N. Sra. das Neves, Philipéia, Fredericoburgo, Cid. da Paraíba: até J. Pessoa ser morto na Cid. de Maurício

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Centro de João Pessoa. A cidade foi fundada longe do mar, num planalto, cujo um dos flancos era protegido pelo Rio Paraíba. Veja quanto verde, mesmo perto do Centrão (r).

Por Maurílio Mendes, O Mensageiro

Publicado em 21 de setembro de 2013

Maioria das fotos de minha autoria. As que forem baixadas  da internet identifico com um (r) de ‘rede’ (créditos mantidos sempre que estavam impressos nas imagens).

Vamos continuar falando da Paraíba.

João Pessoa tem 431 anos quando levanto a página pro ar (2016). Tinha 428 quando fiz o texto, em 2013. A cidade foi fundada ainda no século 16, em 1585.

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Bolero ao pôr-do-sol’, uma das atrações da capital paraibana: todos os dias quando o astro se recolhe, um artista entra num barco e toca o Bolero de Ravel numa praia fluvial quase na foz do mesmo Rio Paraíba visto acima. Na Praia de Jacaré, subúrbio metropolitano de Cabedelo, Zona Norte (r).

Como é do conhecimento de todos, por mais de dois séculos o Brasil se restringiu ao que estava a leste do tratado de Tordesilhas.

A quase totalidade das atuais regiões Sul, Norte e Centro-Oeste sequer pertenciam a coroa portuguesa.

Pois estavam a oeste da referida linha, e foram abertas e colonizadas pelos lusos bem depois.

Veja: Manaus-AM só foi fundada em 1669, Curitiba em 1693, Macapá-AP em 1758 e Porto Alegre-RS em 1772.

No século 16, Portugal ainda tinha esperanças de formar um império global, como os EUA têm hoje.

1817 (Brasil ainda pertencia a Portugal): explode em Pernambuco a chamada ‘Revolução dos Padres’. Paraíba e Ceará aderem. Paraíba e Pernambuco, que são vizinhos e umbilicalmente ligados, adotam bandeiras-expelho pra marcar a insurreição. Essa é a bandeira paraibana de 1817, fundo branco, a cruz pela participação da igreja, o sol e o arco-íris pra mostrar que dias melhores virão, e no alto as três estrelas são as três províncias rebeldes, PE, PB e CE.

Por isso suas possessões americanas se resumiam a colônias de exploração e exportação – e não de povoamento – no litoral do Sudeste, Nordeste e Pará.

É a isso que o que viria a ser nossa nação-continente se resumia.

É nesse contexto que João Pessoa surgiu. Foi fundada longe do mar.

Eram tempos perigosos, quando você não podia deixar uma cidade desguarnecida.

Certamente os portugueses tinham bem vivo na mente o que havia acontecido a Buenos-Aires-Argentina:

Que fora fundada a beira-mar em 1536 e destruída em ataque indígena em poucos meses.

Então pra iniciar uma colônia na orla teria que ser erguido um forte militar primeiro.

Bandeira de Pernambuco adotada na revolta de 1817: similar a da Paraíba, apenas o fundo é azul e o Sol não tem rosto; as 3 estrelas estão ali, igualmente.

De certo não haviam efetivos, humanos e financeiros, pra Portugal poder bancar implantar o núcleo de João Pessoa a beira-mar.

Então buscou-se um refúgio seguro um pouco continente adentro.

O povoamento original se deu num planalto, num altiplano, protegido por um grande rio a oeste. Assim ficava viável defendê-lo.

Pois tinha-se visão privilegiada de eventuais invasões que chegassem por qualquer lado, incluso pelo oceano.

Possibilitando tempo hábil pra estratégia de defesa ser vitoriosa. Diz a teoria militar:

Bandeira pernambucana atual, com 1 estrela: manteve-se o estandarte insurgente, apenas agora só há a estrela de Pernambuco mesmo, as que aludiram a participação da Paraíba e Ceará se foram.

Quando há uma batalha em desnível topográfico, ou seja, com um exército morro acima e outro morro abaixo, quem está mais ao alto sempre vence.

A não ser que a discrepância de forças seja gritante demais. Em condições normais, com mais ou menos o mesmo número de Homens em armas, quem está no alto triunfa invariavelmente.

Pela própria ação da lei da gravidade, é muito mais fácil empurrar ladeira abaixo os invasores que tomar as posições bem fortificadas no alto da colina.

Assim, muito bem guardada pelas condições do relevo, João Pessoa veio ao mundo. Não com esse nome, claro.

