do MetroBel ao Move (e o tróleibus quase voltou): B.H., cidade-modelo do transporte brasileiro

Moderno Move com estações elevadas (foto de 2022, autoria de um colega).

INTEGRA A “ENCICLOPÉDIA DO TRANSPORTE URBANO BRASILEIRO

Por Maurílio Mendes, ‘O Mensageiro’

Levantado pra rede em 1º de agosto de 2015

Publicado (em emeios) em 2012 e 2014, acrescido de material inédito.

Todas as fotos foram puxadas da rede, exceto uma. Informo qual na legenda.

Os créditos foram mantidos, sempre que eles estavam impressos nas imagens.

MetroBel: 1ª padronização, virada pros anos 80 (ou início deles). Incluiu metropolitanos. Veja o letreiro menor dentro do vidro como nos ônibus de viagem, típico de BH.

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Vamos falar sobre como o transporte coletivo em Belo Horizonte-MG evoluiu através dos tempos.

Pra isso vou fazer uma compilação do que já escrevi sobre o tema.                                     

Até a virada pros anos 80, como em todos os lugares, era pintura livre, sem integração, articulados, corredores ou terminais.

Como já escrevi muitas vezes e é notório, no apagar de suas luzes o regime militar promoveu grande onda de modernização no transporte.

Belo Horizonte4

2ª padronização: adotam-se essas flechas. Só pros municipais. Atrás vem um ainda no padrão MetroBel.

Várias cidades padronizaram então a pintura de seus ônibus.

A maioria delas, a princípio, apenas no sistema municipal.

B.H., Goiânia-GO e Florianópolis-SC fizeram diferente, padronizaram numa tacada o municipal e o metropolitano.

Em BH essa iniciativa se chamou ‘MetroBel’, exatamente porque incluía a região metropolitana.

…….

Belo Horizonte7

3ª padronização, vigente: unicolor mas em dois tons, abaixo uma linha de prédios com símbolos da cidade. Só os municipais.

No mesmo embalo, tentaram fazer com que os tróleibus retornassem a Belô.

Onde eles haviam circulado até a virada pros anos 70.

A Avenida Cristiano Machado, que liga o Centro a Zona Norte, teve instalada rede eletrificada própria pra esse fim.

E os veículos foram entregues, parecia que estava tudo certo, só faltava pôr pra rodar.

4ª padronização: todas as linhas (exceto as do Move) ficarão nessa pintura, e todos os ônibus novos terão ar-condicionado.

……………

Só que não, né. A obra parou, os tróleibus de BH modernos nunca circularam pela cidade.

Após 6 anos parados num pátio, foram exportados pra Rosário, Argentina.

A princípio alguns operaram nesse vizinho país ainda com ‘Venda Nova’ no itinerário, traindo a origem.

Metrô de BH.

Veja a matéria completa desse modal por toda América.

……….

Em compensação implantaram uma linha expressa (hoje gostam de chamar de ‘BRT’, usando uma sigla em inglês) com ônibus a dísel no trajeto que seria feito pelos tróleis.

E alguns terminais de ônibus foram construídos.

trol buso padrão venda nova lagoinha letreiro lona torino marcop era bh vermelho faixa branca sem chapa não operou 3 portas zero km fábrica

O tróleibus ia voltar. A Cristiano Machado recebeu os fios, os veículos foram entregues, pintadinhos…

Também foi feito um moderno metrô, utilizando um ramal de carga, que foi triplicado:

Agora correm 3 linhas paralelas, uma pra carga e duas pra passageiros, uma em cada sentido.

………

Quando estive lá, em 2012, essa era a situação.

. . . mas não voltou. A obra parou, os busos ficaram 6 anos zero km e parados num pátio. Até que foram pra Rosário. Operando na Argentina, mas na linha está escrito ‘Venda Nova’. “Tabela Trocada” internacional.

Haviam alguns pontos positivos, e outros ainda aguardando melhorias.

Um quesito falho é que só uma linha tinha articulados, e ela era praticamente fora da cidade.

Explico: a extremidade da Zona Norte de Belo Horizonte é uma região de periferia.

E nisso incluímos tanto o município de Belô mesmo quanto os circunvizinhos.

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uninorte_001

Pra compensar, em BH fizeram uma linha expressa com veículos a dísel.

Pra desenvolver a região, o governo de Minas transferiu sua sede pra lá.

Fica ainda no município de BH, mas no seu ponto mais extremo setentrional.

Exatamente na divisa tríplice com Santa Luzia e Vespasiano.

É muito, mas muito longe do Centro de BH, alias a intenção é essa.

Únicos articulados de BH em 2012, linha especial pra sede do governo estadual – esse ônibus hoje circula na Grande Curitiba.

Assim, em 2012 a única linha que tinha articulados em toda Grande BH é a que ligava um terminal de metrô/ônibus na Zona Norte a sede do governo, que é na zona rural da capital.

Incluso era de graça pra funcionários públicos, bastava apresentar a carteira funcional ao motorista.             

Era muito pouco, obviamente, uma metrópole de mais de 5 milhões só ter uma linha com ônibus articulados.

Moderníssimo corredor na Cristiano Machado. Na ocasião estava em testes.

E que pra piorar opera uma linha pouco utilizada na borda da cidade.

Por isso estava em obras na mesma Cristiano Machado que receberia os tróleibus mas acabou não recebendo um moderno corredor exclusivo pra ônibus, com estações futurísticas.

BH teve tróleibus de 1953 a 1969. Aqui os bichões no ponto final na Pça. da Estação.

É o sistema ‘Move’, ainda em testes na tomada a esquerda que agora já está operando.

……….

Esse é um apanhado geral, escrito quando levanto a matéria pra rede em 2015.

Vamos agora abrir os arquivos, mesclando os emeios anteriores.

SUBSÍDIO NA TARIFA PRA CLASSE TRABALHADORA: B.H. ENSINA COMO FAZ –

Voltando a um tempo mais recente, eis a 2ª padronização metropolitana (DER-MG), quando separou da municipal.

Publicado em 31 de julho de 2014

Vamos comparar Curitiba e BH. Precisamos desse contexto pra depois analisarmos o transporte coletivo.

Antes, uma pincelada geral. Politicamente B.H. é muito mais relevante que Curitiba em termos nacionais.

metro1

3ª padronização metropolitana, ainda vigente.

 

No entanto Curitiba tem um PIB maior que o de Belo Horizonte mesmo em termos absolutos (aqui contando só os municípios, sem os subúrbios metropolitanos).

Como BH tem 700 mil habitantes a mais (2,4 milhões contra 1,7), fazendo o cálculo não é difícil entender que o PIB per capita curitibano é muito maior que o belo-horizontino.

