Sampa: a mesma mão que constrói e destrói coisas belas

S.P. em P.&B.: o melhor e o pior do brasil, a poucas quadras de distância um do outro

Jardins, Zona Central de SP.

por Maurílio Mendes, O Mensageiro

publicado em 28 de maio de 2018

São Paulo.

Principal metrópole financeira da América Latina. Uma cidade riquíssima.

Que concentra em sua região metropolitana uma proporção desproporcional do PIB do Brasil.

Av. Radial Leste, Brás, Zona Central de SP.

Muita abundância, que se traduz em modernidade e amenidades pra sua imensa porção de classe média-alta.

Sobrando um pouco dessa prosperidade até pra periferia. 

O sistema de transportes, por exemplo, vem se modernizando muito depois da virada do milênio.

Sem-tetos nas praças da Marginal Tietê.

E se ainda fica longe do ideal inegavelmente está infinitamente melhor que era até os anos 90 (já falaremos melhor disso).

Por outro lado, a Zona Central está em estado de calamidade em alguns pontos de tanta gente morando na rua.

Isso tem levado a múltiplos conflitos, em diversas dimensões.

Próximas 3: partes bonitas do Centro, não tão afetadas pela gangrena social. Aqui (e acima da manchete) o Teatro Municipal.

O Centro de São Paulo em alguns pontos está semi-destruído.

Parece que já passou por uma severa hecatombe nuclear.

É com muito pesar que falo isso, pois eis uma cidade que Amo muito, do fundo de meu Coração, e a qual fui e sou ligado desde a infância.

Tanto que a página tem uma seção especial só pra Homenagear a maior metrópole brasileira.

Praça da Sé, onde há a Igreja-Matriz (Catedral) e o Marco-Zero da cidade.

Onde agrupo tudo que já escrevi (e desenhei, e fotografei) sobre lá. 

………

Nasci em Brasília-DF entretanto morei toda minha vida em Curitiba.

Ainda assim, já fui bem mais de uma centena de vezes na minha vida a SP.

Essa matéria que você está lendo agora é fruto de uma viagem realizada no final de janeiro de 2018.

O Marco-Zero, que referencia as distâncias de e p/ S.P., há um mapa simplificado. Curitiba tem um igual, e também fica defronte a Catedral na Praça Tiradentes.

Na ocasião, fui também a Vila Carrão, na Zona Leste.

Essa porção oriental da cidade já foi mostrada num ensaio a parte.

Então agora vamos ver a Zona Central e um pouco de Moema, na parte rica da Zona Sul.

PARTE 1 – APOCALIPSE AGORA:

A BARRA-PESADÍSSIMA NO CENTRÃO E IMEDIAÇÕES

Marginal Tietê, com suas doze pistas; e ao fundo o estádio Canindé da Portuguesa.

Iniciamos nossa jornada. Cheguei a capital paulista de ônibus Cometa no meio da tarde.

E segui a pé pro meu destino, que era Moema (na Z/S como todos sabem).

Foram 3 horas caminhando sozinho, desbravando as entranhas da metrópole.

Em Sampa tudo é recorde, tudo é superlativo. Veja a esquerda, minha primeira visão da cidade:

Próximas 3: Bom Retiro (colado ao Centro), uma “periferia central”.

12 pistas de rolagem num único sentido na Marginal Tietê!!! Exagero??? Bem-vindo a São Paulo, irmão.

Já fiz ensaio fotográfico mostrando essa mesma Marginal e o comecinho da Dutra.

Foi produzido quando ali passei a caminho de Aparecida (“do Norte”) – a “Cidade da Fé” – no interior do estado, em julho de 2016.

Jogadores Anônimos“, organização análoga aos Alcólicos Anônimos pras pessoas viciadas em jogos de azar.

As 12 pistas (de cada lado!) da Marginal foram minha primeira visão.

A segunda foi que mais uma vez constatei que diversas praças na Zona Central viraram acampamentos permanentes de sem-tetos.

Veja de novo a 3ª foto da matéria, mais pra cima na página.

Até mesmo as ilhas da Marginal estão ocupadas dessa forma (‘ilhas’ é o espaço entre as alças dos viadutos, o rio não tem ilhas dentro d’água, óbvio’).

