“Expresso do Ocidente”: Caiuá e imediações (CIC, São Miguel e Augusta, Zona Oeste)

Terminal do Caiuá, Cidade Industrial, Zona Oeste.

Por Maurílio Mendes, O Mensageiro

Publicado em 10 de junho de 2019

Desde 2015 (as 1ªs sementes em 2012) a Zona Oeste de Curitiba vem passando por grande onda de invasões.

É uma situação explosiva. Vocês devem ter visto na mídia, em dezembro de 2018 houve um incêndio criminoso numa favela da região.

Os bairros São Miguel (foto) e o vizinho Augusta ainda têm uma parte rural.

Em meio a um confronto com a PM, começou o fogo que destruiu cerca de 300 casas (felizmente sem vítimas fatais).

Localizada exatamente nessa região que vamos abordar hoje:

A parte que fica ‘do outro lado’ do Contorno Sul (BR-376), nos bairros Cidade Industrial, São Miguel e Augusta.

Mesmo sem essas explosões de ‘Fogo & Fúria’, a situação já é insalubre e perigosa por si mesmo:

No entanto grande onda de invasões modifica a paisagem (15). As fotos com o ‘(15)’ são de julho de 2015, logo após o surgimento da vila.

A favela – o complexo de favelas na verdade, pois são várias que se juntaram – fica nas imediações de um aterro sanitário.

Observe a imagem abaixo a direita. As casas no sopé do lixão.

O local recebe cerca de 100 toneladas de resíduos diariamente.

Grande concentração de urubus sobrevoa a vila permanentemente, e o odor é o característico.

Centenas de famílias morando numa área contaminada pelo lixão – abaixo em escala maior (19). As tomadas que tiverem o ‘(19)’ são de maio de 2019, logo após o 4º aniversário das vilas.

Além disso, não há serviços regulares de luz e água, obrigando a população a se virar com ‘gatos‘ – o que gera risco de choques elétricos.

É a mesma situação que se verifica na Caximba, no extremo da Zona Sul da cidade.

As duas maiores favelas de Curitiba hoje ainda não-urbanizadas são justamente os complexos (em Minas Gerais se fala ‘aglomerados’) da Caximba e do São Miguel.

………….…

Já voltamos ao ponto acima. Antes, falemos um pouco do contexto.

Existe uma rodovia urbana que é o Contorno de Curitiba (o que em São Paulo é chamado ‘Rodo-Anel’, e na Cidade do México o ‘Periférico’).

Dividida em Contorno Sul, Contorno Norte e Contorno Leste. A volta ainda não está completa.

Falta um trecho do Contorno Norte no município de Colombo pra circundar totalmente a Grande Curitiba.

Não existe portanto o ‘Contorno Oeste’. De qualquer forma, o Contorno Sul é o trecho urbano da BR-376 (estrada que vai da divisa PR/SC próxima a Joinville-SC até o Mato Grosso do Sul).

Aqui e a esquerda: incêndio criminoso na favela no bairro São Miguel (na reportagem de TV disseram ‘Cidade Industrial’ porque o São Miguel é pouco conhecido, quase uma ‘Cidade Oculta’ na Zona Oeste).

Ou seja a 376 é a famosa ‘Rodovia do Café’, que corta o Paraná de Sudeste a Noroeste, ligando a Capital ao Norte do Estado.

Nosso foco é seu trecho urbano, dentro do município de Curitiba.

Onde a rodovia se chama ‘Contorno Sul, repetindo mais uma vez,

Ele quem corta a Zona Oeste da cidade, que nesse trecho corresponde ao bairro Cidade Industrial.

Há poucas vilas a oeste do Contorno. Boa parte das terras da região ainda não foram urbanizadas, e abrigam chácaras e pequenos sítios.

