Água Verde, o maior bairro central (e o vizinho Portão)

Curitiba: os 10 bairros mais povoados da cidade, a Água Verde é o 9º e destes o único perto do Centro (em preto), alias Água Verde e Centro compartilham uma divisa de 1 quadra.

Por Maurílio Mendes, O Mensageiro

Publicado em 20 de Abril de 2020

Maioria das imagens de minha autoria. As que forem baixadas da internet identifico com um ‘(r)’ de ‘rede’, créditos mantidos quando impressos nas mesmas.

Vamos falar hoje da Água Verde, e também de seu vizinho Portão.

A. Verde, com pouco mais de 50 mil habitantes, é o 9º bairro com mais moradores em Curitiba.

O mais povoado da Zona Central, e também o que tem maior população entre os que são de maioria de classe-média (fora da periferia portanto) – vide o mapa acima.

Av. 7 de Setembro, 2018 (no dia da inauguração do Ligeirão Norte): a direita na imagem a Água Verde, a esquerda o Batel.

Sua característica marcante é ser um bairro bastante arborizado e verticalizado.

As canaletas do Expresso (termo curitibano pros ‘corredores exclusivos’) são ladeadas por prédios altos.

Pois em termos urbanísticos essas seriam a ‘orla’ de Curitiba.

Quero dizer com isso o seguinte: onde são os prédios mais caros do Rio de Janeiro, e de todas as cidades que têm praia? Na Beira-Mar, óbvio.

Já nas ruas internas do bairro, o perfil típico é esse, prédios baixos

Onde são os prédios mais caros de Curitiba? Ao lado do corredor de ônibus.

Cada cidade tem sua ‘orla’ peculiar, e parece que essa é a nossa.

Nas vias menores, internas do bairro, edifícios mais baixos, muitos sem elevador.

Uma vez que ali o zoneamento não permite tantos andares em cada empreendimento.

e com muitas árvores, tanto na Água Verde como em partes de seu vizinho Portão.

Sempre bastante arborizadas. Não é só a “Água” que é “Verde”, suas ruas também o são.

Alias, o nome do bairro vem do Rio Água Verde, que tem sua nascente ali (abaixo falo melhor dele).

Além de tudo isso, a Água Verde sedia 2 cemitérios, um municipal e um ‘israelita’ (judeu).

E o estádio do Athletico, a Arena da Baixada, que foi sede da copa do mundo de 2014.

Arena da Baixada: próximo dela começa o Rio Água Verde que nomeia o bairro (r).

……..

O Portão, apesar de vizinho, já fica localizado na Zona Sul.

Sendo este, o Portão, bem mais heterogêneo que a Água Verde.

Claro que a A. Verde ainda tem algumas casas mais simples, várias delas de madeira pois é Sul do Brasil.

Em outra panorâmica, o Terminal do Portão (a esq. o Centro Cultural). É uma foto antiga, hoje há mais prédios na região (r). Na prox. imagem, voltando ao nível do sol e as fotos de minha autoria, o Centro Cultural do Portão.

Ela é bem grande em extensão territorial, especialmente considerando que é bairro central.

A Água verde inclusive faz divisa com o Centro, sabia disso?

Em apenas uma quadra: na Av. 7 de Setembro, entre as ruas Brigadeiro Franco e Des. Motta.

Indo no sentido Seminário, a direita está o centro comercial (“shopping”, pra quem prefere em inglês) Curitiba – que fica no Centro, e não no Batel como alguns pensam.

Do lado esquerda da Sete é Água Verde. Portanto existe uma divisa Centro/Água Verde.

Porém a Água Verde ‘desce’ bastante pro sul, tanto que chega até o Portão.

Na divisa desses dois últimos bairros (Portão/Água Verde) está a ‘Vila Temática’ dos Estados.

Onde as ruas têm nomes dos estados brasileiros, como o nome indica.

Ao lado, obviamente, a placa da Rua Maranhão, no Portão.

Alias essa ‘vila temática’ se estende por 4 bairros, além desses 2 também a Vila Guaíra e Parolin, ambos na Z/C.

Na mesma ‘vila temática’ dos Estados, esquina da Rua Goiás com Marquês do Paraná: placas antigas verdes, usadas nos anos 60 e 70.

