Fortaleza: a Cidade do Sol, do Mar, das lagoas, do ‘Funk’ e dos Ônibus Azuis

Lado-a-lado, as estações de metrô e ônibus de Messejana, Fortaleza (r). Aqui já vemos 2 traços marcantes da cidade, as lagoas e os busos azuis – quando estive lá, em 2011, eram assim inteiramente celestes. Hoje são brancos mas com detalhes ainda em azul essa matéria integra a ENCICLOPÉDIA DO TRANSPORTE URBANO BRASILEIRO

Por Maurílio Mendes, O Mensageiro

Publicado (via emeio) em 6 e 11 de setembro de 2011

Maioria das imagens clicadas pessoalmente por mim. As que foram baixada da internet eu identifico com um ‘(r)’ de ‘rede’, como visto ao lado.

Os créditos foram mantidos sempre que impressos nas imagens, e quando possível passo a ligação pras fontes.

Vamos concluir a série sobre a capital do Ceará. A viagem foi em agosto de 2011. Entre outras coisas, contarei sobre minhas voltas na periferia. Porém antes de irmos de vez pro subúrbio, falemos sobre alguns detalhes da alimentação.

Mercado no Centro de Caucaia, Zona Oeste metropolitana. No Ceará as pessoas ainda compram galinha viva no meio da rua – já em João Pessoa fotografei o comércio de bodes.

Em Fortaleza não há restaurantes em que você come a vontade por um preço fixo, o que me chamou muita atenção porque sou do Sul do Brasil.

Pra quem é do Nordeste e não conhece o Sul, ou vice-versa é do Sul mas não conhece o Nordeste, façamos a comparação:

Aqui no Centro de Curitiba (e em todos os seus bairros mais movimentados) há centenas de restaurantes onde você come tudo que quiser e puder, sem precisar pesar e repetindo quantas vezes quiser, porque o valor é igual pra todos.

Há uma rede, por exemplo, com várias filiais espalhadas pela cidade, Centro e bairros. Ali, por R$ 4,50 (valor de 2011) você come a vontade, e uma comida de qualidade

A Cidade das Lagoas: a da foto maior creio que seja a de Messejana, não posso dar certeza. A do destaque é na Zona Sul, também não estou certo em que bairro. As margens dela mais uma favela – lembre-se, no Nordeste as favelas são sempre de alvenaria e (com exceção total de Salvador e parcial de Recife) geralmente de casas térreas, as lajes apenas iniciam sua subida.

(De fato esse restaurante é uma boa pra quem quer uma comida barata e saudável, tem bastante opções de salada, por exemplo.

Atualizando, no começo de 2017 o valor era R$ 6,95, ainda bem abaixo da média da cidade que oscila já perto dos R$ 10. Estabelecida essa referência, voltemos a Fortaleza.)

No Ceará, dizendo de novo, não existe o sistema de comer a vontade por um preço fixo. Há duas opções: se você mesmo se serve, precisa pesar pra ver quanto vai pagar. Se o preço é fixo, o prato também.

Atualização: depois dessa viagem, fui a Belém do Pará, João Pessoa-PB e Belo Horizonte-MG. Foi interessante porque aí pude comparar o Brasil nas suas 2 pontas, e também em seu centro.

Na Paraíba eu não me alimentei na rua, pois fiquei hospedado na casa de uma colega. Mas na Amazônia almocei sempre em restaurantes do povão. E aí vi: não é só em Fortaleza, em Belém tampouco há comida a vontade por preço fixo.

Bairro Jurema, em Caucaia.

Concluí que essa é a característica do Norte e Nordeste, sendo que aqui no Sul, dizendo de novo, é o exato oposto. Em B.H., vejam vocês, achei um sistema intermediário entre as pontas dessa nação-continente:

Ali em Minas você mesmo se serve a vontade, e não precisa pesar – mas não pode repetir, é o que couber no prato na sua única ide ao bifê. Os cartazes deixam claro como funciona: “sem balança – mas sem repetir”.

No meu último dia em Fortaleza achei no Centrão um restaurante bom e barato, $ 4,50 o prato feito (valores sempre de 2011, lembre-se).

Bem perto dali, as ruas internas do Conjunto Ceará, populoso bairro da Zona Oeste.

Outro detalhe é que a farinha de lá é muito mais grossa e escura. Quem é acostumado com a farinha branca e fina do Centro-Sul vai achar que está comendo pedra.

É assim mesmo, foi igual em João Pessoa, Belém e Manaus-AM. Creio que seja característica dos lugares mais quentes na porção setentrional do Brasil.

‘PÃO DE QUEIJO’ É BEM DISTINTO – 

Também o que no Centro-Sul chamamos por “pão-de-queijo” não existe no Ceará.

Digo, o pão-de-queijo mineiro, como conhecemos por aqui, existe lá nas lanchonetes de classe média-alta, em “shoppings” e na beira da praia, onde há muitos turistas.

Aqui e sobre a manchete: contraste agudo, os prédios dos milionários ao lado do iate-clube em Meireles, e uma grande favela logo atrás (imagem obtida via ‘Google Mapas’).

Mas no Centro e na periferia eles desconhecem. Os hábitos alimentares variam muito mesmo de região pra região, né?

Por exemplo, em Manaus eles não servem batata-frita, exceto nas áreas turísticas, o que torna o prato extremamente caro.

Aqui em Curitiba o ‘prato-feito’ ou ‘p.f.’ mais comum é arroz, feijão, alface, tomate e um bife, as vezes vem também batata-frita, que no Centro-Sul é popular e barata.

Acontece que em Ponta Grossa, no interior do Paraná, sempre servem repolho ao invés de alface, devido a colonização russa, pois os eslavos adoram repolho. Em Belém o p.f. sempre contém macarrão, o que não vi em outras partes, ao menos não sendo compulsório como no Pará.

Próximas 4: a orla da Zona Leste, a porção rica da capital. Começamos com 2 de minha autoria.

Voltemos a Fortaleza. Lá ‘pão-de-queijo’ designa um outro salgado, seria equivalente uma esfirra fechada de queijo (talvez similar a popular ‘empanada’, que é salgado mais conhecido do Chile, Argentina, Paraguai e Bolívia).

É gostoso, e me ajudou bastante, pois eu não como nenhum tipo de carne. Então quando circulando pelas cidades (no Centrão e nos subúrbios, entre o povão) é bom quando encontro uma forma rápida e barata de me alimentar, o que nem sempre é fácil.

Na Colômbia, por exemplo, eles comem muita carne, não há salgados só de queijo. Teve dias que tive que almoçar um pedaço de bolo doce, e eu não gosto muito de doces nem mesmo na sobremesa, que dirá como prato principal.

Outra coisa. No Nordeste é vendida uma margarina com a fórmula diferente da que é comercializada no Centro-Sul, pois é muito mais resistente ao calor.

A que comprei é fabricada por uma transnacional, em PernambucoFicou 2 dois fora da geladeira, no calor cearense. Não derreteu. Quando a coloquei na geladeira, aqui em Curitiba, entretanto, ela congelou.