Foi em dezembro de 2018, perto de 300 casas foram destruídas (essa imagem é baixada da rede, todas as demais de minha autoria)

Entretanto existem, claro, porções industriais e residenciais. Pra servir a região, em 1999 foi inaugurado o Terminal do Caiuá. Esse é o menor e mais novo terminal do município de Curitiba.

(Escrevi esse texto em 19, quando acrescentei: “Por enquanto, já que o Terminal do Tatuquara, na Zona Sul, será inaugurado em 2020″.

Bem, o Tatuquara só passou a operar em maio de 2021. E passou a operar de forma errada, não tem alimentadores próprios nem linhas troncais. Resultando que está bastante sub-utilizado, já que não agregou novas opções de integração.)

Da Zona Sul nos ocupamos em outras oportunidades. Eu falava do Terminal do Caiuá, CIC, Zona Oeste. Ao redor desse terminal há o Conjunto Caiuá, que o nomeia.

Próximas 6: ‘Complexo’ do S. Miguel em 2019.

O Caiuá é uma grande série de prédios sem elevador (‘pombais’). Foram construídos no fim do regime militar, entre o fim da década de 70 e começo da de 80.

Ao norte do Caiuá há outras vilas e conjuntos, como por exemplo Vera Cruz.

Seguindo chegamos ao bairro da Augusta, sobre o qual já fiz matéria específica.

Na divisa entre o CIC e Augusta surgiu em 2003 uma invasão.

A vila a princípio recebeu o nome de ‘Colina Verde’ (não confundir com a região servida pelo ônibus que sai do Terminal do Cabral, na Zona Norte).

Além disso, há ali algumas vilas antigas, simples, mas que nunca foram invasões, e sim loteamentos populares.

Já nesse milênio surgiram nas imediações várias cohabs (tanto de casas quanto de apartamentos) e mais um loteamento popular.

Uma das cohabs é a Moradias Aquarela, e o loteamento particular é as Moradias Passaúna.

Além de um grande fórum de Justiça. Por outro lado, o frigorífico que há décadas funcionava na região deixou de existir.

Por isso a linha de ônibus que atende a divisa entre Augusta e CIC em 2016 mudou de nome:

Próximas 3: grande quantia de urubus sobrevoa permanentemente a vila.

Deixou de ser Fazendinha/Caiuá/Frigorífico pra virar Fazendinha/Caiuá/Fórum.

Seguindo um pouco mais pra frente fica o bairro da Riviera.

O menor de Curitiba em termos de população, no Censo de 2010 a Riviera tinha somente cerca de 250 moradores

Voltando ao bairro da Augusta, lá fica o Parque Passaúna (já na divisa com o subúrbio metropolitano de Campo Largo).

Urubus no céu e ‘gatos’ nos postes.

Onde podemos apreciar o pôr-do-Sol mais bonito de Curitiba.

Por toda região, ao redor do parque e pelo bairro como um todo, como dito, ao lado das partes urbanas há muitos bosques e pequenas propriedades rurais.

………

Voltando ao Caiuá, seguindo agora pro outro lado, pro sul. Ainda no CIC há diversas vilas:

Como Diadema, Marisa e a seguir a região das Vilas Conquista, Sabará e imediações.

Nas placas do aterro sanitário mantras inspiradores como Unidades de Valorização ‘Sustentável’ e ‘Ambiental’ (dir.). Nos céus as aves negras e no solo as precárias casas desmentem esse sonho.

A Conquista e Sabará começou com algumas invasões.

Algumas delas muito antigas, das décadas de 70, 80 e 90.

Há muitas vilas no ‘Complexo’, algumas com nomes curiosos como ‘Morro do Juramento’.

Nos anos 80 e 90 a região era conhecida como ‘Vila Conquista‘.

Inclusive o alimentador que atendia o local se chamava ‘Jardim da Conquista’.

Mais recentemente, adotou-se o nome de Vila Sabará, inclusive pra linha de ônibus.

As casas se espraiam entre os bairros da Cidade Industrial e o vizinho São Miguel.

