Chapecó, fim dos anos 80. 1° articulado de SC, comprado usado do Rio Grande do Sul.
INTEGRA A “ENCICLOPÉDIA DO TRANSPORTE URBANO BRASILEIRO“
Por Maurílio Mendes, “O Mensageiro”
Publicado em 8 de maio de 2014
Imagens baixadas da internet, créditos mantidos sempre que impressos nas mesmas.
Nos ocupamos recentemente sobre o transporte coletivo de Florianópolis. Falando aliás no bastante querido estado de Santa Catarina.
Longa tradição: no século 21: Chapecó segue com ‘sanfonados’ – ainda mais notável se considerar que no começo do novo milênio o Rio de Janeiro, B. Horizonte/ MG, Salvador/ BA, Fortaleza/ CE, Belém/PA e Manaus/AM ficaram mais de uma década sem esses busões (Salvador ainda não retomou até 23).
Você sabe em qual de suas cidades rodou seu primeiro ônibus articulado?
A maioria das pessoas pensaria que é justamente em Floripa (que nessa época teve seu transporte modernizado).
Ou então em Joinville ou Blumenau, ambas cidades grandes, industrializadas e próximas ao litoral e a capital do estado. Certo? Nada disso.
O primeiro busão ‘sanfonado’ catarinense circulou orgulhosamente em Chapecó (vista acima da manchete em tomada noturna).
Chegou em 1988, adquirido de 2ª mão de Porto Alegre-RS. Veja como foi:
-
- 1981: chegando 0km a viação Sudeste, na padronização EBTU/R.U. usada nos anos 80.
-
- Em ação em P. Alegre (a foto a direita veio da revista Eu Rodo, publicação da Volvo).
-
- Já em Chapecó mas ainda com a pintura porto-alegrense.
-
- Repintado de amarelo unicolor, como é comum em SC.
1975: surge o 1° ‘tribus’ do Brasil, uma Ford Rural adaptada que fazia a linha de Chapecó a Xanxerê. Mais uma vez o Oeste de SC pioneiro, e agora a nível nacional.
O bichão veio da Viação Sudeste que opera na capital gaúcha.
Chapecó é uma cidade importante, não restam quaisquer dúvidas.
Ainda assim bem menor que as maiores cidades catarinenses, que são todas próximas ao mar.
O Oeste Catarinense, mais afastado do centro econômico e político do estado, vive do agronegócio.
Ao invés da indústria pesada e turismo, como é o padrão na costa atlântica e próximo dela.
Uma foto atual, seguimos no Glorioso Oeste de SC: direto de Joaçaba, suburbano micrão Tribus. Buso trucado, com 3º eixo, existe em toda Pátria Amada, mas agudamente em SP, PB e RN. E micro tribus só vi esse e na Paraíba. Uma espécie de ‘transgenia busófila’. Esse Mascarello é produzido em Cascavel, também Oeste só que Oeste do Paraná, portanto perto de Foz do Iguaçu (igualmente no PR, evidente) e Chapecó.
Chapecó é a maior cidade do Oeste. Dista nada menos que 555 km da capital Florianópolis. No censo de 2010 tinha 183 mil habitantes.
Sendo assim a 6ª maior cidade catarinense – também o 6º município mais populoso. Parece pleonasmo mas não é, ‘município’ e ‘cidade’ são 2 coisas distintas.
Falo melhor disso abaixo. Por hora sigamos no nosso foco. A princípio o texto acima era o corpo principal da mensagem original.
Atualizo a postagem com imagens da história do transporte do Oeste de Santa Catarina.
Daremos um pega até no Oeste do Paraná (Foz do Iguaçu), que lhe é ao lado.
Vemos a direita uma Kombi ainda do tempo da Lotação Chapecó.
“Lotação”: o tempo passa . . .
Em P-&-B na ativa – repare dois detalhes interessantes na chapa da ‘Kombosa’:
1) Tinha as placas que vigoravam nos anos 50 e 60, onde não haviam letras, apenas cinco ou seis números;
2) E vinha escrito “Chapecó-SC”, ao invés de “SC-Chapecó” como nos 2 emplacamentos seguintes.
Uma outra Kombi foi preservada, e já re-emplacada duas vezes, pras placas de 2 e 3 letras – veremos foto mais abaixo.
Foz – escrito ‘Cidade’ significando ‘Centro‘, característica do Sudeste em pleno Sul !
Um breve giro pelo estado do Paraná, como dito. Ao lado um busão antigo de Foz do Iguaçu.
