de brinde: antiga rodoviária da luz (na pça. júlio prestes) em sp, e um pouco da história da viação cometa –
INTEGRA A “ENCICLOPÉDIA DO TRANSPORTE URBANO BRASILEIRO“
Por Maurílio Mendes, “O Mensageiro”
Publicado em 25 de janeiro de 2013, aniversário de SP.
Maioria das imagens oriundas da internet, os créditos foram mantidos sempre que impressos nas mesmas. As que forem de minha autoria identifico com um asterisco ‘(*)’.
“Recordar é viver”, segundo alguns, né? Então, pra gente continuar vivo, vamos lembrar como era a Rodo-Ferroviária de Curitiba “naquele tempo”.
A maioria das fotos é da década de 80, também há algumas mais recentes.
A Rodo-Ferroviária fica no bairro Jardim Botânico, na Zona Central. Mas um dia pertenceu ao Cajuru, sabia?
Na matéria original, em 2013, apontei as opções pra quem quiser chegar até ela de ônibus urbano.
Escrevi: “as linhas que param bem na porta são entre outras a de micro-ônibus Circular Centro e Executivo Aeroporto (e também a Linha Turismo)”.
Bem, nenhuma delas mais param na Rodoviária. A Linha Turismo foi desviada uma quadra adiante, pra Av. 7 de Setembro, na entrada dos fundos do Mercado Municipal.
Enquanto que o Circular Centro e o Executivo Aeroporto foram extintos em 2020.
A melhor opção na verdade é pegar o Eixo Leste/Oeste do Expresso, cujo tubo é bem em frente.
O convencional Cristo Rei e o Inter-Bairros 1 também passam próximos, entre outras opções.
Ao lado Margeando a ‘Rodo’ está o Rio Belém, o maior rio de Curitiba, que mais a frente divide os bairros Uberaba (Zona Leste) e Boqueirão (Zona Sul).
Em Curitiba os terminais de ônibus de viagem e da única linha de trem de passageiros que ainda opera (pra Paranaguá) são juntos, por isso o termo “Rodo-Ferroviária”.
(Nota: Brasília-DF por muitos anos também teve uma “Rodo-Ferroviária”.
Não mais. Em 2010 foi inaugurada uma novíssima rodoviária na capital federal.
E ambas não devem ser confundidas com a rodoviária pioneira, a “Rodoviária do Plano Piloto”.
No entanto ali também paravam também ônibus urbanos, esses continuam lá, era – e ainda é – o Terminal Central da cidade.
Em 1980 veio a “Rodo-Ferroviária”, no final do Eixo Monumental, perto do Cruzeiro e do Setor Militar, pra onde foram os ônibus de longa distância,
Funcionou dessa forma entre 1980-2010, por esses 30 anos dividiram o espaço com os trens, como aqui em Curitiba.
E pra substituir a Rodo-Ferroviária em 2010 veio a novíssima Rodoviária, a 3ª da cidade portanto.
Que fica perto do Núcleo Bandeirante e do Setor de Mansões [o nome oficial do bairro é esse, não é ironia], integrada ao metrô.
Tudo somado: a capital federal já construiu 3 rodoviárias nos seus primeiros 50 anos de vida.
A que durou mais tempo, 30 anos, era também uma Rodo-Ferroviária, agora desativada.)
Deixemos falar de Brasília em outro momento porque aqui o tema é Curitiba, evidentemente.
Coloquei tudo isso só pra dizer que durante três décadas essas duas cidades foram as únicas que tinham “Rodo-Ferroviária”,
E somente nessas duas cidade isso existia, ao invés de simplesmente ‘rodoviária’ como é em todo lugar.
Não é mais assim, repito. Agora, só Curitiba mesmo é quem tem Rodo-Ferroviária.
……………
Comentemos as fotos, que são a atração principal dessa postagem.
Apenas farei um pequeno comentário em cada uma delas, falando um pouco sobre a viação e o modelo do ônibus.
Nem sempre as imagens estão ao lado da descrição. Busque portanto o que vai ser descrito abaixo pelas legendas. Vemos no decorrer da página:
A primeira foto, logo no topo, mostra 3 Monoblocos Mercedes-Benz e um Marcopolo.
1º ônibus: Monobloco da Viação Graciosa (essa empresa ainda existe e atende o Litoral) em pintura dos anos 70, que não cheguei a presenciar, já mudada há tempos.
2º: Monobloco da Lapeana. Não presenciei igualmente essa pintura, mas lembro da empresa, que existiu até a primeira década do século 21.
Depois foi comprada por um grande conglomerado e acabou extinta.
(Conglomerado esse que além da maior companhia aérea do Brasil possui diversas viações de ônibus.
