2014: florianópolis repadroniza a pintura dos ônibus, aleluia!!!
INTEGRA A “ENCICLOPÉDIA DO TRANSPORTE URBANO BRASILEIRO“
Por Maurílio Mendes, O Mensageiro
Publicado em 3 e 4 de maio de 2014
Maioria das imagens puxadas da rede. Créditos mantidos sempre que impressos nas imagens.
Algumas cenas foram captadas pessoalmente por mim, em junho de 2015 – identifico-as com um asterisco ‘(*)’.
O dia glorioso afinal chegou, acabando com duas décadas de espera:
Florianópolis-SC enfim re-padronizou a pintura de seus ônibus.
Constatei pela internet em maio de 2014, e confirmei ‘in loco’ um ano depois, em junho de 15:
A partir de agora os veículos da capital catarinense terão que ser pintados todos iguais, azuis e brancos.
Não era sem tempo. Agora, com um bom atraso, enfim essa cidade entra no século vinte – eu disse 20 mesmo, e não 21.
…………..
Explico. Florianópolis era a única capital brasileira em que havia ocorrido uma des-padronização na pintura dos ônibus.
Ou seja, o único lugar em que um dia houve a obrigação das viações adornarem seus veículos no modo determinado pelo poder público. E não ao bel-prazer.
No entanto esse ganho fundamental pra cidadania havia sido revertido.
A única cidade que padronizou mas depois despadronizou. Corrigindo esse erro histórico, agora re-padronizou.
………….
E olhe que Floripa começou bem. Como já escrevi muitas vezes:
Ao lado de Belo Horizonte-MG e Goiânia-GO, havia sido a primeira a padronizar também a região metropolitana, ainda na virada dos anos 70 pra 80.
Nessa época, no finzinho de seu regime os militares investiram maciçamente em transporte urbano. Padronizando a pintura nas cidades de:
Brasília-DF, Goiânia, São Paulo, Campinas-SP, Belo Horizonte, Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre-RS, entre outras.
Alias Brasília, Campinas, Florianópolis e Porto Alegre adotaram a mesma pintura:
Fundo branco com uma faixa horizontal que tinha a cor definida conforme a parte da cidade que aquela linha servisse.
……….
Entretanto, independente de qual padronização foi adotada, apenas em 3 capitais:
Vieram os anos 90, e as cidades entenderam que a padronização é inevitável, pois é infinitamente melhor pro usuário. Assim, novas capitais também adotaram a pintura única.
Como exemplo Fortaleza-CE, Belém-PA, São Luiz-MA (da pintura dos ônibus dessas 3 eu falo melhor nessa mensagem, e nessa outra radiografia completa de Fortaleza, incluindo ônibus, metrô, trem de subúrbio e VLT ), Campo Grande-MS, Recife-PE, Vitória-ES.
Em alguns casos incluindo também os veículos metropolitanos.
……………
Curitiba, logo no começo da década de 90, fez o que Floripa, BH e Goiânia já haviam feito.
E também padronizou seus metropolitanos (veja como eles eram na pintura livre), no que foi seguida por São Paulo e Porto Alegre.
………….
Porém, na mesma época (meio dos anos 90), Florianópolis regrediu: voltou a ter pintura livre.
Foi um caso inédito, e indescritivelmente triste de reversão de cidadania, do interesse público abertamente se dobrar ao grande capital.
Tudo porque uma das empresas que operava no sistema – a Trindadense – faliu.
E a que substituiu, oriunda do interior do mesmo estado, se recusou a pintar seus veículos no padrão vigente.
Veio com o mesmo desenho que usava na matriz.
A responsável pela façanha foi a Viação Transol, de Lages, que adentrou a capital mas sem ligar pros padrões vigentes onde abriu sua filial.
Num efeito dominó, em menos de 5 anos todas as demais empresas de Floripa fizeram o mesmo, adotaram sua própria pintura.
Todas exceto uma, chamada Biguaçu. Essa manteve porque quis mais uma década o padrão que os militares determinaram, branco com uma faixa horizontal colorida.
Entretanto aí, como só ela fez isso, não era mais padrão, e sim sua escolha.
Que de qualquer forma lembrava o modelo anterior. Até que na última década mesmo essa companhia deixou de ornamentar seus veículos dessa maneira.
Morria o último resquício que um dia Florianópolis havia tido pintura padronizada.
……….
