alias, será que a Itália é mesmo na Europa?
Por Maurílio Mendes, O Mensageiro
Publicado (via emeio) entre setembro e novembro de 2014
Evidente que o sub-título acima não deve ser tomado ao pé da letra.
Ninguém jamais contestou que fisicamente a Itália fica no continente europeu, até porque ela não é nem um pouco perto da divisa com a Ásia.
Estou falando em termos simbólicos, em dimensões mais sutis.
Dos traços do povo, que diferem em muito da organização (e pontualidade) que estamos acostumados no Norte da Europa.
Sigamos. Então bora lá falar da Itália – no fim vai sobrar uma palhinha até pra França.
Enxerto adaptação de emeio que circulou em 19 de setembro de 2014.
NÁPOLES, A “CIDADE NOVA”. E A “CIDADE ESCURA”:
PORTAL ENTRE A EUROPA E O “3º MUNDO” –
‘Nápoles’ é a ‘Cidade Nova’, a origem do nome é o termo grego ‘Nea Polis’. ‘Nea’ = nova, ‘polis’ = cidade.
Nota: como dito, estou falando em termos simbólicos.
Quando falo em cidade ‘escura’, não é em termos físicos e nem morais.
Não se refere a cor de pele de seus habitantes.
Alias se o critério for esse, Nápoles é a mais europeia das cidades da Europa Ocidental:
A economia napolitana é menos desenvolvida que o Norte da Itália e Norte da Europa em geral (Alemanha, Inglaterra, França, Países Baixos [Holanda e Bélgica], Suíça e Escandinávia).
Por isso, ela atraiu menos imigrantes de outros continentes.
Nápoles tem uma parcela muito baixa de africanos e asiáticos entre sua população.
Ao contrário das metrópoles boreo-italianas e boreo-europeias (‘boreal’ significa ‘norte‘, como sabem).
Tampouco há algum juízo de valor, e se há é o contrário do que aparenta.
Quando eu digo ‘escuro’, não quero dizer ‘mau’, ao contrário.
Acho a Vibração da Itália em geral e de Nápoles em particular muito mais agradável, por muito mais humana, que a frieza técnica nórdica.
Eu gosto da Itália, é o país que mais gosto da Europa, e gosto de Nápoles.
Estou dizendo que a cidade é ‘escura’ no mesmo sentido que se diz ‘Ovelha Negra’: algo que destoa da maioria.
Não é melhor ou pior, é apenas diferente. E diferente é o que Nápoles é em relação a seu continente. Feito esse esclarecimento, voltemos ao texto.
Vamos falar agora de uma cidade que fisicamente fica na Europa.
Afinal o que é tão diferente do que conhecemos por ‘Europa’ que parece que não fica, é praticamente um Portal Interdimensional. Nápoles, Itália, é claro. Por que afirmo isso?
É simples entender o que diferencia essa cidade da maior parte de suas co-irmãs mais ao norte:
– Primeiro, Nápoles é em morro. É cheia de ladeiras, condição que já é rara na Europa.
– Nápoles, a julgar pela quantia de ‘capelinhas’ com santos católicos que vemos nas ruas, é uma cidade que boa parte de seus habitantes ainda é religiosa.
No Oeste do continente europeu no geral um povo que tem religião é estudado somente nos cursos de História.
Visitei pessoalmente o México (2012), Chile (15) e Argentina (17). Neles razoável proporção de seus povos ainda é católico.
Nesses 3 países americanos vi – e fotografei (respect.) na Cidade do México, Santiago, Buenos Aires e Mendonça – muitas capelinhas católicas nas ruas.
Pois bem. Nunca fui a Europa em carne e osso, mas a ‘Visão de Rua do Google Mapas’ já a filmou quase inteira.
Portanto andei extensamente pelas ruas do ‘Velho Continente‘, em todos os países que foram filmados.
Sim, de forma virtual. Mas com incrível nível de realismo.
E fora do Sul da Itália, nunca vi manifestações de Fé Cristã nas ruas, nem mesmo na Península Ibérica, certamente não remotamente na mesma intensidade.