Ou seja, uma margarina que dispensa refrigeração, e aguenta o calor quase desértico sem se liquefazer. Especialmente no interior, muita gente no Nordeste ainda não tem geladeira, e o fabricante adaptou a fórmula pra atender esse público.

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Aqui e a direita, seguimos na mesma frequência, mas agora em duas cenas baixadas da rede: Praia de Meireles, onde moram os ricos. Ondas calmas pelo dique que afunda o calado pro porto, que é próximo – no Litoral do Chile eu fotografei um prédio vazado parecido com esse.

Voltemos a falar da cidade de Fortaleza. A Zona Leste é a parte rica. Falando em termos gerais, a elite e a alta-burguesia moram a leste do Centro, entre a orla e Parque do Cocó. Do parque pra baixo é periferia como no resto da cidade.

Digo, de uns tempos pra cá a outra margem desse bosque também vem se aburguesando mais, natural, pois há uma oferta maior de terrenos pra se construírem novos prédios.

Ainda assim, arredondando podemos dizer que o Parque do Cocó marca a divisa entre burguesia e periferia. Sim, ainda há uma porção mais cara nas imediações dele, mesmo na margem ‘de baixo’.

Logo a seguir a mesmo a Z/L passa a ter um perfil mais de subúrbio, que prevalece nas nas Zonas Oeste e Sul. Bem, agora, vamos falar exatamente do resto da cidade.

Mais uma de Meireles (r). Aqui fica claro que se trata de uma praia mansa, de mar calmo.

Comecemos pelo núcleo principal. Os bairros ao redor do Centro de Fortaleza são densamente habitados, ao contrário do que ocorre em Curitiba.

Novamente falarei um pouco da capital do Paraná pra termos base de comparação.

Como viram pelos dados do Censo, nessa última década o Centro de Curitiba voltou a crescer. Mas os bairros da Zona Central, excluindo o próprio, continuam a minguar.

Rebouças, Parolin, Seminário, Jardim Social, Hugo Lange, São Francisco, Batel, Mercês, Prado Velho, entre outros, continuam a sofrer severo êxodo.

Praia do Futuro, a leste da cidade (r). Essa é de mar aberto, e portanto com ondas fortes.

O Rebouças é o caso mais extremo, tinha população maior em 1970, 41 anos atrás portanto, que hoje (2011). E isso que Prado Velho e Parolin abrigam grandes favelas, as Vilas Capanema e Parolin.

E as favelas (de Curitiba e toda parte) continuam a inchar, agora pra cima, com cada vez mais lajes sendo erguidas.

Então você imagina como está grave a sangria de gente nas partes não-favelizadas dos bairros centrais da capital paranaense.

Em Fortaleza esse fenômeno de esvaziamento da Zona Central não existe.

Em compensação a Praia do Futuro quase não tem prédios, por ser afastada da Zona Central, e mesmo há ainda grandes terrenos vagos em frente ao mar (r).

Digo, esse é minha observação empírica, e fiquei apenas 4 dias na cidade, qualquer análise tem uma base de dados pequena.

Não puxei os dados do Censo dos bairros de lá. Mas fiquei hospedado próximo ao Centro, e andei bastante a pé na região.

Não há a impressão de ‘cidade-fantasma’ que tenho em partes do Rebouças e São Francisco, aqui em Ctba. .

Isso porque Fortaleza cresce num ritmo galopante, então não se pode se dar ao luxo de desperdiçar espaço. 

Casal caminhando na Praia do Futuro (ela com os cabelos esvoaçando ao vento).

Fortaleza tinha 1,7 milhão no Censo de 1991. Em 2000 eram 2,1 milhões.

Agora em 2010 são 2,4 milhões de fortalezenses – ultrapassou Belo Horizonte, e hoje (texto de 2011, lembre-se) é o quinto município mais populoso do Brasil.

Atrás de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador-BA e Brasília (a capital federal também cresce muito, e também deixou BH pra trás).

Curitiba, em comparação, tinha 1,3 milhão em 1991, 1,5 em 2000 e agora em 2010 somos 1,7 milhão de curitibanos.

Ou seja, em 1991 Fortaleza tinha 400 mil pessoas a mais que Curitiba.

Em Jericoacoara, famosa praia cearense.

Atualmente a diferença é de 600 mil. Em compensação, a Região Metropolitana de Fortaleza é menor que a Região Metropolitana de Curitiba.

Aqui estou dizendo que há menos municípios-dormitórios ao redor de Fortaleza do que ao redor de Curitiba.

O núcleo é maior lá, mas o subúrbio é maior aqui. Tudo somado, a Grande Fortaleza tem mais ou menos a mesma população da Grande Curitiba, cerca de 3,5 milhões de pessoas.

E ambas têm também mais ou menos o mesmo número de assassinatos.

Cerca de 1,8 mil por ano tanto na Grande Fortaleza quanto na Grande Curitiba. São duas cidades muito violentas.

Repartição pública no Centro da capital, com as bandeiras do Ceará, Brasil e Fortaleza. Está claro que que fiz uma foto-montagem: não consegui uma tomada com as 3 abertas no ar ao mesmo tempo, então tirei mais de uma foto, recortei a bandeira do Ceará e colei nessa. A intenção não é enganar ninguém, e, bem, se fosse eu não teria a técnica nem o equipamento necessários pra fazer uma armação convincente. Além de vocês notarem as emendas, é claro que é impossível os pavilhões federal e municipal tremularem prum lado, e o estadual pro outro. O propósito é apenas vermos o símbolo das 3 esferas na mesma cena.

Atualização: o texto é de 2011, dizendo de novo. Portanto os dados acima são de 2010, e esse foi o período mais violento da história de Curitiba.

Em 2010 somente o município de Ctba. teve 979 assassinatos (isso em nºs oficiais – na prática foram mais de mil, resultando os 1,8 mil do município + subúrbios metropolitanos).

Nessa década de 10 os assassinatos em Curitiba e região se reduziram bastante, no município agora é perto de metade do pico: em 2015 foram 449.

Portanto a capital do Paraná ainda é uma cidade muito violenta, mas bem menos do que já foi. Em Fortaleza, infelizmente, a violência ainda continua na estratosfera.

Em 2014 foram 1.989 homicídios, tanto em termos absolutos como relativos (proporcional a população) a capital mais violenta do Brasil.

Fortaleza teve mais assassinatos que São Paulo, cuja população é 5 vezes maior.

Os índice de Fortaleza estão próximos aos das grandes metrópoles da África do Sul e México, que são países ainda mais violentos que o Brasil, e olhe que isso não é fácil.

Fortitudine”, a bandeira municipal com ‘Fortaleza’ em latim.

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Abaixo reporto como o humor cearense sintetiza essa triste situação de conflagração urbana. Aqui continuemos a falar da população.

Se hoje (2011) o número de habitantes das duas cidades (núcleo mais subúrbios) se equivale, em 2020 a Grande Fortaleza será muito maior que a Grande Curitiba, pois cresce muito mais.