Essa parte mais antiga foi urbanizada, os moradores em área de risco foram transferidos pra cohabs.

Vamos ver agora algumas cenas da região, mas fora da favela. Aqui o Pq. dos Tropeiros.

Uma grande favela quase as margens da represa do Passaúna, no São Miguel, foi removida.

Surgiram várias cohabs, muitas de casas pra reassentamento de favelas.

Uma das cohabs que foram criadas chama-se Moradias Corbélia.

Que igualmente fica no bairro São Miguel.

E por toda a região do Diadema e Marisa a prefeitura ergueu cohabs de prédios.

Como no bairro da Augusta, no São Miguel e no CIC perto dele ainda há diversas chácaras, ao lado de muitos barracões industriais.

Assim as coisas iam acontecendo do ‘outro lado do Contorno’.

Com uma pequena invasão na divisa entre Augusta e CIC, datada de 2003, como dito.

Ligeirinho no terminal (foto de 2016). Embora o Caiuá seja bem dentro do CIC, até recentemente a linha venha erroneamente como ‘Fazendinha’. Agora corrigiram, se chama ‘Caiuá/Cachoeira‘ (a outra ponta da linha é em Almirante Tamandaré, na região metropolitana).

Todavia no geral até a virada pra década de 10 a região crescia ordenadamente:

Surgiam muitas cohabs, tanto de casas quanto de prédios baixos, como acabo de dizer.

Até que em 2012 veio uma invasão atrás das Moradias Corbélia – chamada ‘Nova Primavera’.

Surgiu em ano eleitoral, como é uma longa tradição em Curitiba.

Mais 3 anos se passaram. Chegamos a 2015 portanto.

Como é domínio público, então se desenrolaram os acontecimentos-chave que moldaram a situação como ela está hoje:

Próximas 3: Moradias Corbélia, cohab que a prefeitura fez no São Miguel. Aqui um comércio com o nome da vila.

UMA “NOVIDADE QUENTE”: A ‘FAVELA DO LIXÃO’ VOLTOU –

No primeiro semestre correu grande onda de invasões, com 3 ocupações-gêmeas em sequência.

Uma delas é a Vila 29 de Março, foi no aniversário da cidade, em 29 de março de 2015, batizada com a data que ocorreu

Outra delas foi menos de um mês depois, no dia 21 de abril, chamada então de Vila Tiradentes.

E a 3ª ocupação não sei a data exata, mas foi próxima das outras 2.

Estive no local em julho de 15, e agora novamente em maio de 19.

Digo, várias outras vezes também, mas nessas duas ocasiões munido de máquina pra fotografar.

E nesses últimos 4 anos (escrevo em 19, lembre-se) elas aumentaram consideravelmente.

Se fundindo entre si e com a de 2012 num único ‘complexo’ de vilas.

Quando a invasão surgiu, as vilas eram esparsas, havia área verde entre elas.

‘CIC Doido’, diz a pichação – ali é São Miguel, repito, mas esse bairro é pouco conhecido.

E as casas e travessas não iam muito além da rua principal, que é a Estrada Velha do Barigüi.

Invasões sub-sequentes uniram todas as vilas, as de 2015, 2012, e outras anteriores, algumas delas não eram invasões.

Além disso, o crescimento natural de cada vila fez com que elas fossem se aprofundando, ganhando ruas paralelas e transversais a principal.

Eis a prova. Placa artesanal feita pelos próprios moradores. Na verdade a via se chama ‘Rua dos Palmenses’, ‘S. José’ entrou por conta. Pro que nos importa, grafaram os dois bairros: ‘S. Miguel’ que é o real, e ‘Cid. Industrial’ que é maior e mais conhecido.

A região não tem qualquer infra-estrutura, as casas estão sendo erguidas onde antes era mata de araucárias.

Não há redes regulares de água e luz, e tampouco serviços suficientes de saúde e educação públicas.