Do Parolin já falei melhor outro dia, aqui nosso foco é a Água Verde.

Eu dizia antes, esse é um bairro relativamente grande em área.

Divide com o Centro. Mas tem trechos bem distantes dele.

Um dia, muitos anos atrás, eu estava na A. Verde, nessa ‘vila temática‘.

Agora cruzamento da mesma Mq. do Paraná com Av. Água Verde: um dos únicos casos em Ctba. que a avenida principal tem o nome do bairro (os outros dois são o vizinho Batel, também na Z/C, e o Ganchinho, no extremo da Z/S) – em SP e outras cidades é bem mais comum.

Mais precisamente na Rua Pará, se a memória não me trai.

Perguntei ao morador da casa se ele achava a Avenida 7 de Setembro muito longe dali (eu pedia uma carona, na verdade).

Ele respondeu sem margens a dúvidas: “Claro que é longe, é lá no Centro“.

Entendi que não iria ganhar uma carona até lá, até a República Argentina sim, mas até a Sete estava fora de questão.

E o que há nessa esquina mostrada na foto anterior? Os 2 cemitérios da Água Verde, o ‘israelita’ em 1º plano (no detalhe o portal) e ao fundo o Cemitério Municipal.

Isso não vem ao caso aqui, estou contando essa história só pra vocês dimensionarem.

Vale lembrar que tanto a Rua Pará quanto a Sete de Setembro ficam no mesmo bairro, a A. Verde que falamos aqui.

No entanto, parecem ser muito distantes uma da outra, e de fato são.

Por isso, a Água Verde tem uma extensão bastante considerável.

E até os anos 60 e mesmo 70 do século passado (o 20, claro) partes da Água Verde ainda eram periferia.

Comércio com nome do bairro em frente ao ‘campo santo’, emoldurado pelos edifícios da República Argentina.

Ainda há resquícios dessa época, vistos nas casas de madeira, e mesmo de alvenaria, mas de padrão mais modesto.

Dos anos 80 pra cá, entretanto, foram já 4 décadas de aburguesamento intenso.

Resultando que se sim, ainda há algumas moradias mais humildes, elas são a exceção.

A Água Verde é majoritariamente de classe-média pra média-alta.

Enquanto que o Portão tem partes de classe-média, certamente.

Praça em frente ao cemitério.

Especialmente em torno do terminal e da canaleta de ônibus.

Ainda assim, ele também é um bairro extenso fisicamente.

E como já está mais afastado do Centro, tem um perfil distinto da Água Verde.

Digo, onde ambos os bairros se encontram eles são parecidos.

Igreja do Portão. Notam um bi-articulado chegando ao tubo. O ponto seguinte, no sentido bairro, é o terminal de mesmo nome – visto na próxima foto, agora ao nível do chão.

Na divisa com a Água Verde, o Portão é quase indistinto dela:

Prédios elegantes, de bom padrão, muitas ruas muito bem arborizadas.

No entanto, em seu extremo ocidental, no limite com a Fazendinha, ainda conserva algumas vilas que poderíamos classificar como ‘periferia‘.

É a região chamada ‘Portão Oeste’, que é diferente do ‘centrinho’ do Portão ao lado de seu terminal, onde ele encontra com Água Verde e Vila Izabel.

Além disso, o Portão tem algumas favelas, em graus diferentes de urbanização. Estou me refirindo, evidentemente, a Ferrovila e a Portelinha.

A primeira foi invadida no feriadão de 7 de Setembro, em 1991, e a segunda no “Março Vermelho” de 2007.

Abaixo contarei melhor a história de cada uma delas.

……….

Dê uma olhada na 1ª figura da matéria, aquele mapa – o Centro está pintado de preto como referência.

Aqui temos uma ideia do padrão econômico da Água Verde. Uma quitinete sai por quase R$ 200 mil, enquanto a cobertura está 730 mil (valores de fev.20. Como comparação, na ocasião tanto um Dólar estadunidense quanto uma passagem de ônibus de Curitiba custavam R$ 4,50. Já a tarifa em SP era 4,40).

Em cores, temos os 10 bairros mais populosos de Curitiba, pelo Censo de 2010.