Pra fazer graça emplacaram um bicicleta.

Já que estamos falando de pessoas que moram  na rua, uma nota:

Não vou entrar no mérito da discussão entre esquerda e direita sobre se a culpa é somente da sociedade e não do indivíduo, por um lado, ou somente do indivíduo e não da sociedade, por outro.

Próximas 4: mais algumas cenas tranquilas do Centrão, sem aspectos de destruição. Aqui o famoso Edifício Banespa, o banco foi privatizado mas o nome ficou.

Estou só reportando os efeitos, sem adentrar nas causas. O que é fato é:

A Zona Central de São Paulo está em estado de calamidade por conta desse problema.

Assim que cruzei a Marginal e adentrei a Av. Cruzeiro do Sul presenciei o final de um confronto entre a Guarda Civil e os craqueiros que infestam aquela região.

Não vi cenas de violência, felizmente, porque a operação estava terminando.

Palácio das Indústrias, perto do Pq. Dom Pedro, antiga sede da prefeitura. Nos anos 80 o poder público municipal se localizava no Pq. do Ibirapuera, região rica da Zona Sul. Justamente pra desenvolver o Centro levaram pra esse prédio que veem acima.

Cerca de 20 ou mais viaturas policiais já deixavam o local quando cheguei.

Notei que eles haviam ter dado o famoso ‘bacolejo’ na rapaziada usuária de craque.

Uma das craqueiras estava enlouquecida (desculpe o pleonasmo).

A mulher, um farrapo humano de tão imunda, descabelada, desdentada, etc., gritava impropérios contra os guardas, e mostrava o dedo médio em riste.

Os policiais mostraram serenidade e a ignoraram, continuando a se retirar do local.

Estou sobre o Viaduto do Chá e fotografo o Palácio do Anhagabaú, atual sede da prefeitura. Fiz uma montagem na bandeira. É a mesma bandeira, mas nessa imagem não consegui pegar ela aberta. Cheguei mais perto, fotografei de novo e colei aqui. Já fiz algo similar em Fortaleza-CE.

Deus Pai me poupou de presenciar um conflito violento, onde eu poderia receber até estilhaços.

Mesmo assim deu pra sentir o clima. Foi o ‘cartão de visitas’ da Zona Central da cidade.

……….

Claro que nem tudo na Zona Central é ruim. Boa parte dos bairros que cercam o Centrão de São Paulo são uma espécie de “periferia central“:

Uma região de moradias mais humildes. Não há problema algum nisso.

Final do Vale do Anhagabaú, ao fundo a Praça da Bandeira com… uma bandeira.

Não estou propondo nenhuma forma de elitização. Até porque seria difícil reverter essa tendência.

Em megalópoles como São Paulo os ricos se afastaram do Centro há décadas.

Não por outro motivo me espantei ao ver edifícios de elite no Centrão de Buenos Aires-Argentina, no bairro da Recoleta. Porque em São Paulo é o contrário:

Mesmo no coração da metrópole, o perfil é majoritariamente de classe trabalhadora, as pessoas vivem em casas e prédios muito velhos, a maioria sem garagem.

Continuamos no Centro (note o mesmo prédio visível também na tomada anterior).

Em outra visita que fiz a SP (janeiro de 2014) andei pelo Centro e Bom Retiro, documentando melhor a situação.

É o caso também de bairros como Brás, Mooca, Bexiga, Barra Funda, Bela Vista.

……..

Enfim, continuo a descrever meu passeio a pé. Veja a foto a esquerda.

Perto da Estação da Luz. As manchas pretas na parede são resquícios das fogueiras que os que dormem por ali fazem a noite. O prédio mais alto da imagem está invadido.

Havia uma enorme aglomeração de sem-tetos no Anhagabaú.

Não fotografei mais de perto pra não chamar a atenção, por motivos óbvios de segurança.

A prefeitura instalou dezenas de banheiros químicos portáteis pra tentar minorar o caos, pra não ser ao ar-livre mesmo.

O Centro de SP está parecendo as piores favelas da África do Sul.

Eis o prédio abandonado e invadido por quem não tem opção.

Não estou crucificando os moradores de rua como únicos culpados por essa lamentável situação que se tornou o coração da metrópole.