Trata-se de um Incasel (Ind. de Carrocerias Serrana Ltda.;) que é a antecessora da Comil.
A viação é a Irmãos Rafagnin. Em Foz também escreviam ‘Cidade’ significando ‘Centro’.
Nas próx. 11 imagens voltamos a Chapecó, tema principal de nossa mensagem.
Como em várias cidades do Sudeste – por ex. o Rio de Janeiro; e no estado de SP na Capital, Campinas e S. José dos Campos – em SJC o costume adentrou o século 21.
Em Curitiba, que fica no mesmo estado do PR, isso nunca aconteceu.
Bem, a capital paranaense descrevemos bastante em outras oportunidades, inclusive seu transporte coletivo.
Bora de volta pra Chapecó então. Começando na imagem acima, vamos mostrar a evolução da viação que leva o nome da cidade.
A direita outro Incasel (do mesmo modelo mostrado logo acima em Foz, e também com o eixo a frente da porta) quando a viação ainda se chamava “Lotação Chapecó“.
A esquerda um Marcopolo Veneza na mesma pintura – creio que era nos anos 70 que a viação se denominava ‘Lotação’.
Ao lado outro Veneza na mesma pintura. Mas note que nos anos 80 de ‘Lotação’ a empresa passou a se chamar ‘Auto Viação Chapecó’.
Transição: outro Veneza, a seguir os busões ficaram todo amarelos, estão assim até hoje.
A lataria do busão está em branco. Na traseira há o logo da viação (destacado no detalhe).
No começo dessa mesma década de 80 Curitiba padronizou a pintura de sua frota. Cada categoria de linhas recebeu uma decoração unicolor:
Expressos em vermelho, Convencionais em amarelo (até 1988 Alimentadores também), Inter-Bairros em verde, Circular-Centro em branco, ‘Seletivo’ em laranja (categoria logo extinta).
Um Urbanus, aqui vemos melhor a nova pintura. Repare no mesmo logotipo – visto na pintura livre a direita acima – com a sigla ‘A.V.C.‘, de Auto Viação Chapecó.
Além disso, logo após a porta dianteira vem escrito ‘Cidade de Curitiba‘.
Essa uniformização de pintura influenciou muito o vizinho estado de Santa Catarina.
“FEBRE AMARELA“:
EM SANTA CATARINA TAMBÉM –
A partir da década de 80 diversas cidades catarinenses padronizam suas frotas também em unicolor, com o ‘Cidade de _____’ (variando conforme a cidade específica, óbvio) na mesma posição que nos busões curitibanos.
Mais um Urbanus, agora articulado, fabricado pela finada Busscar (também de SC) – como disse, desde os anos 80 a cidade conta continuamente com esses busões longos.
E na maioria das vezes as prefeituras e frotistas de SC escolheram o amarelo, como os Convencionais da capital do PR.
A própria Chapecó que falamos aqui é o exemplo perfeito. Confira nas imagens ao lado e acima:
‘Latão’ nessa cor áurea e com o ‘Cidade de Chapecó’ logo atrás da porta de entrada.
Um caso entre muitos. Não perca a conta, também ‘amarelaram’:
Hoje: a cor permanece a mesma; o ‘Cidade de Chapecó’ se foi; em compensação há propaganda na lataria – o que foi comum nacionalmente nos anos 70 a 2000, mas está praticamente extinto Brasil afora.
A capital Floripa, Joinville (maior cidade do interior), Blumenau, Criciúma, Itajaí/Balneário Camboriú, pra citar apenas as maiores, todas elas têm ônibus inteiros em amarelo.
Ou pelo menos tiveram até recentemente, por exemplo em Blumenau.
Seja no municipal (na maioria das vezes), no ‘Executivo’ (Florianópolis).
Ou em Itajaí/Balneário no metropolitano primeiro, atualmente também no municipal de Itajaí (com uma pequena faixa cinza ondulada nesse caso).
Comil (mesmo modelo da foto anterior) de Chapecó mas está desculpado se pensou que era de Curitiba, até o suporte pra placa do itinerário está na mesma posição, parece ‘testes’ ou ‘tabela trocada’. A Comil é sucessora da Incasel, cuja fábrica é em Erechim, também Oeste, mas Oeste do RS. Erechim e Chapecó são bem perto, homenageamos o Oeste dos 3 estados do Sul, a região de fronteira com a Argentina.
Não importa. Em algum modal todas essas cidades escolheram o amarelo unicolor pra decorar seus ônibus (embora, repito, algumas já o tenham abandonado, Blumenau sendo a maior entre elas).
