Blumenau, a “Alemanha Brasileira”

a vida no morro: blumenau é santa catarina

Casas em ‘enxaimel‘ (modelo de construção típico alemão) na Beira-Rio: isso é Blumenau.

Por Maurílio Mendes, O Mensageiro

Publicado em 02/02/2022

Maioria das imagens de minha autoria, no último dia de 2021 (31/12/21). As que forem baixadas da internet você identifica pelos créditos, mantidos sempre que impressos nas mesmas, ou na falta destes adiciono um ‘(r)’, de ‘rede’.

Blumenau é a cidade mais alemã do Brasil (certamente entre as grandes e médias, que têm mais de 300 mil habitantes).

Esse fato é bastante conhecido, mesmo quem nunca foi até ali geralmente sabe disso, pois muito bem propagandeado.

Agora, toda moeda tem duas faces. O lado menos conhecido de Blumenau (abreviada ‘BNU’) é que de seus 300 e poucos mil moradores cerca de 60 mil vivem em ocupações irregulares nos morros.

Morro da Rua Araranguá, no bairro Garcia próximo ao Centro: isso também é Blumenau.

Bem, a tragédia de 2008 (quando alguns desses morros desabaram) mostrou ao Brasil todo essa característica de Blumenau, a de que uma porção significativa de sua gente mora nas encostas.

Abaixo falamos mais disso. Por enquanto, já que tocamos no tema da população, Blumenau é a terceira maior cidade de Santa Catarina.

A maior cidade do estado é capital Florianópolis, onde moram perto de 850 mil pessoas. Depois vem Joinville, com 581 mil, e na sequência Blumenau com 483 mil.

Desfile da ‘OktoberFest’ de 2012 (r).

(Em todos os casos os dados incluem a região metropolitana e são do censo de 2010, até o momento que escrevo o último realizado no Brasil.)

Contando somente os municípios-sede, Joinville é o mais populoso com 515 mil, seguido da capital Floripa com 421 mil, e Blumenau da mesma forma é o 3º com 309 mil.

Bem, Blumenau é Santa Catarina, em todas as dimensões.

Aqui e a acima da manchete o prédio da prefeitura, com o famoso letreiro “Eu Amo Blumenau” escrito em alemão.

E muitas das cidades catarinenses se espraiam nas encostas dos morros, exatamente ao contrário do Paraná.

No PR, começando pela capital Curitiba e se espalhando pelos maiores centros do interior, geralmente há alguns bairros em morros, mas ínfima minoria.

Ponta Grossa (‘P.G.’) é a exceção. Ali, ao contrário, a maior parte dos bairros é em ladeiras, mesmo perto do Centro.

Próxs. 4 fotos: bairro Progressodá pra andar no telhado da casa sem subir nenhum degrau.

Em PG é comum o desnível ser tão agudo que você está andando na rua e o telhado da casa ao lado está na altura de seus pés, você poderia pisar nele se quisesse.

Não por outro motivo denominei a matéria sobre Ponta Grossa como “A Vida no Morro“.

Afora PG, as maiores cidades paranaenses são majoritariamente planas, digo de novo e é notório.

Muitos bairros da periferia de Blumenau são no morro em meio ao verde. Vida tranquila, mesmo numa cidade grande.

Em Santa Catarina, que é nosso tema de hoje, é o contrário do Paraná.

Em SC é comum parte significativa da população morar nas encostas, Blumenau segue essa regra.

A exceção catarinense é Joinville. A maior cidade do interior, e município mais povoado do estado, quase não tem bairros com ladeiras, é basicamente plana.

Porem das 4 maiores cidades catarinenses as outras 3 (Florianópolis, Blumenau e Itajaí/Baln. Camboriú) tem essa realidade, muita gente nos morros.

Em Blumenau, especificamente, me deparei de novo com a mesma cena que vira em Ponta Grossa: caminhando pela via pública no mesmo nível do teto das moradias ao lado.

BLUMENAU X JOINVILLE:

A RIVALIDADE DAS CIDADES GERMÂNICAS –

Blumenau e Joinville são “rivais” digamos assim, mas falando numa competição saudável.

Precisa dizer mais?

O que é natural. Distam apenas 97 km uma da outra, são as duas maiores cidades do interior catarinenses, e ambas têm uma forte herança alemã.

Trabalhei uma vez com um colega que morava em Curitiba a pouco tempo, mas que era blumenauense.

Em sua cidade-natal ele jogava basquete. Me contou que quando enfrentavam a equipe joinvillense eles davam um gás extra.

Próximas 4: bairros centrais de renda mais elevada. Essa foto na Beira-Rio (oficialmente a Avenida Presidente Castelo Branco).

