Por Maurílio Mendes, O Mensageiro
Publicado em 28 de julho de 2010
As fotos que forem de minha autoria eu coloco um (*) na legenda, como visto ao lado .
As demais foram puxadas da rede (créditos mantidos sempre que estavam impressos nas fotos).
Ou então enviadas por colegas que participam desse canal de comunicação. Isto posso, comecemos texto.
Continuemos a falar sobre os nomes dos bairros de Curitiba.
Não apenas desses dois vizinhos e muito ricos entre o Centro e a parte ocidental da cidade, mas também outros.
Veja a população e localização dos 75 bairros.
Vizinho ao Centro e bastante ligado a ele, vamos encontrar o bairro que tem a maior renda per capita de Curitiba, o Batel.
A origem do nome vem de palavra ‘Bateau’, barco em francês.
Quem não estudou essa língua ficou sabendo dessa tradução de forma trágica:
Na passagem pro ano de 1989 o ‘Bateau Mouche’ afundou no Rio de Janeiro, matando bastante gente.
Voltando ao bairro da elite curitibana na Zona Central da cidade:
Segundo se diz alguém estava indo a uma festa religiosa, e levava um barco em miniatura.
Que seria jogado em algum rio pra agradecer uma benção divina.
Era uma réplica bem feita, inclusive trazia no casco um nome em francês, “Bateau alguma coisa”.
Sabe-se lá o porque, após tanto esmero na confecção, o devoto deixou cair essa mini-embarcação na rua, onde ela ficou por uns dias.
Os populares passaram então a chamar o local por ‘região do Bateau‘.
É sabido por nós que ‘bateau’ se pronuncia batô.
Mas na época quem viu o barquinho na rua era desprovido desse conhecimento, falando a palavra como a lia.
A seguir simplificou-se a grafia, mantendo-se então o nome do bairro como aportuguesação da palavra francesa que quer dizer ‘barco’:
“A região do Bateau” (pronunciado não em francês, mas como se lê em português) virou “a região do Batel”, e logo simplesmente ‘Batel’.
………..
O vizinho Bigorrilho (na divisa entre as Zonas Oeste e Central) deve seu nome a um puteiro.
Era de propriedade de uma cafetina e prostituta, chamada popularmente de ‘bigorrilha’.
Essa palavra é uma ofensa, quer dizer pessoa incômoda.
E um puteiro é exatamente isso pra maioria das pessoa, algo incômodo, que movimenta energias baixas.
Essa casa de luz vermelha incomodava os moradores do bairro, que por isso apelidaram a rameira de ‘bigorrilha’.
Com o tempo masculinizaram a palavra, ‘a dona Bigorrilha’, cafetina e prostituta, virou ‘o Bigorrilho’, como se ela fosse um homem…
Também na Zona Oeste há um outro bairro em que o homenageado também mudou de sexo de forma póstuma.
O bairro da Augusta começou como colônia Dom Augusto, que era um neto varão de Dom Pedro.
Augusta e Bigorrilho têm em comum o fato que as pessoas que lhes deram origem tiveram seus sexos invertidos, e ambos são na Zona Oeste mas em pontas opostas dela:
O Bigorrilho faz divisa com o Centro, e poderia ser classificado também na Zona Central.
É densamente verticalizado (28 mil habitantes), têm uma das taxas mais altas de moradores por km quadrado.
Por ser de renda muito elevada é importantíssimo polo de empregos, muitos outras milhares de pessoas acorrem ao bairro no horário comercial.
Já a Augusta é na extremidade do município, fazendo divisa com Campo Largo.
Ainda tem a maior parte de sua área formada por propriedades rurais. Vivem na Augusta 6 mil curitibanos.
……
Voltando ao Bigorrilho: alguns insistem em chamar o bairro de Champagnat, denominação que não será utilizada por mim até que se torne oficial.
Já houve um projeto de mudar o nome do bairro, mas não passou na câmara.
Talvez porque ao invés de simplesmente propor a alteração de nome de Bigorrilho pra Champagnat eles ainda queriam redefinir os limites:
Pretendiam engolfar também uma área que pertence ao bairro das Mercês.
Realmente boa parte do que é conhecido por Champagnat está além do Bigorrilho.
A antiga sede da Tuiuti e a Praça 29 de Março, por exemplo, estão de fato nas Mercês.
Então os que defendem a mudança não queriam apenas alterar o nome de um bairro mantendo os limites atuais.
E sim redesenhar o mapa da cidade, alterando as delimitações de 2 bairros, Bigorrilho e Mercês.
Só que isso criou um complicador, que talvez tenha sido determinante pra derrocada da iniciativa.
A prefeitura não se opõe que um bairro troque de nome, se for o desejo de seus moradores.
Tanto que o antigo Capanema se tornou Jardim Botânico em 1992.
Entretanto, a prefeitura veta qualquer iniciativa que vise re-desenhar os limites entre os bairros.
Outras cidades, por outro lado, não têm problemas com isso.
Recentemente (texto de 2010), uma parte do bairro São Cristóvão, no Rio de Janeiro, foi desmembrada.
