Curitiba cresce para o Sul

10 bairros com maior população de Curitiba, os que têm mais de 50 mil habitantes. Todos são ao sul do Centro (nem todos na Zona Sul, evidente).

Por Maurílio Mendes, O Mensageiro

Publicado entre 2010 e 2014

Mais uma vez vamos fazer um apanhado de muitos emeios.

E com isso traçarmos um pouco do passado e presente da Zona Sul, que é maior da cidade, tanto em área quanto população.

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Começo pelo emeio que intitulou essa postagem, publicado em 1º de agosto de 2010.

A Zona Sul tem 37,5% da população de Curitiba.

Sendo os outros 62,5% dividido pelas zonas Oeste, Norte, Central e Leste.

13 bairros mais populosos (acima de 40 mil hab.): nenhum é na Zona Norte. Nessa matéria sobre o Boqueirão há um arquivo mais completo, com a evolução desse mapa dos 10 mais desde o censo de 70 até o de 2010. A fonte é o sítio do Ippuc.

Confira matéria específica, a Abertura dessa Série sobre Curitiba, com dados de todos os bairros e municípios da RM, além de muitos mapas.

Como mostra o mapa acima, os 10 bairros mais populosos de Curitiba ficam ao sul do Centro (em preto, como referência).

A Água Verde é Zona Central e tem padrão econômico médio-alto.

Os demais 9 ficam todos na periferia, formam um arco contíguo, da Zona Oeste (CIC) a Zona Leste (Uberaba e Cajuru).

Nada menos que 6 são integralmente na Zona Sul.


E mais um parcialmente, pois a Cid. Industrial é majoritariamente Z/O, mas sua ponta austral é Z/S.

……….

Vamos ampliar um pouco a escala, e ver quais bairros têm mais de 40 mil habitantes. São 13.

9 ficam na Zona Sul, sendo 7 integralmente e na sua periferia. Como dito acima, 1/3 do CIC é Zona Sul, 2/3 Zona Oeste.

Mapa mostra que pavimentação (se é que havia alguma) cada rua de Curitiba tinha em 2005.

O Portão é na Zona Sul mas ainda próximo a Zona Central, tendo uma boa porção de classe média.

Porém, 7 ficam no subúrbio, e embora todos eles tenham minorias razoáveis de classe média, a maioria é mesmo de classes mais humildes.

Completam o time, pela Z/S: Pinheirinho, Xaxim, Novo Mundo, Boqueirão, Sítio Cercado, Alto Boqueirão e Tatuquara.

Os outros 3 estão na Zona Leste: Cajuru, Uberaba e Bairro Alto.

Vale observar, repetindo, que dos 13 maiores bairros 12 estão sul do Centro.

7 integralmente e 1 parcialmente na Zona Sul, 1 na Zona Central, 1 (parcialmente) na Zona Oeste e 3 na Zona Leste. Nenhum na Zona Norte, e na Zona Oeste só o CIC.

……….

Portão (Zona Sul). Foto de 2000. No 1º plano o terminal e Centro Cultural, “na época ainda ativo”, escrevei originalmente. Explico. Em 2010, quando fiz a matéria, esse espaço estava fechado pra reforma há anos. Atualmente foi re-inaugurado. Inclusive o Cine Guarani, da Fundação Cultural, que fechou as portas em 2005 mas reabriu em 2012. A seguir vê-se a Avenida República Argentina. Hoje há bem mais prédios, pois essa década e meia foi de verticalização intensa. Os edifícios mais altos cercam a via do expresso pelos dois lados, com a Av. República Argentina formando uma espécie de ‘grand canyon‘. Mas além dessa espinha dorsal as construções são bem mais baixas. Na foto a esq. explico o porquê.

Vamos agora falar do mapa a esquerda, logo acima.

Mostra que tipo de revestimento tinham as ruas do município de Curitiba em 2005, se é que havia alguma.

Lembre-se entretanto que houve intenso trabalho nesse sentido nessa última década, e hoje quase não há mais vias de terra batida em Curitiba.

Veja aqui matérias que eu fiz no Pilarzinho, e também na Cachoeira (ambos na Z/N) e igualmente no Tatuquara (Z/S) onde ainda existem algumas. 1 década atrás, entretanto, a coisa era bem diferente:

90% das ruas estão no primeiro caso, enquanto 10% ainda são de terra – chamada pela prefeitura de ‘saibro’.

Vamos simplificar aquela confusa legenda, falando dos tipos mais comuns:

Vermelho: asfalto. Onipresente na região central, na periferia só era encontrado nas avenidas principais.

Algumas poucas vilas do subúrbio tinham o privilégio de serem todas asfaltadas.

Cito por alto alguns exemplos:

Vila Nossa Senhora da Luz (Cidade Industrial, Z/ Sul), Conjunto Mercúrio e Vila Oficinas (ambos Cajuru, Z/ Leste), Colina Verde (Bairro Alto, Z/ Leste), Conjunto Solar e Vila Esperança (Bacacheri e Atuba, respectivamente, os 2 na Z/ Norte).

Centro e Batel - Zona Central

Zona Central: em 1º plano o Centro, onde é possível fazer espigões com altura ilimitada e por isso eles se espalham pra todos os lados. Nos demais bairros, somente na ‘zona estrutural’ do zoneamento, entre as vias rápidas, a rua do expresso de espinha dorsal. A foto mostra: no Batel e Água Verde (ao fundo)  a altura das torres cai bruscamente. Há uma estreita fileira de arranha-céus entre as Avs. Visconde de Guarapuava e Silva Jardim, com a Sete de Setembro de eixo primordial.

Note que o mapa retrata o que ocorria em 2005. De lá pra cá a situação se modificou muito.

A prefeitura agora não usa mais anti-pó, que provou ser ‘o barato que sai caro’. Então, as novas ruas quando recebem pavimentação é direto com asfalto.

