Recordar é Viver: a Rodoviária de Curitiba “naquele tempo” . . .

de brinde: antiga rodoviária da luz (na pça. júlio prestes) em sp, e um pouco da história da viação cometa –

Nas próximas 5 imagens a Rodo-Ferroviária de Curitiba no começo dos anos 80; quando possível informo as viações registradas. Aqui  Graciosa em 2 pinturas (1º e 4º ônibus da fila), Lapeana (o 2º), o 3º não foi identificado. A maior parte das fotos veio do sítio oficial Urbs, órgão da prefeitura que administra o transporte coletivo municipal e a Rodo-Ferroviária, e alias justo nela está sediado.

INTEGRA A “ENCICLOPÉDIA DO TRANSPORTE URBANO BRASILEIRO

Por Maurílio Mendes, “O Mensageiro”

Publicado em 25 de janeiro de 2013, aniversário de SP.

Maioria das imagens oriundas da internet, os créditos foram mantidos sempre que impressos nas mesmas. As que forem de minha autoria identifico com um asterisco ‘(*)’.

“Recordar é viver”, segundo alguns, né? Então, pra gente continuar vivo, vamos lembrar como era a Rodo-Ferroviária de Curitiba “naquele tempo”.

A maioria das fotos é da década de 80, também há algumas mais recentes.

Quase a mesma cena da tomada anterior; repito porque o Lapeana tem melhor definição, e aparece no final da fila um Monobloco 0-321, fabricado na década de 60.

A Rodo-Ferroviária fica no bairro Jardim Botânico, na Zona Central. Mas um dia pertenceu ao Cajuru, sabia?

Na matéria original, em 2013, apontei as opções pra quem quiser chegar até ela de ônibus urbano.

Escrevi: “as linhas que param bem na porta são entre outras a de micro-ônibus Circular Centro e Executivo Aeroporto (e também a Linha Turismo)”.

Bem, nenhuma delas mais param na Rodoviária. A Linha Turismo foi desviada uma quadra adiante, pra Av. 7 de Setembro, na entrada dos fundos do Mercado Municipal.

Duas Princesas (do Norte e dos Campos) e Nordeste

Em 1º plano um da Princesa do Norte (que assinava apenas como ‘Princesa’ – acima das janelas como era costume no Brasil nos anos 60 e 70, tanto ônibus de viagens quanto urbanos), atrás Princesa dos Campos, e ultrapassando ambos um da Nordeste.

Enquanto que o Circular Centro e o Executivo Aeroporto foram extintos em 2020.

A melhor opção na verdade é pegar o Eixo Leste/Oeste do Expresso, cujo tubo é bem em frente.

O convencional Cristo Rei e o Inter-Bairros 1 também passam próximos, entre outras opções.

Ao lado Margeando a ‘Rodo’ está o Rio Belém, o maior rio de Curitiba, que mais a frente divide os bairros Uberaba (Zona Leste) e Boqueirão (Zona Sul).

Em Curitiba os terminais de ônibus de viagem e da única linha de trem de passageiros que ainda opera (pra Paranaguá) são juntos, por isso o termo “Rodo-Ferroviária”.

as duas Princesas (do Norte e dos Campos)

Mesmo local da anterior instantes depois: Princesa do Norte (de roda laranja) segue estacionado, atrás dele Princesa dos Campos manobra pra sair; essa viação também opera ônibus suburbanos – com catraca, 2 portas – em várias partes do interior do Paraná e até no Vale do Ribeira em SP. Além desses, veja que há um articulado ao fundo na imagem.

(Nota: Brasília-DF por muitos anos também teve uma “Rodo-Ferroviária”.

Não mais. Em 2010 foi inaugurada uma novíssima rodoviária na capital federal.

E ambas não devem ser confundidas com a rodoviária pioneira, a “Rodoviária do Plano Piloto”.

De 1960 a 1980, a “Rodoviária-P.P.” como é conhecida era multi-modal, atendia ônibus de viagem como o nome indica.

No entanto ali também paravam também ônibus urbanos, esses continuam lá, era – e ainda é – o Terminal Central da cidade.

Garcia (em primeiro plano, com o nome da viação no teto), Graciosa (ao fundo) e Monobloco da Princesa dos Campos (já saindo), em pintura diferente da anterior.

Em 1980 veio a “Rodo-Ferroviária”, no final do Eixo Monumental, perto do Cruzeiro e do Setor Militar, pra onde foram os ônibus de longa distância,

Funcionou dessa forma entre 1980-2010, por esses 30 anos dividiram o espaço com os trens, como aqui em Curitiba.

E pra substituir a Rodo-Ferroviária em 2010 veio a novíssima Rodoviária, a 3ª da cidade portanto.

Que fica perto do Núcleo Bandeirante e do Setor de Mansões [o nome oficial do bairro é esse, não é ironia], integrada ao metrô.

Foto dos anos 90: a frente vários da Garcia; ao fundo um da Sul-Americana (branco com faixa vermelha), também manobrando pra sair.

Tudo somado: a capital federal já construiu 3 rodoviárias nos seus primeiros 50 anos de vida.

A que durou mais tempo, 30 anos, era também uma Rodo-Ferroviária, agora desativada.)

Deixemos falar de Brasília em outro momento porque aqui o tema é Curitiba, evidentemente.

Coloquei tudo isso só pra dizer que durante três décadas essas duas cidades foram as únicas que tinham “Rodo-Ferroviária”,

Voltam as fotos feitas na início dos anos 80: não sei de qual viação era o azul a esq. na foto. A frente dele Dovaltur, a seguir Graciosa, esses 3 já fora das plataformas, na faixa pra deixar a rodoviária. Manobrando pra entrar na fila há um da Sulamericana. Parado a direita o 2277 da Cattani. Os demais não foram identificados.

E somente nessas duas cidade isso existia, ao invés de simplesmente ‘rodoviária’ como é em todo lugar.

Não é mais assim, repito. Agora, só Curitiba mesmo é quem tem Rodo-Ferroviária.

……………

Comentemos as fotos, que são a atração principal dessa postagem.

Apenas farei um pequeno comentário em cada uma delas, falando um pouco sobre a viação e o modelo do ônibus.

De frente e com a foto só pra ele, Nimbus da Dovaltur (já era velho na época): a princípio escrevi que era “viação não-identificado”. Um leitor retificou – pronto, está corrigido.

Nem sempre as imagens estão ao lado da descrição. Busque portanto o que vai ser descrito abaixo pelas legendas. Vemos no decorrer da página:

A primeira foto, logo no topo, mostra 3 Monoblocos Mercedes-Benz e um Marcopolo.