– Além disso, grandes porções do Centro de Nápoles ainda não passaram por processo de ‘revitalização’.
Como já aconteceu em quase toda Europa, América do Norte e mesmo partes da América Latina.
O Centro e bairros vizinhos de Nápoles têm becos escuros, mal-cuidados, alguns até com a fiação elétrica mal-feita.
– Se tudo fosse pouco, em Nápoles e todo Sul da Itália ainda está muito vivo o costume tão italiano de pendurar as roupas em varais expostos na rua.
As cordas suspensas nas janelas nos andares superiores, e aqueles varais dobráveis na rua mesmo pra quem mora no térreo.
Vocês sabem, um dia isso foi comum em todo território italiano. Mas depois que o Norte ‘enriqueceu’, arrefeceu esse hábito por lá.
Nas ruas de Milão, Turim, Bolonha, etc., não é comum vermos a roupa lavada exposta a vista de todos na via pública.
Evidente, na Itália Setentrional você também vai achar alguns varais com roupas que ficam nas janelas dos apartamentos.
Um hábito milenar não se extingue de todo em poucas décadas, entretanto é bem mais raro, porque não é ‘chique’ (os varais ficam nos fundos, exceto se for inevitável).
É que Norte da Itália hoje é ‘chique’, por isso tem vergonha desse que é um traço tão italiano quanto a pizza.
No Norte, todos têm conhecimento desse fato, há becos estreitos mas eles foram revitalizados em boa parte.
Nápoles e a Sicília, no entanto, ainda não são chiques.
Essas regiões meridionais ainda são o que elas sempre foram. Os becos não foram revitalizados, boa parte deles não.
Os prédios precisam de reforma que ainda não foi feita. Tudo ‘vai como dá’. Assim as roupas secam nas ruas. Qual o problema afinal?
Além disso, ressalto mais uma vez, se as vezes você vê roupas nas janelas no Norte da Itália – de fato as vezes vê – estátuas de santos nas ruas eu nunca vi no Norte; Não sou especialista na Europa (meu foco de estudo é os EUA), pode haver um pouco mas com certeza bem menos que no Sul. Bem menos mesmo.
– E pra fechar com chave de ouro, em Nápoles o cumprimento de algumas leis é ‘seletivo‘, digamos assim. Exatamente igual ao que acontece aqui na América Latina, e estamos falando do mesmo povo latino.
Sendo mais específico: em Nápoles boa parte das pessoas que andam de moto não usam capacete. E isso na Europa…você só vai ver mesmo no Sul da Itália.
Já andei bastante pelas ruas europeias. Sim, via ‘Google Mapas’. Olhe, evidente que não é igual estar lá. Mas dá uma boa amostragem.
Em nenhum outro país da Europa, Leste e Oeste, você vê gente sem capacete nas ruas. Nem na Anglosfera, nem no Leste da Ásia. Nem sequer no Centro e Norte da Itália.
Agora, você vê muito motociclista sem proteção na África, Sul e Sudeste da Ásia, e partes da América Latina. Viu? Nápoles é um portal entre a Europa e outros continentes que têm um estilo de vida em muitos pontos bem diferente do europeu.
Mais uma vez: não estou fazendo juízo de valor, e se estivesse seria na mão contrária do que pode aparentar.
Preferia mil vezes morar na Colômbia ou na Ásia de Monções do que viver na Europa.
Se fosse pra ser na Europa que fosse na Itália, e de preferência em Nápoles ou Roma.
Voltando alias a discorrer especificamente sobre a maior cidade Sul-Italiana, tem mais essa ainda:
– Falando em pontes entre Nápoles e outros continentes, lá há um verdadeiro culto a Diego Armando Maradona. Maradona é Canonizado em Nápoles, adorado como um Deus Vivo.
Não é exagero de minha parte. É um devotamento – no pleno sentido do termo, que transcende as fronteiras da Razão.
Os napolitanos sabem disso, e não se importam.
Em verdade até se orgulham desse comportamento profundamente Emocional, Místico.
