S.P. em P.&B.: o melhor e o pior do brasil, a poucas quadras de distância um do outro
por Maurílio Mendes, O Mensageiro
publicado em 28 de maio de 2018
São Paulo.
Principal metrópole financeira da América Latina. Uma cidade riquíssima.
Que concentra em sua região metropolitana uma proporção desproporcional do PIB do Brasil.
Muita abundância, que se traduz em modernidade e amenidades pra sua imensa porção de classe média-alta.
Sobrando um pouco dessa prosperidade até pra periferia.
O sistema de transportes, por exemplo, vem se modernizando muito depois da virada do milênio.
E se ainda fica longe do ideal inegavelmente está infinitamente melhor que era até os anos 90 (já falaremos melhor disso).
Por outro lado, a Zona Central está em estado de calamidade em alguns pontos de tanta gente morando na rua.
Isso tem levado a múltiplos conflitos, em diversas dimensões.
O Centro de São Paulo em alguns pontos está semi-destruído.
Parece que já passou por uma severa hecatombe nuclear.
É com muito pesar que falo isso, pois eis uma cidade que Amo muito, do fundo de meu Coração, e a qual fui e sou ligado desde a infância.
Tanto que a página tem uma seção especial só pra Homenagear a maior metrópole brasileira.
Onde agrupo tudo que já escrevi (e desenhei, e fotografei) sobre lá.
………
Nasci em Brasília-DF entretanto morei toda minha vida em Curitiba.
Ainda assim, já fui bem mais de uma centena de vezes na minha vida a SP.
Essa matéria que você está lendo agora é fruto de uma viagem realizada no final de janeiro de 2018.
Na ocasião, fui também a Vila Carrão, na Zona Leste.
Essa porção oriental da cidade já foi mostrada num ensaio a parte.
Então agora vamos ver a Zona Central e um pouco de Moema, na parte rica da Zona Sul.
PARTE 1 – APOCALIPSE AGORA:
A BARRA-PESADÍSSIMA NO CENTRÃO E IMEDIAÇÕES
Iniciamos nossa jornada. Cheguei a capital paulista de ônibus Cometa no meio da tarde.
E segui a pé pro meu destino, que era Moema (na Z/S como todos sabem).
Foram 3 horas caminhando sozinho, desbravando as entranhas da metrópole.
Em Sampa tudo é recorde, tudo é superlativo. Veja a esquerda, minha primeira visão da cidade:
12 pistas de rolagem num único sentido na Marginal Tietê!!! Exagero??? Bem-vindo a São Paulo, irmão.
Já fiz ensaio fotográfico mostrando essa mesma Marginal e o comecinho da Dutra.
Foi produzido quando ali passei a caminho de Aparecida (“do Norte”) – a “Cidade da Fé” – no interior do estado, em julho de 2016.
As 12 pistas (de cada lado!) da Marginal foram minha primeira visão.
A segunda foi que mais uma vez constatei que diversas praças na Zona Central viraram acampamentos permanentes de sem-tetos.
Veja de novo a 3ª foto da matéria, mais pra cima na página.
Até mesmo as ilhas da Marginal estão ocupadas dessa forma (‘ilhas’ é o espaço entre as alças dos viadutos, o rio não tem ilhas dentro d’água, óbvio’).
Já que estamos falando de pessoas que moram na rua, uma nota:
Não vou entrar no mérito da discussão entre esquerda e direita sobre se a culpa é somente da sociedade e não do indivíduo, por um lado, ou somente do indivíduo e não da sociedade, por outro.
Estou só reportando os efeitos, sem adentrar nas causas. O que é fato é:
A Zona Central de São Paulo está em estado de calamidade por conta desse problema.
Assim que cruzei a Marginal e adentrei a Av. Cruzeiro do Sul presenciei o final de um confronto entre a Guarda Civil e os craqueiros que infestam aquela região.
Não vi cenas de violência, felizmente, porque a operação estava terminando.
Cerca de 20 ou mais viaturas policiais já deixavam o local quando cheguei.
Notei que eles haviam ter dado o famoso ‘bacolejo’ na rapaziada usuária de craque.
Uma das craqueiras estava enlouquecida (desculpe o pleonasmo).
A mulher, um farrapo humano de tão imunda, descabelada, desdentada, etc., gritava impropérios contra os guardas, e mostrava o dedo médio em riste.
Os policiais mostraram serenidade e a ignoraram, continuando a se retirar do local.
Deus Pai me poupou de presenciar um conflito violento, onde eu poderia receber até estilhaços.