1º ônibus: Monobloco da Viação Graciosa (essa empresa ainda existe e atende o Litoral) em pintura dos anos 70, que não cheguei a presenciar, já mudada há tempos.

Nielson Diplomata da Estrela Azul.

2º: Monobloco da Lapeana. Não presenciei igualmente essa pintura, mas lembro da empresa, que existiu até a primeira década do século 21.

Depois foi comprada por um grande conglomerado e acabou extinta.

(Conglomerado esse que além da maior companhia aérea do Brasil possui diversas viações de ônibus.

Monobloco da Reunidas adentra a Rodoviária.

Tem o monopólio do transporte urbano na Baixada Santista [Litoral Paulista], Blumenau-SC, além de forte presença em Brasília, São José dos Campos-SP, entre muitas outras cidades.) 

O Monobloco Mercedes-Benz (com seus diversos modelos, do 0-321 ao 0-400) foi popular nas estradas e ruas do Brasil dos anos 60 aos 90, e mesmo no começo do novo milênio.

Chegando a capital paranaense vemos dois Monoblocos Mercedes-Benz: a frente da Reunidas seguido por um da Penha – esse ‘redondão’ era extremamente comum na época

Veja as Rodoviárias do Sudeste (Rio e B.H.) forradas de ‘Monos’, na mesma época. Nessa postagem há ainda diversos desses bichões redondos no modal urbano.

De volta a Ctba: 3º veículo dessa mesma foto, um Marcopolo. Não sei o nome do modelo da carroceria nem identifico a empresa.

Atrás, mais um Monobloco da Graciosa, justamente na pintura que estava substituindo a primeira. 

Essa pintura durou muitas décadas, dos anos 80 aos 2000.

Mesmo buso da Penha da foto anterior (prov.).

E portanto me lembro perfeitamente, tendo muitas vezes andado nos ônibus que a ostentavam.

Recentemente (quando a postagem foi pro ar) foi aposentada.

Lá no fundão, com a mesma pintura e da mesma empresa Graciosa portanto, está vindo um Nielson Diplomata.

Outra pintura da Penha, não sei o modelo – não cheguei a presenciar nem essa decoração tampouco a vista na próxima tomada.

Todos esses veículos foram fabricados nos anos 70, a foto é provavelmente do início dos anos 80.

(Como é sabido, a Graciosa também opera linhas urbanas inter-municipais [metropolitanas] na Grande Curitiba.

Enquanto a pintura era livre, a empresa decorava tanto os rodoviários quanto os urbanos exatamente da mesma forma.

A frente Monobloco da Penha (na mesma pintura vista um pouco mais pro alto) seguido de um Ciferal Dinossauro da Cometa, encerrando a sequência de fotos do começo dos 80: décadas depois essa pintura “Flecha Azul’ retornou, falo disso abaixo.

Veja a pintura de quase todas as empresas metropolitanas antes da padronização dos anos 90.

Hoje os metropolitanos de Curitiba são padronizados uni-color.

A questão é que no Litoral a Graciosa ainda opera na pintura livre ônibus urbanos, com 2 [ou3] portas e catracas. E é a mesma dos rodoviários.)

Nessa fila aparecem 3 ônibus da viação Graciosa, portanto. O que é natural, já que ela detém o monopólio entre a capital e o Litoral.

São o 1º e o 4º ‘carros’ (ambos Monoblocos ‘1’ [“0-362” no léxico do fabricante], embora em pinturas distintas como já descrito), e também o 6º e último busão da sequência, um Nielson Diplomata.

BREVE HISTÓRIA DA VIAÇÃO COMETANas próximas 9 imagens relembremos a trajetória dessa viação, um ícone das estradas do Sudeste e Sul do Brasil: nos anos 60 e 70 a Cometa, já com essa pintura, era grande cliente da Ciferal. Em 1973 essa encarroçadora lança especialmente pra Cometa o ‘Dinossauro’. Registrado em testespor isso a chapa verde, nos dois sistemas de emplacamento que vigoraram de 1970 a aproximadamente 2020 (respectivamente com 2 letras/4 dígitos [visto aqui] e depois 3 letras/4 dígitos) essa cor significava ‘protótipo‘, modelo que no momento não iniciou a produção em série; o autor ressaltou a “Barra da Tijuca ainda deserta”.

Tudo isso já dissemos. Repeti aqui porque entre dois busões da Graciosa o quinto ônibus, bege com escritos em marrom, é o mais antigo entre os fotografados nessa imagem.

É também um Mercedes Benz-Monobloco, mas do modelo 0-321.

Um pioneiro, o vovô de todos os outros, produzido no começo dos anos 60.

Já estava velho quando tiraram essa foto, fazia suas últimas viagens antes da merecida aposentadoria..

Os demais monoblocos retratados na matéria foram fabricados entre o fim dos anos 60 e início dos 80.

Os Monoblocos fizeram sucesso também no transporte urbano: uma foto clássica mostra um ‘Mono’ 0-321 em ação em Brasília no já distante ano de 1967 – a nova capital tinha só 7 anos.

Em 1983 a Cometa passou a produzir as próprias carrocerias, criando pra isso a C.M.A. (‘Cia. Manufatureira Auxiliar’); o ônibus que sai da fábrica da CMA é batizado de ‘Flecha Azul‘; apesar da mudança de nome e de fabricante, o ‘Flecha’ é claramente inspirado no ‘Dinossauro’ que o antecedeu, houve uma continuidade. Assim, de 1973 a 1999 toda a frota da Cometa foi desse modelo (seja na versão da Ciferal ou da CMA) e nessa decoração azul e cinza – portanto o nome ‘Flecha Azul’ passou a designar ambas as coisas, a carroceria e a pintura, que por quase 3 décadas adornavam 100% dos busões da empresa. Aqui e nas 5 a seguir Cometas na Rodoviária de Curitiba; esse super-clássico Flecha Azul, o “ônibus-arquétipo” da viação: aqui um busão antigo na pintura antiga. Em 1999 os últimos ‘Flechas’ saíram da linha de montagem; em 2002 a CMA é fechada, quando a Cometa é vendida pra grupo da viação 1001, de Niterói no Grande Rio – sob nova direção o modelo (até 99 o único da empresa) rodou nessa pintura e com letreiro de lona até 2006; lembrando quando as viações, tanto rodoviárias quanto urbanas, punham o nome no teto do veículo. Ele veio de São Paulo, descarregou e agora segue vazio pra garagem.

Voltando a falar dessa tomada na ‘Rodo’ de Curitiba na década de 80, não identifico a viação desse velho Monobloco. Talvez seja a mesma Lapeana do que está a frente.