O ponto positivo é que há uma linha de ônibus que serve a favela.

Chamada ‘Mário Jorge’ – antigamente um ramal da linha Vila Marisa, se tornou linha própria há alguns anos.

Mas o ponto mais preocupante é que, como as fotos mostram, a vila se localiza nos arredores de um aterro sanitário. Explico.

Depósito de lixo (esse clandestino, dejetos jogados ali por moradores da região) numa mata entre o Sabará e a Corbélia.

Até 2010 todo o lixo domiciliar da Grande Curitiba era depositado no aterro da Caximba.

Esse é exatamente o bairro da Zona Sul onde nesse mesmo ano de 10 surgiu a invasão nas margens do Rio Barigüi.

No entanto, da favela da Caximba (do complexo de favelas, porque lá também foram várias vilas, novas e antigas, que se uniram formando uma só) já falei outro dia, com muitas fotos.

O ônibus que serve as 2 vilas. Antes ele se chamava somente ‘Sabará’ e tinha ali seu ponto final. Agora se chama ‘Sabará/Moradias Corbélia’ e foi esticado mais alguns pontos.

Então agora só quero relembrar que nesse ano de 10 o aterro da Caximba foi finalmente interditado, tendo esgotado sua capacidade.

A maior parte do lixo agora é levada pra novo aterro no subúrbio metropolitano de Fazenda Rio Grande.

Ali são despejadas 2,3 mil toneladas diárias de lixo de toda região metropolitana.

No entanto, e é aqui que nossa história converge ao São Miguel, outras 100 toneladas diárias passaram a ser depositadas num aterro que fica no município da capital.

Em foto de 2015, o Sabará no seu antigo ponto final, quando nem todos os ‘carros’ seguiam até o Corbélia.

Justamente no São Miguel, próximo a CIC (Cid. Industrial).

Segundo algumas versões que circularam a época, esse aterro receberia também lixo hospitalar, mas não posso confirmar se é um fato. 

O que é fato é a região é insalubre, inadequada pra habitação humana.

Por maiores que sejam os cuidados da empresa que administra o aterro, e não estou colocando em cheque esses procedimentos.

Próximas 15 imagens: São Miguel, Zona Oeste de Curitiba. Um bairro cuja maior parte do território ainda é zona rural.

Mesmo que todos as providências legais sejam tomadas, ainda é um aterro sanitário – ainda é um lixão, falando o português mais tosco.

A enorme quantia de urubus que sobrevoa permanentemente o local e o odor característico não deixam dúvidas disso.

Sendo assim, não precisa ser um engenheiro ambiental pra saber que o entorno não deveria receber habitações.

………

Cavalos pastam, chácaras e bosques são o tom da paisagem (essa tomada e a anterior de 19).

Ilustro essa matéria com duas músicas. Andando pelo ‘Complexo do São Miguel’ em lembrei de ‘Relampiano’, de Zeca Baleiro.

Fala exatamente de como é a vida nas favelas. Diz a sua letra:

“Tá relampiano, cadê neném? Tá vendendo drops no sinal pra alguém”.

Próximas 3 imagens de julho de 2015, quando a ocupação começou.

E no final conclui: “A cidade cresce junto com neném”, ou seja, as favelas vão aumentando em todos os sentidos.

Tanto dentro dos barracos vão nascendo mais crianças como vão surgindo novos barracos.

De mais gente que vem engrossar o cinturão de misérias as bordas da cidade.

E outro dia eu voltava pro Centro com o ônibus Caiuá. No rádio tocou a canção ‘Uns Dias’, do Paralamas do Sucesso.

Ela começa falando do “Expresso do Oriente”. Pois bem. O Caiuá é o “Expresso do Ocidente”.

(Assim como o Ligeirinho Bairro Novo é o “Trem-Bala da Zona Sul” e o Canal Belém é o “Trem-Bala da Zona Leste”.)

