América na África (Índia na África também): é Durbã, de Porto Natal a eThekwini

Durbã, África do Sul.

Por Maurílio Mendes, o Mensageiro.

Publicado em 10 de setembro de 2018.

Seguindo nossa série sobre a África do Sul, hoje vamos falar de Durbã, sua 3ª maior cidade.

Ali está localizado o maior porto do país (fiquei hospedado exatamente em frente a ele). 

Pôr-do-Sol na praia.

Alias a atividade comercial marítima está na gênese da ocupação local pelos europeus.

Durbã foi fundada chamada Porto Nataleu traduzo tudo pro português. O nome original da cidade era Port Natal, misturando inglês e português.

A denominação atual é uma homenagem ao general inglês Benjamin d’Urban, governador da colônia do Cabo, de onde partiu a expedição que fundou ‘Durban‘, que eu aportugueso pra Durbã.

Durbã e Curitiba são cidades-irmãs.

E entre os negros é conhecida como eThekwini (ao lado) assim mesmo, com a letra maiúscula não na inicial mas na segunda letra.

Mais abaixo explicamos o que esses nomes significam.

……….

A cidade tem quase 3,5 milhões de habitantes, incluindo região metropolitana.

Muçulmanas de burca na Praia Norte.

Durbã é o lar de quase um milhão de descendentes de indianos, a maior diáspora desse povo, daí o ‘Índia na África’.

O ‘América na África’ se refere ao seguinte: Durbã é a única metrópole sul-africana que tem favelas e periferias no morro, com é tão comum na nossa querida América.

(Pra citar apenas alguns exemplos que fotografei pessoalmente: Valparaíso-Chile, Florianópolis-SC, Curitiba e Ponta Grossa-PR, São Paulo, Belo Horizonte-MG).

Centrão da metrópole: Durbã É África!

Claro que Durbã também tem bairros de renda mais baixa na Zona Central da cidade, eu fiquei hospedado num deles, a Praia Sul.

Afinal esse é o modelo de urbanização britânico: classe trabalhadora próxima ao Centro, burguesia morando em subúrbios afastados.

Em Durbã isso ocorre também. Mas igualmente existem periferias distantes nas encostas dos morros que cercam a cidade.

……….

Periferias nas encostas de morro. Na África do Sul isso só tem em Durbã.

O CENTRÃO, SITUAÇÃO COMPLICADA –

Durbã se parece bem mais com a África mesmo que a Cidade do Cabo. No Cabo, eles próprios dizem lá, “é África, mas não parece”.

Pois bem. Durbã é África, e parece África. O Centrão de Durbã é tomado por camelôs (esq.), e em alguns lugares há muita sujeira nas ruas.

A orla, parte mais bonita da cidade.

Não há brancos no Centro. Não há, simplesmente não há. Zero, nada, nenhum – exceto sem-tetos, e paradoxalmente há vários sem-tetos caucasianos na cidade.

É curioso, sabe. Claro, a imensa maioria dos moradores de rua de Durbã são negros.

Bela linha de prédios no Centro.

Pois os negros são 60% da população e na periferia são 90% ou mais.

O brancos são apenas 15% da Grande Durbã, e concentrados da classe-média pra cima (25% da população é indiana, fechando o total).

Ainda assim entre os que dormem ao ar livre sob as marquises de Durbã, em meio a uma imensa maioria negra há uma minoria significativa de brancos.

O porto, maior do país.

Eu caminhava pro Centro, e numa esquina um deles me abordou, espontaneamente, pra me ajudar.

Disse: “não entre nessa rua, é muito perigoso. Muito perigoso”.

Próximas 2: templos hindus, estamos na ‘Índia na África’ afinal.

Agradeci sua dica, e pra não contrariá-lo não entrei ali.

Porém e estava indo ao Centro exatamente pra ver a barra-pesada, e na esquina seguinte virei na direção ‘proibida’.

Um outro sem-teto branco ‘acampava’ bem na quadra que ficamos, vimos ele algumas vezes.

Em Gauteng (Joanesburgo e Pretória) não vi nenhum sem-teto caucasiano, e na Cidade do Cabo apenas uma mulher que dormia na praia em pleno dia.

Não quer dizer que não existem desabrigados euro-descendentes nas outras partes, não estou dando uma estatística científica.

Apenas relatando o que vi, fiquei poucos dias em cada cidade, em Pretória apenas algumas horas.

……….

E o que eu vi foi isso: no Centro de Durbã há uma gigantesca cracolândia nos trilhos do trem.

Repare ao lado, os craqueiros saem de buracos nas paredes como ratos.

Um pouco mais pra frente há inclusive dezenas ou centenas de barracas.

Nenhuma novidade, né? Infelizmente essas cracolândias estão se espalhando pelo globo.

Já registrei pessoalmente cenas iguais em São Paulo e na Cidade do México, e via Visão de Rua do ‘Google Mapas’ também em Los Angeles-EUA.

Mesmo fora dos trilhos, nas ruas da cidade, há uma ‘boca-do-lixo’, onde se reúnem viciados e deserdados pela sociedade em geral (esq.).

Quando eu fotografava a região, um deles percebeu e veio perguntar “Ei, por que essas fotos?”

Dei-lhe rapidamente uma moeda de 10 Rands (perto de R$ 3) e ele já ficou mais calmo, conversamos um pouco e ele ‘me liberou’ – já contei melhor essa história em outra postagem.