Só que o tempo passa, e o tempo é o melhor juiz, e o melhor professor.
Depois da mudança do milênio, mais e mais cidades se renderam a essa obviedade:
A necessidade de ter um padrão de pintura em seus coletivos.
Na virada da década de dois mil pra de 10, até mesmo o Rio de Janeiro e Manaus-AM deram a mão a palmatória.
E resolveram pintar seus ônibus num único padrão, extinguindo a pintura livre com décadas de atraso.
Agora mesmo Salvador-BA igualmente o fez (depois de Floripa), e estão rolando rumores que Maceió-AL seguirá o mesmo caminho.
Atualização de 2021: o Rio de Janeiro teve a padronização mais breve da história, que foi abandonada em 2018. Voltou a pintura livre.
Por outro lado, Maceió e igualmente Cuiabá-MT padronizaram a pintura de suas frotas.
………..
Em outra oportunidade falamos mais do Nordeste. Voltando a nosso foco, chegou uma hora que as capitais carioca e amazonense também foram nessa direção.
De volta ao Sul, foi a senha pra Florianópolis se visse obrigada a corrigir o erro. Afinal, o fez. E ressalte-se o “afinal”.
Desde que, em 1994 ou por aí, a chegada da Transol despadronizara a pintura em Floripa, eu sabia que chegaria o dia em que ela teria que ser repadronizada.
O dia chegou. Florianópolis enfim re-adentrou o século vinte.
“Afinal”, voltou ao mesmo patamar onde estava 3 décadas e meia atrás. Ufa, menos mal….
……………
Breve cronologia ilustrada do transporte manezinho.
Se alguém não sabe, esse é o gentílico carinhoso da capital catarina.
Falemos das imagens. Lembre-se, nem sempre a descrição corresponde a cena mais próxima.
Busque pelas legendas que elas estão sempre corretas.
Quando a EBTU padronizou os ônibus nas capitais brasileiras, dois modelos distintos foram adotados.
1) Por categoria da linha: em Curitiba e Belo Horizonte primeiro.
Posteriormente também em Vitória, Recife, Joinville e Blumenau-SC, Londrina e Ponta Grossa-PR.
E atualmente até em Los Angeles-EUA, além de muitas outras.
Em todas elas os veículos foram pintados conforme sua categoria:
Os articulados troncais de uma cor, os locais em outra, os expressos (que fazem menos paradas) em ainda outro tom, os alimentadores numa 4ª cor, e por aí vai.
2) Por região da cidade: já em São Paulo, Brasília, Porto Alegre e Florianópolis primeiro.
Posteriormente também em São Luiz do Maranhão, Belém-PA, Rio de Janeiro (nesse caso já abandonada, voltou a pintura livre, repito) e Santiago do Chile.
Em todas elas, por outro lado, padronizou-se a pintura de acordo com a região da cidade que aquela linha serve.
Digo, Belo Horizonte conseguiu inovar e fundiu os dois modelos.
Na padronização Metrobel, os ônibus indicavam tanto a categoria quanto pra que parte da metrópole aquela linha vai. Incrível, não?
Se você não conheceu BH nos anos 80 e 90 e não é íntimo de como isso ocorreu, eu explico tudo, ricamente ilustrado.
……..
De volta pra Grande Florianópolis: foi dividida em 6 áreas. Os mapas mostram.
A Ilha está totalmente dentro do município de Florianópolis, ou seja sem região metropolitana. O norte era laranja, o sul marrom.
Na parte continental da cidade, o primeiro anel, mais central e que pertence ao município de Florianópolis, era azul-claro o norte, verde-claro o sul.
Agora falamos dos subúrbios metropolitanos. O norte era azul-escuro, o sul verde-escuro.
Note que o município de São José abrangia ambas as regiões, foi partido ao meio.
Já o subúrbio de Biguaçu ficou na área azul-escura, enquanto Palhoça foi pra verde-escura.
……………
Essa descrição, vista no mapa a esquerda, é só do sistema municipal de Florianópolis e do metropolitano.
Ou seja, dos ônibus que tinham ponto inicial no Centro de Florianópolis.
Independente se o ponto final do subúrbio cruzasse o limite municipal. E eram essas 6 regiões.
Porém é preciso ressaltar que o vizinho município de São José aproveitou o embalo.
Assim pintou no mesmo padrão suas linhas municipais (lá chamada “Interbairros”). Usou o tom vermelho, que estava vago.