CAUCAIA, CORAÇÃO DA ZONA OESTE –

A Zona Leste é a parte rica, as Zonas Sul e Oeste de Fortaleza são as mais pobres e mais populosas. Tanto dentro do município quanto nos subúrbios. Não custa lembrar que Fortaleza não tem Zona Norte, pois essa é o Oceano. Assim os municípios mais povoados da Grande Fortaleza ficam pros lados ocidental e meridional da metrópole.

O texto ao lado fala de Caucaia, mas essa foto é no município de Fortaleza. Na capital do Ceará esse é o padrão, 90% das portarias são assim, 2 metros acima do solo. Quase uma guarnição militar, igual as torres de vigia dos quartéis. Certamente é impossível assaltantes renderem o porteiro dessa forma, pela visão que ele tem da rua, e por não ficar na linha de tiro. Ele não interage com visitantes face-a-face, apenas por interfone. Já conheci centenas de cidades por toda América (e até um pega na África), somente em Fortaleza eu vi isso, pelo menos nessa proporção epidêmica.

O maior é certamente é Caucaia, que fica no Coração da Zona Oeste da cidade. É um município muito grande, tanto em área quanto em população.

Pega um pedaço de litoral e vai margeando toda a divisa oeste do município de Fortaleza. Em Caucaia moravam 325 mil pessoas em 2010, segundo o Censo.

Hoje são bem mais, pois a taxa de crescimento populacional do Norte, Nordeste e Brasília permanece elevada, ao contrário do Centro-Sul.

Caucaia é o segundo município mais populoso, não apenas da Grande Fortaleza mas também de todo o estado do Ceará. A título de comparação, a maior cidade do interior, Juazeiro do Norte (terra do Padre Cícero) tem 249 mil habitantes.

Caucaia já é grande e cresce demais. Em 1991 tinha 165 mil habitantes, em 2000 250 mil e agora (censo de 10), dizendo de novo, 325 mil.

Resumindo dobrou em 20 anos. Crescimento explosivo. Caucaia é servida por trem de subúrbio, cujo trilho veem em fotos espalhadas pela página.

MARACANAÚ, O ORGULHO DA ZONA SUL 

Se a Zona Oeste é grande, a Zona Sul não fica pra trás. Ali está o município de Maracanaú, que é o mais industrializado da Grande Fortaleza. Estive lá na Zona Industrial.

Agora vemos Caucaia, mais uma no bairro de Jurema.

Há um Instituto Federal (antigamente chamados ‘Cefet’ em alguns estados) novinho em folha (quando estive lá, que foi em 2011, nunca custa reforçar). Maracanaú tinha 209 mil habitantes no censo do IBGE de 2010.

O que o torna o 4º município mais populoso do estado, atrás dos vizinhos Fortaleza e Caucaia, já citados, e Juazeiro do Norte (que, repito, com 249 mil habitantes no mesmo censo é a maior cidade do interior).

O 5º município mais povoado do estado, e segunda maior cidade do interior, é Sobral, com 188 mil pessoas. Mas nosso foco é a Grande Fortaleza. De volta pra lá.

Maracanaú também é servida por trem de subúrbio, mas este está desativado – por um bom motivo: a linha está sendo adaptada pra virar metrô (foi o que escrevi em 2011. Em 2017 o metrô já está funcionando há tempos, publiquei a matéria específica sobre o transporte no Ceará). 

Fortaleza: casas com grades na porta, mesmo perto do Centro. Aqui em Curitiba existe também essa cena, mas somente nos bairros mais afastados do subúrbio, muitas vezes na região metropolitana. No Ceará é mais generalizado. Tirei essa foto de dentro do trem. Outro detalhe é que esse é o perfil típico das casas mais humildes no Nordeste: pequenas, de alvenaria e com a saída direto pra rua, sem muro ou quintalem João Pessoa fotografei isso com melhor definição.

Aqui o foco é a população, como ela se divide nas regiões da cidade. Oficialmente a Grande Fortaleza é composta de 19 municípios.

Mas você sabe que essas decisões políticas muitas vezes não encontram respaldo na realidade, nos ‘fatos no solo’. Quero dizer com isso o seguinte:

As regiões metropolitanas das capitais vão sendo sucessivamente ampliadas, e com isso passam a abarcar municípios muito distantes.

Incluso alguns que não têm qualquer ligação urbanística ou econômica com a capital. Na prática, muitos municípios mais distantes são já no interior.

Próximos a capital sim, mas não estão conurbados, não estão conectados a ela. Somente no papel fazem parte da região metropolitana.

Foram incluídos por interesses políticos, que nem sempre – ou quase nunca – são os anseios e necessidades reais da população. Vou traçar mais um paralelo com o Paraná, pois aqui eu já exemplifiquei a situação em detalhes, com mapas e fotos dos ônibus que ligam as cidades:

Mesma cena na periferia, em Maracanaú, Zona Sul.

A Grande Curitiba é a maior região metropolitana da Brasil, em área. Vai desde a divisa com São Paulo no Vale do Ribeira até a divisa com Santa Catarina em Rio Negro.

Fortaleza passou pela mesma expansão. Em 1973 era formada por apenas mais 4 municípios além da capital, e todos faziam divisa com a mesma: 

Caucaia, Maranguape, Pacatuba, e Aquiraz. Na década de 80 Maracanaú e Eusébio se emanciparam respectivamente de Maranguape e Aquiraz, e portanto passaram a fazer parte também.

Até aqui todas ainda faziam divisa com a capital (embora o ponto de contato entre  Fortaleza e Aquiraz tenha ficado minúsculo com a separação de Eusébio, os municípios ainda se tocam perto da orla).

Não é a fronteira física por si mesma quem determina se um município é ou não região metropolitana. Piraquara não faz divisa com o município de Curitiba, mas a ‘Nascente do Sol e das Águas’ definitivamente é parte da Grande Curitiba.

Bairro Jurema, Caucaia: um comércio funcionando atrás das grades. Essa lanchonete está aberta, no entanto gradeada, o dono só abre se confia no freguês que chega. É muito comum essa cena na Grande Fortaleza, infelizmente. Aqui em Curitiba ocorre também mas é bem mais raro. Lá a situação é mais tensa. Só que na Colômbia é pior ainda, em Fortaleza é mais comum que Curitiba mas mesmo assim só na periferia. Em Bogotá e Medelím isso é corriqueiro mesmo no Centro e nos bairros mais abastados.

Mas há cidades que estão a algumas dezenas de quilômetros da capital, estão completamente separadas dela em termos urbanísticos (ou seja, é preciso pegar estrada).

Resultando que praticamente nenhum de seus habitantes migra pendularmente todos os dias pra trabalhar. Aí podemos ter certeza que não é região metropolitana de fato, só no papel.

Lapa, Rio Negro, todo o Vale do Ribeira e mais alguns municípios não são Grande Curitiba de fato, foram incluídos por outros fatores.

Retomando nosso foco, no Ceará ocorre o mesmo. Até 1992 todos os municípios da região metropolitana eram Grande Fortaleza de fato e direito.

