‘Toca do Tatu’: bem-vindo a Extremidade Sul de Curitiba

Ônibus Santa Rita/CIC em 2014.

É O TATUQUARA: EM TUPI-GUARANI ‘QUARA’ É BURACO, ‘TATU’ É TATU MESMO –

Por Maurílio Mendes, “O Mensageiro”

Publicado em 18 de setembro de 2014

A Zona Sul é certamente a ‘Zona Vermelha‘ de Curitiba.

2021: a mesma linha, a 619-Santa Rita/CIC, agora tem seu ponto final no Terminal Tatuquara. Está vazio porque foi planejado errado, não tem linhas alimentadoras nem troncais, exatamente como aconteceu no Roça Grande (Colombo, Zona Norte) em 2009.

O lema que os manos picham nos muros é que “aqui Curitiba é diferente”.

Ou seja, não é nem um pouco europeia.

Creio que não seja preciso explicar mais nada.

E seus bairros-arquétipos, que fazem a Z/S ser o que é, são o Tatuquara e Sítio Cercado.

Falei do Sítio, e de como ele mudou Curitiba, nessa outra mensagem.

………

Agora vamos ver o Tatuquara, pro círculo se fechar (a direita Vila Bela Vista).

Fica aqui na Zona Sul mesmo, mas bastante distante do Boqueirão, onde resido.

O Tatuquara, “Toca do Tatu” no seu nome original em tupi-guarani, fica na extremidade de baixo do município de Curitiba.

Tanto física quanto economicamente. Mais austrais só o Campo de Santana e a Caximba.

Pra prefeitura: “Moradias da Ordem”. Na boca do povo: “Jardim da Ordem”. Ou simplesmente “J.D.O.”.

Sendo que esse último ainda é esparsamente habitado.

(Digo, era assim até o início da década. Mas devido a uma onda de invasões desde então a Caximba vem inchando bastante.)

E dos 75 bairros de Curitiba o Tatuquara é o que tem a menor renda média por domicílio.

No outro extremo temos o Batel, na Zona Central, o bairro mais rico de Curitiba.

De volta ao Tatuquara, ele tem 50 mil habitantes.

……..

“Cidade de Deus” Curitibana: Santa Rita, Tatuquara, Zona Sul. Me lembrou Santa Rita, Z/O de João Pessoa-PB.

Comentemos as fotos (clique sobre que elas aumentam).

Nem sempre a descrição ao lado corresponde a imagem que está mais perto, identifique pelas legendas. Vemos no decorrer da página:

A avenida que nomeia e o ônibus que serve a Vila Santa Rita.

……….

Jardim da Ordem Tatuquara Z-S

Jardim da Ordem.

Note que a periferia cresceu economicamente de forma significativa.

Já merecendo uma agência de 2 andares da Caixa Econômica. Vista na 1ª foto da página.

Repito que esse é, entre os 75 bairros de Curitiba, o que tem a menor renda per capita.

Direita e abaixo: Via principal do Jardim da Ordem – J.D.O..

Um carro passou a todo volume com Valeska da Gaiola das Popozudas apresentando suas ‘credenciais’.

(Aviso: é uma letra de ‘funk’, e de letra bem explícita). Vem quente que o negócio está fervendo.

Bem, a Zona Sul gosta desse estilo, isso é certo. Curitiba, Cidade do Funk.

De volta a falar do Tatuquara, repare na tomada a esquerda, algumas Cohabs no estilo-cidade-de-deus que a prefeitura fez por lá.

Vendo aquelas casinhas eu me vi de novo na periferia do Norte e Nordeste brasileiros.

Foi como se eu tivesse entrado em um túnel do tempo.

Jardim Laguna: começou como cohab que recebeu os removidos da vizinha Vila Terra Santa.

Que em pensamento me levou de volta pra um lugar que também se chama Santa Rita, que fica porém na Zona Oeste da Grande João Pessoa-PB.