Assim são 7 cores, o vermelho se sobrepõe ao verde e ao azul escuros somente dentro de São José.
Abaixo mais um mapa, mostrando a área urbanizada na Grande Florianópolis na virada do milênio.
………….
– Laranja: Norte da Ilha, Municipal de Florianópolis.
– Marrom: Sul da Ilha, Municipal de Florianópolis.
– Azul-claro: parte continental norte do município de Florianópolis.
– Verde-claro: parte continental sul do município de Florianópolis.
– Azul-escuro: parte continental norte dos subúrbios metropolitanos, ligando eles ao Centro de Florianópolis (Biguaçu e parte de São José).
– Verde-escuro: parte continental sul dos subúrbios metropolitanos, ligando eles ao Centro de Florianópolis (Palhoça e parte de São José).
– Vermelho: municipais de São José (“Interbairros”). Não entram no município de Florianópolis e nem qualquer outro, óbvio.
…….
Como pode ver, São José tinha 3 cores. O vermelho municipal convivia com as duas cores metropolitanas.
Vemos diversos exemplos dos busões da Grande Florianópolis quando esse padrão da EBTU vigorou.
Note que muitas vezes a mesma empresa operava em várias regiões:
A Estrela operava municipal de Florianópolis, municipal de São José e metropolitano entre os dois municípios.
Logo tinha busos verde-claros, verde-escuros e vermelhos.
Chamo especial atenção pra foto ao lado onde está todo garboso um bichão sanfonado da Viação Estrela.
Servindo o bairro do Monte Cristo, na parte continental ainda dentro do município de Florianópolis.
Trata-se, até onde sei, do único articulado que rodou ainda por esse modelo de pintura.
Portanto configurando um registro valiosíssimo da busologia brasileira.
……….
A Ribeironense e a Emflotur operavam somente no município de Florianópolis, porém dos dois lados da ponte, ou seja, serviam a Ilha e o Continente.
Assim a Ribeironense tinha busões em marrom e verde-claro, enquanto a Emflotur em laranja e azul-claro.
A padronização abrangeu apenas os subúrbios metropolitanos de São José, Palhoça e Biguaçu.
Repito essa informação pra ressaltar o seguinte:
A Viação Imperatriz, cujas linhas vão pra Santo Amaro da Imperatriz, não entrou nesse esquema.
Ou seja, ela não foi obrigada a pintar seus veículos de branco com uma faixa colorida. Mas ainda assim ela aderiu ao mesmo esquema porque quis.
No fim da década de 70, morava infinitamente menos gente que hoje na Grande Florianópolis.
Assim, Santo Amaro não foi considerado como parte da região metropolitana.
Era muito distante e pouco povoado pra tanto na época – embora hoje a situação tenha se alterado.
Seja como for, a Viação Imperatriz não entrou compulsoriamente na padronização, mas o fez voluntariamente.
Adotou também uma faixa laranja, mas a faixa menor embaixo dela – onde vai o nome da empresa – era azul-escura, e não preta como em todas as demais.
……….
Pausa pra fotos. Diversos exemplos da pintura livre que vigorava até os anos 70.
Começamos a esquerda. Registro raro de um Taner.
Essa viação foi encampada pela Trindadense, que posteriormente foi encampada pela Transol.
A direita:
A mesma Taner já na pintura padronizada. Eu sei, não é livre. Mas como é outro registro raríssimo coloquei junto.
Agora falemos da sequência horizontal abaixo.
1) Limoense, municipal. Repare na ‘capelinha invertida’ dentro do para-brisas pro número da linha.
Em São Paulo, no Rio, Porto Alegre e Belo Horizonte a capelinha vinha sobre o teto.
2 e 3) Dois metropolitanos:
O Monobloco da Jotur (que ainda se chamava ‘São José’) apresentado na revendedora.
E um Nielson (depois finada Busscar, confira matéria completa) Imperatriz.
Como dito acima, perto do meio da década de 90 entrou no sistema a Transol.
Que pintava seus ônibus assim, a metade de baixo azul-clara, em cima branco, bem diferente do inteiro branco com uma faixa.
Com a Transol dispensada do padrão, a seguir todas fizeram o mesmo.
Ou seja, foi essa pintura quem despadronizou Florianópolis, retrocesso inédito na história desse país.
Logo a seguir, a Transol adotou o azul-claro uniforme por todo veículo. Sua frota ainda é assim.