BH- micro complementar

Ex-clandestino, agora legalizado e inserido no sistema como ‘Suplementar’. São mais baratos e só fazem linhas curtas, locais.

Curitiba na verdade tem o 4º PIB do Brasil, atrás apenas das metrópoles-esteio da Pátria que são São Paulo e o Rio, e a capital federal Brasília.

B.H. vem logo a seguir, em 5º. Isso pelos números absolutos.

Proporcional a população a distância aumenta, já que Vitória-ES é a primeira, Curitiba a 5ª, Belo Horizonte a nona.

Se você inclui a região metropolitana, a coisa se equilibra um pouco a favor de Minas Gerais. A Grande B.H. é bem maior e de economia mais desenvolvida que a Grande Curitiba.

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A 1ª padronização foi no começo dos anos 80. O inglês Donald Hudson esteve no Brasil e documentou. Veja os detalhes e comentários do autor. Aqui a transição: um São Remo padronizado, um Ciferal ainda pintura livre. O detalhe é o logo da Coca-Cola ao fundo, que nunca mudou em mais de 100 anos.

Vamos pro transporte coletivo, que é o que nos interessa aqui. Visitei Belo Horizonte em novembro de 2012, vou falar do que observei na época.

O valor das tarifas citado aqui é o que era vigente em julho de 2014, quando eu pesquisei o tema pela última vez.

Anteriormente eu escrevi que os valores citados nesse texto eram os de 2012. Essa informação está incorreta.

Está no ar outro texto escrito assim que voltei de lá. Nesse sim podemos ver quanto custava o ônibus em BH em 2012.

…………

Sigamos. Além da implantação do ‘Move’, não estou a par de outras modificações.

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Clicado por mim ‘in loco’, nov.12: em BH o buso tem a linha pintada na lateral. Mas e se precisa fazer outra linha? Hum … Cobre a linha com fita crepe!! Ficou bom? Responde você.

Em 4 quesitos, o sistema de transportes de lá estava atrás do de Curitiba:

Não há integração plena com a Região Metropolitana.

– Há pouquíssimos terminais;

– Não havia corredores exclusivos, com embarque em nível

– Não existiam ônibus articulados, só cabritada pitoca. Nos anos 90 e começo dos 2000 houveram, mas haviam sido eliminados, exceto na linha pra sede do governo.

Atenção: vi que estava em estágio avançado de obras, e agora já está funcionando, o sistema “Move”, como retratado nas imagens. Agora há articulados que vão por vias segregadas.

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Municipal de Betim, Z/O da Grande BH

E as plataformas de embarque parecem saídos dos filmes de ficção científica de tão modernas.

Similares as que há em Bogotá-Colômbia, e também ali em Minas mesmo, em Uberlândia.

Por enquanto é um corredor só, mas outros virão.

Assim, dos 4 pontos em que Curitiba batia B.H., dois se foram, ao menos parcialmente, por isso não sublinhei.

Veneza Expresso da Real, pintura livre.

Realmente a falta de terminais e de integração plena com a R.M. ainda são problemas pra serem resolvidos no futuro, espero que não muito remoto.

Ou então que se faça a integração total no cartão, aí dispensa a construção de terminais físicos. 

Os usuários metropolitanos também podem ser beneficiados pela integração plena tarifária no cartão, se houver vontade política pra tanto.

Mesma linha, viação e modelo (e quem sabe mesmo veículo) agora já na pintura padronizada.

Vamos agora ver onde Belo Horizonte estava a frente de Curitiba:

Há uma linha de metrô, que liga a Zona Oeste a Zona Norte.

Passando pelo Centro da cidade. Belo Horizonte é um ‘L’ ao contrário, cresceu justamente pra oeste e norte.

As Zonas Leste e Sul existem, mas são bem pequenas. De forma que o metrô serve justamente as partes mais povoadas da cidade.

Transição: um Nimbus TR na pintura livre, seguido de um já padronizado Metrobel São Remo.

Tarifa social. As duas maiores e mais famosas favelas de Belo Horizonte são o Aglomerado da Serra e o Morro do Papagaio.

Estive em ambas, alias no mesmo dia, um domingo chuvoso, fui a pé, conhecendo a Zona Centro-Sul de BH.

Que é a mais rica mas ao mesmo tempo pontilhada por esses bolsões de miséria.

B.H. - Move

Move.

As duas maiores favelas de BH são próximas ao Centro. Então o que acontece: cada uma delas é servida por uma linha de micro-ônibus que custa apenas R$ 0,65. 

Ou seja, vai e volta por irrisórios 1,30. Em Florianópolis há um modelo similar, é o ônibus “Sobe-Morro”.

Curitiba também tem duas grandes favelas próximas ao Centro, as Vilas Capanema e Parolin.

metrop linha adesivada vidro buso bh laranja amarelo adesivado cidade administrativa sede governo estadual masdcarello eletrônico placa itinerário viaduto pichado pichação

Metropolitano atual.

Poderia, e deveria, copiar esse benefício aos mais carentes vigente nas capitais de Minas e da Santa “e bela” Catarina. Mas não é o caso, infelizmente.

Integração no cartão, ainda que parcial. 

Ao contrário de São Paulo, Manaus-AM, Porto Alegre-RS, Fortaleza-CE e tantas, tantas outras, em BH há integração no cartão, mas não é plena.

Na capital mineira, há 50% de desconto na segunda passagem.

Belo Horizonte6

Municipal atual.

Em compensação, vale também pro metrô. E o metrô é uma bagatela, só R$ 1,80.

………

Ou seja, se você pegar uma linha de bairro, que é mais barata que as que vão pro Centro (já toco nesse ponto) e depois o metrô, paga somente R$ 2,95.

Também há integração com a região metropolitana no cartão. Novamente, parcial.

Gabriela da Paraense. Donald observou: linha 1202 pelo Metrobel, 4 dígitos. No padrão antigo era 126, nº ainda grafado no letreiro, 3 dígitos portanto.

Você pega um ônibus metropolitano e depois um municipal de BH, ou o metrô, e ganha 50% de desconto na segunda tarifa. É melhor que nada.

O que me motivou a escrever essa mensagem: em Belo Horizonte há um modelo de “Aldeamento”:

As linhas menores, que só ficam no bairro, são mais baratas.

………..

Funciona assim: as linhas estruturais, que ligam o Centro a periferia, custam R$ 2,85.

contagem

Municipal de Contagem, também Zona Oeste da Grande BH, padrão atual.

Já nas menores, que ficam apenas no bairro (seja na parte rica e central da cidade ou nos subúrbios afastados) você desembolsa bem menos, somente R$ 2,05.