Tem o monopólio do transporte urbano na Baixada Santista [Litoral Paulista], Blumenau-SC, além de forte presença em Brasília, São José dos Campos-SP, entre muitas outras cidades.)
O Monobloco Mercedes-Benz (com seus diversos modelos, do 0-321 ao 0-400) foi popular nas estradas e ruas do Brasil dos anos 60 aos 90, e mesmo no começo do novo milênio.
Veja as Rodoviárias do Sudeste (Rio e B.H.) forradas de ‘Monos’, na mesma época. Nessa postagem há ainda diversos desses bichões redondos no modal urbano.
De volta a Ctba: 3º veículo dessa mesma foto, um Marcopolo. Não sei o nome do modelo da carroceria nem identifico a empresa.
Atrás, mais um Monobloco da Graciosa, justamente na pintura que estava substituindo a primeira.
Essa pintura durou muitas décadas, dos anos 80 aos 2000.
E portanto me lembro perfeitamente, tendo muitas vezes andado nos ônibus que a ostentavam.
Recentemente (quando a postagem foi pro ar) foi aposentada.
Lá no fundão, com a mesma pintura e da mesma empresa Graciosa portanto, está vindo um Nielson Diplomata.
Todos esses veículos foram fabricados nos anos 70, a foto é provavelmente do início dos anos 80.
(Como é sabido, a Graciosa também opera linhas urbanas inter-municipais [metropolitanas] na Grande Curitiba.
Enquanto a pintura era livre, a empresa decorava tanto os rodoviários quanto os urbanos exatamente da mesma forma.
Veja a pintura de quase todas as empresas metropolitanas antes da padronização dos anos 90.
Hoje os metropolitanos de Curitiba são padronizados uni-color.
A questão é que no Litoral a Graciosa ainda opera na pintura livre ônibus urbanos, com 2 [ou3] portas e catracas. E é a mesma dos rodoviários.)
Nessa fila aparecem 3 ônibus da viação Graciosa, portanto. O que é natural, já que ela detém o monopólio entre a capital e o Litoral.
São o 1º e o 4º ‘carros’ (ambos Monoblocos ‘1’ [“0-362” no léxico do fabricante], embora em pinturas distintas como já descrito), e também o 6º e último busão da sequência, um Nielson Diplomata.
Tudo isso já dissemos. Repeti aqui porque entre dois busões da Graciosa o quinto ônibus, bege com escritos em marrom, é o mais antigo entre os fotografados nessa imagem.
É também um Mercedes Benz-Monobloco, mas do modelo 0-321.
Um pioneiro, o vovô de todos os outros, produzido no começo dos anos 60.
Já estava velho quando tiraram essa foto, fazia suas últimas viagens antes da merecida aposentadoria..
Os demais monoblocos retratados na matéria foram fabricados entre o fim dos anos 60 e início dos 80.
Os Monoblocos fizeram sucesso também no transporte urbano: uma foto clássica mostra um ‘Mono’ 0-321 em ação em Brasília no já distante ano de 1967 – a nova capital tinha só 7 anos.
Voltando a falar dessa tomada na ‘Rodo’ de Curitiba na década de 80, não identifico a viação desse velho Monobloco. Talvez seja a mesma Lapeana do que está a frente.
Na tomada que está sobre a manchete mais um glorioso Nielson Diplomata, dessa vez da Estrela Azul.
E atrás dele um Marcopolo, novamente não identifico o modelo da carroceria nem a viação.
Lá no fundo, um Monobloco de empresa não-identificada, talvez a mesma Lapeana citada acima.
Me lembro perfeitamente dessa pintura da Estrela Azul, que já foi aposentada.
A viação ainda existe, e atende o Sul do Paraná. Aqui demos conta da viação.
Agora, o ônibus em si. A Nielson, de Joinville-SC, é a precursora da Busscar (já fiz matéria específica mostrando a trajetória da empresa).
Nos anos 70 e 80 ela não fazia ônibus urbanos, só rodoviários.
No já distante ano de 1987 (quando Santa Catarina ainda não tinha um articulado sequer) ela lançou sua primeira carroceria urbana, chamada justamente de Urbanus.
Faz tempo, mas me lembro como se fosse hoje, embora eu tivesse somente 10 anos. Sempre fui busólogo.
Logo depois de adentrar no novo segmento, a Nielson mudou seu nome pra Busscar.
Os anos 90 e começo dos 2000 foram seu zênite, abocanhou fatia enorme do mercado nacional e também teve fábricas na Colômbia e México.
Em Bogotá a Busscar fez tanto sucesso que virou ícone, relatei com detalhes quando estive lá em 2011.