Bairro ‘Musgrave’, num morro perto do Centro, região de classe média-alta na Zona Central. Note os ônibus verdes e brancos.

Aqui, só quero enfatizar o seguinte: a decadência do Centrão em Durbã é tão grande que você não vê brancos nas ruas.

Não é uma questão de raça, mas de classe. Não há ninguém de classe média-alta no Centro, vamos dizer assim.

Pois agora muitos indianos são da alta burguesia.

Trata-se do ‘Move-Gente’, a única linha modernizada de Durbã (integração, veículos novos com ar-condicionado).

E duas décadas e pouco após o fim do ‘apartheid’ igualmente há uma nascente e já numerosa burguesia negra.

Pois bem. Os negros e indianos de maior renda e acesso a educação igualmente não frequentam o Centro da cidade.

É isso. O Centro de Durbã está absolutamente degradado.

O grosso do transporte coletivo em Durbã são é por vans, quase todas brancas e Toyotas.

Há situações complicadas na questão de limpeza e segurança públicas mesmo de dia, e a noite então é melhor nem pensar.

Assim os burgueses, de todas as raças (brancos, negros e indianos) moram e trabalham em subúrbios.

Exatamente a moda estadunidense, afinal ambos os países são de colonização britânica.

Próximas 2: terminal central – não-integrado – de Durbã. Fora da hora do pico é usado mais como garagem, diversos ônibus ficam horas parados, sem motorista – a maioria velhos, lá eles curtem Tribus (carros de passeio também ficam estacionados). Serve igualmente de abrigo de sem-tetos, salão de bilhar, camelódromo e depósito de mercadorias.

Entretanto nos EUA a classe média-alta mora em subúrbios mas durante o dia ainda frequenta o Centro, pois os escritórios comerciais ainda são lá.

Na África do Sul o processo de segregação – agora não mais racial, mas social – está mais avançado:

Ali os ricos e a alta-burguesia não apenas geralmente já não moram mais na Zona Central há muito como os escritórios também foram transferidos pros subúrbios.

Há exceções, já falamos delas. Mas no geral funciona assim:

Passageiros são raros, pouca gente usa ônibus.

No Centrão de Durbã, só negros e indianos da classe trabalhadora.

Há brancos de classe trabalhadora nessa cidade? Sim.

O fiscal ferroviário, por exemplo, que veio me avisar que o trem ia recolher naquela estação.

São pouquíssimos, então se você andar no Centro vai ser difícil ver um deles.

Boa parte das viações independentes são de indianos, a decoração dos ônibus de Durbã é um espetáculo a parte. Outra coisa: repare ao fundo uma pessoa levando volumes na cabeça.

Uma hora vai acontecer, mas é raro.

Quase todos os brancos são da burguesia e elite, portanto não passam a muito pelo Centro, que não lhes agrada.

Amigos, repito, não é questão de pele mas de conta bancária.

Os burgueses, sejam negros, indianos ou brancos, não pisam por ali há décadas.

Nem pretendem fazê-lo tão cedo, pois a coisa está bem complicada.

Fim-de-tarde de sábado ensolarado, a praia bombou. Aqui é o terminal (não-integrado) da Praia Sul. Quem mora na Zona Central pega o ‘Move-Gente’, o ônibus a esquerda na foto. Enquanto que aqueles que vivem nas vilas e morros da periferia vão de van.

Em Joanesburgo é exatamente igual, com a diferença que em Joburgo há poucos indianos, então no Centrão só há africanos nativos mesmo.

No Cabo é diferente. No Cabo há muitos brancos e muitos burgueses (de todas as raças) no Centro, como já detalhei em mensagem própria.

Aqui nosso foco é Durbã, com seu Centro segregado.

A questão é que é uma auto-segregação que a burguesia se impôs, e não tem a ver com a pele mas com o bolso.

Pois não há mais ‘apartheid’ político, só ‘apartheid’ social, que não tem regras escritas:

Durbã, “Cidade das Cobras“: há uma série de TV sobre um casal durbanita que é especialista em apanhar serpentes.

Quem pode pagar mora e trabalha em lugares melhores, quem não pode pega o que sobra.

CENTRO SEGREGADO, PRAIA INTEGRADA –

Porém a orla é integrada. Na praia, pessoas de todas as raças e classes convivem em harmonia.

Entretanto a convivência entre proletários e burgueses não ultrapassa a beira-mar.

E por falar em veneno, olha só o que vende no Mercado Indiano de Durbã, o… ‘Exterminador de Sogra”!!!! Problemas com a mãe de sua pessoa amada? Dá uma passadinha lá, eles resolvem. Se ficar com remorsos depois, também oferecem o “Amor de Sogra“: a gosto do freguês é isso, não?

Explico. Na Praia Sul nas areias, no calçadão da praia e nos bares e restaurantes caros do entorno todas as raças se misturam sem problemas.

Muita gente toma banho de roupas, é uma coisa curiosa (em Acapulco/México presenciei o mesmo).

É costume na Índia as mulheres entrarem no mar completamente vestidas.

Nunca fui até lá, mas o ‘Google’ já filmou algumas cenas.

Em Durbã vi com meus próprios olhos: as mulheres indianas não usam maiô ou biquíni jamais.

A DIVA DE DURBÓ: Uma indiana no Oceano Índico (publicado em 11 de maio de 2017).

Só se banham de vestidos. Até desenhei uma mulher Indiana na água de roupa e tudo nas praias da cidade.

Muitos (mas aí já não todos) homens indianos e negros de ambos os sexos têm o mesmo costume.