A atual capital da Paraíba, como veem no título, já teve 5 nomes em sua história. Não perca a conta:

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Voltamos a Paraíba. Essa é a bandeira que vigorou de 1907 até 1930, quando João Pessoa foi assassinado.

1) Começou como “Cidade Real Nossa Senhora das Neves” (1585-1588), como fora batizada pelos portugueses. Como sempre se tratando dos ibéricos, um nome católico.

2) No fim do século 16, as monarquias espanhola e portuguesa se unificaram no período histórico chamado “união ibérica”.

A cidade teve seu nome mudado pra Filipéia (1588-1634) na grafia da época, Philipéia.

Na verdade alteraram o prefixo, saiu o ‘Cidade Real’ e o nome ficou “Philipéia de Nossa Senhora das Neves”. Pra homenagear o rei espanhol Felipe que, pela fusão das casas reais, acumulava o título de rei de Portugal. 

3) Veio a Holanda, invadiu e abocanhou boa parte do Nordeste brasileiro. Fundou a Nova Holanda, que tinha capital em Recife-PE.

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1930: o governador da Paraíba, J. Pessoa, é abatido a tiros no Recife (acima da manchete um jornal com essa manchete). A bandeira é mudada em sua homenagem, o preto do luto, o vermelho de seu sangue, e o ‘nego’ pelo veto dele em aderir a Oligarquia paulista, se aliando a oposição. Essa é a grafia antiga, atualmente não há mais o acento.

O comandante de tudo era Maurício de Nassau, que renomeou Recife em homenagem a si mesmo, virou a “Cidade de Maurício”, “Mauristad” no original.

Natal-RN foi rebatizada ‘Nova Amsterdã’. Assim a América teve por um tempo duas ‘Novas Amsterdãs’.

Pois a atual Nova Iorque-EUA também pertencia a Holanda, e tinha a mesma denominação.

Ao fim os holandeses foram expulsos da maior parte da América, tanto do Sul quanto do Norte, e nenhuma das ‘Novas Holandas’ vingou.

Os holandeses, enquanto ali dominaram, alteraram também o nome da atual João Pessoa.

Que passou a se chamar Fredericoburgo (1634-1654). No original, ‘Frederikstad’.

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Próximas 5: Praia do Jacaré. É ali que há o espetáculo de música ao anoitecer. Aqui vemos a estátua dos bichos (que eu também cliquei aqui em Ctba.). Depois o Sol baixando, a florida feira de artesanato e bares e restaurantes que há no local.

Portugal nunca se conformara com essa invasão, e sempre organizara guerra de guerrilhas pra tentar fazer os holandeses se retirarem.

Se a Nova Holanda vingasse, seria o fim do império luso na América.

Outras potências europeias viriam na sequência tomar mais território de Portugal, incentivadas pelo sucesso holandês.

Mas mesmo que não desencadeasse ações-espelho, a Nova Holanda em si mesma era o fim do sonho português.

Até por ser do lado de Salvador. Os holandeses, alias, tentaram duas vezes invadir a atual capital baiana, que era a então capital do território português na América:

jacare-cabedelo-z-norte-j-pessoa-pbUma antes de tomar Recife e fundar a Nova Holanda, e outra depois, tentando ampliá-la, deixando claro que o objetivo dos holandeses era mesmo a expulsão de Portugal da América.

Não por acaso Maurício de Nassau nomeava até a capital da Nova Holanda, pois ele era definitivamente o cabeça da empreitada. jacare-cabedelo-z-norte-j-pessoa-pb2

Antes de sua chegada e principalmente enquanto ele esteve no comando, a Holanda só perdeu duas batalhas: justamente as duas tentativas frustradas de se apossar de Salvador.

Que é muito bem defendida por estar numa península, frustrando ataques por terra. A invasão tem que ser por mar, e aí basta um forte com potentes canhões pra pôr a pique os navios inimigos.

jacare-cabedelo-z-norte-j-pessoa-pb3Assim, ele tentou 2 vezes, a Bahia não caiu em mãos holandesas. Mas de resto, Maurício de Nassau e seus antecessores venceram todos os outros confrontos militares contra Portugal.

Estendendo a Nova Holanda dos atuais Sergipe até o Maranhão, todo o atual Nordeste exceto a Bahia, resumindo. Entretanto, pra sorte de Portugal (e posteriormente do Brasil), a coroa holandesa não teve essa visão.

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‘Flores da Paraíba’: nessa tomada encerramos Jacaré, Cabedelo.

E Maurício de Nassau foi demitido do comando das ‘Indias Ocidentais’ holandesas, a empresa do governo holandês pra explorar as colônias americanas.