Creio que esses homens e mulheres em situação de risco sejam mais sintomas que a causa de uma sociedade profundamente doente que é como está nosso Amado Brasil hoje, infelizmente.

Portanto tampouco estou advogando qualquer solução violenta de remoção dessas pessoas a força.

Apenas que a situação está saindo do controle e todo mundo que pode está evitando o Centro isso é um fato também.

Aqui e a esquerda: Av. Radial Leste, entre o Tatuapé e o Parque Dom Pedro 2º.

Sem apontar culpados nem ter a pretensão de de indicar uma solução, relato apenas o quadro  como o testemunhei. E ele é tenebroso.

Veja o prédio invadido na foto acima a direita, e em escala maior acima a esquerda.

Que situação! E os varais comprovam que tem gente morando ali.

Indigno seria até como um canil pra animais. Absolutamente desolador ver pessoas viverem dessa forma.

Invadiram as calçadas, realidade calamitosa.

A prefeitura, em parceria com algumas corporações quem sabe, deveria reformar esse edifício.

Pra que ele oferecesse condições mínimas de salubridade a seus moradores.

Fotografei exatamente o mesmo em Joanesburgo, inclusive os varais.

Eu disse que o Centro de São Paulo está parecendo os guetos (sul-) africanos.

……….

Não apenas a África do Sul. Lembrei muito também de algumas cenas trágicas que vi na América Latina.

A direita pessoa revira o lixo perto da Rua 25 de Março.

Em busca de algo pra vender ou mesmo pra comer. Triste, muito triste.

Fotografei o mesmo em Joanesburgo e também em Buenos Aires.

Próximas 2: mais pessoas dormindo – em plena luz do dia – nas ruas. Aqui sob o Viaduto Santa Efigênia

E, bem, a Argentina igualmente atravessa severa crise social, política, econômica, multi-dimensional resumindo.

O Centro de Sampa, em várias partes, está parecendo o de Acapulco.

Lá quem pode também já abandonou o Centro a muito.

Andando no Anhagabaú me voltavam as lembranças do México, que visitei em 2012.

… e na estação de metrô.

Essa nação centro-americana também vive dias bem conturbados, em várias dimensões.

(Nota: sim, eu sei, oficialmente o México é América do Norte.

Mas se você analisar em termos sociais  ele se parece muito mais com Guatemala e Panamá que EUA e Canadá, então eu grafo como Centro-América.)

Na capital México D.F. alias fotografei uma favela parecida com essa da Radial Leste que veem acima, nos dois casos invadiram as calçadas.

……..

Tanta sujeira no Centro que não adianta varrer, equipes da prefeitura têm que usar jatos d’água de alta pressão com caminhões. Avenida Nove de Julho, Zona Central de S. Paulo, janeiro de 2018. Assim caminha a humanidade…

A situação está complicada, e não é de hoje. Quando falo que passei a pé pelo Centro e presenciei tudo isso, as pessoas que moram lá em São Paulo mesmo se arrepiam.

Falam “como você teve coragem? Aquela região é muito perigosa”. E de fato é.

A questão é que talvez seja minha missão na Terra documentar essas ‘zonas vermelhas’.

Fiz isso nas centenas de cidades que já visitei,  por boa parte da América e agora até da África.

Trabalho infantil nos Jardins. Fotografei o mesmo em Assunção. Mas não esqueça que o Paraguai desde que perdeu a guerra contra Brasil e Argentina nunca mais se recuperou plenamente. Entretanto nos Jardins estamos num dos bairros de renda per capita mais alta de toda América e do planeta. Outro detalhe: SP foi uma das capitais que mais demorou a padronizar a cor dos táxis. Desde os anos 70 (no máximo comecinho dos 80) Rio (amarelo), Curitiba (laranja), e Porto Alegre-RS (vermelho alaranjado, parecido com a cor do Scania Jacaré), entre outras, já tinham pintura padronizada, mas em São Paulo era livre. No começo dos anos 90, enfim, a capital paulista determinou que todos teriam que ser brancos.

Alias, dessa vez não foi nada, fiz esse trajeto de dia.

Em 2013, fui a Belém do Pará. Meu voo partiu e chegou de Cumbica/Guarulhos (na Grande SP, como é notório). Logo, fui de ônibus de Ctba. p/ SP. .