Depois Paralamas acrescenta: “Eu nem te contei uma novidade quente”.

Lixeira coletiva.

Bem, no caso do São Miguel as novidades estão mesmo quentes.

Em dezembro de 2018, a polícia militar foi chamada na vila.

Supostamente pra atender uma ocorrência de “agressão doméstica”.

Os PM’s cumpriam seu dever exemplarmente, e adentraram a favela pra averiguar os fatos.

A questão é que era uma armadilha. Eles entraram no meio do beco.

O mesmo local em 2019. Com a vila consolidada, estão começando a subir até sobrados.

No momento que estavam com a visão e locomoção mais prejudicadas uma chuva de balas atingiu os policiais.

Apesar do colete a prova de tiros, um deles recebeu um disparo no pescoço e veio a falecer.

Na mesma noite um incêndio criminoso destruiu 300 casas da ‘comunidade’ (como a esquerda gosta de renomear as favelas).

Ar-condicionado??? Sim, isso mesmo. Trata-se de uma casa simples de madeira. Mas como o morador não paga luz (veja o ‘gato’ no detalhe) o aparelho estava ligado no máximo, mesmo aquela manhã de domingo de outono curitibano não estar tão quente.

Evidente que trata-se de crime gravíssimo o incêndio.

Moradores suspeitam que foi a polícia militar quem ateou fogo as casas, por vingança.

Caso tenha sido mesmo assim mesmo – o que não posso afirmar, evidente – trata-se de um espiral de vinganças.

Pois os criminosos já haviam executado o PM pra vingar a prisão de um membro do grupo ocorrida dias antes.

Evidente que nada justifica essa retaliação de destruir a vila, se essa versão conferir com os fatos.

Nova Primavera, invasão de 2012 ao lado da cohab Corbélia (foto de 2015, hoje está bem maior).

Pois prejudicou com essa ação mais de mil pessoas, sendo 99% delas inocentes da morte do PM.

Ainda assim, como toda história tem dois lados, é evidente que a polícia também já havia sofrido ato de covardia antes.

Afinal, os defensores das ‘comunidades’ reclamam que a PM não entra nas favelas pra proteger os moradores, apenas pra realizar grandes operações de prisões.

Outra placa de rua improvisada.

Pois bem. Nessa noite, a polícia havia entrado na favela não pra realizar uma ‘blitz’ e levar vários ‘robozinhos’ do tráfico presos.

Não. A polícia entrou na favela atendendo um chamado de agressão doméstica.

Nem era um caso de homicídio. Os PM’s foram, honravam sua profissão.

País do futebol: campo, também improvisado, no gramado em frente a uma indústria.

Entraram a pé num local onde ficavam vulneráveis a uma tocaia.

A noite, a favela tem becos estreitos e não há iluminação pública, tudo muito escuro.

Tudo pra proteger supostamente uma esposa que era espancada ou ameaçada pelo marido.

No fim era uma tocaia. Os criminosos do local executaram a sangue-frio o policial.

Sinalização oficial, da prefeitura, com o bairro correto: São Miguel (foto na Corbélia)

Isso não justifica, evidente, queimar centenas de casas. Nem precisaria ressaltar isso.

Pois 99% dos moradores nada tiveram a ver com o crime anterior, digo de novo e é óbvio.

A imensa maioria são trabalhadores honestos, que sobrevivem em duras condições.

A queima de casas prejudicou mais de mil pessoas, e o assassinato foi planejado e cometido por 5, no máximo 10 pessoas.

Pra alugar, parte superior não foi finalizada.

Seja como for, toda a história tem dois lados. Um pai-de-família foi morto cumprindo o dever.

E centenas, mais de um milhar de pessoas ficaram desabrigadas.

Por sorte não houve vítimas fatais, poderia ser bem pior, como não é difícil imaginar.

Já seguimos com o texto. Antes mais imagens do ‘Complexo do São Miguel’, maio de 2019.