O terminal tem integração física, você pega dois ônibus só com uma passagem.

Mas, veja você, ele tem duas roletas. Uma externa, e outra interna, que separa as linhas mais baratas das mais caras.

Assim, ao trocar de uma pra outra você só paga a diferença. E ali não precisa cartão, pode ser feito no dinheiro, há bilheteria. Você sai de casa, em alguma vila. Paga R$ 2,05. Chega ao terminal.

Gabi já no MetroBel. Imita um ônibus de viagem, o letreiro da linha é pequeno e dentro do vidro, ocasionando teto inclinado. Em BH teve demais essa leve forma de transgenia, em Campinas houve também. Não conheço outros casos.

Se você trabalhar ali por perto e sabe que os terminais de ônibus sempre estão em polos de empregos, mesmo na periferia – você sai do terminal, não pega outro busão.

Na volta, paga os mesmos R$ 2,05 pra ir pra casa. Se, no entanto, precisar ir pro Centro: sai de casa, paga R$ 2,05.

No terminal você arca apenas com a diferença, mais RS 0,80. Repito, não precisa cartão. Dá pra pagar em dinheiro vivo. Vai pro Centro.

Na volta, paga R$ 2,85 na catraca da linha mais cara. Quando chega no terminal integra com o alimentador sem pagar nada.

Na 2ª padronização metropolitana do DER-MG houve também essa pintura azul e branca.

No terminal, você usa duas conduções e só paga uma. Se forem de duas faixas diferentes, paga a tarifa mais cara. 

Até aqui é igual a Curitiba. Sim, um pouco mais caro. Em Belo Horizonte a tarifa maior está R$ 2,85, aqui a tarifa única é R$ 2,70.

(Atualização importante: escrevi essa matéria exatamente 1 ano e 1 dia atrás, em julho de 14. Em 1º de agosto de 15 a tarifa de Curitiba está em R$ 3,30, porque sofreu nada menos que 3 reajustes em menos de 1 ano.)

Conexão BH/Ctba. Esse ia pra sede do governo de Minas, Z/Norte. Agora continua na Z/N mas da Gde. Curitiba, olha ele no pátio da Viação Colombo antes de ser repintado. 1º articulado piso baixo de toda RMC.

Vamos voltar ao texto original. Ainda que tenham havido pequenos câmbios, a estrutura geral do que escrevi permanece verdadeira.

Então, com os valores na época praticados, realmente aqui era mais barato. Mas atenção que as aparências enganam.

Pois B.H. é muito maior que Curitiba. São 700 mil Homens e Mulheres a mais que moram lá, o que faz com que a cidade tenha muito, mas muito mais bairros.

Belo Horizonte é a soma de Curitiba mais São José dos Campos-SP, e sabe que SJC não é pequena.

Logo, sendo BH muito mais extensa, o ônibus roda muito mais, assim tem que ser mais caro.

contagem

Antiga pintura do municipal de Contagem.

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A vantagem de B.H. é a tarifa menor, de “aldeamento”. Pois cobra proporcional ao que você utiliza. Anda muito, paga mais. Usa menos, tem o desconto correspondente.

Permite, se você fica menos tempo no busão, pagar apenas R$ 2,05.

E esses ônibus alimentadores ligam os subúrbios mais afastados a regiões bem mais desenvolvidas.

Ainda que na periferia, mas que dispõem de muitas opções de empregos.

Mais um Gabriela, esse indo pro Riacho. Totalmente ainda no padrão antigo: pintura livre, linha com 3 dígitos, sem adesivo e sem estar pintada na lata.

Se conhece os bairros da Venda Nova na Zona Norte ou o Barreiro na Zona Oeste desnecessário se faz explicar melhor. São longe do Centro, certamente.

Ainda assim, têm de tudo, bancos, lojas de todos os tipos, faculdades, academias, restaurantes, parques, o que você pensar está lá.

Logo, nem é mesmo preciso ir pro Centro. E sendo assim você paga menos, R$ 4,10 ida e volta.

Aqui em Curitiba não há essa possibilidade. Muita gente vai das vilas do TatuquaraSítio Cercado e CIC até os bairros do Pinheirinho ou Capão Raso.

Repita-se tudo que descrevi da foto a direita, só muda a linha: saindo pro Flamengo, Contagem, Z/O metropolitana.

Não seguem até o Centro, e pra que?, se seus empregos estão ali, na Zona Sul mesmo.

Ainda assim, mesmo usando o ônibus num trajeto menor, tem que se pagar R$ 5,40 pra ir e voltar.

Viu como morar no subúrbio de Belo Horizonte é mais vantajoso e econômico que no subúrbio de Curitiba?

Pelo menos no quesito transporte coletivo, que é nosso foco.

Assim, num círculo virtuoso, B.H. incentiva o desenvolvimento descentralizado, fortalece o comércio local, do subúrbio. Coloca renda no bolso do trabalhador mais pobre, que ele gasta em seu próprio bairro.

B.H. - Metropolitano

Metropolitano atual.

Desafoga as linhas radiais, as mais carregadas do sistema.

E de quebra contribui pra um planeta melhor, pois é menos ônibus rodando, menos dísel sendo queimado e indo pra atmosfera.

E eu nem falei do metrô . . .

Mas nesse outro texto eu falo. 

……….

O transporte de Curitiba está ruim. Muita propaganda, mas pouco está sendo feito de verdade.

contagem1

Falando em Contagem, mais um na pintura antiga. Integrado ao metrô …

Não há metrô, não há integração no cartão (exceto em 3 linhas, sendo só uma central e de grande demanda).

Fora que a Linha Verde Leste/Norte está há 6 (agora 7) anos com as obras paradas. E não se fazem novos terminais

A coisa está feia mesmo. Pra piorar, desmantelam o que funcionava bem. Eliminou-se o “aldeamento”.

Joguei no ar essa mensagem. Até os anos 90 Curitiba tinha um sistema que permitia um desconto pra viagens mais curtas.

Não existe mais. Mas na Colômbia está funcionando, e muito bem.

metro BH1

… pois uma das estações terminais do metrô é no Eldorado, já em Contagem.

Assim, os sistemas de Belo Horizonte e Bogotá operam melhor pra quem mora em seus subúrbios. 

………….

Vejamos como a pintura dos ônibus de Belo Horizonte evoluiu através dos tempos.

Publicado em 1º de dezembro de 2012

Até os anos 70, a pintura dos ônibus era livre em todas as cidades, ou seja, cada empresa pintava sua frota como bem entendesse.

metro BH

E a outra é no Vilarinho, Z/N.