Mesmo assim deu pra sentir o clima. Foi o ‘cartão de visitas’ da Zona Central da cidade.
……….
Claro que nem tudo na Zona Central é ruim. Boa parte dos bairros que cercam o Centrão de São Paulo são uma espécie de “periferia central“:
Uma região de moradias mais humildes. Não há problema algum nisso.
Não estou propondo nenhuma forma de elitização. Até porque seria difícil reverter essa tendência.
Em megalópoles como São Paulo os ricos se afastaram do Centro há décadas.
Não por outro motivo me espantei ao ver edifícios de elite no Centrão de Buenos Aires-Argentina, no bairro da Recoleta. Porque em São Paulo é o contrário:
Mesmo no coração da metrópole, o perfil é majoritariamente de classe trabalhadora, as pessoas vivem em casas e prédios muito velhos, a maioria sem garagem.
É o caso também de bairros como Brás, Mooca, Bexiga, Barra Funda, Bela Vista.
……..
Enfim, continuo a descrever meu passeio a pé. Veja a foto a esquerda.
Havia uma enorme aglomeração de sem-tetos no Anhagabaú.
Não fotografei mais de perto pra não chamar a atenção, por motivos óbvios de segurança.
A prefeitura instalou dezenas de banheiros químicos portáteis pra tentar minorar o caos, pra não ser ao ar-livre mesmo.
O Centro de SP está parecendo as piores favelas da África do Sul.
Não estou crucificando os moradores de rua como únicos culpados por essa lamentável situação que se tornou o coração da metrópole.
Creio que esses homens e mulheres em situação de risco sejam mais sintomas que a causa de uma sociedade profundamente doente que é como está nosso Amado Brasil hoje, infelizmente.
Portanto tampouco estou advogando qualquer solução violenta de remoção dessas pessoas a força.
Apenas que a situação está saindo do controle e todo mundo que pode está evitando o Centro isso é um fato também.
Sem apontar culpados nem ter a pretensão de de indicar uma solução, relato apenas o quadro como o testemunhei. E ele é tenebroso.
Veja o prédio invadido na foto acima a direita, e em escala maior acima a esquerda.
Que situação! E os varais comprovam que tem gente morando ali.
Indigno seria até como um canil pra animais. Absolutamente desolador ver pessoas viverem dessa forma.
A prefeitura, em parceria com algumas corporações quem sabe, deveria reformar esse edifício.
Pra que ele oferecesse condições mínimas de salubridade a seus moradores.
Fotografei exatamente o mesmo em Joanesburgo, inclusive os varais.
Eu disse que o Centro de São Paulo está parecendo os guetos (sul-) africanos.
Não apenas a África do Sul. Lembrei muito também de algumas cenas trágicas que vi na América Latina.
A direita pessoa revira o lixo perto da Rua 25 de Março.
Em busca de algo pra vender ou mesmo pra comer. Triste, muito triste.
Fotografei o mesmo em Joanesburgo e também em Buenos Aires.
O Centro de Sampa, em várias partes, está parecendo o de Acapulco.
Lá quem pode também já abandonou o Centro a muito.
Andando no Anhagabaú me voltavam as lembranças do México, que visitei em 2012.
Essa nação centro-americana também vive dias bem conturbados, em várias dimensões.
(Nota: sim, eu sei, oficialmente o México é América do Norte.
Mas se você analisar em termos sociais ele se parece muito mais com Guatemala e Panamá que EUA e Canadá, então eu grafo como Centro-América.)
Na capital México D.F. alias fotografei uma favela parecida com essa da Radial Leste que veem acima, nos dois casos invadiram as calçadas.
……..
A situação está complicada, e não é de hoje. Quando falo que passei a pé pelo Centro e presenciei tudo isso, as pessoas que moram lá em São Paulo mesmo se arrepiam.
Falam “como você teve coragem? Aquela região é muito perigosa”. E de fato é.
A questão é que talvez seja minha missão na Terra documentar essas ‘zonas vermelhas’.
Fiz isso nas centenas de cidades que já visitei, por boa parte da América e agora até da África.
Alias, dessa vez não foi nada, fiz esse trajeto de dia.
Em 2013, fui a Belém do Pará. Meu voo partiu e chegou de Cumbica/Guarulhos (na Grande SP, como é notório). Logo, fui de ônibus de Ctba. p/ SP. .
Cheguei a capital paulista no finalzinho da madrugada.
Estava noite alta ainda. E, a pé, sozinho e sem celular, eu fui andando, só eu e Deus.
Fiz o mesmo trajeto, do Tietê ao Centro.