Eram os que nessa contagem tinham mais de 50 mil habitantes (já falo melhor disso).

A disposição salta aos olhos: dos 10, nada menos que 9 são na periferia da cidade.

E todos eles são limítrofes entre si, reparou?

Formam um arco contínuo, do CIC na Zona Oeste, passando por 6 bairros da Zona Sul, e na outra ponta o Uberaba e Cajuru na Zona Leste.

Claro que ainda há casas mais simples na Água Verde (e comecinho do Portão que lhe é vizinho), várias delas de madeira. Aqui há uma na frente e outra nos fundos.

Apenas um deles é próximo ao Centro – trata-se da Água Verde.

Dos outros 9, vários são no limite do município, na divisa com os subúrbios metropolitanos.

Evidente que quase todos eles têm grandes porções de classe-média.

E até alguns bolsões de classe média-alta são encontrados nesses bairros.

VIAGEM NO TEMPO” – Agência de viagens (no Batel, divisa com Água Verde) tem na fachada logotipos de 3 cias. aéreas: TransBrasil (faliu em 2001), Vasp (fechou em 2005) e Varig (encerrou as atividades em 2007). Até 2020 a fachada ainda estava assim, ou seja, 13 anos depois da última delas acabar.

(Por exemplo, a região que chamam de ‘Ecoville’ na Cidade Industrial, e ‘Santa Bárbara’ no Uberaba.)

Ainda assim, no geral esses 9 bairros são majoritariamente de periferia.

A maior parte de suas populações é de classe trabalhadora.

Então. E a Água Verde tem um perfil diferente dos demais.

Primeiro, ela faz divisa com o Centro – em apenas 1 quadra, mas faz. Segundo, ela é bastante verticalizada. Nas canaletas do Expresso (Avenidas 7 de Setembro e República Argentina) com espigões mais altos.

Seguindo na mesma balada, oficina com os logotipos somente das montadoras que existiam no Brasil nos anos 80 e começo dos 90: Volks, GM, Ford e Fiat (essa até já mudou a logmarca). A Água Verde parece estar em uma dimensão paralela.

E nas vias internas com prédios mais baixos, vários deles de até 4 andares, sem elevador portanto.

(Há também os que oscilam entre 6 a 12 andares, e então contam com esse equipamento.)

Terceiro e mais importante, é um bairro de majoritariamente de classe-média e média-alta.

Natural, pois a Água Verde é vizinha do Batel, que é o bairro de renda mais elevada de Curitiba.

De forma que um pouco da riqueza do Batel ‘transborda’ pra ela.

Prédio tem como decoração a imitação de um poço. É só brincadeira, não sai água dali.

Assim é a Água Verde: muitos prédios, sendo na parte interna do bairro a maioria deles mais baixos.

Ruas muito arborizadas, tudo é muito bonito, mas o preço do metro quadrado é considerável.

10 bairros de Curitiba têm mais de 50 mil pessoas morando em cada um deles.

Sim, eu sei. A matéria sobe pra rede em abril de 2020. A contagem foi feita em 2010, já um pouco desatualizada.

No entanto, são os dados do último censo. E censo é a contagem mais fiel, a única que vai de casa em casa.

Aqui e a dir.: ainda há alguns terrenos antigos, enormes, com casas mais simples, que por enquanto não viraram prédios. Resistirão por quanto tempo?

Projeções as vezes erram feio, por isso nem busquei saber se havia alguma projeção mais atual.

Em 2020 haverá novamente um censo. Aí saberemos melhor qual é a população de cada bairro de forma mais atualizada.

Seja, como for, os números vão mudar um pouco, mas o quadro principal não se altera:

Os 10 bairros mais populosos são ao sul do Centro – pois “Curitiba Cresce para o Sul”.

9 na periferia, embora alguns deles tenham porções elitizadas.

E apenas 1 na Zona Central e de perfil majoritário de classe-média, justamente a Água Verde.

Além disso, o bairro abriga a Arena da Baixada, do Athletico Paranaense.

É um dos estádios mais modernos do Brasil, e não falo isso por paixão clubística.

Panorâmica da Zona Central (r): Centro em 1º plano, no meio da imagem Batel e Água Verde.