Desde 2014 está sendo repintada pra nova padronização, mas ainda há alguns circulando com pintura livre, pois a transição leva um tempo.
Após o fim da obrigação do branco com uma faixa horizontal, eis como diversas viações da Grande Florianópolis pintaram seus veículos.
Notam que algumas delas tiveram mais de uma pintura no período.
Por mais uma década ainda, repetindo, a Biguaçu manteve o branco com uma faixa azul-escura, mas aí porque quis, não era mais o padrão da cidade.
Por fim ela adotou o azul-escuro por todo veículo. Como visto na foto a direita.
…………
Em Floripa sai mais barato pagar no cartão. Mas se aceita dinheiro vivo igualmente.
Nos busões da Estrela quando era pintura livre havia os registros da PMF (municipal) e Deter (estadual). Essa duplicidade só ocorria nessa empresa, a única a operar os dois modais.
Com a padronização do municipal, não ocorrerá mais.
Vemos na sequência horizontal abaixo:
Veículos na pintura padronizada que vigorou da virada pros anos 80 até a 2ª metade dos anos 90.
1) Viação Trindadense. Faixa laranja, Norte da Ilha.
Quando ela deixou de existir a Transol entrou em seu lugar.
Foi exatamente aí que acabou a padronização e voltou a pintura livre.
2 e 3) Emflotur. Faixa azul-clara, norte do Continente.
4 e 5) Limoense.
Faixa marrom, Sul da Ilha.
Repetindo o que já foi dito, busos fabricados nos anos 60 ainda circulavam no fim da década de 80.
Bem mais de 20 anos de uso. Era comum lá.
6 e 7) Ribeironense, faixa verde-claro, sul do Continente.
8) Estrela municipal.
Mesma faixa dos 2 anteriores. Na frente vai um Gabriela da Emflotur, faixa azul-clara, também no Continente.
9 e 10) Canasvieiras.
Laranja, Norte da Ilha.
De 1 a 10, todos são municipais de Florianópolis.
……………..
11 e 12) Jotur.
Faixa verde-escura, parte sul da Região Metropolitana.
Da época que Volvo era Volvo . . .
E agora viação Biguaçu.
Volta o texto. Vigorava pintura livre. Agora a farra acabou. Florianópolis repadronizou a pintura. Antes tarde que nunca….
Isso nos ônibus municipais. Pelo menos por hora os metropolitanos continuam decorando sua frota como queiram.
………..
Aqui acaba o primeiro emeio.
O colega que é especialista no automotor e que tantas contribuições já deu a essa coluna, me respondeu. Em azul como sempre:
” Meu amigo, como sempre uma análise mordaz, que começa de um tema singelo e insuspeito.
Por um lado ganham os cidadãos com uma identificação imediata do transporte.
Indiscutivelmente mais efetiva.
Até mesmo para pessoas que ainda se encontram nas trevas do analfabetismo.
Porém, afirmo a obviedade de que por outro, vai-se às retinas do tempo uma manifestação expressiva das identidades das empresas.
Não que isso pese, mas é um fato.”
Já o colega prossegue. Só quero fazer aqui um adendo:
A Colômbia (e boa parte da América) estão também nesse processo. Mas muito mais radical.
Não estão apenas abandonando a pintura livre pela padronizada.
Porém também abandonando as jardineiras e trocando pelos cara-chatas.
Ou seja, estão se re-inventando, deixando de ser quem eram e se tornando outra coisa.
Em Medelím particularmente o processo é um espetáculo.
Volta o irmão que escreve de azul. Quebra tudo aí cumpádi:
“Chamaram-me no entanto especial atenção duas fotos:
1) a “SC10”, que apresenta um coletivo com emblemas da Fiat (?!);
2) e a beleza do encarroçamento de exemplar retratado na “SC1”.
Cujo corpo lembra uma “Nimbus” ou mesmo uma “Caio”:
Com as janelas inclinadas para a frente características.
Porém com uma frente muito mais detalhada e com aletas finamente trabalhadas.
Para a primeira, presumo que seja alguma aventura da época dos Iveco, ou quiçá dos FNM.
Que depois passaram a ser comercializados pela Fiat aqui no Brasil.
(FNM era tecnologia Alfa Romeo, empresa que depois foi comprada pela Fiat.)
Se você souber mais detalhes, por favor, me oriente fiquei curioso.
