo somado, a estrada tem importância fundamental para Ponta Grossa.
Não por outro motivo é o maior entroncamento rodoviário do Paraná, quase uma “Chicago Brasileira”.
Pegando carona na imagem dessa metrópole do Norte/Centro-Oeste ianque, o maior epicentro ferroviário/aeroviário de toda América do Norte.
E também, como P.G., importante centro do agro-negócio – evidente que o volume de negócios nos EUA é incomparavelmente maior. Toda comparação é imprecisa.
Ainda assim, surfa de certa forma na mesma vibração que enriqueceu Chicago.
Obviamente em escala muito menor, P. Grossa guarda a vocação de centro agro-industrial e graneleiro, situada em uma planície muito fértil.
É Ponta Grossa, afinal.
ATUALIZAÇÃO DE SETEMBRO DE 2022:
BREVE HISTÓRIA DO TRANSPORTE EM P.G. –
As linhas da cidade são monopólio da Viação Campos Gerais (‘VCG’).
Que pertence a família Gulin, grupo que controla 70% da frota da capital do estado.
A Princesa dos Campos, cuja sede é em Ponta Grossa, também é de propriedade desse mesmo grupo, aliás.
Aqui nosso foco é o transporte urbano. A esquerda em preto-&-branco 4 Nicolas.
Pra quem não sabe, a encarroçadora ‘Nicola’ é a gênese da Marcopolo, nome adotado em 1970.
Os busos trazem o nome ‘Viação Campos Gerais S.A’ no teto.
Como era corrente no Brasil nos anos 50 e 60, em viações urbanas e rodoviárias.
Costume que a Cometa preservou até recentemente, em pleno século 21.
Já há o logotipo da viação a frente da porta dianteira, que seria mantido nas duas próximas pinturas.
A direita acima Veneza ‘1’, igualmente com o eixo a frente da porta.
Configuração era comum a época, especialmente no Rio Grande do Sul, mas presente também em outros estados.
Depois, em vermelho e branco, um São Remo de motorização traseira, que era rara nos anos 70, quando esse veículo foi fabricado.
A direita quase na mesma pintura, mas trocam o vermelho pelo azul. Na lona diz que a linha é ‘Esplanada’, complementada pela placa no vidro que acrescenta ‘T. Central‘.
Portanto ao menos o Terminal Central já estava ativo, havia começado o Sistema Integrado, onde é possível trocar de ônibus sem pagar nova passagem.
Ponta Grossa também teve Monoblocos. Na tomada ao lado 2 deles:
Na imagem principal um Mono ‘3’ (‘0-371’ na contagem oficial da Mercedes-Benz). No destaque Mono ‘2’ (0-364′), mais antigo.
A pintura branca com faixas azuis e o ‘Cidade de Ponta Grossa’ ainda teve uma última versão antes de acabar. Veja a dir., a faixa superior ficou clara, a inferior escura.
No final dos anos 90 além do Central entraram em operação os 3 terminais nos bairros:
Uvaranas na Zona Leste, Oficinas na Zona Sul e Nova Rússia na Zona Oeste.
Desde essa época é prometido que será feito um terminal também no Santa Paula, mas até agora (2022) nunca se materializou.
Pra marcar o momento implantam uma nova pintura, inteira branca, vista nesse Monobloco ‘3’ ao lado.
A linha é Oficinas/Nova Rússia (via Term. Central), ou seja cruzando toda a cidade assando pelo Centro.
O ‘Rápido’ indica que essa linha troncal é o equivalente dos ‘Expressos’ curitibanos.
Por volta de 1998 chegam os primeiros articulados ponta-grossenses, ao lado
Ainda na pintura branca que marca a Integração. Foi o momento que separaram as linhas troncais pros terminais de bairro.
A partir de agora são três linhas distintas: “Nova Rússia/T. Central”, “Oficinas/T. Central” e ”Uvaranas/T. Central”.
Não mais “Oficinas/N. Rússia” ou “Uvaranas/N. Rússia” via Terminal Central, como era anteriormente.
No começo do novo milênio vem a nova pintura que vemos nas 2 fotos a seguir.
Nos ônibus pequenos, um misto entre azul e cinza com faixa ondulada vermelha. Já os articulados eram azuis-escuros, com a mesma faixa escarlate.