Na tomada que está sobre a manchete mais um glorioso Nielson Diplomata, dessa vez da Estrela Azul.

E atrás dele um Marcopolo, novamente não identifico o modelo da carroceria nem a viação.

Lá no fundo, um Monobloco de empresa não-identificada, talvez a mesma Lapeana citada acima.

Me lembro perfeitamente dessa pintura da Estrela Azul, que já foi aposentada.

A viação ainda existe, e atende o Sul do Paraná. Aqui demos conta da viação.

Agora, o ônibus em si. A Nielson, de Joinville-SC, é a precursora da Busscar (já fiz matéria específica mostrando a trajetória da empresa).

Nos anos 70 e 80 ela não fazia ônibus urbanos, só rodoviários.

No já distante ano de 1987 (quando Santa Catarina ainda não tinha um articulado sequer) ela lançou sua primeira carroceria urbana, chamada justamente de Urbanus.

Faz tempo, mas me lembro como se fosse hoje, embora eu tivesse somente 10 anos. Sempre fui busólogo.

Ônibus antigo na nova pintura agora: em 2007 os ‘Flecha Azul’ recebem nova decoração, na qual seguiram rodando até 2011/2012: as cores azul (que nomeia o modelo) e cinza são mantidas mas em desenho distinto, e a palavra ‘Cometa’ desce pro ‘corpo’ do veículo; os bichões ganham letreiro eletrônico – mas ar-condicionado não, as janelas estão abertas; esse, inversamente, inicia o trajeto p/ SP.

Logo depois de adentrar no novo segmento, a Nielson mudou seu nome pra Busscar.

Os anos 90 e começo dos 2000 foram seu zênite, abocanhou fatia enorme do mercado nacional e também teve fábricas na Colômbia e México.

Em Bogotá a Busscar fez tanto sucesso que virou ícone, relatei com detalhes quando estive lá em 2011.

Entretanto, tudo que começa um dia acaba, a Busscar quebrou e teve a falência decretada oficialmente em 2012.

(Sim, a Busscar voltou em 2018, mas agora somente no modal de ônibus de viagem, urbanos não – como ela era nas suas primeiras 3 décadas de vida, alias).

Ônibus novo na pintura nova. Nessa foto e na anterior destaquei que era tradição da Cometa ‘casar’ a placa com o número do bichão: o ‘carro’ logo acima é o 7500, a chapa CVY-7500; esse tem o nº 13106, emplacamento FNV-3106ela abandonou esse costume (no transporte urbano da Gde. Ctba. a Tindiqüera fazia o mesmo, mas ela deixou de operar linhas municipais de Araucária em 2019).

………..

Agora comentemos da foto cuja legenda diz “Chegando a capital paranaense vemos dois Monoblocos Mercedes-Benz: a frente da Reunidas seguido por um da Penha.

Ambas as viações ainda existem, a Reunidas atende o Norte de Santa Catarina.

Já a Penha por décadas ligou Curitiba também a Santa Catarina, fui muitas vezes pra Joinville e Florianópolis com ela.

Porém depois vendeu essas e outras linhas a Catarinense, e hoje (2013) se limita a ir pro Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.

Não presenciei essa pintura (aqui me refiro a Penha), que é dos anos 70.

Segura essa! Ônibus novo na pintura velha (abaixo falamos melhor da decoração retrô).

Depois que essa foto foi tirada a Penha foi vendida pra Itapemirim, a quem pertenceu por décadas.

Por vemos a garagem da sede da Penha (Trevo do Atuba na BR-116 na Zona Norte de Curitiba) cheia de ônibus verdes e amarelos, cor que consagrou essas duas empresas.

E recentemente (na ocasião da postagem) dessa desmembrada e novamente vendida, também pro grupo  que controla a maior cia. aérea do Brasil. A Penha não foi extinta, como sucedeu a Lapeana.

Ônibus 2-andares novo em outra pintura contemporânea, também usada atualmente.

Quanto a Reunidas, essa pintura aqui retratada já foi aposentada.

Vigorou com pequenas variações (retiraram o cinza, mas a fonte [o tipo da letra], o emblema e a faixa vermelha permaneceram) até os até os anos 90, e eu me lembro dela, já re-estilizada, como descrevi.

Em tempo. Assim como a Busscar em 2012, a Mercedes-Benz deixou de fabricar carrocerias, nesse caso no ano de 1994.

Hoje ela fabrica apenas chassi e motor, outras empresas é quem cobrem o veículo.

E tem mais essa: Cometa 2-Andares ‘meio-a-meio’, metade na pintura antiga, metade na nova; desenharam na lataria até as janelas antigas, as atuais não tem aquele risco no meio pois não abrem, há ar-condicionado.

AS DUAS PRINCESAS –

Então vamos descrever a tomada cuja legenda diz “Em 1º plano um da Princesa do Norte, atrás Princesa dos Campos, e ultrapassando ambos um da Nordeste”.

O busão que está no centro dessa tomada é um Marcopolo da Princesa dos Campos.

Essa viação ainda existe. Atende o Centro do Paraná, a região de Ponta Grossa, chamada de “Campos Gerais”, até daí vem o nome da empresa de ônibus.

 Já essa pintura, que é dos anos 70, eu não cheguei a ver pessoalmente.

Dessa vez na estrada, em foto captada na Grande Belo Horizonte, pra podermos ver melhor o ‘Meio-a-Meio‘ (a Catarinense e a 1001, do mesmo grupo, fizeram o mesmo).

O veículo aqui retratado também foi fabricado nos anos 70, por se tratar de um São Remo (eu sei, o nome original é ‘San Remo’, em italiano. Mas eu traduzo tudo, sempre que possível).

Um detalhe muito interessante. Vejam que o último ônibus estacionado, na parte de cima da foto, é um articulado. Um articulado rodoviário, é isso aí.

Logo que os articulados surgiram na virada da década de 70 pra 80 algumas empresas usaram eles como veículos de viagem, e não apenas urbanos, como ocorre hoje.

BH/SP é uma linha da Cometa. Vamos juntos nesse mesmo roteiro até a Capital Paulista: em tomada (provavelmente) da década de 60 Cometão chegando a Rodoviária da Luz.

Não deu certo, porque as rodoviárias não eram adaptadas pra esses ônibus mais longos, criando diversos problemas de logística.

Podem ver aqui, o ‘rabo’ dele está estorvando outros ônibus passarem e manobrarem.

Por esse detalhe, a foto necessariamente precisa ter sido batida na primeira metade dos anos 80.

Pois os articulados já existiam, e ainda eram usados como rodoviários, o que durou pouquíssimo. Recordar é viver…..