Agora, sobre a carroceria que mencionei, acho que somente você pode dizer fabricante.
Tipo, chassi (provavelmente de caminhão como a maioria dos não rodoviários) e motorização.
Por sinal, não há como questionar a beleza simples e limpa do monobloco Mercedes.
Bom ver eles mais uma vez dando o “ar da graça” nos seus e-meios. ”
……………….
Abaixo minha tréplica:
Antes mais fotos. Próximas 3:
Quando não era mais obrigatória, antes de abandonar por completo a padronização algumas empresas adotaram uma pintura de transição.
Mantiveram a faixa principal mas mudaram outros detalhes.
Acima, a Ribeironense (municipal) – que usava faixa verde-claro – adotou esse modelo:
Excluiu a faixa preta menor debaixo – onde ia o nome da viação.
No entanto manteve a faixa maior colorida, onde assinou sua frota em letras garrafais e de forma.
Foi uma forma de intermediária entre o padronizado e o livre.
Já era livre pela legislação, ela poderia ter até pintado o buso inteiro de rosa, se quisesse.
Ainda assim preferiu manter a faixa principal da padronização, mudando alguns detalhes como o local e tamanho onde seu nome estava impresso.
Enquanto que as metropolitanas Imperatriz (de laranja) e Biguaçu (azul, ambas a esquerda) tiveram 2 coisas em comum:
1º, mantiveram as faixas EBTU por muito tempo quando já não era obrigatório (pra Imperatriz nunca foi);
2º, quando enfim resolveram abandonar essa faixa, elas tiveram um período de adaptação.
No caso antes de mudar completamente a pintura mantiveram a antiga mas escreveram o nome da viação em letra de mão, sobre a mesma.
A seguir virou pintura livre.
Em Porto Alegre ocorreu exatamente o mesmo.
Quando acabou a sua padronização (que era idêntica a de Floripa) também por um tempo algumas viações mantiveram a faixa principal adaptando outros detalhes.
………..
Vamos na sequência horizontal ver mais um pouco da pintura livre das viações.
De 1 a 5 são metropolitanas.
Que portanto continuarão decorando sua frota como bem entendem.
…………
Fogo no pavio:
1 e 2) Santa Terezinha.
Vemos a pintura livre que essa viação adotou nos anos 90, quando caiu o padrão compulsório (no Vitória repare a chapa mais alta, na grade, traço do Sudeste que avança no sul do Brasil).
Sua atual escolha é inteiro cinza, há uma foto mais pra baixo na página.
3 e 4) Jotur.
Essa empresa, e somente, ela, tem uma peculiaridade:
Pintura exclusiva pra articulados, aquele bege por inteiro.
Usada também nos micros, porém nesse último caso só pra fretamento. Linhas regulares só os articulados mesmo.
Nem todos os seus sanfonados, porém, são diferenciados.
Alguns seguem a saia verde-escuro/blusa verde-clara dos veículos curtos. Como visto abaixo.
5) Viação Biguaçu.
É do mesmo grupo que detém a Emflotur, municipal.
…………
Agora 3 das municipais.
Que portanto não poderão permanecer assim.
6 e 7) Transol.
Região Central e Leste da Ilha: Santa Mônica, Trindade, Agronômica, Lagoa da Conceição.
Um carro curto e um articulado.
Quando esses sanfonados chegaram a Floripa eram chamados ‘Papa-Filas’, recuperando um nome que existiu no Sudeste em tempos idos.
…………
Falando em pioneirismo: Você sabe onde circulou o 1º articulado de SC?
Não foi em nenhuma das metrópoles do estado (Floripa, Blumenau, Joinville, Itajaí, Criciúma, etc). E sim em Chapecó, Oeste Catarinense, 1988. Clique na ligação pra ver as fotos.
Sul da Ilha: Campeche, Rio Tavares, Aeroporto, Tapera, Saco dos Limões, Costeira.
Sempre seguindo o eixo da segunda ampliação da BR-282 (‘Beira-Mar Sul’).
Essa viação entrou no lugar da Limoense e Ribeironense, que se foram.
……………..
Volta o texto. Eu respondo a meu amigo: firmeza total camarada.
Então cara, a foto que você se refere como “SC10” não resta dúvidas que trata-se dessa que está ao lado.
Você presumiu “que seja alguma aventura da época dos Iveco.