Por isso o Sul da Itália é diferente da Europa, e mesmo que do resto da Itália. Há características boas e ruins em cada povo, evidente. Infelizmente temos que colocar, veja quanto lixo nas ruas de Nápoles:
– E eu nem falei do Vesúvio, único vulcão da Europa continental a entrar em erupção no último século (escrevo em 19).
Em 79 d.C., uma chuva de lava vinda do Vesúvio destruiu a cidade de Pompeia.
Atualmente está dormente. Esperamos que continue assim. Caso o vulcão se enfureça novamente Nápoles terá o mesmo destino de Pompeia.
Uma vez que o Centro da cidade está a apenas 9 km da cratera vulcânica. Alguns dos subúrbios napolitanos se erguem nas ladeiras da montanha mesmo que abriga o vulcão.
Já nos alongaremos melhor sobre a realidade social napolitana. Antes, vamos pôr a situação da Europa no contexto.
A periferia sul da Europa é bem menos desenvolvida que o Norte, sabemos. Por ‘Sul’ me refiro aos países latinos ocidentais e mais a Grécia nos tempos da Cortina de Ferro.
(A oriental Romênia que era comunista também é latina, alias quer dizer ‘Terra dos Romanos‘.)
Hoje, com o fim dessa divisão ideológica podemos ampliar a lista: além dos latinos ocidentais e a Grécia podemos acrescer os Balcãs e ex-satélites soviéticos austrais no que chamamos ‘Sul da Europa’.
Por ‘Norte’ quero dizer os países que no passado era protestantes.
Hoje a Europa Ocidental tanto do Norte quanto do Sul vive uma era de ateísmo.
Não se pode mais dizer que a Europa do Oeste é Cristã. No mínimo é pós-Cristã, ou mesmo anti-Cristã.
(No Leste a situação é distinta. Rússia, Hungria e Polônia, entre outras, não apenas ainda são Cristãs como passam por um Renascimento do Cristianismo).
Seja como for, a divisão entre Norte “rico” e Sul “nem tanto” permanece, com a França servindo de transição.
Ela é meio normanda/meio latina, no passado quando todos os povos europeus eram Cristãos a França era meio protestante/meio católica.
O Sul da Europa nunca erradicou de todo suas favelas, ao contrário do Norte.
Quando eu falei que ‘Nápoles é escura’ ou questionei ‘se a Itália fica na Europa’, eu falei em termos simbólicos, não-literais.
Entretanto aqui, ao dizer que a Europa Latina tem favelas, eu estou dizendo favelas mesmo.
No sentido literal, com barracos de papelão sem nenhuma infra-estrutura urbana.
Retratei em matéria própria as muitas favelas que cercam Madri, na Espanha.
Portugal, Espanha, Itália e mesmo a França nunca eliminaram de todo suas favelas – não, não é modo de falar.
Mesmo no auge da ‘social-democracia’, no fim do século 20, Paris teve favelas, o mesmo valendo pros outros países latinos.
O Norte da Europa, por outro lado, conseguiu erradicar todas as favelas.
Evidente que Alemanha, Inglaterra, Holanda, etc, também têm pobreza.
Suas cidades da mesma forma possuem bairros humildes, onde a vida é mais difícil.
A questão é que ao menos no Norte da Europa, após a Segunda Guerra Mundial, acabaram as habitações sub-humanas com barracos de papelão.
Nos países latinos isso nunca aconteceu plenamente.
Todo o Sul da Europa tem favelas: Portugal, Espanha, França e Itália.
E desses a França, embora também tenha miséria e desigualdade racial, é certamente a mais rica e orgulhosa de todos.
Não por outro motivo na França eles dizem que os Pirineus “dividem a Europa da África”.
Se você olhar o mapa, verá que os Pirineus separam a França da Espanha.
Obviamente os franceses querem dizer que a Península Ibérica não faz parte da Europa de fato.
Esse ditado é antigo. Até a década de 80 era plenamente exato.
Pois até o fim do século 20 Portugal e Espanha eram inegavelmente nações de Terceiro Mundo. Adentraram a UE [União Europeia] em 1986.