Ao invés da inscrição ‘Cidade de Ponta Grossa’ na lataria está grafado apenas ‘Ponta Grossa’ (aliás Joinville-SC passou pelo mesmo processo).
Alias veja o letreiro desse “sanfonado”: a linha agora é “Oficinas/Terminal Central”. Cada terminal de bairro com seu próprio troncal radial pro Centro, não há mais linhas diametrais.
Quando estive em Ponta Grossa em 2014 pra produzir essa matéria, essa pintura antiga era vista em muitos ônibus.
Sendo gradualmente substituída mas ainda comum na ocasião.
Abaixo a imagem repetida sobre a manchete, aqui a vemos numa escala maior.
Mais pro alto na página está a mesma tomada porém abrindo um pouco o ângulo, e aí percebemos que atrás vem um micrão laranja unicolor, também Neobus como esse cinza.
Era o momento de transição entre as pinturas. Via-se tanto a antiga quanto a nova, as vezes na mesma cena.
A esquerda: flagrei também no Centro um Caio Apache ‘2’ já todo alaranjado.
A transição durou toda a segunda metade da década de 10 (séc. 21, evidente).
A direita abaixo imagem feita 4 anos depois, em 18, e ainda há veículos na pintura cinza com faixa vermelha convivendo com os unicolores.
No novo padrão, os ônibus seguem com o ‘Ponta Grossa’ na lateral, e têm quase as cores dos de Curitiba:
Laranja, amarelo e verde, esses exatamente nos mesmos tons adotados aqui.
E também azul, que depois de décadas passou a existir no municipal de Ctba. Mas o tom de P.G. é mais claro.
Em Ponta Grossa há 4 terminais, então (assim como em Joinville, Blumenau e Criciúma-SC, e também Londrina e Cascavel-PR entre outras cidades) todas as linhas são integradas.
Todas têm ao menos um ponto final em algum terminal.
Logo qualquer linha que você pegue te dá o direito de acessar todo o sistema pagando apenas uma vez.
No sistema ponta-grossense não há linhas ‘Convencionais’, não-integradas.
Dessa forma P. Grossa na prática adotou uma padronização por categoria de linha. Confira a direita:
– Verdes: articulados nas linhas troncais, ligam o Term. Central aos terminais de bairro.
E também ao bairro Santa Paula, onde está projetada a construção de um terminal no futuro.
Equivalem, digo de novo, aos Expressos curitibanos, embora tenham copiado de forma exata a cor do Inter-Bairros da capital.
– Laranjas: ônibus de tamanho normal, equivalentes aos alimentradores de maior demanda.
Que atendem as vilas mais populosas, onde mais gente usa ônibus.
– Amarelos: micrões, fazem as linhas mais curtas, em que o movimento é menor.
– Azuis: articulados Linha-Direta, operam apenas no pico; em P.G. chamados “Sem Parar“.
Fazem as linhas troncais Terminal Central/terminais dos bairros direto.
Não sendo possível embarque/desembarque nos pontos no meio do caminho.
Assim Ponta Grossa adotou o mesmo tipo de padronização criada em Curitiba no fim dos anos 70.
Usada igualmente no SEI/Recife-PE, Bogotá-Colômbia e agora até em Los Angeles-EUA.
Também – atualmente ou num passado recente – em Belo Horizonte, Fortaleza-CE, Vitória-ES, entre as capitais;
E Sorocaba e Piracicaba-SP, Londrina, Criciúma, Blumenau e Joinville no interior (além de outras cidades).
Atualizando: como já dito muitas vezes, o texto é de 2014.
Na época Curitiba ainda estava entusiasmada com a chegada dos ônibus azuis, que então ocorrera recentemente, em 2011.
Foram apelidados de ‘maior ônibus do mundo’, e chegaram pra operar as linhas de ‘Ligeirão’ da Zona Sul, implantadas em 2009.
Em 2018, entretanto, decidiram eliminar tanto o azul quanto o amarelo do sistema curitibano.
Os Expressos voltaram a ser todos vermelhos, independente se ‘Ligeirões’ ou ‘paradores’.
E os Convencionais passaram a ser laranjas como os Alimentadores.