Era uma motivação forte, porque nas suas palavras eles podiam perder pra outras cidades, “mas pra Joinville não”.

Sempre que há duas cidades importantes uma perto da outra essa rivalidade se instala.

No Paraná há a ‘disputa’ entre Londrina e Maringá, no Norte, e entre Cascavel e Foz do Iguaçu, no Oeste.

No estado de SP, no Oeste Bauru e Marília competem, e no Norte Ribeirão Preto x São José do Rio Preto.

Entre muitos casos Brasil e mundo afora. Enfim, é o ser humano. Blumenau e Joinville são apenas mais um exemplo.

Blumenau é uma cidade nacionalista, as bandeiras do Brasil estão por várias partes – idem pro ‘Vale Europeu’ que a rodeia.

UMA CIDADE DE MONTANHA:

ÔNIBUS ANTES DAS 4 DA MANHÃ –

Por conta de sua topografia, Blumenau tem uma característica peculiar.

Fica entre as montanhas. Então isso faz com que a cidade se desenvolva de forma diferente do que ocorre geralmente.

Quase todas as metrópoles seguem o mesmo modelo de urbanização.

Aqui e nas 2 abaixo.: bairro Alameda.

Vão se espraiando pra todos os lados, de maneira uniforme. Exemplificando é mais fácil entender.

São Paulo, Curitiba, Campinas-SP, Belo Horizonte-MG, Goiânia-GO, Brasília-DF, entre muitos outros exemplos, todas elas crescem pros 4 pontos cardeais: norte, leste, sul e oeste.

Esse casarão em estilo germânico foi restaurado, hoje abriga uma escola.

Em algumas cidades a montanha ou principalmente o mar ou um grande rio impedem o desenvolvimento pra um desses lados.

O exemplo mais clássico é o Rio de Janeiro, que não tem Zona Leste, pois essa seria dentro da Baía da Guanabara. O Recife-PE e Buenos Aires-Argentina tampouco possuem Z/L.

Enquanto que Porto Alegre-RS e Belém-PA não contam com a Zona Oeste, Fortaleza-CE não tem Zona Norte, e Manaus-AM está alijada da Zona Sul (novamente, citando alguns exemplos entre muitos).

Ainda assim, todas elas crescem de forma uniforme pros 3 lados que estão disponíveis.

Em Blumenau é diferente, o relevo é muito montanhoso. Com isso algumas coisas acontecem:

Primeiro os bairros vão ficando muito distantes, pois vão ocupando o pouco espaço plano disponível.

Exatamente igual acontece em Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo-RJ, e pelo mesmo motivo.

Teatro Carlos Gomes, de 1942.

Curitiba tem a população 6 vezes maior que Blumenau (agora falando só dos municípios, excluindo região metropolitana).

Na capital do PR moravam 1,8 milhão de pessoas no censo de 10, enquanto que em BNU eram 300 mil.

Ainda assim, em Blumenau os ônibus começam a circular quase uma hora antes.

Rua em frente ao Terminal da Fonte: repare na arquitetura peculiar do sobrado.

As linhas que iniciam mais cedo em Ctba. são as que atendem os bairros do extremo da Zona Sul.

Me refiro ao Rio Bonito (Campo de Santana) e Tatuquara. Saem do ponto inicial as 4:40, ou seja 20 pras 5 da manhã.

Em Blumenau as linhas que atendem as vilas mais distantes fazem a 1ª viagem quase uma hora antes, as 3:50 (10 pras 4).

Casas de madeira no morro da R. Araranguá, também perto da Fonte. O material muda, mas o sobrado tem a mesma forma no teto. Há muitas moradias assim em Blumenau.

Há 3 ‘raios’ principais ao redor dos quais os bairros mais distantes vão se desenvolvendo. Pra Velha a oeste, Progresso ao sul e as Itoupavas ao norte.

A Vila Itoupava fica a 26 km do Centro. É mais longe que Pomerode.

Só que Pomerode é outro município, e a V. Itoupava pertence a Blumenau.

É preciso pegar praticamente a estrada, dentro da cidade.

Um estilo arquitetônico típico não apenas da Alemanha, mas também de todo Centro-Leste da Europa (povos eslavos). Fiz esse desenho da Ucrânia, o diálogo é no alfabeto cirílico. O telhado é igual aos que cliquei em SC.

Os bairros são afastados, e urbanizados somente poucas quadras pra cada lado da avenida.

Você vai vendo muito verde, e montanhas ainda não ocupadas.

É uma sensação diferente a que estamos acostumados em outros lugares. Parece estar viajando sem nem mesmo sair de Blumenau.

Pra quem mora nesses subúrbios, o custo do deslocamento pra chegar a Zona Central é alto, tanto em tempo quanto em dinheiro.

