Por Maurílio Mendes, “O Mensageiro”
Publicado em 1º de dezembro de 2012
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As séries sobre República Dominicana, México, Chile, Paraguai e Colômbia estão no ar.
Assim vou começar a também subir pra rede minhas viagens dentro da Pátria Amada.
Inicio por Belo Horizonte, onde fui em novembro de 2012 – veja a data da publicação por emeio. No fim da matéria ancoro ligações pra todas as matérias dessa série.
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Mais duas notinhas aos amigos de Minas: 1º, o uso da palavra ‘morro’ não é pejorativo, mas ao contrário, carinhoso.
Eu gosto de periferia, de subúrbio, e não por outro motivo morei 15 anos numa ‘comunidade’ de beira de rio da Zona Sul de Curitiba.
(De 2002 a 2017, portanto eu morava lá quando fiz a viagem e o texto, em 2012.)
Estive por apenas 4 dias em B.H. . Vou passar minhas impressões da cidade.
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BH tem cerca de 4,5 milhões de habitantes, contando a área metropolitana. Só no município-núcleo, são 2,3 milhões.
Como comparação, a Grande Curitiba tem pouco mais de 3 milhões, sendo 1,8 milhão no município central.
A Grande São Paulo tem perto de 20 milhões, sendo quase 12 no núcleo, o município de São Paulo.
Belo Horizonte é uma cidade planejada.
Por isso no Centro – delimitado pela famosa Avenida do Contorno – o traçado das avenidas forma um tabuleiro de xadrez com mais algumas vias em perpendicular.
Na verdade o que hoje é esse Centro no plano inicial do fim do século 19 seria a cidade inteira.
Só que depois metrópole cresceu sem controle.
Então bairros e mais bairros surgiram após o Contorno, que passou a contornar só o núcleo central da urbe e não mais ela toda.
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E bota ‘sem controle’ nisso.
Belo Horizonte é um Rio de Janeiro sem mar, no tocante a quantia de favelas.
São muitas e muitas favelas, boa parte delas em morro.
Em todos os bairros, no Centro, na Savassi (o bairro de padrão financeiro mais alto da cidade), e em toda parte.
Bem, Florianópolis-SC é assim também. É o estilo da América.
Aliás, a “Vida no Morro – parte 2” é Valparaíso, Chile (e com o mesmo título fiz também matérias sobre Rio Branco do Sul, na Gde. Curitiba, e Ponta Grossa, no interior do Paraná).
Em Minas fotografei várias dessas favelas, e estive em algumas.
A cidade cresceu muito mais pra oeste e pra norte. É, portanto, um “L” invertido, com a perninha horizontal puxada pra esquerda, ao invés da direita.
Resultando que as maiores regiões da cidade são as Zonas Oeste e Norte. Nisso ela também é igual ao Rio de Janeiro, que também cresceu mais pra oeste e norte.
Na capital carioca, a Zona Sul, limitada e orneada pela costa, é pequena e rica, e não há Zona Leste.
Em BH, foi a montanha quem delimitou o crescimento pra sul e leste. Entretanto, há Zona Sul e Zona Leste em Belo Horizonte.
Apenas elas são bem menores que as Zonas Norte e Oeste.
Os dois municípios mais populosos da região metropolitana estão na Zona Oeste:
Contagem, com mais de 600 mil habitantes – maior que Londrina-PR e Joinville-SC, e mais ou menos com a mesma população de Osasco (que também fica na Z/O da Gde. SP).
E depois Betim, onde está a fábrica da Fiat, que tem uns 380 mil habitantes.
Como comparação, o município mais populoso da Grande Curitiba é São José dos Pinhais, que não atingiu ainda 280 mil pessoas.
Ou seja, o segundo município mais populoso da Grande BH tem mais de 100 habitantes a mais que o primeiro da Grande Curitiba.
Voltando a Grande Belo Horizonte, após os dois maiores, que estão na Zona Oeste, os dois a seguir estão na Zona Norte, e são Ribeirão das Neves, com quase 300 mil, e Santa Luzia, como mais de 200 mil.
Assim vemos que tanto dentro do município quanto na área metropolitana, Belo Horizonte cresceu mais a norte e oeste que a leste e sul.
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BELO HORIZONTE, “CIDADE DO FUNK” –
Como Fortaleza-CE, Belo Horizonte também é “a Cidade do ‘Funk’”. Esse é certamente de longe o estilo mais ouvido entre a rapaziada.
Pra ilustrar sonoramente a mensagem, mando duas músicas que tratam do mesmo tema, o “ABC de BH”, em que os cantores vão desfilando as vilas, favelas e periferias.
Essas duas músicas são bem tranquilas, pode abrir sem medo, não há descrições de matanças ou putaria.
Se quiser incorporar o estilo de BH, tem que ouvir. Ir a Belo Horizonte e não ouvir ‘funk’ é como ir a Veneza-Itália e não andar naqueles barquinhos.