Já no fim do regime militar, na virada dos anos 70 pra 80, o governo federal tomou a iniciativa de padronizar a pintura dos ônibus em várias capitais do Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

Então Curitiba, Brasília, Belo Horizonte, Florianópolis, Goiânia,  Porto Alegre, São Paulo e Campinas (que não é capital mas entrou junto) assim o fizeram.

O Rio, Vitória, os dois Mato Grossos, o Norte e o Nordeste ficaram pra depois.

1ª padronização MetroBel: pintura exclusiva pras linhas integradas ao metrô (com a mesma faixa azul em 2 tons que havia no trem). No Rio isso ainda existe.

Logo aconteceu. Várias capitais, como Vitória, Recife-PE, Fortaleza, Aracaju-SE, Campo Grande-MS, Belém, todas elas também padronizaram suas pinturas entre os anos 90 e os 2000.

No que foram acompanhadas por cidades médias do interior como Londrina-PR, Blumenau, Joinville (ambas em SC, evidente), São José dos Campos-SP, entre outras.

O Rio e Manaus foram ainda mais tardios, e só no começo da década de 10 é que fizeram isso.

(Infelizmente a padronização no Rio já foi abandonada no fim da mesma década de 10, durou pouco.)

Um pouco depois, no meio dos anos 10, chegou a vez de Salvador-BA, Florianópolis e Maceió-AL.

B.H. - Metropolitano3

Metropolitano atual.

E na virada pra década de 20 Cuiabá-MT igualmente faz o mesmo.

A capital de SC foi uma das pioneiras em nossa pátria na padronização.

Todavia, depois abandonou-a.

Mais outro Veneza ‘1’ ainda na pintura livre, indo pra Zona Oeste da cidade.

E agora novamente Floripa adota a pintura única. Está na transição.

Já há muitos busos com a novo padrão, mas ainda se vê vários com o antigo, livre.

Joguei no ar matéria completa, com muitas fotos, mostrando todas as fases e matizes do transporte em Florianópolis, dos anos 70 a atualidade.

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De volta a Belo Horizonte, que é o que nos interessa aqui.

metro

Próximas 2: segunda padronização metropolitana, diferente da municipal.

O primeiro padrão, o MetroBel, foi pintar os ônibus em uma única cor, similar ao que foi feito em Curitiba, de acordo com a categoria a que ele pertence.

1ª padronização – Metrobel:

– Municipal e metropolitano idênticos;

Veículos numa cor só com duas faixas indicando o itinerário, mostrando as principais avenidas que a linha passa.

belo horizonte micraoPode até parecer incrível pra quem é de fora. Mas veja o Monobloco azul a esquerda (logo abaixo do micrão branco e amarelo metropolitano).

Só de ver as duas faixinhas sob o vidro os belo-horizontinos dos anos 80 e 90 decodificavam o itinerário básico daquela linha.

Pois cada grande avenida da cidade tinha seu próprio tom. Era possível indicar duas delas, logo você batia o olho e já sabia o grosso do trajeto.

monobloco

Monobloco ‘3’ (0-371) MetroBel.

A parte dessas faixas menores, as cores escolhidas pro corpo principal dos veículos foram azul, vermelho e amarelo.

Vigorou até o fim dos anos 90, e ainda há uns veículos circulando assim.

(Texto de 2012. Provavelmente agora já foram todos aposentados.)

Só que mais que isso: o nome da linha vinha escrito na lataria.

Ou seja, o ônibus precisava ficar fixo naquela linha, impedindo de remanejar a frota conforme a necessidade.

Em Belém-PA isso ocorreu igualmente – leia matéria específica com muitas fotos:

Apenas lá a linha vinha pintada no letreiro (que portanto não tinha lona por dentro), e não na lataria.

metropolitano (2)

Metropolitano atual.

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2ª padronização:

– Separação dos sistemas municipal e metropolitano;

No municipal, eliminam-se as faixas que indicam o trajeto e colocam-se flechas no lugar (similares as que haviam na mesma época nos busos de Fortaleza-CE);

metropolitano der-mg buso placa número itinerário bh adesivada vidro lona busscar volvo vermelho branco faixa metrô z/o escrito amarelo linha minas tribus trucado 3 3º eixo

Trucado metropolitano na pintura DER-MG.

E surge a cor verde-claro. Os municipais permanecem de uma só cor, mas com as mudanças enunciadas acima. 

No começo desse milênio os busos metropolitanos passam a ter pintura diferente, não mais uni-color.

Tornaram-se brancos em cima. E na parte debaixo azuis, amarelos, verde-musgos ou vermelhos.

Ou seja, o metropolitano usa ainda as mesmas tonalidades do municipal pras mesmas categorias (amarelo é circular, por exemplo), apenas não é mais exatamente iguais pois adicionaram o branco.

B.H. - Move3

Moderno Move na estação.

Agora os modais municipal e metropolitano de BH se espelham, mas não são idênticos, é isso.

Resultando que os busos (municipais) de BH então ficaram azuis, vermelhos, amarelos e verdes unicolores, conforme a categoria que operam.

Os metropolitanos idem, mas não mais unicolores, há uma blusa alva pra distinguir do municipal, dizendo de novo.

TABELA TROCADA“: busão do ‘Move’ belo- horizontino, mas operando em Salvador.

Acontece que nesse momento nos dois modais permaneceu o costume de pintar a linha, impedindo-o de operar em outra.

Só mais recentemente adotou-se a solução de colocar a linha através de uma placa, que pode ser removida.

Aí, até que enfim, os ônibus de BH podem operar em qualquer linha da empresa, como é em boa parte do mundo.

Entretanto há alguns veículos mais velhos que ainda trazem a linha pintada na lataria, especialmente os metropolitanos (texto de 2012). Na maior parte da América Latina é assim.

2 Gabrielas que ainda não haviam aderido ao Metrobel. Ou segundo o autor é ‘carroçaria’ “Gabrielle”!!! Tá bem, vá. Releva aí que o cara é gringo.

Cada ‘carro’ fica fixo numa determinada linha. Veja exemplos no México, Paraguai, República Dominicana, Chile e Colômbia.

Em Belém e Belô por décadas foi igual, mas o letreiro eletrônico acabou com essa peculiaridade.

………..

3ª padronização:

– O ônibus permanece unicolor mas ganha dois tons:

Abaixo, mais escuro, está um desenho estilizado da linha de prédios e pontos turísticos da cidade (como a Igreja da Pampulha). E mais:

Próximas 2: Metropolitanos atuais.

Desaparecem as flechas (Fortaleza igualmente mudou sua pintura, e as flechas lá também se foram);

De volta a BH, a cor vermelha, surgida na gênese da padronização, deixa de existir;

O azul e o amarelo foram mantidos desde que a padronização começou, décadas atrás. B.H. - Metropolitano5

O verde, que inexistia nos primórdios e surgiu na penúltima mudança, continua, e tomou o seu lugar.