Passei ali na Cracolândia, tudo escuro enfatizo mais uma vez. Não havia ninguém nas ruas.
E com minha mochila as costas, minha bagagem pra ir ao Norte do Brasil, e mais câmera fotográfica, dinheiro e cartão na carteira pra viagem.
Não senti medo. Senti a Proteção Divina, então prossegui.
Quando cheguei nas imediações do Terminal Metropolitano da Armênia (junto a estação de mesmo nome do metrô, antigamente chamada ‘Ponte Pequena’) começou a ter movimento.
A multidão operária desembarcava dos ônibus, vindos de seus distantes subúrbios, pra mais um dia de batente.
O céu ainda era penumbra total. A noite preferi não fotografar, por motivos de segurança.
Só quando eu já me aproximava do Anhagabaú pela Av. Tiradentes começou a amanhecer.
Aí vi uma cidade destruída. Muito lixo nas ruas, pois os craqueiros reviram as lixeiras de madrugada.
Como todos sabem, em busca de qualquer coisa que possa ser trocada por pedras. Passei ali e eram 6 da manhã.
A prefeitura limpava a avenida com caminhões-pipa cujas mangueiras emitem fortes jatos d’água.
Pra tirar das calçadas os vários dejetos deixados ali pelos usuários de drogas.
Fotografei essa situação, e cheguei a publicar por emeio (antes da da página começar, em 2015, o emeio era o modal pioneiro [2010-15] de nosso canal de comunicação).
Mas preferi não subir essa constatação pra página O Caminhante.
Dessa passagem pelo Centro em 2013 publiquei apenas uma árvore florida no Anhagabaú (dir.), a parte corrosiva ficou de fora.
Repetindo o mesmo trajeto em 2018 vi como a situação piorou em apenas 5 anos.
Em 2013 a coisa estava bem feia no Centrão de madrugada, fato.
Acontece que de manhãzinha, antes dos trabalhadores chegarem, equipes da prefeitura faziam esse trabalho de limpeza pesada das ruas.
E assim pelo menos durante o dia o Centro era senão uma cópia da Suíça, China ou Japão, no mínimo habitável.
E fui várias vezes ao núcleo central da metrópole nesses 5 anos.
Em novembro de 2013 fiz uma pesquisa de rua no Bom Retiro sobre mobilidade (não por conta própria, contratado por um instituto).
Pouco depois, logo nos primeiros dias do ano de 2014, dei uma volta enorme pelo Centro.
Centro e imediações, incluindo Brás e Bom Retiro. Ficamos umas 3 horas ou mais andando.
Foi exatamente quando tirei as dezenas de fotos que viraram a matéria ‘Cenas Paulistanas’, como já informei antes.
Então, olhe, em 2013 e começo de 14 já víamos lixo, sem-tetos, meninos de rua pelas ruas da Zona Central. Mas não se compara ao que está agora.
Atualmente essa mesma limpeza com mangueira – onde além de água se joga água sanitária nas ruas pra dissolver um pouco as cracas – tem que ser feita várias vezes no dia.
Fotografei a operação na Avenida 9 de Julho, perto das 4 da tarde (busque pela legenda, um pouco mais acima na página).
5 anos atrás (escrevo em maio.18) durante o dia, enquanto os trabalhadores ocupam as ruas, tudo estava longe de ser perfeito, óbvio.
Entretanto ao menos enquanto o sol Iluminava a Terra havia algum tipo de civilização. Agora…”terra arrasada”.
Apocalipse agora, Apocalipse Final. O Centrão de Sampa parece sobrevivente da Hecatombe Nuclear.
Citei 2013/14 porque nessa época cheguei a fotografar extensamente pra escrever.
Mas eu fui pra São Paulo de 2 a 4 vezes por ano, todos os anos de minha vida.
Em boa parte de minhas visitas eu vou ao Centro. Portanto vou acompanhando a situação de forma permanente, desde o começo dos anos 80.
E olhe, nunca vi a coisa tão feia como agora.
Não só lá. Curitiba passa pelo mesmo problema. Não vou nem por um minuto adentrar na lavagem cerebral que a capital paranaense é de “primeiro mundo”.
Porque não é. Aqui da mesma forma há problemas seríssimos sociais, incluso essa questão de moradores de rua também está grave.
Ainda assim São Paulo, nesse ponto específico, está bem pior.
Bem, se serve de consolo, o “primeiro mundo” também sofre com esse moléstia.
Lá como aqui e no México estão acampando nas calçadas em plena calçada, já retratei a situação (embora nesse caso somente via Visão de Rua do ‘Google Mapas’).