É o espírito da cidade, razão e espelho mesmo dela ser (em junho.17 atualizei as ligações, removi 2 que não abriam. Na data dessa atualização as abaixo abriam. Caso elas venham a morrer, me comunique nos comentários que eu busco outras, se estiverem disponíveis).
Nas periferias só dá esse tipo de música, algumas com letras muito, muito piores que essas duas que anexei.
É certo, ouve-se muito sertanejo e samba também. Agora, ‘rap’ é bem mais raro, e roque praticamente inexistente, ao menos nos subúrbios e morros.
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Isso, é claro, é influência carioca. Alias, Belo Horizonte é muito influenciada tanto pelo Rio quanto por São Paulo.
As 3 maiores capitais do Sudeste formam um triângulo, se influenciam muito entre si, em todas as direções.
Some-se a isso o fato que em Belo Horizonte há muitos nordestinos.
E que também a cidade está quase no meio do caminho entre São Paulo e a capital federal Brasília – quando eu falar da pichação, verão como isso se manifesta.
Muitos já definiram Minas Gerais como a “pedra angular” de nossa pátria amada.
E assim de fato é. Próxima tanto das capitais mais importantes do Sudeste quanto da Bahia e do eixo Brasília-Goiânia,
Minas Gerais e sua capital Belo Horizonte são a essência da alma brasileira, tanto ou até mais que o Rio.
Mediadora entre o Leste e o Oeste, entre o Sul e o Norte. Eis o papel de BH.
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Belo Horizonte é inteira pichada.
Como o são todas metrópoles brasileiras, de Porto Alegre a Manaus, como o são as metrópoles ianques e também as mexicanas, e como é Bogotá-Colômbia.
As fotos mostram. Voltando a BH, há dois estilos de pichação, que se alternam nos muros. Um é cópia exata do de São Paulo, o outro foi formado localmente.
No estilo criado em BH, as letras são menores, estão juntas e são mais curvas. É uma mescla do que se faz no Rio e em Brasília, já que ela está entre ambas, fisicamente e na hora de rabiscar muros também.
Como em São Paulo, os pichadores de BH adornam sua obra com trechos de letras de música, por exemplo:
“Aí promotor, o pesadelo voltou”, “sob o olhar sanguinário do vigia”, “quem tem seda?”, “somos quem podemos ser”, e por aí vai.
Como característica local, cada grupo de pichadores tem um lema.
Um deles são “os Piores de Belô” (esse eu fotografei), outro são “os Pestes da (Zona) Leste”, há também “os Loucos de Betim”, vocês já entenderam, passa o boi, passa a boiada.
Um último detalhe. Belo Horizonte parece estar em outra dimensão do tempo.
Já a algumas semanas os pichadores estão escrevendo ‘2013’ nos muros.
E quando estive lá era, reforçando, novembro de 2012, ainda faltavam 40 dias pro ano novo.
É mais uma coisa xerocada de SP. Na capital paulista, assim que dezembro começa os pichadores começam a datar sua obra como se tivessem feito-a no ano seguinte.
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A Lagoa da Pampulha é o símbolo de BH.
Foi construída por Juscelino Kubitschek, quando ele foi prefeito de lá, na primeira metade do século 20. Essa cidade é carente de belezas naturais, então JK idealizou o que ele definiu como a “Copacabana dos mineiros”.
A ‘joia da coroa’ é a igreja da Pampulha, oficialmente Igreja de São Francisco de Assis, projetada por Niemeyer.
Deu trabalho alias pra ela se tornar mesmo uma igreja.
O arcebispo de BH enjeitava o presente, por sua arquitetura muito moderna, exógena ao conservadorismo vigente em sua mente.
Portanto se recusava a sacramentar o local e transformá-lo de fato num local de culto religioso, o que magoou muito JK.
Levou um bom tempo pra igreja da Pampulha deixar de ser apenas mais uma das obras de JK/Niemeyer.
E virar de fato um templo, mas afinal deu certo.
Não sei se o arcebispo abriu a cabeça ou se foi preciso esperar ele ceder o posto a seu sucessor.
Comentemos as fotos, espalhadas pela mensagem, nem sempre ao lado da descrição – busque pelas legendas. Todas tiradas por mim exceto uma, a do Morro do Papagaio.
Abrimos justamente com a Igreja da Pampulha, cartão-postal de BH.
Ao lado mais uma vista do lago, que é artificial.
Reparem na ousadia de Niemeyer.
Assim não é difícil compreender porque a arquidiocese se recusou durante muito tempo a consagrar esse que parecia um ‘presente de grego’.
Termômetro marca 37º. É isso mesmo, na quinta e sexta da semana que estive lá estava um calor senegalês em BH, até o pessoal de lá mesmo não estava aguentando.
Entre maio e junho de 2013 eu passaria pela mesma situação em Assunção, Paraguai, e Belém do Pará.