Nas últimas 3 décadas, a UE fez na Península Ibérica um ‘Plano Marshal‘ (emprestando o termo da operação que foi feita pelos EUA após a 2ª Grande Guerra pra recuperar a Europa).
Nessa segunda versão do ‘Plano Marshal’, a UE investiu muitos bilhões sobre bilhões de Euros nas nações menos desenvolvidas de sua periferia.
Espanha e Portugal foram alguns dos maiores beneficiados. E com isso a situação neles se alterou radicalmente.
Até a entrada na UE eram partes do 3º Mundo dentro da Europa, é simples assim. De lá pra cá tiveram algumas décadas de intenso progresso, sua infra-estrutura e economia foram imensamente modernizadas.
De forma que não dá mais pra dizer que ‘os Pirineus separam Europa da África’.
Hoje Portugal e Espanha são Europa, não apenas geográfica mas socialmente também.
Ainda assim, permanecem um pouco menos desenvolvidas que o ‘núcleo duro‘ (Alemanha e seus vizinhos germanizados [Suíça e Países Baixos], Inglaterra e Escandinávia).
Se o ditado francês perdeu parte de seu sentido, ainda não é mentiroso de todo.
E, olhe, vendo as favelas que já achei em Madri e Lisboa dificilmente você poderá dizer que os franceses não tem uma dose de razão.
Turim, uma das cidades mais ricas do mundo! Parte de seus habitantes vive assim:
E agora Paris. Ah, Paris….
Sim, Paris também tem favelas, e várias delas na verdade. Mas você bem sabe, o homem é especialista em ‘ver o cisco no olho do outro e ignorar a trave em seus próprios olhos’.
Ainda assim, na capital portuguesa chamo a atenção pro bairro da Amadora, entre as Zona Norte e Oeste lisboetas, que concentra várias favelas – e sobre Madri já fiz matéria específica.
Em certo sentido, a Península Ibérica não é mesmo Europa. Então. Tampouco a Península Itálica o é, especialmente em sua parte meridional.
As favelas diminuíram muito na Europa Latina no século 20, evidente, mas nunca acabaram. E isso mesmo na ‘era de ouro’ da classe trabalhadora europeia, que foi o período entre as décadas de 60 e 90 do século passado.
Compreendendo, é claro, quando a Europa começou a se recuperar da imensa destruição causada pela Segunda Guerra Mundial até o colapso do comunismo.
Enquanto o regime marxista dominou o Leste do continente as elites do Oeste da Europa promoveram uma melhor distribuição de renda.
Não por bondade, mas temerosas que as massas de seus países abraçassem as mesmas doutrinas revolucionárias.
Mas quando o comunismo caiu, não havia mais essa ameaça. E aí a concentração de renda voltou a aumentar, mesmo na Europa.
Aliado a isso, as taxas de natalidade caíram bruscamente, e nada mais natural quando um povo se torna materialista. Os imigrantes de outros continentes por um lado mantiveram a economia europeia afluente.
Do contrário já teria havido colapso por falta de mão-de-obra.
Entretanto, por outro lado a chegada de repente de uma multidão muitas vezes não-qualificada profissionalmente minou também em partes as conquistas trabalhistas dos povos europeus.
Imigrantes não-documentados não podem fazer greve.
Pois se o fizerem são embarcados no primeiro avião de volta a seus países de origem, destino que eles querem evitar a qualquer preço.
Assim, quem não tem documentos de residência pega qualquer trabalho, por baixos salários e poucos direitos trabalhistas – ou mesmo nenhum direito.
Aliado a tudo isso, com o fim da Cortina de Ferro a União Europeia se expandiu pro Leste.
Permitindo aos habitantes do ex-bloco comunista também emigrar em massa pros países mais ricos do Oeste.
Em teoria, podem fazer greves. A questão é que quando a oferta de trabalhadores é alta, greves pouco conseguem obter.
Por outro lado, o afluxo de milhões de pessoas do Leste pro Oeste foi ruim pra ambos os lados.
A emigração drenou o Leste Europeu de mãos e cérebros, daí suas economias estão enfrentando sérios problemas, que se agravarão muito no século 21 (escrevo em 19, ressalto mais uma vez).