Passando a se chamar Vasco da Gama, pra homenagear o clube de futebol.
Alegou-se que Flamengo e Botafogo já eram bairros.
Só se esqueceu de mencionar que nesses dois casos foram os bairros que nomearam os clubes, e não o contrário.
Enfim, o fato é que o projeto foi aprovado, e agora existe o bairro Vasco da Gama na Zona Norte do Rio.
Em Porto Alegre-RS, o bairro Mário Quintana foi desmembrado do bairro Protásio Alves pra homenagear o poeta gaúcho.
Ambos os bairros surgiram no mesmo ano, 1998, e foram desmembrados de seus originais.
São Cristóvão e Protásio Alves ainda existem, embora menores.
Foi o que tentaram fazer aqui, desmembrar uma parte do Bigorrilho e das Mercês.
Mas o que é permitido em outras cidade é interdito em Curitiba.
Se a população estivesse de acordo, o Bigorrilho poderia virar Champagnat, mas é isso:
O nome pode mudar, o espaço físico que o bairro ocupa não pode.
Não se pode alterar fronteiras de bairros e nem fundi-los.
Assim o Bigorrilho continua sendo uma homenagem a uma prostituta e não ao padre Marcelino Champagnat, como alguns gostariam.
Eu não defendo e nem me oponho a mudança, mas só a adotarei depois de oficial, como já falei.
O Jardim Botânico é o Jardim Botânico, eu não chamo pelo nome antigo, porque houve plebiscito que determinou a mudança.
No Bigorrilho, e também no vizinho Mossunguê (e partes do Campo Comprido e Cidade Industrial) não houve processo oficial de mudança.
Apenas na cabeça de alguns é que a região é chamada de ‘Champagnat’ e ‘Ecoville’.
Isso pra mim é ficção e sempre será grafado entre aspas.
……..
Já abordamos bem a divisa entre as Zonas Central e Oeste, a região do Batel, Bigorrilho e Mercês.
Indo pra outras partes da cidade e continuando a falar sobre a origem dos nomes de bairros:
No caso da Boa Vista e Vista Alegre, nas Zonas Norte e Oeste, respectivamente, a origem é óbvia e é a mesma.
Situados em lugares altos, os bairros ofereciam excelentes visões panorâmicas do Centro, vistas ‘boas’ e ‘alegres’, na opinião dos que ali estavam.
Na Zona Central, a Água Verde (vizinha do Batel pelo lado oposto ao Bigorrilho) se deve a um rio de mesmo nome.
Que nasce nas proximidades do estádio do Atlético e deságua no Rio Belém, na região da Vila Capanema, no Prado Velho, também Z/C.
………..
O Bom Retiro no começo da Zona Norte (alguns diriam Zona Central) herdou a nomenclatura do hospital psiquiátrico Bom Retiro.
Que pertence a Federação Espírita do Paraná. Antigamente era do lado oposto da via, onde hoje há uma faculdade.
Quando fiz esse texto, em 2010, o Hospital Bom Retiro era na Rua Nilo Peçanha onde esteve por muitas décadas.
No bairro do Bom Retiro, que tem esse nome por causa dele, como estamos falando e é domínio público.
Depois disso, entretanto, ele foi transferido pra outro ponto da Zona Central, no bairro Jardim Botânico, entre a Fiep e o Hospital Erasto Gaertner.
………
O Batel, como é sabido, é o bairro que faz divisa com o Centro a oeste.
Continuemos na Zona Central mas vamos cruzar todo o Centro rumo a ao bairro que o limita a leste, o Alto da XV:
Seu antigo nome era Itupava – na verdade o antigo Itupava pegava o Alto da XV, como dito, mas também um pedacinho dos atuais Centro, e Cristo Rei (talvez também Jd. Botânico).
Ainda há algumas placas antigas (daquelas verdes que eram pregadas diretamente na parede das casas) que trazem esse nome, por isso creio que ele tenha perdurado até 1974.
A esquerda acima vemos exatamente isso: uma placa de rua dos anos 60 – ou no máximo começo dos 70 – com o bairro ‘Itupava’ – atrás do Mercado Municipal, perto também da Rodoviária.
A XV de Novembro e a Itupava são duas ruas paralelas, que começam no Centro ou próximo dele, e cortam a cidade rumo a Leste.
No duelo entre essas duas ruas paralelas, primeiro a Itupava levou a melhor e era ela quem nomeava o bairro.
Depois a XV de Novembro virou o jogo, e tirou da Itupava essa primazia.
Atualização: 1 ano e pouco depois que fiz esse texto, fui pela 1ª vez a Guarapuava, no sul do Paraná (e Sul do Brasil).
Lá também há o bairro Alto da XV, e pelo mesmo motivo, a Rua XV começa no Centrão e vai cortando a cidade, pra isso subindo uma ladeira, configurando ‘o Alto da 15’.
Por sua vez, outras cidades têm bairros chamados ‘Itupava’. Uma delas é Blumenau-SC.
…………..
A prefeitura veta desmembramentos no limite dos bairros por iniciativa popular.
Acontece que há casos em que por sua iniciativa a própria prefeitura muda o mapa da cidade, criando novos bairros tomando terreno de outros mais antigos.