Mas de lá pra cá, em sucessivas ampliações, foram incluídos repetindo cidades do interior, que não guardam relação urbanística com a capital.

Então podemos dizer que em termos práticos são realmente, com ‘fatos no solo’, parte da Grande Fortaleza: Caucaia, Maracanaú, Pacatuba, Maranguape, Itaitinga, Guaiúba, Eusébio e Aquiraz.

Caucaia, Maracanaú e Fortaleza são unha-&-carne. 3 municípios, mas uma só cidade, fazem totalmente parte da vida da capital.

Agora em Maracanaú. Passamos da Zona Oeste pra Zona Sul, mas a situação se repete: uma casa de internet pública (‘lan house’) funcionando, mas com portas gradeadas.

Caucaia e Maracanaú são praticamente bairros de Fortaleza em todos os quesitos exceto que cada uma delas tem sua prefeitura própria.

Você não percebe quando cruza o limite municipal, pois a área urbana é totalmente interligada.

Caucaia então está umbilicalmente ligada a capital, pois é vizinha do famoso Conjunto Ceará, bairro emblemático da Zona Oeste de Fortaleza.

Já num segundo anel, mas ainda bem conectadas no dia-a-dia do núcleo, há Pacatuba, Maranguape, Itaitinga e Guaúba na Zona Sul, e Eusébio e Aquiraz na Zona Leste.

Dessas Maranguape, a terra de Chico Anysio, é disparado a maior e mais conhecida, tinha 113 mil habitantes no último censo.

As demais já são mais uma “área de influência”, digamos. Próximas a capital, mas é preciso pegar estrada e sair do perímetro urbano pra chegar nelas. Como dito há outros municípios ainda mais distantes, que são Grande Fortaleza no papel mas não o são na prática.

……….

Próximas 2: o trilho do trem divide os bairros Jurema (Caucaia) e Conj. Ceará (Fortaleza).

Na Zona Oeste, dentro do município de Fortaleza, há o Terminal Antônio Bezerra, próximo da Avenida Bezerra de Menezes.

Os que são familiarizados com os grandes nomes do espiritismo kardecista sabem que Bezerra, que é cearense, foi um dos grandes nomes que ajudaram na difusão dessa religião em nosso país.

Resultando que alguns poderiam pensar que o nome da avenida se deve a influência espírita, assim como há a Rua Allan Kardec no Bom Retiro, Zona Norte de Curitiba – o próprio nome Bom Retiro, alias, é emprestado do hospital da Federação Espírita que por décadas foi ali localizado.

Mas não é pelo kardecismo que existe a Avenida Bezerra de Menezes em Fortaleza, ou ao menos não é somente por isso. Adolfo Bezerra de Menezes foi um dos cearenses mais ilustres da história, em muitos campos.

Afinal foi médico, militar, escritor, jornalista e político. Antônio Bezerra, que nomeia um bairro e um terminal da Zona Oeste, foi seu pai. Uma nobre dinastia cearense.

………

Fortaleza tem (em 2011) 7 terminais de ônibus. E 6 desses ficam na periferia. A exceção é Papicu, no coração da parte mais rica da cidade, a Costa Leste.

1989: começa uma nova era no transporte de Fortaleza (r). Chegam os 1ºs articulados, ainda na época que cada empresa ainda pintava seus ‘carros’ como queria. A pintura da estatal CTC era essa. Esse e o próximo são 2 (da mesma leva, o da foto seguinte foi re-pintado) de carroceria Thamco, fábrica que havia em Guarulhos, Grande São Paulo. Ficou famosa por fabricar os primeiros 2-andares brasileiros, mas a seguir, no meio dos anos 90, faliu. A fábrica voltou a ativa renomeada Neobus (a mesma que fabricou os novos ligeirões azuis de Curitiba, que quando escrevi esse emeio eram novidade), e depois que a Marcopolo comprou 40% da Neobus transferiu-a pra sua cidade-sede, Caxias do Sul-RS.

Por isso é muito movimentado, há linhas pra todos os outros terminais, pois ali é que estão boa parte dos empregos.

A linha Papicu-Conjunto Ceará, por exemplo, é extremamente sobrecarregada, pois liga um terminal que é no núcleo da Zona Leste ao coração da Zona Oeste, a região-dormitório.

OS ARTICULADOS SE FORAM, MAS VOLTARAM: A QUEDA E ASCENSÃO DO TRANSPORTE FORTALEZENSE

Nessa década de 10 Fortaleza investiu maciçamente no transporte coletivo. Foi uma revolução, de uma situação caótica a situação melhorou muito.

Já fiz matéria específica sobre o tema, onde discorro melhor, ilustrado com muitas fotos e mapas. Portanto aqui daremos somente uma breve rememorada.

Vejamos o que escrevi em 2011, que foi o que constatei lá. E depois atualizamos, pra vocês verem o quanto a coisa mudou pra melhor. Esse subtítulo acima, “Os articulados se foram mais voltaram”, só pode ter sido escrito numa atualização da matéria. E de fato o foi.

Atrás (destacado pela flecha) um ainda em pintura livre (r). O prefixo é em cor diferente porque Fortaleza é o epicentro da ‘Costa Norte’ Brasileira, que se espraia dali até Manaus.

Pois no emeio original, que mostrava como era a realidade no comecinho da década de 10, o sub-título era:

“NÃO HÁ ARTICULADOS, REGRESSÃO NO TRANSPORTE“. Relatei a época queessa linha (Papicu-Conj. Ceará, citada acima) deveria ser feita com articulados. Infelizmente não há ônibus articulados em Fortaleza, e essa é uma falha gritante do sistema.

Tampouco há canaletas (corredores) exclusivas, outro erro de planejamento. A foto a direita mostra a primeira pintura padronizada de Fortaleza, ou seja igual pra todas as empresas.

Até hoje se entra por trás em Fortaleza, isso não mudou – digo, inverteram pra frente, mas depois voltou pra trás. Veem aquelas flechas, que marcam a inauguração dos terminais, o começo da Rede Integrada.

A ‘Cidade dos Ônibus Azuis‘ – assim que desembarquei no aeroporto, minha primeira vista de Fortaleza, agosto de 2011: o céu e os busos, tudo celeste. Na época a cidade não tinha articulados nem corredores, e toda frota era nessa padronização ‘das Flechas‘ (também publicado na página de busologia, ‘De Busão Pelo Mundão’).

Eram a princípio 3 pinturas diferentes, conforme a categoria do buso (sistema adotado em Curitiba e tantas outras cidades), mas em poucos anos toda frota municipal, em todas as linhas receberam essa pintura ao lado.

Corredores exclusivos nunca existiram mesmo, agora articulados haviam, e não há mais.

Ou seja, aconteceu uma regressão. Havia uma viação pública estadual, a CTC, Companhia de Transporte Coletivo.

Os busólogos sabem que houve uma empresa com esse mesmo nome no Rio de Janeiro, e também era estatal. Por isso falamos em CTC-RJ e CTC-CE pra diferenciar.

Tanto a CTC-RJ quanto a CTC-CE tiveram ônibus articulados. Foram depois entretanto privatizadas. E hoje nem Fortaleza nem o Rio de Janeiro tem ônibus articulados. Uma regressão.