Por exemplo, o Bairro Novo (Sítio Cercado, Zona Sul). Agora está asfaltado em sua maior parte, e com asfalto de verdade.

Em 2005 só tinha asfalto nas suas duas vias principais (ruas Tijucas do Sul e são José dos Pinhais). 

Amarelo: anti-pó. Onipresente na periferia, 5 anos atrás e ainda hoje (‘hoje’ é 2010, lembre-se, data da produção desse escrito).

Foi um dos maiores erros de nossa cidade. Nas décadas de 70 e 80, cobriu-se todo o subúrbio com esse pavimento.

Terra Santa Tatuquara Zona Sul1

23 de setembro de 2011: o dia em que eu me tornei profeta. Explico. A Vila Terra Santa, no Tatuquara, não era servida por nenhuma linha de ônibus. A própria legislação da prefeitura diz que ‘todas áreas densamente habitadas do município devem ser atendidas por ônibus, a não mais de 500 metros de caminhada, em média”. A Terra Santa foi criada (numa ocupação irregular) em 1999, e era uma das favelas, sem infra-estrutura. Não é mais. Foi urbanizada (na imagem, as obras de abertura, asfaltamento e regularização das ruas). Mas até 2012 continuava sem ter uma linha de ônibus sequer. Em 23/09/11, como disse acima, denunciei a situação com emeio intitulado: “Descaso a Terra Santa, imoral e ilegal“.

Os técnicos da prefeitura julgaram ter achado a solução ideal, barata e que acabaria com as ruas de terra.

A questão é que, algumas décadas atrás, poucas pessoas nos bairros mais afastados tinham carros. 

E as famílias que possuíam esse que na época era um verdadeiro luxo pras classes trabalhadoras se limitavam a um veículo por residência.

Com o desenrolar da história, hoje até os que moram em favelas tem transporte próprio, como é sabido.

Os bairros de classe média baixa contam com 2 ou mesmo 3 automóveis por família.

Assim, o anti-pó – feito pra suportar apenas tráfego leve – se esmigalhou.

Deixando as ruas que possuem esse ‘benefício’ mais esburacadas do se fossem de terra.

Sei bem do que estou falando pois moro no Boqueirão, na Zona Sul.

Meu bairro e o vizinho Uberaba (já na Zona Leste) estão em estado verdadeiramente calamitoso, situação que se repete em boa parte da cidade.

Tatuquara

Não me limitei a apontar o problema e já dei a solução. Eu mesmo colori esse mapa. Em azul-escuro a BR-116, como referência. Escrevi a época: “Há o ônibus Dalagassa, que sai do Terminal Pinheirinho. Ele só vai até a entrada da vila Terra Santa, que não é servida por linhas de ônibus. Então a Dalagassa deveria ser estendida, entrar umas 7 quadras na vila, o que daria 3 pontos a mais, pra atender essa população. Em amarelo a Vila Terra Santa. Em vermelho parte do trajeto atual da linha Dalagassa, depois que ela entra no Tatuquara. Em azul-claro a extensão que já deveria ter sido feita. Agora não há mais desculpas pra Terra Santa continuar ignorada. Não é mais invasão. A prefeitura regularizou a vila. Só o ônibus ainda não chegou.”

O anti-pó é o ‘novo saibro’, e será preciso asfaltar tudo de novo.

Todo o esforço das décadas de 70 e 80 foi jogado no lixo. A prefeitura vem asfaltando algumas ruas, mas o trabalho vai ser longo.

O que eles julgaram ser a solução na verdade era o problema.

É claro que a prefeitura não podia prever o futuro, e não a culpo por isso. O barato saiu caro, amigos.

Atualização: em 2015 o trabalho de substituir o anti-pó por asfalto avançou.

As vias secundárias do Boqueirão/Uberaba, e boa parte do subúrbio, continuam de anti-pó, e portanto continuam esburacadas.

Ainda assim, as ruas principais, mesmo na periferia, receberam asfalto. Onde passa ônibus com certeza.

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Verde: terra. Na época, os três maiores bolsões sem pavimento eram na Zona Sul. A esquerda do mapa, abaixo está o Rio Bonito, no bairro Campo de Santana.

5 de setembro de 2012: a prefeitura acabou fazendo exatamente o que eu sugeri. Compare esse mapa, que é oficial da Urbs, com o que desenhei um ano antes, a esq.: praticamente iguais (de lá pra cá a linha Dalagassa já passou por outras 2 ampliações, vide mapa abaixo). Certamente o emeio que fiz não chegou a prefeitura, minha lista de contatos é pequena e a mensagem não circulou a ponto de atingir os canais oficiais. Então fizeram essa ampliação da linha Dalagassa, que agora atende a Terra Santa, não porque eu pedi óbvio, mas porque é o mais lógico. E eu, entendendo um pouco de urbanismo e transporte, pude prever antes de acontecer. O emeio foi intitulado: “A Terra Santa agora tem ônibus; só pode ser um milagre”. E acabava assim: “Quer melhor lugar pra se fazer profecias que a Terra Santa, pombas??

Logo acima dele vem a metade ocidental do Tatuquara. De amarelo, com anti-pó, é o Jardim da Ordem, mais antigo.

Suas expansões na época ainda estavam com suas ruas sem qualquer pavimento. Algumas vilas da região que poderia citar são:

Santa Rita, Santa Cecília, Jardim Ludovica, Jardim Paraná, Monteiro Lobato e Vila Evangélica.

Não confundir o Jd. Paraná do Tatuquara com o do Capão Raso (também Z/S), que será citado abaixo.

Mais a direita há uma grande área com as ruas em verde. É o já citado Bairro Novo.

As 3 regiões hoje estão asfaltadas em sua maior parte, e a prefeitura vem desenvolvendo um trabalho intenso pra pavimentar logo o que falta.

Marrom: terra em ocupação irregular. As manchas se concentravam nas Zonas Leste (Cajuru e Uberaba) e Oeste (Cidade Industrial).