Nas últimas 3 décadas, países como Ucrânia e Letônia já perderam 30% de sua população. E na maioria dos países ex-satéites soviéticos as perdas atingem 20% ou ao menos 15%.
Considere que os que foram embora são os mais hábeis e os mais jovens, ou seja, os que têm ou ainda terão filhos. Ficaram os menos qualificados e os mais velhos, o que fará o problema crescer em bola de neve.
Essa mesma imigração, do outro lado da corrente, no Oeste, baixou ainda mais os salários, e aumentou em muito a miséria nas grandes metrópoles oeste-europeias. Embora o tema de hoje seja a Itália, vamos falar um pouco da França, que é o caso que estudei melhor.
Certamente muitas das coisas narradas na saga abaixo se aplicam igualmente ao vizinho meridional. A 2ª Guerra destruiu boa parte das cidades europeias, obviamente.
O esforço de reconstrução foi imenso, e necessitava muita mão-de-obra, mas boa parte dos homens havia sido ferida/morta nos embates bélicos. E as ex-colônias na África e Ásia haviam acabado de ficar independentes.
Tudo somado, começou uma imigração em massa pra Europa. Além disso, Espanha e Portugal eram um 3º mundo dentro da Europa. Espanhóis e portugueses também emigraram em grande quantia pro Norte do continente, especialmente França e Alemanha.
Por conta disso nas décadas de 50 a 70 haviam muitas favelas em Paris, muitas mesmo. E várias delas bem grandes, a maior tinha 15 mil habitantes, a 2ª maior que era a Nanterre (Zona Oeste) perto de 10 mil.
40% das pessoas que moravam em favelas parisienses a época eram árabes (oriundos das ex-colônias francesas do Norte da África).
Além deles, 20% portugueses, 20% franceses (brancos), e 5% espanhóis. Haviam muito poucos negros e ciganos nas favelas. Tirando os próprios franceses evidente, todos os demais eram ilegais na França.
Nas décadas de 70 e 80 houve intenso esforço de remoção das favelas pra enormes conjuntos habitacionais construídos nos subúrbios de Paris. Ao mesmo tempo, os negros africanos aumentaram seu fluxo migratório pra Europa, França inclusive e principalmente.
Assim, nas décadas de 80 e 90, haviam algumas favelas sim em Paris, mas muito poucas. Nos anos 90, como já dito, o fim do comunismo primeiro eliminou a necessidade de uma melhor distribuição de renda, pois a partir de agora que alternativa há ao capitalismo selvagem? Segundo, a expansão da UE pro Leste permitiu a circulação livre dentro do continente.
Atualmente a miséria cresceu muito, estima-se que perto de 17 mil pessoas morem nas 500 favelas da França, quase todas elas na Região Metropolitana da capital.
As favelas voltaram a aumentar, e como! Ainda menos que no pico dos anos 70, mas muito, muito acima dos anos 80 e 90.
E a composição étnica delas se alterou radicalmente: a imensa maioria dos favelados parisienses hoje é de ciganos, seguidos dos negros, e por fim os árabes.
No ciclo anterior os árabes lideravam, agora ainda estão presentes mas em 3º lugar.
Os ciganos, antes quase inexistentes, agora são quem lideram. Os negros, antigamente também raros, aumentaram em muito sua participação. E nos dias de hoje não há mais franceses brancos tampouco portugueses e espanhóis nas favelas da França (me refiro as favelas mesmo. Entre os acampamentos de sem-tetos há sim vários brancos).
Falando especificamente dos ciganos, o grupo majoritário. São cidadãos da Romênia e Bulgária, em menor medida Hungria.
Se uma favela é demolida pelas autoridades e os habitantes deportados pra seus países de origem, os africanos e asiáticos (geralmente árabes no caso da França) não podem re-ingressar em solo francês.
Lhes é recusado o embarque na origem (exceto se usarem documentos falsos, o que é possível mas difícil de obter). A questão é a liberdade de circulação dentro da União Europeia (UE) é garantida a todos os cidadãos europeus. Resultado: hoje a maior parte das favelas de Paris é formada por ciganos do Leste do continente, como dito e é notório.