Antes/Depois (imagem via ‘Google Mapas’): Fortaleza não tinha corredores de ônibus. Agora tem. Aí sim!!!

Falemos um pouco de como tudo se deu. Os primeiros articulados de Fortaleza foram entregues em 1989. Era uma época de caos na cidade.

Na mesma época a prefeitura inaugurou os primeiros terminais integrados, padronizou a pintura dos ônibus e comprou os primeiros articulados da história.

Três grandes avanços. Depois disso, entretanto, o caos voltou a reinar. Com muitos desmandos, não houve mesmo como a companhia estatal sobreviver, foi privatizada na sequência.

Próximas 3: Maracanaú, Z/S metropolitana.

Com isso Fortaleza não tem mais articulados. Alias o Rio de Janeiro também não.

Tem mais. Estive em Belo Horizonte um ano e pouco depois de Fortaleza.

A época (2012) a capital mineira tampouco tinha articulados, exceto um uma única linha já saindo da cidade.

Os poucos sanfonados da capital mineira ligavam o metrô ao então recém-inaugurado palácio do governo, que é fora da zona urbana, a dezenas de quilômetros do Centro.

(Nota: alias alguns desses ônibus sanfonados belo-horizontinos vieram parar em Curitiba, eu os vejo passar daqui de minha janela. Volta o texto original). Triste, muito triste. Em 2011 e 12 assim era mesmo.

Aqui o Conjunto Novo Maracanaú.

Mas de lá pra cá houve um renascimento: tanto o Rio, B.H. e Fortaleza quanto várias outras metrópoles investiram muito no setor.

Inauguraram vários corredores exclusivos operados por articulados com modernas estações com embarque em nível. E o Rio e Fortaleza multiplicaram em muito a malha do transporte sobre trilhos.

…………

Pra fechar a parte dos ônibus, Fortaleza tem um transporte barato, a tarifa é R$ 2, e em duas horas do dia (das 9h as 10h e das 14h as 15h) é mais barato ainda, R$ 1,80, a chamada ‘hora social’.

Ainda periferia de Maracanaú. Imagem em baixa resolução, desculpe. Amarraram um bode pra pastar. Nesse dia estava uns 40º no Ceará. E o bichinho não tinha uma sombra pra se abrigar. Deu dó!  

Como dito, os valores são de 2011, em Curitiba como comparação era 2,50.

Atualizando, hoje (2017) em Ctba. é R$ 4,25 em qualquer tempo, em Fortaleza 3,20 a normal e 3 Reais nessas duas ‘horas sociais’.

Alias muito interessante essa política de dar desconto pra quem usa fora do horário de pico. Existe em diversos outros países, inclusive por exemplo a África do Sul.

De resto, andar de ônibus em Fortaleza é definitivamente muito mais barato que em Curitiba, em diversas formas.

Além da tarifa em si já ser bem mais em conta, e segundo, ainda mais na ‘hora social’, tem muito mais:

Próximas 3: anoitece no Conjunto Esperança, Mondubim, Zona Sul, dessa vez no município de Fortaleza.

Terceiro, lá ainda existe a tarifa domingueira, que é 2,60 (os dados nesse parágrafo e no abaixo são de 2017, e não 2011, pois escrevi esse trecho na hora de subir pro ar), vale inclusive em alguns feriados, enquanto a daqui foi extinta.

Quarto, o ‘Circular Centro’ de Fortaleza (lá chamado ‘Linha Central’) custa somente 40 centavos, enquanto aqui é quase oito vezes mais caro, 3 reais.

E quinto, lá os estudantes pagam menos de meia (como em diversos países, por exemplo o Chile). 

Enquanto em Ctba. esse benefício do meio-passe é difícil de conseguir, pois só vale pra quem mora e estuda no município e a família tenha renda de menos de 3 salários mínimos (no caso de filho único).

Ademais em Fortaleza a integração funciona melhor, pois além dos terminais integrados é possível pegar mais um ônibus fora do terminal sem pagar novamente.

Tudo isso é possível através da integração temporal no cartão – isso vale pra todos, não só estudantes. Fortaleza tem um sistema mais barato e mais integrado.

Em compensação, não há canaletas e nem articulados, uma falha grave. Isso era dessa forma em 2011. Mas agora há canaletas e articulados em Fortaleza. Já outro problema seríssimo que constatei uns anos atrás ainda permanece: 

Os ônibus tem 3 portas, mas a do meio não abre fora dos terminais – o que dificulta em muito a circulação no salão do veículo, especialmente no horário de pico. Minha última experiência em Fortaleza foi tétrica por causa disso . . .

A primeira cena que vi (e fotografei) assim que pisei em Fortaleza foi um ônibus azul, na época onipresentes, como já contei.

Pois bem. isso quando cheguei. Agora falando de quando fui embora. Meu voo decolava somente as 3 da manhã. Na última noite na cidade fui dar uma volta na Praia de Meireles, já depois das 9, estava lotada, pois a orla é bem policiada.

O Km 0 nacional da BR-116 é em Fortaleza. Essa foto é na periferia da cidade, perto dele. Depois a 116 recebe os nomes de ‘Rio/Bahia’, ‘Dutra’, Régis Bittencourt’, ‘Estrada Serrana’, ‘Federal’, entre outros.

O que faz com que até Mulheres sozinhas se sintam seguras pra andar por ali a noite.

Aqui, pra mantermos o foco, saí do Terminal Papicu pouco antes das 10 da noite, rumo ao Aeroporto.

Quando deu 10 em ponto o busão parou em frente a um centro comercial (o “shopping” pra quem prefere em inglês).

Assim o busão, que estava vazio, ficou hiper-lotado. Acima do que se pode descrever.

Eu sou busólogo, resultando que por vezes fico vendo fotos de ônibus urbanos ao redor do mundo. Um dia via a foto de um ônibus articulado que opera na Zona Sul de São Paulo.

Próximas 2 (via ‘Google Mapas’): placas pintadas nas portas das periferias de Fortaleza. Essa é na capital mesmo, favela Servilux/Titãzinho, na Beira-Mar, Zona Leste, ao lado do porto, onde eu estive pessoalmente. O cara pôs um adesivo: “Proibida a entrada invejosos!!!” Pra garantir pintou a mão: “Seu olho gordo p/ mim é cégo (?????!!!!!!)” Tá bom pra ti ou quer mais?

Estava lotado. Um dos comentários dizia “está naquela hora bem ‘agradável’, tem gente até no colo do motorista”. Nesse caso era uma figura de linguagem, claro.

Só que esse dia em Fortaleza não era figura de linguagem, estava quase acontecendo literalmente. 

Digo, no colo do motorista não tinha ninguém, obviamente, mas não faltou muito:

Tinha uma moça sentada no motor, a seu lado, dentro da grade, atrás do câmbio – cada vez que ele ia mudar a marcha ela precisava se desviar.

As pernas dela estavam encostadas nas do motorista, pra vocês visualizarem o que estava acontecendo.