Azul claro: paralelepípedos em pedras retangulares. Em 2005 eram poucas calçadas dessa forma e hoje são ainda menos, pois asfalto está sendo posto por cima das pedras.

Azul escuro: ‘paralelepípedos’ em blocos hexagonais ou retangulares de concreto. alto boqueirao Modal praticamente inexistente em Curitiba.

Há uma concentração de 5 ruas juntas, no Alto Boqueirão (Z/S). Como visto a esquerda.

Porém é uma área desabitada, pois está dentro do Parque Nacional do Iguaçu, próximo ao Zoológico.

Não há muitas casas ali, e por ser uma área de preservação ambiental a construção delas é proibida no local. Uma situação curiosa, sabe?

alto boqueirao1

Aqui e acima a esq. a mesma foto em duas escalas: Alto Boqueirão, no meio do Pq. Nacional, ruas em blocos de concreto.

Concretaram com blocos uma região que não é habitada, e por lei não pode sê-la.

Então estão lá, essas 5 ruas pavimentadas, mas não mora ninguém, é no meio de um bosque.

Tirando essa ‘vila fantasma’ no meio da floresta, você conta nos dedos quantas ruas há com blocos de concreto em Curitiba inteira.

Há mais 2 no vizinho Boqueirão, e outras 2 na Zona Leste (Jd. Botânico e Cajuru).

Em Florianópolis, entretanto, a pavimentação com blocos de concreto é o modal padrão, na classe média e subúrbios igualmente.

sao francisco z-c

Não confunda: agora é a Rua Sen. Xavier da Silva – São Francisco, Zona Central. Uma das poucas da cidade em que ainda há paralelepípedo, dessa vez em pedra mesmo.

Já fotografei e comentei tudo isso direto da Ilha (e Continente) da Magia, clique na ligação em vermelho pra conferir.

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Rosa: rua cimentada. Ainda mais raro aqui em Ctba. No México, e ainda mais no Chile, por outro lado, é o modal dominante.

Mas faço a ressalva que depois de 2005 (quando esse mapa foi confeccionado) concretaram algumas vias da cidade. A que eu moro é uma delas.

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Boqueirão Zona Sul z/s flores canal belém rua concreto cimento periferia favela quebrada

Rua ‘Ciclovia’, Boqueirão. Pavimentada em cimento, uma das pouquíssimas da cidade. Bem, aqui é ocupação irregular, não foi a prefeitura quem fez, e sim os próprios moradores por sua conta.

Curitiba cresceu pra sul. Ia fazer apenas um pequeno comentário sobre o mapa da pavimentação e acabei escrevendo bem mais do que imaginava. Mas é fato:

A Zona Sul curitibana está caminhando pra se cumprir aqui o papel da Zona Norte no Rio de Janeiro.

Afastada do núcleo econômico e cultural da cidade, mas sede do núcleo populacional. E se tornando um núcleo cultural alternativo, rivalizando com a cidade ‘oficial’. 

E é por isso que a prefeitura asfaltou nesses últimos 5 anos a maior parte da áreas que estavam em verde nesse mapa, escrevi tudo isso pra chegar nesse ponto.

Terra Santa Tatuquara Zona Sul

Outra tomada das obras de regularização da Terra Santa.

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Aqui se encerra o 1º emeio.

A cidade se expandiu mais pro Sul. Entretanto, note que depois da virada do milênio o crescimento populacional de Curitiba se reduziu drasticamente.

De 2% ao ano nas décadas de 80 e 90 caiu pra metade disso.

Em nova troca de emeios com esse mesmo colega, tocamos nesse ponto e aproveitamos pra destrinchar um pouco mais o desenvolvimento da porção meridional da metrópole.

do Neoville ao Lago Azul: a Saga da Zona Sul prossegue‏

Rua Pedro Gusso

Neoville’, na Cidade Industrial. A direita do ‘clarão’ há um córrego. Cruzando-o, adentramos no Capão Raso.

Publicado em 14 de janeiro de 2014

Esse mesmo rapaz me escreveu falando de dois pontos distintos da Zona Sul de Curitiba:

O loteamento Neoville, que fica no bairro Cidade Industrial e o Parque Lago Azul, localizado entre os bairros Umbará e Ganchinho.

Eis o emeio dele:

“ Seguinte, quero te fazer uma pergunta sobre certa região da cidade.

Estava no Google, na vista aérea, e deparei-me com um clarão entre o Novo Mundo e o CIC (miolo). Fica entre as Ruas Pedro Gusso; José Alcides de Lima; João Rodrigues Pinheiro (segmento da Manoel Valdomiro de Macedo); José Oribes da Costa; e ao lado do Parque Bosque do Trabalhador.

pq. industrial2

Próximas 3: em escala maior as tomadas de satélite da divisa entre CIC e Capão Raso. Destaquei em vermelho a favela do Parque Industrial, que é uma das únicas duas favelas de todo Capão Raso. Abaixo falo mais dela.


Enfim, acho que você conhece o lugar, mas vou mandar uma imagem para ficar mais rápido.

Você sabe porque deste clarão? E o porque este clarão durante tanto tempo na cidade? O que está previsto para ser construído?

Porque ainda não teve invasões? Passa algum busão por lá? Por que está tudo asfaltado? O que acontece na região?

Esse Parque Lago Azul, você já conhece? E quanto ao local de descarte (de pneus) da Prefeitura?”

………pq. industrial1

Abaixo, minha resposta: o clarão que viu no ‘Google’ é o loteamento Neoville, bairro Cidade Industrial, Zona Sul. Veja o sítio deles.

http://www.neoville.com.br/

pq. industrialFica realmente na CIC, e não Novo Mundo, como ‘informam’ erroneamente. Trata-se da mania curitibaníssima de maquiar e “corrigir” a localização dos bairros.

Na própria imagem que mandou está mostrado, é o Córrego do Parque Industrial que divide os dois bairros. Veja: a direita, densamente urbanizado, é o Capão Raso, e a esquerda, o clarão, o Neoville, é CIC.