Eu certamente não sou atleticano (apesar de ter ido assistir um jogo do CAP pela Libertadores/2017 em Buenos Aires/Argentina.

Pra equilibrar, também já presenciei no estádio uma partida do Coritiba em Belo Horizonte-MG, contra o Cruzeiro em 2012.

Simplesmente eu gosto de futebol, quando viajo e tenho oportunidade vou ao estádio, independente de que time jogue).

Aqui e na próx. imagem: comecinho da Rep. Argentina, logo após a Pça. do Japão (r). Essa foto na 1ª década do século 21.

Não sou torcedor desse nem de qualquer time, não inicie aqui discussão clubística porque não é o espaço pra isso.

Estou falando do time pra falar da cidade. Isto posto, sigamos.

O Athletico tem sede nesse bairro, repetindo o que todos sabem.

O paradoxo é: o CAP fica na Água Verde, mas é rubro-negro.

Seu arqui-rival, o Coritiba (apelidado ‘Coxa’), é que é verde, verde-&-branco alias.

Agora na virada dos anos 70 pra 80 – haviam muito menos prédios; o Expresso havia acabado de começar. Vemos um Veneza-Expresso indo, e um Haragano vindo (fonte dessa e outra imagem: a Folha do Omnibus).

O Couto Pereira, estádio do Coxa, também é conhecido como ‘Alto da Glória‘, porque está localizado no bairro de mesmo nome.

Igualmente fica na Zona Central, mas do outro lado, ao norte do Centro – bem próximo ao Juvevê, que é onde moro atualmente.

Voltando a Baixada do CAP. Bem perto do estádio fica a nascente do Rio Água Verde, que nomeou o bairro.

O rio foi canalizado e corre subterrâneo a maior parte de seu percurso.

Agora bem na Praça do Japão, uma década mais tarde, fim dos anos 80: exceto os prédios e a própria praça, tudo aqui retratado não existe mais, vide explicação no texto (foto do sítio Ônibus Brasil).

Sua foz é no Rio Belém, o maior rio de Curitiba (nasce e tem sua foz dentro do município da capital do estado).

O Rio Água Verde deságua nele perto da Vila Capanema, antiga favela agora urbanizada, que fica entre os bairros Prado Velho e Jardim Botânico.

……..

Na Água Verde, próximo a divisa com o Batel, está a Praça do Japão, ícone desses 2 bairros. 

E essa praça é o ponto final da mais nova linha de Expresso de Curitiba (escrevo em 2020):

Próximas 4 tomadas: Praça do Japão, 2018.

200-Ligeirão Santa Cândida/Pça. Do Japão, criada em 2018.

Também conhecida como ‘Ligeirão Norte’, porque liga os terminais da Z/N (além do S. Cândida, o Boa Vista e o Cabral) a região central.

Ao lado o bi-articulado contorna a praça pra retornar a Zona Norte.

Posteriormente esse ligeirão será estendido aos terminais do eixo Sul-1: Portão, Capão Raso e Pinheirinho.

Totem quadri-língue (japonês, português, inglês e alemão) deseja ‘Paz na Terra‘.

Quando isso acontecer, ele passará a ser o Ligeirão Norte/Sul.

Disse na legenda da foto a direita acima que “tudo aqui retratado não existe mais“. De fato assim é:

Não há mais ponto de ônibus na praça, apenas perto dela;

Os Expressos começaram vermelhos, tinham virado laranjas, mas depois voltaram ao vermelho;

– Vemos articulado da ‘Frota Pública’ da Urbs, a única tentativa de Curitiba da história de ter ônibus com ‘chapa-branca‘ – me refiro a veículos de propriedade estatal.

Já se encerrou a muito, toda a frota voltou a ser propriedade privada;

A Ciferal, que fabricou essa carroceria, faliu e foi incorporada pela Marcopolo;

– E por fim vem que o busão vai pro Terminal Cidade Industrial (CIC):

No entanto, desde a implantação do bi-articulado em 1995, o Terminal CIC deixou de contar com Expressos, agora só com Ligeirinhos pra ligá-lo direto ao Centro.

Memorial da Imigração Japonesa (r). A seguir um desenho da mesma cena.