Então na areia e no mar, e mais o calçadão, a entrada é livre e aberta a todos (ao contrário da República Dominicana).

Depois que o regime racista do ‘apartheid’ caiu ninguém mais pode ser barrado das áreas públicas, óbvio.

Assim ali todas as raças e classe convivem. Já nos restaurantes todas as raças convivem sim, mas as classes não.

Cabras na periferia de Durbã: a vida da maioria dos negros ainda é muito difícil, esse animal (muito resistente que exige pouca comida e água) ajuda a África a sobreviver, fornecendo carne, tecido, renda e mesmo uma ocupação pra muitos – além disso o bicho guarda a casa como um cão.

Pois ali o critério não é melanina mas sim qual o tamanho da conta que seu cartão pode aguentar.

Os burgueses após o banho de mar (ou entre um banho e outro) vão ali pra comer um petisco, bebericar, ou almoçar e jantar.

Pessoas de todas as raças e cores de pele. Estava num restaurante da orla de Durbã, e era curioso:

Nas próximas 4 mesas haviam 2 famílias de negros, 1 de brancos e 1 de indianos. Inclusive na orla vemos muitos casais inter-raciais.

Esse navio na Praia Sul foi transformado em restaurante e casa noturna (o público “não tem problemas de caixa”, pelas roupas das pessoas que entravam).

No entanto entre os frequentadores do restaurante todos de renda mais elevada.

Os mais pobres, de todas as raças, após o banho de mar vão embora sem essas regalias, que não cabem em seus bolsos.

Findo o dia de lazer na praia, se dirigem ou a pé pra casa os que moram nas imediações, ou aos pontos de vans, que os levam pra periferia.

Já os endinheirados, após um choppinho no restaurante que ninguém é de ferro, voltam de carro pra suas luxuosas residências.

Em Durbã há a Praia Sul, que é perto do Centro, nos fundos do porto. E a Praia Norte, já indo pros subúrbios.

Estádio. Aqui foi disputada uma das semi-finais da Copa do Mundo de 2010.

‘Subúrbio’ no sentido estadunidense do termo, região elitizada só de casas.

Posto que a África do Sul segue o modelo ianque de urbanização.

Então a Praia Sul é uma região proletária, um pouco degradada, moradia da classe operária.

Próximas 4: Praia Sul de Durbã, embora na orla um bairro popular. Repare a escada servindo de varal.

É habitada majoritariamente por negros mas não exclusivamente.

No prédio mesmo que fiquei vimos brancos e indianos, também moradores do local.

Há brancos e indianos entre a classe trabalhadora?

Acabo de dizer que sim. Mas a imensa maioria é de negros.

E a Praia Sul, embora em frente ao Oceano como o nome indica, é um bairro do povão, operário, com algumas características de gueto inclusive.

Mansão da Princesa em plena ‘Rua do Príncipe’??? Mas o estado do prédio não está tão nobre assim, né?, fala você.

Por isso apelidei a região de ‘Bronx a Beira-Mar’, em alusão ao bairro de Nova Iorque-EUA (onde eu também estive, no ano de 1996).

Assim a classe média-alta (de todas as raças) vai a praia sim, e frequenta comércio da orla.

Entretanto eles não passam do estacionamento.

Nunca adentram o bairro, não circulam sequer na beira-mar, pois essa não é chique.

A parte dos barzinhos e lojinhas que são na praia mesmo, logo em frente dela volta o padrão popular.

Por toda Áfr. do Sul estão mudando os nomes das ruas, de europeus pra africanos. Veja o ônibus ‘Move-Gente‘, uma espécie de Circular Centro.

E quem tem dinheiro geralmente foge da massa como o diabo da cruz, na África do Sul e toda parte.

Problemas políticos e sociais a parte (que na África do Sul são agudos, mas que permeiam esse planeta tão desigual, mesmo no chamado ‘1º mundo’) a Praia Sul de Durbã é uma delícia.

Assim que cheguei fui pra lá. E todos os dias que fiquei em Durbã (exceto um) fui novamente.

Estar imerso naquelas Divinas Águas do Oceano Índico foi uma Experiência Mística, me Senti Um com o Criador do Universo.

Já seguimos com o texto. Antes mais imagens do bairro da Praia Sul.

Estava anoitecendo, publiquei um ensaio mostrando o céu da África:

“DISNEYLÂNDIA EM DURBÔ: A VOLTA AO MUNDO EM UMA CANETA –

No texto continuo falando da caneta mostrada ao lado. Nas próximas 2 fotos: Jardim Botânico de Durbã.

Veja a caneta tri-color (azul, preto e vermelho sim, mas verde não, diferente das brasileiras) que comprei no Centro.

Escuta essa história como foi: eu sou brasileiro, obviamente.

E o vendedor é um grego que dorme ali mesmo, nas calçadas de Durbã.

Não indicava, mas com 99% de chances a caneta é chinesa.

Assim, um morador da América (que é um continente, não um país, não preciso te lembrar) andando nas ruas da África compra de um sem-teto branco, que é nativo da Europa, um artefato feito (prov.) na Ásia.

Tá bom pra ti ou quer mas???

KlaarWater, na periferia: as favelas sul-africanas não têm saneamento básico, as mulheres usam uma torneira comunitária e levam a água pra casa em baldes sobre a cabeça (no fim do texto falo mais disso).

Tá bom, né? Na Zona Oeste de Curitiba, mais precisamente no bairro Santo Inácio, eu fotografei algo similar:

Um carro do Paraguai que fazia campanha na eleição dos EUA.