Cheguei a capital paulista no finalzinho da madrugada.

Estava noite alta ainda. E, a pé, sozinho e sem celular, eu fui andando, só eu e Deus.

Fiz o mesmo trajeto, do Tietê ao Centro.

Passei ali na Cracolândia, tudo escuro enfatizo mais uma vez.  Não havia ninguém nas ruas.

E com minha mochila as costas, minha bagagem pra ir ao Norte do Brasil, e mais câmera fotográfica,  dinheiro e cartão na carteira pra viagem.

Não senti medo. Senti a Proteção Divina, então prossegui.

Quando cheguei nas imediações do Terminal Metropolitano da Armênia (junto a estação de mesmo nome do metrô, antigamente chamada ‘Ponte Pequena’) começou a ter movimento.

Abriu o baú: na Avenida 9 de Julho flagrei tampas de bueiros de 2 estatais que foram privatizadas e desapareceram, a Telesp (cia. telefônica, estadual) e a saudosíssima C.M.T.C., a Cia. Municipal de Transporte Coletivo, ambas com seus logos clássicos. Acabaram imagens da barra-pesada no Centrão. Veremos a partir dessa foto, inclusive, coisas amenas.

A multidão operária desembarcava dos ônibus, vindos de seus distantes subúrbios, pra mais um dia de batente.

O céu ainda era penumbra total. A noite preferi não fotografar, por motivos de segurança.

Só quando eu já me aproximava do Anhagabaú pela Av. Tiradentes começou a amanhecer.

Aí vi uma cidade destruída. Muito lixo nas ruas, pois os craqueiros reviram as lixeiras de madrugada.

Como todos sabem, em busca de qualquer coisa que possa ser trocada por pedras. Passei ali e eram 6 da manhã.

Flores Paulistanas: essa tomada é de 2013.

A prefeitura limpava a avenida com caminhões-pipa cujas mangueiras emitem fortes jatos d’água.

Pra tirar das calçadas os vários dejetos deixados ali pelos usuários de drogas.

Fotografei essa situação, e cheguei a publicar por emeio (antes da da página começar, em 2015, o emeio era o modal pioneiro [2010-15] de nosso canal de comunicação).

Jardim-de-infância com letreiro em chinês (ao menos creio que seja, mas não descarto que possa ser coreano) perto do Anhagabaú e da 25 de Março. Lembrei da República Dominicana, onde cliquei cenas similares.

Mas preferi não subir essa constatação pra página O Caminhante.

Dessa passagem pelo Centro em 2013 publiquei apenas uma árvore florida no Anhagabaú (dir.), a parte corrosiva ficou de fora.

Repetindo o mesmo trajeto em 2018 vi como a situação piorou em apenas 5 anos.

Em 2013 a coisa estava bem feia no Centrão de madrugada, fato.

Próximas duas: pavilhões da Pátria Amada em comércios na Zona Sul – e essas não são montagem. Essa aqui na esquina da Ver. José Diniz com Joaquim Nabuco.

Acontece que de manhãzinha, antes dos trabalhadores chegarem, equipes da prefeitura faziam esse trabalho de limpeza pesada das ruas.

E assim pelo menos durante o dia o Centro era senão uma cópia da Suíça, China ou Japão, no mínimo habitável.

E fui várias vezes ao núcleo central da metrópole nesses 5 anos.

Em novembro de 2013 fiz uma pesquisa de rua no Bom Retiro sobre mobilidade (não por conta própria, contratado por um instituto).

E agora em Moema (aqui em Ctba. já cliquei o mesmo na divisa entre as Zonas Central e Norte e na BR-277 na Zona Oeste).

Pouco depois, logo nos primeiros dias do ano de 2014, dei uma volta enorme pelo Centro.

Centro e imediações, incluindo Brás e Bom Retiro. Ficamos umas 3 horas ou mais andando.

Foi exatamente quando tirei as dezenas de fotos que viraram a matéria ‘Cenas Paulistanas’, como já informei antes.

Próximas 4: Moema, na Zona Sul.

Então, olhe, em 2013 e começo de 14 já víamos lixo, sem-tetos, meninos de rua pelas ruas da Zona Central. Mas não se compara ao que está agora.