Entretanto, tudo que começa um dia acaba, a Busscar quebrou e teve a falência decretada oficialmente em 2012.
(Sim, a Busscar voltou em 2018, mas agora somente no modal de ônibus de viagem, urbanos não – como ela era nas suas primeiras 3 décadas de vida, alias).
………..
Agora comentemos da foto cuja legenda diz “Chegando a capital paranaense vemos dois Monoblocos Mercedes-Benz: a frente da Reunidas seguido por um da Penha“.
Ambas as viações ainda existem, a Reunidas atende o Norte de Santa Catarina.
Já a Penha por décadas ligou Curitiba também a Santa Catarina, fui muitas vezes pra Joinville e Florianópolis com ela.
Porém depois vendeu essas e outras linhas a Catarinense, e hoje (2013) se limita a ir pro Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.
Não presenciei essa pintura (aqui me refiro a Penha), que é dos anos 70.
Depois que essa foto foi tirada a Penha foi vendida pra Itapemirim, a quem pertenceu por décadas.
Por vemos a garagem da sede da Penha (Trevo do Atuba na BR-116 na Zona Norte de Curitiba) cheia de ônibus verdes e amarelos, cor que consagrou essas duas empresas.
E recentemente (na ocasião da postagem) dessa desmembrada e novamente vendida, também pro grupo que controla a maior cia. aérea do Brasil. A Penha não foi extinta, como sucedeu a Lapeana.
Quanto a Reunidas, essa pintura aqui retratada já foi aposentada.
Vigorou com pequenas variações (retiraram o cinza, mas a fonte [o tipo da letra], o emblema e a faixa vermelha permaneceram) até os até os anos 90, e eu me lembro dela, já re-estilizada, como descrevi.
Em tempo. Assim como a Busscar em 2012, a Mercedes-Benz deixou de fabricar carrocerias, nesse caso no ano de 1994.
Hoje ela fabrica apenas chassi e motor, outras empresas é quem cobrem o veículo.
AS DUAS PRINCESAS –
Então vamos descrever a tomada cuja legenda diz “Em 1º plano um da Princesa do Norte, atrás Princesa dos Campos, e ultrapassando ambos um da Nordeste”.
O busão que está no centro dessa tomada é um Marcopolo da Princesa dos Campos.
Essa viação ainda existe. Atende o Centro do Paraná, a região de Ponta Grossa, chamada de “Campos Gerais”, até daí vem o nome da empresa de ônibus.
Já essa pintura, que é dos anos 70, eu não cheguei a ver pessoalmente.
O veículo aqui retratado também foi fabricado nos anos 70, por se tratar de um São Remo (eu sei, o nome original é ‘San Remo’, em italiano. Mas eu traduzo tudo, sempre que possível).
Um detalhe muito interessante. Vejam que o último ônibus estacionado, na parte de cima da foto, é um articulado. Um articulado rodoviário, é isso aí.
Logo que os articulados surgiram na virada da década de 70 pra 80 algumas empresas usaram eles como veículos de viagem, e não apenas urbanos, como ocorre hoje.
Não deu certo, porque as rodoviárias não eram adaptadas pra esses ônibus mais longos, criando diversos problemas de logística.
Podem ver aqui, o ‘rabo’ dele está estorvando outros ônibus passarem e manobrarem.
Por esse detalhe, a foto necessariamente precisa ter sido batida na primeira metade dos anos 80.
Pois os articulados já existiam, e ainda eram usados como rodoviários, o que durou pouquíssimo. Recordar é viver…..
Na tomada logo acima dessa vemos novamente os mesmos veículos das Princesas em novo ângulo, estacionados nas plataformas como acabo de descrever.
A novidade é o ônibus da Nordeste a ultrapassá-los, a direita. Todas as viações ainda existem.
Veem no alto, parado, o São Remo da Princesa dos Campos, que na outra foto supra-citada já está em movimento.
Abaixo dele, um ônibus de uma outra Princesa, a Viação Princesa do Norte.
O modelo do veículo é um saudoso Ciferal, sigla de “Companhia Industrial de Ferro e Alumínio”, montadora carioca que foi comprada pela Marcopolo.
Ainda existe, mas só como nome-fantasia. O capital é 100% Marcopolo, desde o ano 2000.
(Escrevi esse texto em janeiro de 2013, e essa era a realidade a época.
Em dezembro desse mesmo ano, entretanto, a corporação decidiu extinguir a marca ‘Ciferal’.
A partir de 2014 todos os veículos produzidos pela ‘Marcopolo’ passaram a ser assinados dessa forma, com seu nome próprio.)
A Nimbus (em foto abaixo aparece um busão feito por ela) da mesma forma foi comprada e extinta pela Marcopolo, agora só em fotos e na memória de quem viu, não sobrou nem nome-fantasia.