……….

Belo Horizonte

Municipal atual.

Agora o número e nome da linha são indicados por um painel luminoso.

Ou seja, que pode ser mudado a vontade, conforme a necessidade. Belo Horizonte chegou a modernidade.

Ainda se veem muitos ônibus do segundo padrão.

E cheguei a ver (no finzinho de 2012) um ainda do primeiro, que já foi abandonado a mais de uma década.

………

antigo

Bichão fabricado nos anos 60, mas que chegou a operar pelo MetroBel.

Os metropolitanos também mudam a pintura, e adotam um desenho que faz o contraste entre duas cores. 

Podem ser o branco atrás e vermelho na frente, amarelo na porção traseira e laranja na dianteira;

Ou então unicolores ou em azul ou em verde, em ambos os casos num tom mais escuro atrás e mais claro na frente.

Em qualquer caso o desenho de contraste entre as cores é o mesmo, como as fotos mostram.

Ciferal antes de ser repaginado pro padrão Metrobel. No Centrão, saindo pra Contagem.

E em todos na lateral há a foto da nova sede do governo mineiro, falada acima.

………..

Os articulados e alongados padrão do ‘Move’ têm sua própria pintura, como notam.

Além de todos esses modais, há também micros amarelos, os antigos piratas, agora legalizados e integrados ao sistema. Só fazem linhas locais, no bairro. São mais baratos; e por tudo isso chamados “Suplementares”.

testes

Todo branco: em testes, claro.

Agora segura essa: nos ônibus urbanos a coisa foi regularizada e inserida no sistema com sucesso, isso é muito bom. Em compensação nos táxis e ônibus de viagem a pirataria em BH é alarmante.

………….

Pra fechar, enxertamos outro emeio

BH, 1982: O METROBEL DECOLA. QUEBRA TUDO AÍ, DONALD!!! –

Belo Horizonte3

Municipal atual. Atrás um azul no padrão anterior.

Publicado em 17 de agosto de 2014

Em 1982, o britânico Donald Hudson passou férias nas 3 maiores capitais do Sudeste (Rio, SP e BH).

Tirou centenas de fotos de ônibus, algumas de BH estão espalhadas pela página, veja as legendas.

Fiz essa mensagem (e outras) no momento que seu trabalho estava sendo levantado pra rede.

Amélia da MetroBel, entrada por trás.

………..

Donald Hudson pegou bem a época da transição pro MetroBel.

Há tomadas do velho (pintura livre, multi-colorida, cada viação escolhia como pintar).

E do novo (unicor uniforme, igual pra todas as empresas incluso – nessa época, hoje não é mais – as metropolitanas), as vezes ambos na mesma captura.

2ª padronização municipal.

Cito alguns exemplos espalhados pela página (busque pelas legendas):

São Remo Circular amarelo na Avenida do Contorno, aquela que enche nas canções do Skank.

As linhas circulares amarelas basicamente percorrem a Contorno, claro dando algumas entradas nos bairros próximos.

Porém a espinha dorsal é ela. São o equivalente do Interbairros 1 aqui de Curitiba, ou do T1 (Transversal 1) de Porto Alegre-RS.

Belo Horizonte1

Também 2ª padrão, o das flechas, similar a Fortaleza na época.

Esse São Remo tem a mais belo-horizontina das peculiaridades busólogas:

O letreiro onde vai a linha é pequeno, dentro do para-brisas, como ocorre nos veículos de viagem.

Por isso o teto é inclinado pra baixo. 

No modal urbano, o letreiro é grande e acima do vidro, fazendo com que o teto seja reto.

Próximas 5: Gabrielas do início do Metrobel. Esse ainda não foi repintado, mas a linha já tem 4 dígitos e foi adesivada no vidro.

Mas em B.H. não, caramba. Ali, e somente ali, era comum o letreiro de viagem em busões urbanos (também ocorreu em Campinas, mas em bem menor escala; em outras cidades se houve algum caso foi raríssimo). 

Pra fechar essa foto: atrás um Ciferal (“Companhia Industrial de Ferro e Alumínio”, muito prazer) ainda na pintura livre.

E com capelinha (aquele letreiro menor no teto onde vai o número da linha, acima do letreiro maior com o nome da mesma).

Característica indelével do Sudeste Brasileiro, que Porto Alegre-RS também adotou. Pegamos a transição, um “carro” de cada padrão.

E vamos pra 4 repintados. Esse tem letreiro normal, acima do para-brisas.

A padronização Metrobel dizimou a capelinha em Belo Horizonte. Já veremos o porque;

– Mais uma foto-portal entre o velho e o novo: a frente um Nimbus TR-3 da Viação Santa Fé ainda na pintura livre multi-colorida. 

Atrás outro São Remo já na Metrobel unicolor padronizada.

Voltemos ao busão da frente:

gabriela-bh

Veremos 3 Gabrielas no ‘padrão BH‘, letreiro menor e dentro do vidro.

Na linha 1504, com numeração já no padrão Metrobel, 4 dígitos ou 3 dígitos e uma letra, e reproduzida num adesivo bem grande no vidro da frente e pintada na lataria lateral. 

O que obrigava o veículo a se fixar numa linha, enfatizando de novo.

Antes do Metrobel, como já veremos, as linhas tinham 3 dígitos, e não eram adesivadas no vidro e muito menos pintadas na lateral;

……………

– Táqui, irmão. A direita abaixo um busão da Santo Agostinho fazendo a linha de Vera Cruz a Santa Maria.

Ainda com capelinha presente, mas já desativada. gabriela-bh1

Pois pela regulamentação Metrobel era obrigatório o adesivo com o número da linha.

Alias outra peculiaridade 100% belo-horizontina. 

Essa (o adesivo com a linha bem grande no vidro) depois foi copiada – parcialmente – por Manaus;

………..

Linha de V. Cruz a S. Maria, ainda com capelinha mas já desativada.

As duas mais belo-horizontinas das peculiaridades busólogas se encontram na foto do Gabriela da Viação Paraense

(Mostrada bem mais pra cima na matéria – digo mais uma vez, busque pela legenda):

Letreiro pequeno como nos ônibus de viagem, e, depois do padrão Metrobel, linha adesivada no para-brisas e pintada na lateral.

Assim, só pode fazer a mesma linha, no caso a Dom Cabral, que por isso está pintada no veículo;

…………

– A esquerda: capelinha ainda na ativa. E a linha já tem 4 dígitos, padrão Metrobel.

Como ela também vinha adesivada no vidro, a capelinha se tornou supérflua, e por isso foi eliminada de BH antes do Rio, São Paulo e Belém. O buso ainda tem pintura livre.