E isso, não custa lembrar, pra falar só as maiores. Porque se for ampliar o leque incluímos na conta também praticamente toda a Grande Blumenau (Gaspar, Indaial e Timbó). E mais:
Chapecó (tema dessa atual matéria), Jaraguá do Sul, São Bento do Sul, Caçador, Concórdia, Canoinhas, Laguna, isso só as que têm mais de 50 mil habitantes.
Igualmente as duas ‘cidades-gêmeas’ na divisa com o PR que são ‘Rio-Mafra‘ e ‘Porto União da Vitória‘, ambas com perto de 80 mil moradores (somando os dois lados da divisa, ou seja Mafra/SC + Rio Negro/PR e União da Vitória/PR + Porto União/SC).
Se contabilizarmos as cidades menores ainda posso citar: Xanxerê, Rio Negrinho, Curitibanos, Garopaba, Garuva, Corupá, Fraiburgo, Schroeder, Santa Cecília, e talvez outras que não consegui achar fotos. Vocês entenderam, a lista é longa.
A Viação Chapecó preservou essa Kombi “lotação“. Já tem inclusive placa de 3 letras.
Amarelo é uma escolha popular pra ônibus. Tanto que a primeira padronização de pintura de toda América Hispânica ocorreu em Santiago do Chile, em 1991. E escolheu essa mesma cor.
É a “Febre Amarela”, amigos. No Chile, e em Santa Catarina também. Publiquei matéria específica sobre todo o estado, onde mostro tudo com muitas fotos.
………
As vezes os fatos mais importantes se dão nos lugares onde muitos não esperavam.
Encerramos a sequência da empresa com outra foto da antiga linha 2-Efapi; o letreiro – ainda de lona – mostra que vai pra esse populoso bairro, Zona Oeste da cidade.
Foi o caso. Santa Catarina é mesmo um estado diferente da média brasileira em múltiplas dimensões.
E em sua passagem pros ônibus ‘sanfonados’ (como antigamente se dizia) a regra se confirmou.
Tem mais: Chapecó, além do 1º articulado de SC, nos deu também o 1º “ônibus” trucado (“Tribus”) do Brasil, que ligava essa cidade a Xanxerê.
Entre aspas claro porque trata-se de uma Rural Ford/Willys – que também fabricava o Jipe – que o dono adaptou com 3º eixo (já vimos a imagem no topo da página).
Reproduzo o rótulo de mortadela produzida em frigorífico justamente no Efapi, Chapecó.
Chapecó e Xanxerê (numa atualização de março de 2021 mostramos os ônibus da ‘Avixal’ – Auto Viação Xanxeré Ltda.) estão no Extremo Oeste Catarinense, não muito longe da Argentina.
Portanto distantes da região mais rica do estado, o Norte Catarinense que é seu pulmão industrial.
E foi ali, nessa cidade cuja uma das principais atividades econômicas é abater e processar frango, que em 1988 Santa Catarina entrou na era do ônibus articulado, não custa relembrar mais uma vez.
Quando a Auto Viação Chapecó comprou, usado do Rio Grande do Sul, um Marcopolo Torino.
Próximas 3 imagens: ‘Avixal’, sigla da Auto Viação Xanxerê, cidade vizinha a Chapecó. Aqui um velho Veneza1 quando ainda era usada a sigla na lateral, o nome por extenso só na traseira. Foto (prov.) dos anos 70.
Com motorização e chassi Volvo. Da época que Volvo era Volvo…
Veem o bichão em ação já no solo catarinense, onde foi o pioneiro, ninguém veio antes dele.
Pertenceu a Viação Sudeste que opera na Zona Leste de Porto Alegre.
A espinha dorsal de suas linhas é a Avenida Bento Gonçalves, pra quem conhece a capital gaúcha.
Quando chegou foi pintado com faixa bege maior e preta menor embaixo.
Déc. de 80: o nome completo da viação veio pra parte mais nobre da lataria. Um Bela Vista Caio, aqueles que tinham a traseira inclinada (como seu sucessor Gabriela1). Esse busão foi produzido no fim dos anos 60.
No padrão R.U. – Radiais Urbanas, implantado no fim do regime militara virada dos anos 70 pros 80 pela EBTU – Empresa Brasileira de Transportes Urbanos.
(A mesma pintura ocorreu em Florianópolis, alias, e com pequenas variações também em Brasília-DF e Campinas.)
(Maceió-AL também a adotou em algumas viações, mas nesse caso não foi uma padronização.)
Estou produzindo uma matéria onde todas essas cidades serão mostradas, com centenas de fotos. Breve no ar.