Afinal ambas (Marcopolo e Nimbus) ficavam na mesma cidade, Caxias do Sul-RS, e a Marcopolo, que hoje é a maior do mundo.
Acaba (no momento que esse texto foi escrito) de comprar uma parte da canadense ‘New Flyer’, começou sua ascensão ao topo exatamente fundindo a Nimbus a seus quadros, em 1977.
A Neobus (ex-Thamco) é da mesma forma de Caxias do Sul, e é também mais um nome-fantasia.
Quando fiz esse texto boa parte da composição acionária (40%) era da Marcopolo. Em 2016 esse número subiu pra 100%.
Bem, ao contrário da Nimbus e Ciferal, a marca ‘Neobus’ ainda existe – pelo menos no momento que atualizo essa matéria (2024).
Voltemos aos ônibus aqui retratados. A Princesa do Norte conheço bem, posto que atende a região do Norte do Paraná: o ‘Norte Velho’ ou ‘Norte Pioneiro’, o eixo Jacarezinho-Jaguaraíva.
Em oposição ao ‘Norte Novo’, a região de Londrina e Maringá, que como o nome indica foi colonizada depois – região que conheço pessoalmente.
Viajei muitas vezes pra lá nos coletivos da Princesa do Norte. Entretanto, não cheguei a ver essa pintura, já aposentada há muito.
No começo do século 21 a Princesa do Norte foi vendida, ainda mais uma vez pra corporação que além da primazia no transporte aéreo está se tornando um dos maiores frotistas de ônibus do Brasil.
Por fim, a Nordeste, que é o ônibus em movimento, ultrapassando os dois que estão estacionados.
Me parece mais um Marcopolo. A Nordeste atende o Centro-Oeste do Paraná, a cidade de Campo Mourão e imediações – e não o Nordeste Brasileiro, como alguém poderia pensar.
Essa pintura eu cheguei a ver, e muito, vingou até os anos 90 pelo menos, sendo posteriormente substituída. A tomada é dos anos 80, como quase todas que vieram da página da Urbs.
……..
Enquanto que a foto cuja legenda diz “a frente vários da Garcia; ao fundo um da Sul-Americana” tem a mesma fonte porém é mais recente, da década de 90 como já informado.
Em 1º plano dois Busscar da Garcia. A empresa ainda existe, e atende o Norte Novo do Paraná.
Ou seja Londrina, Maringá e imediações. Lembro-me perfeitamente dessa pintura, afinal a imagem é relativamente nova (na ocasião que a mensagem foi publicada). Já foi, entretanto, substituída.
Tenho certeza que a foto é da primeira metade dos anos 90 por causa da bandeira do Paraná na traseira dos veículos. Não foi iniciativa da viação, e sim do governo estadual:
Entre 1991 e 94 todos os ônibus intermunicipais de viagem com registro no DER-PR tinham que ter a bandeira sobre os dizeres “Paraná, um estado de amor pelo Brasil”. Coisas da política.
Lá no fundo, no alto da foto, o ônibus branco com uma faixa vermelha é da extinta empresa Sul-Americana.
Que fazia a linha pra Foz do Iguaçu-PR, no extremo Oeste do estado, na fronteira com Paraguai e Argentina.
Me lembro muito bem dessa pintura, é claro. Agora conto um detalhe ainda mais antigo, que descobri esses dias (texto de 2013, lembre-se).
Nos anos 70 a Sul-Americana viajava também pro Litoral do estado, em seu extremo Leste. Vi fotos de ônibus da ‘Sula’ descendo a Estrada da Graciosa e sobre a balsa Matinhos-Guaratuba.
Perto de quando essas fotos foram feitas, não sei se um pouco antes ou um pouco depois, a Sulamericana vendeu essas linhas pra Viação Graciosa, que então assumiu o monopólio.
Nos anos 2000, a Sul-Americana faliu de vez como empresa de ônibus e hoje só transporta cargas em caminhões.
Voltando as fotos feitas em 1980, há uma em que a legenda diz “Garcia, Graciosa, e saindo Monobloco da Princesa dos Campos, em pintura diferente da anterior.”
Não vi pessoalmente essas pinturas da Garcia e da Princesa – ambos os busos também são Nielson Diplomatas; em compensação andei muitas vezes nos Graciosas nesse desenho verde e branco.
Vamos a um detalhe técnico da busologia: repare no entre-eixo dos veículos. O exemplar da Garcia tem a roda na extrema dianteira do ônibus, a frente da única porta portanto.
Essa configuração fez muito sucesso no passado, inclusive em modelos urbanos (especialmente no Rio Grande do Sul), mas hoje está praticamente extinta.