Teve que voltar pra Europa. Acharam que sob sua direção a Nova Holanda não dava tanto lucro quanto poderia.

Não consideraram que ele tinha que defender militarmente o território, antes de desenvolvê-lo economicamente.

Pois as investidas de Portugal eram permanentes, fustigavam o tempo inteiro a Nova Holanda. Na intenção que até que cansados das baixas em termos humanos e financeiros os holandeses achassem melhor fazer as malas e ir embora.

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Ali perto: anoitece na BR-230, a Trans-Amazônica. Nesse trecho ela é de pista dupla, pois uma importante via da Gde. J. Pessoa, ligando a Zona Norte a Zona Oeste.

Maurício de Nassau era excelente urbanista, melhorou muito o Recife, construindo pontes, canais, bibliotecas, jardim botânico – e por isso é cultuado em Pernambuco até hoje.

Era também excelente analista militar. De fato não conseguiu tomar a capital da colônia lusa, mas não consideraram que essa cidade era bem mais fortificada por sediar o governo, fora que a geografia ajuda.

Acontece que exceto por Salvador enquanto ele esteve ali em incursões fulminantes furou facilmente as defesas e a seguir repeliu os contra-ataques de Portugal.

A Holanda saiu vitoriosa em todas as batalhas, ofensivas e defensivas, em que tomou e resguardou seu território. Portanto, o retorno de Maurício pra Europa foi um erro fatal, sob o ponto de vista do invasor.

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Próximas 3, vamos pro Centrão. Parque Solón de Lucena com sua famosa lagoa, e, igualmente típica, a fila de ônibus contornando o lago rumo ao ponto final.

Sem o mentor da ocupação holandesa, que inclusive nomeava a capital, as forças portuguesas ganharam novo fôlego.

E enfim começaram a virar o jogo, fazendo os holandeses pela primeira vez recuarem.

Assim, o exército português avançou rumo a batalha final, que era a tomada da cidade do Recife, capital da Nova Holanda, pros holandeses chamada ‘Mauriciópolis’.

As tropas portuguesas eram mestiças. Haviam portugueses mesmo, aliados a índios, negros e brancos pobres nascidos no Brasil.

Na famosíssima Batalha de Guararapes (1648-49), já nas cercanias do Recife, Portugal enfim bateu a Holanda numa batalha importante, após longa série de derrotas.

pq-solon-de-lucena-centro-j-pessoa1Na prática, aí acabou a Nova Holanda. Alguns holandeses ainda permaneceram por aqui, mas já sabendo que o fim era inevitável.

Em 1654, enfim os últimos holandeses se retiraram, dissolvendo de forma oficial a possessão. Em 1661, a Holanda ratifica, no papel, a soberania portuguesa.

O Brasil existe pela Batalha de Guararapes. fila-de-busoes-contornando-a-lagoa-centro-novo-j-pessoa

O fim da Nova Holanda, e a retomada de todo o Nordeste pra Portugal, foi um recado claro a todas as potências europeias:

A coroa lusa não pouparia esforços pra manter o que hoje é o Brasil sob sua guarda. A Batalha de Guararapes é a Gênese do exército brasileiro, seu maior orgulho.

Por tudo isso, por ser o combate que fez com que nosso país existisse.

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Falei do transporte em outra mensagem, com muitas fotos. Mas damos uma pincelada. A implantação do Terminal Central urbano integrado, perto da virada do milênio, amenizou bastante a vida das pessoas, porque assim é possível ir de bairros em partes opostas da cidade pagando só uma vez.

Já que enfim reverteu uma enorme sequência de derrotas contra um adversário mais estruturado, e por ter tido em suas fileiras a presença de todas as raças em suas tropas.

Assim como a Batalha de Riachuelo na Guerra contra o Paraguai é o orgulho da marinha, dois séculos depois.

A história sobre a por nós chamada ‘Guerra do Paraguai’, pros paraguaios a ‘Grande Guerra’ ou ‘Guerra de 1870’ eu já contei com mais detalhes em texto específico.

Voltando ao Nordeste e ao século 17, assim a “Cidade Maurício” deixou de existir, voltou a se chamar Recife.

A atual capital paraibana também perdeu o nome holandês, Federicoburgo.

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Entrando está um “carro” da Trans-Nacional, viação que pertence a Unitrans. Em 2012 foi inaugurado o segundo terminal integrado no bairro do Bessa, Zona Norte, que atende também algumas vilas vizinhas mas que já ficam em outro município, Cabedelo. É a primeira integração metropolitana em João Pessoa. Falei só como referência do Term. Bessa, onde não deu tempo de eu ir e portanto não foi fotografado. A imagem mostra o Term. principal no Centro da cidade.