Curiosamente em 3 cidades, bem diferentes entre si, a categoria Linha Direta (ou ‘Ligeirão’) já foi azul, mas deixou de sê-lo: Curitiba, Joinville e Los Angeles.
Ainda assim Ponta Grossa adotou essa cor pro mesmo tipo de modal. Veremos se ali permanece.
Mais imagens da atual padronização ponta-grossense:
Segura essa agora: a Viação Campos Gerais já operou também em Campinas.
Foi nessa época que a viação ponta-grossense atuou no sistema municipal campineiro.
Inclusive levando ônibus daqui de Curitiba, que operaram em território paulista com a padronização curitibana!
Veja a garagem acima: bem no meio há um Haragano ex-viação Marechal, na cor amarela dos Convencionais da capital do PR (tanto a Marechal quanto a VCG são do mesmo grupo).
Os dois das pontas são Condor (“Ciferal Paulista“) da antiga CCTC – ‘Cia. Campineira de Transp. Coletivo’, que pertencia a Viação Cometa.
A CCTC se recusou a adotar a padronização implantada em 1985 em Campinas, e usou sua própria pintura até acabar, em 1989.
Que era exatamente essa, vermelho com uma faixa cinza no meio. A VCG assumiu do espólio da CCTC, ao menos parte dele, por isso vemos essa pintura.
Os outros 3 busões, ao menos esses, estão na padronização municipal de Campinas da época, branco com uma faixa colorida:
A princípio a cor da faixa deveria indicar a categoria de linha, como em Curitiba da época e ainda hoje, e como Ponta Grossa atualmente.
No entanto não se deu dessa forma, cada viação ficou com uma cor, independente do tipo de linha.
Assim Campinas acabou usando, nos anos 80, uma padronização por região da cidade, como a Capital Paulista.
Digo, cada viação deveria ter uma cor. Eram tempos difíceis em Campinas, e por vezes nem isso foi respeitado.
Por isso a VCG tem ônibus na pintura padronizada com duas cores na faixa:
Amarela (o Monobloco ‘2’ ao lado do Haragano inteiro amarelo) e faixa marrom (o da esquerda é também um Mono ‘2’, o da direita outro Condor, provavelmente ex-CCTC repintado).
“Deus proverá”
Que legal. Sou pontagrossense e nunca tinha pensado nessas peculiaridades. Meu maior medo é que a especulação imobiliária destrua as casinhas de madeira com lambrequins, como essas das fotos.
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Pois é, as cidades vão mudando, e muitas coisas vão se perdendo. Curitiba até os anos 90 tinha a periferia muito parecida com as cidades do interior do Sul do Brasil, muitas casas de madeira, terrenos grandes sem muro (ou com muros baixos ou uma cerquinha também de madeira), horizontal, quase sem sobrados.
Hoje, no entanto, a coisa mudou muito, e claro que ainda há dezenas de milhares de casas de madeira na cidade, pois num passado não tão distante elas dominavam amplamente. Mas 98 a 99% das novas moradias feitas hoje no município de Curitiba são de alvenaria. E a cultura de ‘encher lajes’ chegou com tudo.
Resultado: se nos anos 90 as periferias de Ctba. e PG tinham grandes semelhanças, atualmente vários bairros do subúrbio curitibano se parecem muito mais com a periferia de São Paulo, Rio, Belo Horizonte-MG e Salvador-BA. Exemplos de matérias que escrevi sobre isso:
Além de conhecimento teórico dessa mudança da cidade, eu vivenciei pessoalmente esse processo. Morei 15 anos numa casa de madeira, no bairro do Boqueirão, Zona Sul de Curitiba, até setembro de 2017. Pois bem. Me separei de minha ex-esposa, e saí de lá. 2 anos depois, em setembro de 2019 portanto, passei na rua e vi que a residência de madeira que nós morávamos foi demolida e no lugar fizeram um sobrado de alvenaria. Na micro-escala, essa experiência pessoal reflete o que está acontecendo na cidade como um todo, a madeira ficando pra trás e os sobrados em alvenaria cada vez mais presentes.
Assim é o “progresso”, traz coisas boas, mas coisas boas também se perdem. Fazer o quê?
Obrigado pelo comentário.
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