Já os outros dois ônibus aqui mostrados estão como hoje é predominante, a porta a frente do eixo.
……..
Uma palavrinha sobre a imagem que a legenda informa vir “a frente Monobloco da Penha seguido de um Ciferal Dinossauro da Cometa“.
Da decoração da Penha nos anos 70 já discorremos. Vamos então focar na Cometa.
Na época partindo de Curitiba ela tinha linhas somente pra São Paulo Capital, Jundiaí-SP e Belo Horizonte-MG.
Atualmente houve uma grande restruturação, e então ela oferece além dessas novas rotas pra dezenas de cidades do PR, SP e SC.
Além de viagens pro Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul; e até internacionais pro Paraguai.
E ‘Dinossauro’ é o nome oficial do modelo de ônibus, não é alcunha irônica. Nota: o Dinossauro foi fabricado pela Ciferal. Anteriormente eu escrevi erroneamente que era de “fabricação própria”.
Entretanto um leitor mais atento corrigiu (veja seus apontamentos na seção ‘comentários’ abaixo da matéria).
O Dinossauro se chama assim não por ser antigo, mas sim porque quando foi lançado nos anos 70 era muito maior que os ônibus então existentes.
Inclusive ele não entrava nas plataformas estreitas e baixas da Rodoviária de São Paulo da época, foi preciso adaptá-las.
Posteriormente, aí sim, ela passou a fabricar suas próprias carrocerias.
Pra isso tendo instituído em 1983 a CMA – Companhia Manufatureira Auxiliar. Seu maior sucesso foi justamente o Flecha Azul.
A Cometa seguiu fabricando esse modelo – inspirado nos ônibus ianques ‘Greyhound’ – até 1999. Com o mesmo desenho que foi projetado pela primeira vez.
Logo, o ônibus por vezes era novo, ainda cheirando a fábrica, mas tinha cara de velho.
Natural. Afinal o bichão foi produzido até pertinho da virada do milênio. Mas usando o projeto de 1973.
O mesmo que se a Volks fabricasse hoje uma Brasília. Ela seria zero km, mas pareceria velha.
Então, assim ocorreu com o Flecha Azul, eram ônibus que mesmo zerados, ainda com plástico nos bancos, já tinham jeitão de antigos.
Pense bem: a pintura era usada desde – pelo menos – os anos 60.
E a carroceria veio ao mundo no logo começo dos anos 70.
Nessa configuração rodaram até 2007, e ainda tiveram uma sobre-vida até 2012 na nova pintura.
Escrevi no texto original, em janeiro de 2013: “essa pintura vigorou até pouquíssimo tempo atrás, portanto apenas me lembro cristalinamente”.
Sendo mais específico, até uns meses antes de eu produzir essa matéria ela ainda estava em vigor.
Além disso, fui dezenas sobre dezenas de vezes pra São Paulo num ônibus dessa viação, modelo e pintura.
A Cometa ainda existe, mas a CMA não mais. Ao ser vendida pra um grupo maior em 2002 ela aposentou sua encarroçadora, agora compra veículos prontos.
Morreu um ícone da busologia brasileira, o “Flecha Azul”. Natural, tudo morre um dia.
Esse era o nome da carroceria, como nosso colega corretamente apontou.
Ainda assim, como todos os Flechas Azuis eram na mesma pintura, e a pintura era azul, ‘Flecha Azul’ acabou consagrada ‘na boca do povo’ também como essa pintura, tão característica da Cometa.
E filosofamos tudo isso porque nos deparamos com essa foto dos anos 80. O tempo passa….
Atualização de outubro de 2015: o “Flecha Azul” voltou. Ideias são energia, e energia nunca se extingue.
A pintura Flecha Azul apenas repousou um pouco, pra depois ressurgir.
Logo em dose dupla: pra marcar os 65 anos da viação um modelo novo foi pintado como os antigos, nomeado “Flecha de Ouro”.
E um velho Flecha Azul foi restaurado, virando um museu ambulante. Até 2018, pelo menos, ele fazia viagens regulares, de forma esporádica em datas comemorativas.
Originalmente era do modelo “Flecha Azul 7”, e assim vinha grafado na lataria.
Foi renumerado “Flecha Azul 65”, marcando esse aniversário da viação.
Comprovamos que a Cometa fez como tantas empresas fazem, que é manter um carro-relíquia: só aqui na Grande Curitiba cito a Sanjotur, Colombo e Castelo Branco.
Em SP Capital a Gato Preto, Bandeirante e a estatal CMTC (as duas últimas nem existem mais), a Biguaçu em SC.
Tem mais: os tróleibus de SP Capital, Santos-SP e Rosário-Argentina.