PARTE 2 – A “CIDADE VERDE”:
A REGIÃO RIQUÍSSIMA ENTRE AS ZONAS CENTRAL, OESTE E COMEÇO DA ZONA SUL
Notam que já desde algumas fotos acima o tom mudou:
Agora estamos vendo a parte rica e arborizada da metrópole. Uma grande área contígua.
Que espraia pela Zona Central (Jardins e Av. Paulista), Zona Oeste (Pinheiros, Alto de Pinheiros, Perdizes, Vila Pompéia, Sumaré, Pacaembu, Lapa, Alto da Lapa) e o começo da Zona Sul (Itaim-Bibi, Vila Olímpia, V. Nova Conceição, Campo Belo, Moema, Brooklin, Alto da Boa Vista, Morumbi).
Trata-se, ao lado da orla do Rio, a região que mais concentra alta-burguesia e elite em nosso país.
A Grande São Paulo tem outros pontos que reúnem os endinheirados: dentro do município da capital a parte do Tatuapé que é chamada de ‘Anália Franco’ na Zona Leste.
E na região metropolitana o ABC e as porções da Zona Oeste onde se localizam os grandes condomínios como ‘AlphaVille’ e Granja Viana.
Entre outros bairros e regiões, claro, não pretendo aqui nesse exíguo espaço esgotar o tema, apenas dar uma visão geral.
Acontece que a porção centro-austro-ocidental certamente é o maior, mais famoso e mais antigo dos bolsões de riqueza paulistanos.
Precisamos dizer mais alguma coisa? São Paulo é uma cidade que concentra a grana.
Não sei hoje quanto está o percentual, mas por boa parte do século passado a Grande SP detinha quase um quarto do total do PIB brasileiro.
Hoje certamente esse percentual é menor, outros estados e o interior do estado de SP se desenvolveram muito.
Mesmo assim, a Grande SP ainda é riquíssima, e em sua porção mais rica essa opulência fica evidente:
Nessa parte da cidade um rendimento mensal de R$ 10 mil é considerado insuficiente por muitos.
Enquanto em 90% do Brasil (mesmo na maior parte da Grande SP) ele seria astronômico.
Não custa lembrar pra pôr no contexto que o salário mínimo é R$ 954 (2018).
E na periferia de Curitiba (que também é uma cidade muito rica) um rendimento mensal de R$ 2,5 mil é tido como muito bom, bem acima da média da maioria das pessoas.
Estive nos EUA, na década de 90. Nessa década de 10 visitei uma boa parte da América Latina, as 5 regiões de nossa Pátria Amada e dei uma esticada até a África.
Além disso, já andei extensamente de modo virtual pelas cidades de todos os países que o ‘Google’ – e também seu concorrente russo, o ‘Yandex’ – já filmaram ao redor do globo.
Por isso afirmo: há lugares na Grande São Paulo em que parece que você está nos EUA, tanta riqueza e modernidade concentradas.
Em compensação, há regiões do Centro que parece que você está nas piores partes da África.
Nota: evidentemente que o desenvolvimento não é sempre linear.
Não pense que estou indo na onda da mídia de dizer que “EUA/Europa = automaticamente bom” e “África = automaticamente ruim”.
Nada disso. A África tem partes riquíssimas – a ‘Riviera do Cabo’ e o Subúrbio de Sandton em Joanesburgo, por exemplo.
Falo da África do Sul que visitei, mas há porções de prosperidade e desenvolvimento nos outros países também.
Não apenas em termos de riqueza, pois isso pode simplesmente significar concentração de renda.
Só que na África do Sul há projetos do governo que funcionam bem, beneficiando a população em geral, inclusive a maioria negra.
Exemplos são o Gautrem (entre Pretória e Joanesburgo) e a rede de ônibus da Cidade do Cabo.
E os EUA têm guetos horrorosos, tenebrosos também, Detroit é um caso clássico, como todos sabem.
Alias, há todo um nicho na internet especializado em mostrar a decadência da ‘cidade do automóvel’, que pasmem, já foi a metrópole mais rica do mundo nos anos 50.
Vai mito além. Já fiz toda uma série mostrando que a decadência econômica e social dos EUA é severíssima.
(Nota: o que me referi no parágrafo acima seguiu por emeio, esse material não subiu pra página.)
Algumas porções centrais de cidades viraram guetos gigantes, com condições de 3º mundo ou pior.
Exemplos são Nova Orleans (o furacão Katrina piorou tudo mas não é a única causa, nem mesmo a maior), Baltimore, Búfalo, Chicago, Filadélfia, Atlanta, Los Angeles, entre outras,
Então não estou repetindo a lavagem cerebral da mídia, que tudo nos EUA é bom, tudo na África é ruim.