Marcopolo Veneza da São Bernardo já no azul da Metrobel (destaquei o logo da Pepsi, que nos anos 80 era o clássico tricolor, pra abrirmos o baú em todas as dimensões.

Ao contrário da arqui-rival Coca, a Pepsi muda o tempo inteiro sua comunicação visual).

De volta a falar dos busos que é o tema de hoje: a cor do veículo indica a categoria: radial, diametral, direto, semi-direto, circular, etc. E as duas faixinhas pra onde ele vai.

Algumas cidades padronizaram os ônibus por categoria de serviço (expresso, alimentador, etc). Curitiba é o exemplo maior.

Outras por região da cidade (Zona Leste, Zona Sul, etc), padrão tornado clássico por São Paulo. No modelo Metrobel, uniram os dois num só;

Esquerda: esse é um Monobloco de viagem, parado justamente na Rodoviária, portanto não afetado pela mudança da Metrobel.

Ia pra Cid. Administrativa. Linha diferenciada, extinta e incorporada ao Move. Reforço a informação, esse veículo hoje está em Curitiba, confira ele uni-color bege padrão Comec.

Incluí aqui porque embora uma linha rodoviária é interna da Região Metropolitana de B.H., ligando a capital ao subúrbio metropolitano de Betim, também Z/O após Contagem.

Viu? Você pode ir da capital a Betim por 3 modais:

1) de ônibus urbano:

Onde você vai de pé se não houver mais bancos, o embarque é na rua, sob sol e chuva, em compensação é muito mais barato;

2) de ônibus rodoviário:

Só vai sentado em bancos estofados e reclináveis, e espera o veículo também sentado e ao abrigo do tempo, por outro lado desembolsa muito mais;

B.H. - Metropolitano2

Metropolitano atual.

3) e também de metrô – nesse caso parcialmente, a estação final é no Eldorado, próximo a Cidade Industrial, divisa de Belo Horizonte e Contagem.

Dali tem que baldear pro busão. Mas metade do trajeto foi pelo trilho. Melhor que nada.

………..

‘Deus proverá’

6 comentários sobre “do MetroBel ao Move (e o tróleibus quase voltou): B.H., cidade-modelo do transporte brasileiro

  1. Jairo O. Salles disse:

    BH chegou a esboçar um transporte público por ônibus de qualidade quando chegou a adotar ônibus “PADRON”(são aqueles que tem motor traseiro ou central,suspensão a ar,vãos das portas maiores,transmissão automática) mas por pressão dos empresários recuou e permitiu a volta dos ultrapassados caminhonibus com motor dianteiro.Resultado disso foi a queda do número de passageiros devido ao desconforto e também o maior índice de afastamento de motoristas por doenças causadas pelo calor e barulho provocados pela proximidade com o motor.Com a queda do número de passageiros veio o aumento do número de carros nas ruas e motos piorando o trânsito e também dificultando a movimentação dos próprios coletivos,ou seja,foi um tiro nos pés dos empresários do setor.

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    • omensageiro77 disse:

      Pois é amigo, estou ciente dessa informação que você passou. São Paulo implantou essa padronização, que todos os ônibus novos que entrassem no sistema deveriam ser ‘padron’. Creio que mais ou menos na mesma época BH determinou o mesmo.

      Porém em São Paulo foi cumprido. Houve a renovação, e hoje 100% da frota de SP – pelo menos os ‘carros’ grandes, de tamanho normal – tem motor traseiro (ou central) e demais características que você citou. Veja as matérias que já escrevi sobre a cidade:

      SP: a Revolução no Transporte

      ‘Saia-&-Blusa’: os ônibus paulistanos (1978-1991)

      Cenas Paulistanas: o Centro e a Zona Sul de SP em imagens

      Eu me lembro que Belo Horizonte havia adotado a mesma regra, mas voltou atrás.

      Se te serve de consolo, Curitiba tem muita fama na mídia de ter um transporte de “1º mundo”, e em parte é justificado, mas em boa parte não corresponde a realidade. Aqui nunca nem tentaram implementar essa regra da obrigatoriedade do motor traseiro/central.

      Os Expressos, que são articulados, e também quase todos senão todos os Inter-Bairros, contam com esse melhoramento. Mas os Convencionais e Alimentadores, em sua maioria, ainda são feitos por ‘cabritos’, pelos ‘caminhônibus’ como você definiu.

      Resultado: Curitiba foi a capital que mais caiu o número de usuários de ônibus na década de 10 que se encerrou. Tudo isso gera a mesma sangria pro sistema, mais congestionamentos, mais ônibus vazios, etc. Resumindo os mesmo problemas que você observa aí se repetem aqui.

      Agora em 2020 será inaugurado o Terminal do Tatuquara, na Zona Sul. Será um alento. Pois a última grande ampliação do sistema já vai pra 30 anos, no começo da década de 90, quando vieram os terminais do Sítio Cercado (Zona Sul), Fazendinha e Santa Felicidade (ambos na Zona Oeste), Bairro Alto (Zona Leste) e Barreirinha (Zona Norte).

      De lá pra cá, o único terminal inaugurado foi o do Caiuá, no CIC (Zona Oeste), em 1999, que é o menor de todos do sistema.

      10 anos depois, em 2009, veio a Linha Verde Sul, e algumas de suas estações-tubo são mini-terminais, aumentando um pouco as opções de integração.

      Agora virá o Terminal do Tatuquara, repetindo, e a conclusão da Linha Verde, que dará mais algumas opções de transporte integrado as Zonas Norte e Leste.

      Mas é pouco. É preciso urgente fazer a integração no cartão em toda cidade – sendo que a região do Pilarzinho, na Zona Norte, é uma ‘zona de sombra’ do sistema, um bairro populoso e relativamente próximo ao Centro, mas que não conta com transporte integrado na maioria de suas vilas. Nos anos 90 um prefeito inclusive se elegeu prometendo o Terminal do Pilarzinho, mas não cumpriu. Se toda a cidade precisa da integração no cartão pra poder pegar dois ônibus sem pagar de novo e sem depender de terminais, no Pilarzinho essa necessidade é pra ante-ontem.

      Então ou se integra todas as linhas no cartão, como é em São Paulo e diversas outras cidades, ou se construam mais terminais, sendo que o Pilarzinho encabeça a lista de prioridades.