Nesse caso foram 3 países, mas 1 só continente. Aquele dia no Centro de Durbã foi igual, só que ao cubo:

Estavam envolvidos na transação 3 países, talvez 4 (Brasil, África do Sul e Grécia, talvez China se a caneta for mesmo de lá).

Próximas 3: ‘Musgrave’, bairro aburguesado num morro ao lado do Centro (nessa ainda estou  no Centro, alias, e vendo ‘Musgrave’).

De pelo menos 3 continentes diferentes, América, África, Europa, e quem sabe Ásia.

Definitivamente, entramos na ‘Disneylândia’ dos Titãs.

Só faltou aparecer o Mickey e a Minnie.

……..

Aqui e a direita estou em ‘Musgrave’ (sob chuva): sobe a Mercedes, desce um Golf Citi, carro mais vendido da história da Áfr. do Sul.

Como já dito, a África do Sul segue o modelo ianque de urbanização.

Digo, como ali é 3º mundo, todas as cidades estão coalhadas de favelas.

Como é o padrão no Brasil, América Latina, África e Sul e Sudeste da Ásia.

Na África do Sul é o mesmo, as favelas são bastante frequentes.

Outra Mercedes cinza, prédio em ‘Musgrave’. Mas… 8 camadas de cerca elétrica???

Porém fora elas o padrão geralmente é a classe trabalhadora mora no Centro e ao redor dele, os burgueses em subúrbios afastados.

Em Joanesburgo e Pretória totalmente, com exceção claro das favelas de Joburgo, que se incrustam as vezes ao lado das partes mais caras da cidade.

Por serem no litoral, tanto o Cabo quanto Durbã têm bairros burgueses centrais, como é o padrão na América Latina.

Aqui e a direita: prefeitura da cidade, instalada nesse prédio colonial no Centrão.

Em Durbã, se você está no Centro e pegar a antiga Rua Berea (agora renomeada com nome de um negro, estão fazendo isso por todo país) e subir o morro chegará ao bairro Musgrave.

A pronúncia é algo como ‘Másgreive’. Seja como for, é um bairro de elite e alta-burguesia central, parecido como é aqui na América.

E ‘Musgrave’ não é na orla. Logo aqui já se quebrou por um lado o padrão estadunidense de urbanização:

Há pessoas da alta burguesia próximo ao Centro. Na periferia ocorre outra quebra de padrão.

Durbã, enfatizo de novo, tem favelas e periferias em morro.

Muitas e muitas delas, fui num dos bairros mais emblemáticos da cidade nesse sentido, chamado ‘KlaarWater’.

Saí de lá de camburão, ao lado a foto que tirei dentro da ‘caçapa’ dos detidos.

Acontece que eu não fui preso, os policiais me deram uma ‘carona’.

Porque acharam que era muito perigoso eu voltar de trem suburbano (conto a história completa nessa outra mensagem).

Manequim escrachado, dando uma gargalhada. Em Belo Horizonte-MG vi o mesmo, mas não consegui clicar. Em compensação, em B.H. fotografei a versão masculina, um manequim com uma respeitosa barriga de cerveja.

Pro que nos interessa aqui, Durbã tem favelas e periferias em morro, a única metrópole da África do Sul que isso ocorre.

No Cabo são os milionários que moram nos morros (como na Califórnia/EUA), e Joanesburgo e Pretória não tem encostas muito pronunciadas na área urbana.

Portanto Durbã se parece muito com a América Latina, pro bem e pro mal.

Durbã tem uma urbanização híbrida, digamos assim: um meio termo entre o modelo anglo-ianque (os mais humildes no Centro, os mais abastados nos subúrbios) e latino-americano (o inverso).

Próximas 2: Mercado Indiano de Durbã (onde vende o ‘Exterminador de Sogra’). No Centrão de Durbã há poucas áreas de lazer, o menino joga bola na rua – os negros sul-africanos amam futebol, nem ligam pra ‘rugby’ que é a paixão dos brancos.

Assim todo mundo se sente em casa, não é mesmo?

……….

Falei que o bairro Praia Sul, por ser colado ao Centro, não é elitizado.

De fato assim é. Mesmo na beira-mar mesmo os prédios são populares, muitos decadentes.

Por exemplo, onde fiquei, a duas quadras do mar, na portaria há dois bloqueios:

A porta de entrada a rua e depois pra subir pros apês há outra porta, que necessita outra chave.

E mesmo assim praticamente todos os apartamentos tem uma segunda porta de grade, e há grades nas janelas, pra evitar arrombamentos. 

Isso com portaria, onde o porteiro só deixa entrar gente autorizada. Daí vocês calculam como é o bairro.

Mas a Praia Norte é diferente. Já mais afastada do Centro, tem o padrão bem mais alto.

Ali já há vários edifícios de luxo, pra elite, ou pelo menos pra classe média-alta.

Na Praia Norte um brasileiro já sente mais em casa, vendo na beira-mar e imediações comércios, restaurantes e residências elegantes, como estamos acostumados aqui.

………..

A esquerda e na sequência abaixo: bairro ‘Musgrave’, sobre o qual já falamos. Repare nas ruas arborizadas.

Sem-teto branco pede ajuda no sinal. Vi vários caucasianos esmolando em Durbã. Um deles (não o da foto) tinha o seu ‘ponto’ na quadra que ficamos. Num dia que choveu muito desde cedo fui andar pela cidade, antes fui a praia. Ela estava deserta pelo toró, é claro, exceto por esse rapaz, que estava sozinho na areia, ensopado, contemplando o oceano.