Em compensação, as pessoas moram em meio ao verde, quase como se fosse numa chácara em alguns casos.

Próximas 6: mais algumas do morro da Rua Araranguá (placa no detalhe), pra vermos um pouco da periferia da cidade.

Segundo, Blumenau é muito quente. Faz 40º brincando.

E como a cidade é num vale, entre as montanhas, fica abafada.

Muito quente mesmo, a ponto de chamar a atenção até dos amazônidas.

Eu me deslocava de ônibus entre os Terminais da Fonte e Garcia.

Muitas vezes a garagem é fechada, ao nível da rua. É preciso subir escadaria a seguir.

Atrás de mim sentaram um casal de colegas, trabalhadores do transporte coletivo.

Fui ouvindo a conversa deles. Ambos vieram do Norte do Brasil.

A mulher é do Amapá, e estava em SC já a 3 anos no final de 21.

O homem é do Pará, e na ocasião recém-chegado ao Sul do Brasil. Ela, mais ambientada, o aconselhava.

Dizia que ele iria estranhar o frio no inverno sim. Mas que no verão “é tão quente como no Norte“. Encerro meu caso.

Faça a soma: Blumenau tem uma grande parte de sua população de pele e olhos claros.

E o sol é intenso. Resultado: o câncer de pele é um problema bem sério.

Um dia, anos atrás, eu estava no Centro de BNU, e panfletos eram distribuídos pra alertar a população sobre os perigos dessa doença.

Outra consequência é o grande número de blumenauenses que moram em condições precárias no alto dos morros.

Várias famílias são mais humildes, mas há muitas de classe-média; esse sobrado a direita na imagem tem até piscina.

Um adendo aqui: em BNU morar nas encostas não é algo tão estigmatizado como no Rio e muitas outras cidades.

No Rio de Janeiro “morro” é praticamente sinônimo de “favela“.

A “escolha de quem não tem escolha”, digamos assim.

Em Blumenau é diferente. Há ocupações irregulares, sim. Há partes da encosta que estão favelizadas.

Ainda assim, em BNU dezenas de milhares de pessoas moram nas montanhas sim, mas em condições precárias não.

E sim em casas normais e escrituradas. Blumenau se espraia pelos morros.

Logo, bem mais de uma centena de milhar de blumenauenses vive nas encostas.

Pra muitos é absolutamente normal, não há nada de degradado no bairro.

Apenas é preciso subir ladeiras, o que já serve de academia gratuita.

O morro tem favelas, mas não sinônimo de favela, entende a diferença?

Aqui e a dir.: Blumenau alagada pela enchente de 1983 (r). O rio subiu 15 metros.

Tanto que quando tudo desabou em 2008 vieram abaixo milhares de casas de médio e até de alto padrão.

ESSA CIDADE É UMA FÊNIX:

A NATUREZA DESTRÓI, BLUMENAU RECONSTRÓI –

Bem, nem foi a primeira vez que Blumenau passou por uma tragédia de proporções bíblicas.

Em julho de 1983 choveu muito forte por vários dias seguidos.

A prefeitura. Vemos vários Fuscas (r). Esse carro dominava as ruas brasileiras a época.

Resultando que o Rio Itajaí-Açu transbordou, alagando toda a parte baixa da cidade (imagens acima e ao lado).

No auge ele estava 15 metros acima do normal. Levou um mês pra voltar a seu nível normal (32 dias, sendo mais exato).

8 pessoas morreram e 50 mil ficaram desabrigadas, 29% dos blumenauenses a época.

No ano seguinte, em 1984, houve novo alagamento, dessa vez o rio ficou bem menos dias fora do leito.

Nessa e a seguir o desabamento de 2008 (r).

Pra ajudar a levantar recursos pra reconstruir a cidade, em 1984 começou a ‘OktoberFest‘.

Festival de cultura alemã que se tornou famoso no Brasil todo (fui a 11ª edição da ‘Oktober’, em 1994).

Em novembro de 2008 novo temporal fustigou Blumenau. Dessa vez não houve grandes enchentes.

Porém, dizendo de novo o que todos sabem, boa parte dos morros veio abaixo, trazendo junto tudo que estava sobre eles.

Não foram só favelas que vieram abaixo (r).

Apenas em Blumenau foram 24 mortes (150 no total em Santa Catarina).

Gerando 3,5 mil desabrigados. Bem menos que em 1983? Sim.

Porém nos anos 80 em um mês as pessoas puderam retornar pra suas casas.

Em 2008 a avalanche destruiu tudo, não havia pra onde voltar.

Artex, somente uma das muitas grandes confecções ali sediadas.

