INTEGRA A “ENCICLOPÉDIA DO TRANSPORTE URBANO BRASILEIRO“
Por Maurílio Mendes, O Mensageiro
Publicado em 24 de agosto de 2013
Atualizei uma postagem sobre transgenia com um FNM que faz as vezes de um estúdio de fotos.
Então pulsando na mesma frequência vou subir pro ar as mensagens que mostram caminhões antigos.
Claro que o interesse primário de nossa seção de transportes são os ônibus. Mas podemos dar uma palhinha também pras máquinas que puxam carga.
Hoje veremos os Scania.
A maiorias das imagens foi puxada da rede, os créditos foram mantidos sempre que estavam impressos nas fotos.
Algumas são de minha autoria, eu identifico com um asterisco (*), como visto ao lado.
Nos focaremos nos modelos mais antigos, que circulavam nos anos 80 e 90.
Publiquei sobre o Cometa Flecha Azul.
A famosa carroceria que acabou se tornando também sinônimo da pintura.
………….
O motor do Flecha Azul é um Scania.
Que como todos que gostam de ônibus e/ou caminhões sabem, são um clássico em si mesmo.
Quem ouviu um ronco de um Scania jamais esquece.
O negócio é tão marcado que cria uma memória auditiva fortíssima: quando você ouve um Scania, sabe, não precisa ver o bichão.
Comprovei isso pessoalmente, e vou contar-lhes como, relatando uma história verídica.
Conheço um rapaz que é cego de um lado – ele nem tem esse olho, e sim uma réplica de vidro no lugar.
A outra vista funciona mas é bastante precária, ele enxerga apenas 40% no único olho que possui.
Ou seja, ele tem cerca de 20% da visão de uma pessoa comum.
Mora aqui em Curitiba, e faz o tratamento numa clínica de oftalmologia na cidade de São Paulo.
Fui algumas vezes acompanhá-lo na viagem, ficamos hospedados em meus parentes.
Então, um dia, após ele ter saído da clínica, caminhávamos em São Paulo, já anoitecendo, uma penumbra.
Ele ouviu o ronco de um ônibus urbano acelerando, atrás de nós. Disse imediatamente: “É um Scania.”
Virei pra trás pra conferir, de fato era um Scania. Que ele identificou pela audição.
Repito, ele não tem um olho, e no outro tem menos da metade da visão.
Se tudo fosse pouco, o médico acabara de mexer nessa vista que funciona precariamente.
O doutor lhe aplicara remédios fortíssimos que o deixam meio grogue.
Anoitecia, o veículo estava atrás da gente no trânsito caótico de São Paulo na hora do pico.
E além disso era um ônibus, não um caminhão.
Portanto, a marca do motor não tem destaque, pois o modelo realça o fabricante da carroceria.
O fabricante do motor se identifica por uma fitinha, na frente e atrás, minúscula, só quem é busólogo mesmo sabe achar.
Tudo somado, não havia a menor chance dele ter visto que era um Scania.
Ele ouviu que era um Scania, e o ronco é tão forte que gerou uma reação instintiva nele, fez questão de registrar, espontaneamente.
É um Scania, né? Um Scania é um Scania, ponto final. Palavras não são necessárias, ver não é necessário.
Basta ouvir. É um Scania, caramba. Se você sabe o que isso já entendeu, se não sabe nunca irá entender.
………..
Pra homenagear mais uma vez esse monstro de metal, dezenas de fotos de Scanias antigos, rasgando e colonizando esse país.
O Brasil existe porque existiram esses gigantes de metal.
Os incansáveis, nunca paravam de lutar, em verdade nunca pararam, porque estão até hoje na pista.
Como é notório, o Scania narigudo era o ‘Jacaré’. Tinha um primo ‘Cara-Chata’.
Ambos vinham de fábrica no vermelho alaranjado hiper-hiper-clássico.
Por isso na maioria das imagens eles estão assim.
Claro, alguns proprietários os repintaram.
Então mesmo mais raros houveram os clássicos Jacarés e Cara-Chatas Scanias em verde, preto, azul, amarelo, branco, e até…..de rosa. É isso mesmo.