Lago Azul - Umbara Z-S Curitiba

Aqui e a esq.: bairro do Umbará. Placa no Pq. Lago Azul e na próx. imagem posto de coleta de pneus. Fotos de autoria do colega que me mandou o emeio, quando escrevi essa matéria eu não havia estado ainda nesse parque, só o conhecia pelo ‘Google’ Mapas (posteriormente fui até lá).

Seja como for, o Neoville é um dos maiores loteamentos de Curitiba, tem cerca de 1 milhão de metros quadrados. E é de padrão não-popular.

Ou seja, o maior lançamento imobiliário pra classe média em 50 anos, desde a criação do Jardim Social (Zona Leste) nos anos 60.

O terreno ficou décadas ocioso, até que foi lançado em 2007.

Veja a matéria da Gazeta: http://www.gazetadopovo.com.br/economia/conteudo.phtml?id=1302304

………

Vamos respondendo as perguntas. .

É uma área enorme, e o proprietário (uma família importante aqui de Curitiba) optou por não utilizá-la por décadas.

GE DIGITAL CAMERASempre passava lá e me espantava, aquela fazenda dentro do bairro mais povoado de Curitiba.

Por isso esse clarão, por tanto tempo. Porque os donos quiseram que assim fosse, esperaram a valorização máxima pra só aí fracionar.

O Neoville tem 3 opções: estão sendo construídos conjuntos de sobrados e apartamentos, e também lotes, onde o proprietário é quem decide como erguer sua moradia, por sua conta.

'neoville' - CIC - 2014

‘Neoville’, CIC, 2014: Curitiba cresce menos, a procura por lotes é infinitamente menor que um dia foi. As pessoas preferem comprar casas ou apartamentos prontos. Essa foto resume a situação: 7 anos depois de lançado o ‘Neoville’ ainda tem enormes espaços vagos. A solução foi erguer prédios. Pra isso, sim, há demanda elevada.

No entanto lembre-se, é de padrão elevado, por isso a metragem mínima é 360 m2, muito acima dos 100 m2 que predomina nas bordas da cidade.

Não teve invasões e nem terá, a área é bem vigiada, afinal estão fazendo um loteamento de classe-média.

As linhas de ônibus são: no núcleo do empreendimento, a Pedro Gusso, passam o Bosch e Carbomafra, que ligam os terminais Capão Raso e CIC.

Na parte baixa, nos fundos do Neoville, passa o Interbairros 4, que liga os terminais do Pinheirinho e CIC.

Por fim, está tudo asfaltado pelo que falei, é um empreendimento de alto padrão.

CIC - ao fundo Pq. Industrial, Capao Raso3

‘Neoville’, CIC – ao fundo Parque Industrial, Capão Raso.

……..

Agora, o Neoville representa a mudança de Curitiba. Nossa cidade, e todas as cidades do Centro-Sul Brasileiro no geral, crescem hoje muito menos que no passado.

Por isso o Neoville, 6 anos depois de lançado (o texto é do comecinho de 2014), ainda tem enormes espaços vagos, e o comércio ainda não se instalou por lá.

CIC - ao fundo Pq. Industrial, Capao Raso

Girando a câmera pra esquerda (é modo de falar, as tomadas vieram do ‘Google’ Mapas. Seja como for, repare na mesma moto) vemos melhor a vila do Parque Industrial.

Planejado pra abrigar 20 mil pessoas, por hora conseguiu amealhar 10% dessa cifra, apenas.

Em ciclos anteriores, tudo já estaria tomado, e já se estaria fazendo a expansão do Neoville, talvez nem sequer a primeira expansão.

Atualmente não é mais necessário. Veja a população do município de Curitiba (ou seja, sem região metropolitana) nos censos:

– 1960: 361 mil

– 1970: 624 mil

CIC - ao fundo Pq. Industrial, Capao Raso1

Me mantendo parado no mesmo local da cena acima, apenas aumentando a aproximação: o Parque Industrial é assim.

– 1980: 1,052 milhão

– 1991: 1,313 milhão

– 2000: 1,586 milhão

– 2010: 1,751 milhão

Arredondando os cálculos, você vê que Curitiba cresceu:

– na década de 60: 7,2% ao ano

CIC - ao fundo Pq. Industrial, Capao Raso2

Cena triste: lixo jogado na rua.

– 70: 6,9% ao ano

– 80: 2,4% ao ano

– 90: 2% ao ano

– 2000: 1% ao ano

Evidente que o crescimento elevadíssimo dos anos 60/70 de 7% ao ano não poderia mesmo perdurar, e nos anos 80/90 foi drasticamente reduzido pra perto de 2%/ano.

Ainda assim, desde a virada do milênio houve nova queda, e muito acentuada. Agora, Curitiba cresce somente 1% por ano. 10% por década. Não faz muito tempo, esse número se aproximava do acréscimo populacional anual.

Por isso não há nem de longe a demanda por lotes como um dia houve, e assim o Neoville tem sua ocupação num ritmo bem mais lento que o inicialmente programado. Por isso não são mais lançados loteamentos populares no subúrbio.

…….

buso caio laranja terminal lona pinheirinho Dalagassa Ctba Zona Sul z/s

Terminal Pinheirinho: Dalagassa se prepara pra mais um pega rumo ao Tatuquara.

Curitiba ainda cresce? Sim. Mas agora as pessoas optam por comprar casas e apartamentos prontos.

A família hoje é composta por marido e mulher que trabalham, então eles financiam no banco, por muitas décadas que seja.

Preferem assim a comprar lote vago e ter todo o trabalho de arranjar pedreiro, etc. Nem na periferia há demanda pra loteamentos.

Agora, conjuntos de prédios e casas, esses ainda saem muitos, e logo são ocupados.