      Além disso, é preciso mais faixas exclusivas pra ônibus, esse é outro ponto que Curitiba vem patinando, a prefeitura e mesmo o governo do estado anunciam com grande alarde a criação de ‘novas faixas exclusivas pra ônibus’, mas você vai ver quase todas elas não chegam sequer a um quilômetro, tendo apenas algumas centenas de metros. A única faixa exclusiva pra ônibus criada recentemente que tem alguns quilômetros e que portanto beneficiou de verdade dezenas de milhares de usuários de ônibus é o binário das ruas XV de Novembro e Marechal Deodoro, no bairro Alto da XV (Zona Leste).

      Fora o fato que Curitiba precisa ter mais ônibus em circulação. São Paulo tem quase 12 milhões de habitantes (só o município, sem contar RM) e 14 mil ônibus. Ou seja, a proporção é bem mais de um ônibus pra mil habitantes, e isso que a Grande São Paulo tem quase 400 km de metrô e trens (sim, nesse caso dos trens inclui a RM; mas o metrô é só no município, e mesmo os trens são usados pra deslocamentos dentro do município de SP).

      Aqui em Curitiba pra quase 1,9 milhão de habitantes são apenas 1,2 mil ônibus. Faça as contas. Pra ter a mesma proporção ônibus/habitante que SP, aqui deveria ter quase mil ônibus a mais nas ruas, e aqui não tem metrô nem trem nem VLT. Resultado: o Expresso é realmente uma maravilha, você espera somente poucos minutos nos tubos.

      Só que nas vilas de periferia de Curitiba a situação é bem outra. Diversas vilas populares, antigas favelas agora urbanizadas, só contam com ônibus de hora em hora, exemplos mais marcantes são as Vilas Pantanal (Alto Boqueirão) e Terra Santa (Tatuquara), ambas na Zona Sul mas distantes uma da outra.

      Cara, nessas vilas é onde o pessoal mais precisaria de ônibus. Mas é de hora em hora mesmo em dias de semana e horário de pico. Obviamente ninguém vai chegar no terminal e ficar de 40 minutos a uma hora esperando um ônibus. A pessoa compra uma moto, ou se puder mesmo um carro, mas não vai pagar pra ser feito de palhaço pela prefeitura.

      E isso falei durante a semana. Nem queira saber como é o transporte coletivo de Curitiba aos domingos. Em muitas vilas o tempo de espera chega perto ou mesmo supera uma hora, em algumas chega a uma hora e meia, porque há casos que um único ônibus faz 3 linhas.

      Diante de tantos problemas, o fato que os ônibus têm motor dianteiro chega a ser irrelevante. Evidente que motor central/traseiro é o ideal, sua análise é irretocável. Porém, quando você tem uma vila popular que só tem transporte coletivo de hora em hora, olhe, a prioridade era que tivesse ônibus pelo menos de meia em meia hora, e no horário de pico a cada 15 ou 20 minutos. Mesmo que o ‘carro’ tivesse motor dianteiro e fosse micro.

      Resultado: repito, os mesmo problemas de BH se repetem aqui. Apesar de muita propaganda na mídia, o transporte em Curitiba está longe, mas muito longe do que um dia foi. A queda no número de usuários foi aguda na década de 10, e ainda não houve recuperação. O Terminal Tautuquara e a Linha Verde Norte/Leste serão um alento, mas insuficientes pra reverter a queda se não houver a implantação de integração total no cartão, mais faixas exclusivas e mais algumas centenas de ônibus circulando nas vilas mais carentes da periferia.

      Abraços, obrigado pelos comentários.
      ………..

      Matérias sobre o transporte de Curitiba e sobre alguns dos bairros citados acima, se alguém se interessar:

      ‘Leste’, ‘Norte’, ‘Oeste’, ‘Sul’ e ‘Boqueirão’: ônibus de Curitiba, anos 80.

      Abriu o baú: os ônibus metropolitanos de Curitiba antes da padronização

      do Arco-Íris restou o Rubro, o resto virou bege: ônibus metropolitanos de Curitiba, 1992-presente

      Chegou o Ligeirão Norte/Sul – depois de 12 anos….Ufa!

      Uma grande série sobre Curitiba: mapa com as regiões da cidade

      Curitiba cresce para o Sul

      ‘Trem-Bala’, ‘Bichos Exóticos’ e ‘Cidade da Laje’: Alto Boqueirão e Sítio Cercado, Zona Sul

      ‘Toca do Tatu’: bem-vindo a Extremidade Sul de Curitiba

      “Expresso do Ocidente”: Caiuá e imediações (CIC, São Miguel e Augusta, Zona Oeste)

      Na Zona Oeste, “uma Cidade chamada Industrial” (e o São Miguel)

      a Curitiba que não sai na T.V.: Complexo da Caximba, ponta da Extremidade Sul

      ‘Bem Perto do Céu’: Pilarzinho e Vista Alegre

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  2. Anônimo disse:

    belo horizonte amo a padronizaçao sem duvidas a mais bela do brasil mas a bhtrans tem muitas exigencia em todos os onibus com a SETRA BH os onibus nao podem ter cano de descarga a mostra nao pode ter mascaras em ambos farois o nome das marcas dos onibus sao retirados agora e exigido letreiro digital dos lados e trazeiros mas sao nas cores laranja,amarelo,azul,verde cada cor com sua determinada regiao e consorcio atualmente as linhas do barreiro onde resido deveriam ser amarelas e verdes mas com a queda da santa edwirges por usar onibus velhos veio a urca que durou pouco com a implantaçao da transoeste o barreiro so circulam azuis tanto bairro quanto centro e os que nao emtram en terminais bhtrans tambem deixa muito a desejar com o sistema do move que vem emfrentando problemas desde o comerço aki a duraçao dos onibus sao de 10 anos rodando mas teve uma troca na frota para (vips ivs ) mas nas linha 33,35,329,310 e principalmente 32 sao ultilizados alguns urbanuss 1998 se passaram 8 anos da validade e a setra bh e bhtrans nao faz nada atualmente o transporte metropolitano bate de 10 no bhtrans que se diz tao rigida

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    • omensageiro77 disse:

      Pois é. Obviamente eu não conheço tantos detalhes assim do sistema de BH, porque eu só estive 4 dias aí, em 2012. Reparei que haviam ônibus com ‘tabela trocada’, ou seja, de uma cor mas operando em linhas de outra categoria.

      E que não haviam corredores exclusivos nem articulados (a única exceção era a linha pra Cid. Administrativa, que tinha articulados). Sei que o Move mudou essa realidade, pois são exatamente articulados em corredor exclusivo, mas não posso avaliar pessoalmente sua eficácia, pois quando visitei a cidade o sistema ainda estava em obras.