4) Foi renomeada Paraíba, (1654-1930) (‘Parahyba’ na grafia original). Portanto, entre todos os nomes que já teve incluindo o atual, foi o que permaneceu mais tempo, 276 anos.

O tempo passou, o Brasil ficou independente de Portugal e por fim aboliu a monarquia.

Veio o século 20, quando as oligarquias paulista e mineira, como todos sabem, se uniram pra implantar o que ficou conhecido como “República do Café-com-Leite”.

Onde a presidência era rateada entre esses dois estados, aludindo ao fato que o café era o esteio da economia de São Paulo.

E Minas Gerais era então o maior centro produtor de alimentos do país, incluindo numerosíssimo rebanho leiteiro.

Um presidente paulista passava a faixa a um mineiro, que depois devolvia o favor. Só que, em 1929, a oligarquia paulista resolve romper as regras do jogo. O presidente da república era paulista, Washington Luís (nascido no estado do Rio mas fez sua carreira em São Paulo, por isso o vulgo “Paulista de Macaé”).

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João Pessoa teve também uma viação estatal de ônibus. Chamava-se Setusa e era estadual. A frota era composta majoritariamente por Monoblocos dos modelos 2 e 3. Foi criada tardiamente, já nos anos 80. Oferecia a passagem mais barata que nas empresas privadas, e por isso desagradou as grandes viações. Foi sua sentença de morte, teve vida curta, menos de 10 anos e logo foi privatizada. O grupo Unitrans, que domina o transporte na Paraíba, a engolfou. No Centro de João Pessoa, há pichações pedindo “Volta, Setusa”. Dificilmente o pedido virará realidade.

Assim, um mineiro teria que sucedê-lo, entretanto ele escolhe o também paulista Júlio Prestes.

Foi o fim, já tardio, da era “Café-com-Leite”. Outros estados, como o Rio Grande do Sul e os do Nordeste, já estavam mesmo cansados dessa charada.

Traída, a oligarquia mineira se alia aos coronéis nordestinos e gaúchos exigindo “renovação”.

Os paulistas, evidentemente, representavam então o ‘status quo’, e queriam reter a presidência.

Começam então em 1929 tentar aliciar as oligarquias locais estaduais pra que apoiassem Júlio Prestes.

Aqui retornamos a Paraíba. Sua capital se chamava Parahyba (a “Cidade da Paraíba” pra não confundir com o estado) desde 1654 com o fim da Nova Holanda.

O governador era João Pessoa, sobrinho de Epitácio Pessoa, que havia sido presidente da república.

Embora Epitácio Pessoa fosse paraibano, seu mandato está inserido no contexto do “Café-com-Leite”.

Pois ele fora eleito pra um mandato-tampão por causa da morte do presidente paulista Rodrigues Alves.

Tanto que Epitácio Pessoa fora apoiado pela oligarquia mineira, e passou a faixa a um mineiro.

Ou seja, o mandato de Epitácio Pessoa na prática manteve a alternância entre São Paulo e Minas na presidência.

Até que, como já dito, em 1929 o “Paulista de Macaé” Washington Luís quebra o acordo e escolhe outro paulista pra seu sucessor.

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Vários Setusa, sempre Mercedes-Benz Monoblocos, dos 2 modelos (r).

Minas Gerais enfim entende o que os outros estados sentiam com aquele joguinho de cartas marcadas e muda pro lado dos que clamavam pelo “novo”.

A questão é que São Paulo, no poder, queria manter o “velho”, e passa a tentar costurar acordos visando esse fim. Consulta o governador da Paraíba, João Pessoa.

Entretanto, a oligarquia paraibana já estava comprometida com o outro lado.

Assim, João Pessoa comunica a São Paulo o veto do endosso paraibano a Júlio Prestes.

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Os táxis do município de João Pessoa são brancos. No subúrbios de Bayeux (Zona Oeste) e Cabedelo (Zona Norte), também. Já no subúrbio de Santa Rita (Zona Oeste), alguns são brancos, mas há também de outras cores.

“Nego o apoio”, dizia o telegrama que se tornou épico, e daí o “Nego” da bandeira.

Muito mais que se negar a se aliar a São Paulo, a Paraíba embarcou de corpo e alma do outro lado.

O gaúcho Getúlio Vargas resolveu assumir a frente de uma chapa de oposição, e João Pessoa foi justamente escolhido como candidato a vice.

Eram tempos conturbados. João Pessoa era o governador paraibano, numa época que o coronelismo reinava inconteste.