O bairro Tatuquara, no Extremo da Zona Sul, personifica com maestria essa mudança, se anda por lá sabe. Nos anos 90 e até metade dos 2000, a cada 6 meses saía um loteamento novo, e logo era ocupado rapidamente.

Demorou pra começar, mas depois da primeira a prefeitura agora faz sucessivas ampliações do trajeto da linha Dalagassa. A 2ª foi poucos meses depois da 1ª, acrescentaram dois pontos a mais. Esse mapa mostra a 3ª extensão do itinerário da Dalagassa, em 2015 (atualmente, após novas ampliação, vai até o Terminal Tatuquara).

Na primeira década do novo milênio (a partir de 2005, mais ou menos), isso cessou. Agora, a prefeitura e construtoras particulares fazem conjuntos, tanto verticais quanto horizontais, e pra isso há procura.

Por outro lado, vender lote vago não tem mais demanda. A cidade parou de se expandir horizontalmente, não mais galga áreas rurais pra torná-las urbanas.

Ainda aumenta, sim. Mas agora se adensa, se verticaliza, um terreno onde havia uma casa se torna conjunto de sobrados ou um predinho.

Ainda derrubam-se bosques, e no Tatuquara muitas árvores estão cedendo lugar a construções. Mas o que surge no lugar é um conjunto, não um loteamento, é o que quis dizer.

A lenta ocupação do Neoville, ainda “um clarão” já seis anos depois de lançado (texto de 14, lembre-se), reflete esse processo, num estrato de classe média.

Tanto que os donos estão optando por fazer mais prédios e sobrados que o inicialmente previsto.

Na mesma Rua Pedro Gusso, pouco antes do ‘Neoville’, há uma invasão no Novo Mundo, ocupada em 2002 – um pouco antes da eleição, como de resto tantas em Curitiba.

Um último detalhe: como já dito muitas vezes, a Cidade Industrial, por ser muito grande, é o único bairro de Curitiba que está em duas regiões, o CIC Sul é Zona Sul, enquanto o CIC Central e CIC Norte são acolhidos pela Zona Oeste.

tatuquara - onibus dalagassa

É que na região a prefeitura fez mais algumas cohabs, que também são atendidas pelo busão Dalagassa.

Isso vocês já sabem. Coloquei de novo pra gente fazer o ‘gps’ do Neoville. Nele, e no vizinho Campo Alegre, ainda é Zona Sul.

Só que ali pertinho, no começo da Av. das Indústrias (a principal do Neoville, no mapa nomeada Fernando de Souza Costa) começa a Zona Oeste.

…….

Agora o Parque Lago Azul, que fica entre os bairros Umbará e Ganchinho, também na Zona Sul mas bastante distante da Cidade Industrial.

No mesmo emeio de 5 de setembro de 2012 eu comentei de outra extensão de itinerário ocorrida no Extremo Sul da cidade. A linha Futurama/Sítio Cercado foi ampliada e passou a ter trajeto circular pra atender a região da Vila Guilherme e imediações, no Umbará e Ganchinho (não muito longe do Lago Azul que está sendo descrito no texto ao lado). Trata-se de um loteamento de periferia – mas não uma invasão portanto – que teve sua primeira etapa iniciada por volta de 2003 e sua expansão, a Vila Guilherme 2, é de 2006 ou 07, mais ou menos. E até 2012, como a Terra Santa, não tinha nenhuma linha de ônibus a servi-la. Enfim, com atraso, a prefeitura olhou pras bordas da Zona Sul, que são distantes do Centro mas também fazem parte de Curitiba.

As margens do Rio Iguaçu foram intensamente exploradas pra extração de barro e areia, matéria-prima pra construção obviamente, e por isso sofreram danos ambientais.

No local, que pega a periferia das Zonas Sul e Leste de Curitiba, formaram-se as cavas:

Resultantes dos buracos deixados pelas máquinas que retiraram dali a cobertura mineral original.

Com as chuvas e transbordamentos do rio, as cavas encheram-se permanentemente e tornaram-se lagos artificiais.

Onde a população mais humilde das muitas vilas populares da região banha-se nos dias de intenso calor.

Por isso, as cavas são chamadas de “a Praia da Zona Sul”, posto que essa é o subúrbio de classe trabalhadora.

Segundo esse conceito, quem mora em outras regiões, mais abastadas, desce a serra pra curtir o mar, enquanto a Zona Sul tem que se virar ali nas imediações mesmo.

Claro, tudo isso era antes, quando um casal de pedreiro e diarista ganhava apenas pro arroz-com-feijão.

Hoje a classe trabalhadora viaja até de avião, então é claro que eles hoje também alugam casas no litoral e vão banhar-se no Atlântico.

Ainda assim, as cavas continuam a ser usadas. Apenas agora elas são uma opção a mais, e não a única opção.

Seja como for, a “Praia da Zona Sul (e da Zona Leste)” ainda recebe banhistas.

Na linguagem poética da prefeitura, a “praia dos piás”. Uma região que teve seu eco-sistema bastante modificado.

O Bairro Novo também tem seu ‘Grand Cannyon de Prédios‘. Só que aqui são da cohab, de altura mais baixa.

A construção desse parque Lago Azul, uma parceria público-privada, é uma tentativa de compensar a várzea do Rio Iguaçu pelo dano que lhe foi causado pela atividade extrativa mineral.

Pegaram uma parte do terreno de uma olaria e fizeram benfeitorias, incluindo o replantio de alguma mata nativa.

Uma boa iniciativa, sem dúvidas, embora “eu te disse que não estive lá pessoalmente”, foi  o que escrevi em 2014.

Em 2018, entretanto, fui ao Parque Lago Azul. E constatei pessoalmente, ficou muito bom, uma área de lazer importante pros moradores do Extremo Sul de Curitiba.

Mesma região, agora a nível do solo.

Pra fechar, não tenho informações sobre esse posto de coleta de pneus. Estou sabendo disso agora, através de você.