Entre muitas outras, estou citando apenas os que têm fotos aqui na página.
O veículo novo retrô é o “Flecha de Ouro”, como já mencionado. “Flecha de Ouro 65”, mesmo nº, e pelo mesmo motivo.
Um colega (vide os comentários) retificou corretamente que o Dinossauro era fabricado pela Ciferal. A CMA (da própria Cometa) fabricou o Flecha Azul. Corrigi o erro.
Agora, ele também apontou que ‘Flecha Azul’ “era o modelo, não a pintura“. Aí respeitosamente terei que fazer um adendo.
Tecnicamente ele está corretíssimo, de fato originalmente o termo ‘Flecha Azul’ indicava somente o projeto da cobertura de metal do veículo, e não a decoração dele.
Porém a língua é algo mutante. Um termo criado pra designar uma coisa pode acabar denominando outra coisa também. Quero dizer com isso o seguinte:
Repetindo, como todos os Flechas Azuis eram na mesma pintura, que era azul, ‘Flecha Azul’ acabou consagrada ‘na boca do povo’ também como sinônimo desta.
Tecnicamente, na frieza dos manuais, era só a carroceria. Mas na prática acabou também designando o desenho que a cobriu.
A vida está cheia de situações em que os engenheiros planejam de uma forma, mas no entendimento popular acaba saindo distinto:
Dentro da busologia já aconteceu pelo menos um caso. Os engenheiros da Mercedes projetaram o farol do Monobloco 2 numa peça única e horizontal.
O povão não gostou e corrigiu pra várias bolinhas verticais. Dando outro exemplo numa dimensão completamente distinta:
O bairro do Boqueirão, na Zona Sul de Curitiba (onde eu morei por 15 anos), foi planejado pelos técnicos da prefeitura pra cumprir determinado papel no urbanismo da cidade.
Os homens que ali vivem tiveram outra ideia, e modificaram essa função, como detalho nessa postagem.
Então aqui é o mesmo. Pra milhares de busólogos “Flecha Azul” virou também a pintura. E quem pode dizer que nós estamos errados?
A própria Cometa em última análise ratificou nosso modo de ver. Senão vejamos:
Por isso um buso que também tem a mesma pintura mas é de diferente modelo de carroceria (muito mais novo e de outro fabricante, a Neobus) foi batizado “Flecha de Ouro”.
Obviamente uma Flecha se liga a outra, creio que não é difícil de ver.
Essa matéria que fiz sobre os tróleibus se chama “Trovão Azul, Boca Loca e outros”. Oras, ‘Trovão Azul’ era um helicóptero, ‘Boca Loca’ era um batom de mulher.
Só que ambos acabaram designando, também, pinturas de ônibus, sem perder seu significado original. Funciona da mesma forma.
Sem deixar de ser a carroceria, ‘Flecha Azul’ é também a pintura dela.
Enfim, ressaltando de novo o que já foi comentado: a Cometa ‘casa’ a numeração do veículo na frota com a placa.
Um capricho dessa viação, desde sempre e permanece. Aqui na Grande Ctba. há uma viação que faz o mesmo.
Atualização: no final da década de 10 a Cometa abandonou essa prática, infelizmente.
Era algo marcante da viação, que durou décadas, mas não mais.
A maior parte dos ônibus novos agora têm numeração e emplacamento aleatórios, como nas demais empresas. Uma pena.
Seja como for, viajo no Flecha Azul (ops, agora é ‘Flecha de Ouro’) e compro refrigerantes de novo em garrafas de vidro.
Parece que entrei na máquina do tempo e estou de volta aos 80. O tempo passa, as coisas mudam, mas depois voltam a ser como antes, não é mesmo?.
Já estamos de saída. Caminhando pra deixar a Rodo ainda deu tempo de observar a fila dos táxis dominada pelos Fuscas. Já na parte externa do complexo (foto abaixo, também por volta de 1980).
É isso galera. Pra quem viu, vai de recordação. Pros mais novos fica como curiosidade histórica. Agora deixa os bichões pegarem a estrada …
……..
Na mesma esteira, veja como eram nos anos 80 os refrigerantes e chicletes.
A sessão retrô já mostrou, voltando a busologia, como eram e são os tróleibus de vários lugares:
Brasileiros, chilenos, argentinos, colombianos, e de toda América (dando uma palhinha também na Europa e África).
Deus proverá
O ônibus azul prefixo 2277 não identificado na foto é um CATTANI de Pato Branco PR, na pintura anterior a cisão da empresa.
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Valeu irmão, já adicionei essa informação na legenda da foto.