O município de Durbã abriga pouco mais de 600 mil homens e mulheres. Na Grande Durbã são 3,5 milhões.

Pois seguindo ainda mais uma vez o modelo ianque, os municípios centrais são pequenos.

Vários bairros colados ao Centro que aqui no Brasil seriam parte do núcleo lá são municípios independentes.

O exemplo é Berea, que citei acima. Saindo do Centro de Durbã, não dá mais que 20 minutos a pé. Mas é outro município.

O bairro ‘Musgrave’, mostrado na sequência acima e também mais pro alto na página, pertence ao município de Berea.

Dizendo mais uma vez, somando a região metropolitana são 3,5 milhões de durbanitas. Portanto mais ou menos o mesmo tamanho da Grande Curitiba

Alias Durbã e Curitiba são Cidades-Irmãs. Eu não sabia disso até ir pra lá. 

Mas a ampla maioria dos pedintes é de negros, nessa esquina são dois e mesmo debaixo de muita chuva. Da raça que forem, na África do Sul eles sempre juntam as mãos assim, em súplica.

Bem no Centrão de Durbã passei em frente a prefeitura, e vi a placa que indicava isso e também a distância: 7756 km separam as das metrópoles.

Me foi uma grata surpresa, afinal eu encarnei em Brasília-DF mas vivo em Curitiba há 38 anos.

………..

Os portugueses foram os primeiros europeus a passar pela região, quando começou a era das “Grandes Navegações” no século 15.

Veja as pessoas no Centrão, todos negros.

A coroa lusitana tentou dominar todo o Sul da África, daí o estabelecimento das colônias de Angola e Moçambique, uma de cada lado da África do Sul.

Mas o território sul-africano os lusos não conseguiram conquistar.

Próximas 5: Centro de Durbã, destaco o Golf Citi (Golf 1, que não foi vendido no Brasil).

Ainda assim, sua passagem lá deixou raízes. Até hoje há muitas palavras oriundas do idioma português no léxico sul-africano.

Em 1497 Vasco da Gama (aquele mesmo que nomeia o time de futebol carioca) navegou pela costa da África a caminho da Índia.

No Natal daquele ano ele aportou numa baía, e nomeou a região de, bem, ‘Natal’.

Quando os ingleses dominaram a região denominaram a cidade como ‘Port Natal’.

Sim, misturando os idiomas. Pra maçonaria, esse ainda é o nome da cidade, passei em frente a uma de suas Lojas, e assim estava grafado.

No começo do século 19 o general inglês Benjamin d’Urban envia expedição pra tomar posse definitiva da região.

Em várias partes há muito comércio ambulante.

Trata-se do governador do Cabo do outro lado do país como já dito, depois a cidade viria a ter seu nome.

Em 1824 surge o povoado, pela contagem europeia (pois os negros já habitavam a região a dezenas de milênios).

Em 1835, numa massiva ampliação e urbanização, nomeiam a urbe como Durbã, pra tentar consolidar o domínio britânico.

Os clientes escolhem as roupas de uma pilha no chão. Isso é Durbã, amigos.

Pois então havia litígio pela posse tanto com os boêres (descendentes de holandeses) quando com os africanos nativos.

Bem, os próprios negros antes da chegada dos brancos também guerreavam muito entre si.

O aeroporto de Durbã se chama ‘Rei Shaka‘.

E Shaka, rei Zulu, ficou famoso e soberano da região por ter inventado um escudo mais resistente as lanças inimigas.

Na África do Sul há salões de beleza em plena via pública. Algumas cobertas com uma tenda, por vezes nem isso.

Com isso ele aniquilou a resistência e dobrou a seus pés as outras tribos negras.

Mas quando os brancos chegaram seus escudos pouco puderam fazer contra as carabinas.

Houveram muitas batalhas sangrentas, os negros venceram algumas, mas no fim os bôeres prevaleceram. 

Aqui ainda estamos no começo do século 19, os africâneres/boeres havia migrado pra leste porque a Inglaterra havia anexado a força a Colônia do Cabo no oeste no fim do século 18.

Próximas 9: vamos ver a praia de Durbã (a Praia Sul). Aqui uma escola de surfe.

Mais precisamente em 1795. Em 1804 a Holanda recupera o Cabo, mas o perde em definitivo em 1806.

Dominada a Costa Atlântica, a Coroa Britânica mira a Costa Índica.

Na 1ª metade do século 19 a Inglaterra tenta também a anexação de Porto Natal.

Praia integrada, todas as raças e classes se misturam – repare como os brancos sul-africanos são brancos mesmo, quase todos loiros de olhos claros.

A princípio perdem, e têm que se refugiar numa fortaleza hoje chamada ‘Velho Forte’.

São sitiados e fortemente atacados pelos holandeses, mas resistem, e com a chegada de reforços vencem o conflito.

Uma das expedições que determina o triunfo inglês foi a enviada pelo general inglês Benjamin d’Urban.

Em 1844, sob a força das armas, os boêres capitulam, e Porto Natal passa pro domínio inglês.

Apenas o atual norte da África do sul se mantém holandês, onde eles (os holandeses) fundaram dois países que na época foram reconhecidos como soberanos e independentes:

O ‘Estado Livre Laranja’ e a chamada ‘República do Trans-Vaal’.