Por hora, de volta a conexão P. Alegre/Chapecó. Matamos a cobra e mostramos o pau. Numa atualização inseri a imagem:
O bichão articulado operando branco e bege em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul (busque pela legenda), antes de ficar amarelado em SC.
“O CLONE” – o Sul e Oeste de SC são bem perto do RS, logo muito influenciados pela cultura gaúcha. Na década de 90 a Viação Xanxerê adotou uma decoração-clone da que vigorava em Porto Alegre a época, busão branco com faixa vermelha – o tom rubro era usado por viações tanto do sistema municipal quanto do metropolitano porto-alegrense. Aqui um Ciferal Alvorada.
……….
Nota: Disse acima que Chapecó é o 6º município mais populoso e também a 5ª cidade mais populosa de SC.
A questão é que ‘cidade’ e ‘município’ são coisas distintas.
Tanto que Chapecó ocupa a mesma posição nas 2 listas mas a ordem dos que estão acima é diferente, como veremos logo a seguir.
Município é a divisão política. A cidade é a área urbana, onde moram as pessoas.
“A SEMENTE“: Porto Alegre, anos 80. Busão do mesmo modelo – Ciferal Alvorada, letreiro saltado no teto – só que é ‘padrão’ (alongado) e mesma pintura, branco com faixa vermelha. Foi a que inspirou a de Viação Xanxerê.
É fácil entender que a cidade pode abranger apenas um município ou vários. É o caso aqui.
Joinville é município mais populoso de S. Catarina. Só que na Grande Florianópolis, que se espalha por diversos subúrbios metropolitanos, mora muito mais gente que na Grande Joinville.
Portanto a capital e seu entorno é que são a maior cidade catarinense.
Passo os dados do Censo de 2010 – o mais recente, já que o de 2020 foi cancelado e por hora não houve outro. Maiores cidades de Santa Catarina:
1) Grande Florianópolis, 850 mil habitantes aprox. .
Nas próximas 3 fotos estamos de volta a Xanxerê. Agora vemos um Marcopolo Torino na pintura clonada de Porto Alegre.
Inclui São José, Palhoça, Biguaçu, Santo Amaro da Imperatriz e Paulo Lopes.
Caso alguém queira incluir outros municípios próximos como Governador Celso Ramos não dará muita diferença.
Já que afora a capital e S. José, Biguaçu e Palhoça os demais municípios da região têm população pequena;
2) Grande Joinville, 581 mil moradores (inclui Araquari e São Francisco do Sul);
3) Grande Blumenau, 483 mil (inclui Gaspar, Indaial, Pomerode e Timbó);
Outro – ou quem sabe o mesmo – Torino. Na virada do milênio mantiveram a faixa vermelha mas mudaram o fundo branco, o busão ficou mais colorido.
4) Itajaí/Balneário Camboriú/cidade de Camboriú/ Navegantes, onde vivem 413 mil pessoas.
5) Criciúma, 192 mil (pouco mais de 200 mil se falarmos em ‘Grande Criciúma’);
6) E chegamos a Chapecó, onde vivam 183 mil Homens e Mulheres em 2010.
Agora vejamos quais são os municípios mais povoados do estado:
“FEBRE AMARELA” – Recentemente a Viação Xanxerê adotou o amarelo unicolor, como muitas cidades de SC – pelo logotipo vemos que é do mesmo grupo da Viação Chapecó.
1) Joinville, 515 mil.
(Quase empatando com Londrina-PR como maior cidade do interior do Sul.);
2) Florianópolis, 421 mil;
3) Blumenau, 309 mil;
4) São José, 209 mil.
(Pertence a Grande Florianópolis);
.5) Criciúma, 192 mil;
Curitiba, anos 80. Eis a padronização de pintura (vigente até hoje) que inspirou tantas cidades de SC; Depois esse Haragano – ou outro do mesmo lote – foi vendido e operou sem repintar em Campinas.
6) Mais uma vez Chapecó, com 183 mil como já dito muitas vezes.
Itajaí também tinha 183 mil, empate técnico. Chapecó possuía apenas 157 moradores a mais.
…………
Abrimos o baú. Aproveito e mostro como eram na mesma época:
– Os tróleibus brasileiros.
(Abaixo uma imagem pouco conhecida, o 11-13 de manutenção da rede elétrica da finada e saudosa C.M.T.C.);
– Os Monoblocos. E também aqui, e aqui;
– Os metropolitanos de Curitiba antes da padronização.
– E da padronização pra cá.
O Caminhante: Observatório Urbano e do Transporte Coletivo 