Ou quiçá dos FNM que depois passaram a ser comercializados pela Fiat aqui no Brasil.
FNM era tecnologia Alfa Romeo, empresa que depois foi comprada pela Fiat”.
Pois é. Estudando a FNM, eu já sabia que eles montavam tecnologia Fiat.
E também já sabia que a Fiat comprou e fechou essa fábrica, essa última informação não por estudos teóricos mas na prática.
Lembro-me que quando era criança ainda rodavam muitos FNM’s velhos junto com uns poucos Fiats que na época eram novos.
Aqui me refiro a caminhões, e não ônibus.
A seguir, os Fiat novos deixaram de aparecer. Essa transnacional italiana adquiriu a gloriosa Fábrica Nacional de Motores apenas pra extingui-la.
Naquela época, finzinho dos anos 70, virada pros 80, surgiram alguns caminhões Fiat oriundos do espólio da FNM.
E eu os vi na estrada, alias alguns rodam até hoje.
Assim, quanto a transição FNM-Fiat no modal caminhão, isso me é conhecimento prático, e não teórico.
Entretanto em relação a ônibus, que alias é meu campo principal de interesse, é diferente.
Eu não me lembro de ter presenciado pessoalmente nenhum ônibus Fiat.
Certamente os vi, mas não estão no consciente, só inconsciente. Pra eu guardar a imagem, tive que recorrer as fotos.
Isso porque os ônibus Fiat foram fabricados por pouquíssimo tempo, perto da virada dos anos 70 pra 80.
O exemplar aqui retratado é de 1979. Por conta disso, pelo número absolutamente exíguo deles, são registros raros.
Essa foto, desse veículo com a faixa verde-escura padrão EBTU na Grande Florianópolis, é um clássico da busologia brasileira.
Justamente por esse motivo, é uma tomada em boa qualidade de algo raríssimo, que são esse ônibus com motorização Fiat.
Surgiram por um tempo brevíssimo, quando ela comprou a FNM, e logo se foram.
Só que alguém teve o espírito iluminado de registrar, então virou clássico, cristalizou a Energia.
Saiu do inconsciente e passou pro consciente coletivo de milhares de busólogos/automobilistas.
……………
Quanto a padronização da pintura, eu concordo que algo se perde, no caso a diversidade de desenhos que haviam quando cada viação fazia o que queria.
A questão, irmão, é que viver é escolher. Sempre algo se perde.
Cada momento da vida é uma bifurcação que você tem que escolher um caminho.
Assim abrir mão do que poderia acontecer se fosse pro outro lado. É dessa forma, e não há o que fazer. Viver é escolher.
E pra viver em sociedade, precisamos de cidadania, que o bem prum maior número possível de pessoas prevaleça.
A padronização da pintura é importante não apenas pra orientar o usuário, mas por uma questão de estado de direito mesmo.
É pra mostrar que o interesse público prevalece sobre o grande capital. Claro que na prática não é bem assim.
O capital, mesmo com pintura padronizada, ainda retém muita influência sobre o poder (e o interesse) público.
Curitiba é o maior exemplo, os ônibus uniformes em uma cor só, mas um único grupo controla bem mais da metade da frota, o que lhe dá um grande poder político.
Mas se as empresas têm que pintar seus ônibus como o poder público decide, e não como querem, é um começo.
Um avanço rumo a um estado democrático.
Por uma questão de cidadania, de estado de direito, os ônibus precisam ser padronizados.
A pintura precisa ser padronizada por cidades.
Sim, algo se perde. Mas muito mais se ganha. Viver é escolher, a Vida é assim.
………………
Não sei exatamente qual imagem você se refere por “SC1”.
Como você falou das janelas inclinadas pra frente e da Nimbus, presumo que seja o veículo da Viação Canasvieiras (retratado no alto da matéria).
Se for, a Nimbus era uma fábrica da cidade de Caxias do Sul-RS.
………..
A Marcopolo iniciou sua expação pra se tornar a maior do mundo.
Começou comprando a Nimbus, que era na mesma cidade que ela.
Os veículos aqui retratados são Haragano – nome de um vento que sopra no Pampa Gaúcho.
Como o Minuano que também é modelo de ônibus. Enfim, o Minuano é da Incansel, que agora se chama Comil.
………..
Vamos nos focar no Haragano. Sua marca registrada era o letreiro onde vai a linha inclinado pra frente. Sempre me chamou muita atenção.