Alguns blumenauenses ficaram refugiados por até 2 anos, morando em ginásios das escolas.

Foi preciso recomeçar. Um espírito de fênix, sempre se recuperando das tragédias que o fustigam.

A CIDADE DA TECELAGEM –

Blumenau, notoriamente, é uma região altamente industrializada.

Por todo o século 20 a tecelagem, especialmente, foi uma das bases da economia local.

Acima o barracão da Artex. A cidade também é a sede da Hering, dentre muitas outras empresas do ramo.

Veja a direita. Minha esposa comprou fio pra fazer crochê. Também é fabricado em BNU.

As indústrias trouxeram progresso. Blumenau teve o primeiro cinema de Santa Catarina – e um dos primeiros do Brasil.

Calçada no Centro com o mapa do estado de SP (vi o mesmo em Toledo-PR uma vez), imitando o estilo da capital paulista . Outra coisa: “lavação” é o termo de SC pro que no Sudeste se chama “lava-jato”, em Ctba. usa-se o estrangeirismo “lava-car“.

Trata-se do Cine Busch, inaugurado na década de 20 (do século 20 evidente).

Operou por cerca de 7 décadas. Nos anos 90 fechou as portas.

Alias Blumenau, assim como o planeta em geral, vem mudando bastante desde a virada do milênio.

“DOIS BRASIS”? MAS SÓ EXISTE UM BRASIL:

BLUMENAU, “CIDADE DO ‘FUNK’ ” –

Em 2006 trabalhei em vários bairros da cidade, fazendo levantamento de intenção de voto por conhecido instituto de pesquisas.

Perto do Centro um senhor já de certa idade me falou que havia “dois Brasis“.

Querendo dizer que o Sul é bastante distinto do Nordeste e até do Sudeste.

Que há muitas diferenças é evidente. Deus já me permitiu conhecer uma boa parte dessa nação-continente, e atestei com meus próprios olhos. 

Há pichação em Blumenau, mas bem pouco (essa é na Beira-Rio): a letra é oriunda de Curitiba, por sua vez foi importada de SP.

Agora, a ponto de serem “dois Brasis”? Acho que não.

Estive no Recife em novembro de 2020, e lá me informaram que boa parte dos pedintes nos sinais são venezuelanos.

Pois bem. Um ano em pouco depois, ouvi o mesmo relato em Blumenau.

Tem mais. Nessa ocasião na 1ª década do novo milênio subi o morro da Rua Araranguá.

No bairro Garcia, próximo ao Centro de BNU, batendo nas casas pra entrevistar os moradores.

Em 2021, quinze anos depois, repeti o mesmo roteiro, agora fotografando pra produzir essa matéria.

Blumenau tem muita gente morando nas encostas, inclusive dezenas de milhares de pessoas em condições bem precárias.

Bíblia numa praça no Centro.

Alemanha Brasileira? Há bastante traços germânicos na cidade, é fato.

Ainda assim em termos sociais Blumenau é Brasil, é América Latina de corpo e alma.

Além do mais, constatei que entre os jovens do morro o ‘funk’ é bastante popular.

Não para por aí. A seguir fui fotografar a Beira-Rio, o ‘coração’ da cidade, a mais famosa rua bumenauense.

Então. Não sei se era um bar ou uma residência. O que sei é que numa esquina tocava em altíssimo volume esse mesmo ritmo, o ‘funk‘.

Que pelo visto no século 21 é popular mesmo no ‘Vale Alemão’ de SC.

Beira-Rio, aparece a torre de uma igreja.

Exatamente como no Rio. E também Recife, Salvador, Fortaleza, Belo Horizonte, Curitiba, São Paulo e Porto Alegre.

Definitivamente, não há “dois Brasis”. Só existe um Brasil. E Santa Catarina faz parte dele.

BLUMENAU X CHILE:

ALGUNS PARALELOS INTERESSANTES –

Rua 15 de Novembro, paralela a Beira-Rio: a mesma torre mais de perto.

Pra conversa começar, há em Blumenau um bairro que se chama Valparaíso.

Como é domínio público, essa é a maior cidade do Chile após Santiago, sede de seu maior porto e também do Congresso.

Já que falamos de Santiago, no Centro da capital está o Palácio La Moneda.

Ao redor dele é o epicentro cultural, econômico e político da nação.

Aqui e a esq.: morro na periferia de Valparaíso. Repare nas placas de rua pintadas a mão, marrons com flecha branca.

Então, amigos. E a avenida se chama oficialmente “Libertador Bernardo O’Higgins”.  

Porém é conhecida entre todos simplesmente como “Alameda“.

De volta a BNU, o bairro mais aburguesado da cidade no mapa consta como “Jardim Blumenau“.