Porém na virada do século 19 pro 20 a Inglaterra ataca ali também, perde a primeira ‘Guerra dos Boêres’ (1880).

Entretanto vence a segunda, e em 1899 domina toda a atual África do Sul.

Mulher observa o companheiro remar um caiaque, esporte muito praticado entre os brancos (fotografei o mesmo no Cabo).

Já falamos melhor disso em outra mensagem. Aqui é só pra recordarmos como a cidade acabou sendo chamada ‘Durbã’.

E os negros a conhecem por ‘eThekwini’, que significa ‘baía’ na língua local.

Alias nos idiomas zulus muitas vezes a letra maiúscula não é na inicial da palavra, e sim no meio. É o caso aqui.

Quando caiu o ‘apartheid’, a África do Sul ficou num difícil dilema: 

A beira-mar não é chique, os prédios são velhos, vários decadentes.

Como renomear suas cidades, estados, e mesmo os logradouros, homenageando os negros nativos mas sem apagar de todo o que foi construído pelos brancos?

O ‘Estado Livre Laranja’ já não era mais um país independente.

Ainda assim manteve na época do ‘apartheid’ o mesmo nome, já como estado (‘província’) da África do Sul.

Comércio e restaurantes (pra quem pode pagar).

Pois bem. No pós-‘apartheid’ ele virou só ‘Estado Livre’, o ‘Laranja’ se foi, pois essa é a cor da Família Real Holandesa (daí o uniforme da seleção de futebol).

O antigo estado do Trans-Vaal foi desmembrado em 4 novos estados.

E um se chama ‘Noroeste’, mas os outros 3 têm nomes africanos: Limpopo, Mpumalanga e Gauteng.

O antigo estado do Natal virou KwaZulu/Natal, refletindo a incorporação do ‘bantustão’ KwaZulu.

As cidades maiores mantiveram seus antigos nomes europeus.

Por outro lado as regiões metropolitanas adotaram nomes africanos em alguns casos.

Na África do Sul, como nos EUA, existe uma 4ª esfera de governo.

Que se situa numa posição intermediária entre o município e o estado.

A 1 quadra do mar, essa galeria de comércio pro povão – com grafia inglesa, ‘centre’.

Trata-se de uma ‘prefeitura metropolitana’, o ‘condado’ dos estadunidenses.

Pois bem. A prefeitura metropolitana de Pretória se chama agora ‘Tshwane’.

Em Durbã é o mesmo, o município se manteve, mas a Grande Durbã atualmente se denomina ‘eThekwini‘.

………..

Mais imagens. Na galeria horizontal abaixo o Centro de Durbã.

“Viagem na Escuridão”: a Estação Central de Trens de Durbã, vista também a direita.

Durbã é o reduto dos ingleses na África do Sul.

No Cabo os africâneres ainda tem um papel muito preponderante, embora politicamente a Inglaterra tenha anexado o Cabo (e toda África do Sul) no século 18.

Ainda assim, no Cabo há mais brancos que no resto do país, e há mais boêres que ingleses.

No Cabo, mesmo um porção significativa dos negros e mulatos fala africâner como sua língua-atal, o que não ocorre em outras partes da nação.

A África do Sul tem extensa rede de trens de subúrbio, mas eles não funcionam nada bem.

Por isso o Cabo se manteve tri-língue, toda comunicação oficial é em inglês (a língua franca, entendida por todos), africâner e xhoza.

No Centro-Norte do país (Gauteng e região) há um equilíbrio, entre os brancos os ingleses já são maioria.

Ainda assim há muitos boêres, especialmente no campo e pequenas cidades, mas mesmo nas metrópoles.

Entretanto, em KwaZulu/Natal, os africâneres são muito poucos.

A Estação vista de fora.

Assim, essa língua foi praticamente banida da esfera pública, as comunicações oficiais são em inglês e zulu.

Em 1960 em plebiscito nacional (apenas os brancos puderam votar) por pequena margem são cortados em definitivo os laços com a Inglaterra.

Proclamada a ‘República da África do Sul’, a monarca em Londres enfim deixa de ser a chefe de estado sul-africano.

Carrinho velho bem-conservado, e o Mercedes da Izabel (na Áfr. do Sul você pode personalizar a placa, como nos EUA) na Praia Sul.

A província (estado) de Natal (atual Kwa-Zulu/Natal depois da incorporação do bantustão Kwa-Zulu) foi a única a votar ‘não’.

Pois ali os ingleses sendo maioria queriam permanecer ligados formalmente a Inglaterra.

A ÍNDIA NA ÁFRICA –

O Jóquei Clube, dentro da pista um campo de golfe (na Áfr. do Sul há infinitamente mais campos de golfe que no Brasil, a elite anglicizada de lá adora esse esporte).

Como já escrevi antes: “São quase 3,5 milhões de habitantes da região metropolitana de Durbã.

E quase um milhão (perto de 900 mil pessoas) têm ascendência na Índia.

O que torna Durbã ‘a maior cidade indiana do mundo fora da Índia‘.

Bairro ‘KlaarWater’: na periferia de Durbã as pessoas não batem em bolinhas com tacos, aqui o jogo se chama ‘Sobrevivência‘.

Andando pela cidade, é comum vermos templos da religiões indianas, derivadas do hinduísmo.

Os indianos foram levados pela Inglaterra pra trabalhar como semi-escravos na África do Sul na virada dos séculos 19 pro 20.

Pois tanto a África do Sul quanto a Índia eram então parte do Império Britânico “onde o Sol nunca se punha”.