Agora, óbvio, no geral somando tudo os EUA têm muito mais partes altamente desenvolvidas.
Ao menos na dimensão material (espiritualmente a história é outra mas não entro nesse mérito aqui).
E o Continente Negro ainda tem boa parte de seus habitantes em condições indignas, de mera subsistência ou nem isso, mesmo no seu país mais rico que é a África do Sul.
Então temos essa situação na Zona Central de São Paulo e imediações:
Algumas coisas lembram o melhor dos EUA, outras remetem ao pior da África.
Separados por poucos quilômetros, as vezes por poucas quadras, o melhor e o pior do Brasil.
Obviamente o título dessa matéria faz referência a música ‘Sampa’, de Caetano Veloso.
E quando eu atravessava a metrópole, presenciando tudo isso, vinha ouvindo rádio. Não tocou Caetano, mas ele foi citado.
Vamos pôr no contexto de como tudo se deu: eu estava na Nove de Julho, nos Jardins.
Tinha acabado de sair do Centrão, com todo o caos que ele representa – o “Apocalipse Agora”.
Estava agora vendo o outro lado, a riqueza, o conforto, a modernidade, o centro das decisões – a “Cidade Verde”.
E ouvia um programa de música clássica, creio que na rádio Cultura. O apresentador num momento falou:
“Como disse Caetano Veloso, ‘é o mesmo Ser Humano quem constrói e destrói coisas belas’ “.
Tudo se alinhou. Eu estava em Sampa, e é exatamente o que acabara de presenciar.
Mais que isso, o que eu estava presenciando naquele exato momento:
Como o homem de fato é capaz tanto do belíssimo como do tenebroso. E muitas vezes lado-a-lado.
Daí o “Preto-&-Branco” do título. Não se refere a ótica, ao contrário, todas as fotos são coloridas.
E sim num sentido simbólico, dos extremos estarem lado a lado, como no Yin-Yan.
Várias imagens mostram que a cidade melhorou muito sua rede de transportes.
Muito mesmo. Claro que ainda está longe do ideal, não vamos tapar sol com peneira.
Ainda assim, hoje o transporte coletivo paulistano está num nível de excelência comparando com outras capitais incluindo Curitiba.
Aqui na capital do Paraná várias das amenidades corriqueiras em SP seriam um sonho.
Aqui não há ar-condicionado, conexão de internet a bordo (‘wi-fi’) nem piso baixo, pra conversa começar.
O cartão tampouco funciona bem, leia na legenda da foto a direita.
E outras questões como pontualidade, conforto, planejamento, valor da tarifa, ampliação da rede, etc, também deixam a desejar.
Vários desses problemas se repetem em São Paulo, óbvio. Mas no geral os ônibus de lá estão melhores que os daqui. Sampa é moderna, e estende partes dessa modernidade mesmo pra sua periferia.
Tudo somado, Curitiba é uma metrópole de 3º mundo.
Há alguns pontos bem-planejados como muita área verde.
O padrão de vida mesmo na periferia é razoável, em se tratando de América Latina.
Porém bem longe do que as pessoas imagem vendo a lavagem cerebral na TV.
Resumindo bem a coisa, aqui não há destaques superlativos nem positivos nem negativos.
A cidade é rica mas também tem mais de 300 favelas, em vários de seus bairros.
E uma periferia esquecida, com muitos problemas, mesmo fora da favela.
Curitiba não é de “1º mundo”, como as mentiras midiáticas tentam impingir.
Entretanto, tampouco é de 4º mundo. Nosso Centro tem problemas sérios, mas não parece ter sido bombardeado.
Já São Paulo é ao mesmo tempo tanto 1º quanto 4º mundo.
Um paradoxo. E as vezes convivendo lado-a-lado. Repare na última foto da matéria, abaixo a esquerda:
Moderníssimo articulado tribus. Com coisas que os curitibanos só podem sonhar.
Vou repetir pra que fique bem claro: o bichão conta com ar-condicionado, piso baixo, ‘wi-fi’, tudo gratuito.
Confortos e mimos sem custos extras pro usuário, pela tarifa normal (ao contrário do Rio onde os ‘com ar’ são mais caros).
No entanto veja ao fundo, que situação está uma boa porção da Zona Central. A imagem ao lado vale por mil palavras. Não é preciso argumentar além disso. Eu encerro meu caso
“Alguma coisa acontece no meu Coração…”
Que Deus Ilumine a todos.
“Deus proverá”