No entanto conhecido entre todos como…”Alameda“. Que coisa né?

Valparaíso, Chile, 2015.

Estou só me aquecendo. No Chile as placas de rua serem marrons e trazerem uma flecha com o sentido (é exatamente igual no Paraguai).

Nos bairros centrais, e nas vias principais da periferia, é um artefato de metal, oficial, posto pela prefeitura.

Nos morros e vilas afastadas as coisas são mais improvisadas, por sua natureza mesma.

Então. Nesse caso muitas vezes os próprios moradores pintam por sua conta.

Blumenau, último dia de 2021.

Nos muros ou plaquetas de madeira que afixam nos postes.

Fotografei alguns casos nas ladeiras do bairro São Roque, Valparaíso, Chile (2 imagens acima).

E agora em Blumenau vi uma no mesmo estilo (dir.). Incrível coincidência.

Se é que existem ‘coincidências’ no Universo, mas isso já conversa pra outro dia.

……….

Vamos comentando mais algumas das cenas que fotografei.

Já que entramos no terreno ‘místico’, digamos assim, ao lado praça no bairro Garcia.

Com o letreiro “Eu Amo Garcia” igualmente em alemão.

Prefeitura. Nos destaques taxi do RJ e letreiro no idioma germânico, dessa vez “Eu Amo Blumenau“. Os turistas amam tirar fotos ali.

E no poste do outro lado da rua um cartaz sobre Hercólubus.

Já fotografei o mesmo aviso em Joinville, e também Valparaíso. Não o bairro de Blumenau, que alias é ali perto dessa praça.

E sim a Valparaíso original, no litoral do Chile. Escrevi em 2015, quando fui a esse país:

“    Propaganda da Gnose (doutrina muito forte na Colômbia) alerta pra chegada de ‘Hercóbolus’.

Mais 2 do Rio Itajaí-Açu, ao redor do qual a cidade de Blumenau se fez.

Um ‘planeta intruso’ ao sistema solar que segundo muitos creem provocará grandes desequilíbrios na Terra. É esperar pra ver . . .”

Repeti quase com as mesmas palavras em 2017, na volta de Joinville:

    Cartaz do Hercólobus. Segundo a ciência oculta, um ‘planeta intruso’ que não faz parte do sistema solar, mas que passará perto da Terra nesse começo de milênio.

A Ponte Velha, ao lado da prefeitura (também vista na foto da enchente, mais acima).

Ocasionando muitas mudanças no nosso planeta. Vamos ver no que dá. . .

Bem, isso foi do meio pro fim da 2ª década do novo milênio.

Quando adentramos a 3ª década (2020) de fato grandes mudanças começaram a acontecer na Terra.

Essa epidemia de corona-vírus é um tema explosivo, altamente polêmico.

Certamente não iremos debatê-lo nesse espaço, que não é adequado pra tanto.

No entanto que o planeta mudou radicalmente creio que poucos contestariam.

E ainda irá mudar bem mais. Quem tiver ouvidos que ouça . . .

Voltando aos temas mais terrenos, a direita o famoso ‘Castelinho’.

Bairro Progresso, casas mais humildes no morro. No destaque adesivo aludindo aos 500 anos da Reforma Protestante.

É o imóvel que abrigou as lojas Moellmann, inaugurado em 1978.

Foi inspirado no prédio da prefeitura de ‘Michelstadt’, o mais antigo da Alemanha, construído em 1484antes do Brasil ser “descoberto“.

Em 1999 as lojas Moellmann fechou as portas. Mas outra rede de lojas, cuja sede é em SC, agora abriga ali uma de suas filiais.

Mantendo a tradição do ‘Castelinho’ de ser uma importante loja no Centro de BNU.

Quem sabe alguém um dia também retoma a tradição do ‘Grande Hotel’, visto ao lado.

O prédio de 14 andares foi construído entre 1959 e 1962.

No mesmo local onde já funcionara o Hotel Holetz, entre 1902 e 1959.

O Grande Hotel, por sua vez, esteve ativo entre 1962 e 2014.

Comércio fechado no Centro.

Quando foi interditado compulsoriamente pela justiça por acumulo de dívidas.

Enquanto manteve as portas abertas, era um ícone do setor de turismo em Blumenau, com 4 estrelas.

Tinha 88 apartamentos, restaurante, centro de convenções e até mesmo um museu anexo.

Me lembrei muito de Joanesburgo/África do Sul, onde vi cena exatamente igual:

3 próximas cenas da periferia, próximo ao Progresso. Aqui ‘kit-nets’, são 3 moradias independentes (‘quarto-&-cozinha’) nessa construção. Repare que lá atrás no muro há uma mulher desenhada.