Ou então a Marituba, na Zona Leste da Grande Belém-PA, porque o cenário é praticamente idêntico.

No Nordeste, e também no Chile e Argentina, a periferia é assim: casas de alvenaria muito simples, e nesses casos com saída direto pra rua.

No Pará, e também aqui no Paraná, há uma diferença, as moradias tem um quintal, ainda que minúsculo.

Delimitado com alguma separação pra rua, no começo uma cerquinha de madeira, assim que pode o cara ergue muro.

Vila Beira-Rio. Era uma favela, onde está a rua havia mais uma fileira de casas, palafitas em cima do riacho. Foi urbanizada, a periferia mudou pra melhor.

Então a Santa Rita da Z/S de Curitiba se parece em alguns aspectos com o bairro Pirelli, em Marituba, Z/L de Belém.

Com os subúrbios da Paraíba e do Chile há uma semelhança mas não tão exata.

A matéria sobre sobre Santiago (alias toda série sobre o Chile) já está no ar.

Idem as que retratam minhas idas ao Norte e Nordeste Brasileiros.

Jardim Ludovica, Curitiba, Extremidade Sul.

Veja aqui a matéria sobre Manaus, e o portal das séries sobre Belém, João Pessoa e Fortaleza.

……..

De volta a Ctba. na foto abaixo são duas casas que você está vendo ali, e não apenas uma. 

Os sobrados são minúsculos, se fossem um pouco menores pra uma pessoa entrar outra teria que sair antes.

Veja a exata mesma cena no Parolin, bairro em parte elitizado da Zona Central, mas cuja ladeira abriga uma favela. 

Que também está sendo urbanizada, portanto lá também estão a surgir esses sobradinhos da cohab.

Tatuquara: a Zona Sul é assim.

……….

Creche das “Moradias da Ordem”, nome que só existe nos documentos oficiais da prefeitura.

“Jardim da Ordem” é o termo corrente, na verdade.

Na indumentária da galera da rua usa-se a sigla ‘J.D.O.’ .

Jardim Laguna.

Jardim Ludovica: casas típicas do Tatuquara.

Abaixo, a Rótula do Tatuquara, com a bifurcação indicando o caminho pra outros bairros e vilas da Zona Sul.

Clique nas imagens que elas aumentam. Aí poderá ler na 1ª foto que estamos pertinho da BR-476, a “Rodovia do Xisto”.

Tatuquara.

Na outra margem dela já é a Cidade Industrial, que também consta na placa.

A cena do meio é no sentido oposto da mesma via, que onde você poderá conferir que estamos a caminho do Rio Bonito.

O busão (que vemos logo a seguir) terá que virar a direita.

Santa Rita – via Jardim da Ordem. Atualmente o ponto final é no Terminal Tatuquara.

O Rio Bonito fica no vizinho Campo de Santana, e não no Tatuquara.

Só que como o Tatuquara está entre o Terminal do Pinheiro (ponto inicial da linha) e o ponto final, é preciso atravessar a ‘Toca do Tatu’ no trajeto.

Vila Beira-Rio. Antigamente uma favela, agora urbanizada.

Vila Santa Tereza, as margens da BR-476. Do outro lado da estrada é a Vila Vitória Régia, que já fica no vizinho bairro da Cid. Industrial.

Onde veem aquela rua de terra a direita antes tinha outra fileira de casas, palafitas que se espremiam sobre o riacho.

Esses moradores foram retirados e transferidos exatamente pras cohabs fotografadas nessa matéria.

Imagem bem lá no alto, aquelas casas sem acabamento são na vizinha Vila Bela Vista. Também passando por processo de urbanização.

Após a Bela Vista está a Vila Cantinho do Céu, e depois dela a Gralha Azul de um lado da linha do trem e a Terra Santa de outro.

Leia matéria que fiz sobre a história de diversas invasões de Curitiba.

Entre outras eu abordo a Terra Santa, Bela Vista, Beira-Rio e Cantinho do Céu.