Bem, o Jacaré é tão possante, se enfia em qualquer buraco, enfrenta qualquer terreno.
Até anfíbio o bichão é e dispensa ponte pra cruzar um rio, que mesmo de rosinha ele é valente.
Nada abala, contra tudo e contra todos eles seguem lutando. Nunca para, e busca quem para.
Pau pra toda obra, rasgador do sertão, comedor de asfalto, de poeira e de barro, até ônibus o bichão carregou nas costas.
……….
Eu sou busólogo, meu interesse por caminhões é apenas marginal.
Mas pro Jacaré tem que se tirar o chapéu. Muito mais que um modelo, é um ícone.
Não me esqueci dos ônibus. Vemos alguns urbanos Scania dos anos 80, da frota pública.
Da finada CMTC de São Paulo, estatal municipal paulistana que durou décadas.
Por alguns anos, Curitiba também teve uma viação pública.
No fim de 1987/início de 88 a prefeitura comprou alguns articulados.
E transformou a Urbs numa viação, além de gerenciadora.
Por isso eles vinham escrito “Propriedade do Povo” na lataria.
Depois que foram vendidos, não foram comprados novos, e a ‘Frota Pública’ Curitibana se encerrou.
Ainda assim, por um tempo, existiu. A imensa maioria dos veículos era Volvo.
Entretanto, o primeiro deles, o que abriu a Frota Pública, era um Scania, retratado no fim da matéria, mais abaixo.
Apenas o detalhe que no momento da foto ele não estava em serviço.
Ele não chegou a operar na linha que liga o Centro ao Terminal do Pinheirinho (Zona Sul). E sim ao do Boqueirão (também Zona Sul, bairro que morei por 15 anos).
Taí, galera. Compondo as frotas públicas de minhas duas cidades (Curitiba e São Paulo).
E puxando todo tipo de carga, vermelho clássico ou de preto, branco, verde, azul, amarelo e mesmo rosa (????????).
Honrando o nome ‘Jacaré’ por dispensar pontes, ou numa trans-genia motorizada virando uma cegonha, eis os Scanias ‘daquele tempo‘:
Tempo que as coisas não eram ultra-tecnológicas, fetiche da matéria como hoje.
Eram simples e rusticas, mas feitas pra durar. E por isso os Jacarés ainda são vistos nas estradas.
40 ou mesmo 60 anos depois de saírem da linha de montagem da Scania-Vabis, Saab-Scania.
Ou, pros íntimos, simplesmente ‘Scania’.
Um Scania é um Scania, meu irmão. Não precisa ver pra saber.
……….
Ainda temos dezenas de fotos de Scania pra apreciarmos.
Vamos comentando as imagens que a gente observa espalhadas pela página.
Essas duas acima do guindaste na neve vieram direto da China.
Amplie as cenas pra ver os olhos puxados do chinês motorista (ressaltei isso e os adereços do detalhe).
O caminhão é do tipo ‘munck’. O próprio nariz do caminhão é suporte pro guindaste.
A China é o país que mais cresce no mundo, e o Jacaré Scania é parte dessa história.
Acima a esquerda um Scania e um Volvo no bairro Cidade Industrial, Zona Oeste de Curitiba, julho de 2015 (*).
Ambos são antigos, brancos e bicudos. Vocês se lembram, houve um tempo que a maioria dessas máquinas tinha o motor saltado a frente. Hoje inverteu.
Na foto logo a seguir um comboio em alguma estrada rasgando o sertão do Brasil.
A direita Porto de Paranaguá-PR, novembro de 2011 (*). Logo 2 de uma vez puxando a fila.
Já vimos no topo da página 2 Scania, sendo o da frente Jacaré, chegando no Porto de Santos.
Ao lado: Vicente de Carvalho, Guarujá (*). Também trabalhando no Porto de Santos.
Pra quem não sabe, esse terminal marítimo tem atracadouros nas 2 margens do canal.
Assim parte do Porto de Santos fica no Guarujá.
Essa viagem pra Baixada também foi em novembro, porém de 2015.
A carreta azul carregando um trator foi flagrada na Holanda.