Imponente prédio de hotel que marcou época no Centro agora vazio.

Voltando a nosso país, cliquei o mesmo também em Salvador e no Rio de Janeiro, em 2020.

A justiça já tentou algumas vezes leiloar a massa falida do Grande Hotel blumenauense, até agora sem sucesso.

Bem, já que um dos tópicos dessa postagem é comparar Blumenau com Joinville, recordei do que aconteceu a Busscar.

Cheguei na esquina, o desenho é de um salão de beleza. O prédio ao lado também aluga ‘kit-nets’. Montanha ao fundo, as casas na encosta em escala maior na próxima tomada.

Como todos sabem, fabricante de ônibus que tem sede em Joinville.

Era da mesma forma um ícone joinvillense, catarinense e mesmo brasileiro.

Teve sua falência decretada pelo poder judiciário, pelo não-pagamento das dívidas.

Várias tentativas de leilão malograram. Mas em 2018 a Caio comprou a Busscar e a fez voltar a ativa.

(Apenas com a ressalva que apenas no segmento rodoviário, urbanos não.)

……….

As duas tomadas abaixo são de outro morro, o da Rua Araranguá.

A esquerda ainda mais um edifício que aluga as ‘kit-nets’.

Tanto que os dois apartamentos do térreo possuem saída direto pra rua, não há saguão.

No destaque um orelhão que havia do outro lado da rua.

Estava quebrado, tanto o poste quanto o aparelho dentro do suporte estão derrubados. Obviamente não funciona.

Esses dias atualizei a postagem sobre as figurinhas do Ploc Gigante. Escrevi:

Na virada pra 2022 ainda existem Fuscas rodando. Numa cidade que é tão ligada a Alemanha, creio que nada mais justo.

   Os orelhões estão sendo extintos com a universalização da telefonia celular.

O telefone público – que aqui no Brasil chamamos carinhosamente de “orelhão” – breve deixará de existir em nossas ruas.  

De fato assim é. Mas curiosamente nesse dia, na virada de 2021 pra 22, além desse destruído achei em Blumenau um outro orelhão ainda funcionando, e o utilizei. Talvez pela última vez na vida…

Mais cenas de construção em ‘enxaimel’ na Beira-Rio e imediações:

Próxs. 14 fotos: Blumenau. Iniciando por esse belo Mercedes Monobloco da Glória, pintura livre, ‘saia’ azul e ‘blusa’ branca.

O TRANSPORTE EM BLUMENAU: 1ª PADRONIZAÇÃO IDÊNTICA PRA TODAS AS LINHAS, DIFERENCIAÇÃO POR CATEGORIA, REPADRONIZAÇÃO IGUAL EM TODA FROTA, OS ARTICULADOS VIERAM MAS FORAM EMBORA –

Blumenau, 3ª maior cidade de Santa Catarina, não tinha transporte integrado até o fim dos anos 80.

Nessa época iniciam-se os estudos pra implantação de um sistema utilizando terminais e com pintura padronizada.

Incasel da Rodovel, também na pintura livre. Repare na logomarca da viação, ao lado da porta traseira, com sua letra característica .

Até então vigorava a pintura livre, a operação ficava a cargo das viações Glória (acima) e Rodovel (ao lado).

No virada pra década de 90 (ou logo no início dela) esse trabalho rende os primeiros frutos:

É implantada a 1ª pintura padronizada, todos os ônibus da cidade ficaram em unicolor azul, ainda sem diferenciação por categoria de linha.

Escrito ‘Cidade de Blumenau’ atrás da porta dianteira, pra onde o embarque foi invertido.

Outro Incasel da Rodovel (Volvo alongado) na pintura padronizada, ‘Cidade de Blumenau’ a frente. No fundo a logomarca da Rodovel, no mesmo local que era na pintura livre.

Como uma transição, as viações puderam manter suas próprias logomarcas perto da porta traseira, como era na pintura livre.

Além das das citadas acima, entra no sistema a viação Verde Vale, que até então só fazia linhas metropolitanas.

Nesse momento ainda não há integração. Em 1991 começa a construção dos terminais.

Em 1995 são entregues os terminais da Fonte, Garcia e Aterro.

Próxs. 3 fotos (r): em 1995 com a inauguração os terminais vem a 2ª padronização, com diferenciação por categoria; ‘Troncal’ em vermelho, “Cidade de Blumenau” se mantém; a seguir, pela ordem, Alimentadores em azul e Interbairros em verde.

Dando início a integração, que no início abrangia poucas linhas.

O Terminal da Fonte é o Terminal Central, diferenciado dos terminais dos bairros.

Com os terminais operando vem a segunda padronização de pintura.