      A primeira padronização da Grande Belo Horizonte, a Metrobel, essa era de fato revolucionária. Primeiro por ter padronizado também a Região Metropolitana, e B.H., Goiânia e Florianópolis foram as primeiras a padronizarem também a região metropolitana, no fins dos anos 70/começo dos 80 (sendo que Floripa depois despadronizou tudo, voltou a padronizar os municipais em 2014 mas os metropolitanos seguem pintura livre –
      https://omensageiro77.wordpress.com/2015/09/29/a-cidade-de-floriano-nao-esta-mais-desterrada/ ).

      Em Curitiba, por exemplo, os ônibus metropolitanos só foram padronizados no começo dos anos 90 ( https://omensageiro77.wordpress.com/2015/02/26/abriu-o-bau-os-onibus-metropolitanos-de-curitiba-antes-da-padronizacao/
      https://omensageiro77.wordpress.com/2015/04/29/do-arco-iris-restou-o-rubro-o-resto-virou-bege-onibus-metropolitanos-de-curitiba-1991-presente/ )
      em SP só na virada do milênio.

      Voltando a Metrobel. Essa padronização fez muito mais que atingir a Região Metropolitana. Ela foi inédita porque juntava dois sistemas num só. Explico pra quem não conheceu a capital de Minas nessa época: há dois jeitos de se padronizar a pintura do ônibus. Um é como Curitiba adotou, você pinta o ônibus conforme a categoria da linha (convencional, expresso, circular centro, alimentador, etc – https://omensageiro77.wordpress.com/2015/05/23/leste-norte-oeste-sul-e-boqueirao-onibus-de-curitiba-anos-80/ ). Depois de Curitiba, Recife, Vitória, Ponta Grossa, Blumenau, Fortaleza, Londrina, Joinville (nessas 3 últimas foi abandonado posteriormente) e até Los Angeles-EUA adotaram o mesmo padrão.

      Outro modelo é pintar os ônibus de acordo com a região da cidade que servem, como foi feito em São Paulo, e também Campinas, Brasília, Porto Alegre, Florianópolis, depois Santiago do Chile ( https://omensageiro77.wordpress.com/2015/08/08/das-jardineiras-aos-amarelinhos-aos-articulados-e-o-troleibus-voltou-mas-se-foi-de-novo-santiago-cidade-modelo-do-transporte-americano/ ), Belém ( https://omensageiro77.wordpress.com/2016/04/27/periferia-de-belem-a-terra-e-firme-mas-nao-muito/ ) e recentemente Slavador-BA e Rio de Janeiro (infelizmente nesse caso já despadronizado).

      Pois bem: já o Metrobel fez os dois modelos num só. A cor do ônibus era a categoria, e aquelas duas faixinhas na diagonal indicavam o tronco do itinerário. Essa inovação permanece irrepetível, e depois que BH abandonou o Metrobel infelizmente não é usada em lugar nenhum. Uma pena.
      ……….

      De volta ao presente. Você falou que em Belo Horizonte há muitas exigências por parte da BHTrans. O mesmo se repete aqui em Curitiba. Há muita regulamentação desnecessária, pra manter o ‘padrão Curitiba’ visual, sendo que o padrão de qualidade pro usuário vem caindo há muito, e não por outro motivo Curitiba tem tido a maior queda no número de usuários de ônibus de todo o Brasil, foram 8% de passageiros a menos em 2015.

      Até fevereiro desse mesmo ano de 2015, a prefeitura de Curitiba gerenciava também o transporte metropolitano, inclusive linhas que nem entravam no município de Curitiba, mas se fossem integradas ao sistema metropolitano eram também de sua alçada. Portanto as viações metropolitanas tinham que seguir as mesmas exigências do municipal, algumas delas tão descabidas quanto as que você citou de BH.

      Aí, nessa data supra-citada (02/15) houve uma rixa e o sistema metropolitano voltou pro governo estadual. De uma vez se abrandaram diversos padrões que não contribuíam pra nada pros usuários, eram apenas fetiche pros técnicos do órgão de planejamento. Já escrevi sobre isso com muitas fotos, e um dos primeiros ônibus que veio de fora é oriundo justamente de B. Horizonte, veja a matéria: https://omensageiro77.wordpress.com/2015/12/31/caio-mondego-sanfonado-pbt-da-viacao-colombo-ex-bh-quebrando-6-tabus-de-uma-vez-so/

      Esse articulado jamais andaria aqui na Grande Curitiba, se a prefeitura da capital ainda tivesse o poder de vetá-lo. Entre outras coisas, ele tem 3 portas (os sanfonados precisam ter 4), há esse letreiro eletrônico na esquerda, o vidro traseiro é tampado. Bem, na verdade a prefeitura de Curitiba vetava inclusive a vinda de ônibus usados, tinham (e ainda têm, no sistema municipal) que ser 0 km. Estou falando só das características mais visíveis. Um observador detalhista como você veria bem mais normas, nas partes menores do ‘carro’.

      Quando o sistema metropolitano deixou de pertencer a prefeitura, tudo isso foi por água abaixo. As viações metropolitanas agora só tem comprado articulados usados. Depois desses de BH, vieram outros de SP (inclusive com portas na esquerda, anátema total ao rígido padrão antes vigente aqui), Recife, Blumenau e mais alguns de BH ( https://omensageiro77.wordpress.com/2016/09/07/do-mundo-pra-curitiba/ ).
      Na verdade até busos pitocos (não-articulados) estão sendo comprados de fora usados ( https://omensageiro77.wordpress.com/2018/12/12/via-br-101-do-recife-p-itajai-por-aracaju-e-curitiba/ ).

      Pra você ter uma ideia como a prefeitura de Curitiba era purista, nos anos 80 e 90 até mesmo pra ser testado aqui o veículo tinha que estar pintado com as cores do sistema ( https://omensageiro77.wordpress.com/2015/02/22/de-fortaleza-a-curitiba-o-hibribus-rodou/ ).
      Veja nessa matéria acima um articulado alemão que circulou somente 2 semanas aqui. Mas teve que ser pintado conforme o padrão curitibano. Há outros ônibus que foram pintados mas não foram sequer testados, ou seja, tinha que ser padronizado conforme a Urbs exigia somente pra serem oferecidos, sem sequer garantia que seriam ao menos testados. É muita egolatria pra uma cidade só, mas isso é Curitiba. Felizmente pelo menos um pouco dessa sanha amainou, e pelo menos pra testes são aceitos agora ônibus brancos ou em pintura de fábrica, como é em qualquer lugar do mundo.

      Mas pra rodar em definitivo a burocracia permanece (no sistema municipal, no metropolitano não mais). Enquanto os técnicos da prefeitura se divertem impondo padrões que só eles veem sentido, o sistema de Curitiba está caro e ineficiente, e não por outro motivo cada vez menos gente usa transporte coletivo nessa cidade.

      Obrigado pelos apontamentos.

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