Atualmente essa mesma limpeza com mangueira – onde além de água se joga água sanitária nas ruas pra dissolver um pouco as cracas – tem que ser feita várias vezes no dia.

Fotografei a operação na Avenida 9 de Julho, perto das 4 da tarde (busque pela legenda, um pouco mais acima na página).

Fiz parte do trajeto sob chuva.

5 anos atrás (escrevo em maio.18) durante o dia, enquanto os trabalhadores ocupam as ruas, tudo estava longe de ser perfeito, óbvio. 

Entretanto ao menos enquanto o sol Iluminava a Terra havia algum tipo de civilização. Agora…”terra arrasada”. 

Apocalipse agora, Apocalipse Final. O Centrão de Sampa parece sobrevivente da Hecatombe Nuclear.

Citei 2013/14 porque nessa época cheguei a fotografar extensamente pra escrever.

Flagrei um Fusca, porém do modelo novo. Alias a matéria sobre os Fuscas foi levantada pra rede lá de S. Paulo.

Mas eu fui pra São Paulo de 2 a 4 vezes por ano, todos os anos de minha vida.

Em boa parte de minhas visitas eu vou ao Centro. Portanto vou acompanhando a situação de forma permanente, desde o começo dos anos 80.

E olhe, nunca vi a coisa tão feia como agora.

Não só lá. Curitiba passa pelo mesmo problema. Não vou nem por um minuto adentrar na lavagem cerebral que a capital paranaense é de “primeiro mundo”.

“A Cidade Verde”: ruas sempre arborizadas.

Porque não é. Aqui da mesma forma há problemas seríssimos sociais, incluso essa questão de moradores de rua também está grave.

Ainda assim São Paulo, nesse ponto específico, está bem pior.

Bem, se serve de consolo, o “primeiro mundo” também sofre com esse moléstia.

Los Angeles nos EUA, que é uma metrópoles mais ricas do planeta, igualmente está com seu Centro em estado de calamidade pelo mesmo motivo.

Jardins, Zona Central.

Lá como aqui e no México estão acampando nas calçadas em plena  calçada, já retratei a situação (embora nesse caso somente via Visão de Rua do ‘Google Mapas’).

PARTE 2 – A “CIDADE VERDE”:

A REGIÃO RIQUÍSSIMA ENTRE AS ZONAS CENTRAL, OESTE E COMEÇO DA ZONA SUL

Praça Dom Gastão Liberal, sob ela está o túnel que une as Avenidas São Gabriel e Santo Amaro. Podemos dizer que é a divisa entre as Zonas Central e Sul.

Notam que já desde algumas fotos acima o tom mudou:

Agora estamos vendo a parte rica e arborizada da metrópole. Uma grande área contígua.

Que espraia pela Zona Central (Jardins e Av. Paulista), Zona Oeste (Pinheiros, Alto de Pinheiros, Perdizes, Vila Pompéia, Sumaré, Pacaembu, Lapa, Alto da Lapa) e o começo da Zona Sul (Itaim-Bibi, Vila Olímpia, V. Nova Conceição, Campo Belo, Moema, Brooklin, Alto da Boa Vista, Morumbi).

Aqui e a esquerda: Moema, Zona Sul.

Trata-se, ao lado da orla do Rio, a região que mais concentra alta-burguesia e elite em nosso país.

A Grande São Paulo tem outros pontos que reúnem os endinheirados: dentro do município da capital a parte do Tatuapé que é chamada de ‘Anália Franco’ na Zona Leste.

E na região metropolitana o ABC e as porções da Zona Oeste onde se localizam os grandes condomínios como ‘AlphaVille’ e Granja Viana.

Entre outros bairros e regiões, claro, não pretendo aqui nesse exíguo espaço esgotar o tema, apenas dar uma visão geral.

Acontece que a porção centro-austro-ocidental certamente é o maior, mais famoso e mais antigo dos bolsões de riqueza paulistanos. 

Precisamos dizer mais alguma coisa? São Paulo é uma cidade que concentra a grana.