Pois foram muito populares no sistema Expresso de Curitiba, quando esse foi implantado a década de 70 e que circularam por todos os anos 80.
Sim, o chassi é obviamente de caminhão. Deve ser um Mercedes-Benz, há 99% de chances, mas não posso confirmar.
………………
Detalhe. Um Nimbus Haragano (talvez não seja o mesmo veículo, mas é da mesma série) da Canasvieiras nas duas pinturas livres da empresa:
Nos anos 70 (antes da padronização da EBTU ser adotada) e nos anos 90 (depois que o padrão da EBTU foi abandonado).
Se ele teve as duas pinturas livres, só pode significar uma coisa:
Na primeira imagem ele está zerado, no fim dos anos 70. Na virada dessa década pra de 80, ele foi padronizado.
Pintado de branco com uma faixa laranja, que era a região da Canasvieiras, Norte da Ilha.
No meio dos anos 90, a pintura padronizada caiu – reversão da cidadania – e ele ainda recebeu a pintura – livre, de escolha da empresa – verde e branca.
A pintura em Florianópolis era livre, foi padronizada e assim ficou por mais de uma década e meia, e voltou a ser livre.
Esse bichão, esse guerreiro, passou por tudo isso. Veio, viu e venceu.
…………..
A frota em Florianópolis, por todo o século 20 e mesmo começo do 21, era muito velha. Muito, muito velha.
Muito comum vermos ônibus com mais de 20 anos, ainda em uso.
É o caso aqui, o veículo teve 3 padrões de pintura. Se você falar isso a um curitibano, o queixo cai da boca, tamanho espanto o cara leva.
Mas em Floripa, é normal. Ou ao menos foi por muitas e muitas décadas.
Nos anos 80 em Floripa ainda circulavam vários busos produzidos nos anos 60. Em Porto Alegre era igual.
Já em Curitiba e SP, inversamente, isso não acontecia.
…………
Tempos passados. Hoje a frota das capitais gaúcha e catarinense é nova, como a das demais capitais.
E agora a pintura foi repadronizada em Floripa. A Cidade-Desterro foi re-incorporada, no tempo e no espaço.
Agora seguirá o modelo brasileiro de padronização e modernização da frota de ônibus.
………..
Como sabe, a atual Florianópolis se chamava ‘Desterro’.
Até que o ‘Marechal de Ferro’ Floriano Peixoto foi lá e abafou uma rebelião.
No século 19, as coisas eram mais brutas, resolvidas no fio da espada.
Cabeças rolaram – não é modo de falar – e o Desterro se tornou a Cidade de Floriano.
Agora no novo milênio as coisas são mais sutis. Novamente, uma rebelião estava em curso.
Simbólico é que apenas Florianópolis tenha renegado o fato que o regime militar padronizou a pintura dos ônibus, como um de seus legados mais fortes.
Por duas décadas (1994-2014) teve novamente pintura livre.
Quando até mesmo o Rio de Janeiro e Manaus já haviam padronizado.
Não mais. Florianópolis não está mais “desterrada”, foi re-incorporada, no tempo e no espaço.
Enfim, com décadas de atraso, re-adentrou o século 20. E voltou a fazer parte do Brasil, nessa dimensão também.
Deixou de ser a ‘ovelha negra’.
Os ônibus agora são azuis e brancos. Todos eles.
Deus proverá – alias já proveio.
Boa tarde vocês tem alguma foto dos veneza e dos Caio Gabriela da Ribeironense na pintura marrom.
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Amigo, as únicas fotos que eu tenho dos ônibus antigos de Fpolis. estão todas publicadas nessa matéria.
Lembro-me perfeitamente dos busos da Ribeironense na pintura marrom, alias a empresa tem esse nome porque algumas linhas iam pro Ribeirão da Ilha, após a Tapera, como você sabe muito melhor que eu.
Mas como a Ribeironense também operava no Continente, parte de sua frota era no verde-claro da faixa continental da padronização EBTU (a Estrela da mesma forma tinha busos em verde-claro, nas suas linhas municipais).
Eu só tenho fotos da Ribeironense dessa época em verde-claro. Em marrom, só os da Limoense – inclusive um Veneza.
Abraços.
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Andei muito nos ônibus com motor Fiat, o som do motor era muito bom os dois carros que a canavieiras tinha na época era revolucionários.
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Valeu pelo comentário, obrigado.
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