Não apenas no Nordeste, também no Sul e Sudeste, não vai aqui nenhum tipo de racismo ou de tentar propagandear uma falsa superioridade moral do Centro-Sul. O próprio Getúlio Vargas é a prova, o legítimo ‘caudilho’, o termo sulista pra ‘coronel’, mostrando o quanto o autoritarismo oligárquico era o corrente também no Sul.

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Falar nesses subúrbios e nos transporte, João Pessoa tem trem de subúrbio. Conto melhor incluso com fotos em outra mensagem. A estação-terminal norte é em Cabedelo, passa pela capital e depois rumo ao oeste por Bayeux e Santa Rita (r).

Mas no Nordeste igualmente, podemos afirmar sem medo de errar.

João Pessoa era um Homem de sua época, afinal. Era um ‘coronel’, que mantinha o poder por qualquer meio necessário.

Uma das coisas que ele fez foi mandar sua polícia política invadir a casa de um adversário político, João Dantas.

João Pessoa teve inclusive a baixeza de mandar publicar nos jornais as cartas íntimas de João Dantas trocadas com sua amante, pra humilhá-lo e provocá-lo.

Irado ao ver suas atividades de alcova expostas a vista de todos, João Dantas assassinou João Pessoa no Recife, em 1930.

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Porto de João Pessoa, na Foz do Rio Paraíba, Cabedelo. Na parte inferior da foto o cais de onde sai o buso-balsa, a mais paraibana das transgenias busófilas (r).

Pouco mais de um mês depois, a capital da Paraíba é renomeada pra lembrar esse ato, passando a ter sua atual denominação.

Evidente, em 1930 Recife já voltara a se chamar “Recife” há quase 3 séculos.

Coloquei que “J. Pessoa foi morto na ‘Cidade de Maurício’ “ apenas porque como esse texto trata um pouco de história, usei esse chamativo, pois muitos não sabem desse detalhe.

Mas que já estava encerrado há muito, fiz uma ‘fusão temporal’.

Seja como for, não foi apenas o nome da capital que foi cambiado. A bandeira da Paraíba também foi mudada.

Matando o a cobra e mostrando o pau: o buso-balsa Cabedelo/Lucena (r).

Antes, era verde e branca. Passou a ser vermelha e preta.

Justamente pra lembrar, respectivamente, “o sangue derramado de João Pessoa” e “o luto da Paraíba”.

Tanto a Paraíba quanto todo o Brasil entraram num turbilhão de violência.

Vários adversários políticos de João Pessoa foram também assassinados por milícias comandadas pelos coronéis, pra vingar a morte do governador.

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Aérea da península onde está a Z/ Norte da Gde. J. Pessoa, alguns bairros ainda na capital e os demais em Cabedelo: espremida entre o Rio Paraíba (dir.) e o Oceano Atlântico (esq.). Nota-se os navios no cais do porto (r).

A nível nacional, Getúlio Vargas manipulou habilmente a comoção gerada pela morte de seu vice.

E engendrou o golpe que depôs Washington Luís, assumindo a presidência, de onde só sairia em 1945, longuíssimos 15 anos depois portanto.

……….

Assim fácil é ver que a morte de João Pessoa é a pedra fundamental da ditadura do ‘Estado Novo’ de Vargas.

Tanto o nome da capital quanto a bandeira estadual se remetem a esse assassinato, e há grupos que querem o fim disso:

Lutando por um plebiscito estadual pra Paraíba retomar sua bandeira verde e branca, e que João Pessoa volte a se chamar “Paraíba”, ou até mesmo na grafia original, ‘Parahyba’ com ‘h’ e ‘y’.

João Pessoa, cidade pras pessoas. Todos os dias, das 5 as 8 da manhã a beira-mar é fechada pra carros, liberada pra pedaladas e caminhadas – em pleno horário de pico e na parte mais elitizada da cidade! Lá o sol nasce antes, essa tomada foi feita 5:34 da manhã no Cabo Branco, Zona Leste.

Aproveitando o embalo, numa imagem vemos uma bandeira anterior ainda do estado.

Os mais atentos notarão que se assemelha muito a atual bandeira de Pernambuco, apenas falta o fundo azul e são 3 estrelas ao invés de uma.

Exatamente. Espiritual e materialmente, Pernambuco é a “mãe” da Paraíba. Inclusive houve épocas que a Paraíba perdeu a autonomia política e foi anexada a ao estado vizinho.

Na ocasião em que essa foi a bandeira da Paraíba, mais uma vez as trajetória dela e de Pernambuco se entrelaçaram.