A Cidade Industrial e o Centro Cívico foram caso de bairros que surgiram no território que já era ocupado por outros bairros.
Ressalte-se que foram frutos de políticas públicas oficiais, e não resultado da iniciativa de alguns de seus moradores.
Como o nome indica, são bairros que cumprem funções bem específicas.
A Cidade Industrial é dos anos 70, e o Centro Cívico dos anos 50.
O último desmembramento de Curitiba ocorreu em 1974, na última vez que houve alterações nos traçados dos bairros.
O Capão da Imbuia se separou do Cajuru, virando um bairro a parte.
Isso explica porque o ônibus Cajuru, que sai da praça Carlos Gomes, não passa pelo bairro do Cajuru. Não passa hoje, mas um dia passou.
A perda do Capão da Imbuia foi apenas uma das muitas desterritorializações do Cajuru.
Escrevi mais sobre o Cajuru em particular e a Zona Leste em geral em uma outra mensagem, onde digo porque o hospital do Cajuru está no bairro do Cristo Rei.
VIAGEM NO TEMPO –
Atualização de novembro de 2019, segura a bomba:
Uma agência de viagens no Batel tem na sua fachada os logotipos de 3 cias. aéreas.
Até aqui tudo normal né? A questão, vejam vocês, é que as cias. aéreas são:
Vasp, TransBrasil e Varig. Tá bom pra ti ou quer mais? Filma a esquerda.
Oras, a TransBrasil já faliu em 2001, a Vasp em 05 e a Varig em 07.
E a fachada ainda não foi mudada, está ali até hoje (vide nova atualização abaixo).
Eu vi pessoalmente em agosto de 19. Ficou assim até 2020.
Quando já faziam 19 anos – mais que a maioridade de uma pessoa! – que a referida placa deixou de estar atual.
Afinal, em 2001 encerrou-se as atividades da 1ª das empresas ali mostradas.
E 13 anos depois que a todas elas fecharam as portas. É passado da hora de mudaram pra Tam, Gol e Azul, não acham?
Me lembrei de minha infância, quando eram mesmo Varig, Vasp e TransBrasil quem dominavam os céus do Brasil.
Entretanto…faz tempo! Muito tempo!! O Tempo passa!
As coisas mudam, já dava pra ter redecorado a loja. Acho que deixaram assim por puro charme.
É uma agência de viagens. Só que isso tá mais pra …Viagem no Tempo!
Ou melhor, era. Entre 2020/21 a agência fechou as portas, agora os logos das cias. aéreas do século 20 não estão mais ali. Mas estiveram, por bem mais de uma década sem nenhuma delas operando.
Depois de uma dessas, acho que por hoje podemos encerrar. Que Deus Ilumine a todos.
“Deus proverá”
Interesantissimo relato, tambem sou muito ligado em historia. Gostaria que relatase sobre o Bairro Sitio Cercado, onde moro.
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Obrigado pelo comentário. Já publiquei uma matéria sobre o Sítio Cercado, dá uma olhada:
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Pode me esclarecer uma dúvida,por favor:
Me falaram que o bairro Bigorrilho é também chamado de Presidente Taunay,e que essa seria a denominação oficial…não encontrei nenhum registro sobre isso…tem algum fundamento essa afirmação?
Obrigado,
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Amigo, essa informação não confere. Pres. Taunay é uma rua que cruza o Bigorrilho e o vizinho Batel. Moro em Curitiba a 38 anos, e sou estudioso da cidade. Nunca ouvi uma pessoa sequer se referir ao Bigorrilho como “Pres. Taunay”.
Muita gente, talvez até a maioria, chama o Bigorrilho de “Champagnat”, isso sim. Mas, repito, “Taunay” jamais.
E posso te assegurar que essa não é a denominação oficial do bairro, basta você ver os mapas oficiais do Ippuc – e creio que nunca tenha sido.
Talvez tenha ocorrido o seguinte: um dia alguém apresentou um projeto pra nomear o bairro como “Pres. Taunay”. Isso pode ser. Afinal, o bairro Santa Quitéria, também ali na Zona Oeste, quase se chamou “Carmela Dutra”, pra homenagear a esposa do Presidente Eurico Gaspar Dutra, que nomeia a BR-116 no trecho Rio-São Paulo. No fim não vingou, o bairro ficou Santa Quitéria, e Carmela Dutra virou um conjunto (uma vila) e uma linha de ônibus.
Então pode ser que um dia alguém tenha proposto renomear o Bigorrilho como “Pres. Taunay”. Pode ser, nunca ouvi falar mas não posso negar a possibilidade.
O que é fato é: se houve essa tentativa, foi malograda. O nome oficial do Bigorrilho é esse, alguns o chamam assim, muitos (talvez a maioria) preferem “Champagnat”. Mas “Pres. Taunay” eu garanto que ninguém diz.
A afirmação não procede, pode ter certeza.
Abraços.
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Parabéns por todas as fotos deste teu blog. Valeu também pela aula. Abraços.
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Opa, obrigado pelo comentário e pelo incentivo. Abraços, irmão.
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