Nota: o termo “chapa-branca”, supra-citado, se refere a que por 5 décadas a frota que pertencia ao governo, em qualquer esfera, tinha a placa na cor alva pra indicar isso.

Foi assim no emplacamento que vigorou de 1970 ao começo da década de 90 (2 letras, 4 números) e no que o sucedeu, do início dos anos 90 a virada pra década de 20 do séc. 21 (3 letras, 4 números).

Os automóveis particulares tinham placa amarela no primeiro padrão, e cinza no segundo.

A frota pesada e comercia (caminhões, ônibus, táxis), contava com placas vermelhas nos dois padrões.

Agora, no atual emplacamento padrão ‘Merco-Sul’, todas as chapas têm o fundo branco.

Muda apenas a cor da letra pra indicar frota particular (preto), comercial (vermelho) ou oficial (azul).

Quem presenciou “aquele tempo” conhece a expressão ‘chapa-branca’, a explicação é pros mais jovens entenderem.

……….

Falei acima da Vila Capanema. A Zona Central de Curitiba tem 2 grandes antigas favelas.

Mapa mostrando a Ferrovila, falaremos bastante dele no texto.

Agora urbanizadas, mas alguns problemas permanecem como é notório:

Uma é a Vila Capanema, como acabamos de comentar. O Rio Água Verde tem ali sua foz, digo mais uma vez, mas o Capanema não é perto do bairro A. Verde. 

A outra grande “comunidade” (antiga favela) da Z/C é a Vila Parolin. Essa sim é vizinha da Água Verde.

Logo abaixo da Vila Parolin está o começo de outra vila, a Ferrovila que igualmente citamos mais pro alto no texto.

Essa, a Ferrovila, tem um trecho no Portão. Onde hoje é o centro comercial ‘Palladium’ inclusive era parte da invasão.

Já publiquei em outra matéria essa história:

Mapa russo do ‘Yandex’ ainda mostra Curitiba como se estivesse ativa a linha férrea que originou a Ferrovila – está ‘um pouco’ atrasado, essa ferrovia foi desativada no fim dos anos 80. Seja como for, aqui podem conferir o trajeto dela, onde surgiu a Ferrovila. Captei a tomada em julho de 18, note a temperatura de 5º, Curitiba estava tendo um inverno gelado – como sempre, alias.

A Ferrovila é a vila mais comprida de Curitiba, sem sombra de dúvidas.

Vai do Parolin (Zona Central), perto da Av. Marechal Floriano, até a CIC (nessa parte é Zona Sul), depois do terminal de mesmo nome.

Passando pelos bairros Vila Guaíra (Zona Central), Portão (Zona Sul) e Fazendinha (Zona Oeste).

Na verdade ela justamente divide a Zona Sul primeiro da Zona Central e depois da Zona Oeste. 

É o seguinte: até o fim dos anos 80 havia ali uma linha férrea, por isso o nome (vide mapa a esq.). 

Passe ali perto do terminal do Portão, verá ainda alguns trilhos remanescentes nos cruzamentos.

Alias, um trecho da rua que é o endereço da Ferrovila ainda é “Estrada de Ferro Curitiba-Araucária”.

O terreno NÃO está a venda” – aqui em Ctba. é a 1ª vez que vejo esse aviso. Na Colômbia é muito comum, na África também.

Evidente, não passam mais trens ali há tempos mas o nome ficou.

Essa estrada de ferro saía da Rodoferrovária, ia pela João Negrão (ao lado do Teatro Paiol mantiveram de recordação uma ponte ferroviária sobre o Rio Água Verde) e após cruzar a Marechal embicava a oeste.

Quando retiraram a linha férrea, a prefeitura almejava fazer conjuntos habitacionais no local.

Mamoeiro na via pública.

Tudo isso em convênio com grandes corporações, que financiariam os apartamentos a seu quadro funcional

Uma das empresas escolhidas pra parceria era o então existente Bamerindus.

Esse que chegou a ser o 3º banco privado do Brasil e que tinha sede aqui em Curitiba, como sabem.

E de fato alguns prédios foram erguidos, um desses conjuntos dá pra ver da Marechal Floriano, no Parolin (abaixo):

Aqueles pombais (prédios baixos, sem elevador) logo antes do viaduto sobre a Linha Verde (antiga BR-116).