Vamos falar um pouco do transporte coletivo, afinal essa matéria integra a ENCICLOPÉDIA DO TRANSPORTE URBANO BRASILEIRO. SP está uma cidade boa pra quem se locomove sem carro. São 363 km (maio.18) de rede de metrô e trem de subúrbio (as 2 redes formam 1 só, porque são integradas, com uma passagem você usa ambas). Aqui o metrô, ainda próximo a Marginal Tietê.

Não sei hoje quanto está o percentual, mas por boa parte do século passado a Grande SP detinha quase um quarto do total do PIB brasileiro.

Hoje certamente esse percentual é menor, outros estados e o interior do estado de SP se desenvolveram muito.

Mesmo assim, a Grande SP ainda é riquíssima, e em sua porção mais rica essa opulência fica evidente:

Nessa parte da cidade um rendimento mensal de R$ 10 mil é considerado insuficiente por muitos.

Ali perto o terminal de ônibus da Armênia (metropolitano e não-integrado), que concentra as linhas pra Guarulhos e região.

Enquanto em 90% do Brasil (mesmo na maior parte da Grande SP) ele seria astronômico.

Não custa lembrar pra pôr no contexto que o salário mínimo é R$ 954 (2018).

E na periferia de Curitiba (que também é uma cidade muito rica) um rendimento mensal de R$ 2,5 mil é tido como muito bom, bem acima da média da maioria das pessoas.

Na mesma região (entre a Estações do Metrô Tietê [onde fica a Rodoviária] e Armênia) vemos uma parada de ônibus que criaram um novo modal: híbridos entre rodoviários e urbanos. Pra quem não conhece a capital paulista, explico. São veículos rodoviários (mais altos, com ar-condicionado, bagageiro e bancos reclináveis estofados). Mas as linhas são urbanas (inter-municipais dentro da Grande SP, e as paradas são a poucas centenas de metros uma da outra). Tanto que a pintura não é livre, ao contrário padronizada pela EMTU. Veja na foto anterior como é a pintura metropolitana pra todo Estado de SP, nos veículos urbanos é azul, aqui é cinza, o resto é igual Fotografei o mesmo modal no Vale do Paraíba, em Aparecida

Estive nos EUA, na década de 90. Nessa década de 10 visitei uma boa parte da América Latina, as 5 regiões de nossa Pátria Amada e dei uma esticada até a África.

Além disso, já andei extensamente de modo virtual pelas cidades de todos os países que o ‘Google’ – e também seu concorrente russo, o ‘Yandex’ – já filmaram ao redor do globo.

Por isso afirmo: há lugares na Grande São Paulo em que parece que você está nos EUA, tanta riqueza e modernidade concentradas.

Em compensação, há regiões do Centro que parece que você está nas piores partes da África.

Nota: evidentemente que o desenvolvimento não é sempre linear.

Não pense que estou indo na onda da mídia de dizer que “EUA/Europa = automaticamente bom” e “África = automaticamente ruim”.

Nada disso. A África tem partes riquíssimasa ‘Riviera do Cabo’ e o Subúrbio de Sandton em Joanesburgo, por exemplo.

A “Linha Turismo” de SP, num belo 2-andares Volvo/Marcopolo. Destaquei a tarifa, R$ 40 (aqui em Ctba. [onde já fiz matéria completa] é 45, em maio.18), mas como em toda Linha Turismo você pode desembarcar e reembarcar várias vezes pagando uma vez só. Ao lado mais um táxi branco. Buso 2-andares vermelho em S. Paulo? Epa, eu já vi isso antes!!

Falo da África do Sul que visitei, mas há porções de prosperidade e desenvolvimento nos outros países também.

Não apenas em termos de riqueza, pois isso pode simplesmente significar concentração de renda.

Só que na África do Sul há projetos do governo que funcionam bem, beneficiando a população em geral, inclusive a maioria negra.

Exemplos são o Gautrem (entre Pretória e Joanesburgo) e a rede de ônibus da Cidade do Cabo.

E os EUA têm guetos horrorosos, tenebrosos também, Detroit é um caso clássico, como todos sabem.