Nas próximas 4 imagens vamos ver a antiga rodoviária de São Paulo (primeiro na ativa, depois o prédio tendo outro uso e a seguir sendo demolida). Quando ela era sediada na Pça. Júlio Prestes, na Luz, no Bom Retiro, em pleno Centrão.

Na tomada logo acima dessa vemos novamente os mesmos veículos das Princesas em novo ângulo, estacionados nas plataformas como acabo de descrever.

A novidade é o ônibus da Nordeste a ultrapassá-los, a direita. Todas as viações ainda existem.

Veem no alto, parado, o São Remo da Princesa dos Campos, que na outra foto supra-citada já está em movimento.

Abaixo dele, um ônibus de uma outra Princesa, a Viação Princesa do Norte.

O modelo do veículo é um saudoso Ciferal, sigla de “Companhia Industrial de Ferro e Alumínio”, montadora carioca que foi comprada pela Marcopolo.

Ainda existe, mas só como nome-fantasia. O capital é 100% Marcopolo, desde o ano 2000.

(Escrevi esse texto em janeiro de 2013, e essa era a realidade a época.

Nessa e na anterior estamos em SP, anos 70: a Rodoviária da Luz ainda operando. Foi desativada em 1978 quando inaugurou a nova na Marginal do Tietê. Essa foto e a da esquerda logo acima não são da internet, fui a casa de um colega que fez esse registro dela funcionando, 4 décadas atrás (atualizado em 2015). Como encaixa no nosso tema que são as Rodoviárias antigas, insiro o material aqui.

Em dezembro desse mesmo ano, entretanto, a corporação decidiu extinguir a marca ‘Ciferal’.

A partir de 2014 todos os veículos produzidos pela ‘Marcopolo’ passaram a ser assinados dessa forma, com seu nome próprio.)

A Nimbus (em foto abaixo aparece um busão feito por ela) da mesma forma foi comprada e extinta pela Marcopolo, agora só em fotos e na memória de quem viu, não sobrou nem nome-fantasia.

Afinal ambas (Marcopolo e Nimbus) ficavam na mesma cidade, Caxias do Sul-RS, e a Marcopolo, que hoje é a maior do mundo. 

Acaba (no momento que esse texto foi escrito) de comprar uma parte da canadense ‘New Flyer’, começou sua ascensão ao topo exatamente fundindo a Nimbus a seus quadros, em 1977.

Depois da desativação, por quase 3 décadas (80, 90 e começo de 2000) funcionou no local da antiga Rodoviária da Luz um centro comercial de roupas. Porém nos últimos tempos o local estava fechado, portas seladas com tijolos pra evitar invasões de drogados.

A Neobus (ex-Thamco) é da mesma forma de Caxias do Sul, e é também mais um nome-fantasia.

Quando fiz esse texto boa parte da composição acionária (40%) era  da Marcopolo. Em 2016 esse número subiu pra 100%.

Bem, ao contrário da Nimbus e Ciferal, a marca ‘Neobus’ ainda existe – pelo menos no momento que atualizo essa matéria (2024).

Voltemos aos ônibus aqui retratados. A Princesa do Norte conheço bem, posto que atende a região do Norte do Paraná: o ‘Norte Velho’ ou ‘Norte Pioneiro’, o eixo Jacarezinho-Jaguaraíva.

Antiga Rodoviária da Luz enfim sendo demolida, entre 2010 e 11. Hoje (quando atualizei o texto, no fim da década de 10) o terreno está vago, aguardando pra ser incluído no projeto de revitalização do Centro.

Em oposição ao ‘Norte Novo’, a região de Londrina e Maringá, que como o nome indica foi colonizada depois – região que conheço pessoalmente.

Viajei muitas vezes pra lá nos coletivos da Princesa do Norte. Entretanto, não cheguei a ver essa pintura, já aposentada há muito.

No começo do século 21 a Princesa do Norte foi vendida, ainda mais uma vez pra corporação que além da primazia no transporte aéreo está se tornando um dos maiores frotistas de ônibus do Brasil.

Por fim, a Nordeste, que é o ônibus em movimento, ultrapassando os dois que estão estacionados. 

A COMETA OPEROU TRANSPORTE URBANO EM 3 CIDADES DO ESTADO DE SP: A CAPITAL, CAMPINAS E RIBEIRÃO PRETOEm Campinas ela criou pra isso a C.C.T.C. (‘Cia. Campineira de Transportes Coletivos’), que operou de 1951 a 1989. Seu auge foi os anos 70, quando possuía virtual monopólio no transporte da cidade, detinha as melhores linhas e alugava as mais distantes e deficitárias pra outras viações. Em 1979 houve uma licitação onde a CCTC perdeu parte do poder – mas não todo, já que foi a única viação que se recusou a participar da padronização de pintura implantada em 1985. Seguiu usando a decoração de sua escolha (vista acima) até encerrar as atividades em 1989foi a última empresa urbana do grupo Cometa a fechar as portas, em SP Capital e Ribeirão ela fez isso ainda na 1ª metade dos anos 80.

Me parece mais um Marcopolo. A Nordeste atende o Centro-Oeste do Paraná, a cidade de Campo Mourão e imediações – e não o Nordeste Brasileiro, como alguém poderia pensar.

Essa pintura eu cheguei a ver, e muito, vingou até os anos 90 pelo menos, sendo posteriormente substituída. A tomada é dos anos 80, como quase todas que vieram da página da Urbs.

……..

Enquanto que a foto cuja legenda diz “a frente vários da Garcia; ao fundo um da Sul-Americana” tem a mesma fonte porém é mais recente, da década de 90 como já informado.

Em 1º plano dois Busscar da Garcia. A empresa ainda existe, e atende o Norte Novo do Paraná.

Ou seja Londrina, Maringá e imediações. Lembro-me perfeitamente dessa pintura, afinal a imagem é relativamente nova (na ocasião que a mensagem foi publicada). Já foi, entretanto, substituída.

Tenho certeza que a foto é da primeira metade dos anos 90 por causa da bandeira do Paraná na traseira dos veículos. Não foi iniciativa da viação, e sim do governo estadual:

De 1965 a 1983 a Cometa teve uma viação urbana em Ribeirão Preto: nesse caso usando seu nome próprio – que aliás vinha gravado em metal na frente do busão, como nos ônibus rodoviários da viação. Seguindo a parceria de sucesso entre ambas, tanto o anterior de Campinas quanto esse são Ciferal.

Entre 1991 e 94 todos os ônibus intermunicipais de viagem com registro no DER-PR tinham que ter a bandeira sobre os dizeres “Paraná, um estado de amor pelo Brasil”. Coisas da política.