Inclusive também fotografei o termômetro em ambas, mas nelas não atingiu os 37º. Em fevereiro de 17, entretanto, fui a Florianópolis. E lá também estava um forno, fotografei o termômetro – igualou a marca dos 37 de BH.
Em B.H. vi várias mulheres de guarda-chuva, utilizando-o como guarda-sol.
Alias na saída de um colégio a garotada tirava sarro de uma senhora que tentava se proteger assim. Gritavam pra ela “Cadê a chuva?”. Você sabe como são as crianças.
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Várias fotos de favela em morro no também famoso bairro do Barreiro, Zona Oeste, inclusive a que está sobre a manchete.
A cidade cresceu sobre a serra, sobre a montanha. Há muitas e muitas favelas em encostas espalhadas por BH, no Centro e periferias.
E mesmo onde não há favelas, ou seja onde é de classe média, a topografia da cidade é muito acidentada.
Os morros, favelizados ou não, estão por toda parte.
Ou melhor é a cidade que se assentou sobre onde eles já estavam.
É a “Vida no Morro”.
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Em muitos emeios já comentei que Curitiba deveria ter metrô, mas não tem. Pois bem. O bairro mais populoso de Curitiba é a Cidade Industrial, e fica na Zona Oeste.
Num deles mandei a foto, que puxei da rede a época, da Estação de Metrô Cidade Industrial, Zona Oeste, já operando.
Só que a de Belo Horizonte. Em Curitiba, só no sonho.
Assim, quando fui fisicamente a BH, fiz questão de descer nessa estação.
Apenas pra tirar essa foto, agora ao vivo, feita pelas minhas próprias mãos.
Aqui está. Metrô Cidade Industrial, Zona Oeste, é uma realidade. Pena que só em Belo Horizonte….
Mais sobre o metrô de BH em outro texto.
E aqui uma radiografia completa do sistema de ônibus, municipal e metropolitano.
E nessa postagem que eu falo de ônibus trucados (c/ 3º eixo) há vários Tribus Urbanos belo-horizontinos, um deles indo exatamente pra Estação de Metrô Cidade Industrial.
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Falar no Centrão, alguns retratos nada glamorosos dele. Eu fiquei na cracolândia, na ‘boca do lixo’ de BH. Há muitos sem-teto, e por vezes muito lixo nas ruas.
Pra irem tendo uma ideia, reparem que bem no meio da foto em que aparecem 2 motos e 1 ônibus há um sem-teto deitado.
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Voltamos a ver a Lagoa da Pampulha. Destacado com uma seta vermelha, o Estádio do Mineirão.
Está fechado pra reformas, será uma das sedes da copa. Mais sobre o futebol em outro momento.
Nota de 2015: O texto é de 2012, quando estive em Minas.
De fato o Mineirão foi sede da copa, o Brasil jogou duas vezes lá, na 2ª partida disputada no Mineirão tivemos a derrota mais fragorosa de nossa história.
Com os 7×1 sofridos pra Alemanha, caímos na semifinal de maneira vexaminosa.
Esse massacre está fazendo 1 ano exatamente na data que levanto essa mensagem pra rede.
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Depois de passamos pela ‘Toca da Raposa’, uma das sedes do Cruzeiro EC, na Pampulha (Zona Norte).
Eu não torço pro Galo, e nem pro Cruzeiro, não torço pra nenhum time. Estou falando da música (no cartaz da festa) e da cidade, e não de futebol.
Não inicie uma discussão futebolística porque aqui não é o espaço adequado pra tanto.
A direita voltamos a Venda Nova, também Zona Norte. Veem ao fundo mais um morro.
E em primeiro plano uma loja de roupas femininas com um nome bem sugestivo: “Sexo Frágil”.
Como reparam, algumas vezes eu coloco a mesma foto em mais de uma escala, pra que apreciem tanto os detalhes quanto o conjunto.
Encerramos com flores e a Lagoa da Pampulha ao fundo.
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Outras mensagens da série, todas elas publicadas em dezembro de 2012:
– Serra e Papagaio, debaixo de muita chuva.
No mesmo dia eu fui nos 2 morros mais famosos da cidade. E a tarde no Estádio Independência, seguindo o ‘bonde’ da torcida organizada. Tudo a pé e sob um toró épico (ingresso logo abaixo).
– Metrô Cidade Industrial operando: só mesmo em BH.
Falo mais um pouco sobre o transporte; e também outros aspectos da cidade.
Por exemplo o ‘Mineirim’, o modo peculiar dos mineiros falarem, que já é quase um dialeto da língua portuguesa.
– Do MetroBel ao Move – e o tróleibus quase voltou: o transporte em BH.
Uni material desmembrado dessa mensagem ‘Vida no Morro’, outros emeios de 2014 e mais um trecho inédito.
Que Deus ilumine a toda humanidade.
“Deus proverá”