Logo, em todo começo do século 20, até após a metade dele, a vida da imensa maioria dos indianos era bastante difícil.

Refrigerantes, a do caminhão é na cidade do Cabo. Alguns detalhes: 1) na África do Sul, como nos EUA, eles entregam refri de carreta, porque a demanda é gigantesca!; 2) quase 100% das carretas nesse país são cara-chata (igual no Brasil) e 90% são brancas; 3) São 2 Mercedes na foto, o carro estrelado antigo é uma paixão de lá; 4) a Coca é oni-presente, a Pepsi existe mas é bem difícil achar; 5) lá o caçula (200 ml) é em lata, e não em vidro, mas existe a lata normal de 330 ml; e 6) ‘Coo-ee’ (fala ‘Cuí) é uma marca local.

Tanto quanto os negros nativos, pois sofriam o mesmo ‘apartheid’.

Portanto indianos e negros tinham os mesmos direitos, ou seja nenhum direito.

Mas nos anos 70 os brancos sentiram que o ‘apartheid’ caminhava pro final.

Aí começaram a dar alguns direitos aos indianos – mas aos negros não, na clássica técnica de ‘dividir pra dominar’ as classe oprimidas.

E não chegam mais novos indianos muito pobres da Ásia.

Tudo somado os descendentes de indianos sul-africanos começaram a se aburguesar.

As meninas ainda usam saias de uniforme escolar.

Hoje em Durbã a maioria dos indianos é de classe média e média-alta.

Moram boa parte deles em subúrbios a moda ianque.

Vários desses bairros de burguesia e elite são exclusivos ou majoritariamente indianos. ‘Exclusivos’ por uma questão cultural, e não legal.

Após o fim do ‘apartheid’ ninguém pode ser impedido por lei de morar em nenhum bairro sul-africano.

Só que por costume nos países anglo-fonos as pessoas de mesma raça preferem morar juntas.

Assim, vários subúrbios são dominados por indianos. Eles se especializaram em alguns nichos da economia:

Mercadinhos e mercearias, por exemplo. Outra coisa, o transporte coletivo em Durbã ainda não foi modernizado.

Placa do ‘apartheid’, com a rua em inglês (‘rd.’) e africâner (‘weg’). Hoje o africâner foi quase banido da vida pública de Durbã.

Há uma rede de trens extensa mas que funciona precariamente.

Não há metrô nem sistema de ônibus ‘expressos’, com articulados em corredores exclusivos.

O transporte em Durbã ainda é feito basicamente por vans, o modal principal.

E em segundo lugar por dezenas de pequenas viações de ônibus.

A esquerda uma placa antiga do ‘apartheid’, bi-língue inglês e africâner. A direita uma atual, além desses idiomas acrescentaram dois africanos.

As vans são operadas pelos próprios negros, o público delas também é quase 100% de negros.

Existem, repito, uma infinidade de pequenas viações de ônibus.

A maioria delas opera apenas uma, duas, três linhas no máximo.

Dispõem de algo entre 5 a 20 veículos (muitos deles muito velhos).

Característica da Áfr. do Sul, cartaz com a capa dos tablóides. São gradeados pra não colarem cartazes por cima. Em inglês, explorando a crise política que o país estava mergulhado em 2017 (o presidente Zuma acabou sendo impedido poucos meses depois) e outro em língua nativa falando de futebol, Orlando Piratas x Kaiser Chiefs é o clássico nacional.

Ligam o bairro que estão sediadas ao Centro. Sem integração.

Então, essas empresas geralmente são de indianos. Um negócio fechado e familiar, passa de pai pra filho.

Discorro sobre o transporte sul-africano em matéria específica, com dezenas de fotos.

Aqui é só pra dar um apanhado em Durbã.

O comércio no Centro também tem vários de seus ramos dominados por indianos.

Na ‘Praia Norte’ de Durbã a presença indiana é muito marcante.

Supermercados sul-africanos, lá ainda há marcas que existiram no Brasil, mas o grupo Pão de Açúcar eliminou: Jumbo e Peg-Pag. ‘Pick’n Pay’ quer dizer exatamente ‘Peg-Pag’, e o lema do Jumbo é parecido: ‘Pague e Leve’. Na foto abaixo vemos a ponta de letreiro da Shoprite (o ‘ite’), outra grande rede sul-africana.

(Acima falamos melhor da diferença entre as Praias ‘Sul’ e ‘Norte’.)

Ali vemos muitas mulheres de burca, aquela veste tradicional muçulmana.

Espera aí: se a Índia é basicamente hindu, por que tantos muçulmanos ‘indianos’?

É que a ‘Índia’ das época que a Inglaterra fez essa migração em massa compulsória é diferente da Índia atual.

Antigamente era bem maior, incluía os atuais Paquistão e Bangladesh. E esses 2 são majoritariamente muçulmanos.

Logo é comum vermos nas ruas e praias de de Durbã mulheres de véu e mesmo de burca (aquela roupa que só mostra os olhos)!!!

No resto da África do Sul encontramos isso também, mas bem menos, mais difícil.

Porque os negros nativos sul-africanos não são no geral muçulmanos.

Claro, alguns se convertem a essa religião. Mas poucos.

A maioria dos muçulmanos sul-africanos são ou imigrantes de outros países da África (os negros) ou descendentes de indianos.

Os ‘indianos’ (que incluem também paquistaneses e bengalis) se concentram em Durbã.