Lá no fundo, no alto da foto, o ônibus branco com uma faixa vermelha é da extinta empresa Sul-Americana.

Que fazia a linha pra Foz do Iguaçu-PR, no extremo Oeste do estado, na fronteira com Paraguai e Argentina.

Me lembro muito bem dessa pintura, é claro. Agora conto um detalhe ainda mais antigo, que descobri esses dias (texto de 2013, lembre-se).

Na Cidade de SP, sua sede, foi onde a Cometa atuou por mais tempo no segmento urbano, de 1937 a 1984. Nesses 47 anos foram 3 nomes-fantasia diferentes: começa como Auto Viação Jabaquara, que em 1947 é encampada pela estatal municipal CMTC, criada um ano antes; sem se abalar, a Cometa recomeça as operações em 1948 usando seu nome próprioem algum momento da década de 60 muda o nome pra Companhia Auxiliar de Transp. Coletivo (‘C.A.T.C.’): acima um Bela Vista da CATC, a tomada é entre 1977 e 78, pois ainda há pintura livre mas o código da linha já é de 4 dígitos, preparando os ônibus paulistanos pra sua 1ª padronização, a ‘Saia-&-Blusa’, implantada em 1978. Não confundir a viação Auxiliar com a Companhia Manufatureira Auxiliar (a ‘CMA’ que já falamos), outra subsidiária da Cometa, mas  que fabricava carrocerias e só surgiu em 1983 – pelo visto a corporação gostava do termo ‘Auxiliar’, criou duas empresas com esse mesmo nome.

Nos anos 70 a Sul-Americana viajava também pro Litoral do estado, em seu extremo Leste. Vi fotos de ônibus da ‘Sula’ descendo a Estrada da Graciosa e sobre a balsa Matinhos-Guaratuba.

Perto de quando essas fotos foram feitas, não sei se um pouco antes ou um pouco depois, a Sulamericana vendeu essas linhas pra Viação Graciosa, que então assumiu o monopólio.

Nos anos 2000, a Sul-Americana faliu de vez como empresa de ônibus e hoje só transporta cargas em caminhões.

Voltando as fotos feitas em 1980, há uma em que a legenda diz “Garcia, Graciosa, e saindo Monobloco da Princesa dos Campos, em pintura diferente da anterior.”

Não vi pessoalmente essas pinturas da Garcia e da Princesa – ambos os busos também são Nielson Diplomatas; em compensação andei muitas vezes nos Graciosas nesse desenho verde e branco.

Vamos a um detalhe técnico da busologia: repare no entre-eixo dos veículos. O exemplar da Garcia tem a roda na extrema dianteira do ônibus, a frente da única porta portanto.

Essa configuração fez muito sucesso no passado, inclusive em modelos urbanos (especialmente no Rio Grande do Sul), mas hoje está praticamente extinta.

Em julho de 82 vemos Gabriela da Auxiliar, agora já na pintura padronizada: a parte de baixo (a ‘saia’) indicava a região da cidade que a linha serve; a princípio metade da Zona Leste pertencia a faixa identificada pelo rosa – a partir justamente desse ano de 1982 os empresários se recusaram a continuar usando essa cor, e mudaram por conta pra um laranja-avermelhado. No entanto a Auxiliar não teve tempo de repintar sua frota, uma vez que encerrou as atividades em 1984.

Já os outros dois ônibus aqui mostrados estão como hoje é predominante, a porta a frente do eixo.

……..

Uma palavrinha sobre a imagem que a legenda informa vir “a frente Monobloco da Penha seguido de um Ciferal Dinossauro da Cometa“.

Da decoração da Penha nos anos 70 já discorremos. Vamos então focar na Cometa.

Na época partindo de Curitiba ela tinha linhas somente pra São Paulo Capital, Jundiaí-SP e Belo Horizonte-MG.

Atualmente houve uma grande restruturação, e então ela oferece além dessas novas rotas pra dezenas de cidades do PR, SP e SC.

cometao voltou

3 fotos na garagem da Cometa (prov. na sede em SP) pra fechar a viação: “Flecha de Ouro”, estilo ‘retrô’ – a pintura clássica voltou...

Além de viagens pro Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul; e até internacionais pro Paraguai.

E ‘Dinossauro’ é o nome oficial do modelo de ônibus, não é alcunha irônica. Nota: o Dinossauro foi fabricado pela Ciferal. Anteriormente eu escrevi erroneamente que era de “fabricação própria”.

Entretanto um leitor mais atento corrigiu (veja seus apontamentos na seção ‘comentários’ abaixo da matéria).

cometa - placa casada

Nº do veículo: 1401. Nº da placa: 1401.

O Dinossauro se chama assim não por ser antigo, mas sim porque quando foi lançado nos anos 70 era muito maior que os ônibus então existentes.

Inclusive ele não entrava nas plataformas estreitas e baixas da Rodoviária de São Paulo da época, foi preciso adaptá-las.

Posteriormente, aí sim, ela passou a fabricar suas próprias carrocerias.

O último ‘Flecha Azul’, que tem o nº 7455: restaurado, virou ônibus-museuganhou ar-condicionado e ‘wi-fi’; até 2018 fez viagens regulares, agora participa de exposições.

Pra isso tendo instituído em 1983 a CMA – Companhia Manufatureira Auxiliar. Seu maior sucesso foi justamente o Flecha Azul.

A Cometa seguiu fabricando esse modelo – inspirado nos ônibus ianques ‘Greyhound’ – até 1999. Com o mesmo desenho que foi projetado pela primeira vez.

Logo, o ônibus por vezes era novo, ainda cheirando a fábrica, mas tinha cara de velho.

Natural. Afinal o bichão foi produzido até pertinho da virada do milênio. Mas usando o projeto de 1973.

Anúncio do Tribus, lançado em 1981. Projetado e fabricado pela própria pela Itapemirim; durante muito tempo as duas opções na linha Ctba. x SP eram essas: o ‘Flecha Azul’ e o Tribus (ônibus trucado, com 3 eixos obviamente), primeiro na pintura vista acima, depois em outra unicolor em amarelo. Esse bichão, presença marcante nas estradas brasileiras, inspirou a popularização dos trucados no modal urbano – são comuns em São Paulo, Paraíba e Rio Grande do Norte.

O mesmo que se a Volks fabricasse hoje uma Brasília. Ela seria zero km, mas pareceria velha.

Então, assim ocorreu com o Flecha Azul, eram ônibus que mesmo zerados, ainda com plástico nos bancos, já tinham jeitão de antigos.

Pense bem: a pintura era usada desde – pelo menos – os anos 60.

E a carroceria veio ao mundo no logo começo dos anos 70.