Na Vila Guaíra, pouco a frente na antiga Ferrovila, há outro trecho com prédios.

Prédio no Parolin: projeto – em parceria com iniciativa privada – era ocupar toda Ferrovila com esses conjuntos; não deu tempo.

Porém, no feriadão de 7 de setembro de 1991, promoveram uma das maiores invasões urbanas da história de Curitiba, e certamente a mais famosa:

Justamente a Ferrovila, em todo o terreno vago antes ocupado pela ferrovia que ainda não tinha prédios.

E isso, amigos, do Parolin ao CIC. Passando, repito mais uma vez, pela Vila Guaíra, Portão e Fazendinha.

Próx. 2: fundos do Centro Cultural Portão, cuja frente é pra Av. Rep. Argentina (no detalhe a mesma flor roxa em melhor definição).

O trecho em branco no mapa na Guaíra é justamente onde não foi tomado.

Porque ali já haviam prédios, enfatizando ainda mais uma vez.

A Ferrovila tem um enorme trajeto (é fina mas muito comprida).

Assim ela fundiu-se com várias favelas – em graus variados de urbanização – que encontra pelo seu caminho.

Ampliando-as e tornando tudo ainda mais complicado do que já estava.

Bela praça, ampla e arborizada (lembra as praças do interior da Argentina, que sempre são bem grandes).

Hoje essas vilas foram urbanizadas, e melhoraram muito.

Só que em 1991 não era assim, ao contrário, era bem diferente.

Em vermelho no mapa um pouco mais pra cima a direita, a Ferrovila.

E na cor laranja desenhei as demais vilas que ela uniu e ampliou.

Aqui e a esq.: no Portão há uma ‘mini vila temática‘ com as cidades do Litoral do PR. 1º a Rua Paranaguá, a seguir Morretes.

Ela começa ampliando e fundindo-se com a Vila Parolin.

Uma das “comunidades” mais emblemáticas de toda cidade.

Ela fica no bairro de mesmo nome (óbvio) e também no vizinho Vila Guaíra, na Zona Central.

A seguir a Ferrovila entra no Portão, foi a primeira favela do bairro.

Conversei com pessoas que ali moravam quando a Ferrovila surgiu.

Ela mudou o perfil do Portão, que até então era homogeneamente de classe média.

Torino (ainda na época da placa de 2-letras) na extinta linha de Expresso Cabral/Portão – não confindir com a atual Cabral/Portão, que é alimentadora e vai por fora da ‘canaleta’. Época de transição, os Expressos eram vermelhos, ficaram laranjas na época da ‘Frota Pública‘ (a dir. um articulado Ciferal) e por fim voltaram ao vermelho. Bem, agora há a linha de Expresso Cabral/Capão Raso.

A convivência entre diferentes setores da população nem sempre é pacífica, como é sabido.

Especialmente quando surge uma invasão num bairro de padrão mais elevado.

Em 2007 em nova onda de invasões surgiram mais 3 favelas na divisa do Portão e Santa Quitéria.

O chamado ‘Complexo da Portelinha’ (falarei melhor disso logo abaixo):

3 vilas gêmeas que se fundiram a uma favela mais antiga que havia ali.

Porém a Portelinha, de 2007 como dito, é longe da Ferrovila. Voltemos a discorrer o trajeto dessa última

No Portão ela ia até a República Argentina e a Avenida Presidente Kennedy.

Garagem da Redentor: em 1º plano um Monobloco (adaptado pra 3 portas, veio de fábrica com 2). Note que está escrito ‘Convencional’: nos anos 90 era assim, vinha a categoria da linha na lateral, uma informação redundante, a cor do veículo já informa isso. Atrás, e por isso adicionei essa foto, um Amélia na linha convencional Portão (não confundir com o Expresso, essa não entra no terminal; e hoje é feita por micrões).

O terreno onde hoje está o centro comercial (“shopping”, pra quem prefere em inglês) ‘Palladium’ também foi ocupado, dizendo de novo.

Nunca esquecerei o dia, em 1994, que passei nessa esquina e vi a Ferrovila, eu não sabia que que no coração do Portão havia uma favela.