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Gostaria de sugerir uma correção: a foto do ônibus da Cometa atrás de um monobloco da Penha é de um Dinossauro, carroceria essa que é de fabricação da Ciferal, e não de fabricação própria como dito.
As carrocerias de fabricação própria eram da série Flecha Azul e posteriormente o CMA-Cometa (Estrelão).
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Detalhe:
Flecha Azul é uma série de carrocerias fabricadas pela CMA, que vão do Flecha Azul ao Flecha Azul VIII.
CMA-Cometa (ou Estrelão) é uma carroceria fabricada logo após o Flecha Azul.
Dinossauro é uma carroceria fabricada pela Ciferal.
Ou seja, cada uma dessas é um tipo de carroceria diferente, não são todas “Flecha Azul” como alguns trechos e comentários sugerem.
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Complemento: “Flecha Azul” não é uma pintura.
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Complemento 2: a carroceria mais famosa da Cometa é a Flecha Azul, e não a Dinossauro.
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Ok, amigo. Agradeço pelas retificações. Atualizei o texto.
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Show de bola o seu site, e não tem como negar que a pintura da Cometa tenha caído no gosto do povo e passou a ser conhecida pelo mesmo nome da carroceria, Flecha Azul.
Desde que embarquei aos meus quase quatro anos de idade em uma viagem de 3 dias a bordo de um Itapemirim Tribus, meu fascínio por ônibus só aumenta, e tenho um carinho especial por essa viação que fez parte da minha infância e continua fazendo parte da minha vida. É realmente uma pena a situação que se encontra atualmente essa empresa que já foi a maior transportadora de passageiros da América Latina.
Devido a minha paixão por ônibus, sempre acabo me empolgando quando entro no assunto. Por isso, peço desculpas se falei demais quando sugeri essas correções no texto. (rs)
Fiquei muito feliz ao encontrar seu site, pois além de falar de um assunto do meu interesse, ainda possui uma riqueza de detalhes difícil de se ver.
Parabéns, continue nos proporcionando esse grande prazer que é ler sobre os busões desse Brasilzão.
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Valeu pelo incentivo, irmão.
Imagina, não há porque pedir desculpas, exatamente ao contrário, as retificações ajudam em muito a página. Pois sempre que há uma informação incorreta é preciso corrigir. As vezes eu mesmo, por outras fontes, percebo o erro e arrumo. Mas as vezes é preciso que alguém aponte, então todas as retificações são úteis.
Sempre publico todas as retificações, desde que as pessoas escrevam com civilidade e apontem fatos concretos que creiam que estejam incorretos. Quando constato que o que eu escrevi estava errado, corrijo e informo isso no texto, que anteriormente inseri uma informação errada e um leitor apontou isso. Você viu no caso que eu corrigi que o Dinossauro era de fabricação da Ciferal.
Mesmo que eu não concorde, eu publico o ponto de vista do leitor. E vou checar a fontes. Quando há provas materiais de que o que eu escrevi estava certo, eu as insiro no texto. Na matéria sobre os ônibus urbanos antigos de Curitiba tudo fica claro.
Vários leitores fizeram alguns apontamentos, corrigi o que eu realmente havia escrito errado, em outros casos houveram diferenças de opinião, e elas permanecem, sendo abordadas com civilidade, porque é saudável que assim seja. Ao contrário, patológico seria o desejo de um falso consenso. E há um caso em que a memória traiu o leitor, ele ainda era criança quando o fato se deu, e apontou corretamente a data da inauguração da canaleta em 74, mas não conseguiu se lembrar que até 76 os convencionais também operaram no recém-inaugurado corredor exclusivo.
Enfim, dê uma olhada na seção de comentários de lá, que tudo está exemplificado. Só coloquei tudo isso pra enfatizar mais uma vez o seguinte: não há, absolutamente, porque pedir desculpas, todas as retificações são bem vindas. Eu não publico apenas os que partem pra ofensas, aqueles que não aceitam que pense diferente deles. Esses realmente seus comentários são filtrados e excluídos sem que sequer subam ao ar, ou seja ninguém lê o que eles escreveram. Mas todos os demais apontamentos são bem-vindos e publicados.
Abraços.
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Abraços, e mais uma vez parabéns.
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nimbus , não identificado ,,,, empresa DOVALTUR,,,,
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Já corrigida a postagem, agradeço a quem identificou a empresa Dovaltur.
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empresa dovaltur….(((( Nimbus, viação não-identificadaUm Nimbus de viação não-identificada.