Ao lado: inundação no Boqueirão, Curitiba, junho de 2014 (*).
Ao fundo uma carreta Scania de um motorista que mora na mesma rua, chamada ‘Ciclovia’.
A direita o mesmo caminhão visto mais de perto e em tempo seco, dessa vez fotografado em 2016 (*).
………
JACARÉ-CEGONHA:
OFICIALMENTE, E IMPROVISADO, O BICHÃO TOPA QUALQUER PARADA!! –
A esquerda na configuração apropriada pra transportar carros.
Vazio, como observam.
Carregado de carga normal, coberta com lona.
Mas é pouco pra ele:
Pediram pra além de tudo ele levar 3 Fuscas.
O Jacarezão respondeu:
“Manda aí. Traz o que tiver. Missão dada é missão cumprida, minha farda é laranja!”
Esq: BR-476, no Contorno de São Mateus do Sul-PR, agosto de 2016 (*).
Vamos ver uma sequência de clássicos, o Jacaré alaranjado carreta:
O penúltimo da sequência veio até com ficha técnica, que beleza hein?
Clique pra ampliar e ler, o mesmo vale pra todas as imagens.
Direita: Santa Catarina, 1976. Jacaré amado por toda família.
Agora vemos um Jacaré Militar, com tração 6×6 (abaixo). Ainda em S. Catarina.
O bichão fardado, servindo em Porto União. Na Cidade-Gêmea de ‘Porto União da Vitória’.
Ou seja, Porto União é conurbada e forma uma só cidade com União da Vitória-PR.
O Jacaré do Exército Brasileiro é um Scania, obviamente.
Já flagramos na internet a mesma cena (um tanque ou ao menos um blindado militar na carreta) também no exterior.
Na Síria só que aí é Mercedes; e na Austrália o mais impressionante, um ‘Mack’ “Rodo-Trem” que leva nada menos que 5 tanques de uma vez!!
Agora Jacarés carretas que foram repintados. Ao lado um legítimo ‘Jacaré do Papo Amarelo’. Na sequência abaixo 3 que oscilam entre verde e branco:
Moradias Corbélia, São Miguel (quase na divisa com CIC), Zona Oeste de Curitiba, Julho de 2015 (*).
Dois cavalos Scania descansam um pouco antes do próximo pega.
O de trás Jacaré clássico, o branco a frente um pouco mais novo.
A esquerda e na sequência abaixo:
Jacarés pitocos.
Ou seja, sem serem carretas.
Na cor laranja/avermelhada originais como saíram de fábrica.
Detalhe, todos os 3 equipados com rodo-ar.
Agora os pitocos que foram repintados. Começamos ao lado com um negro como a noite.
De novo com rodo-ar, como alias vários outros.
Amarelo, depois cinza – curiosamente ambos têm uma plataforma a frente, aberta no 1º e gradeada no outro.
E mais um branco, mais um guincho – carregando nas costas um Chevrolet.
Soborou um espacinho pros ônibus. Ao lado, direto do Chile, um Caio Gabriela Scania.
Detalhe: 4 portas mesmo num ‘carro’ pitoco (a fonte é o sítio A Todo Bus Chile).
Voltando aos caminhões, na sequência abaixo as carretas Cara-Chatas no laranja original primordial.
Na última tomada, em 1º plano um cara-chata (com rodo-ar), ao fundo há um Jacaré bicudo.
Ao lado um ônibus em Florianópolis-SC, indo pro Monte Cristo no Continente (a fonte de várias tomadas é o sítio Ônibus Brasil).
Esse eu creio que foi o único articulado nessa pintura branca com faixa colorida (padrão EBTU), a 1ª padronização da capital catarinense.
Na sequência abaixo, retornando as carretas, agora os Cara-Chatas que foram repintados:
Vamos pra Europa. A esquerda um Jacaré pitoco (não é carreta) na Holanda.
Creio que do outro lado do oceano os Scania não eram todos laranjas de fábrica, porque cada um é de uma cor.
Talvez esse procedimento tenha sido adotado somente aqui na filial brasileira, pra poupar custos.