Então, essa quadra acabou sendo o único trecho até hoje removido da Ferrovila, todos os demais permaneceram. Está em azul no desenho.

Ainda no Portão mas já do lado ocidental da avenida do expresso, a Ferrovila retoma.

Na divisa com o Novo Mundo funde-se e amplia outra grande antiga favela (sendo urbanizada), a Vila Uberlândia. 

Triplex muito antigo na Água Verde, o porão tem até saída pra rua lateral.

Cada uma é num bairro, mas a fronteira é só teórica, na prática Ferrovila e Uberlândia são a mesma vila nesse trecho.

Quando a Ferrovila entra na Fazendinha, funde-se do outro lado da divisa (no Novo Mundo) com mais uma antiga favela, a Vila Maria.

Que é pertencente mas já um pouco separada do “Complexo” da Uberlândia.

Moradia em madeira, bem antiga.

Aí a Ferrovila segue seu rumo a oeste, passando pelo bairro da Fazendinha.

E depois Cidade Industrial, paralela a Rua João Bettega, principal via que une esses 2 bairros.

Em seu último trecho, ela ainda funde-se e amplia a Vila Nossa Senhora da Luz, justamente o trecho que esteve esse colega.

Conjunto moderno, de classe média-alta, com o nome do bairro.

A Nossa Senhora da Luz (N.S.L.) não é uma invasão, e nunca foi.

Exatamente ao contrário, é uma cohab, a 1ª cohab de Curitiba.

Feita justamente pra remover diversas favelas que então haviam na cidade.

Ainda assim a N.S.L. é uma vila de subúrbio, as casas têm escritura, mas é uma região de periferia, com tudo que isso acarreta.

Amigos, já disse muitas vezes e vou repetir: eu gosto da periferia.

Não falo com desprezo, nem um pouco. Exatamente ao contrário.

Aqui e na tomada seguinte, o contraste: residências antigas e mais simples em 1º plano, emolduradas pelos edifícios que surgem em ritmo elevado desde os anos 80.

“Moro numa invasão da Zona Sul“, escrevi quando fiz o texto. Atualizando em 2020, eu me mudei do Canal Belém em 2017.

Então temos que pôr o verbo no passado: eu morei 15 anos no Canal Belém, uma invasão do Boqueirão.

Morei ali porque eu quis morar, porque eu gosto de periferia.

Conheço milhares sobre milhares de favelas e subúrbios, pelos 4 quadrantes da América – e agora até da África.

Tem até rede na garagem. Isso é que é vida!

Leia minha minhas incursões nas favelas e periferias de  Argentina, Colômbia, México, Paraguai, Chile, Rep. Dominicana.

Agora no Brasil: Belo Horizonte-MG, Santos-SP, Florianópolis-SC, João Pessoa-PB, Belém-PA, Fortaleza-CE.

Bem como aqui em Curitiba: Rio Branco do Sul, Colombo e Cachoeira na Zona Norte.

As ruas da Água Verde/Portão são assim, sempre muito arborizadas.

Caximba, Tatuquara e Bairro Novo na Zona Sul, São Miguel e Augusta (ambas na divisa com a Cidade Industrial) na Zona Oeste, entre outras andanças.

Quando viajo, não vou a museus e muito menos aos centros de compras (‘shoppings’).

Nem faço os programas que as pessoas de classe-média adoram.

Ao contrário, vou de transporte coletivo ao subúrbio porque amo o subúrbio, digo mais uma vez.

Prédios mais baixos nas ruas internas (esse com a bandeira da Pátria Amada na janela).

Ainda assim, as coisas são o que são, que se pode fazer?

Eu não mudo o termo pra ‘comunidade’ tentando tapar o sol com a peneira grossa.

Isto posto, retomando. A Vila Nossa Senhora da Luz nunca foi uma favela.

Não muda o fato que é uma vila de periferia, sem sombra de dúvidas.

Entre as rápidas e canaleta surgem os edifícios mais altos.

E foi ali que a Ferrovila foi desaguar, após principiar no Parolin.

Taí cara, serpenteando por toda a Zona Sul e ainda pegando trechinhos das Zonas Central e Oeste, eis a Ferrovila.