Já especificado acima, a Nimbus foi absorvida pela Marcopolo, no longo processo que fez dessa última a maior encarroçadora de ônibus do planeta.))))
também mesma empresa na segunda foto, onde tem vários onibus vista parte traseira , um diplomata em frente um escrito final sul….espero ter ajudado
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Nessa mensagem acima mostramos o “Flecha de Ouro” da Cometa, um ônibus moderno com a pintura retrô do Flecha Azul. Em um outro emeio, eu comentei especificamente do Flecha Azul Dinossauro. Um colega me respondeu, também por emeio, assim sou eu, O Mensageiro, quem assina o comentário.
Mas reproduzo as palavras exatas dele – lembre-se, estamos falando do antigo Dinossauro Flecha Azul, aquele que aparece só a frente, entrando na Rodoviária atrás de um Monobloco da Penha numa foto no meio da matéria, e não do moderno Flecha de Ouro que aparece por inteiro mais pro final:
“ Meu amigo, me senti na obrigação de complementar com algumas curiosidades. O ônibus da foto em preto e branco (essa foto não está nessa postagem, se eu conseguir recuperar o emeio eu levanto pra rede) é um GM da série PD 4000, que inspirou bastante o desenho básico do Dinossauro, por ser o modelo mais avançado disponível à época, porém é bom ressaltar que o “Dino” é um aperfeiçoamento da CMA – encarroçadora da Cometa S.A. – até por conta do ressalto no teto a partir do motorista. Esses GM também eram encarroçados em duralumínio (como os famosos trailers aerodinâmicos “streamline” do mesmo período). A cereja do bolo, na minha opinião (e que os ambientalistas não leiam isso aqui) é o motor Detroit Diesel 6-71 de dois tempos (!) que já batia em mais de 200 cv! É muita potência para um motor dessa época (bem, até hoje é). Além de ter um ronco maravilhoso, (é possível ouvir os pistões batendo “seco” por conta da ausência de válvulas nas câmaras) muito parecido com o do motor Scania usado por aqui. Sente só:
Amigo, uma errata:
Ao contrário da maioria dos motores 2T, o Detroit Diesel que mencionei tem as válvulas de escape (pois a pressão gerada é baixa, tanto que ele tem um circulador de ar, não um turbo), conectadas ao came, para expulsar os gases de combustão do motor. Logo, as pancadas secas, são delas em operação, não dos pistões nas câmaras. Somente agora vi um em operação sem as capas do cabeçote, por isso cabe a minha retificação aqui. ”
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…Coloquei tudo isso só pra dizer que durante três décadas minhas duas cidades, a que me fez vir a matéria e a que me adotou, foram as únicas que tinham “Rodo-Ferroviária”,…
São Paulo possui e permanece ativo um importante terminal “Rodo Ferroviário”, mas não possui este título… Chama-se somente “Terminal Barra Funda”, https://pt.wikipedia.org/wiki/Terminal_Intermodal_Palmeiras-Barra_Funda
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Pois é amigo, eu conheço bem o Terminal da Barra Funda, na Zona Oeste de São Paulo. É um belo terminal inter-modal, de fato, e já utilizei todas as modalidades de serviço que ele oferece: ônibus urbano, ônibus rodoviário, trem suburbano e metrô.
Porém note que na Barra Funda não param trens de longa distância, que ligam uma cidade a outra sem paradas. Na Rodo-Ferroviária de Curitiba param trens de longa distância, rumo a Paranaguá e outras cidades do Litoral.
Não sei se na Rodo-Ferroviária de Brasília operavam trens de passageiros ou apenas de carga, cheguei a embarcar e desembarcar de ônibus ali mas não me ocorreu investigar esse detalhe. De qualquer forma a Rodoviária da Capital Federal não é mais nesse local.
De volta a Barra Funda: sei que há planos de implantarem uma linha de trem direta pra Jundiaí com possível extensão pra Campinas no futuro. Aí será um trem de longa distância sem paradas, e não suburbano como o que para ali saindo justamente pra Jundiaí porém com dezenas de paradas e fora a baldeação em Francisco Morato. Quando a linha direta SP-Jundiaí estiver zarpando das plataformas da B. Funda, agregará mais um modal a esse terminal, tornando-o ainda mais completo.
Mas por hora, trem e ônibus de longa distância no mesmo lugar, que eu saiba só em Curitiba. Isso no Brasil. Em Santiago do Chile a Estação Central é também uma Rodo-Ferroviária, pra citarmos mais um exemplo.
Abraços.
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…Coloquei tudo isso só pra dizer que durante três décadas minhas duas cidades, a que me fez vir a matéria e a que me adotou, foram as únicas que tinham “Rodo-Ferroviária”,…
São Paulo possui e permanece ativo um importante terminal “Rodo Ferroviário”, mas não possui este título… Chama-se somente “Terminal Barra Funda”, https://pt.wikipedia.org/wiki/Terminal_Intermodal_Palmeiras-Barra_Funda
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