Nessa configuração rodaram até 2007, e ainda tiveram uma sobre-vida até 2012 na nova pintura.

Escrevi no texto original, em janeiro de 2013: “essa pintura vigorou até pouquíssimo tempo atrás, portanto apenas me lembro cristalinamente”.

Agora vamos ver também urbanos, e esses bem longe da Rodoviária. Mas tá valendo, né? Urbanos ou rodoviários, nosso propósito aqui é preservar esse ‘museu da busologia’. Então fogo no pavio: pra fechar Sampa, Parque Dom Pedro 2º, no Centrão, virada dos anos 70 pra 80. A padronização ‘Saia-&-Blusa acabara de começar. Monobloco ‘1’ da viação Alto do Pari, que serve a Zona Norte. O nome da empresa vem grafado no teto. Nos anos 60 e 70, esse era o padrão por boa parte do Brasil, tanto ônibus urbanos quanto de viagem, pois os veículos eram curvos. Mas a partir dos anos 80 mudou o projeto dos ônibus, e vieram as padronizações de pintura em muitas cidades no caso do modal urbano. Assim, não deu mais pra assinar a frota no teto dela. De forma que vemos um caso raro, pintura urbana urbana já padronizada, mas o Monobloco ‘1’ (oficialmente o 0-362) e somente ele ainda permitia essa relíquia do passado. Algumas viações paulistanas optaram então por dar uma esticada nessa tradição. Por pouco tempo. Em 1978, mesmo ano de implantação do ‘Saia-&-Blusa’, a Mercedes deixa de fabricar o Mono1 e passa a produzir o Monobloco ‘2’ (0-364), que também era redondo mas nem tanto. Aí não dá mais pra escrever o nome da viação no teto. O apagar das luzes de um traço muito marcante da busologia brasileira.

Sendo mais específico, até uns meses antes de eu produzir essa matéria ela ainda estava em vigor.

Além disso, fui dezenas sobre dezenas de vezes pra São Paulo num ônibus dessa viação, modelo e pintura. 

A Cometa ainda existe, mas a CMA não mais. Ao ser vendida pra um grupo maior em 2002 ela aposentou sua encarroçadora, agora compra veículos prontos.

Morreu um ícone da busologia brasileira, o “Flecha Azul”. Natural, tudo morre um dia.

Esse era o nome da carroceria, como nosso colega corretamente apontou.

Ainda assim, como todos os Flechas Azuis eram na mesma pintura, e a pintura era azul, ‘Flecha Azul’ acabou consagrada ‘na boca do povo’ também como essa pintura, tão característica da Cometa.

E filosofamos tudo isso porque nos deparamos com essa foto dos anos 80. O tempo passa….

Atualização de outubro de 2015: o “Flecha Azul” voltou. Ideias são energia, e energia nunca se extingue.

A pintura Flecha Azul apenas repousou um pouco, pra depois ressurgir.

Logo em dose dupla: pra marcar os 65 anos da viação um modelo novo foi pintado como os antigos, nomeado “Flecha de Ouro”.

E um velho Flecha Azul foi restaurado, virando um museu ambulante. Até 2018, pelo menos, ele fazia viagens regulares, de forma esporádica em datas comemorativas.

Segue a ‘conexão Ctba./S.P.’ (trajeto que fiz dezenas de vezes em minha vida, seja nos Cometa ou Itapemirim); então voltando ao PR em foto de 1957: quando a Rodoviária de Curitiba era no atual Terminal Guadalupe.

Originalmente era do modelo “Flecha Azul 7”, e assim vinha grafado na lataria.

Foi renumerado “Flecha Azul 65”, marcando esse aniversário da viação.

Comprovamos que a Cometa fez como tantas empresas fazem, que é manter um carro-relíquia: só aqui na Grande Curitiba cito a Sanjotur, Colombo e Castelo Branco.

Em SP Capital a Gato Preto, Bandeirante e a estatal CMTC (as duas últimas nem existem mais), a Biguaçu em SC.

Hoje o Guadalupe – aqui em imagem de 2022 – é o terminal dos ônibus metropolitanos (*).

Tem mais: os tróleibus de SP Capital, Santos-SP e Rosário-Argentina.

Entre muitas outras, estou citando apenas os que têm fotos aqui na página.

O veículo novo retrô é o “Flecha de Ouro”, como já mencionado. “Flecha de Ouro 65”, mesmo nº, e pelo mesmo motivo.

Isso desde 1972, quando foi a inauguração da nova rodoviária, a ‘Rodo-Ferroviária’ (essa foto é do começo do século 21). Quando não fazia muito tempo da mudança, nos anos 80, as pessoas chamavam a Rodo-Ferroviária de ‘Rodoviária Nova’ e o Guadalupe de ‘Rodoviária Velha‘. Se falasse só ‘Rodoviária’, eles te perguntavam “a velha ou a nova”?

Um colega (vide os comentários) retificou corretamente que o Dinossauro era fabricado pela Ciferal. A CMA (da própria Cometa) fabricou o Flecha Azul. Corrigi o erro.

Agora, ele também apontou que ‘Flecha Azul’ “era o modelo, não a pintura. Aí respeitosamente terei que fazer um adendo.

Tecnicamente ele está corretíssimo, de fato originalmente o termo ‘Flecha Azul’ indicava somente o projeto da cobertura de metal do veículo, e não a decoração dele.

Porém a língua é algo mutante. Um termo criado pra designar uma coisa pode acabar denominando outra coisa também. Quero dizer com isso o seguinte:

Próximas 2: ônibus urbanos, mas nas imediações da Rodoviária, e na mesma época. Começamos por esse clássico, em imagem de 1981 – nessa tomada estamos exatamente em frente a Rodo-Ferroviária. Articulado alemão que rodou só 2 semanas em Curitiba. Apenas pra ser testado teve que ser pintado no padrão vermelho unicolor de Curitiba.

Repetindo, como todos os Flechas Azuis eram na mesma pintura, que era azul, ‘Flecha Azul’ acabou consagrada ‘na boca do povo’ também como sinônimo desta.

Tecnicamente, na frieza dos manuais, era só a carroceria. Mas na prática acabou também designando o desenho que a cobriu.