Um cidadão romeno ou búlgaro quando é demolido o barraco que ele vivia num terreno baldio nos arredores de Paris não pode ser deportado.
Porque tem direito a residir na França. Então simplesmente ele participa de nova invasão em outro bairro parisiense.
Não pode ser deportado, mas as vezes as autoridades francesas dão um ‘incentivo’ pra ele deixar o país, sob a guisa de ser ‘ajuda pra recomeçar a vida na Romênia’ (ou Bulgária, ou Hungria). Geralmente alguns milhares de Euros, equivalente ao salário de um serviço braçal por um semestre na França.
Aí ele volta pra sua terra-natal. Só que no Leste Europeu o custo de vida é muito mais barato. Esse dinheiro, que na França só daria pra se sustentar alguns poucos meses, rende quase um ano no Leste.
E ali vive uns meses, de férias, visitando os parentes e contando suas aventuras aos pés da Torre Eiffel. Ao invés de usar o dinheiro pra dar entrada numa casa ou num negócio próprio, utiliza os recursos pra viver sem trabalhar.
E quando o dinheiro vai acabando ele usa o resto pra comprar nova passagem pra Paris, onde ao desembarcar no aeroporto não pode ter sua entrada recusada.
Aí é só procurar a sua tribo cigana – nada difícil, nessa era digital em que todos estão conectados – e ver em que bairro de Paris ou outra cidade francesa eles estão acampados.
A seguir juntar-se a eles, pondo mais um barraco ou ‘trailer’ no acampamento. Aí inverte, ele passa a divertir seus companheiros franceses com as fotos e aventuras passadas no Leste do continente.
Saímos do foco do Sul da Itália, pra citar um pouco da situação da França.
O mesmo problema se repete no Norte da Itália, nas cidades de Turim e Milão, onde existem diversas favelas na periferia, as margens dos rios ou rodovias. Evidente que bem menos que no Brasil e demais países do ‘3º Mundo’. Ainda assim, existe um quadro preocupante de miséria no Sul da Europa, e que vem se agravando.
Mas a França e Norte da Itália são mais ricos que o Sul da Itália, então Nápoles até recentemente pouco atraía tanta migração de outros continentes (no meio da década de 10 começaram a chegar alguns chineses e africanos, ainda bem menos que nas outras metrópoles europeias).
Ainda assim, Nápoles também tem favelas as margens dos lixões clandestinos, mesmo que sejam habitantes por um grupo étnico distinto dos que povoam as favelas de Paris e Turim.
Esclarecido isso, de volta a falar de Nápoles. Eis o ponto de encontro entre a Europa e o chamado ‘Sul Global’. Sabem que no geral mesmo toda a Itália conseguiu adentrar na Europa com esforço, o Norte (Milão e Turim) está bem integrado, o Centro na capital Roma está relativamente integrado ao resto desse continente.
O Sul é tão diferente em alguns pontos que quase que podemos dizer que ainda não entrou pra Europa – e talvez nunca entre.
Mais: Nápoles não é apenas um Portal Espacial, mas também Temporal. Nápoles em alguns aspectos ainda não passou pela modernização que atingiu o continente do século 20.
Disse acima que “em certo sentido, a Península Itálica não é mesmo Europa. Afirmação especialmente válida em sua parte meridional”. Veja: o Norte da Itália, geograficamente, não está na península, mas sim no corpo mesmo da Europa.
Evidente que a Lombardia e o Piemonte falam italiano e fazem parte politicamente da Itália, são governadas por Roma. Entretanto, elas estão bastante próximas da Suíça, Áustria e Alemanha.
E isso tanto na dimensão física, a quilometragem mesmo, quanto socialmente, os costumes do povo. Por isso Milão e Turim, embora latinas, são também europeias. Se parecem em muitos aspectos com Londres, Paris, Berlim/Alemanha, Bruxelas/Bélgica, etc.
Roma é o limite, é a fronteira sul da Europa em termos psicológicos. E em Nápoles alguém poderia estar desculpado se concluísse que não estamos mais na Europa, embora fisicamente sim.