Caucaia, Zona Oeste metropolitana.

E como o busão tem 3 portas mas a do meio não abre, foi um sufoco descer.

Depois, em 2013, passei por uma experiência similar numa das vans na República Dominicana.

Tanto no Ceará em 2011 quanto no Caribe 2 anos depois foi um alívio quando enfim, após muito esforço, contorcionismo, empurra-empurra e pedidos de ‘licença’ eu afinal saltei do coletivo hiper-lotado…. Ufa!

Pra fechar o tema do transporte relato como se distribuem pela cidade os terminais de ônibus. São sete terminais:

3 na Zona Oeste, a mais populosa e periférica: Siqueira, Conjunto Ceará e Antônio Bezerra, começando a partir da periferia e indo mais próximo ao Centro.

Na Zona Sul estão os terminais Parangaba e Lagoa, e na Zona Leste Messejana e Papicu, em ambos os casos falando primeiro os mais distantes.

Messejana atende também parte da Zona Sul, pois o terminal é bem próximo da BR-116, que é o que divide as Zona Leste e Sul.

Dessa forma, várias vilas da Zona Sul são atendidas por alimentadores do Messejana, assim como inversamente os terminais Vila Hauer e Sacomã ficam nas Zonas Sul de Curitiba e São Paulo e ambos atendem partes das respectivas Zonas Lestes.

Serra emoldura a Gde. Fortaleza ao fundo (aqui em Ctba. vemos a mesma cena).

E pra quem não sabe, a BR-116 (que depois é a Rio-Bahia, a Dutra, a Régis Bittencourt, Rodovia do Planalto em SC, a Federal na Gde. Porto Alegre-RS, entre outros nomes) tem seu quilômetro zero nacional em Fortaleza, na Zona Sul, no Aguanambi.

A Zona Leste da capital cearense é rica da orla ao parque, como já escrevi, e mais proletária abaixo do parque.

As Zonas Sul e Oeste têm por inteiro um perfil mais de classe trabalhadora, sendo a Zona Oeste a mais populosa da cidade.

Assim cruzamos a metrópole e estamos de volta a Zona Oeste. Na praça central do bairro Planalto, município de Caucaia, fotografei duas vans e um ônibus (dir.). Já falei do transporte em postagem a parte, o sabem. Aqui vamos apontar outro detalhe:

Praça central do Planalto, ponto final das linhas dos ônibus e vans.

Veja o esgoto a céu aberto. A Grande Fortaleza é quase toda asfaltada, incluindo os subúrbios metropolitanos.

É difícil ver rua de terra, exceto nos bairros muito distantes mesmo. Entretanto, a rede de esgoto não foi construída.

Vi a mesma cena em Manaus muitas vezes. Asfaltaram tudo, mas o esgoto corre na rua.

Atualização. Quando fui a Fortaleza, já havia ido a Manaus. Depois fotografei o mesmo em Belém e João Pessoa – e até mesmo aqui em Curitiba.

Porém ressalto que aqui em Ctba. é mais rara essa cena, só em algumas partes recém-invadidas do subúrbio. Não estou tapando o sol com a peneira, e quando me deparei, registrei e publiquei.

“Proibido jogar lixo”, diz o aviso na periferia da Gde. Fortaleza. Adivinhe? Aí mesmo é que jogam, embaixo da placa. Já flagrei o mesmo em Curitiba.

Mas na maior parte da cidade não há esgoto correndo na rua. Isso não é uma questão de preconceito, é um fato.

Bem, se serve de consolo, a Argentina que um dia foi o país mais rico e estruturado da América do Sul (ao lado do Uruguai) hoje também está numa situação bem precária nesse quesito.

Na periferia de suas maiores metrópoles – capital e interior – é o padrão a falta de saneamento básico. Agora retorno a Fortaleza e sua região metropolitana:

Andei por diversos bairros de Caucaia. Fui a Genipabu, que é bem distante, tive que pegar um micro-ônibus interno de linha municipal (não confunda com o Genipabu que há em Natal, pois a Genipabu do Rio Grande do Norte é uma praia lindíssima com dunas.

Barra do Rio Cocó na Praia do Futuro (r).

O Genipabu cearense é um subúrbio de metrópole, uma homenagem ao balneário potiguar. Não muito longe de Caucaia, mas dentro do município de Fortaleza, há o bairro Genibaú).

E, agora em Caucaia novamente, fui ao Centro (onde fotografei o mercado público onde se vendem galinhas vivas), em Jurema (que é divisa com o Conjunto Ceará em Fortaleza), e no Planalto.

Esse último é aquele bairro em o ônibus da empresa Vitória e as vans estão enfileirados (um pouco mais pra cima, a esquerda).

Genipabu, Caucaia: recentemente fizeram um ‘puxadinho’ pra garagem do 1º carro da história da família.

É de domínio público que a periferia fortalezense (tanto municipal quanto metropolitana) é violenta, não estou contando nenhuma novidade, infelizmente. 

Fui até lá conferir. Quando cheguei, a bordo de um desses coletivos, percebi que não era o único que ia lá pela primeira vez.

Um cara perguntou ao motorista (em Fortaleza se desce pela frente): “Aqui que é o Planalto?”. A resposta foi direta: Planalto. Mas pode chamar de Afeganistão”.

É só por Deus!!!

…………

Caucaia (via ‘Google Mapas’, mais uma vez), onde veem casas típicas da periferia da Grande Fortaleza: de alvenaria, térreas muito pequenas, com a porta direto na via pública, e sem garagem. Veja que as duas 1ªs sequer têm janela, é preciso abrir a porta pra arejar.

Como já dito e é notório, ao lado é o padrão na periferia nordestina – vejam vocês, a periferia do Chile e da Argentina é da mesma forma.

Faço a ressalva que em Salvador há bem menos casas térreas, ali predominam os ‘prédios artesanais‘ como no Sudeste.

A maioria dos fortalezenses (núcleo e subúrbios metropolitanos) ainda não tem carro, ao contrário do que ocorre no Centro-Sul.

Agora, entretanto, a renda dos trabalhadores vem subindo, e pela primeira vez essa massa dos subúrbios está comprando bens de consumo acima dos de primeira necessidade – o texto é de 2011, não custa reforçar.

Na época o Brasil ainda vivia uma onda de prosperidade, e na periferia do Nordeste pra muitas famílias era a primeira vez que havia alguma bonança.

Pichação no Centro de Fortaleza: o ‘alfabeto’ é importado do Rio de Janeiro, com algumas adaptações – se puxam mais os traços e se inserem mais desenhos, características em comum com Belém, cidade que Fortaleza é muito próxima espiritualmente.

Presenciei andando nas periferias muitas casas que originalmente não tinham garagem porque não havia necessidade.

Mas agora tinham um puxadinho pra guardar o carro (veja a foto a direita, um pouco acima, na legenda que diz “Genipabu”).

Pois (pela 1ª vez, repito) a renda da família aumentou um pouco acima das necessidades mais imediatas (roupas, água, luz, comida e produtos de limpeza).