Pássaros, talvez nativos da África, pois emitem um canto diferente, que nunca ouvi no Brasil.

Resultando que é nessa cidade que você vê mais mulheres usando burcas.

……

Já concluo o texto. Vejamos a Praia Norte, mais elitizada que a Sul.

Praia Norte e sua concentração de indianos, o casal a direita ambos cobrem a cabeça.

Durbã está localizada na Costa Leste do país, na orla do Oceano Índico.

Suas praias são bem mais agradáveis que as da Cidade do Cabo.

Porque são ao mesmo tempo de águas quentes e ondas fortes.

Centro de Durbã, prédio de indianos, veja o símbolo do ‘OM’ dentro do círculo.

Explico. No Cabo é um ou outro, é preciso escolher:

As águas de mar aberto são geladas. Congelantes, não tem como entrar dentro.

E as praias de baía, cuja temperatura é agradável, não têm ondas.

O Cabo da Boa Esperança (que divide os Oceanos Índico e Atlântico e nomeia a cidade) recebe um corrente do Pólo Sul.

Mercadinho de propriedade indiana.

Por conta disso, pinguins aparecem com frequência na costa africana.

Assim, digo de novo, as praias de mar aberto não permitem banhos de mar exceto nos meses mais quentes do verão, dezembro e janeiro.

Na Zona Leste da cidade há praias numa baía, essas são de águas quentes.

Praia Norte e sua feirinha de artesanato: essa não é popular, e sim pra burguesia e turistas.

Só que aí, obviamente, piscininhas, sem ondas.

Isso ainda estou falando da Cidade do Cabo, do outro lado da África do Sul, em sua Costa Oeste.

Em Durbã, na Costa Leste, é exatamente o oposto: praias deliciosas, mar em temperatura agradável, e com ondas.

Uma nota sobre isso: já conheci uma boa parte do Brasil e da América.

Universidade da África do Sul.

Por outro lado, em minhas 4 primeiras décadas, jamais havia saído do continente, nunca havia cruzado o Oceano.

fiz 40 anos em Joanesburgo. Meu primeiro dia dessa nova década foi o primeiro dia fora da América.

No dia seguinte fui a Durbã. Assim que cheguei….pus uma bermuda e fui direto pra praia!

Em algumas partes da cidade há lixo nas ruas.

Assim, com 40 anos e 1 dia completei um ciclo, entrei em todos os Oceanos de água quente da Terra:

Atlântico, Pacífico e Índico, o Ártico não conta pois é congelado a maior parte do ano.

Conheci o Oceano Índico. Que em inglês, a língua local, é chamado ‘Oceano Indiano‘.

Na Praia Sul há hospital público. As pessoas na grama aguardam o horário de visitas.

Pra uma cidade que é a ‘Índia na África’, nada mais apropriado, não?

A África do Sul é mesmo o ‘mundo num só país’, antigo lema nacional que re-utilizei.

Seus brancos são caucasianos mesmo, normandos, não há miscigenação (bem, até os anos 80 essa era legalmente vetada).

Próximas 2: praças na Zona Central.

Brancos puros, pele alvíssima, olhos e cabelos igualmente claro na imensa maioria.

Sem nunca ter ido a Europa, na África do Sul eu soube de certa forma como é estar na Europa.

Sem nunca ter ido a Ásia, em Durbã eu me senti na própria Índia.

E, na sua periferia, também na América, pelas favelas em morro.

LATA D’ÁGUA NA CABEÇA –

Pra fecharmos com chave de ouro, adiciono material publicado em junho de 2014.

Todos já vimos aqueles famosos quadros em que mulheres negras levam pesados volumes na cabeça.

Em latas ou bacias, muitas vezes sem usar as mãos pra ajudar no equilíbrio.

Alguns pensam que é folclore, ficção, um meio poético e artístico de imaginar algo que não existe. Pois bem. Não é ficção, é a realidade.

África do Sul, 2017.

A direita notam que fotografei a mesma cena nas Zonas Centrais de Durbã e Joanesgurgo. Sem segurar!!!

Quase 4 anos antes de ir a África, fui a “África na América”, que é a República Dominicana evidente.

No Centro de Santo Domingo – capital desse país como sabem – comprovei que de fato as mulheres negras andam pelas ruas com pesadas latas na cabeça.

Na foto abaixo a prova, que cliquei na Cidade ColonialCentro Velho de S. Domingo, 1ª povoação europeia na América.

Santo Domingo, República Dominicana, 2013.

Uma colega que esteve na África confirmou. Ela escreveu:

”    Em Mindelo (que pertence a Cabo Verde, nação 100% insular) eu vi muiiiitas pessoas levando cestas e cestos carregados na cabeça, de frutas e outras coisas p/ vender, de tralha p/ carregar, tudo….    ”

Repetindo mais uma vez, muitas das periferias da África do Sul ainda não têm saneamento básico.

As moradias não contam com abastecimento de água, que têm que ser buscada numa bica (torneira pública, na verdade) na entrada da favela.

Coisa de mulher negra.

E dali as mulheres levam pra casa em latas – que vão sobre a cabeça, claro. Digo, não apenas mulheres, alguns homens também.

Na África ou América, pessoas de ambos os sexos, negros ou mulatos, andam com latas e bacias na cabeça, carregando de tudo, pra todos os fins.

Embora não exclusivamente, ainda assim quase todas mulheres.

Então aqui vai mais essa homenagem a Mama-África, e seus Filhos espalhados pela diáspora.

Deus proverá.       

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.