Os londrinos não gostam de Nápoles, exatamente porque essa cidade campana é bem diferente do que eles estão acostumados tanto nas Ilhas Britânicas quanto na maior parte do continente.
Eu gosto de Nápoles. Mesmo com seus becos escuros, caindo aos pedaços, com fiação pela rua e montes de roupas penduradas nas varandas – ou talvez por causa disso.
Não estive no Centro Velho de Havana-Cuba, mas pelo que vi em fotos há similaridades.
Por outro lado, estive nos Centros Velhos de Fortaleza-CE, Belém-PA, Santo Domingo-Rep. Dominicana e Assunção-Paraguai.
E aí posso te garantir: é muito parecido; Nápoles as vezes parece estar na América Latina. Estou só me aquecendo.
O mais impressionante vou dizer agora. Como as imagens não deixam dúvidas uma favela surgiu no aterro sanitário (já vimos a horripilante cena mais pro alto na página).
Parece o 3º ou mesmo 4º mundo. Uma favela como as daqui, barracos miseráveis, em que as pessoas vivem de revirar o lixo alheio.
Não estou falando do lixo reciclável, separadinho e relativamente limpo, mas o lixo doméstico mesmo. Pessoalmente vi exatamente isso por todas as partes mais pobres da América Latina e pela Visão de Rua, também na Ásia.
………..
Somando tudo, no Preto e no Branco, quase que dizemos que o Sul da Itália não é Europa ainda, e talvez nunca venha a ser. E não fica só no lixo. Caminhe por Nápoles no Visão de Rua (ou quem puder fazê-lo ao vivo em carne-&-osso, melhor ainda).
Vai lhe chamar a atenção a enorme quantia de pessoas que andam de moto sem capacete.
Vou deixar isso bem claro. Não existe em parte alguma da Europa, exceto em Nápoles, gente andando sem capacete. Não existe.
O ‘Google’ já filmou quase todo o “1º mundo”: Europa Ocidental, Anglosfera [EUA, Canadá, Austrália e Nova Zelândia], Japão, Coreia do Sul. (Nota: só falta a China continental – sim, então falta muito, a China além de ser o país mais populoso da Terra é também o mais industrializado e mais rico. O PIB da China, em termos reais, já é 1/3 maior que o dos EUA (escrevo em 2019).
O PIB ianque ainda lidera oficialmente por conta de muitos malabarimos estatísticos e de câmbio, que não entrarei no mérito aqui. Mas quem conhece o assunto além da rasa e distorcida interpretação da mídia capitalista sabe:
Em termos reais a China já é mais rica que os EUA, e a distância só vai aumentar. Isso não é divulgado mais amplamente pois a imprensa capitalista na Europa, América Anglo-Saxônica e América Latina é de posse do mesmo grupo que domina todo o sistema no Ocidente.
E eles não querem alardear o fracasso do sistema que comandam, por motivos óbvios. Ainda assim, a China já deixou os EUA pra trás em muitas dimensões. Nesse século 21 ocorrerá a ultrapassagem completa. Então se o ‘Google Mapas’ ainda não adicionou a China continental, ele ainda não filmou a parte mais importante e próspera do ‘1º Mundo’.
De qualquer forma, o ‘Google já filmou ‘Hong Kong‘, Macau e ‘Taiwan‘ [essa última ainda não foi re-incoporada a China]. De maneira que podemos ter uma ideia como são as cidades chinesas. Melhor que nada.)
Do que foi filmado, andei extensamente por todos esses países. Extensamente. Rodei por todos os países que o ‘Google’ filmou, muitas e muitas horas, várias cidades de cada um deles.
E por isso te digo: na Europa, do Oeste e do Leste, na América do Norte, na Oceania e no Japão, e mesmo nas partes da China já filmadas, não existem pessoas andando sem capacete. Não existe, é simples assim. Confira:
Essa manifestação – andar de moto sem capacete – está erradicada em todo “1º mundo” como vimos.
E a América Latina caminha pro mesmo resultado.
Foi difícil achar gente sem capacete na América.