Agora urbanizada, não mais favela, mas ainda nossa vila mais comprida.

………..

Portanto até 1991 o Portão não tinha grande favelas em seu território. De 1991 a 2007 houve apenas uma, a Ferrovila.

Vila com muitas casas no quintal, comum na periferia mas raro na Zona Central; ainda assim, existem algumas, como essa na Água Verde.

Pois em março de 2007 foram 4 invasões simultâneas na Zona Oeste e imediações. Uma, no Campo Comprido, foi retirada.

Bem próximo dali ocorreram outras três invasões na divisa entre os bairros Santa Quitéria e Portão.

(Sendo duas delas na S. Quitéria e uma outra no Portão).

As 3 são vizinhas e se configuram como uma massa só.

Sobrado de padrão relativamente elevado, prédio baixo e outro em construção ao fundo.

Muda apenas o lado da Rua Rezala Simão, que divide os bairros.

Pelo menos parte da invasão também se deu em terrenos de propriedade da falida construtora Cidadela.

Situação que alias se repete muito pela cidade, não é difícil entender o porque.

Pois os terrenos estão em um vácuo jurídico de massa falida.

Via Rápida na Água Verde (sentido Centro), quase na divisa com Portão.

O que dificulta bastante ações de reintegrações de posse.

O local é chamado de Portelinha, em homenagem a uma novela da Globo.

Na qual Antônio Fagundes vive um líder sem-teto que organiza uma ocupação com esse nome.

Também veio unir seu território com invasões mais antigas que existiam no local.

Final de tarde na Avenida República Argentina, Água Verde.

………

Agora, já que tocamos nesse tema, há de se acrescentar uma coisa.

Sim, o Portão pode não ter tido grandes favelas até 1991, e até 2007 só a Ferrovila.

No entanto, em bairros próximos ao Portão haviam sim invasões.

Uma era bem pequena, no bairro Santa Quitéria, Zona Oeste.

Aqui e a dir.: Pinheiro, árvore-símbolo do PR.

As 3 simultâneas que surgiram na divisa do Portão e Santa Quitéria, em 2007, vieram se somar a essa.

E no bairro Novo Mundo, na Zona Sul, há a Vila Uberlândia.

Ela não fica no Portão, mas por pouco. É na divisa entre esse bairro e o Novo Mundo, já no território desse último.

Tanto que o alimentador Uberlândia sai do Terminal do Portão.

Esse tem elevador, certamente.

A Vila Uberlândia se une com a Ferrovila, como já dito acima.

……..

Enfim, meus amigos, assim é a Água Verde, e a parte do Portão que lhe é próxima:

Uma região no geral com perfil de classe-média e média-alta.

Tudo isso se reflete na quantia de centros comerciais (‘shoppings‘).

Edifício novo e com muitos andares, no detalhe os varais na sacada.

São 3 num espaço de poucas quadras, muito próximos entre si.

O pioneiro, entre esses dois bairros, foi o Água Verde, em 1988.

Vieram depois e se instalaram ali perto, nas imediações do Terminal do Portão, o ‘Palladium’ e o Ventura (até 2017 chamado ‘Total’).

No entanto, A. Verde e Portão ainda têm resquícios de quando não haviam se aburguesado tanto, até os anos 70 e 80.

Se eu tivesse que definir a região em poucas palavras, diria isso:

Outra casa de madeira, com cactus na frente.

Ruas internas muito arborizadas, calmas e com prédios baixos.

Edifícios altos e um comércio muito desenvolvido na canaleta do Expresso e entre as rápidas.

Creio que essa imagem resume bem. Falando nisso, mais cenas desses bairros:

FLORES NO PORTÃO

(E ÁGUA VERDE):

Encerro com uma mensagem publicada em 17 de agosto de 2020.

Não é preciso dizer muito, as imagens valem por milhares de palavras. Basta apenas conferirmos a galeria abaixo:

Mais algumas flores, e achamos em pleno 2020 guerreira Belina Ford ainda na ativa.

Portais que essa matéria está ancorada, se você quiser conferir as reportagens sobre bairros próximos:

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Que Deus Ilumine a todos.

“Deus proverá”

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