Tróleibus no Viaduto do Chá. Essa pintura é exclusiva pra ônibus elétricos. Novo, veja no destaque a data de fabricação, característica do transporte paulistano. SP já teve uma das maiores quilometragens de troleibus do mundo, na virada do milênio possuía a maior rede do planeta excetuando a China e países da ex-URSS. Aí eliminaram os tróleis das Zonas Sul (exceto Ipiranga), Oeste e Norte. Os elétricos ainda existem na Zona Leste e no Ipiranga, que repetindo e como todos sabem é Zona Sul mas divisa com a Z/L.

Alias, há todo um nicho na internet especializado em mostrar a decadência da ‘cidade do automóvel’, que pasmem, já foi a metrópole mais rica do mundo nos anos 50.

Vai mito além. Já fiz toda uma série mostrando que a decadência econômica e social dos EUA é severíssima.

(Nota: o que me referi no parágrafo acima seguiu por emeio, esse material não subiu pra página.)

Algumas porções centrais de cidades viraram guetos gigantes, com condições de 3º mundo ou pior.

Exemplos são Nova Orleans (o furacão Katrina piorou tudo mas não é a única causa, nem mesmo a maior), Baltimore, Búfalo, Chicago, Filadélfia, Atlanta, Los Angeles, entre outras,

Na Zona Leste. Assim é a pintura-padrão dos ônibus paulistanos (já fiz matéria completa sobre o tema).

Então não estou repetindo a lavagem cerebral da mídia, que tudo nos EUA é bom, tudo na África é ruim.

Agora, óbvio, no geral somando tudo os EUA têm muito mais partes altamente desenvolvidas.

Ao menos na dimensão material (espiritualmente a história é outra mas não entro nesse mérito aqui).

Na Av. 9 de Julho, articulado na pintura-padrão. Em São Paulo os busos têm portas dos 2 lados, como sabem.

E o Continente Negro ainda tem boa parte de seus habitantes em condições indignas, de mera subsistência ou nem isso, mesmo no seu país mais rico que é a África do Sul.

Então temos essa situação na Zona Central de São Paulo e imediações:

Algumas coisas lembram o melhor dos EUA, outras remetem ao pior da África.

Em São Paulo 100% das linhas são integradas no cartão. Com uma passagem você anda em 4 ônibus, ou em 3 ônibus e ganha desconto pra usar a rede de metrô e trens. E são milhares de pontos de recarga: em todas as lotéricas, em todos os terminais de ônibus e estações de metrô. Além dos guichês, você pode usar o auto-serviço em máquinas como essa.

Separados por poucos quilômetros, as vezes por poucas quadras, o melhor e o pior do Brasil.

Obviamente o título dessa matéria faz referência a música ‘Sampa’, de Caetano Veloso.

E quando eu atravessava a metrópole, presenciando tudo isso, vinha ouvindo rádio. Não tocou Caetano, mas ele foi citado.

Vamos pôr no contexto de como tudo se deu: eu estava na Nove de Julho, nos Jardins.

Tinha acabado de sair do Centrão, com todo o caos que ele representa – o “Apocalipse Agora”.

Estava agora vendo o outro lado, a riqueza, o conforto, a modernidade, o centro das decisões – a “Cidade Verde”.

E ouvia um programa de música clássica, creio que na rádio Cultura. O apresentador num momento falou:

Mas tem mais: você pode recarregar seu cartão também dentro dos ônibus. E se não tiver cartão pode pagar em dinheiro (mas aí perde a integração; pra quem só usa uma linha não há problemas). Há 3 máquinas e 2 roletas, como veem. Uma máquina de recarga do cartão, uma máquina exclusiva pra quem paga de forma digital, e outra, onde fica o cobrador, ali pode ser tanto em espécie quanto no cartão. Em Santiago e Buenos Aires-Argentina o cartão também funciona bem, recarregável em qualquer vendinha, na capital do Chile também há integração em todas as linhas. Nas 3 cidades não há custos pra recarga. Digo isso porque em Curitiba o cartão não funciona bem. No Centro há vários pontos de recarga, mas nos bairros é praticamente inexistente. É cobrada uma taxa pelo serviço. E só há uma linha mais central e de maior demanda integrada no cartão, o Inter-bairros 1. Em Curitiba a integração ainda é basicamente somente nos terminais e tubos. Isso é anacrônico por vários motivos: está sobrecarregando as linhas do Expresso enquanto as Convencionais são sub-utilizadas; Obriga as pessoas a desviarem seus trajetos (lhes tomando tempo precioso e sobre-carregando os terminais) pra usar linhas integradas, quando há mais próximas linhas que não estão integradas mas deveriam; e o principal, a maioria das vilas do Pilarzinho (Zona Norte) não tem transporte integrado. As pessoas precisam pagar 4 tarifas por dia se precisam ir a outros bairros, pois os Convencionais só as leva até o Centro. O transporte de Curitiba foi modelo pro Brasil e mundo, dos anos 70 aos 90. De lá pra cá o nível caiu muito. Claro que muitas coisas ainda funcionam bem, por exemplo a integração metropolitana é um ponto forte. Mas muitos outros pontos deixam bastante a desejar, o cartão é um exemplo.