Com diferenciação por categoria, como também ocorre em Curitiba, Joinville (ao menos era assim na época) e tantas outras cidades:

Como eu acabei de dizer, o Terminal da Fonte é o Central.

Assim, a cor de cada linha se refere a se o ônibus passa pela Fonte ou não.

Os ônibus se tornam brancos, com uma faixa horizontal indicando o tipo de linha:

Troncal em vermelho, as linhas que ligam o Terminal da Fonte a outros terminais, imagem acima a esquerda.

(Mais uma vez inspirado em Curitiba, pois aqui os Expressos são vermelhos);

Alimentadores em azul, saem dos terminais e vão pros bairros próximos.

(Nessa primeira etapa inclusive os alimentadores da Fonte, a foto de 459 a direita deixa claro);

Interbairros em verde, ligam os terminais sem passar pelo Centro.

(Aqui xerocaram a cor e o nome de seus equivalentes curitibanos).

Aqui e nas 4 imagens a seguir: 3ª padronização, unicolor diferenciação por categoria – troncais viraram amarelos, aqui outro Comil.

Acima um Comil Interbairros da padronização com fundo branco, imagem raríssima (r).

No século não haviam celulares ‘inteligentes’, com câmeras embutidas.

Era bem mais caro e difícil tirar fotos com as máquinas fotográficas analógicas.

Como essa padronização de fundo branco foi brevíssima, não deu tempo de muita gente fotografá-la.

Sendo os Interbairros a categoria menos comum só consegui achar esse registro:

Alimentadores e Interbairros permanecem nas mesmas cores do padrão anterior: respectivamente azuis (esse) e verdes (a esq.).

Pra compensar insiro a foto da miniatura desse mesmo veículo, logo a seguir.

1997 é um ano que traz muitas mudanças no transporte da cidade.

Dizendo mais uma vez, somente dois anos depois da 2ª padronização vem a 3ª pra substituí-la.

Foi quando a frota se tornou novamente unicolor, porém dessa vez ainda dividida conforme a categoria da linha.

Os Troncais passam a ser amarelos (acima). Alimentadores e interbairros seguem azuis e verdes, respectivamente.

É criada a categoria Radial, em bege. Trata-se dos alimentadores do Termina da Fonte.

Os Radiais são integrados. Mas como eles ligam bairros centrais ao terminal central seriam os equivalentes dos Convencionais de Curitiba, por isso ganham sua própria cor.

Foi criada a categoria ‘Radial’, em bege.

E como ocorrera em Joinville o ‘Cidade de Blumenau’ se torna apenas ‘Blumenau‘.

É inserida a bandeira municipal, tradição catarinense que também ocorreu em Londrina-PR.

Em 97 chegam também os primeiros articulados de Blumenau.

Blumenau contou com articulados – esse Torino ‘5’ depois rodou em Curitiba.

A maioria deles recebe a cor amarela, pra linhas troncais.

Entretanto existem também articulados azuis, pras linhas alimentadoras de maior demanda.

Nesse mesmo ano é criado o modal ‘Alpino’, de micro-ônibus pra atender as vilas no alto dos morros, de difícil acesso pros ônibus grandes.

Em 1999 é inaugurado o Terminal Fortaleza, e em 2003 o Terminal Proeb.

Aqui e a seguir: em 2016 a Piracicabana assumiu o transporte blumenauense – no início com ônibus brancos, mas a bandeira da cidade continua presente.

Há planos de fazerem também os terminais Itoupava e Água Verde, mas até o momento que publico a matéria, em 22, ainda são apenas projetos.

E assim segue até 2016. Nesse ano ocorre uma mudança radical.

Quando por via judicial a viação Piracicabana, do grupo Constantino (dono da viação aérea Gol), assume o monopólio do transporte municipal blumenauense.

Exclui as 3 viações que operavam a décadas na cidade, a Verde Vale desde 1989, a Glória a mais de 50 anos.

A Verde Vale volta a operar somente linhas metropolitanas, como alias fazia antes de entrar no sistema municipal de Blumenau.

Nos primeiros dias a Piracicabana põe nas ruas ônibus brancos, trazidos de São Paulo.

A bandeira de Blumenau é mantida, mesmo nessa fase de improviso.

4ª padronização, toda frota em cinza, porém o mesmo estilo da padronização anterior. Não há mais articulados em Blumenau.

A seguir Piracicabana – agora chamada ‘BluMob’ – implanta a 4ª padronização de pintura:

Toda a frota se torna cinza, sem distinção por categoria de linha – como era na 1ª padronização.

Os busos são mantidos unicolores, com a bandeira e a inscrição ‘Blumenau’.

Infelizmente Blumenau deixou na ocasião de contar com articulados.