Assim tiveram que improvisar um espacinho pro automóvel – usado e financiado, mas mesmo assim o primeiro da família.

………

Falando um pouco do povo da cidade. Oficialmente é de maioria parda, 57% se declararam assim no censo. Porém, ao contrário do que alguns poderiam pensar, há poucos negros na capital do Ceará, somente 5% da população.

Em Salvador e São Luiz do Maranhão, como é notório, os negros são maioria. Em Recife-PE são uma minoria grande, talvez tanto quanto em Belo Horizonte, por exemplo. Em Fortaleza, repito, há poucos negros. Não muito diferente de Curitiba, ao menos nesse quesito.

No Centro uma placa antiga da Cerveja Antarctica, ‘daquele tempo’. Já que o assunto dos refrigerantes antigos fez tanto sucesso, segue essa como sessão ‘retrô’. Em outra parte da cidade vi uma placa do finado Guaraná Brahma da mesma época, os anos 80. Só que nessa oportunidade estava sem a máquina. Quem tem idade suficiente se lembra que era o desenho de uma mão segurando uma garrafa do mesmo, aquela que era marrom, tipo anelada.

O tipo predominante tem a pele relativamente escura, mas não há origem africana. Fortaleza é a capital brasileira mais perto da Europa, em termos de milhas aéreas. Mas a proximidade é só física, não cultural.

A cidade não recebeu muita imigração europeia nem asiática de outros países exceto de Portugal, nossa ex-metrópole. Sua composição racial é basicamente uma mistura de portugueses (que já são mais escuros que os europeus do Norte e Leste do continente) com índios. 

A maioria dos fortalezenses é descendentes de pessoas que estão a séculos torrando no sol tropical que marca facilmente 40º de janeiro a janeiro.

Fortaleza tem 4 estações do ano: quente, mais quente, ainda mais quente e torrando. Então esse é o habitante médio, a tez queimada pelo Sol escaldante há séculos foi tornando-se mais ‘cor-de-cobre’.

…………..

No domingo que passei em Fortaleza fui – a pé desde o Centro – até a Praia do Futuro, o único dia que entrei no mar. Pois eu prefiro praias abertas, de ondas fortes, e as que existem perto do Centro são ‘piscininhas’, pois represadas pelo dique que forma o porto, como já dito. A Praia do Futuro é espetacular, e dispensa comentários.

Também no Centro, flagrei um caminhão aberto (com caçamba) recolhendo lixo. Vi o mesmo em Medelím-Colômbia.

Voltei a tarde pro Centro, onde fiquei hospedado, e aí rumei ao Conjunto Esperança, bairro Mondubim, Extremo da Zona Sul de Fortaleza. Um subúrbio afastado, com tudo que isso representa.  Não tive medo.

Saí de lá após o anoitecer, como as fotos provam. Cheguei no Centro perto das 8. Perguntei ao motorista de ônibus como fazia pra chegar na Avenida Dom Manoel, onde estava hospedado. Umas 12 quadras dali.

Precisava ver o tumulto que se instalou no coletivo. Todos ficaram apavorados com a ideia que eu ia andar pouco mais de um quilometro a pé no Centro. 

Formou-se uma mini coletiva, o motorista e mais dois passageiros debatiam que ônibus eu deveria pegar pra chegar a meu destino, mas “que pelo amor de Deus, que eu em hipótese alguma fosse a pé”. “É muito perigoso, tem muito bandido, você vai ser assaltado com certeza” todos me diziam apavorados.

No bairro Jurema (Caucaia, Z/O) pichador provoca a polícia.

Agradeci a preocupação da galera, e perguntei umas duas vezes qual linha era mesmo que eu deveria pegar, pra que eles não desconfiassem que eu não compartilho do medo deles. Desci, e já nem lembrava qual linha era, pois não prestei atenção de fato.

Fui a pé. Perto da Catedral, alguém se aproximou. Era um sem-teto. Disse que não havia comido nada o dia inteiro. Dei a ele quarenta centavos.

Isso mesmo, R$ 0,40. Ele me agradeceu muitas vezes, e por fim pediu que Deus me abençoasse.

………….

Como já dissemos muitas vezes, no fim do regime militar houve grande impulso nos transportes e na habitação popular.

Aqui e esq.: Conjunto Ceará.

Por todo Brasil foram construídos grandes conjuntos, esses dias (no fim de 17) fiz matéria no Cj. Saturno, bairro Santo Inácio, na Zona Oeste de Curitiba.

Outros exemplos são o Conjunto Tiradentes, Alto Boqueirão, Zona Sul, e o Conjunto Mercúrio, Cajuru, Zona Leste, entre muitos outros.

Porém aqui os conjuntos foram bem menores que os do Sudeste e Nordeste. Já fui em quase todos esses conjuntos curitibanos, a maioria tem algumas ruas, entre um punhado e poucas dezenas.

Aqui em Curitiba, o maior de casas horizontais é certamente o Nossa Senhora da Luz, Cidade Industrial, Zona Sul. Pois bem, esse seria um conjunto médio em Fortaleza.

Também no CIC mas na Zona Oeste temos o Atenas/Augusta, uma cohab de prédios, com algumas dezenas de blocos.

Em Fortaleza, entretanto, na média os conjuntos são significativamente maiores que os daqui do Paraná.

O tamanho dos empreendimentos cearenses lembra mais os que foram erguidos no Rio (Cidade de Deus e Vila Aliança na Zona Oeste, pra citar 2 casos) e São Paulo (Cidade Tiradentes, Zona Leste, por ex.) na época.

A vista do quarto da pensão que fiquei, entre o Centro e a Praia de Iracema, chovia e fazia Sol ao mesmo tempo. Quanto a pensão, havia 7 camas no quarto (eu fiquei sozinho, a escolha era grande), custou R$ 15 a diária (valor de 2011, mas já era quase de graça mesmo naquela época) e a tranca ainda era com chave de metal, óbvio (bem, na Argentina ainda é com chave de metal mesmo em hotéis mais chiques).

Vemos a esquerda a rua 1040 do Cj. Ceará, pra dar uma ideia do tamanho do bairro, que teve quatro expansões, lá chamadas ‘etapas’.

No itinerário do ônibus diz Conjunto Ceará 1ª e 4ª Etapas, e por aí vai. A 4ª é a mais recente. Somando todas, ele é mais ou menos do tamanho do Bairro Novo, Sítio Cercado, Zona Sul de Curitiba.

Só que no Bairro Novo o governo não construiu as casas, apenas entregou os terrenos e cada um ergueu sua moradia como quis e pôde.

Em Fortaleza, ao contrário, as residências foram entregues prontas. Outro exemplo é Conjunto Esperança, bairro Mondubim, Zona Sul, onde também fui.

Esse é de prédios, ao contrário dos outros que são de casas. Uma hora estava em frente ao bloco 208 do Conjunto Esperança. Bloco 208, e não apartamento 208, veja bem.

Entre os anos 70 e 90, o governo do Ceará deu continuidade ao projeto de construir enormes conjuntos na periferia da cidade.

Próximas 3: Centro de Caucaia.