A vida está cheia de situações em que os engenheiros planejam de uma forma, mas no entendimento popular acaba saindo distinto:

Dentro da busologia já aconteceu pelo menos um caso. Os engenheiros da Mercedes projetaram o farol do Monobloco 2 numa peça única e horizontal

Anos 90 (prov. 1993): nos afastamos um pouco da Rodo-Ferroviária, mas estamos no seu entorno. Famosa ‘Ponte Preta’, na divisa entre Centro e Rebouças. Monobloco puxa linha de Expresso antes da implantação do bi-articulado Leste-Oeste. Aquela maria-fumaça não operava a décadas, mas estava ali como atração turística. Hoje foi removida. Puxei essa foto da rede, e a levantei prum outro sítio de busologia (já extinto). O autor da página comentou: “Na mesma imagem, ônibus, trem, carro e bicicleta. Isso que é Multi-Modal!”.

O povão não gostou e corrigiu pra várias bolinhas verticais. Dando outro exemplo numa dimensão completamente distinta:

O bairro do Boqueirão, na Zona Sul de Curitiba (onde eu morei por 15 anos), foi planejado pelos técnicos da prefeitura pra cumprir determinado papel no urbanismo da cidade.

Os homens que ali vivem tiveram outra ideia, e modificaram essa função, como detalho nessa postagem.

Então aqui é o mesmo. Pra milhares de busólogos “Flecha Azul” virou também a pintura. E quem pode dizer que nós estamos errados?

A própria Cometa em última análise ratificou nosso modo de ver. Senão vejamos:

Vila São Pedro, Xaxim, Zona Sul da capital do Paraná. Um Caio Gabriela, da Redentor, ainda em pintura livre e entrada por trás. Creio que a linha na época era convencional, resultando que ia até o Centro, e não alimentadora do Terminal Capão Raso como agora.

Por isso um buso que também tem a mesma pintura mas é de diferente modelo de carroceria (muito mais novo e de outro fabricante, a Neobus) foi batizado “Flecha de Ouro”.

Obviamente uma Flecha se liga a outra, creio que não é difícil de ver.

Essa matéria que fiz sobre os tróleibus se chama “Trovão Azul, Boca Loca e outros”. Oras, ‘Trovão Azul’ era um helicóptero, ‘Boca Loca’ era um batom de mulher.

Só que ambos acabaram designando, também, pinturas de ônibus, sem perder seu significado original. Funciona da mesma forma.

Seguimos vendo um Gabriela, mas esse já está na pintura padronizada amarela. O 444 da Cristo Rei. Até 1988, os prefixos dos busos curitibanos tinham só 3 dígitos, e sem letras. Detalhe é o nome da viação em caixa baixa (‘letras minúsculas’, no jargão do jornalismo).

Sem deixar de ser a carroceria, ‘Flecha Azul’ é também a pintura dela.

Enfim, ressaltando de novo o que já foi comentado: a Cometa ‘casa’ a numeração do veículo na frota com a placa.

Um capricho dessa viação, desde sempre e permanece. Aqui na Grande Ctba. há uma viação que faz o mesmo.

Atualização: no final da década de 10 a Cometa abandonou essa prática, infelizmente.

Fiz uma matéria contando parte da história do Juvevê e vizinho Ahú. No embalo, na descida da João Gualberto o Amélia (do primeiro modelo, um farol de cada lado) Expresso. Numeração: 0.44. Portanto é da Glória, uma vez que era ela quem tinha o ‘Zero’ nos vermelhões. Numa foto o 444, emendamos com o 0-44. Joga no bicho?

Era algo marcante da viação, que durou décadas, mas não mais.

A maior parte dos ônibus novos agora têm numeração e emplacamento aleatórios, como nas demais empresas. Uma pena.

Seja como for, viajo no Flecha Azul (ops, agora é ‘Flecha de Ouro’) e compro refrigerantes de novo em garrafas de vidro.

Parece que entrei na máquina do tempo e estou de volta aos 80. O tempo passa, as coisas mudam, mas depois voltam a ser como antes, não é mesmo?.

O Mercado Municipal fica logo em frente.

Já estamos de saída. Caminhando pra deixar a Rodo ainda deu tempo de observar a fila dos táxis dominada pelos Fuscas. Já na parte externa do complexo (foto abaixo, também por volta de 1980).

É isso galera. Pra quem viu, vai de recordação. Pros mais novos fica como curiosidade histórica. Agora deixa os bichões pegarem a estrada … 

Fila de táxis (a imensa maioria deles são Fuscas) na Rodoviária de Curitiba.

……..

Na mesma esteira, veja como eram nos anos 80 os refrigerantes e chicletes.

A sessão retrô já mostrou, voltando a busologia, como eram e são os tróleibus de vários lugares:

Brasileiros, chilenos, argentinos, colombianos, e de toda América (dando uma palhinha também na Europa e África).

Deus proverá

17 comentários sobre “Recordar é Viver: a Rodoviária de Curitiba “naquele tempo” . . .

  1. JOAQUIM MANOEL DE SOUZA NETO disse:

    O ônibus azul prefixo 2277 não identificado na foto é um CATTANI de Pato Branco PR, na pintura anterior a cisão da empresa.

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  2. Michael Nobre disse:

    Gostaria de sugerir uma correção: a foto do ônibus da Cometa atrás de um monobloco da Penha é de um Dinossauro, carroceria essa que é de fabricação da Ciferal, e não de fabricação própria como dito.

    As carrocerias de fabricação própria eram da série Flecha Azul e posteriormente o CMA-Cometa (Estrelão).

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    • Michael Nobre disse:

      Detalhe:

      Flecha Azul é uma série de carrocerias fabricadas pela CMA, que vão do Flecha Azul ao Flecha Azul VIII.

      CMA-Cometa (ou Estrelão) é uma carroceria fabricada logo após o Flecha Azul.

      Dinossauro é uma carroceria fabricada pela Ciferal.

      Ou seja, cada uma dessas é um tipo de carroceria diferente, não são todas “Flecha Azul” como alguns trechos e comentários sugerem.

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    • Michael Nobre disse:

      Show de bola o seu site, e não tem como negar que a pintura da Cometa tenha caído no gosto do povo e passou a ser conhecida pelo mesmo nome da carroceria, Flecha Azul.

      Desde que embarquei aos meus quase quatro anos de idade em uma viagem de 3 dias a bordo de um Itapemirim Tribus, meu fascínio por ônibus só aumenta, e tenho um carinho especial por essa viação que fez parte da minha infância e continua fazendo parte da minha vida. É realmente uma pena a situação que se encontra atualmente essa empresa que já foi a maior transportadora de passageiros da América Latina.

      Devido a minha paixão por ônibus, sempre acabo me empolgando quando entro no assunto. Por isso, peço desculpas se falei demais quando sugeri essas correções no texto. (rs)

      Fiquei muito feliz ao encontrar seu site, pois além de falar de um assunto do meu interesse, ainda possui uma riqueza de detalhes difícil de se ver.

      Parabéns, continue nos proporcionando esse grande prazer que é ler sobre os busões desse Brasilzão.