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Já que falamos do Bairro Novo, emendo outro emeio.

da V. Parolin a V. N. S. da Luz, eis a Ferrovila; e o Bairro Novo não é bairro, malgrado o nome

Bairro Novo, uma cohab de 1992, está em verde-claro, no Sítio Cercado – repare as divisões em ‘A’, ‘B’, e ‘C’.; e a Ferrovila, ocupação ocorrida em 7 de setembro de 1991. A parte que permaneceu e foi urbanizada está em vermelho. Em azul um trecho invadido e depois removido, e em laranja as vilas que ela se uniu.

Publicado em 10 de outubro de 2013

Sigo a reprodução de minha troca de correspondência com esse colega, que igualmente é estudioso da cidade.

Vamos falar um pouco de da história de dois pedaços da Zona Sul de Curitiba:

– O Bairro Novo que fica no Sítio Cercado;

– E a Ferrovila, a vila mais comprida da cidade, que corta toda a Zona Sul ladeando inclusive trechos das Zonas Oeste e Central.

Exatamente o enorme tamanho da Ferrovila gerou o debate, pela dúvida de seus limites exatos.

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Esse camarada que também pesquisa o tema disse que esteve no Córrego da Ferrovila, que margeia uma vila de mesmo nome na Cidade Industrial, Zona Sul.

Por conta disso, ele me escreveu o que se segue (os ênfases são meus):

Eu te mandei aquele texto sobre o Córrego da Ferrovila. Então, um colega respondeu dizendo: “Nossa não sabia que a Ferrovila era lá. Eu pensava que era em outro lugar”

Mapa russo do ‘Yandex’ ainda mostra Curitiba como se estivesse ativa a linha férrea que originou a Ferrovila – está ‘um pouco’ atrasado, essa ferrovia foi desativada no fim dos anos 80. Seja como for, aqui podem conferir o trajeto dela, onde surgiu a Ferrovila. Captei a tomada em julho de 18, note a temperatura de 5º, Curitiba estava tendo um inverno gelado – como sempre, alias.

Aí me deparei que eu também não sei exatamente de onde e até onde vai a tal Ferrovila.

Será que você poderia fazer um mapinha e me mostrar começo e fim do que se pode considerar a Ferrovila?

Outra coisa: Por que chamam o tal Bairro Novo assim sendo que ele fica no bairro Sítio Cercado? E por que de Bairro Novo A, B, C…, o alfabeto inteiro? ”

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Abaixo minha resposta. Então cara, onde você falou, nesse local da CIC (Zona Sul) é de fato a Ferrovila.

E no “outro lugar” que seu amigo imaginou também. É que ele certamente não sabe desse detalhe:

Campo de Santana Zona Sul

1º de maio de 2013. Em outro emeio, comentamos mais uma extensão de itinerário de um alimentador da Zona Sul. Escrevi: Linha Rurbana, Campo de Santana. Mais um ponto acrescentado, atendendo mais gente. Como é notório, “Rurbana” quer dizer “Rural + Urbana”. Não é brincadeira, havia (não sei se ainda há) ali uma comunidade religiosa chamada Rurbana, e essa é a origem do nome.

A Ferrovila é a vila mais comprida de Curitiba. Vai do Parolin (Zona Central), perto da Av. Marechal Floriano, até a CIC (Zona Sul), depois do terminal de mesmo nome, passando pelos bairros Vila Guaíra (Zona Central), Portão (Zona Sul) e Fazendinha (Zona Oeste).

Na verdade ela justamente divide a Zona Sul primeiro da Zona Central e depois da Zona Oeste. 

É o seguinte: até o fim dos anos 80 havia ali uma linha férrea, por isso o nome. 

Passe ali perto do terminal do Portão, verá ainda alguns trilhos remanescentes nos cruzamentos.

Alias, um trecho da rua que é o endereço da Ferrovila ainda é “Estrada de Ferro Curitiba-Araucária”, não passa trem ali há tempos mas o nome ficou.

Essa estrada de ferro saía da Rodoferrovária, ia pela João Negrão (ao lado do Teatro Paiol mantiveram de recordação uma ponte ferroviária sobre o Rio Água Verde) e após cruzar a Marechal embicava a oeste.

Quando retiraram a linha férrea, a prefeitura almejava fazer conjuntos habitacionais no local, em convênio com grandes corporações, que financiariam os apartamentos a seu quadro funcional. 

campo de santana - vila rurbana

Entretanto, longe vão os dias que o Campo de Santana, na Extremidade da Zona Sul, tinha algo de rural. A prefeitura vem fazendo ali uma enorme Cohab, vários conjuntos de prédios, mil apartamentos no total. Justamente por isso a linha de ônibus foi ampliada, pra atender esse público-alvo.

Uma das escolhidas pra parceria era o então existente Bamerindus, que chegou a ser o 3º banco privado do Brasil e que tinha sede aqui em Curitiba, como sabe.

E de fato alguns prédios foram erguidos, um desses conjuntos dá pra ver da Marechal:

Aqueles pombais (prédios baixos, sem elevador) na V. Hauer logo antes do viaduto sobre a Linha Verde (antiga BR-116).

Na Vila Guaíra, pouco a frente na antiga Ferrovila, há outro trecho com prédios.

Porém, no feriadão de 7 de setembro de 1991, promoveram uma das maiores invasões urbanas da história de Curitiba: 

Justamente a Ferrovila, em todo o terreno vago antes ocupado pela ferrovia que ainda não tinha prédios, do Parolin ao CIC.

Vila do Papelao, Capao Raso Z-Sul

26 de janeiro de 2014. Ainda esse mesmo colega leu reportagem sobre uma tal de ‘Favela do Papelão’, no Capão Raso. Que ele “nunca ouviu falar”. Perguntou se eu conheço esse lugar. Sim, eu conheço.

O trecho em branco na Guaíra é justamente onde não foi tomado, porque ali já haviam prédios.

……….