Eclodiu em 1817 uma rebelião no Recife, comandada pelos frades. A Paraíba e o Ceará aderiram.

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Várias outras avenidas, no mesmo horário (5 as 8), cedem a faixa da esquerda pras bicicletas, os carros têm que se espremer. Todos os dias, e não apenas domingo como em outras capitais. Essa é a moderna via que liga a Zona Leste a Zona Sul.

Pernambuco e Paraíba então adotaram bandeiras-espelho, ícones da insurgência:

A cruz por causa da igreja, o sol e o arco-íris representando os dias melhores que viriam, e as 3 estrelas foram os 3 estados (então “províncias”) rebeldes.

A única diferença é que a da Paraíba era sobre fundo branco como veem aqui, enquanto em Pernambuco a metade superior era azul.

Na atual bandeira pernambucana, só há uma estrela porque as referências a aos estados vizinhos foram eliminadas.

Mas todo o resto se manteve. Já a Paraíba abandonou por completo as homenagens a esse levante em sua bandeira.

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Nem tudo é tão perfeito, entretanto. Um ponto negativo: uma avenida sem calçadas, obrigando as pessoas a andarem pelo meio da rua. E eu pensava que essa cena só existia em Brasília-DF e nos EUA (notadamente Los Angeles). A esquerda, o bosque que separa o Cabo Branco do Altiplano. No meio do dia essa via e a Beira-Mar formam binário, ou seja, cada uma em mão única prum lado. Das 5 as 8, com a da orla fechada pra carros, essa vira mão-dupla. Estreita, sem calçadas e indo carro pra todo lado, um risco pros pedestres.

………

Mais alguns pontos que observei por lá:

– Afora as praias, o cartão-postal de João Pessoa é o Parque Solón de Lucena, bem no Centro, com sua famosíssima lagoa adornada por palmeiras.

Mostrado claramente em algumas fotos, numa delas com os ônibus a contornar o lago, rumo ao Terminal Central.

Notem que há pouquíssimos prédios altos ao redor, o Centrão por ser distante do oceano é na verdade uma parte mais pobre e esquecida da cidade.

Os espigões da cidade se concentram perto da orla, mas não na Beira-Mar porque é proibido, como é de domínio público. Em diversas tomadas isso fica claro:

Nas primeiras quadras a partir do mar, só edifícios baixos.

Permitindo que mesmo os bairros em torno das praias mais chiques de João Pessoa sejam pacatos, quase interioranos em alguns trechos, casas térreas com largos quintais adornados por árvores floridas.

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Contraste social: ao lado do riquíssimo bairro e praia de Manaíra (os espigões ao fundo) está o bairro São José, cuja favela é conhecida também como “Chatuba“, espelhando a original da Baixada Fluminense (r).

Nesse quesito, Ir a João Pessoa é quase como entrar num túnel do tempo, e ver como eram as demais metrópoles litorâneas até os anos 50 e 60. Vejam quanta área verde.

Bem, ‘Jampa’ é muito verde, a arborização não é exclusividade da orla da Zona Leste que é a parte abastada.

Os bairros mais afastados do subúrbio também são ricamente arborizados. Falamos melhor disso em outro texto.

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Bayeux, Zona Oeste (r).

Vemos abaixo o bairro do Altiplano, também Zona Leste. Ali, os arranha-céus estão liberados, e vem brotando em ritmo frenético, como cogumelos após a chuva.

Uma Dubai brasileira, alias fenômeno parecido com o que observei em Belém alguns meses antes, também em 2013.

Voltando ao Nordeste, em várias oportunidades observam a calma do Cabo Branco comparada ao frenessi construtivo do Altiplano, que lhe vem logo acima;

……….

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Altiplano, Zona Leste.

– Uma outra coisa muito legal da capital da Paraíba:

A cidade prioriza pedestres e ciclistas em detrimento dos automóveis. A beira-mar é vedada a veículos automotores, todos os dias, das 5:00 as 8:00 da manhã.

Lembre-se, João Pessoa é a “cidade em que o sol nasce”, a mais oriental da América.

Portanto onde clareia primeiro no continente. 5:00 da matina já é dia claro, como já mostramos com muitas fotos em outra postagem ligada em vermelho acima.

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Nas quadras próximas ao mar é proibido prédios altos, o que mantém a cidade fresca. Aqui em Manaíra, também Zona Leste.

Durante essas 3 primeiras horas do dia, nem pensar em entrar dirigindo na Avenida Cabo Branco.

A pista está liberada pros Homens e Mulheres relaxarem um pouco, caminhando ou pedalando.