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    • omensageiro77 disse:

      Valeu pelo incentivo, irmão.
      Imagina, não há porque pedir desculpas, exatamente ao contrário, as retificações ajudam em muito a página. Pois sempre que há uma informação incorreta é preciso corrigir. As vezes eu mesmo, por outras fontes, percebo o erro e arrumo. Mas as vezes é preciso que alguém aponte, então todas as retificações são úteis.
      Sempre publico todas as retificações, desde que as pessoas escrevam com civilidade e apontem fatos concretos que creiam que estejam incorretos. Quando constato que o que eu escrevi estava errado, corrijo e informo isso no texto, que anteriormente inseri uma informação errada e um leitor apontou isso. Você viu no caso que eu corrigi que o Dinossauro era de fabricação da Ciferal.
      Mesmo que eu não concorde, eu publico o ponto de vista do leitor. E vou checar a fontes. Quando há provas materiais de que o que eu escrevi estava certo, eu as insiro no texto. Na matéria sobre os ônibus urbanos antigos de Curitiba tudo fica claro.

      ‘Leste’, ‘Norte’, ‘Oeste’, ‘Sul’ e ‘Boqueirão’: ônibus de Curitiba, anos 80.


      Vários leitores fizeram alguns apontamentos, corrigi o que eu realmente havia escrito errado, em outros casos houveram diferenças de opinião, e elas permanecem, sendo abordadas com civilidade, porque é saudável que assim seja. Ao contrário, patológico seria o desejo de um falso consenso. E há um caso em que a memória traiu o leitor, ele ainda era criança quando o fato se deu, e apontou corretamente a data da inauguração da canaleta em 74, mas não conseguiu se lembrar que até 76 os convencionais também operaram no recém-inaugurado corredor exclusivo.
      Enfim, dê uma olhada na seção de comentários de lá, que tudo está exemplificado. Só coloquei tudo isso pra enfatizar mais uma vez o seguinte: não há, absolutamente, porque pedir desculpas, todas as retificações são bem vindas. Eu não publico apenas os que partem pra ofensas, aqueles que não aceitam que pense diferente deles. Esses realmente seus comentários são filtrados e excluídos sem que sequer subam ao ar, ou seja ninguém lê o que eles escreveram. Mas todos os demais apontamentos são bem-vindos e publicados.
      Abraços.

      Curtido por 1 pessoa

  3. christowao h filho disse:

    empresa dovaltur….(((( Nimbus, viação não-identificadaUm Nimbus de viação não-identificada.

    Já especificado acima, a Nimbus foi absorvida pela Marcopolo, no longo processo que fez dessa última a maior encarroçadora de ônibus do planeta.))))

    também mesma empresa na segunda foto, onde tem vários onibus vista parte traseira , um diplomata em frente um escrito final sul….espero ter ajudado

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  4. omensageiro77 disse:

    Nessa mensagem acima mostramos o “Flecha de Ouro” da Cometa, um ônibus moderno com a pintura retrô do Flecha Azul. Em um outro emeio, eu comentei especificamente do Flecha Azul Dinossauro. Um colega me respondeu, também por emeio, assim sou eu, O Mensageiro, quem assina o comentário.
    Mas reproduzo as palavras exatas dele – lembre-se, estamos falando do antigo Dinossauro Flecha Azul, aquele que aparece só a frente, entrando na Rodoviária atrás de um Monobloco da Penha numa foto no meio da matéria, e não do moderno Flecha de Ouro que aparece por inteiro mais pro final:

    “ Meu amigo, me senti na obrigação de complementar com algumas curiosidades. O ônibus da foto em preto e branco (essa foto não está nessa postagem, se eu conseguir recuperar o emeio eu levanto pra rede) é um GM da série PD 4000, que inspirou bastante o desenho básico do Dinossauro, por ser o modelo mais avançado disponível à época, porém é bom ressaltar que o “Dino” é um aperfeiçoamento da CMA – encarroçadora da Cometa S.A. – até por conta do ressalto no teto a partir do motorista. Esses GM também eram encarroçados em duralumínio (como os famosos trailers aerodinâmicos “streamline” do mesmo período). A cereja do bolo, na minha opinião (e que os ambientalistas não leiam isso aqui) é o motor Detroit Diesel 6-71 de dois tempos (!) que já batia em mais de 200 cv! É muita potência para um motor dessa época (bem, até hoje é). Além de ter um ronco maravilhoso, (é possível ouvir os pistões batendo “seco” por conta da ausência de válvulas nas câmaras) muito parecido com o do motor Scania usado por aqui. Sente só:

    Amigo, uma errata:

    Ao contrário da maioria dos motores 2T, o Detroit Diesel que mencionei tem as válvulas de escape (pois a pressão gerada é baixa, tanto que ele tem um circulador de ar, não um turbo), conectadas ao came, para expulsar os gases de combustão do motor. Logo, as pancadas secas, são delas em operação, não dos pistões nas câmaras. Somente agora vi um em operação sem as capas do cabeçote, por isso cabe a minha retificação aqui. ”

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    • omensageiro77 disse:

      Pois é amigo, eu conheço bem o Terminal da Barra Funda, na Zona Oeste de São Paulo. É um belo terminal inter-modal, de fato, e já utilizei todas as modalidades de serviço que ele oferece: ônibus urbano, ônibus rodoviário, trem suburbano e metrô.
      Porém note que na Barra Funda não param trens de longa distância, que ligam uma cidade a outra sem paradas. Na Rodo-Ferroviária de Curitiba param trens de longa distância, rumo a Paranaguá e outras cidades do Litoral.
      Não sei se na Rodo-Ferroviária de Brasília operavam trens de passageiros ou apenas de carga, cheguei a embarcar e desembarcar de ônibus ali mas não me ocorreu investigar esse detalhe. De qualquer forma a Rodoviária da Capital Federal não é mais nesse local.
      De volta a Barra Funda: sei que há planos de implantarem uma linha de trem direta pra Jundiaí com possível extensão pra Campinas no futuro. Aí será um trem de longa distância sem paradas, e não suburbano como o que para ali saindo justamente pra Jundiaí porém com dezenas de paradas e fora a baldeação em Francisco Morato. Quando a linha direta SP-Jundiaí estiver zarpando das plataformas da B. Funda, agregará mais um modal a esse terminal, tornando-o ainda mais completo.
      Mas por hora, trem e ônibus de longa distância no mesmo lugar, que eu saiba só em Curitiba. Isso no Brasil. Em Santiago do Chile a Estação Central é também uma Rodo-Ferroviária, pra citarmos mais um exemplo.
      Abraços.

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