Pois a Ferrovila com seu enorme trajeto (é fina mas muito comprida) fundiu-se com várias favelas – em graus variados de urbanização – que há em seu caminho.

Ampliando-as e tornando tudo ainda mais complicado. Em vermelho no mapa, a Ferrovila, e em laranja as demais vilas que ela uniu e ampliou.

Vila do Papelao, Capao Raso Z-Sul1

Vila (ou Favela) do Papelão. Na mídia as vezes sai como ‘Xaxim‘. Mas como ela está no lado ocidental da a antiga BR-116 já pertence ao Capão Raso. Agora a via foi renomeada ‘Linha Verde’, como sabem. Tem mais: o nome oficial dessa vila é Jardim Paraná. Vila (ou ‘Favela’) do Papelão é só pros íntimos, praqueles que conhecem a Z/S como sua própria casa.

Lembre-se, estou aqui falando do mapa da Ferrovila, bem pra cima na matéria, e não das fotos ao lado, que têm sua própria legenda.

De volta a descrever a Ferrovila e imediações. Hoje essas vilas foram urbanizadas, e melhoraram muito. Mas em 1991 não era assim.

– Ela começa ampliando e fundindo-se com a Vila Parolin, que fica no bairro de mesmo nome (óbvio) e também no vizinho Vila Guaíra, na Zona Central.

A seguir a Ferrovila entra no Portão, foi a primeira favela do bairro.

Conversei com pessoas que ali moravam quando a Ferrovila surgiu, ela mudou demais o Portão, que até então era homogeneamente de classe média. A convivência entre diferentes setores da população nem sempre é pacífica, como é sabido, especialmente quando surge uma invasão num bairro de padrão mais elevado.

Em 2007 em nova onda de invasões surgiram mais 3 favelas na divisa do Portão e Santa Quitéria, o chamado ‘Complexo da Portelinha’, 3 vilas gêmeas que se fundiram a uma favela mais antiga que havia ali. Porém a Portelinha, de 2007, é longe da Ferrovila. Voltemos a discorrer o trajeto dessa última: 

– No Portão ela ia até a República Argentina e a Avenida Presidente Kennedy. Onde hoje está o centro comercial (“shopping”, pra quem prefere em inglês) ‘Paladium’ era parte da invasão. Nunca esquecerei o dia, em 1994, que passei nessa esquina e vi a Ferrovila, eu não sabia que que no coração do Portão havia uma favela.

Vila do Papelao, Capao Raso Z-Sul2

Próximas 3: vamos vendo algumas tomadas da Vila do Papelão (via ‘Google Mapas’) e enquanto isso vou contando a história dela. Vi essa vila nascer, nos anos 90, e ainda me lembro quando, antes disso, aquele terreno era vago.

Então, essa quadra acabou sendo o único trecho até hoje removido da Ferrovila, todos os demais permaneceram. Está em azul no desenho.

– Ainda no Portão mas já do lado ocidental da avenida do expresso, a Ferrovila retoma, e na divisa com o Novo Mundo funde-se e amplia outra grande antiga favela, a Vila Uberlândia. 

Cada uma é num bairro, mas a fronteira é só teórica, na prática Ferrovila e Uberlândia são a mesma vila nesse trecho.

Quando a Ferrovila entra na Fazendinha, funde-se do outro lado da divisa (no Novo Mundo) com mais uma antiga favela, a Vila Maria, pertencente mas já um pouco separada do “Complexo” da Uberlândia.

– Aí a Ferrovila segue seu rumo a oeste, passando pelo bairro da Fazendinha, e depois Cidade Industrial, paralela a Rua João Bettega. 

Em seu último trecho, ela ainda funde-se e amplia a Vila Nossa Senhora da Luz, justamente o trecho que esteve esse colega.

A Nossa Senhora da Luz não é uma invasão, nunca foi. Exatamente ao contrário, é uma cohab, a 1ª cohab de Curitiba, feita justamente pra remover diversas favelas que então haviam na cidade.

Ainda assim a N.S.L. é uma vila de subúrbio, as casas têm escritura, mas é uma região de periferia, com tudo que isso acarreta.

Amigos, já disse muitas vezes e repito: eu gosto da periferia. Não falo com desprezo, exatamente ao contrário. “Moro numa invasão da Zona Sul“, escrevi quando fiz o texto. Atualizando em 2020, eu me mudei do Canal Belém em 2017.

Então temos que pôr o verbo no passado: eu morei 15 anos no Canal Belém, uma invasão do Boqueirão. Morei ali porque eu quis morar, porque eu gosto de periferia. Conheço milhares sobre milhares de favelas e subúrbios, pelos 4 quadrantes da América – e agora até da África.

Vila do Papelao, Capao Raso Z-Sul3

No começo era maior, na época da invasão havia mais uma fileira de casas, chegava até a pista de rolamento da BR mesmo, essas moradias foram retiradas mais ou menos 10 anos atrás (no meio da década de 2000), ficou o pessoal da baixada, do vale do rio.

Leia minha minhas incursões nas favelas e periferias de  Argentina, Colômbia, México, Paraguai, Chile, Rep. Dominicana.

Agora no Brasil: Belo Horizonte-MG, Santos-SP, Florianópolis-SC, João Pessoa-PB, Belém-PA, Fortaleza-CE.

Bem como aqui em Curitiba: Rio Branco do Sul, Colombo e Cachoeira na Zona Norte, Caximba, Tatuquara e Bairro Novo na Zona Sul, São Miguel e Augusta (ambas na divisa com a Cidade Industrial) na Zona Oeste, entre outras andanças.

Quando viajo, não vou a museus e muito menos aos centros de compras (‘shoppings’), nem faço os programas que a classe média adora. Ao contrário, vou de transporte coletivo ao subúrbio porque amo o subúrbio, digo mais uma vez.

Ainda assim, as coisas são o que são. Eu não mudo o termo pra ‘comunidade’ tentando tapar o sol com a peneira grossa.