Nesse mesmo horário, algumas avenidas ganham ciclo-faixa. Os monstros de metal, também conhecidos por “carros”, precisam recuar só pras faixas da direita.

Porque a da esquerda é exclusiva pro pedal. Isso todos os dias, e não apenas domingo como ocorre em outras capitais;

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Próximas 2: na Z/ Norte o mesmo regulamento aplicado, perto do mar só prédio baixo.

…………

– Além do Sol, outra coisa nasce em João Pessoa: a Rodovia Trans-Amazônica.

Alguns estranham, falando ‘mas a Paraíba é longe pra caramba da Amazônia”. De fato é longe mesmo.

Ainda assim, a BR-230, muitíssimo mais conhecida como “Trans-Amazônica”, tem seu marco zero na capital paraibana.

zona-norte-j-pessoa1Começa mais precisamente no subúrbio metropolitano de Cabedelo, na Zona Norte da cidade.

Primeiro, liga exatamente os municípios de Cabedelo (onde fica o porto) e João Pessoa.

Ali, a BR-230 embica pra oeste, e portanto conecta o Centro as Zonas Oeste e Sul da metrópole, tanto no município de João Pessoa mesmo quanto nos vizinhos Bayeux e Santa Rita.

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Estou dentro do mar na Praia de Cabo Branco (Z/L). Na orla o limite de andares é respeitado; as construtoras, imobiliárias e hotéis perdem muito dinheiro com essa lei.

Ou seja, corta toda a cidade da Zona Norte a Zona Oeste, num trajeto paralelo a linha de trem de subúrbio.

A seguir, a BR-230 conecta as duas principais cidades da Paraíba, a capital a Campina Grande.

Segue sempre rumo a oeste, e aí rasga o sertão nordestino pelos estados do Ceará, Piauí e Maranhão.

Até entrar no Norte, passando por Tocantins e Pará até ter seu final nos confins do Amazonas.

……………….

– O apelido de João Pessoa é ‘Jampa’, como o de São Paulo é ‘Sampa’;

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Próximas 4: Cabo Branco. Aqui o plano diretor de Jampa fica nítido. Prédio em construção, mas atingiu sua altura máxima de 6 pisos, veja que já fizeram a cobertura. Ao fundo, no Altiplano, aí sim espigões com mais de 30 e mesmo perto de 40 andares.

– Em João Pessoa quase não se picha muros. Há um pouco, mas por ser irrelevante, não me ocupei de fotografar e comentar;

– Aqui, tratei da história de João Pessoa a partir da colonização europeia.

Evidente, lá como em todo continente América, Homens e Mulheres de outras raças já habitavam a milênios antes dos europeus aportarem.

Mas como não tenho muitas informações desse período, nos restringimos ao que é mais conhecido de todos.

Ainda assim, reitero aqui que não tenho visão eurocêntrica da história da humanidade.

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Assim, as ruas são sossegadas e residenciais mesmo a poucas quadras do mar. Muito verde, muita calma, poucos carros.

Se não abordei o que aconteceu antes de 1585, é por ignorância, e não por considerar a linearidade europeia a única válida.

…………

– Em João Pessoa quase não há condomínios fechados. De uns tempos pra cá começaram a surgir alguns de alto padrão. Mas de classe média e médiabaixa, não existem.

Em contraste, em diversas outras cidades como Curitiba, São Paulo, Santiago do Chile e principalmente Belém, Cidade do México e Lima-Peru, eles são extremamente comuns.

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Em pleno Cabo Branco, uma casa simples com amplo quintal florido.

Mesmo no Centrão e nos bairros mais proletários dos subúrbios.

Onde tem uma rua sem saída, nessas cidades acima citadas, as pessoas fecham com um portão e só entra morador.

Então, em João Pessoa essa manifestação ainda não chegou.

……………….

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Pescador solitário na Ponta Seixas, ao fundo a linha de prédios de Manaíra.

Comentemos rapidamente as fotos espalhadas pela página. Você sabe, nem sempre o texto ao lado se refere a imagem mais próxima.

Busque pelas legendas, que elas estão corretas. Vemos no decorrer da mensagem:

Praia de Ponta Seixas, o ponto mais oriental da América, com suas piscinas naturais características.

Nessa foto que mostra a Ponta Seixas (mais pra baixo na página) os prédios ao fundo estão justamente na Praia de Manaíra retratada mais pra cima;

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Picãozinho: uma das piscinas naturais do litoral de João Pessoa (em Maceió-AL  igualmente elas são comuns) (r).

– Imagens parecidas com as que seguiram na matéria anterior:

O primeiro raio de Sol da América, por volta das 5 da manhã.