Entre os que eu visitei, cito os de nome Novo Maracanaú e Jereissati, ambos no município de Maracanaú, Zona Sul.

O Conjunto Jereissati, em especial, é muito grande, talvez do mesmo tamanho que o Conjunto Ceará, pois igualmente teve várias expansões ou etapas.

Creio que tem esse nome por ter sido construído pelo ex-governador Tasso Jereissati,

Distante dali e pertinho da orla está o Cidade 2000, onde também estive. É um bairro de periferia. Só que nesse caso isso quer dizer que é um lugar de classe proletária. 

Porque ele não fica na periferia, bem ao contrário, está bem no meio da Zona Leste, na parte mais rica da cidade.

Como se sabe, o Cidade 2000 fica próximo a Costa Leste (Mucuripe-Centro), onde moram os mais abastados, e ao lado (dá pra ir a pé) da Praia do Futuro, a mais bonita de Fortaleza.

Pra é familiarizado com a Zona Sul do Rio, o Cidade 2000 é o equivalente da Cruzada São Sebastião, que também é um conjunto popular encravado no Leblon, entre a Lagoa Rodrigo de Freitas e o mar, no metro quadrado mais caro da cidade e do país.

E tanto a Cruzada quanto a Cidade 2000 não são invasões. Rio e Fortaleza tem ambas muitas favelas a beira-mar. Esses dois exemplos não são favelas, são conjuntos pra classe trabalhadora mas que foram construídos pelo estado.

Bem a frente da Cidade 2000 a construtora mineira MRV está fazendo mais um de seus empreendimentos.

E os prédios da MRV têm uma peculiaridade, como é notório: o desenho da fachada é igual no Brasil inteiro, então fica uma marca registrada. Aqui em Curitiba pra você financiar um apê da MRV precisa comprovar renda familiar de R$ 1,8 mil.

Lá em Fortaleza é R$ 1,4 mil, R$ 400 a menos portanto (os valores são de 2011, não custa relembrarmos). Natural, a média dos salários de Ctba. é mesmo mais alta.

Fortaleza e Belém são muito ligadas, e no futebol também. As torcidas organizadas são aliadas, criando uma rivalidade cruzada. Aqui o adesivo da Cearamor do Ceará e Terror Bicolor do Paysandu.

Tanto lá quanto aqui a MRV aceita renda informal, o que vem ajudando muitas famílias trabalhadoras a emergir pra classe média.

Outro detalhe é que as ruas dos conjuntos de Curitiba começaram sendo nomeados com letras e números, mas hoje já receberam nomes ‘normais’ de ruas, digamos assim.

Em Fortaleza é diferente, a imagem mostra que a Rua 1040 tem esse nome até hoje.

As avenidas principais do mesmo bairro, por sua vez, são letras. Avenida E, Avenida K, por aí vai.

………….

CEARÁ S.C.: 1ª DIVISÃO EM 2011; IDEM EM 2018 –

E agora a de seus arqui-rivais: Leões da T.U.F. do Fortaleza e Remoçada do Remo.

Pra fechar, uma nota sobre o futebol. Repito o que já disse antes: EU NÃO TORÇO PELO FORTALEZA, CEARÁ OU QUALQUER CLUBE NO BRASIL. VOU APENAS RELATAR OS FATOS COMO OCORRERAM, INDEPENDENTE DE MINHA VONTADE.

Quando estive em Fortaleza (agosto de 2011) a cidade estava vibrando em preto-&-branco. Relato parte do que escrevi a época, depois atualizamos:

A torcida do Ceará S.C. está pra lá de entusiasmada com a boa campanha do time.

Próximas 2, Centro de Fortaleza: riacho recebe esgoto não-tratado.

Que pelo visto vai garantir que o time dispute a primeira divisão pelo terceiro ano seguido. Não é um feito pequeno, o clube ficou de fora da série A por exatamente 30 anos, de 1979 a 2009. 

Vi centenas de pessoas com a camisa do “Vovô”, como o clube é carinhosamente chamado. É natural a euforia.

Dois dias antes de minha visita a Fortaleza, o Grêmio de Porto Alegre também esteve por lá. Levou 3×0.

Óbvio que havia também muita gente com a camisa de seu arqui-rival Fortaleza, que é tricolor nas cores branco, azul e vermelho, as mesmas do Paraná Clube, Bahia, entre outros.

Covardia! O arroio era relativamente limpo antes do ataque, depois mudou até de cor. De novo, já flagrei o mesmo aqui em Curitiba.

Mas é preciso notar que o Ceará está na primeira, o Fortaleza na distante terceira divisão.

Então natural que os torcedores alvi-negros estejam mais entusiasmados que os tricolores.

Então agora atualizemos pro que é vigente quando a matéria sobe pro ar (dez.17):

O Ceará, após 30 anos de ausência, retornou a 1ª em 2010, e conseguiu se manter nesse primeiro ano.

Em 2011 ele começou muito bem, fez um primeiro turno excelente, e quando estive lá (agosto), a galera refletia essa sintonia positiva.

No entanto a partir dali o fio virou, e o Ceará acabou rebaixado de novo a segunda nesse mesmo ano de 2011.

Porém em 2017 conseguiu novo acesso, e disputará novamente a primeira divisão em 2018, como é sabido por todos.

Cena triste: lixo na rua em Jurema, Caucaia. Infelizmente muito comum em várias partes de Fortaleza e região.

Tudo é cíclico, hoje é assim, mas durante um bom tempo foi o contrário. Nesse milênio, a primeira década foi totalmente do Fortaleza:

De 2000 a 2010 o tricolor ganhou nada menos que 9 estaduais, com um tetra, um tri e um bi-campeonato. 

E no mesmo período o “Leão” disputou a série A do nacional duas vezes, em 2003 e 2005. Enquanto o Ceará esteve no limbo. Mas nessa década de 10 se inverteu:

O Ceará já contabiliza 3 participações na 1ª divisão: 2010, 11 e 18. E em 2015 foi campeão da Copa do Nordeste, título que seu rival não possui. Ainda conquistou um tetra-campeonato estadual.

O Fortaleza estava na 3ª do Brasileirão em 2011, e permaneceu ali até 2017. Conseguiu o acesso, e em 2018 disputará a 2ª divisão.

Se a última impressão é que fica, uma bela flor também em Jurema, Caucaia.

Portanto permanece ainda um degrau abaixo do Ceará. No entanto, a supremacia no estado nesse milênio ainda é tricolor, são 11 títulos do Fortaleza contra 7 do Ceará.

………….

A série sobre Fortaleza está encerrada com chave de ouro.

Assim É. Que Deus ilumine toda humanidade.

Deus proverá”

Um comentário sobre “Fortaleza: a Cidade do Sol, do Mar, das lagoas, do ‘Funk’ e dos Ônibus Azuis

  1. Paulo Eduardo Martins Vieira disse:

    Lindo post, chorei de emoção ao ler. Também sou de Curitiba, bairro Campo Comprido. Adoro descer pra Paranaguá, mas gosto mesmo é de comprar muamba no Paraguai.

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