Aos tatuquarenses (tanto de casas abastadas quanto outras humildes e remediadas) que homenagearam a Pátria Amada devolvo a bola e os homenageio também.

Colocar a Bandeira Brasileira no ponto mais alto é o que faço, virtualmente logo na capa do sítio, mas na dimensão física por boa parte da América (com uma esticadinha até a África).

De volta a Z/S de Ctba: mais um pouco do Jardim Ludovica, visto ao lado:

Zona Sul, “Cidade da Laje”.Jardim Ludovica Tatuquara Z-S

Algumas das últimas ruas de terra do município de Curitiba.

Fotografei a mesma cena em dois bairros da Zona Norte, Cachoeira e Pilarzinho.

Enquanto é tempo: em poucos anos, você só verá essa cena por fotos.

Curtitiba mudou o zoneamento pra permitir terrenos mais estreitos.

Voltando ao Tatuquara, esses, ao lado e logo abaixo, têm apenas 4 metros de largura.

Antigamente isso era proibido.

Até 1990, a largura mínima pra um empreendimento imobiliário em Curitiba era 10 metros, quando passou a ser permitido 7 metros. Nesse milênio, nova redução, e quase pra metade. Mal entra um carro.

Isso é comum em São Paulo (confira aqui o Butantã, Z/O) e outras metrópoles a décadas, mas aqui é novidade.

Que se espalha, entretanto, com a velocidade do fogo no capim seco.

………..

Bem mais pro alto na página: O Jardim Laguna começou como uma cohab.

Pra onde foram transferidos milhares de moradores da vizinha Terra Santa:

Favela que foi urbanizada e se tornou um bairro normal.

Alheio ao caos a sua volta, um cavalo pasta tranquilamente.

Vila Santa Tereza, logo na entrada do bairro pra quem vem pela BR-476, a “Rodovia do Xisto”.

Qual a razão dessa numeração, “476”? Se você não sabe abra a ligação que eu explico.

Esquerda: Na divisa entre as vilas Evangélica e Monteiro Lobato, casa típica da Zona Sul, sem acabamento, quitinete sobre um comércio.

Obras da prefeitura, em pontos distantes entre si do bairro:

A futura administração regional do Tatuquara (ao lado), e acima uma Cohab e o “Portal do Futuro”.

Atualização: o texto é de 14, como sabem. A adm. regional já está ativa.

E o Terminal de ônibus do Tatuquara foi inaugurado – no terreno mostrado na foto acima. – mas por enquanto (atualizado em 2022) funciona incorretamente.

Uma árvore amarela enfeita uma vila humilde (logo abaixo mais flores que fotografei no Tatuquara).

Ademais, veem pelas imagens (e pelo horário em algumas fotos) que está anoitecendo. Tirei muitas fotos do céu, registrando esse pôr-do-sol.

Curitiba é uma cidade com problemas de segurança:

Mesmo no subúrbio distante, quem pode vai morar em condomínio fechado. Veja a comprovação na imagem a esquerda. Sinal dos tempos.

Adiciono várias imagens aéreas das vilas do Tatuquara se formando:

FLORES DO TATUQUARA (mensagem publicada em 17 de setembro de 2014).

“MAIS UM DIA EM CURITIBA” –

Finalizo com algumas cenas do anoitecer no Tatuquara.

As 2 primeiras, ao lado e a seguir, são do dia 24 de setembro de 2013.

A direita vemos ao fundo as torres Refinaria de petróleo Pres. Vargas (RePar) da Petrobras.

Estou no Tatuquara, não deixei o território da capital do estado nesse dia.

A refinaria, entretanto, se localiza já no vizinho município de Araucária.

A partir da tomada abaixo até o final as fotos foram feitas 1 ano depois.

Também no mês de setembro mas de 2014 (várias estão datadas).

Ao lado vemos a Vila Evengélica/ Tatuquara.

Também emoldurando em 2º plano as torres da mesma refinaria.