Veremos numa sequência horizontal abaixo exatamente a primeira aparição do astro em todo continente americano.

Logo que ele saiu da nuvem que o encobria.

Infelizmente, por estar um pouco nublado, não pude vê-lo sair exatamente do mar. Coisas da vida;

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Avenida, praia e bairro de Cabo Branco.

– Mais uma vez chamo sua atenção a proibição de prédios altos nas quadras próximas ao mar, mostrada em várias cenas.

Essa lei é vigente igualmente no subúrbio metropolitano de Cabedelo, Zona Norte.

E faz com que mesmo os bairros com m2 mais caro de João Pessoa tenham ainda um ar bucólico, interiorano, casas térreas com largos quintais floridos;

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Praia de Manaíra, Zona Leste. Os prédios ao fundo já ficam no vizinho município de Cabedelo, Zona Norte.

a BR-230, a famosa Trans-Amazônica, começa em João Pessoa.

Tem esse nome porque após cortar o Nordeste ela rasga parte da floresta, nos estados do Pará e Amazonas, no Norte.

Numa foto que está postada abaixo, estamos quase no marco zero da rodovia, no município de Cabedelo, Zona Norte da Grande João Pessoa. Nessa tomada ela ainda está com pista simples.

Logo a seguir é duplicada, e assim ela percorre a distância entre Cabedelo e o município de Santa Rita, na Zona Oeste, passando pelos municípios de João Pessoa e Bayeux.anoitece-br-230-j-pessoa1

Como notam, em duas tomadas (1 delas ao lado) o sol já está se pondo, numa bonita cena. Mas o melhor ainda estava por vir. Nos dirigíamos na ocasião pra um lugar chamado

Praia de Jacaré, em Cabedelo. É o por-do-sol mais famoso de João Pessoa, uma atração turística da cidade.

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Mais um Monobloco da finada Setusa.

Trata-se da proximidade do delta de um grande rio, o mesmo que um pouco acima protege o Centrão da cidade.

Há ali várias lojas que vendem artesanato, cafés, bares, restaurantes, tudo muito florido.

E todos os dias, quando o astro vai se recolher, um cara toca o Bolero de Ravel de dentro de um barco.

quase-km-zero-da-trans-amazonica-cabedelo-z-n-j-pessoaÉ isso aí. Depois dessa podemos fechar com chave de ouro.

………

Assim eu encerrei o emeio. Na página ainda vamos ver algumas fotos.

br-230-trans-amazonica-cabedelo-z-norteAcima e ao lado 2 cenas de BR-230 em Cabedelo.

Acima bem no comecinho dela, quase no Km Zero, quando ela ainda é pista simples.

E a esquerda um pouco mais pra frente, já no trecho duplicado.

Na sequência abaixo: bairro Cabo Branco:

praia-da-ponta-seixas-j-pessoa2Ao lado a Ponta Seixas, o ponto mais oriental de todo continente Americano.

Abaixo mais tomadas do Altiplano. Na 1ª cena vemos também o Cabo Branco, que é onde estou quando cliquei.

E nas outras duas o Altiplano visto por outros ângulos, em fotos feitas de dentro do carro em movimento, como alias diversas outras do ensaio.

Mais uma galeria de imagens:

“AS FLORES MAIS ORIENTAIS DA AMÉRICA:

DA PARAÍBA” –

Enxerto aqui mensagem publicada em 11 de setembro de 2013.

Essa amarela ao lado é a flor mais oriental de toda América.

Em João Pessoa está o extremo leste de todo continente, como é notório.

É a Ponta Seixas. E essa árvore florida está na Ponta Seixas.

Localizada quase dentro do mar como notamos bem na imagem.

Fotografei pela cidade inteira. Essa ao lado foi clicada na Praia do Jacaré.

Hibisco amarelo em Santa Rita, Zona Oeste.

Em Cabedelo, Zona Norte metropolitana. “Praia” é modo de dizer, não há mar ali, é um atracadouro no Rio Paraíba.

De qualquer forma, é onde há a famosíssima ‘apresentação do Bolero de Ravel ao pôr-do-sol’ que abri a matéria falando.

Vemos a feira de artesanato e os bares e restaurantes que existem  no local.

Tudo isso muito bem adornado por primaveras violetas sobre os telhados. Anoitece, os últimos raios ainda clareiam o céu. São 5:04 da tarde do dia 4 de setembro de 2013.

A esquerda nas ruas do Cabo branco, ao fundo os espigões (alguns ainda em construção na época) do Altiplano.

Mais flores da capita paraibana:

Que Deus ilumine a todos.

Deus proverá”

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