“Como disse Caetano Veloso, ‘é o mesmo Ser Humano quem constrói e destrói coisas belas’ “.

Tudo se alinhou. Eu estava em Sampa, e é exatamente o que acabara de presenciar.

Mais que isso, o que eu estava presenciando naquele exato momento:

Como o homem de fato é capaz tanto do belíssimo como do tenebroso. E muitas vezes lado-a-lado.

Daí o “Preto-&-Branco” do título. Não se refere a ótica, ao contrário, todas as fotos são coloridas.

E sim num sentido simbólico, dos extremos estarem lado a lado, como no Yin-Yan.

Várias imagens mostram que a cidade melhorou muito sua rede de transportes.

Muito mesmo. Claro que ainda está longe do ideal, não vamos tapar sol com peneira.

Ainda assim, hoje o transporte coletivo paulistano está num nível de excelência comparando com outras capitais incluindo Curitiba.

Aqui na capital do Paraná várias das amenidades corriqueiras em SP seriam um sonho.

Aqui não há ar-condicionado, conexão de internet a bordo (‘wi-fi’) nem piso baixo, pra conversa começar.

O cartão tampouco funciona bem, leia na legenda da foto a direita.

E outras questões como pontualidade, conforto, planejamento, valor da tarifa, ampliação da rede, etc, também deixam a desejar.

Vários desses problemas se repetem em São Paulo, óbvio. Mas no geral os ônibus de lá estão melhores que os daqui. Sampa é moderna, e estende partes dessa modernidade mesmo pra sua periferia.

O articulado tem escadas pois na frente é piso-baixo. Alguns articulados do Sudeste vieram pra Curitiba, também fotografei-os.

Tudo somado, Curitiba é uma metrópole de 3º mundo.

Há alguns pontos bem-planejados como muita área verde.

O padrão de vida mesmo na periferia é razoável, em se tratando de América Latina.

Porém bem longe do que as pessoas imagem vendo a lavagem cerebral na TV.

Resumindo bem a coisa, aqui não há destaques superlativos nem positivos nem negativos. 

A cidade é rica mas também tem mais de 300 favelas, em vários de seus bairros.

E uma periferia esquecida, com muitos problemas, mesmo fora da favela.

Curitiba não é de “1º mundo”, como as mentiras midiáticas tentam impingir.

Entretanto, tampouco é de 4º mundo. Nosso Centro tem problemas sérios, mas não parece ter sido bombardeado.

Próximas 2: bi-articulados na 9 de Julho, pintura normal (portas dos 2 lados).

Já São Paulo é ao mesmo tempo tanto 1º quanto 4º mundo.

Um paradoxo. E as vezes convivendo lado-a-lado. Repare na última foto da matéria, abaixo a esquerda: 

Os pontos são no meio da pista.

Moderníssimo articulado tribus. Com coisas que os curitibanos só podem sonhar.

Vou repetir pra que fique bem claro: o bichão conta com ar-condicionado, piso baixo, ‘wi-fi’, tudo gratuito.

Confortos e mimos sem custos extras pro usuário, pela tarifa normal (ao contrário do Rio onde os ‘com ar’ são mais caros).

No entanto veja ao fundo, que situação está uma boa porção da Zona Central.  A imagem ao lado vale por mil palavras. Não é preciso argumentar além disso. Eu encerro meu caso

“Alguma coisa acontece no meu Coração…”

Que Deus Ilumine a todos.

“Deus proverá”

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