Vila Conquista’: uma das vilas mais antigas, antes o ônibus tinha esse nome. Atualmente a região é mais conhecida por ‘Vila Sabará‘.

Voltando. Eu falava acima do incêndio a favela. Isso me fez lembrar da África do Sul.

Nesse país  frequentemente as diferenças são acertadas na base do fogo.

Tanto na época do ‘apartheid’ quanto agora na democracia.

Ou seja, quando possível muitas vezes simplesmente queimam vivos os adversários em qualquer contenda.

O famoso ‘micro-ondas’ (pôr uma pessoa entre pneus e incendiá-la ainda com vida), tão popularizado pelas quadrilhas de traficantes cariocas, foi inventado na África do Sul.

Vilas Conquista/Sabará, 2019.

E até hoje é amplamente usado por lá. Em maio de 2017, eu estava em meio último dia da viagem a esse outro continente.

Andei boa parte da Zona Norte de Joanesburgo a pé, pra decifrar seus contrastes.

Passei pelo bairro que tem o m2 comercial mais caro da África (Sandton).

A seguir me dirigi a uma favela próxima, chama-se Alexandra (eles pronunciam ‘Alec-Zandra’).

Trata-se de uma das ‘partes quentes’ da cidade, epicentro de conflitos violentos.

Pichação no CIC, Zona Oeste (embora o grupo autor, ‘Os Mocados’, seja da Zona Central).

E isso desde a época do regime racista, triste legado que ainda permanece.

Na praça antes da entrada de Alexandra, levei um choque:

Mais de 30 camburões policiais ocupam o local numa verdadeira operação militar. Embaixo do rodado de um deles havia um corpo coberto com jornal.

Aqui e a esquerda: invasão no Contorno Sul, CIC, 2016. Próximo da região que retratamos.

Pensei na hora que se tratasse de um jovem abatido a tiros num confronto.

Mas não. Depois li no jornal, uma viatura atropelou e matou uma menina adolescente, que voltava da escola.

Por isso um contingente policial tão gigantesco. Dezenas ali na praça mesmo.

Fora mais dois camburões fechavam cada uma das saídas da favela.

Uma operação pesada, porém há razões de ser de tantas precauções.

Em 2015, 2 anos antes desses fatos portanto, ali mesmo em Joanesburgo uma viatura atropelou fatalmente 2 jovens, dessa vez do sexo masculino.

A população não teve dúvidas, e fez justiça com as próprias mãos.

Próximas 7: o vizinho bairro da Augusta (em fotos de 2016), sobre quem já fiz matéria própria. Aqui a escola.

Cercou os policiais e ateou fogo neles, ainda vivos. Sem piedade.

Daí tamanha preocupação no dia que presenciei em 17, pro feito não se repetir.

Infelizmente, esse tipo de procedimento ainda é comum naquela nação de conturbada história.

E aqui voltamos ao Brasil, ao bairro São Miguel na Zona Oeste de Curitiba.

Novo Fórum na divisa com o CIC.

Na África em 2015 policiais foram queimados vivos numa retaliação.

Na nossa Pátria Amada, é o inverso, a suspeita foi de que policiais incendiaram uma favela em ato de vingança.

Seja como for, dos dois lados do Oceano o que é certo é que usa-se o fogo pra sanar as contendas.

Ainda há sítios e pequenas fazendas.

O avanço a civilização é lento. O retrocesso a barbárie é rápido”.

Alguém já disse essa frase, e constatamos que infelizmente é verdade.

………

Não para por aí o retrocesso. Nos anos 80 e 90 havia na Cidade Industrial de Curitiba uma ocupação chamada ‘Favela do Lixão’.

Ocupação na divisa entre Augusta e CIC, logo depois de uma cohab de prédios (dir.).

Se localizava bem ali perto, as margens do Contorno Sul.