Na Colômbia, tive que subir um dos morros de Medelím. No México não achei ninguém sem capacete, e olhe que revirei as periferias da capital México DF, de Acapulco e de Tijuana.
No Brasil, andei bastante por várias cidades, e não achava gente sem capacete pra compor a matéria.
O que prova o que lhes falei. No “1º Mundo” já não se anda mais sem capacete, e na América Latina a coisa está indo no mesmo rumo.
Aqui no Brasil, acabei achando na Paraíba e em Belém do Pará – alias numa triste constatação vemos bastante lixo na rua numa foto também.
Já na República Dominicana, Argentina, Indonésia e Camboja, foi facílimo achar gente sem capacete. Dá uma olhada:
E, já escrevi sobre isso, infelizmente em algumas partes da Ásia de Monções há lixo nas ruas, igualmente.
(Nota: essa matéria citada acima não foi publicada na página, seguiu só por emeio.)
Porque o Ser Humano sempre se manifesta de acordo com a sua Frequência Espiritual.
Há lugares que não tem tanto acesso ainda a infra-estrutura urbana, as ruas são mais sujas.
Geralmente nessas cidades ou países as pessoas andam sem capacete, ou penduradas nas caçambas de caminhões.
É assim em boa parte do “3º Mundo” – e assim em Nápoles também.
Deus proverá
Um leitor português, que portanto conhece ‘in loco’ a realidade aqui relatada, comentou a imagem de uma favela em Lisboa. Favela essa que, escrevi na legenda, é “exatamente igual as que temos no Brasil, mas é em Portugal”.
Ele o fez diretamente na foto. Se quiser, confira nosso diálogo na fonte:
De qualquer forma, reproduzo na íntegra as palavras dele, que foram:
” exatamente igual, tirando o facto de que essa tem pouco mais de 100 habitantes, e, dos 13 bairros de lata portugueses 12 estão em processo de reabilitação (colocar as pessoas em condições confortáveis para a vida), e em nenhuma dessas 13 verás tiroteios com armamento de guerra entre facções inimigas ou entre policia e trafico, no máximo o Zezito tem uma 6.35 ou uma 22 que encrava mais do que dispara. ”
Eis minha tréplica:
Evidente, amigo. O Brasil é muito mais violento que Portugal, quanto a isso não restam quaisquer dúvidas.
Quando eu escrevi que é exatamente igual ao Brasil, me referi a situação de miséria. Muitas pessoas aqui no Brasil, senão a maioria delas, estão ‘tele-guiadas’ pela mídia que des-informa mais que informa, e por isso pensam que não existem favelas (no nosso jargão) ou ‘bairros de lata’ (no vosso) na Europa.
Mas elas existem. Em Portugal, Espanha, França, Itália, e outros países também. Cidades riquíssimas como Paris e Turim contam com milhares, ou mesmo dezenas de milhares, de pessoas morando em condições degradantes (Lisboa e Madri passam pela mesma situação), exatamente como ocorre no chamado ‘Terceiro Mundo’ – embora aqui a escala do problema é bem maior. Quis apenas apontar isso: a Europa, tanto Ocidental quanto Oriental, tem favelas ou ‘bairros de lata’. Muita gente ignora ou tenta ignorar essa realidade, mas é um fato.
Já quanto a questão da violência urbana, óbvio que não tem qualquer comparação entre Brasil (e também outras partes do mundo como América Latina, EUA e África do Sul) e Europa. Especialmente no Rio de Janeiro, mas também em metrópoles brasileiras, vivemos uma situação praticamente de uma guerra civil não declarada. Abordo exatamente isso na minha série sobre o Rio de Janeiro, que ainda está em produção. Confira as matérias já publicadas, onde deixo bem claro isso que você colocou, que a violência urbana no Brasil já saiu do controle há muito tempo:
– https://omensageiro77.wordpress.com/2020/10/13/essa-e-a-cara-do-brasil-rio-de-janeiro-cidade-maravilhosa/
– https://omensageiro77.wordpress.com/2021/01/04/021-a-cidade-e-maravilhosa-mas-se-liga-meu-irmao/
Obrigado pelos apontamentos.
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