Na galeria mais retratos do entardecer de 17/09/14:

Após as torres é C. Santana, o registro desse bairro fica pra outra oportunidade.

E nessa foto ao lado, depois do rio (onde estão aquelas torres de alta tensão) já é Rio Bonito, no vizinho Campo de Santana.

A chegada a fronteira de bairros marca também o limite entre o dia e a noite. O sol vem encerrando mais um ciclo de trabalho.

E eu acompanho-o e também fecho por aqui mais um registro da cidade. Que Deus Ilumine a todos os Filhos.

“Deus proverá”

6 comentários sobre “‘Toca do Tatu’: bem-vindo a Extremidade Sul de Curitiba

  1. luiza disse:

    achei super interessante! tô trabalhando nesse bairro e vim pesquisar um pouco mais sobre ele. adorei o levantamento, as imagens, os comentários.

    Curtir

    • omensageiro77 disse:

      Que bom que gostou. Quando sobrar um tempo ainda irei reformular essa matéria, mantendo a essência mas adicionando novas informações e novas fotos.
      Abraço.

      Curtir

  2. rafael valle disse:

    suas postagens são excelentes. dificil achar registros fotográficos e textuais sobre as periferias fora do eixo Rio Sao Paulo. parabens

    Curtir

    • omensageiro77 disse:

      Pois é irmão, minha abordagem é justamente essa, divergir um pouco da versão mais massificada que é divulgada na grande mídia, e podemos acrescentar, mesmo na mídia alternativa.

      Sou jornalista por formação, mas por uma série de motivos que não cabe aqui entrarmos no mérito não era meu caminho nessa vida trabalhar pros grandes veículos de comunicação.

      Quando a revolução da tecnologia tornou possível a democratização da mídia, esse canal se abriu, e pude então transformar em realidade esse projeto, de divulgar esse outro olhar, como dito acima uma abordagem independente, eu mesmo pauto, escrevo e publico, não dependo de anúncios, então não preciso ceder a pressões econômicas das corporações, tampouco presto atenção aos ditames da ideologias em voga, como a do ‘politicamente correto’ que, se usado com bom senso ajuda a tornar uma sociedade mais justa, se exagerado ao contrário se torna dogmático.

      Assim, ofereço essa abordagem. Moro em Curitiba a 40 anos e conheço cada palmo dessa cidade, e minha paixão é retratá-la, colocar no ar, pra que os leitores julguem o quão apurado – ou não – é meu olhar. Quando viajo, faço a mesma coisas nas cidades que visito, mas aí por motivos óbvios a análise é mais por amostragem, me esforço pra escrever somente aquilo que já decifrei ao menos parcialmente, porém evidente que o olhar forasteiro não conhece com tantos detalhes as sutilezas locais.

      Seja como for, em Curitiba ou nos pontos do Brasil, América Latina e mesmo África que a Grande Vida já me permitiu conhecer, eu faço esse relato, tão apurado quanto posso – evidente que existem falhas em meu trabalho, mas mesmo assim ele é válido, nem que seja pra aquecer a discussão.

      A abordagem é diferente do da grande mídia, não pra entrar em conflito com ela, mas digamos pra ampliar a visão.

      E assim vou continuar. Em 2020 visitei o Rio, Recife e Salvador, e irei colocar aqui nesse espaço o que observar lá. No Rio de Janeiro a viagem foi mais curta e não tive tanto tempo pra ir a periferia – o fiz também, mas não como nas outras viagens. Já no Nordeste percorri a fundo tanto a orla e o Centro mas também a periferia dessas capitais, e publico aqui o que encontrei.

      Recife:

      A “Cidade Sangue-Quente”: Recife, Pernambuco

      Salvador:

      Onde Tudo Começou: Salvador da Bahia

      Rio de Janeiro:

      Essa é a ‘Cara do Brasil’: Rio de Janeiro, Cidade-Maravilhosa

      021: a cidade é maravilhosa, mas . . . . se liga meu irmão!!!

      Grande abraço.

      Curtir

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.