Mais um holandês ao lado. Também Cara-Chata, esse é uma carreta obviamente.
Repare no bonequinho dos pneus Michelin, tradição entre os caminhoneiros que também existiu no Brasil.
Agora 3 da Escandinávia. Emplacados respectivamente na Finlândia, Suécia (matriz da Scania e da Volvo) e Noruega. Numa época que ainda não havia a tarja azul da U.E. nas chapas.
Encerramos com alguns ônibus. Ao lado o 1º articulado da ‘Frota Pública’ de Curitiba, fim de 1987.
Com a porta dianteira atrás do eixo, como era moda nos anos 80 (fonte da imagem: portal Memória Gaúcha).
Vamos ver 2 vezes o mesmo buso, o 5200 da CMTC-SP. Em P&B, ainda sem chapas, zerinho, escrito ‘Saab-Scania’ e a viação no letreiro. Um leitor acrescentou a seguinte informação:
“ Essa Scania 5200 era a única na GSA (‘Garagem Sto. Amaro’ da CMTC) que era equipada com câmbio Tiptronic. E como adição, com ventilador para o motorista. ”
Colorido a esquerda operando na Zona Sul. Atrás um Mafersa em unicolor vermelho, provavelmente tróleibus.
Quando o Terminal e Corredor Santo Amaro foram inaugurados em 1987, criou-se a linha-tronco, paradora:
6500-Term. Santo Amaro/Bandeira, que portanto parava pra embarque e desembarque em todos os pontos, conforme fosse solicitada. Visto abaixo a direita
E alguns ramais expressos. Faziam o mesmo trajeto, mas em alguns trechos não era permitido embarcar ou desembarcar.
Esse acima puxava a linha 6501, ‘Expresso Joaquim Nabuco’. “Carro Expresso”, vem especificado no para-brisas.
Indicando assim que não parava nos pontos da Av. Santo Amaro, ou seja quase todo o trajeto.
Havia também a 6504-Expresso 9 de Julho, que não parava na 9 de Julho, como o nome aponta.
A direita vemos o Corredor Santo Amaro durante a segunda metade dos anos 80 – quando até os os pontos foram pintados de vermelho!, como notam ao fundo.
Puxando a fila mais um desses lendários Scania Torino Padrão ‘Trovão Azul’.
O buso era tão futurista, o contraste com os demais veículos era tão agudo, que parecia que voava. Daí o povão pôs um apelido de helicóptero nele.
Ainda falando da foto em que a linha do buso é 6500-Term. Sto.Amaro:
Atrás vem um Amélia da Tânia, na saudosa padronização ‘Saia-&-Blusa’ que era compulsória as viações particulares.
Apenas a CMTC estatal estava dispensada, e por isso se consagrou de azul e branco.
Agora sobre as duas tomadas acima, a foto em preto-&-branco a esquerda e a colorida a direita:
Esses operaram na Zona Leste de Sampa, como está óbvio pois as linhas começam com ‘3’.
Pra fechar segura essa bomba: um desenho desse exato busão. Em mais uma homenagem de meu próprio punho a Cidade de São Paulo.
Mais matérias sobre caminhões:
– Do ‘Faixa-Azul’ ao ‘Faixa-Preta’ (julho de 2019) – a época pioneira, o início da Volvo no Brasil.
Já vimos mais por alto na página um Volvo e Scania antigos, bicudos. A esquerda, no Contorno Sul na mesma CIC (Ctba.), Volvo e Scania mais modernos, cara-chatas.
– “A Estrela Brilha” (novembro de 2016) – sobre a Mercedes-Benz, óbvio.
Aquela que por décadas foi líder no mercado de caminhões (isso os ‘pitocos’, ou seja, nas carretas a Scania era líder);
– F.N.M., eis o Pioneiro dos Pioneiros, que “não abandona a missão“ (agosto de 2013):
A saga da Fábrica Nacional de Motores, popular Fenemê, que foi não apenas a primeira indústria de caminhões do Brasil.
Como a primeira indústria automobilística de nossa Pátria, contando todos os modais.
Ao lado: carreta Scania carrega Fenemê nas costas.
“Deus proverá”