As linhas troncais mais carregadas são feitas por veículo ‘padrão’ alongados, mas sanfonados não mais.

Estive em BNU na virada de 2021 pra 22. Ainda havia cobrador em todas as linhas.

Term. Fonte, os bichões aguardam o próximo pega.

Sendo portanto possível pagar em dinheiro. Entretanto sendo planejada pra breve a extinção dessa profissão ali também.

Como vem acontecendo em Curitiba e já é a realidade em tantos lugares.

……….

A 2ª e a 3ª padronizações de Blumenau foram feitas seguindo o modelo de Curitiba (o que é frequente em SC).

O ‘interbairros’ tem até o mesmo nome e cor da capital do PR.

No entanto a 2ª padronização também foi inspirada em Florianópolis.

As imagens valem por muitas palavras. Veja ao lado: Gabriela na padronização EBTU que vigorou dos anos 80 até o meio dos 90 em Floripa.

Agora a direita a padronização adotada em Blumenau em 1995.

Um Amélia. Blumenau sempre teve muitos Caios até 2016. De lá pra cá não mais.

A semelhança é tão evidente que dispensa qualquer explicação.

Apenas na capital catarinense a faixa colorida indicava a região que a linha servia, enquanto em BNU mostrava a categoria da linha.

IMAGENS DO TRANSPORTE BLUMENAUENSE: encerramos a cidade com diversas tomadas, pra relembrarmos o tempo que já se foi

Começando por Torino 1 Scania da Glória em 3 fases, eixo dianteiro sob o motorista como era costume na época:

Viação Verde Vale:

Diversos modais da região metropolitana de Blumenau:

 De volta ao municipal de Blumenau, pintura livre da Rodovel:

Glória:

Alguns detalhes curiosos da transição entre as padronizações:

A 3ª padronização foi a mais longa de Blumenau: durou 19 anos, de 1997 a 2016. A atual, cinza, tem 6 anos quando jogo a matéria no ar (em 2022).

Ao lado Torino 3 no Termina do Aterro, que tem esse nome porque foi feito onde antes era um aterro sanitário.

Mais imagens da época:

A era Constantino, a partir de 2016.

Mapa turístico, veja como alguns bairros são bastante distantes do Centro.

Pra fechar, insiro aqui partes de um texto que escrevi em 2014.

Quando publiquei sobre o município de Rio Branco do Sul (‘RBS’), na Zona Norte da Grande Curitiba.

É relevante ao tema de hoje, porque defini ‘RBS’ como. . .

A “BLUMENAU DO PARANÁ” –

  Entretanto, há uma outra cidade importante que, essa sim, Rio Branco do Sul espelha de forma exata

Ao menos na topografia: Blumenau, Santa Catarina.

Caso conheça o epicentro da cultura alemã no Brasil, sabe que lá mesmo o Centro está prensado pelas montanhas, os espaços planos são raros.

No texto falo da Grande Curitiba. As imagens continuam mostrando BNU. Loja na Beira-Rio ostentando a bandeira nacional.

Por isso cada pedacinho disponível no Vale do Rio Itajaí foi milimetricamente ocupado.

Andando pela Avenida Beira-Rio blumenauense, sempre me impressiono como a cidade foi achando um ladinho no meio da serra pra ir se instalando.

No Centro e muito mais na periferia desse importantíssimo centro industrial catarinense, a urbe se adere a encosta.

Amiúde de forma precária, num duelo permanente que por vezes termina de forma fatal, como a tragédia de 2008 mostrou.

Casa na periferia na mesma sintonia.

Então, Rio Branco do Sul é assim também.

Cada vez que passo pela Rua Carlos Pioli, sua principal via, é inevitável.

Me lembro de minhas visitas ao Norte de Santa Catarina.

Pois o cenário é incrivelmente parecido.  

“Deus proverá”

4 comentários sobre “Blumenau, a “Alemanha Brasileira”

    • omensageiro77 disse:

      Valeu meu irmão.

      Quanto as coincidências, em relação aos nomes vá lá. Além do bairro blumenauense existem outros ‘Valparaísos’ no Brasil, o mais notório creio ‘Valparaíso de Goiás’, no Entorno de Brasília. E certamente existem outras ‘Alamedas’ aqui também.

      Agora, a placa marrom pintada a mão é a cereja do bolo. Definitivamente, ‘Deus é um Cara Gozador e adora brincadeiras’.

      Deus é um Cara Gozador e adora brincadeiras…

      Abraços, que Deus abençoe.

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  1. Paulo disse:

    Blumenau me enche de nostalgia.
    Me lembra o norte de Curitiba onde crescemos. Vales, morros e matagais. E nas ruas, placas com nomes latinos combinados com garranchos ininteligíveis da Europa central.

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