Não é difícil entender o porque. Algumas décadas atrás existia um outro aterro sanitário na Cidade Industrial (não confundir com esse de agora).

Ficava, repito, as margens do Contorno Sul. E (provavelmente) no começo da década de 80 a área ao redor dele foi invadida.

Formando dessa maneira a primeira ‘Favela do Lixão‘ da cidade.

Acontece que o tempo passou, o aterro sanitário foi desativado e removido do Contorno. 

A vila ao redor foi urbanizada, e a ‘Favela do Lixão’ deixou de existir.

No entanto, o tempo continuou seguindo sua marcha implacável.

Vila antiga, em frente aonde era o Frigorífico.

Em 2010 novo aterro sanitário começa a operar perto do CIC.

E a partir de 2012 e muito mais a partir de 2015 grandes invasões ocupam o entorno.

Resultado: a “Favela do Lixão” voltou a Zona Oeste de Curitiba.

………

Parque Passaúna, melhor Pôr-do-Sol de Ctba. .

Estive no Paraguai, em 2013, viagem que apreciei muito.

Uma das coisa que mais me impressionou fui subir no Monte Lambaré.

Esse pequeno morro que é um parque fica na Zona Sul de Assunção.

Já quase na fronteira com a Argentina (que é do outro lado do Rio Paraguai).

De agora até o fim são imagens de 2015. Aqui Moradias Corbélia, São Miguel.

Tive impressões positivas e negativas. Trata-se de uma belo e agradável bosque.

De cima de seu cume constatei como Assunção é uma cidade arborizada.

Muito mesmo. Tanto quanto o são Curitiba e João Pessoa-PB.

Ou seja, todas são extremamente verdes. Nessas 3 metrópoles já presenciei algo incrível:

Contorno Sul. A partir dessa as fotos são no CIC.

Em alguns bairros você subir em pontos mais altos e enxergar praticamente só árvores, não ver casas.

Só que houveram visões tristes também. Observei bem o aterro sanitário de Cateúras, vi – e fotografei – uma favela que se ergue dentro dele.

Então amigos. Essa vizinha nação é o segundo país mais pobre da América do Sul.

Muitas indústrias na Rua Mário Jorge (a direita o ônibus que ela nomeia).

Pois até hoje não se recuperou da destruição do que nós brasileiros chamamos ‘Guerra do Paraguai’ – eles dizem ‘A Grande Guerra‘.

Assim, no Paraguai uma das coisas que mais me chamou a atenção foi a essa situação:

As casas em meio aos dejetos, as margens de um riacho, com solo, água e ar contaminados.

A ‘Favela do Lixão’ de Assunção, não há como chamar de outra forma.

4 anos depois visitei a África, o continente mais pobre da Terra.

A África do Sul é uma das nações mais desenvolvidas africanas certamente.

Entretanto, ainda é parte e parcela da África, com tudo que isso acarreta.

E no ‘Continente Negro’, algo me impressionou profundamente de forma negativa:

Cidade da Laje‘ no Sabará e um Fuca.

A altíssima frequência com que algumas pessoas resolvem eliminar seus inimigos pelas chamas, queimando-os.

Triste constatar que, em pleno século 21, o Brasil de certa maneira também esteja vibrando nessa frequência.

Uma “novidade quente”: a “Favela do Lixão” voltou a Curitiba.

Bem quente. O negócio está pegando fogo!

Outra do Terminal (e conjunto) Caiuá.

Não é maneira de falar, infelizmente.

Que Deus Pai Ilumine muito a todos no planeta Terra.

Vamos precisar.

“Deus proverá”

2 comentários sobre ““Expresso do Ocidente”: Caiuá e imediações (CIC, São Miguel e Augusta, Zona Oeste)

  1. Sandro Chagas disse:

    Recentemente houve a condenação em juri popular do homem que matou o policial mencionado nesta publicação. Apenas 12 de reclusão. Uma lástima.

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