Vila do Papelao, Capao Raso Z-Sul4

Vila do Papelão. Essa e a do Parque Industrial, mostrada acima, são as duas únicas favelas de todo Capão Raso. Curioso isso não? Um bairro de periferia, mas que escapou de ter invasões em larga escala. Tem o mesmo número de favelas que o Portão, que é bem mais central e de classe média-alta. Bem, todos os seus vizinhos têm muito, mas muito mais invasões que C. Raso: Novo Mundo (a norte), Xaxim (a leste) e Pinheirinho (a sul). Leve-se em conta que o Novo Mundo é mais próximo do Centro, e mesmo assim mais degradado nesse sentido. Se você pegar o bairro que limita então o C. Raso a oeste é um desbronco de favelas, mais de 50, pois trata-se da Cidade Industrial de Curitiba.

Isto posto, retomando. A Vila Nossa Senhora da Luz nunca foi uma favela. Mas é uma vila de periferia, sem dúvidas. E foi ali que a Ferrovila foi desaguar, após principiar no Parolin.

Taí cara, serpenteando por toda a Zona Sul e ainda pegando trechinhos das Zonas Central e Oeste, eis a Ferrovila.

Agora urbanizada, não mais favela, mas ainda nossa vila mais comprida.

………….

O Bairro Novo foi criado em 1992 (um ano após a Ferrovila portanto).

Ele é uma vila, uma cohab. parte do Sítio Cercado. Pegaram uma enorme fazenda, transferiram a posse dela ao poder público municipal e dividiram em cerca de 10 mil lotes.

Por ser tão grande, é quase como se um novo bairro tivesse surgido, daí ser chamado assim.

Ainda assim, esse é o nome “comercial”, de guerra, e não alterou a condição jurídica. Permaneceu como território sítio-cercadense, não houve desmembramento.

Assim como as Vilas Olaria, Aliança e Califórnia pertencem ao bairro da Santa Cândida (Zona Norte). Assim como as Vilas Trindade, Autódromo, São Domingos, Acrópole, Centenário, Oficinas pertencem ao bairro do Cajuru (Zona Leste).

São alguns exemplos entre muitos. Igualmente o Bairro Novo, apesar da denominação ‘bairro’, é uma vila que pertence ao bairro Sítio Cercado.

Agora vamos ver 2 tomadas  do Tatuquara: via principal do Jardim da Ordem.

Como foi uma área enorme que surgiu ao mesmo tempo, a princípio as ruas não tinham nome.

O endereçamento era “Quadra 10, lote 41”. Só que apenas isso não dava muitas referências, o lugar era bem grande e estava surgindo muito rápido onde antes era um campo.

Você leu livros sobre a construção de Brasília-DF ou então sobre o Velho Oeste Estadunidense?

Mesma coisa. Assim, toda essa enorme Cohab foi dividida no meio, Bairro Novo ‘A’ a direita e ‘B’ a esquerda – no mapa. Você indo ‘por terra’, é o contrário, o ‘B’ a direita e ‘A’ a esquerda.

Aqui a rótula: após sua 3ª ampliação, o ônibus Dalagassa agora passa por aqui.

E então houve nova sub-divisão, pois só ‘A’ e ‘B’ ainda não ajudava tanto.

Todo o Bairro Novo foi então seccionado em “Áreas” numeradas.

…………

Antes de nomearem as ruas, e mesmo após esse gesto formal, até ele ‘pegar’ de vez no Consciente Coletivo, as linhas “Bairro Novo” ‘A’ e ‘B’ tinham seu itinerário escrito assim na plaquinha:

Terminal Sítio Cercado

Daqui até o final: Bairro Novo. Essa e a da esquerda são panorâmicas pois foram feitas no vizinho Jardim Maringá, Xaxim.

Rua São José dos Pinhais

Áreas 1, 2, 4, 6, 7 e 11 (um deles); ou

Áreas 3, 5, 8, 9 e 10 (no outro)

Esses não são os números exatos, estou exemplificando de cabeça e não consultando um documento da época.

Aí, na segunda metade dos anos 90, o nome das ruas foi se cristalizando na mente das pessoas.

De formas que essa divisão numérica – mais uma característica que aproximava o Bairro Novo de Brasília, alias – foi abandonada.

# "Bichos Exóticos, Cidade da Laje, Z/Sul"Ainda assim, tecnicamente ainda existe nos mapas da prefeitura.

O Bairro Novo ainda é sub-dividido no papel entre conjuntos numerados.

Por exemplo “Moradias Sítio Cercado 5”, “ Moradias Sítio Cercado 10”.

De vez em quando os manos da quebrada tem acesso a um mapa com esse detalhe.

E passam a pichar nos muros “Sítio 10”, demarcando território. Já presenciei esse detalhe várias vezes.

O Bairro Novo ‘C’ veio depois.

As linhas Bairro Novo ‘A’ e ‘B’ foram criadas assim que o loteamento – e consequentemente o Terminal do ônibus do Sítio Cercado, que veio pra atendê-lo – surgiu, em 1992.

Muitas casas no mesmo quintal.

Já a linha Bairro Novo ‘C’ é de 2000, e portanto sempre teve seu itinerário escrito com ruas nomeadas, sem os números ‘a la’ Brasília.

Como já dito acima, se em 2005 o Bairro Novo só tinha revestimento nas suas ruas principais, hoje ele está inteiro asfaltado, e bastante adensado.

É a ‘Cidade da Laje’, a ‘Grande Planície Curitibana’.

…………

Taí pessoal.

Sem espaço do lado? Enche laje, sobe p/ cima.

Do ‘Neoville’ a Ferrovila, do Bairro Novo a Terra Santa, da Vila do Papelão a Rurbana.

Definitivamente prossegue a saga da Zona Sul.

………

Que Deus Pai-Mãe Ilumine a toda humanidade.

Esteja sempre em Paz.

“Deus proverá”

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